Acessibilidade / Reportar erro

Um mosaico de experiências e narrativas sobre práticas coletivas na terapia ocupacional: considerações metodológicas1 1 Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos - CAAE: 98908818.1.0000.5504.

Resumo

Na última década, estudos em terapia ocupacional têm enfatizado aspectos da construção coletiva em pesquisas narrativas que refletem sobre os preceitos éticos essenciais à anonimidade de participantes, ao mesmo tempo em que garantem o seu protagonismo. Este artigo discute um percurso metodológico pouco usado, qual seja, a narrativa construída por meio da colaboração não anônima entre participantes e pesquisadores, buscando identificar os desafios e as potencialidades da elaboração compartilhada. Para tanto, o artigo apresenta: 1. descrição das concepções do estudo e suas características gerais, notadamente os referenciais teóricos e metodológicos que sustentam a construção reflexiva, dialógica e coletiva das histórias; 2. potencialidades e dificuldades da abordagem participativa na construção de conhecimento em terapia ocupacional. Um dos pontos centrais da metodologia adotada, a revelação das identidades das participantes, que enfatiza a escrita das histórias em primeira pessoa, ainda não está consolidado nos desenhos atuais de estudos participativos realizados com terapeutas ocupacionais e pode ser considerado uma ação inovadora para o campo da terapia ocupacional. São apresentados os requerimentos da formação técnica, como as habilidades de comunicação e pactuação política, bem como os desdobramentos éticos e epistemológicos da experiência das profissionais. Ademais, cabe registrar que, ao narrar em primeira pessoa, sem pseudônimos, a trajetória das profissionais, enfrentamos diversos desafios, como a linha tênue entre vida pessoal e vida profissional, e também os compromissos sociais e consequências políticas das ações das participantes, além da exposição involuntária de terceiros, que não necessariamente autorizariam que suas ações fossem tornadas públicas.

Palavras-chave:
Pesquisa/Participação dos Interessados; Terapia Ocupacional; Ações Coletivas; Narrativa Pessoal

Abstract

In the last decade, studies in occupational therapy have emphasized aspects of collective construction in narrative research that reflect on the ethical precepts essential to the anonymity of participants, while guaranteeing their protagonism. This article discusses a methodological approach that is little used, namely, the narrative constructed through non-anonymous collaboration between participants and researchers, seeking to identify the challenges and potential of shared elaboration. Therefore, the article presents: 1. description of the study's conceptions and its general characteristics, notably the theoretical and methodological references that support the reflexive, dialogic and collective construction of the stories; 2. potentialities and difficulties of the participatory approach in the construction of knowledge in occupational therapy. One of the central points of the adopted methodology, the revelation of the participants' identities, which emphasizes the writing of stories in the first person, is not yet consolidated in the current designs of participatory studies carried out with occupational therapists and can be considered an innovative action for the field of occupational therapy. Technical training requirements are presented, such as communication skills and political agreement, as well as the ethical and epistemological consequences of the professionals' experience. Furthermore, it is worth mentioning that, when narrating in the first person, without pseudonyms, the trajectory of the professionals, we face several challenges, such as the fine line between personal and professional life, as well as the social commitments and political consequences of the participants' actions, in addition to the involuntary exposure of third parties, who would not necessarily authorize their actions to be made public.

Keywords:
Research/Stakeholder Participation; Occupational Therapy; Collective Actions; Personal Narrative

Introdução

Criando uma tessitura coletiva sobre o fazer de terapeutas ocupacionais

Eu fiz meu próprio caminho, e meu caminho me fez (Emicida).

O percurso metodológico discutido neste artigo compõe um estudo que se propôs a investigar as práticas da terapia ocupacional com base na concepção de ocupação coletiva (Allegretti, 2020Allegretti, M. M. (2020). As práticas da terapia ocupacional: uma investigação a partir do conceito de ocupação coletiva (Tese de doutorado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.). O estudo original também identificou como as práticas coletivas vêm sendo discutidas e pensadas por terapeutas ocupacionais no Brasil, mostrando as tensões entre as abordagens individualistas e as intervenções de natureza coletiva. A pesquisa buscou contribuir para a superação dessa dicotomia, que há tempos é problematizada pela literatura (Kantartzis, 2019Kantartzis, S. (2019). The Dr Elizabeth Casson Memorial Lecture 2019: shifting our focus. Fostering the potential of occupation and occupational therapy in a complex world. British Journal of Occupational Therapy, 82(9), 553-566. http://dx.doi.org/10.1177/0308022619864893.
http://dx.doi.org/10.1177/03080226198648...
; Kronenberg & Pollard, 2006Kronenberg, F., & Pollard, N. (2006). Political dimensions of occupation and the roles of occupational therapy. The American Journal of Occupational Therapy: Official Publication of the American Occupational Therapy Association,60(6), 617-626. https://doi.org/10.5014/ajot.60.6.617.
https://doi.org/10.5014/ajot.60.6.617...
; Palacios, 2015Palacios, M. (2015). Ocupación Colectiva, Sentido de Comunidad y Bienestar psicosocial. In P. Caro-Vines, R. Morrison & M. Palacios (Eds.), Colegio de Terapeutas Ocupacionales de Chile (pp. 143-159). Santiago do Chile: Ediciones On Demand.; Ramugondo & Kronenberg, 2015Ramugondo, E., & Kronenberg, F. (2015). Explaining collective occupations from a human relations perspective: bridging the individual-collective dichotomy. Journal of Occupational Science, 22(1), 3-16. http://dx.doi.org/10.1080/14427591.2013.781920.
http://dx.doi.org/10.1080/14427591.2013....
; Tolvett, 2013Tolvett, M. P. (2013). Ocupación colectiva, sentido de comunidad y bienestar psicosocial. In P. Caro-Vines, R. Morrison, & M. Palacios (Eds.), Cincuenta años de terapia ocupacional en Chile: prácticas, epistemologías y realidades locales (Tomo II). Santiago: Ediciones On Demand.).

As práticas profissionais são constituídas historicamente, além de incluírem características que são sociais e discursivas, tornando-se propriedade coletiva, e não apenas propriedade pessoal de cada envolvido (Kemmis, 2005Kemmis, S. (2005). Knowing practice: searching for saliences. Pedagogy, Culture & Society, 13(3), 391-426. http://dx.doi.org/10.1080/14681360500200235.
http://dx.doi.org/10.1080/14681360500200...
). Vale mencionar que as práticas são moldadas pelos praticantes e pelas suas intenções, expectativas e valores de acordo com quem elas se destinam a servir (pessoas, grupos sociais e sociedades inteiras).

Mudar a prática requer não somente mudanças nas ações de indivíduos, mas também mudanças nas dimensões sociais, discursivas e históricas em que as práticas são constituídas e reconstituídas, e como elas evoluem ao longo do tempo. Isso é inevitavelmente um processo político para além da responsabilidade de profissionais individuais que atuam sozinhos, embora cada um indubitavelmente possa contribuir para a evolução de práticas (Kemmis, 2005Kemmis, S. (2005). Knowing practice: searching for saliences. Pedagogy, Culture & Society, 13(3), 391-426. http://dx.doi.org/10.1080/14681360500200235.
http://dx.doi.org/10.1080/14681360500200...
, p. 393).

