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Revisão de escopo sobre o instrumento “Occupational Performance History Interview – II”: perspectivas para o seu uso no Brasil

Resumo

Introdução

O instrumento “Occupational Performance History Interview – II” (OPHI-II) foi elaborado para se configurar como avaliação para terapeutas ocupacionais que atuam sob a perspectiva do Modelo de Ocupação Humana (MOHO). Por meio de entrevista semi-estruturada, coleta informações sobre o desempenho ocupacional do cliente na busca de obter efetividade do planejamento e processo terapêutico.

Objetivo: Investigar a produção de conhecimento da terapia ocupacional relativa à utilização do OPHI-II quanto à finalidade de uso e modos de aplicação, discutindo as contribuições para a prática do terapeuta ocupacional e a perspectiva de uso no Brasil.

Método

Trata-se de uma revisão de escopo da literatura, realizada nas bases de dados Web of Science, Scopus e Biblioteca Virtual em Saúde, somada aos artigos sugeridos no site e livro do MOHO.

Resultados

Localizaram-se 14 periódicos, totalizando 26 publicações com o uso do OPHI-II, a maioria delas posteriores a 2010, sendo a mais recente de 2017. Identificaram-se sete países de estudo, com destaque para Estados Unidos e Austrália, sem pesquisas conduzidas no Brasil. Em sua maioria, a abordagem escolhida foi a qualitativa, com metodologia baseada na análise temática do discurso. Há diversidade em relação à população estudada e ao modo de aplicação do OPHI-II, podendo combinar ou não os seus três elementos (entrevista, curva narrativa e escalas).

Conclusão

O OPHI-II se mostrou como um instrumento relevante tanto na prática clínica como para a pesquisa, o qual possibilita a combinação de outras escalas de avaliação e tem sido utilizado em diversas populações e áreas do campo da terapia ocupacional.

Palavras-chave:
Atividades Cotidianas; Avaliação de Resultados de Intervenções Terapêuticas; Prática Clínica Baseada em Evidências; Terapia Ocupacional

Abstract

Introduction

The “Occupational Performance History Interview” - II (OPHI-II) was developed to be the initial assessment for occupational therapists who work under the perspective of the Model of Human Occupation (MOHO). This instrument can be applied as an interview script to gather information about a client’s occupational performance, enabling the therapeutic plan and measuring its effectiveness.

Objective

To review the publications about the OPHI-II in occupational therapy regarding the purpose and methods of its use, and to discuss its contributions to clinical practice and its perspectives for application in Brazil.

Method

This is a scoping review performed in the databases: Web of Science, Scopus, and Virtual Health Library. We also search in grey literature such as the MOHO book and its website.

Results

We identified that in 14 of overall 26 publications using the OPHI-II, most of them were published after 2010, and the newest was in 2017. Seven countries were identified in those publications, mainly the United States and Australia, but no Brazilian study was observed. Mostly, the chosen approach was qualitative, based on thematic content analysis. The population studied was diverse and also the methods of application of the OPHI-II, combining or not its three elements (i.e. interview, narrative curve, and scales).

Conclusion

OPHI-II shows to be a relevant instrument both in clinical practice and research, which allows the combination of other assessment scales and has been used with a range of clients in fields of practice in occupational therapy.

Keywords:
Activities of Daily Living; Evaluation of Results of Therapeutic Interventions; Evidence-Based Practice; Occupational Therapy

Introdução

O uso de um modelo para fundamentar o raciocínio terapêutico ocupacional fornece ao profissional um embasamento para pensar na avaliação, no planejamento e na implementação de um plano terapêutico. Conhecer os conceitos teóricos utilizados por um modelo facilita a sua compreensão, bem como sua aplicação (Keller & Forsyth, 2004Keller, J., & Forsyth, K. (2004). The model of human occupational practice. IJOT: Israeli Journal of Occupational Therapy, 13(3), 99-106.).

Segundo o Modelo de Ocupação Humana (MOHO), o termo “occupational performance”, em livre tradução para o português como “desempenho ocupacional”, refere-se às escolhas e aos desempenhos em ocupações significativas, seja no trabalho, lazer ou nas atividades de autocuidado. O desempenho ocupacional é formado por unidades de ação que, ao serem executadas, levam à conclusão de uma atividade desejada de modo completo e coerente (Pablo et al., 2017Pablo, C. G. H., Fan, C. W., & Kielhofner, G. (2017). Dimensions of Doing. In R. R. Taylor (Ed.), Kielhofner’s Model of Human Occupation: theory and application (pp. 188-211). Philadelphia: Wolters Kluwer.).

