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Administração e indígenas no Brasil: conhecimento e interesse na pesquisa stricto sensu

Administración y pueblos indígenas en Brasil: conocimiento e interés en la investigación stricto sensu

Resumo

Apesar de relevante nos contextos histórico e atual, temas indígenas detêm limitada atenção no domínio da ciência administrativa no Brasil, fato que motivou a análise aqui sintetizada. A abordagem é de natureza epistemológica, sob a forma de sistematização de esforços intelectuais e produção do conhecimento na pesquisa acadêmica. Desse modo, o artigo objetiva delimitar categorias analíticas da pesquisa em temáticas indígenas, tomando como base interesse e conhecimento derivados da produção em nível de pós-graduação stricto sensu no Brasil, no domínio da ciência administrativa. Trata-se de revisão bibliográfica integrativa, ancorada em análise léxica com auxílio do software Iramuteq. O processamento das informações gerou quatro classes: “universidade e acesso de minorias ao ensino superior”, “terra e conflitos”, “organizações, gestão e sustentabilidade” e “organização sociopolítica indígena, Estado e políticas públicas”. As classes reúnem bases teóricas e empíricas, procedimentos de pesquisa, lócus e foco, com perfis não gerencialistas e abordagens sociológicas híbridas que se harmonizaram em interesses prático, técnico e emancipatórios à luz de Conhecimento e interesse, de Habermas, e de Círculo das matrizes epistêmicas, de Paes de Paula. Elas revelam diversidade nas escolhas epistemológicas da pesquisa em administração, em temas indígenas, com vieses hermenêutico, empírico-analítico e crítico.

Palavras-chave:
Indígenas; Ciência administrativa; Estudos organizacionais; Conhecimento e interesse; Pesquisa na pós-graduação stricto sensu

Resumen

A pesar de su relevancia en los contextos históricos y actuales, los temas indígenas reciben una atención limitada en el campo de las Ciencias Administrativas en Brasil, hecho que motivó la investigación aquí resumida. El enfoque es de carácter epistemológico en forma de sistematización de esfuerzos intelectuales y producción de conocimiento en la investigación académica. Así, este artículo tiene como objetivo delimitar categorías analíticas de investigación sobre temas indígenas a partir del interés y conocimiento derivado de la producción a nivel de posgrado stricto sensu en Brasil, en el campo de las Ciencias Administrativas. Se trata de una revisión bibliográfica integradora anclada en el análisis léxico con la ayuda del software Iramuteq. El procesamiento de la información generó cuatro categorías: “Universidad y acceso de minorías a la educación superior”; “Tierra y conflictos”; “Organizaciones, gestión y sostenibilidad” y “Organización sociopolítica indígena, Estado y políticas públicas”. Reúnen bases teóricas y empíricas, procedimientos de investigación, locus y foco, con perfiles no gerenciales y enfoques sociológicos híbridos que se armonizan en intereses prácticos, técnicos y emancipadores a la luz de “Conocimiento e Interés” de Habermas y el “Círculo de Matrices Epistémicas” de Paes de Paula. Revelan diversidad en las opciones epistemológicas de la investigación en Administración, en temas indígenas, con sesgos hermenéutico, empírico-analítico y crítico.

Palabras clave:
Pueblos indígenas; Ciencias administrativas; Estudios organizacionales; Conocimiento e interés; Investigación en estudios de posgrado; Stricto sensu

Abstract

Although relevant in historical and current contexts, topics related to indigenous people have received limited attention in the field of Administration Science in Brazil, which motivated this research. An epistemological approach was used by systematizing intellectual efforts and knowledge production in academic research. This paper aims to delimit analytical categories of research on topics related to indigenous people based on interest and knowledge derived from academic production in master and Ph.D. programs in Brazil, in the field of Administrative Science. It is an integrative bibliographic review anchored in lexical analysis with the aid of the Iramuteq software. The processing of the information generated four classes: “University and minority access to higher education,” “Land and conflicts,” “Organizations, management, and sustainability,” “Indigenous socio-political organization, state, and public policies.” The classes bring together theoretical and empirical bases, research procedures, locus, and focus, with non-managerial profiles and hybrid sociological approaches that harmonized in practical, technical, and emancipatory interests in the light of “Knowledge and Interests” from Habermas and the “Circle of Epistemic Matrices” from Paes de Paula. They reveal diversity in the epistemological choices of research in Administration, on indigenous themes, with hermeneutic, empirical-analytical, and critical bias.

Keywords:
Indigenous; Administration science; Organizational studies; Knowledge and interest; Postgraduate research; Stricto sensu.

INTRODUÇÃO

Em Conhecimento e interesse, Habermas (1982Habermas, J. (1982). Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.) apresenta uma teoria do conhecimento inspirada no interesse que subjaz aos processos de conhecimento, tomados como orientações que aderem a condições fundamentais - trabalho e interação - da reprodução e da autoconstituição possíveis da espécie humana. Interesse antecede conhecimento e se relaciona com ações. Todo conhecimento deriva de interesse como consequência de ação interessada. Assumimos essa premissa com o objetivo de delimitar categorias analíticas da pesquisa em temáticas indígenas, tomando como base interesse e conhecimento derivados da produção em nível de pós-graduação stricto sensu no Brasil, sob o domínio da ciência administrativa.

Na ciência administrativa, Paes de Paula (2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.) empregou Habermas (1982Habermas, J. (1982). Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.) para apresentar proposta alternativa ao diagrama dos paradigmas sociológicos de Burrell e Morgan (1979Burrell, G., & Morgan, G. (1979). Sociological paradigms and organisational analysis: elements of the sociology of corporate life. Burlington, Vermont: Ashgate.), concebendo o Círculo das matrizes epistêmicas. Para tanto, adotou os 3 interesses - técnico, prático e emancipatório - e respectivas regras lógico-metodológicas abordadas por Habermas (1982)Habermas, J. (1982). Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro, RJ: Zahar. - empírico-analítica, hermenêutica e crítica -, a fim de reconfigurar os referidos paradigmas. Aqui, tais bases são aplicadas à ciência administrativa para delimitação de categorias de estudos organizacionais em temáticas indígenas no Brasil com base na seguinte questão: como se pronunciam, à luz da pesquisa no nível de pós-graduação stricto sensu, conhecimento e interesse da ciência administrativa em temas indígenas no Brasil?