Farias et al. (2019)Farias, L., Rudman, D. L., Pollard, N., Schiller, S., Malfitano, A. P. S., Thomas, K., & van Bruggen, H. (2019). Critical dialogical approach: a methodological direction for occupation-based social transformative work. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 26(4), 235-245. http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018.1469666.
http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018....
detalharam a metodologia de estudo que focalizou a transformação social mediante ações baseadas na ocupação. O projeto adotou a construção coletiva (não anônima) de narrativas; foi observado que referenciais teóricos e metodológicos (Poland & Cavalcante Junior, 2010Poland, B., & Cavalcante Junior, F. (2010). Unmasking power relations: from interview research to dialogue for social change. In CQ Seminar Series - Centre for Critical Qualitative Health Research. Toronto: University of Toronto.; Kinsella & Whiteford, 2009Kinsella, E. A., & Whiteford, G. E. (2009). Knowledge generation and utilization in occupational therapy: towards epistemic reflexivity. Australian Occupational Therapy Journal, 56(4), 249-258. http://dx.doi.org/ 10.1111/j.1440-1630.2007.00726.x.
http://dx.doi.org/ 10.1111/j.1440-1630.2...
) favorecem o relacionamento entre pesquisadores e participantes, permitindo experiências compartilhadas e provendo o seu engajamento nessas experiências. Naquele estudo, as participantes foram comunicadas desde o início sobre a impossibilidade da garantia do anonimato completo, devido à “[...] natureza pública de seu trabalho e à visibilidade dos especialistas no campo social [...]” (Farias et al., 2019Farias, L., Rudman, D. L., Pollard, N., Schiller, S., Malfitano, A. P. S., Thomas, K., & van Bruggen, H. (2019). Critical dialogical approach: a methodological direction for occupation-based social transformative work. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 26(4), 235-245. http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018.1469666.
http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018....
, p. 9). Neste artigo, relatamos a construção de um percurso metodológico semelhante, articulado pelas duas pesquisadoras, com a colaboração das participantes e do participante. Na primeira parte, são brevemente descritas as concepções do estudo original e as suas características gerais. Na segunda parte, apresentamos uma reflexão sobre a estrutura da colaboração construída entre a equipe de pesquisa e as2 2 As autoras deste artigo apoiam o combate ao uso do masculino genérico (falso neutro) nas publicações. Dessa forma, sempre que possível, utilizaremos o feminino genérico, pois falamos de um universo composto por 8 mulheres e 1 homem (Franco & Cervera, 2006). participantes. Na terceira parte, abordamos a redação construída de modo colaborativo e a interação entre participantes e pesquisadoras, bem como a decisão acerca da revelação das identidades das participantes e suas consequências éticas. Ao final, refletimos sobre as eventuais implicações desse tipo de metodologia na construção de conhecimento em terapia ocupacional.

Concepções e características do estudo: organizando um espaço inclusivo, potente e democrático de reflexão

Quando as teias de aranha se juntam, elas podem amarrar um leão (Provérbio africano).

Para a reflexão sobre a elaboração de uma modalidade específica de prática profissional, um estudo qualitativo e participativo foi realizado por meio de um guia para as entrevistas e da construção colaborativa de narrativas. A produção dos dados se deu com as narrativas de nove terapeutas ocupacionais que possuem experiência em práticas coletivas há pelo menos um ano. A metodologia valorizou e priorizou referenciais teóricos e metodológicos que orientam a construção reflexiva, dialógica e coletiva das histórias (Bastos & Santos, 2013Bastos, L. C., & Santos, W. S. (2013). A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação. Rio de Janeiro: Quartet.; Chizzotti, 2003Chizzotti, A. (2003). A pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais: evolução e desafios. Revista Portuguesa de Educação, 16(2), 221-236. Recuperado em 7 de outubro de 2021, de https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=37416210
https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=3...
; Cunha, 1997Cunha, M. I. (1997). Conta-me agora! As narrativas como alternativas pedagógicas na pesquisa e no ensino. Revista da Faculdade de Educação, 23(1-2), 185-195. http://dx.doi.org/10.1590/rfe.v23i1-2.59596.
http://dx.doi.org/10.1590/rfe.v23i1-2.59...
; Farias et al., 2019Farias, L., Rudman, D. L., Pollard, N., Schiller, S., Malfitano, A. P. S., Thomas, K., & van Bruggen, H. (2019). Critical dialogical approach: a methodological direction for occupation-based social transformative work. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 26(4), 235-245. http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018.1469666.
http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018....
; Freire, 1984Freire, P. (1984). Criando métodos de pesquisa alternativa: aprendendo a fazê-la melhor através da ação. In C. R. Brandão (Org.), Pesquisa participante (pp. 34-41). São Paulo: Brasiliense.; Hilário et al., 2018Hilário, C. M., Grácio, M. C. C., & Guimarães, J. A. C. (2018). Aspectos éticos da coautoria em publicações científicas. Questão, 24(2), 12-36. http://dx.doi.org/10.19132/1808-5245242.12-36.
http://dx.doi.org/10.19132/1808-5245242....
; Montenegro & Alves, 1997Montenegro, M. R., & Alves, V. A. F. (1997). Critérios de autoria e coautoria em trabalhos científicos. Acta Botanica Brasílica, 11(2), 273-276. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-33061997000200014.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-33061997...
).

O estudo objetivou: 1. investigar de que forma terapeutas ocupacionais pensam/desenvolvem a dimensão coletiva das suas ações; 2. identificar, baseado nas práticas de terapeutas ocupacionais destinadas aos coletivos, as ideias, as teorias e as interfaces dessas ações; 3. identificar e descrever que modelos, teorias ou disciplinas, dentro e fora da terapia ocupacional, informam as concepções dessas ações; e 4. mapear e descrever as práticas coletivas realizadas pelas participantes.

Os critérios de inclusão da pesquisa foram: ser terapeuta ocupacional, atuar no território brasileiro e ter pelo menos um ano de experiência com intervenções coletivas. O tipo de instituição/área em que as intervenções foram desenvolvidas não foi um fator excludente, o que nos permitiu abranger diferentes áreas e contextos de atuação. Embora não tenha sido um critério de inclusão, durante o desenvolvimento do trabalho de campo, buscamos abranger o maior número possível de regiões do país, na tentativa de compreender as práticas das profissionais em diferentes contextos culturais.

Para a identificação e o convite às profissionais, utilizou-se a técnica de “bola de neve” (snowball sampling), que consistiu em realizar uma busca nas redes virtuais ou pessoais de terapeutas ocupacionais (Vinuto, 2014Vinuto, J. (2014). A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas, 22(44), 203-220. http://dx.doi.org/10.20396/tematicas.v22i44.10977.
http://dx.doi.org/10.20396/tematicas.v22...
). Essa medida permitiu a reunião de um grupo de terapeutas ocupacionais que atuam em diferentes contextos, interessados em produzir relatos de suas experiências sobre a temática em questão. Após a identificação, foram escolhidas as primeiras pessoas que aceitaram o convite para participar. Na sequência, foi enviada uma carta para cada participante, com breve explicação sobre o estudo e os próximos passos.

Todas as entrevistas foram feitas individualmente, com duração média de 2 horas. Cada participante escolheu a forma como gostaria de realizá-la, sendo as opções: Skype, ligação por telefone ou presencial. Todas as entrevistas foram gravadas em áudio. Após a transcrição das entrevistas, feitas pela primeira autora, demos (inclusos aqui participantes e autoras) continuidade ao trabalho de produção colaborativa das narrativas, que será mais bem explicado no próximo tópico.