Ao coletar informações sobre o histórico do desempenho ocupacional, o terapeuta ocupacional poderá ter acesso a informações como os hábitos e as motivações envolvidos no engajamento ocupacional de seu cliente, bem como às suas dimensões da participação no fazer (Pablo, 2015Pablo, C. G. H. (2015). Modelo de Ocupación Humana. Madrid: Editorial Sintesis; Pablo et al., 2017Pablo, C. G. H., Fan, C. W., & Kielhofner, G. (2017). Dimensions of Doing. In R. R. Taylor (Ed.), Kielhofner’s Model of Human Occupation: theory and application (pp. 188-211). Philadelphia: Wolters Kluwer.). O conhecimento sobre esses aspectos fornece um maior embasamento no planejamento terapêutico do cliente e uma maior aproximação e vínculo, porque facilita o entendimento da pessoa enquanto um ser ocupacional. Ainda, essa coleta sobre a história convida a pessoa a sentir e pensar sobre o seu fazer, incluindo-a de forma participativa em todo o seu processo de tratamento; uma premissa da prática centrada no cliente.

Pensando na importância da dimensão do desempenho ocupacional, a Associação Americana de Terapia Ocupacional (AOTA) encomendou uma avaliação que pudesse se tornar padrão da prática clínica profissional nos Estados Unidos. Foi então que, em 1989, criou-se a primeira versão do “Occupational Performance History Interview” (OPHI), a qual foi validada para o Brasil em 1998 (Benetton & Lancman, 1998Benetton, M. J., & Lancman, S. (1998). Estudo de confiabilidade e validação da “entrevista da história do desempenho ocupacional”. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 9(3), 94-104.). Embora o OPHI tenha sido adaptado e validado para o Brasil, são desconhecidas outras publicações quanto ao uso desse instrumento no país. Em 2004, uma segunda versão foi publicada, a qual se encontra em processo de adaptação para a cultura brasileira (Kielhofner et al., 2004Kielhofner, G., Mallinson, T., Crawford, C., Nowak, M., Rigby, M., Henry, A., & Walwns, D. (2004). Occupational Performance History Interview – Second Version (OPHI-II). Assessment Manual. Chicago: The University of Illinois at Chicago.).

O OPHI, desde sua primeira versão, consiste em uma entrevista semiestruturada voltada para a história de vida do cliente, reunindo informações sobre o seu desempenho ocupacional passado e atual, nas áreas de trabalho, lazer e autocuidado. É uma entrevista que pode ser utilizada para avaliar clientes diversos, sendo considerada genérica (Benetton & Lancman, 1998Benetton, M. J., & Lancman, S. (1998). Estudo de confiabilidade e validação da “entrevista da história do desempenho ocupacional”. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 9(3), 94-104.). Foi elaborada para ser uma avaliação inicial, com o intuito de melhorar a compreensão do terapeuta sobre o cliente e guiar o planejamento da intervenção terapêutica ocupacional (Kielhofner et al., 2001Kielhofner, G., Mallinson, T., Forsyth, K., & Lai, J. S. (2001). Psychometric Properties of the Second Version of the Occupational Performance History Interview (OPHI-II). The American Journal of Occupational Therapy, 55(3), 260-267.).

Pelo fato de seu foco estar centrado na história de vida do cliente, o instrumento, em sua segunda versão, mostra-se um importante aliado para a intervenção da terapia ocupacional, bem como se baseia na teoria do MOHO, uma vez que consegue abarcar os conceitos de adaptação ocupacional (incluindo identidade e competência), volição (causação pessoal, valores e interesses), habituação (hábitos e papéis) e ainda a participação nos papéis (Turpin & Iwama, 2011Turpin, M., & Iwama, M. K. (2011). Using occupational therapy models in practice a field guide. Churchill Livingston: Elsevier.).

O OPHI-II é um instrumento de avaliação que contém três partes, a saber: 1) entrevista semiestruturada, que explora a história de vida do cliente; 2) escalas avaliativas, as quais mensuram a identidade e a competência ocupacional do cliente, bem como o impacto causado pelo seu ambiente; e 3) a curva narrativa que esboça a história de vida do cliente ao longo do tempo e em relação a um evento crítico (Hemmingsson et al., 2017Hemmingsson, H., Forsyth, K., Haglung, L., Keponen, R., Ekblahd, E., & Kielhofner, G. (2017). Talking with clients: Assessments that collect informations through interviews. In R. R. Taylor (Ed.), Kielhofner’s Model of Human Occupation: theory and application (pp. 188-211). Philadelphia: Wolters Kluwer.).