Apontamos rumos do conhecimento na ciência administrativa ancorados em ideais como epistemologias do Sul, ecologia dos saberes (Santos, 2007Santos, B. S. (2007). Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Novos estudos Cebrap, 79, 71-94.), pedagogias decoloniais (Walsh, 2013Walsh, C. (2013). Pedagogías decoloniales: prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir. Quito, Ecuador: Ediciones Abya-Yala.), bem como no papel do conhecimento nos movimentos nacionalistas, a exemplo do que propõe Ramos na contextualização da sociologia para os problemas locais (Ramos, 1965Ramos, A. G. (1965). A redução sociológica: introdução ao estudo da razão sociológica (2a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Tempo Brasileiro.). Focamos interesses, princípios e resultados da pesquisa para sintetizar fundamentos da relação sujeito indagativo e objeto quando voltados a temáticas indígenas na ciência administrativa. Nossa principal contribuição caminha, como Filgueiras (2012Filgueiras, F. B. (2012). Guerreiro Ramos, a redução sociológica e o imaginário pós-colonial.Caderno CRH,25(65), 347-363.), no resgate da posição pós-colonial de Ramos (1965)Ramos, A. G. (1965). A redução sociológica: introdução ao estudo da razão sociológica (2a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Tempo Brasileiro., ao valorizar o papel da cultura na constituição de uma real independência, de um significado para o nacionalismo no contexto do desenvolvimento brasileiro.

Motiva-nos o propósito de conciliar a pesquisa acadêmica no Brasil, na ciência administrativa, sobre povos e comunidades indígenas, sob um panorama nacional que permite, por um lado, assinalar disposições, tendências e possibilidades para a pesquisa acadêmica e, por outro, estimular avanços no conhecimento. Nosso estudo revela que a produção nacional é escassa em termos de pesquisa e de publicação em revistas indexadas. Para ilustrar, uma busca em revistas de administração nos repositórios Spell e Scielo, com o descritor “indígena”, retornou 14 publicações1 1 De fato, foram listados 18 artigos, mas 4 não podem ser considerados como temática indígena conforme o escopo deste texto. com Qualis B1e acima, tendo os Cadernos EBAPE.BR, da Fundação Getulio Vargas (FGV), concentrado o maior número (4). O interesse epistemológico pela decolonialidade aparece, ainda que timidamente, em autores como Abdala e Faria (2017)Abdalla, M. M., & Faria, A. (2017). Em defesa da opção decolonial em administração/gestão. Cadernos EBAPE.BR, 15(4), 914-929. e Wanderley (2015Wanderley, S. (2015). Estudos organizacionais, (des)colonialidade e estudos da dependência: as contribuições da Cepal. Cadernos EBAPE.BR, 13(2), 237-255.).

Adotamos como procedimento de pesquisa a revisão sistemática do tipo integrativa, apoiada em análise lexográfica produzida pelo software livre Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (Iramuteq). Estruturamos o artigo em 5 seções. Após esta Introdução, segue uma síntese de subsídios epistemológicos para a pesquisa em administração e o contorno metodológico adotado. Dela, derivaram-se outras 2 seções: apresentação dos resultados do processamento com a descrição das categorias temáticas reveladas e análise dos resultados, em interfaces com Conhecimento e interesse (Habermas, 1982Habermas, J. (1982). Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.) e Círculo das matrizes epistêmicas, de Paes e Paula (2016)Paes de Paula, A. P., Maranhão, C. M. S. A., & Barros, A. N. (2009). Pluralismo, pós-estruturalismo e “gerencialismo engajado”: os limites do movimento Critical Management Studies.Cadernos EBAPE.BR, 7(3), 393-404.. No tópico final, sintetizamos os achados e indicamos limitações do exercício realizado e uma agenda de pesquisas em elementos de gestão e organização comunitária de povos indígenas, ampliando o alcance dos estudos organizacionais.

ADMINISTRAÇÃO E CONHECIMENTO: DISCUTINDO FRONTEIRAS EPISTEMOLÓGICAS

Abdalla e Faria (2017Abdalla, M. M., & Faria, A. (2017). Em defesa da opção decolonial em administração/gestão. Cadernos EBAPE.BR, 15(4), 914-929.), ao abordarem a decolonialidade nos estudos organizacionais, defendem uma perspectiva própria (brasileira e latino-americana), desprendida de fundamentalismos e colonialismos eurocêntricos, para libertar os pesquisadores abaixo da linha do equador dos enquadramentos europeus e do predomínio da visão ocidentalista. Os autores pontuam uma visão de “promoção de diálogos críticos e a constituição de bases legítimas para a co-construção de uma academia global pluriversal” (Abdalla & Faria, 2017Abdalla, M. M., & Faria, A. (2017). Em defesa da opção decolonial em administração/gestão. Cadernos EBAPE.BR, 15(4), 914-929.). Tais posições podem ser vistas ainda como pedagogias decoloniais, ou seja, “pedagogías que incitan posibilidades de estar, ser, sentir, existir, hacer, pensar, mirar, escuchar y saber de otro modo, pedagogías enrumbadas hacia y ancladas en procesos y proyectos de carácter, horizonte e intento decolonial” (Walsh, 2013Walsh, C. (2013). Pedagogías decoloniales: prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir. Quito, Ecuador: Ediciones Abya-Yala., p. 28).

Na ciência administrativa, Salgado (2010Salgado, F. (2010). Sumaq Kawsay: the birth of a notion?Cadernos EBAPE.BR, 8(2), 198-208.) também defende, para os estudos organizacionais críticos, a construção de um pensamento oriundo do Sul. Tal proposição abarca o construto “bem viver (sumaq kawsay), proveniente da cosmovisão indígena, que se ajusta, na ciência administrativa, segundo sua visão, à teoria da delineação dos sistemas sociais de Ramos (1981Ramos, A. G. (1981). A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro, RJ: FGV.), à redução sociológica (Ramos, 1965Ramos, A. G. (1981). A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro, RJ: FGV.) e à interface da gestão social com a cidadania deliberativa conforme pontuada por Tenório (1998Tenório, F. G. (1998). Gestão social: uma perspectiva conceitual. Revista de Administração Pública, 32(5), 7-23.). A redução sociológica é aqui evocada para a compreensão do sumaq kawsay em contextos distintos do original (nativo americano) e para seu desenvolvimento no contexto latino-americano mais amplo como teoria localmente contextualizada.