Ao final da entrevista, havia um espaço livre para comentários sobre outros aspectos que as participantes considerassem pertinentes. Ademais, para a maioria das questões, foram solicitados exemplos, ressaltando a concretude das práticas e buscando um melhor entendimento das reflexões. A transcrição de cada entrevista foi realizada cuidadosamente, seguida da leitura e da releitura das histórias em busca de temas para análise (Braun & Clarke, 2006Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, 3(2), 77-101. http://dx.doi.org/10.1191/1478088706qp063oa.
http://dx.doi.org/10.1191/1478088706qp06...
).

A equipe de pesquisadoras foi composta pela primeira autora, à época doutoranda, e sua orientadora, que trabalharam juntas na concepção e no desenvolvimento do estudo. Nove terapeutas ocupacionais participaram do estudo, sendo oito mulheres e um homem, oriundas de diferentes regiões do Brasil, apresentadas na Figura 1 a seguir. Observa-se a prevalência da Região Sudeste (6 participantes), com 3 profissionais no estado de São Paulo e 3 no estado do Rio de Janeiro. As regiões Norte (Manaus), Nordeste (Aracaju) e Sul (Curitiba) tiveram uma participante, cada uma delas. Quanto ao tempo de trabalho com práticas coletivas, as experiências variaram de 4 a 30 anos. No momento da pesquisa, 3 participantes estavam atuando na rede pública como terapeutas ocupacionais; 5, como docentes em universidades públicas; e 1 combinava a atuação na rede básica e na docência.

Figura 1
Apresentação das participantes do estudo. Fonte: Região da atuação no momento da pesquisa.

A construção das histórias em primeira pessoa: o desafio da narrativa construída de modo colaborativo

As coisas mudam no devagar depressa dos tempos (João Guimarães Rosa).

Com base nos aspectos analisados na pesquisa, notadamente, a construção colaborativa das narrativas das participantes e a revelação das suas identidades, este artigo se fundamenta em duas perguntas: 1. Como pensar a metodologia de pesquisa com base nas interações que acontecem durante o processo de produção do campo? 2. Como as escolhas metodológicas configuram o processo participativo da pesquisa?

Um dos desafios deste projeto foi a construção colaborativa das histórias com as participantes. A investigação colaborativa tem se mostrado uma importante estratégia para lidar com problemas enfrentados no cotidiano de trabalhadores, possibilitando, assim, que uma mesma temática possa ser refletida e analisada criticamente e que se pense coletivamente em soluções para tais obstáculos (Boavida & Ponte, 2002Boavida, A. M., & Ponte, J. P. (2002). Investigação colaborativa: potencialidades e problemas. In D. Fiorentini & Grupo de Trabalho de Investigação (Orgs.), Reflectir e investigar sobre a prática profissional (pp. 43-55). Lisboa: APM.; Furlan & Campos, 2014Furlan, P. G., & Campos, G. W. S. (2014). Pesquisa-apoio: pesquisa participante e o método Paideia de apoio institucional. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, 18(Supl. 1), 885-894. http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622013.0285.
http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622013....
; Gama & Nakayama, 2017Gama, R. P. S., & Nakayama, B. C. M. S. (2017). Investigação colaborativa e a formação docente em grupos de pesquisa. São Carlos: Pedro & João Editores.).

Desde o início, percebemos que, ao anonimizar o processo de análise das narrativas, perderíamos aspectos importantes para a contextualização das trajetórias narradas. Sendo a terapia ocupacional uma profissão ainda diminuta no Brasil, mesmo poucas referências podem permitir a identificação de alguns profissionais. No entanto, a anonimidade ainda é extremamente frequente nos estudos da área. Foi, então, o momento de tomarmos a decisão de abandonar a anonimidade e adotarmos a revelação das identidades. Diante dessa decisão, que alterava integralmente o processo, foi necessário o retorno a cada participante, para revisar as normas anteriormente acordadas. Mediante a aceitação do grupo, foi elaborada a mudança do projeto previamente aprovado no Comitê de Ética3 3 Para formalizar esse processo, foi necessária uma emenda na Plataforma Brasil, esclarecendo a alteração, formalizando o pedido de autorização para a mudança mediante um documento com justificativas teóricas e informando as modificações feitas no TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido). . Após a autorização do Comitê de Ética, buscamos os novos procedimentos de redação e síntese das histórias. A despeito da revelação das identidades das participantes, os nomes de terceiros e dos lugares/instituições foram mantidos em sigilo.

As nove entrevistas resultaram em transcrições longas, que precisavam ser reordenadas e sintetizadas. Em um primeiro momento, buscou-se a redução da coloquialidade, bem como de elementos da conversa oral que não teriam função semântica no texto escrito. Feito isso, o resultado desse primeiro trabalho foi enviado às participantes e ao participante para conferência e complementação. Os retornos posteriores permitiram reelaborações, como também maior exploração e elucidações dos temas, conforme propõe Cunha (1997)Cunha, M. I. (1997). Conta-me agora! As narrativas como alternativas pedagógicas na pesquisa e no ensino. Revista da Faculdade de Educação, 23(1-2), 185-195. http://dx.doi.org/10.1590/rfe.v23i1-2.59596.
http://dx.doi.org/10.1590/rfe.v23i1-2.59...
. Como se sabe, as narrativas são abertas às significações dos narradores, possibilitando o aparecimento de novas reflexões sobre o tema estudado, por meio da memória e das experiências vividas (Silva & Pádua, 2010Silva, S. A., & Pádua, K. C. (2010). Explorando narrativas: algumas reflexões sobre suas possibilidades na pesquisa. In R. C. Campos (Org.), Pesquisa e Educação e formação humana: nos trilhos da história (pp. 105-126). Belo Horizonte: Autêntica.). Como exemplo disso, fenômenos previamente narrados foram melhor explicados ou foram incluídas experiências mais recentes de trabalho que dialogavam com as práticas coletivas.

A revelação das identidades das participantes: navegando sobre preceitos éticos conservadores

Reconhecidamente, os projetos de pesquisa apresentam desafios muitas vezes imprevisíveis (Farias et al., 2019Farias, L., Rudman, D. L., Pollard, N., Schiller, S., Malfitano, A. P. S., Thomas, K., & van Bruggen, H. (2019). Critical dialogical approach: a methodological direction for occupation-based social transformative work. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 26(4), 235-245. http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018.1469666.
http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018....
; Guerriero & Minayo, 2013Guerriero, I. C. Z., & Minayo, M. C. S. (2013). O desafio de revisar aspectos éticos das pesquisas em ciências sociais e humanas: a necessidade de diretrizes específicas. Physis, 23(3), 763-782. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312013000300006.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312013...
). Numa análise do processo histórico das resoluções que direcionam os aspectos éticos do Conselho Nacional de Saúde, o modelo biomédico é historicamente preponderante (Guerriero & Minayo, 2013Guerriero, I. C. Z., & Minayo, M. C. S. (2013). O desafio de revisar aspectos éticos das pesquisas em ciências sociais e humanas: a necessidade de diretrizes específicas. Physis, 23(3), 763-782. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312013000300006.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312013...
). Tal configuração tem sido um desafio para os pesquisadores das Ciências Sociais e Humanas, os quais têm encontrado dificuldade na aprovação das suas pesquisas pelo sistema formado pelos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Nas pesquisas empírico-sociais, a depender dos casos, é fundamental haver o cuidado com a preservação dos sujeitos participantes e de suas informações, porque, dependendo da situação, os dados devem ser sigilosos, para não prejudicar os sujeitos e as instituições envolvidas. Por outro lado, no caso das Ciências Sociais e Humanas, por exemplo, a maioria dos estudos considera:

Os pesquisadores e seus interlocutores são atores ativos do processo da pesquisa, pois em geral o conhecimento das ciências sociais e humanas é gerado em intersubjetividade. Além disso, o pesquisador costuma entrar no contexto usual dos participantes e os etnógrafos, por exemplo, chegam a morar nas comunidades em que estudam. Essa convivência intensa entre equipe de pesquisa e participantes gera um tipo de conhecimento que não ocorre a priori, não podendo, portanto, ser previsto num protocolo de pesquisa (Guerriero & Minayo, 2013Guerriero, I. C. Z., & Minayo, M. C. S. (2013). O desafio de revisar aspectos éticos das pesquisas em ciências sociais e humanas: a necessidade de diretrizes específicas. Physis, 23(3), 763-782. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312013000300006.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312013...
, p. 769).