A validade interna da OPHI-II já foi comprovada, bem como a sua possibilidade de aplicação em uma ampla gama de pessoas de diferentes culturas (Kielhofner et al., 2001Kielhofner, G., Mallinson, T., Forsyth, K., & Lai, J. S. (2001). Psychometric Properties of the Second Version of the Occupational Performance History Interview (OPHI-II). The American Journal of Occupational Therapy, 55(3), 260-267.). Uma vez que o OPHI-II já passou por um processo de revisão e comprovação de sua validade em países como Estados Unidos, Finlândia, Austrália, Islândia, Bélgica, entre outros (Kielhofner et al., 2001Kielhofner, G., Mallinson, T., Forsyth, K., & Lai, J. S. (2001). Psychometric Properties of the Second Version of the Occupational Performance History Interview (OPHI-II). The American Journal of Occupational Therapy, 55(3), 260-267.), considera-se que uma análise da produção de conhecimento quanto à sua utilização poderá fornecer subsídios para compreensão da aplicação do instrumento na prática da terapia ocupacional.

A partir desta consideração, o presente estudo teve por objetivo analisar a produção de conhecimento sobre o OPHI-II quanto à sua finalidade de uso e aos modos de aplicação, discutindo as contribuições do instrumento para a prática do terapeuta ocupacional e a perspectiva de uso no Brasil.

Para tanto, este trabalho foi conduzido a partir das seguintes perguntas investigativas: Com quais populações foi utilizado o instrumento OPHI-II?; Quais as finalidades para o uso do OPHI-II?; e Quais os tipos de pesquisa em que o OPHI-II foi utilizado?

Para além das perguntas, procurou-se verificar sobre a utilização do OPHI-II em conjunto com outros instrumentos padronizados, conhecer os desenhos metodológicos utilizados para a coleta e análise dos dados obtidos pela aplicação do OPHI-II, além de identificar indicadores bibliométricos, como o ano da produção, o país no qual a pesquisa foi desenvolvida, a base de dados na qual o estudo pôde ser encontrado e as revistas nas quais os estudos foram publicados.

Método

Trata-se de uma revisão de escopo, tipo de revisão que possibilita o mapeamento das fontes, evidências e conceitos que subsidiam uma área de conhecimento. Em conjunto, permite a identificação das lacunas existentes nesta área pesquisada (Arksey & O’Malley, 2005Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19-32. http://dx.doi.org/10.1080/1364557032000119616.
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). A revisão de escopo é considerada um procedimento transversal que, preferencialmente, aplica-se a áreas que não foram revisadas anteriormente (Arksey & O’Malley, 2005Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19-32. http://dx.doi.org/10.1080/1364557032000119616.
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), como é o caso do presente estudo.

Para a realização desta revisão, foram adotados os parâmetros estabelecidos por Arksey & O’Malley (2005)Arksey, H., & O’Malley, L. (2005). Scoping studies: towards a methodological framework. International Journal of Social Research Methodology, 8(1), 19-32. http://dx.doi.org/10.1080/1364557032000119616.
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, e complementados por Donato & Donato (2019)Donato, H., & Donato, M. (2019). Etapas na condução de uma revisão sistemática. Acta Medica Portuguesa, 32(3), 227-235. http://dx.doi.org/10.20344/amp.11923.
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, O’Brien et al. (2016)O’Brien, K. K., Colquhoun, H., Levac, D., Baxter, L., Tricco, A. C., Straus, S., Wickerson, L., Nayar, A., Moher, D., & O’Malley, L. (2016). Advancing scoping study methodology: a web-based survey and consultation of perceptions on terminology, definition and methodological steps. BMC Health Services Research, 16(305), 2-12. http://dx.doi.org/10.1186/s12913-016-1579-z.
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, Peters et al. (2015)Peters, M. D., Godfrey, C. M., Khalil, H., McInerney, P., Parker, D., & Soares, C. B. (2015). Guidance for conducting systematic scoping reviews. International Journal of Evidence-Based Healthcare, 13(3), 141-146. http://dx.doi.org/10.1097/XEB.0000000000000050.
http://dx.doi.org/10.1097/XEB.0000000000...
, Colquhoun et al. (2014)Colquhoun, H. L., Levac, D., O’Brien, K. K., Straus, S., Tricco, A. C., Perrier, L., Kastner, M., & Moher, D. (2014). Scoping reviews: time for clarity in definition, methods, and reporting. Journal of Clinical Epidemiology, 67(12), 1291-1294. http://dx.doi.org/10.1016/j.jclinepi.2014.03.013.
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e Tricco et al. (2016)Tricco, A. C., Lillie, E., Zarin, W., O’Brien, K., Colquhoun, H., Kastner, M., Levac, D., Ng, C., Sharpe, J. P., Wilson, K., Kenny, M., Warren, R., Wilson, C., Stelfox, H. T., & Straus, S. E. (2016). A scoping review on the conduct and reporting of scoping reviews. BMC Medical Research Methodology, 16(15), 2-10. http://dx.doi.org/10.1186/s12874-016-0116-4.
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, sendo realizadas as cinco etapas:

  1. 1

    elaboração das perguntas de pesquisa;

  2. 2

    identificação dos estudos por meio de diferentes fontes;

  3. 3

    composição da amostra com base nos critérios de busca e inclusão/exclusão;

  4. 4

    extração de informações relativas às perguntas de pesquisa;

  5. 5

    análise numérica e temática dos dados, descrição e discussão.