A redução sociológica (Ramos, 1965Ramos, A. G. (1965). A redução sociológica: introdução ao estudo da razão sociológica (2a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Tempo Brasileiro.) é um método destinado a habilitar o estudioso a praticar a transposição de conhecimentos e de experiências de uma perspectiva para outra. Inspira-se na consciência sistemática de que toda cultura nacional é particular. A redução sociológica é modalidade restrita de atitude geral que deve ser assumida por qualquer cultura. Não há, de acordo com Ramos (1965)Ramos, A. G. (1965). A redução sociológica: introdução ao estudo da razão sociológica (2a ed.). Rio de Janeiro, RJ: Tempo Brasileiro., uma sociologia institucionalizada se ela não se der conta de problemas concretos locais. Com base nessa premissa, decidimos harmonizar interesses de pesquisadores por problemas concretos da sociedade brasileira, notadamente relacionada com os povos nativos, sintetizando vieses lógico-metodológicos, empírico-analíticos, hermenêuticos e críticos, com base no Círculo das matrizes epistêmicas (Paes de Paula, 2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.), cujo emprego na ciência administrativa pode ser ilustrado por Santos (2020Santos, L. F. (2020). Implementação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) pela agricultura familiar: quadro teórico-analítico e evidências empíricas em territórios rurais (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN.), Scheibeler, Mello, Benini, e Espejo (2018Scheibeler, A., Mello, G., Benini, E. G., & Espejo, M. M. S. B. (2018). Agronegócio e perspectivas teóricas e epistêmicas: uma análise nos Programas de Pós-Graduação em Administração. Revista Eniac Pesquisa, 7, 37-59.) e Scussel (2017Scussel, F. B. C. (2017). Poder, paradigmas e domínio na pesquisa em marketing no Brasil: uma análise da produção nacional da disciplina a partir das matrizes epistêmicas. Administração: Ensino E Pesquisa, 18(3), 518-557.).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa é uma revisão sistemática integrativa ancorada em análise lexicológica com processamento de resumos de dissertações e teses coletados via descritor “indígena” e aplicado ao Catálogo de Teses e Dissertações (CTD) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES, 2016Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (2016). Catálogo de teses e dissertações. Recuperado de https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses
https://catalogodeteses.capes.gov.br/cat...
), nas áreas de administração, administração de empresas e administração pública. Esse método sintetiza o passado da literatura empírica ou teórica para fornecer compreensão abrangente de um fenômeno particular, objetivando a análise do conhecimento já produzido a respeito de determinado tema (Botelho, Cunha, & Macedo, 2011Botelho, L. L. R., Cunha, C. C. A., & Macedo, M. (2011). O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, 5(11), 121-136.). Os referidos autores registram 2 naturezas de revisão bibliográfica - narrativa e sistemática - com características e objetivos distintos.

A escolha dos autores pela revisão sistemática se justifica porque esta abarca métodos ordenados (Figura 1) para identificar, selecionar, avaliar e analisar criticamente, em conjunto, dados de estudos selecionados. Pode incorporar propósitos como definição de conceitos, revisão de teorias e evidências, além de análise de problemas metodológicos de dado tópico (Souza, Silva, & Carvalho, 2010Souza, M. T., Silva, M. D., & Carvalho, R. (2010). Integrative review: what is it? How to do it?Einstein, 8(1), 102-106.). Assim, diante da multiplicidade, deve gerar um panorama consistente e compreensível de conceitos.

Outra qualidade é que a revisão integrativa permite o agrupamento de diversas leituras teóricas e empíricas em escopo unificado. Em virtude da diversidade, Souza et al. (2010Souza, M. T., Silva, M. D., & Carvalho, R. (2010). Integrative review: what is it? How to do it?Einstein, 8(1), 102-106.) sugerem o emprego de medidas para dirimir imprecisões por meio da redução, da exposição e da comparação, lançando mão de sistemas de classificação geral, de divisão em grupos e do cuidado com a extração de dados primários. No caso em pauta, tais propósitos foram amparados em ferramentas do Iramuteq.

A escolha pela análise apoiada no Iramuteq ocorreu pela possibilidade de tratamento de grande volume de textos (Justo & Camargo, 2014Justo, A. M., & Camargo, B. V. (2014). Estudos qualitativos e o uso de softwares para análises lexicais. In C. Novikoff, S. R. M. Santos& O. B. Mithidieri (Orgs.), Caderno de artigos: X Siat e II Serpro. Duque de Caxias, RJ: Universidade do Grande Rio.; Salvati, 2017Salvati, M. E. (2017). Manual do aplicativo Iramuteq: versão 0.7 Alpha 2 e R Versão 3.2.3. Recuperado de http://www.iramuteq.org/documentation
http://www.iramuteq.org/documentation...
) com qualidades difusas. Assim, o software converge informações dispersas requerendo, todavia, avaliação crítica e interpretativa dos pesquisadores na sequência. Assumimos, a princípio, a possibilidade de validar a ferramenta na geração de dados significativos, o que foi confirmado.

Há 6 etapas para a revisão sistemática (Botelho et al., 2011Botelho, L. L. R., Cunha, C. C. A., & Macedo, M. (2011). O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, 5(11), 121-136.; Souza et al., 2010Souza, M. T., Silva, M. D., & Carvalho, R. (2010). Integrative review: what is it? How to do it?Einstein, 8(1), 102-106.), conforme ilustrado na Figura 1: definição da questão de pesquisa e do tema, estabelecimento dos textos que comporão a amostra (critérios de inclusão e exclusão), coleta dos dados nos textos, análise crítica e categorização dos estudos selecionados, discussão/interpretação dos resultados e apresentação da revisão/síntese do conhecimento.

A primeira etapa tratou da definição da questão da pesquisa e de objetivo, universo e parâmetros metodológicos básicos. Na segunda, realizamos busca no portal CTD/Capes com o descritor “indígena” e filtro em “área de conhecimento” situado em “administração, administração pública e administração de empresas”. Tal descritor foi definido pelos autores com a intenção de convergir a pesquisa para a temática de interesse em sintonia com o viés epistemológico. A busca retornou 39 textos até 2019, frente ao total de 7.740 sem o filtro de área. Os textos anteriores à plataforma Sucupira foram buscados em outras bases de dados, estando, na maioria dos casos, localizadas em repositórios das instituições de origem. Dos 39 textos, 1 não foi localizado e, portanto, foi excluído.

Figura 1
Etapas da revisão integrativa

A terceira etapa envolveu a avaliação dos resumos e a leitura flutuante dos textos com o intuito de verificar a relação com a questão da pesquisa. Nesse momento, 2 outros textos foram excluídos por não tratarem da temática. Dessa fase, restaram 36 textos, que foram codificados para processamento e análise. A leitura viabilizou a classificação dos textos e a identificação de qualidades relevantes à pesquisa.

Na quarta, utilizamos a análise léxica apoiada no Iramuteq para a obtenção de classes temáticas. Antes, realizamos manualmente a categorização prévia dos textos em 7 quesitos (Souza et al., 2010Souza, M. T., Silva, M. D., & Carvalho, R. (2010). Integrative review: what is it? How to do it?Einstein, 8(1), 102-106.): objetivo, tipo de pesquisa, abordagem metodológica, instrumentos de coleta de dados, instrumentos de análise dos dados, referenciais teórico-conceituais e resultados. Tais informações se encontram dispostas no Quadro 2.