A revisão do protocolo no Comitê de Ética, negada na primeira solicitação, exigiu de nossa parte a busca por referenciais teórico-metodológicos que sustentassem os aspectos éticos no novo modelo, cuidados que demandaram um plano de apoio no processo de construção dos dados junto aos participantes, dessa vez, com suas identidades reveladas (Guerriero & Minayo, 2013Guerriero, I. C. Z., & Minayo, M. C. S. (2013). O desafio de revisar aspectos éticos das pesquisas em ciências sociais e humanas: a necessidade de diretrizes específicas. Physis, 23(3), 763-782. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312013000300006.
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312013...
). Cabe enfatizar que apenas um estudo conduzido por terapeuta ocupacional, realizado no Canadá, adotou procedimentos semelhantes; ele foi identificado à época do projeto (Farias et al., 2019Farias, L., Rudman, D. L., Pollard, N., Schiller, S., Malfitano, A. P. S., Thomas, K., & van Bruggen, H. (2019). Critical dialogical approach: a methodological direction for occupation-based social transformative work. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 26(4), 235-245. http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018.1469666.
http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018....
) e serviu de evidência para a mudança proposta.

Ao final, em nossa pesquisa, cada narrativa visou expressar o diálogo franco e solidário entre a primeira autora e cada colega terapeuta ocupacional que, generosamente, se dispôs a ouvir e a contar histórias. No caso das participantes e do participante, emprestaram seu tempo e sua memória para auxiliar na construção desse mosaico de experiências coletivas (Farias et al., 2019Farias, L., Rudman, D. L., Pollard, N., Schiller, S., Malfitano, A. P. S., Thomas, K., & van Bruggen, H. (2019). Critical dialogical approach: a methodological direction for occupation-based social transformative work. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 26(4), 235-245. http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018.1469666.
http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018....
). Além dessa construção feita pela colaboração de cada participante e do grupo, conforme Silva & Pádua (2010)Silva, S. A., & Pádua, K. C. (2010). Explorando narrativas: algumas reflexões sobre suas possibilidades na pesquisa. In R. C. Campos (Org.), Pesquisa e Educação e formação humana: nos trilhos da história (pp. 105-126). Belo Horizonte: Autêntica., esse também é um importante aprendizado para (re)pensar nossas dificuldades e limitações, assim como pensar nos processos incessantes de mudanças. A narrativa em primeira pessoa, sem pseudônimos, da trajetória profissional revelou a linha tênue entre vida pessoal e vida profissional, os compromissos públicos e as consequências políticas das ações profissionais no espaço público. Além disso, a eventual conexão entre essas profissionais e terceiros, que não necessariamente autorizariam que suas ações fossem tornadas públicas, exigiu que nós evitássemos todas as referências a membros das equipes, gestores, líderes comunitários, entre outros, o que certamente pode ter reduzido a acurácia dos relatos.

As implicações da abordagem colaborativa na construção de conhecimento em terapia ocupacional: um inventário de afeto, paixão e persistência

Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas (Manoel de Barros)

Benjamin (1994Benjamin, W. (1994). O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense., p. 205) considera a narrativa como uma forma “artesanal de comunicação”. Longe de ser a informação pura ou um relatório, “a narrativa mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retirá-la dele, deixando sua marca, como a mão do oleiro na argila do vaso”. As narradoras e o narrador deste estudo foram imprimindo, assim, suas marcas na forma como compartilhavam suas experiências com práticas coletivas. Isso muitas vezes subvertia a ordem cronológica, pois se apoiava em fatos ocorridos antes da formação, como no relato de Ricardo:

Eu saí com 15 anos de casa e tive uma experiência de viver durante um mês na rua. Tive esse percurso na rua e depois fui para uma comunidade eclesial, uma igreja católica de ordem franciscana, também de base comunitária, que acolhia jovens. Essa comunidade eclesial de base foi um divisor de águas para mim, porque eu comecei a me envolver muito nas atividades da comunidade, eu participava da pastoral da juventude, da pastoral da pessoa em situação de rua, da pastoral de moradia e participava muito dos movimentos que a comunidade eclesial organizava com a comunidade do entorno. Então, eu desenvolvi uma série de atividades públicas, de manifestações, de visitas às casas dos moradores, articulação com a subprefeitura da região, durante um ano e meio (Ricardo).

Segundo Riessman (1993)Riessman, C. K. (1993). Narrative analysis. Newbury Park: SAGE Publications., o ato de contar histórias sobre as experiências do passado parece ser uma atividade humana universal. As narrações são feitas de forma que as histórias estejam vinculadas a determinados objetivos. Nesse caminho, a autora assinala que “análises em estudos da narrativa se abrem para formas de contar sobre a experiência [...] Nós perguntamos, por que a estória foi contada daquela maneira?” (Riessman, 1993Riessman, C. K. (1993). Narrative analysis. Newbury Park: SAGE Publications., p. 2). Estudos que dão atenção especial a como e por que as pessoas contam histórias consideram que “a análise de como e o que as pessoas narram em entrevistas de pesquisa remete a estruturas socioculturais mais amplas, ao universo social no qual transitam os interactantes” (Bastos & Santos, 2013Bastos, L. C., & Santos, W. S. (2013). A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação. Rio de Janeiro: Quartet., p. 13). Tal aspecto ficou evidente, por exemplo, na narrativa construída por Rosângela sobre sua experiência na região Norte do país. Observa-se o entrelaçamento entre as conquistas políticas da profissão, o resultado das ações coletivas de terapeutas ocupacionais e sua trajetória pessoal:

Aqui no Norte nós estamos nos fortalecendo enquanto categoria. Hoje, somos em 26 terapeutas ocupacionais. Temos grupos de WhatsApp de terapeutas ocupacionais daqui do Amazonas e de Roraima e criamos a ABRATO-AM, porque até então nós não tínhamos representação para poder fazer a interlocução com nenhuma universidade. É assim que estamos nos fortalecendo. Além disso, foi aberto o primeiro curso de terapia ocupacional em uma universidade privada. Então, por isso que nós decidimos fazer a associação para poder começar a interlocução com as universidades do Estado. Nós estamos comemorando esse processo! (Rosângela).