Estratégias de busca

A busca dos estudos foi realizada a partir dos artigos que constam no site do MOHO (Model of Human Occupation Clearinghouse, 2020Model of Human Occupation Clearinghouse - MOHO. (2020). Recuperado em 13 de fevereiro de 2020, em: www.moho.uic.edu.
www.moho.uic.edu...
) e nas fontes de indexação: Biblioteca Virtual de Saúde, Web of Science e Scopus, bem como pelas indicações contidas na última edição do livro Kielhofner´s Model of Human Occupation: theory and application (Taylor, 2017Taylor, R. R. (Ed.). (2017). Kielhofner’s Model of Human Occupation: theory and application. Philadelphia: Wolters Kluwer.), já que, a despeito da vasta publicação sobre o modelo, ainda é nos livros que se concentra uma maior quantidade de informações atualizadas sobre seus conceitos, evolução da teoria, assim como as evidências existentes.

Para a busca nas fontes, a fim de alcançar o maior número de estudos publicados sobre o OPHI-II, foram utilizadas seis combinações booleanas, constantes no título, resumo ou palavras-chave dos estudos, feitas da mesma forma e na mesma ordem em todas as fontes:

  • 1º “Occupational Performance History Interview – II

  • 2º “OPHI-II”

  • 3º “Occupational Performance History Interview – II” OR “OPHI-II”

  • 4º “Occupational Performance History Interview – II” AND “Model of Human Occupation”

  • 5º “OPHI-II” AND “Model of Human Occupation”

  • 6º “Occupational Performance History Interview – II” OR “OPHI-II” AND “Model of Human Occupation”

Mesmo admitindo-se a importância e popularidade do uso de expressões indexadas em bases de dados, definiu-se que as palavras-chave para a presente revisão não deveriam se distanciar do fenômeno a ser investigado (um instrumento de avaliação – OPHI-II – parte de um modelo – MOHO), o qual tem uma terminologia bastante específica. Assim, optou-se pelo uso de expressões que fossem ao encontro do objetivo do estudo, mesmo que estas não estivessem listadas como descritores em bancos de dados.

Critérios de inclusão

  • Documentos que utilizaram o OPHI-II e que forneciam ao menos uma informação sobre esta utilização, como: população, finalidade, resultados obtidos e função para a prática terapêutica ocupacional.

  • Documentos disponíveis na íntegra, escritos em inglês, espanhol e português, em forma de artigo científico, capítulo de livro ou livro inteiro.

  • Documentos resultantes de pesquisas quantitativas ou qualitativas e com qualquer desenho de estudo (estudo controlado randomizado, grupo único pré-pós, coorte, caso-controle, pesquisas, revisões, teoria narrativa, estudos de caso ou relatos de experiência).

Critérios de exclusão

Foram excluídos editoriais e anais de congressos, documentos que utilizaram a primeira versão do OPHI e aqueles que não utilizaram o OPHI-II em seu formato original, por exemplo, que utilizaram esse instrumento apenas como base para elaborar uma nova avaliação.

A busca nas bases de dados e site foi realizada em fevereiro de 2020, sem janelamento de tempo, para que todas as publicações pudessem ser consideradas. Após a retirada dos artigos duplicados, foi feita a leitura dos estudos na íntegra, a fim de cumprir com os critérios de elegibilidade da revisão. A Figura 1 ilustra o processo de busca e composição da amostra final de textos, realizado pela autora principal desta revisão.

Figura 1
Processo de busca e composição da amostra final de textos.

Resultados

Inicialmente, serão apresentados os resultados referentes aos artigos selecionados pelos periódicos e fontes de indexação. Na sequência, apresentam-se a distribuição das publicações ao longo dos anos e a identificação dos seus respectivos países. Dados sobre as abordagens metodológicas e a população estudada são descritas na sequência. Por fim, são apresentados os resultados referentes aos objetivos dos estudos, uso e finalidade do OPHI-II com a utilização de outros instrumentos de avaliação.

Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 26 estudos para análise, publicados em 14 periódicos, dos quais se destacam o Australian Occupational Therapy Journal, o Scandinavian Journal of Occupational Therapy, seguido do British Journal of Occupational Therapy e do Occupational Therapy in Health Care, por terem publicado 15 dos 26 artigos incluídos na revisão. Em relação às fontes de indexação, nota-se que a Scopus foi a base que mais conteve artigos indexados, seguida pela base Web of Science (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuição dos artigos científicos por periódicos e fontes de indexação (n=26).