A análise léxica se originou do processamento do Iramuteq via estatísticas por reunião de conjuntos léxicos em classes, que preservam qualidades comuns ou aproximadas em termos de vocabulário. Justo e Camargo (2014Justo, A. M., & Camargo, B. V. (2014). Estudos qualitativos e o uso de softwares para análises lexicais. In C. Novikoff, S. R. M. Santos& O. B. Mithidieri (Orgs.), Caderno de artigos: X Siat e II Serpro. Duque de Caxias, RJ: Universidade do Grande Rio.) apontam que a principal diferença de tal análise para a de conteúdo convencional é que, ao contrário desta, no software os dados são inicialmente categorizados para intepretação posterior. O processamento exigiu, em momento anterior, a preparação do corpus, conforme recomenda Salvati (2017Salvati, M. E. (2017). Manual do aplicativo Iramuteq: versão 0.7 Alpha 2 e R Versão 3.2.3. Recuperado de http://www.iramuteq.org/documentation
http://www.iramuteq.org/documentation...
). O corpus foi formado pelo conjunto dos 36 resumos devidamente codificados, na ordem gerada no CTD/Capes.

Dois resultados derivaram do processamento: classificação hierárquica descendente (CHD) e análise de similitude (AS). A CHD agrupa vocábulos por segmentos de texto (ST) semelhantes entre si e significativamente distintos de outros, formando classes específicas de vocábulos. Os ST são unidades analíticas básicas do software formadas por fragmentos dos resumos de todo o corpus.2 2 No caso da presente análise, o tamanho dos ST foi parametrizado para 40 palavras. A Tabela 1 traz informações mais detalhadas sobre esses resultados. As análises do software são feitas dentro de cada ST, sendo todos os dados estatísticos agrupados posteriormente, determinando-se os vocábulos mais relevantes, bem como a relação estabelecida entre eles. A significância da diferenciação ou da semelhança é medida pelo qui-quadrado de cada palavra, calculado como medida de contexto dentro do ST. Esse resultado permite categorizar tematicamente o texto, criando um sistema hierárquico de classes. Por sua vez, a AS possibilita inferir a estrutura de construção do texto e os temas de relativa importância pela co-ocorrência entre as palavras. Elas auxiliam o pesquisador na identificação da estrutura da base de dados (corpus), distinguindo partes comuns e especificidades, bem como permitindo verificá-las em função das variáveis sintetizadas.

Na quinta etapa ocorreu a validação das classes com base nos vocábulos de cada agrupamento formado na CHD. Esse procedimento exigiu considerações caso a caso após consulta aos textos completos, requerendo dos autores averiguações quanto à presença dos textos nas classes geradas; à consistência de cada texto dentro do conteúdo da classe com suporte nos indicadores do software como qui-quadrado, adesão dos STs a cada classe e nível de aproveitamento dos STs no processamento; à realocação de texto, quando necessária, atendendo aos dois primeiros quesitos.

Sete pesquisas demandaram realocação, e a exclusão em nada alteraria o resultado. Assim, decidimos mantê-las, reclassificando-as, de modo a evitar perda de informação. Outros 7 textos não foram classificados automaticamente, em virtude do limitado aproveitamento ocasionado pela restrita força dos STs no conjunto (medida pelo qui-quadrado), e foram inseridos manualmente. Essas inconsistências surgiram porque vários resumos não atendem à NBR 6028, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), quanto aos itens que devem constar no resumo de textos acadêmicos - seja pela inclusão de informações desnecessárias, seja pela ausência de informações requeridas.

A sexta etapa, que se refere à síntese, está adiante apresentada, parte na análise e parte nas considerações finais. Dentro do limite de espaço deste artigo, qualificamos as classes no exercício de cumprir o objetivo proposto e responder à questão enunciada.

RESULTADOS DO PROCESSAMENTO DOS DADOS: CARACTERIZAÇÃO DAS CATEGORIAS TEMÁTICAS

A distribuição geográfica e temporal dos 36 textos não é homogênea. O primeiro registro é de Añez (1994)Añes, M. E. M. (1994). A necessidade de uma mudança paradigmática na administração pública: o exemplo boliviano (Tese de Doutorado). Fundação Getulio Vargas, São Paulo, SP., no curso de doutorado em administração da FGV SP. Avanços quantitativos ocorrem a partir de 2012, com média de 3,6 teses ou dissertações até 2019, contra média de 0,4 nos anos anteriores (de 1994 a 2011). As maiores ocorrências são: 8 na FGV SP, 6 na Fundação Universidade Federal de Rondônia (Unir) e 3 na Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc).

Añez (1994)Añes, M. E. M. (1994). A necessidade de uma mudança paradigmática na administração pública: o exemplo boliviano (Tese de Doutorado). Fundação Getulio Vargas, São Paulo, SP. merece destaque pelo pioneirismo, com análise do desenvolvimento histórico-institucional da administração pública boliviana, com base em reformas administrativas originárias de planos, programas, sistemas e modelos de prestação de serviços com mudança paradigmática no governo. O autor se reporta à administração informal herdada das comunidades indígenas pré-incaicas e à lógica de poder do Império Inca, resgatando tradições indígenas para explicar estrutura e funcionamento contemporâneos do Estado boliviano. A tese está incluída manualmente na Classe 3 pela adesão ao conjunto, frente à inexistência de resumo para inserção no corpus.

A Tabela 1 sintetiza dados do processamento do corpus sobre número de textos (quantidade de resumos analisados pelo programa), número de ocorrências (quantidade de palavras processadas), número de formas (quantidade de palavras diferentes na análise), número de formas ativas (vocábulos selecionadas pelo software para compor a análise, por classe gramatical, de onde são excluídos, por exemplo, preposições e artigos), hapax (número de termos que aparecem uma única vez), média de ocorrências por texto (média de vocábulos de cada resumo), média de formas por ST e número de segmentos classificados (quantidade de STs aproveitados pelo software face ao total).

Tabela 1
Dados gerais do processamento

O Quadro 1 exibe as 4 classes da CHD. A classe 1 tem maior independência, e, com base nos vocábulos reunidos, a denominamos “universidade e acesso de minorias ao ensino superior”. Ela concentra 30,7% dos STs e se refere a teses e dissertações com foco em ações afirmativas, equidade, cotas e permanência de estudantes no ensino superior em situação de vulnerabilidade (negros, indígenas, quilombolas, assentados, imigrantes).