Além disso, estudos que discutem as narrativas também têm focalizado outras dimensões da construção narrativa, bem como indagado por que as narrativas estão tão presentes em nossas vidas cotidianas e como elas se relacionam com a experiência de cada um (Bastos, 2004Bastos, L. C. (2004). Narrativa e vida cotidiana. Scripta, 7(14), 118-127.). Nessa perspectiva, a narrativa passa a ser compreendida como uma maneira de organização básica da experiência humana, por meio da qual é possível estudar a vida social de modo geral. Para a autora, o ato de contar histórias é uma prática social. No que se refere à experiência, esse ato permite:

Expressar uma preocupação em problematizar e compreender como os indivíduos vivem seu mundo, o que nos remete às ideias de consciência e subjetividade, mas também, e especialmente, de intersubjetividade e ação social. Problematizar a ideia de experiência significa assumir que a maneira como os indivíduos compreendem e se engajam ativamente nas situações em que se encontram ao longo de suas vidas não pode ser deduzida de um sistema coerente e ordenado de ideias, símbolos ou representações (Alves & Rabelo, 1999Alves, P. C. B., & Rabelo, M. C. M. (1999). Significação e metáforas na experiência da enfermidade. In L. A. Cunha & P. B. Schaeppi (Colab.), Experiência de Doença e Narrativa (pp. 171-185). Rio de Janeiro: Fiocruz., p. 11).

Bastos (2004)Bastos, L. C. (2004). Narrativa e vida cotidiana. Scripta, 7(14), 118-127. reflete sobre a relação entre experiência e relato, buscando identificar como, com base no relato, as pessoas constroem o sentido de quem são. Ao integrar discurso e cultura na interpretação da vida social, a autora ressalta que estudar as “[...] narrativas de pessoas, em interações cotidianas, podem ser esclarecedoras para compreender tanto a ordem social que nos cerca, quanto às possibilidades de sua transformação” (Bastos, 2004Bastos, L. C. (2004). Narrativa e vida cotidiana. Scripta, 7(14), 118-127., p. 118).

Experiências que marcaram o início da formação acadêmica ilustraram algumas interações cotidianas, situadas na atenção a pessoas, grupos e coletivos. Ao mencionarem a forma como ingressaram nas práticas coletivas, as participantes versaram:

Eu me formei em 1996, na USP, e logo na sequência eu passei a ser colaboradora do curso de terapia ocupacional em 1998, 1999, no campo de atuação que era na Reabilitação Baseada na Comunidade (RBC). A partir de 1998, passei a trabalhar junto com docentes do curso de terapia ocupacional em uma comunidade chamada Jardim de Abril, que é uma perspectiva de uma atuação territorial, da saúde e reabilitação (Marta Aoki).

Minha trajetória esteve muito ligada à questão de trabalhos que eu considero dentro de uma perspectiva coletiva, desde o início. Meu primeiro trabalho como terapeuta ocupacional foi ligado a um projeto de extensão da Universidade (Projeto Metuia USP/UFSCar), chamado projeto Casarão, que foi o primeiro projeto que o Metuia iniciou com uma parceria entre a universidade e uma comunidade específica. A comunidade era vinculada ao movimento de moradia da cidade de São Paulo (Ana Paula Malfitano).

Em síntese, para além da forma, as pessoas lembram do que aconteceu, colocam a experiência em uma sequência e buscam explicações tangíveis para isso, inseridas em uma cadeia de acontecimentos que constroem a vida individual e social, conforme as experiências desse grupo. Outra qualidade de contar histórias envolve estados intencionais que confortam ou, ao menos, tornam familiar aquilo que acontece (Jovchelovitch & Bauer, 2002Jovchelovitch, S., & Bauer, M. W. (2002). Entrevista narrativa. In M. W. Bauer & G. Gaskell (Orgs.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som (pp. 90-113). Petrópolis: Vozes.).

Para Martha e Monica, o ingresso na universidade, como docentes, marcou o início de suas práticas coletivas:

Trabalhei em algumas instituições que tinham tanto práticas individuais como coletivas, mas o trabalho feito como docente é o que me parece mais importante para falar das minhas práticas coletivas, na Universidade Federal de Sergipe, desde 2014 (Martha M.).

Depois de 2 anos, no final de 2014, passei a ser professora efetiva, me dedicando apenas à universidade. Junto com outros colegas de trabalho começamos a pensar em ações de extensão em terapia ocupacional social, a partir de diferentes frentes de atuação. Junto com uma colega, por já termos experiência e o desejo de trabalhar com juventudes, começamos a desenhar o projeto Juventude (s): intervenções urbanas de arte-cultura no território, que é o que eu desenvolvo hoje (Monica).

Nessa perspectiva, o narrador reflete sobre os acontecimentos narrados, na busca por esse fio condutor que lhe faça sentido, fundamentado no tempo presente, também projetando o futuro nas diferentes dimensões da experiência do sujeito entrelaçadas no tempo (Minayo, 2010Minayo, M. C. S. (2010). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: HUCITEC.). Desse modo, a cronologia fica subsumida à memória, mas também busca conferir sentido aos fatos narrados. Ao refletir acerca desse aspecto, Neves (2013)Neves, V. F. A. (2013). História Coletiva e Construções Subjetivas: uma trama de narrativas em uma creche comunitária. Educação em Revista, 29(1), 225-246. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-46982013005000001.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-46982013...
organiza as dimensões temporais em 2 níveis: a primeira dimensão no tempo passado, momento da vida em que alguns acontecimentos marcaram o sujeito; a segunda é o momento presente, em que o sujeito relembra, traz para a narrativa aquilo que o marcou, permitindo que ele projete ações num futuro. A autora reflete sobre essa dimensão do tempo como “[...] reconstrução e atualização da experiência por meio da linguagem, via narrativa e memória valorizadas e possíveis em um grupo que insere o sujeito em sua história, grupo no qual o sujeito se reconhece e é reconhecido” (Neves, 2013Neves, V. F. A. (2013). História Coletiva e Construções Subjetivas: uma trama de narrativas em uma creche comunitária. Educação em Revista, 29(1), 225-246. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-46982013005000001.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-46982013...
, p. 241). Portanto, um lugar comum pode ser criado, no compartilhar de ações e discursos. Para Santos (2013)Santos, W. S. (2013). Níveis de interpretação na entrevista de pesquisa interpretativa com narrativas. In L. C. Bastos & W. S. Santos (Orgs.), A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação (pp. 21-36). Rio de Janeiro: Quartet., uma das principais razões para se utilizar a narrativa é entendê-la como:

O estudo de como as pessoas costuram elementos dispersos para realizar essa construção, o que pode ajudar na compreensão de como essas produções dão forma ao significado da existência humana, no âmbito pessoal e coletivo em vários contextos sociais (Santos, 2013Santos, W. S. (2013). Níveis de interpretação na entrevista de pesquisa interpretativa com narrativas. In L. C. Bastos & W. S. Santos (Orgs.), A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação (pp. 21-36). Rio de Janeiro: Quartet., p. 27).

Isso posto, é importante compreender quais aspectos integram o ato de narrar a experiência como uma forma de conhecer os diferentes posicionamentos frente a uma mesma temática; neste estudo, esta se constitui como o desenvolvimento das práticas coletivas de terapeutas ocupacionais.

A elaboração de comentários e questões relacionados às narrativas, propostas pela primeira autora, favoreceu a construção de um espaço para que a entrevista acontecesse de maneira não prescritiva, possibilitando a livre construção das experiências da pessoa entrevistada, o que auxiliou a pesquisadora a ter um olhar mais preciso do processo de construção das narrativas. Segundo Santos (2013Santos, W. S. (2013). Níveis de interpretação na entrevista de pesquisa interpretativa com narrativas. In L. C. Bastos & W. S. Santos (Orgs.), A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação (pp. 21-36). Rio de Janeiro: Quartet., p. 27), ao assumir esse posicionamento, as perguntas e as respostas precisam ser compreendidas como “construções discursivas coparticipativas”. No estudo, a construção dessa coparticipação se deu pelas reflexões e pelos aprofundamentos daquilo que foi discutido com o grupo de terapeutas ocupacionais por meio do guia da pesquisa, mas sempre em consonância com os marcos teóricos, que se fundamentaram em uma perspectiva coletiva de pesquisa.