Com relação aos anos de publicação, 15 artigos datam anteriormente ao ano de 2010, sendo que, em 2002, não houve nenhuma publicação e, em 2004, concentra-se o maior número de estudos com o OPHI-II. Após 2010, foram encontrados 11 artigos, sendo que o ano de 2014 não teve nenhum e o mais recente data de 2017. A Figura 2 traz a distribuição da quantidade de artigos publicados ao longo dos anos.

Figura 2
Distribuição da quantidade de artigos publicados ao longo dos anos.

As pesquisas foram conduzidas em 7 países, com destaque para 9 estudos realizados nos Estados Unidos e 8 na Austrália. Houve ainda publicações realizadas em Israel (n=3), na Irlanda (n=2), Islândia (n=2), Holanda (n=1) e Suécia (n=1). Também se pôde notar que, de todos os autores envolvidos, alguns compuseram a equipe de diferentes publicações: Kielhofner (n=6), Fossey (n=6), Braveman (n=4), Farnworth (n=3) e Helfrich (n=4).

As pesquisas foram, em sua maioria (17), de abordagem qualitativa, com metodologia de tratamento dos dados baseada na análise temática do discurso. Houve ainda 5 estudos quantitativos e 4 com metodologia mista. Naqueles com abordagem quantitativa, utilizou-se de análise descritiva simples, a partir das pontuações das escalas do OPHI-II ou de outros instrumentos utilizados em combinação.

Com relação à população estudada, as amostras foram variadas, abarcando adolescentes em situação de vulnerabilidade social (2) ou com diagnóstico de Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade TDAH (1), mulheres com câncer de mama (2), adultos em cuidados quanto à saúde mental (8), adultos com disfunção física em reabilitação física (4), adultos com disfunção física em processo de reabilitação profissional (2), idosos (1), pessoas com diagnóstico de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV/AIDS) (4), de apneia obstrutiva do sono (1) e síndrome da fadiga crônica (1), população transgênero (1), cuidadores (2), indivíduos sem qualquer diagnóstico ou condição de saúde (1) e terapeutas ocupacionais (4). Cabe notar que alguns estudos (n=5) tiveram amostra com mais de um dos grupos citados, como o estudo de Kielhofner et al. (2001)Kielhofner, G., Mallinson, T., Forsyth, K., & Lai, J. S. (2001). Psychometric Properties of the Second Version of the Occupational Performance History Interview (OPHI-II). The American Journal of Occupational Therapy, 55(3), 260-267., por exemplo, o qual utilizou, além de terapeutas ocupacionais, participantes com diferentes condições de saúde (sem nenhum diagnóstico médico, com incapacidade física e com transtorno mental), e o estudo de Ennals & Fossey (2007)Ennals, P., & Fossey, E. (2007). The occupational performance history interview in community mental health case management: consumer and occupational therapist perspectives. Australian Occupational Therapy Journal, 54(1), 11-21. http://dx.doi.org/10.1111/j.1440-1630.2006.00593.x.
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, com a participação de terapeutas ocupacionais e seus clientes atendidos em um serviço de saúde mental.

Sobre o uso do OPHI-II, 14 estudos utilizaram apenas a entrevista, a fim de coletar a história de vida; 5 preencheram também a curva narrativa; 4 estudos pontuaram as escalas e 3 combinaram os três elementos do OPHI-II (entrevista, curva narrativa e escalas). Tais dados podem ser observados na Tabela 2, a qual também apresenta a finalidade da utilização do OPHI-II, que se mostrou relevante não só para analisar os constructos de suas 3 escalas (identidade, competência e ambiente), mas também outros importantes elementos constituintes do MOHO. De todos os 26 estudos, 16 combinaram outros instrumentos de coleta de dados, com destaque para o diário de campo, feito em 10 estudos como forma de complementar as informações coletadas com as entrevistas do OPHI-II.

Tabela 2
Uso e finalidade do OPHI-II com a utilização de outros instrumentos de avaliação.

Nota-se que o OPHI-II foi utilizado por estudos com populações variadas, tanto em diagnóstico quanto em idade.

Os objetivos se concentram na compreensão de conceitos do MOHO, como adaptação ocupacional, identidade e desempenho ocupacional, o uso do tempo e a experiência do cuidado. Observa-se que os autores optaram por utilizar o OPHI-II em conjunto com outros meios de avaliação, seguindo diferentes metodologias de coleta e análise de dados.

Discussão

Com base nos resultados, as principais finalidades de uso do OPHI-II puderam ser discutidas, levando-se em consideração indicadores bibliométricos das publicações elencadas para a revisão. Assim, os dados são discutidos a partir dos anos de publicação dos estudos, do uso ou não de versões validadas para a cultura na qual foi aplicado, bem como o local do desenvolvimento da pesquisa. Também é explorada a combinação de outros instrumentos de avaliação com o OPHI-II e a população estudada. Por fim, discutem-se as formas de aplicação do instrumento, que podem ou não incluir as escalas de medida e a curva narrativa.