Quadro 1
Dendograma da CHD por classes, vocábulos e textos de referência

A classe 1 contém ainda: a) 1 pesquisa de avaliação de ação afirmativa da Universidade Federal do Tocantins (UFT); b) 2 pesquisas com dilemas vivenciados por estudantes indígenas ocasionados por dicotomias entre a dinâmica acadêmica e a cultura originária, caracterizando duplo pertencimento e discutindo reconhecimento e identidade; c) 1 pesquisa tratando de meta do Plano Nacional de Educação de elevação das taxas de escolarização superior e respectivas estratégias para reduzir desigualdades de acesso de excluídos, o que inclui egressos do ensino médio de escolas públicas, formado por diversos públicos; d) 1 texto focando no Programa de Ações Afirmativas com leituras de gestores universitários quanto ao acesso à graduação na Ufsc; e) 1 dissertação com foco em desempenhos acadêmicos diferenciados entre estudantes brancos e de outros segmentos populacionais - entre eles indígenas - ingressantes na Universidade Federal de Uberlândia (UFU); f) 1 tese focando na formação de agenda para a permanência das chamadas minorias na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS); g) 1 dissertação avaliando organização didático-pedagógica, corpo docente e infraestrutura de cursos de graduação, destacando a relevância da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) no desenvolvimento e na transformação das comunidades tradicionais amazônicas, com foco na avaliação e na administração universitárias. Nessa última pesquisa, o acesso a minorias no ensino superior é referido indiretamente. Nessa classe, apenas 3 textos abordam situação de estudantes indígenas de modo específico e exclusivo.

A classe 4, que concentra 16,4% dos ST, é composta por pesquisas com temas em direitos, contradições, dilemas, resistências e lutas por terras. Destacam-se aqui: a) abordagem de indígenas como segmento envolvido nos conflitos em torno da construção de usinas hidrelétricas no rio Madeira, tratando tais sujeitos de forma indireta (é o único da classe com registro indireto); b) conflito envolvendo povos indígenas em diversos estados, com destaque para os guaranis, sendo 2 no Mato Grosso do Sul, 2 no Paraná, 1 em Rondônia e 1 no Rio Grande do Sul; c) 1 texto abordando conflitos em torno de organização que representa alguns povos indígenas: a Comissão Guarani-Yvyrupa.

Dos 8 textos que amparam a classe 4, apenas 2 não fazem referência direta a guaranis, referindo-se, 1 deles, a povos no estado de Rondônia e, outro, a contexto nacional. A classe revela situações de indígenas em estados das regiões Norte, Sul, Centro-Oeste e Sudeste, evidenciando a ausência de pesquisa em comunidades da região Nordeste.

A partir da classe 4, o corpus se subdivide em 2 outras: “Organizações, gestão e sustentabilidade” (classe 2), contendo 23,5% dos ST, e “Organização sociopolítica indígena, Estado e políticas públicas” (classe 3), contendo 29,4% dos ST. Essas 2 categorias apresentam forte proximidade entre si, e, acompanhando a estrutura da CHD, é notória a vinculação direta de ambas a temas técnicos da ciência administrativa, tanto pelo viés da gestão pública quanto pelo da gestão social. Nas duas classes há sobreposições conceituais que, em certa medida, tendem à hibridação nos termos indicados por Paes de Paula (2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.).

A classe 2 reúne pesquisas com viés socioambiental, ecológico, abordando ainda atividades econômicas de organizações coletivas. Três pesquisas tratam de turismo, embora uma delas não destaque atividade específica em terras indígenas. Outra trata de atividades diversas vinculadas a artesanato, meliponicultura e piscicultura no contexto de turismo num município do estado do Mato Grosso do Sul, não focando exclusivamente em indígenas.

Quadro 2
Caracterização das classes conforme as categorias de análise

Três pesquisas dessa classe tratam da organização de redes de produtores indígenas - duas abordam a rede de produção e comercialização da castanha-da-amazônia em Rondônia e outra se refere a público mais abrangente (não exclusivamente indígena), analisando como indígenas resistem a processos externos, buscando preservar cultura, identidade, língua, ritos religiosos e ligação com o território, bem como enfatizando liderança nos processos de resistência e manutenção da cultura e assumindo explicitamente posição dentro dos estudos organizacionais com abordagem não gerencialista. Duas tratam de atividades associadas ao extrativismo, sendo uma com nítido viés em gestão social - conquanto sem referência ao conceito -, focando em hábitos, comportamentos e costumes na institucionalização da cooperação, em pesquisa com 4 organizações produtivas coletivas. As 2 pesquisas não abordam temática indígena diretamente, tendo como objeto empreendimentos econômicos coletivos nos quais há presença de indígenas.

Sete das 12 pesquisas dessa classe não envolvem diretamente povos indígenas. Destas, destacam-se uma com foco em gestão ambiental em terreiro religioso e outra realizada em bloco carnavalesco, ambas contextualizando influências culturais de matriz africana e indígena.

A classe 3 revela organizações coletivas, participação política de indígenas e relações destes com entes federativos, mediadas por um amplo leque de políticas públicas. Abrange: a) 4 pesquisas em políticas públicas setoriais em educação escolar indígena, saúde indígena e relações universalistas e multiculturais; b) 1 de relações entre povos indígenas no Brasil e o Estado federativo pela óptica dos líderes indígenas, em conferências regionais e nacional desses povos; c) 1 abordando dimensão política da administração da Fundação Nacional do Índio (Funai), no que se refere à indicação ou não de especialistas para a gestão do órgão; d) 1 sobre a formação de um governo nacional a partir de pressões da realidade social (Añez, 1994); e) 1 abordando o ICMS Ecológico para o desenvolvimento sustentável de um município. As duas últimas tratam do tema indígena de forma indireta, sendo os únicos nessa condição na classe 3.

ANÁLISE DOS RESULTADOS: TENDÊNCIAS EPISTEMOLÓGICAS REVELADAS

Este tópico se destina ao delineamento de tendências epistemológicas - atinentes às classes da CHD reportada no item anterior -, com apoio complementar da AS do Iramuteq, cuja representação consta na Figura 2. O tamanho de cada círculo da AS é proporcional à força do vocábulo na rede de interações, informação gerada pelo qui-quadrado de cada palavra em relação às demais. A largura dos laços entre as palavras representa a medida da frequência da relação e é indicada pelos números sobre as linhas. As cores representam comunidades de palavras, ou seja, grupos compostos por vocábulos com relações mais relevantes entre si.3 3 Para a construção da AS, foram excluídas algumas palavras da análise. A primeira delas foi “indígena”, em razão da alta frequência e da concentração de relações, de forma que sua participação no gráfico obscurece as outras relações. Foram excluídas também: “pesquisa”, “análise”, “estudo”, “partir”, “resultado”, “realizar”, “considerar”, “processo”, “relação”, “analisar”, “objetivo”, “dado”, “utilizar”, “principal” e “maior”.