Fazer a discussão das narrativas com as participantes e o participante, estando ela alinhada aos objetivos da pesquisa, foi uma experiência bastante instigante, com possibilidade de explorar compreensões e sentimentos antes não percebidos, permitindo esclarecer os fatos investigados (Cunha, 1997Cunha, M. I. (1997). Conta-me agora! As narrativas como alternativas pedagógicas na pesquisa e no ensino. Revista da Faculdade de Educação, 23(1-2), 185-195. http://dx.doi.org/10.1590/rfe.v23i1-2.59596.
http://dx.doi.org/10.1590/rfe.v23i1-2.59...
). Para Bastos & Santos (2013)Bastos, L. C., & Santos, W. S. (2013). A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação. Rio de Janeiro: Quartet., colocar o foco da análise na maneira como a fala foi produzida possibilita a compreensão acerca de como as pessoas entrevistadas produzem avaliações com base em uma visão de mundo e de como gerenciam suas identidades sociais nos contextos de entrevista singulares. Nesse sentido,

O gerenciamento de identidades sociais é visto como um processo colaborativo entre entrevistador e entrevistado, entre a formulação de perguntas e respostas. Os investigadores trabalham com a percepção de que o evento de entrevista é um evento interacional no qual as pessoas articulam a produção de identidades sociais (Bastos & Santos, 2013Bastos, L. C., & Santos, W. S. (2013). A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação. Rio de Janeiro: Quartet., p. 11).

No processo das entrevistas, também foi observada a importância da história específica de cada participante, ocasião em que se buscou a leitura do seu fazer coletivo. As narrativas mesclavam aspectos da vida cotidiana, tais como experiências pessoais que impactavam a trajetória profissional, ao mesmo tempo em que acontecimentos do trabalho eram relatados e contextualizados. Por exemplo, Rosângela narra a sua chegada a Paricatuba (1989), uma comunidade onde morou com sua família, com recursos escassos e com pouca qualidade de vida (SIC):

Comecei a entender a dinâmica da comunidade. As crianças foram as primeiras que chegaram em minha casa, por conta dos bonecos. Elas foram muito importantes para minha adaptação no lugar. Eu via de manhã as mulheres descendo com bacia com louça para lavar, assim, comprei uma bacia para mim, já catava a minha louça e descia junto. Elas não falavam comigo, mas eu já ficava lá de olho, olhando como que elas faziam e as crianças iam me ensinar. Então, fui aprendendo com elas, como é que coloca uma tábua em cima de duas pedras para botar a louça na beira do rio para lavar, como é que trata peixe.

Ao mesmo tempo, Rosângela articula seu conhecimento técnico e suas experiências de trabalho no cuidado com a população:

Era um coletivo que precisava de algumas informações e que eu podia contribuir para a qualidade de vida deles, para os projetos de vida deles, para entendimento deles. Até que uma das pessoas falou para mim assim: “Nossa, dona Rô, eu nem sabia o quê que era indivíduo”. Eu falei: “Por quê? O quê que você achava que era indivíduo?”. Como resposta, tive a fala: “Eu não sei não, mas eu achava que era uma coisa muito ruim”. Diante dessa resposta, eu perguntei: “Mas por que que você achava que era uma coisa ruim?”. Ela falou: “Porque quando a minha mãe briga com alguém, ela fala assim: “Aquele indivíduo”. Diante disso, comecei a entender o universo do outro.

Fazer as entrevistas por essa perspectiva interacional permitiu a apropriação das histórias pelas participantes, além de uma maior compreensão para a pesquisadora a respeito de como um grupo de terapeutas ocupacionais pensa e desenvolve suas práticas com base em uma perspectiva coletiva. Embora com a marca de cada participante, encontramos marcadores coletivos dos processos vivenciados. De fato, em todas as narrativas, além das singularidades das histórias, também se desvelam processos históricos coletivos (Silva & Pádua, 2010Silva, S. A., & Pádua, K. C. (2010). Explorando narrativas: algumas reflexões sobre suas possibilidades na pesquisa. In R. C. Campos (Org.), Pesquisa e Educação e formação humana: nos trilhos da história (pp. 105-126). Belo Horizonte: Autêntica.).

Um mosaico de experiências: contando coletivamente as histórias singulares

A memória é uma tessitura feita a partir do presente, é o presente que nos empurra em relação ao passado, uma ‘viagem’ imperdível fundamental, para que a gente possa trazer à tona os encadeamentos da nossa história, da nossa vida, ou da vida do outro (Walter Benjamin).

No caso das habilidades específicas para a produção do campo, o aprendizado foi construído no processo de entrevistar. Desde o piloto da pesquisa, foi considerada a importância de compreender as entrevistas com base em uma perspectiva interacional (Bastos, 2004Bastos, L. C. (2004). Narrativa e vida cotidiana. Scripta, 7(14), 118-127.; Bastos & Santos, 2013Bastos, L. C., & Santos, W. S. (2013). A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação. Rio de Janeiro: Quartet.; Santos, 2013Santos, W. S. (2013). Níveis de interpretação na entrevista de pesquisa interpretativa com narrativas. In L. C. Bastos & W. S. Santos (Orgs.), A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação (pp. 21-36). Rio de Janeiro: Quartet.). Ao longo das entrevistas, a interação e a construção colaborativa se tornaram mais coerentes e fluidas. Conforme Santos (2013)Santos, W. S. (2013). Níveis de interpretação na entrevista de pesquisa interpretativa com narrativas. In L. C. Bastos & W. S. Santos (Orgs.), A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação (pp. 21-36). Rio de Janeiro: Quartet., uma interrupção no momento adequado pode auxiliar, pois expressa o interesse da pesquisadora por aquilo que os participantes narram de suas experiências, com o cuidado de não perder o foco no tema da entrevista. No entendimento de Santos (2013)Santos, W. S. (2013). Níveis de interpretação na entrevista de pesquisa interpretativa com narrativas. In L. C. Bastos & W. S. Santos (Orgs.), A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação (pp. 21-36). Rio de Janeiro: Quartet., a elaboração de comentários e questões relacionados à narrativa dos participantes também oferece espaço para que os relatos de experiência aconteçam de forma mais livre, ajudando o pesquisador a ter um olhar mais preciso sobre o processo de construção das narrativas. Um exemplo disso foi entender como as participantes e o participante iniciaram seus trabalhos com alguns coletivos, como eles chegaram até essas práticas, assim como o modo como foi possível a inserção de cada um nos contextos narrados. Para tanto, a primeira autora foi guiada pelas associações, pelas experiências e pelas reminiscências trazidas pelo grupo de participantes. De fato, o interesse das pesquisadoras e do grupo pela temática foi um importante guia para as narrativas. Segundo Santos (2013Santos, W. S. (2013). Níveis de interpretação na entrevista de pesquisa interpretativa com narrativas. In L. C. Bastos & W. S. Santos (Orgs.), A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação (pp. 21-36). Rio de Janeiro: Quartet., p. 27), o pesquisador precisa considerar que:

Uma das principais vantagens de se trabalhar com a narrativa é que se trata de um instrumento através do qual as pessoas atribuem unidade e coerência à sua existência, e o estudo de como as pessoas costuram elementos dispersos para realizar essa construção pode ajudar na compreensão de como essas produções dão forma ao significado da existência humana no âmbito pessoal e coletivo em vários contextos sociais.