A elaboração de instrumentos de avaliação, seja para pesquisa ou para a prática, pauta-se na importância do uso de medidas padronizadas, sem as quais a clareza da efetividade do processo terapêutico, ou da confiabilidade da pesquisa pode ficar comprometida (Coster & Mancini, 2015Coster, W. J., & Mancini, M. C. (2015). Recomendações para a tradução e adaptação. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(1), 50-57. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26i1p50-57.
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).

Com relação ao ano das publicações, embora a maioria destas tenha ocorrido após 2004, ano em que o instrumento foi publicado em versão impressa, as publicações com a utilização de sua segunda versão começaram em 2001, ano em que este instrumento foi validado por meio do estudo realizado por Kielhofner et al. (2001)Kielhofner, G., Mallinson, T., Forsyth, K., & Lai, J. S. (2001). Psychometric Properties of the Second Version of the Occupational Performance History Interview (OPHI-II). The American Journal of Occupational Therapy, 55(3), 260-267.. Esse dado é importante de ser destacado porque indica que o possível aumento na utilização desse instrumento em pesquisa está relacionado com a sua validação.

A realização de métricas por meio de testes de validação, tanto de novos instrumentos como daqueles que passaram por processo de adaptação transcultural, é essencial para que a qualidade e efetividade do uso da avaliação sejam mantidas em diferentes contextos e populações. Dos 26 artigos selecionados para a revisão, 3 utilizaram a versão adaptada para o hebraico (Ziv & Roitman, 2008Ziv, N., & Roitman, D. M. (2008). Addressing the needs of ederly clients whose lives have been compounded by traumatic histories. Occupational Therapy in Health Care, 22(2-3), 85-93. http://dx.doi.org/10.1080/07380570801989507.
http://dx.doi.org/10.1080/07380570801989...
; Bar et al., 2016Bar, M. A., Jarus, T., Wada, M., Rechtman, L., & Noy, E. (2016). Male-to-female transitions: Implications for occupational performance, health, and life satisfaction. Canadian Journal of Occupational Therapy, 83(2), 72-82. http://dx.doi.org/10.1177/0008417416635346.
http://dx.doi.org/10.1177/00084174166353...
; Levanon-Erez et al., 2017Levanon-Erez, N., Cohen, M., Bar-Ilan, R. T., & Maeir, A. (2017). Occupational identity of adolescents with ADHD: a mixed methods study. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 24(1), 32-40. http://dx.doi.org/10.1080/11038128.2016.1217927.
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), e um deles sua versão para o sueco (Sandell et al., 2013Sandell, C., Kjellberg, A., & Taylor, R. R. (2013). Participating in diagnostic experience: adults with neuropsychiatric disorders. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 20(2), 136-142. http://dx.doi.org/10.3109/11038128.2012.741621.
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), ambas já validadas e testadas para os parâmetros psicométricos em estudos prévios.

Cabe destacar que, embora o OPHI-II já tenha sido validado para o espanhol, nenhum dos estudos encontrados foi conduzido por pesquisadores latino-americanos. Ainda, no caso do Brasil, nenhum estudo foi encontrado. Essa ausência de estudos em nosso país se justifica pelo fato de que são poucos os terapeutas ocupacionais que baseiam a sua prática e pesquisa no MOHO.

Cruz (2018)Cruz, D. M. C. (2018). Os modelos de Terapia Ocupacional e as possibilidades para a prática e pesquisa no Brasil. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 2(3), 504-517. refere que as razões para este número reduzido, ou seja, para a pouca adesão tanto ao MOHO como de outros modelos, estariam relacionadas ao próprio desenvolvimento da terapia ocupacional no Brasil, a qual não foi acompanhada pela criação ou uso consensual de um modelo de prática em específico. No entanto, especificamente em relação à adesão ao MOHO, o autor sinaliza para o processo histórico de formação dos terapeutas ocupacionais no país, na ocasião em que MOHO foi publicado no Brasil, no início dos anos 90. Cabe destacar que, já na década de 70, em nosso país, os cursos de graduação em terapia ocupacional buscavam modificar a formação que vinha sendo baseada no modelo americano de reabilitação desde seu surgimento em nível técnico, em 1956.