A AS fornece conjuntos típicos de vocábulos úteis à indicação de tendências epistemológicas com base em Conhecimento e interesse (Habermas, 1982Habermas, J. (1982). Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.) e Círculo de matrizes epistêmicas (Paes de Paula, 2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.). Concordamos com Paes de Paula (quando reconhece que “os fenômenos sociais se apresentam de acordo com uma conjugação de interesses, uma vez que não há como separar o técnico, o prático e o emancipatório” (Paes de Paula, 2016Paes de Paula, A. P., Maranhão, C. M. S. A., & Barros, A. N. (2009). Pluralismo, pós-estruturalismo e “gerencialismo engajado”: os limites do movimento Critical Management Studies.Cadernos EBAPE.BR, 7(3), 393-404., p. 33). Igualmente, reconhecemos a necessidade de tomá-los conjuntamente, porém ousamos identificar elementos significativos de cada classe que, mesmo diante de situações híbridas, permitem a identificação de características marcantes que qualificam uma segmentação abrangente.

Figura 2
Análise de similitude Palavras com frequência >= 15 e com demarcação dos interesses

Destacam-se conjuntos de vocábulos centrais que expressam sistemas harmônicos de produção de conhecimento, evidenciando uniformidades de interesses da ciência administrativa na pesquisa em comunidades e povos indígenas. A Figura 2 revela, em perspectiva, conformidades entre 6 conjuntos de vocábulos mediante cores que, a princípio, compõem estratos distintos. As classes da CHD, todavia, viabilizam a interpretação da imagem pelos 3 vieses de interesses da taxonomia de Habermas (1982Habermas, J. (1982). Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.), o que realizamos adiante. Na primeira parte desta seção, suscitamos a classificação dos interesses de Habermas (três primeiros subitens) para, então, fecharmos com o Círculo de matrizes epistêmicas, de Paes de Paula (2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.).

O Interesse Técnico

À direita, na representação da Figura 2, estão os vocábulos que detêm maior intensidade na AS. O vocábulo “social” aglutina em torno de si, diretamente, organização, ator, local e forma, e, com menor força, área, ambiental e prático. Indiretamente, “social” (círculo mais acentuado) ancora todos os temas, com maior ou menor força, a partir de uma cadeia de vínculos com intensidades distintas. Há forte vínculo de “social” com o eixo comunidade-região, a maior relação da AS com força 10. Desse vocábulo são derivados 2 outros eixos menos fortes, ambos com força 5: “público”, que segue para “política” e “escola”, e “povo”, que se conecta a “políticas públicas” e “brasileiro”.

Os vocábulos “comunidade” e “região” aparecem reunindo “turismo”, “condição”, “recurso”, “atividade”, “liderança” e “estratégia”. Todos os vocábulos proximamente reunidos em torno de “social”, “comunidade” e “região” remetem às classes 2 e 3, reforçando as 2 categorias temáticas da CHD que focam em estudos organizacionais, gestão e políticas públicas e sociais. Em “social”, predominam temas híbridos e difusos em termos de abordagem, genericamente relacionando gestão, políticas públicas e alguma conjuntura social. O último vocábulo, conforme apontamos, expressa todo o conjunto analisado com variações em termos de intensidade do elo aos subconjuntos formados. A análise, portanto, deve se deter nos textos que, com maior precisão, qualificam o vocábulo-chave “social” no contexto da nucleação próxima, com procedimento similar para “comunidade-região”, “terra” e, à esquerda, “estudante”.

As classes 2 e 3 são formadas por conteúdos de 20 pesquisas, entre as quais 9 respaldando o vocábulo “social” na AS, o qual está impulsionado também, em segundo plano, por textos da classe 1, porém em quantidade e incidência inferiores. Importa revelar o interesse técnico na pesquisa em comunidades e povos indígenas com base no vocábulo mais proeminente do conjunto analisado. Deduzimos, com esse primeiro conjunto, que o interesse da ciência administrativa em temáticas indígenas tem natureza sociotécnica, e não exclusivamente técnica. Isso pressupõe, portanto, aproximações com o domínio da gestão social, ainda que tal construto não apareça nos textos.

O interesse técnico se concentra em organizações e políticas públicas com ênfase em educação, ambiente, renda (turismo, extrativismo, artesanato) e saúde (conforme a descrição anterior das classes 2 e 3). Tratam de práticas de lideranças e povos indígenas na administração de setores específicos, com lócus tanto em organizações constituídas exclusivamente por indígenas quanto, mais abrangentes, em interesses comunitários que envolvem outros atores públicos e privados.

O vocábulo “social”, no interesse técnico, refere-se fortemente a organizações locais, comunitárias. Nessa classe, identificamos o uso de referencial teórico-analítico vinculado a instrumentos de gestão e de análises organizacionais com tendências ao funcionalismo, o que caracteriza a matriz empírico-analítica (Paes de Paula, 2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.). Essa tendência está presente também na classe 3, com a utilização de diversos instrumentos quantitativos e qualitativos para a análise de políticas públicas via pesquisas marcadas pelo empirismo e pelo formalismo, enfatizando explicações causais (Paes de Paula, 2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.). Por outro lado, os referenciais sustentam pesquisas de redução de desigualdades, inclusão e emancipação, incorporando conflitos e resistências, o que afasta as pesquisas analisadas do viés tipicamente gerencialista. Não localizamos leitura exclusivamente instrumental, economicista, em perspectiva mercadocêntrica (Ramos, 1981Ramos, A. G. (1981). A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro, RJ: FGV.). Acompanhando o entendimento de Paes de Paula, situamos as classes 2 e 3 em “teorias e metodologias de fronteira, fruto de uma reconstrução embrionária, que aproxima interesse técnico e interesse emancipatório” (Paes de Paula, 2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46., p. 40), caracterizando-as como abordagens sociológicas híbridas.

O Interesse Prático

À esquerda, na Figura 2 (coloração vermelha), identificamos 2 ramos de vocábulos articulados em torno de estudante: um reunindo acadêmico, curso, reconhecimento, e outro, universidade, ação, grupo. Localizamos aqui o interesse prático em direta interface com a classe 1, notoriamente centralizada em inclusão e acesso e permanência de estudantes no ensino superior por meio de políticas de cotas e programas de ações afirmativas. Diferentemente do interesse técnico, cuja ênfase recai em organizações comunitárias, aqui, o vínculo (indireto) com “social” (o círculo preponderante) reside em ator, sujeito e vulnerabilidade, com 6 das 8 pesquisas da classe.