Igualmente, o cuidado com a horizontalidade das relações e a liberdade absoluta para a inclusão de temas adicionais qualificaram de modo significativo a metodologia de pesquisa adotada. Do mesmo modo, a redação final das narrativas em primeira pessoa, realizada em estreita colaboração entre as participantes e as pesquisadoras, garantiu a produção de histórias que são, ao mesmo tempo, particulares e coletivas, pessoais e intransferíveis, bem como reveladoras de um saber/fazer coletivo que enseja esperança e transformação (Paro et al., 2020Paro, C. A., Ventura, M., & Silva, N. E. K. (2020). Paulo Freire e o inédito viável: esperança, utopia e transformação na saúde. Trabalho, Educação e Saúde, 18(1), 1-22. http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sol00227.
http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sol0...
).

Considerações finais

Histórias que resistem e se multiplicam no acidentado cotidiano de terapeutas ocupacionais.

Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões (Graciliano Ramos).

Neste artigo, abordamos uma metodologia ainda pouco explorada na área da terapia ocupacional brasileira, a qual possibilitou a construção coletiva de narrativas, consolidando uma metodologia colaborativa que, certamente, ainda precisa ser aperfeiçoada. Para se ter uma ideia, um levantamento de artigos que registram processos colaborativos entre pesquisadores e terapeutas ocupacionais, realizado nos últimos dois anos nos Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, identificou apenas duas publicações que dispensaram o anonimato (Cardinalli & Silva, 2021Cardinalli, I., & Silva, C. R. (2021). Trajetórias singulares e plurais na produção de conhecimento de terapia ocupacional no Brasil. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2040. http://dx.doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO2040.
http://dx.doi.org/10.1590/2526-8910.ctoA...
; Pereira et al., 2021Pereira, B. P., Borba, P. L. O., & Lopes, R. E. (2021). Terapia ocupacional e educação: as proposições de terapeutas ocupacionais na e para a escola no Brasil. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2072. http://dx.doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO2072.
http://dx.doi.org/10.1590/2526-8910.ctoA...
). Todos os demais artigos que relatavam pesquisas semelhantes utilizavam nomes fictícios. Desse modo, o processo colaborativo e a flexibilidade para as mudanças necessárias nos evidenciaram a importância de certa ousadia metodológica, assim como medidas adicionais de cuidado com as participantes.

Entre as limitações observadas, cabe explicitar que o projeto foi inicialmente concebido com apoio em uma perspectiva plena de pesquisa-ação, na qual se previa um extenso trabalho colaborativo, desde a formulação do instrumento de pesquisa até a análise dos dados, o que não foi inteiramente possível. Infelizmente, razões alheias ao projeto (prazos, dificuldades de agenda etc.) impediram o grupo de proceder trabalhando em conjunto até a conclusão das análises, sendo o processo de análise feito apenas pelas pesquisadoras.

Além disso, embora um esforço tenha sido feito para conseguir terapeutas ocupacionais de diferentes regiões do país e que estivessem inseridas na prática, não se pode afirmar que esse grupo representa o contingente profissional no Brasil. Igualmente, a bola de neve que auxiliou na identificação de terapeutas ocupacionais para compor o grupo pode ter gerado limitações quanto ao alcance de profissionais diversos no território brasileiro.

Neste estudo, procuramos dar visibilidade ao terapeuta que está nas práticas cotidianas dos serviços, trabalhando nas linhas de frente dos inúmeros lugares, espalhados pelo Brasil. Insistimos que metodologias co-participativas, semelhantes às que foram desenvolvidas nesta pesquisa, podem e devem ser mais bem exploradas, de modo a garantir que projetos colaborativos entre pesquisadores e profissionais das redes sejam facilitados. Avançar nessa direção também com outras parcerias, com usuários, com outros profissionais ou com membros das comunidades envolvidas no trabalho cotidiano de terapeutas ocupacionais pode favorecer o aprofundamento de aspectos essenciais ao fortalecimento da nossa profissão. Por fim, esperamos que este trabalho contribua, ainda que minimamente, para a consolidação de políticas públicas que reconheçam e legitimem a garantia de plenos direitos ocupacionais a todas as brasileiras e todos os brasileiros, razão primeira do trabalho e da motivação profissional do grupo de terapeutas ocupacionais que dele participaram. Esperamos que nossos trabalhos futuros consolidem a redação de artigos em coautoria com as participantes, nos quais será possível explorar melhor as narrativas singulares e coletivas, bem como as múltiplas facetas das ações coletivas desenvolvidas por terapeutas ocupacionais no Brasil.

Agradecimentos

Aos participantes da pesquisa que se dispuseram a estar conosco num processo de construção coletiva de conhecimento para a área da terapia ocupacional.

  • 1
    Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos - CAAE: 98908818.1.0000.5504.
  • 2
    As autoras deste artigo apoiam o combate ao uso do masculino genérico (falso neutro) nas publicações. Dessa forma, sempre que possível, utilizaremos o feminino genérico, pois falamos de um universo composto por 8 mulheres e 1 homem (Franco & Cervera, 2006Franco, P. V., & Cervera, J. P. (2006). Manual para o uso não sexista da linguagem: o que bem se diz bem se entende. Brasil: UNIFEM/REPEM. Rede de Educação popular.).
  • 3
    Para formalizar esse processo, foi necessária uma emenda na Plataforma Brasil, esclarecendo a alteração, formalizando o pedido de autorização para a mudança mediante um documento com justificativas teóricas e informando as modificações feitas no TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido).
  • Como citar: Allegretti, M., & Magalhães, L. (2022). Um mosaico de experiências e narrativas sobre práticas coletivas na terapia ocupacional: considerações metodológicas. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 30, e3163. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO2426316301
  • Fonte de Financiamento

    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – Código 001.