A terapia ocupacional brasileira, do fim dos anos 80 e no transcorrer dos anos 90, também vivenciou movimentos sociais importantes, como a instauração da democracia, a criação do Sistema Único de Saúde, o Movimento Antimanicomial e as lutas pelos direitos das pessoas com deficiências (Oliver et al., 2018Oliver, F. C., Souto, A. C. F., & Nicolau, S. M. (2018). Terapia Ocupacional em 2019: 50 anos de regulamentação profissional no Brasil. Revisbrato, 2(2), 244-256. http://dx.doi.org/10.47222/2526-3544.rbto16523.
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). Como consequência, parte dos terapeutas ocupacionais envolvidos nestes movimentos sociais buscou a constituição de uma terapia ocupacional distanciada dos referenciais internacionais dos quais ela se originou (Cruz, 2018Cruz, D. M. C. (2018). Os modelos de Terapia Ocupacional e as possibilidades para a prática e pesquisa no Brasil. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 2(3), 504-517.).

Um movimento de polarização envolveu a profissão, sendo, de um lado, terapeutas ocupacionais que investiam nos modelos ou abordagens internacionais focados na ocupação e, de outro, aqueles que se propunham a pensar a terapia ocupacional a partir de referenciais da filosofia, educação, sociologia e antropologia, adotando o termo atividade, que evoluiu para atividade terapêutica e, posteriormente, atividade humana (Figueiredo et al., 2020Figueiredo, M. O., Gomes, L. D., Silva, C. R., & Martinez, C. M. (2020). A Ocupação e a atividade humana em Terapia Ocupacional: revisão de Escopo na literatura nacional. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 28(3), 967-982.; Cruz, 2018Cruz, D. M. C. (2018). Os modelos de Terapia Ocupacional e as possibilidades para a prática e pesquisa no Brasil. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 2(3), 504-517.; Galheigo et al., 2018Galheigo, S. M., Braga, C. P., Arthur, M. A., & Matsuo, C. M. (2018). Produção de conhecimento, perspectivas e referências teórico-práticas na terapia ocupacional brasileira: marcos e tendências em uma linha do tempo. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(4), 723-738. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1773.
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).

Desta forma, a carência de instrumentos validados para a cultura brasileira, como é o caso do OPHI-II, constituiria uma consequência resultante deste processo histórico da profissão no Brasil, no qual, segundo Galheigo et al. (2018)Galheigo, S. M., Braga, C. P., Arthur, M. A., & Matsuo, C. M. (2018). Produção de conhecimento, perspectivas e referências teórico-práticas na terapia ocupacional brasileira: marcos e tendências em uma linha do tempo. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(4), 723-738. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1773.
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, desde a criação dos primeiros cursos de terapia ocupacional no Brasil, em 1956, os referenciais têm sido incorporados e substituídos de acordo com os contextos e mudanças históricas, sociais e políticas do país. Em conjunto, o ensino, a pesquisa e a extensão, desenvolvidos nas universidades, têm colaborado no processo de inovação dos referenciais e fundamentos para a profissão.

Nesta direção, o processo de adaptação transcultural desse instrumento está em andamento em estudo conduzido no Programa de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o que, futuramente, propiciará o início de investigações que fomentarão o ensino e a formação de terapeutas ocupacionais no país. Tal projeto faz parte de uma iniciativa de um grupo de pesquisa intitulado “Estudos em terapia ocupacional e reabilitação física, tecnologia assistiva e funcionalidade”, o qual concentra uma linha de pesquisa com a aplicação de modelos e adaptação transcultural de instrumentos sobre ocupação (Mendes, 2020Mendes, P. V. B. (2020). Adaptação transcultural e propriedades psicométricas do “Occupational Self Assessment” para a língua portuguesa do Brasil (Tese de doutorado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.; Cruz et al., 2019Cruz, D. M. C., Parkinson, S., Rodrigues, D. S., Carrijo, D. C. M., Costa, J. D., Martins, E. F., & Pfeifer, L. I. (2019). Cross-cultural adaptation, face validity and reliability of the Model of Human Occupation Screening Tool to Brazilian Portuguese. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 27(4), 691-702. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoao2007.
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).

Portanto, a pouca adesão histórica do Brasil ao MOHO (Cruz, 2018Cruz, D. M. C. (2018). Os modelos de Terapia Ocupacional e as possibilidades para a prática e pesquisa no Brasil. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 2(3), 504-517.) fez com que muitos profissionais brasileiros desconhecessem as possibilidades de uso efetivo no processo terapêutico da teoria e de instrumentos baseados no MOHO. Essa realidade é diferente daquela que vem sendo praticada em muitos países, onde o MOHO tem sido amplamente estudado, divulgado e aplicado, como pôde ser visto nos estudos encontrados, os quais foram realizados em diferentes localidades, como Austrália, Irlanda, Estados Unidos, Israel, Holanda, Suécia e Islândia.