Há, no interesse prático, forte ênfase em produtos de decisões políticas tomadas com o propósito de ampliar condições de acesso e permanência de estudantes em situação de vulnerabilidade e/ou com status de cotista. O interesse prático das pesquisas caminha, por um lado, para a estrutura e o funcionamento das instituições de ensino e, por outro, para a ação e as condições de estudantes em situação de vulnerabilidade/cotista no interior das universidades.

As escolhas por bases hermenêuticas qualificam o interesse prático (Habermas, 1982Habermas, J. (1982). Conhecimento e interesse. Rio de Janeiro, RJ: Zahar.; Paes de Paula, 2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.). Por essa razão, são fortes os marcos legais (nacionais e/ou internos das instituições de ensino) em correlação com referências ao interacionismo simbólico, à história de vida, ao duplo pertencimento, às teorias de reconhecimento social e à análise crítica do discurso. O viés hermenêutico emerge, então, em questionamentos, interpretações e avaliações de decisões e atuação de instituições de ensino superior com alusão à regulação da política de cotas e ações afirmativas, além de consequentes impactos sobre estudantes e trajetórias de vida. Por isso, a quase totalidade das pesquisas (7 das 8 da classe) está ancorada em pesquisa documental.

A pesquisa de interesse prático, situada na matriz hermenêutica, preserva o conhecimento da autobiografia e da tradição coletiva pela mediação entre indivíduos, grupos e cultura, conforme registra Paes de Paula (2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.) em referência a Habermas. Nos casos em pauta, interesse prático assume perspectivas pós-estruturalistas, que defendem a microemancipação por não cogitar possibilidade de emancipação ampliada no contexto pós-moderno (Paes de Paula, Maranhão, & Barros, 2009Justo, A. M., & Camargo, B. V. (2014). Estudos qualitativos e o uso de softwares para análises lexicais. In C. Novikoff, S. R. M. Santos& O. B. Mithidieri (Orgs.), Caderno de artigos: X Siat e II Serpro. Duque de Caxias, RJ: Universidade do Grande Rio.). Há, nesse conjunto, pesquisas que se aproximam do interesse emancipatório e, outras, do interesse técnico, configurando matriz híbrida.

O Interesse Emancipatório

Seguindo Rodrigues (2004Rodrigues, J Filho. (2004). Strategy in Brazil according to Habermas’s terminology. RAE-Revista de Administração de Empresas, 3(2), 1-16.), ampliamos a compreensão de crítica para abranger, neste item, enfoques interpretativistas, construtivistas e congêneres com o propósito de identificar posições epistemológicas reflexivas. O núcleo dos textos com interesse emancipatório reside em terra, ainda que, na AS, o vocábulo ancore pesquisas em todas as classes, com perspectivas particulares que refletem diferentes naturezas de interesse.

A vinculação mais fraca ao vocábulo “terra” é da Classe 1, com apenas um ST vinculado, referindo-se ao nome de uma unidade acadêmica em dada universidade, ou seja, sem qualquer relação com a terra indígena. Por outro lado, a vinculação do vocábulo a 3 pesquisas da classe 2 e a 3 da classe 3 aparece principalmente para citar o lugar onde elas foram realizadas (lócus).

Com interesse emancipatório, o vocábulo “terra” ganha outra qualificação. Sete das 8 pesquisas que compõem a classe 4, núcleo do interesse emancipatório, são vinculadas a esse vocábulo. À exceção de um texto (Quadro 2), que adota perspectiva funcionalista, os demais assumem abordagem sociológica crítica, com referenciais teórico-metodológicos que seguem tal alinhamento. Destacamos que a classe 4 é a única que concentra pesquisas com indígenas de modo categórico (em 7 dos 8 registros).

As pesquisas classificadas no interesse emancipatório debatem direitos e buscam compreender dilemas e resistências em diversas esferas, questionam efeitos de atividades econômicas impostas de fora para dentro, além de debaterem relações conflituosas entre posseiros e indígenas. Todavia, algumas pesquisas aqui analisadas caminham tanto por um viés tecnicista-instrumental quanto por uma leitura crítico-reflexiva. Há também uma interface com a matriz hermenêutica em 2 pesquisas, que caminham em direção a abordagens pós-estruturalistas. Ou seja, predomina o interesse emancipatório no vocábulo “terra”, todavia é possível estabelecer relação de tal vocábulo a interesse técnico e a interesse prático. Vale registrar a observação de Paes de Paula (2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.) de que a emancipação deve ser tomada para além de uma face utópica, indo da teoria para reconstruir demandas públicas, defendendo que a matriz crítica não tem existência independente.

Síntese das Matrizes Epistêmicas na Pesquisa

Intentamos, neste tópico, a conformação das pesquisas com o Círculo das matrizes epistêmicas, de Paes de Paula (2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.). A Figura 3 ilustra a predominância das bases epistemológicas e das abordagens sociológicas alinhadas às escolhas teóricas e metodológicas dos conjuntos dessas pesquisas.

Figura 3
Posicionamento aproximado das classes no Círculo das matrizes epistêmicas

A maioria das pesquisas se encontra em situação híbrida ou de fronteira (Paes de Paula, 2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.), conforme pode ser evidenciado no que foi apresentado até aqui. Esse fato é ilustrado na Figura 3, pela sobreposição entre os círculos. Isso se dá em todas as classes, mas pode ser especialmente evidenciado nas 2 e 3, nas quais predominam “interesse técnico” e demarcadas pela matriz empírico-analítica.

Do ponto de vista da interlocução com o interesse prático, temos, por exemplo, pesquisas da classe 3 interpretando a visão indígena com vistas à formulação ou à análise de instrumentos regulatórios. Na diferenciação entre as classes 2 e 3, podemos evidenciar que, enquanto a 2 trata de pesquisas em organizações econômicas coletivas, com a presença de indígenas - participando exclusivamente ou apenas em parte -, a 3 enfatiza relações destes com assuntos públicos e políticas públicas, setoriais ou gerais. A inserção das duas classes nesse setor do diagrama se justifica pelo interesse em compreender as organizações indígenas em aspectos instrumentais. A classe 3 concentra abordagens funcionalistas, mas em interfaces com abordagens das matrizes crítica e hermenêutica. Tal situação é considerada profícua para a criação de novas abordagens sociológicas, ao explorar a integração de conhecimentos proveniente de matrizes distintas (Paes de Paula, 2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.).