Referências

  • Allegretti, M. M. (2020). As práticas da terapia ocupacional: uma investigação a partir do conceito de ocupação coletiva (Tese de doutorado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
  • Alves, P. C. B., & Rabelo, M. C. M. (1999). Significação e metáforas na experiência da enfermidade. In L. A. Cunha & P. B. Schaeppi (Colab.), Experiência de Doença e Narrativa (pp. 171-185). Rio de Janeiro: Fiocruz.
  • Bastos, L. C. (2004). Narrativa e vida cotidiana. Scripta, 7(14), 118-127.
  • Bastos, L. C., & Santos, W. S. (2013). A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação Rio de Janeiro: Quartet.
  • Benjamin, W. (1994). O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense.
  • Boavida, A. M., & Ponte, J. P. (2002). Investigação colaborativa: potencialidades e problemas. In D. Fiorentini & Grupo de Trabalho de Investigação (Orgs.), Reflectir e investigar sobre a prática profissional (pp. 43-55). Lisboa: APM.
  • Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, 3(2), 77-101. http://dx.doi.org/10.1191/1478088706qp063oa
    » http://dx.doi.org/10.1191/1478088706qp063oa
  • Cardinalli, I., & Silva, C. R. (2021). Trajetórias singulares e plurais na produção de conhecimento de terapia ocupacional no Brasil. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2040. http://dx.doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO2040
    » http://dx.doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO2040
  • Chizzotti, A. (2003). A pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais: evolução e desafios. Revista Portuguesa de Educação, 16(2), 221-236. Recuperado em 7 de outubro de 2021, de https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=37416210
    » https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=37416210
  • Cunha, M. I. (1997). Conta-me agora! As narrativas como alternativas pedagógicas na pesquisa e no ensino. Revista da Faculdade de Educação, 23(1-2), 185-195. http://dx.doi.org/10.1590/rfe.v23i1-2.59596
    » http://dx.doi.org/10.1590/rfe.v23i1-2.59596
  • Farias, L., Rudman, D. L., Pollard, N., Schiller, S., Malfitano, A. P. S., Thomas, K., & van Bruggen, H. (2019). Critical dialogical approach: a methodological direction for occupation-based social transformative work. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 26(4), 235-245. http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018.1469666
    » http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2018.1469666
  • Franco, P. V., & Cervera, J. P. (2006). Manual para o uso não sexista da linguagem: o que bem se diz bem se entende Brasil: UNIFEM/REPEM. Rede de Educação popular.
  • Freire, P. (1984). Criando métodos de pesquisa alternativa: aprendendo a fazê-la melhor através da ação. In C. R. Brandão (Org.), Pesquisa participante (pp. 34-41). São Paulo: Brasiliense.
  • Furlan, P. G., & Campos, G. W. S. (2014). Pesquisa-apoio: pesquisa participante e o método Paideia de apoio institucional. Interface: Comunicação, Saúde, Educação, 18(Supl. 1), 885-894. http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622013.0285
    » http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622013.0285
  • Gama, R. P. S., & Nakayama, B. C. M. S. (2017). Investigação colaborativa e a formação docente em grupos de pesquisa. São Carlos: Pedro & João Editores.
  • Guerriero, I. C. Z., & Minayo, M. C. S. (2013). O desafio de revisar aspectos éticos das pesquisas em ciências sociais e humanas: a necessidade de diretrizes específicas. Physis, 23(3), 763-782. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312013000300006
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0103-73312013000300006
  • Hilário, C. M., Grácio, M. C. C., & Guimarães, J. A. C. (2018). Aspectos éticos da coautoria em publicações científicas. Questão, 24(2), 12-36. http://dx.doi.org/10.19132/1808-5245242.12-36
    » http://dx.doi.org/10.19132/1808-5245242.12-36
  • Jovchelovitch, S., & Bauer, M. W. (2002). Entrevista narrativa. In M. W. Bauer & G. Gaskell (Orgs.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som (pp. 90-113). Petrópolis: Vozes.
  • Kantartzis, S. (2019). The Dr Elizabeth Casson Memorial Lecture 2019: shifting our focus. Fostering the potential of occupation and occupational therapy in a complex world. British Journal of Occupational Therapy, 82(9), 553-566. http://dx.doi.org/10.1177/0308022619864893
    » http://dx.doi.org/10.1177/0308022619864893
  • Kemmis, S. (2005). Knowing practice: searching for saliences. Pedagogy, Culture & Society, 13(3), 391-426. http://dx.doi.org/10.1080/14681360500200235
    » http://dx.doi.org/10.1080/14681360500200235
  • Kinsella, E. A., & Whiteford, G. E. (2009). Knowledge generation and utilization in occupational therapy: towards epistemic reflexivity. Australian Occupational Therapy Journal, 56(4), 249-258. http://dx.doi.org/ 10.1111/j.1440-1630.2007.00726.x
    » http://dx.doi.org/ 10.1111/j.1440-1630.2007.00726.x
  • Kronenberg, F., & Pollard, N. (2006). Political dimensions of occupation and the roles of occupational therapy. The American Journal of Occupational Therapy: Official Publication of the American Occupational Therapy Association,60(6), 617-626. https://doi.org/10.5014/ajot.60.6.617
    » https://doi.org/10.5014/ajot.60.6.617
  • Minayo, M. C. S. (2010). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: HUCITEC.
  • Montenegro, M. R., & Alves, V. A. F. (1997). Critérios de autoria e coautoria em trabalhos científicos. Acta Botanica Brasílica, 11(2), 273-276. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-33061997000200014
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0102-33061997000200014
  • Neves, V. F. A. (2013). História Coletiva e Construções Subjetivas: uma trama de narrativas em uma creche comunitária. Educação em Revista, 29(1), 225-246. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-46982013005000001
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0102-46982013005000001
  • Palacios, M. (2015). Ocupación Colectiva, Sentido de Comunidad y Bienestar psicosocial. In P. Caro-Vines, R. Morrison & M. Palacios (Eds.), Colegio de Terapeutas Ocupacionales de Chile (pp. 143-159). Santiago do Chile: Ediciones On Demand.
  • Paro, C. A., Ventura, M., & Silva, N. E. K. (2020). Paulo Freire e o inédito viável: esperança, utopia e transformação na saúde. Trabalho, Educação e Saúde, 18(1), 1-22. http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sol00227
    » http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sol00227
  • Pereira, B. P., Borba, P. L. O., & Lopes, R. E. (2021). Terapia ocupacional e educação: as proposições de terapeutas ocupacionais na e para a escola no Brasil. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2072. http://dx.doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO2072
    » http://dx.doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO2072
  • Poland, B., & Cavalcante Junior, F. (2010). Unmasking power relations: from interview research to dialogue for social change. In CQ Seminar Series - Centre for Critical Qualitative Health Research Toronto: University of Toronto.
  • Ramugondo, E., & Kronenberg, F. (2015). Explaining collective occupations from a human relations perspective: bridging the individual-collective dichotomy. Journal of Occupational Science, 22(1), 3-16. http://dx.doi.org/10.1080/14427591.2013.781920
    » http://dx.doi.org/10.1080/14427591.2013.781920
  • Riessman, C. K. (1993). Narrative analysis. Newbury Park: SAGE Publications.
  • Santos, W. S. (2013). Níveis de interpretação na entrevista de pesquisa interpretativa com narrativas. In L. C. Bastos & W. S. Santos (Orgs.), A entrevista na pesquisa qualitativa: perspectivas em análise da narrativa e da interação (pp. 21-36). Rio de Janeiro: Quartet.
  • Silva, S. A., & Pádua, K. C. (2010). Explorando narrativas: algumas reflexões sobre suas possibilidades na pesquisa. In R. C. Campos (Org.), Pesquisa e Educação e formação humana: nos trilhos da história (pp. 105-126). Belo Horizonte: Autêntica.
  • Tolvett, M. P. (2013). Ocupación colectiva, sentido de comunidad y bienestar psicosocial. In P. Caro-Vines, R. Morrison, & M. Palacios (Eds.), Cincuenta años de terapia ocupacional en Chile: prácticas, epistemologías y realidades locales (Tomo II). Santiago: Ediciones On Demand.
  • Vinuto, J. (2014). A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: um debate em aberto. Temáticas, 22(44), 203-220. http://dx.doi.org/10.20396/tematicas.v22i44.10977
    » http://dx.doi.org/10.20396/tematicas.v22i44.10977

Editado por

Editora de Seção

Profa. Dra. Marta Carvalho de Almeida

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jun 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    07 Out 2021
  • Revisado
    13 Dez 2021
  • Revisado
    14 Fev 2022
  • Aceito
    23 Mar 2022
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Terapia Ocupacional Rodovia Washington Luis, Km 235, Caixa Postal 676, CEP: , 13565-905, São Carlos, SP - Brasil, Tel.: 55-16-3361-8749 - São Carlos - SP - Brazil
E-mail: cadto@ufscar.br