Por sua vez, a classe 1 - “Universidade e acesso de minorias ao ensino superior” - se situa predominantemente em “interesse prático”, conforme descrito no item anterior, alinhada à filosofia hermenêutica e à lógica interpretativa (Paes de Paula, 2016Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46.). Já a classe 4 se situa-se em “interesse emancipatório”, centrada na matriz crítica. São pesquisas marcadas, predominantemente, por abordagens sociológicas críticas, retratando situações de conflito entre indígenas e sociedade/Estado. Revestem-se, majoritariamente, de caráter de denúncia sobre situações vivenciadas por comunidades e povos indígenas.

Uma anotação complementar é que a maior parte das pesquisas de todo o conjunto estudado opta por abordagem do tipo qualitativa (62,5% do total), em oposição a 12,5% que optam pelo formato quantitativo. Esse fato indica as preferências epistemológicas do campo ora em estudo, já que os métodos qualitativos aparecem associados a concepções interpretativas e subjetivistas da realidade, ou seja, às matrizes hermenêutica e crítica. Em oposição, a visão funcionalista tradicionalmente lança mão de métodos quantitativos, que são predominantes na produção acadêmica na área de administração no Brasil (Godoi & Balsini, 2004Godoi, C. K., & Balsini, C. P. V. A. (2004). Metodologia qualitativa nos estudos organizacionais: análise da produção científica brasileira entre 1997 e 2003. In Anais do 3º Encontro de Estudos Organizacionais da ANPAD, Atibaia, SP.).

Não percebemos uniformidade no uso dos referenciais teóricos, nos conceitos evocados ou nos autores citados pelas pesquisas analisadas, em especial se olharmos o conjunto como um todo. Uma tendência nesse sentido somente começa a se apresentar quando tomamos as classes isoladamente. É o caso, notadamente, da classe 1, com caráter prático e estudos focados em instrumentos de regulação do acesso e permanência de minorias (não exclusivamente indígenas) nas universidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise aqui realizada, conforme proposição apresentada na Introdução, permitiu a distinção de quatro classes, que agrupam textos conforme elementos comuns, delimitados por características epistemológicas lidas de acordo com os referencias de Conhecimento e interesse, de Habermas (1984), e Círculo de matrizes epistêmicas, de Paes de Paula (2006)Paes de Paula, A. P. (2016). Beyond paradigms in organization studies: the circle of epistemic matrices. Cadernos EBAPE.BR, 14(1), 24-46..

Alguns desafios imputaram limitações teórico-metodológico ao exercício empreendido. A primeira é que, dos 36 textos analisados, apenas uma parte, ou seja, 21 pesquisas (58%), trata de temáticas indígenas de modo direto. Enfrentamos, assim, a adversidade de examinar um conjunto de textos que apenas parcialmente guarda uniformidade temática. Desse modo, a classe 4 é a que agrupa com maior força e de forma mais direta temas e sujeitos indígenas, abrangendo pesquisas com interesse emancipatório, de viés crítico, predominando casos dos povos guaranis. Merece ser destacada aqui a não ocorrência de pesquisa em programas de pós-graduação em administração e com povos indígenas do Nordeste.

Outra limitação diz respeito à qualidade dos resumos, fator que dificultou a análise léxica, conforme apontamos nos procedimentos metodológicos. A análise foi igualmente dificultada por outro fator, comum a esse tipo de exercício, relacionado à diferença de linguagens para se referir ao mesmo fenômeno, o que tende a dispersar os resultados. Ajustes foram realizados para harmonizar o corpus textual e as classes, com a substituição de palavras por sinônimos que transmitissem a mesma ideia.

As informações do software foram úteis à classificação e ao posterior aprofundamento dos agrupamentos gerados pelas consultas aos textos completos, o que exigiu dos autores exercícios de interpretação do resultado do Iramuteq. Essas demandas, todavia, não interferiram no valor do produto quanto à designação de escolhas e tendências epistemológicas, na ciência administrativa, pela abordagem de temáticas indígenas.

Vislumbramos a possibilidade de construção de abordagens sociológicas inovadoras, baseadas no campo estudado, integrando diversas matrizes epistemológicas e combinando interesses técnicos, práticos e emancipatórios. Pesquisas futuras podem, por exemplo, reunir formas de estrutura organizacional e estratégias que, coletivamente, desenvolvem indígenas em movimentos de resistência e de luta pela terra, nos termos, por exemplo, apresentados pela classe 4.

Estudos futuros podem ainda se debruçar sobre a sistematização de vivências e conflitos de estudantes indígenas, não exclusivamente no ensino superior, conforme emergem na classe 1, mas também em escolas não indígenas de outros níveis de ensino. Nesse caso, a base teórica pode adentrar o domínio de gestão e políticas públicas. Outra possibilidade, baseado na classe 1, é o mapeamento dos pesquisadores nacionais interessados na pesquisa em temáticas indígenas no âmbito da ciência administrativa. Em nível de pós-graduação, como no caso em pauta, torna-se útil a sistematização de razões que expliquem interesses de orientadores e orientandos por temáticas indígenas, qualificando origens e trajetórias acadêmicas.

Com os resultados das classes 2 e 3, identificamos, nos domínios técnico e da gestão social, possibilidades de pesquisas futuras em termos de práticas econômicas e de organização coletiva de indígenas em trabalhos cotidianos destinados à sua autonomia. Composições podem ir além, incorporando conceitos provenientes das matrizes de tais povos, consubstanciados em cosmovisão e ética próprias, a exemplo de epistemologias fundamentadas no bem viver. Esse é o caminho que pretendemos seguir na continuidade da pesquisa que se desdobra com base em resultados pontuados neste artigo.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior(CAPES), pelo financiamento através do auxílio no programa PGPSE aos pesquisadores Eduardo Vivian da Cunha (nº 2026/2016) e Washington José de Sousa (nº 0344/2016).

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  • 1
    De fato, foram listados 18 artigos, mas 4 não podem ser considerados como temática indígena conforme o escopo deste texto.
  • 2
    No caso da presente análise, o tamanho dos ST foi parametrizado para 40 palavras. A Tabela 1 traz informações mais detalhadas sobre esses resultados.
  • 3
    Para a construção da AS, foram excluídas algumas palavras da análise. A primeira delas foi “indígena”, em razão da alta frequência e da concentração de relações, de forma que sua participação no gráfico obscurece as outras relações. Foram excluídas também: “pesquisa”, “análise”, “estudo”, “partir”, “resultado”, “realizar”, “considerar”, “processo”, “relação”, “analisar”, “objetivo”, “dado”, “utilizar”, “principal” e “maior”.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Mar 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Feb 2022

Histórico

  • Recebido
    03 Set 2020
  • Aceito
    25 Mar 2021
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