A utilização de instrumentos padronizados para avaliação em terapia ocupacional deve considerar as queixas trazidas pelo cliente e sua condição clínica, sem deixar de relacionar com o desempenho ocupacional do sujeito (Almeida et al., 2015Almeida, P. H. T. Q., Pontes, T. B., Matheus, J. P. C., Muniz, L. F., & Mota, L. M. H. (2015). Terapia ocupacional na artrite reumatoide: o que o reumatologista precisa saber? Revista Brasileira de Reumatologia, 55(3), 272-280.). Vários são os aspectos do domínio da terapia ocupacional que podem sofrer impactos decorrentes de alguma lesão, dentre eles, aqueles apontados pela AOTA como as áreas de ocupação, os padrões de desempenho, contextos, fatores do cliente, entre outros (Cavalcanti et al., 2015Cavalcanti, A., Dutra, F. C. M. S., & Elui, V. M. C. (2015). Estrutura da prática da Terapia Ocupacional: domínio & processo - 3ª ed. traduzida. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 26(esp), 1-49. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v26iespp1-49
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; Carleto et al., 2010Carleto, D. G. S., Souza, A. C., Silva, M., Cruz, D. M. C., & Andrade, V. S. (2010). Estrutura da prática da Terapia Ocupacional: domínio e processo 2ª edição. Revista Triangulo: Ensino, Pesquisa e Extensão, 3(2), 57-147.). Essa abrangência requer a necessidade de avaliações que contemplem os constructos que são consonantes com os domínios da terapia ocupacional e para a condução do seu processo. Isso repercute em uma variedade de possibilidades de uso de instrumentos de avaliação a serem utilizados no processo terapêutico ocupacional (Figueiredo et al., 2017Figueiredo, L. R. U., Lima, F. F., Mendes, R. S., Marques, N. C. F., Matteuci, M., Almada, H. S., & Novelli, M. M. P. C. (2017). Adaptação transcultural para a língua portuguesa da Avaliação Cognitiva Dinâmica de Terapia Ocupacional para Crianças (DOTCA-Ch). Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 25(2), 287-296. http://dx.doi.org/10.4322/0104-4931.ctoAO0827.
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; Silva & Martinez, 2002Silva, D. B. R., & Martinez, C. M. S. (2002). Modelos de avaliação em terapia ocupacional: estudos dos hábitos funcionais e de auto-suficiência em crianças. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 10(2), 77-93.).

Por vezes, o uso de mais de um instrumento de modo concomitante é necessário para ampliar a quantidade de dados coletados, seja para o aprofundamento da pesquisa ou para o planejamento terapêutico, de modo a fornecer informações necessárias para que o cliente possa identificar melhor os seus problemas e pensar nas metas que ele deseja alcançar a partir da intervenção. Esse uso, combinado de um instrumento com outras medidas, pôde ser notado em mais da metade das pesquisas que compõem essa revisão, por exemplo, outros instrumentos padronizados, diários de campo ou questionários elaborados pelos próprios autores.

Considera-se que a variedade de instrumentos de avaliação e de investigação em terapia ocupacional é necessária e de grande contribuição diante da complexidade da ocupação humana enquanto objeto de estudo e intervenção da profissão. Esse uso combinado se justifica, em parte, pela complexidade da ocupação e de seus conceitos relacionados, como o uso de diferentes teorias e os processos volitivos relacionados ao fazer, como a exploração, a competência e a realização, por exemplo, conceitos da teoria do comportamento ocupacional que influenciaram o MOHO (Reilly, 1974Reilly, M. (1974). Play as exploratory learning. California: Sage Publications.).

Constatou-se que a população estudada a partir de dados coletados pelo OPHI-II e analisados com base na teoria do MOHO foi abrangente. Esse achado condiz com o pressuposto inicial da elaboração do instrumento, o qual foi pensado para ser utilizado pelos terapeutas ocupacionais independentemente de sua área de atuação (Hemmingsson et al., 2017Hemmingsson, H., Forsyth, K., Haglung, L., Keponen, R., Ekblahd, E., & Kielhofner, G. (2017). Talking with clients: Assessments that collect informations through interviews. In R. R. Taylor (Ed.), Kielhofner’s Model of Human Occupation: theory and application (pp. 188-211). Philadelphia: Wolters Kluwer.). Uma vez que o OPHI-II visa a conhecer melhor o cliente em relação ao seu histórico de desempenho ocupacional, esse instrumento reflete fundamentos conceituais essenciais da terapia ocupacional e da prática centrada no cliente, com seu foco em uma relação terapêutica apoiada no vínculo com ele e baseada na ocupação e não na doença ou deficiência em si (Kielhofner et al., 2004Kielhofner, G., Mallinson, T., Crawford, C., Nowak, M., Rigby, M., Henry, A., & Walwns, D. (2004). Occupational Performance History Interview – Second Version (OPHI-II). Assessment Manual. Chicago: The University of Illinois at Chicago.).

Logo, fica evidente que a utilização do OPHI-II não somente é eficaz para favorecer o processo de vinculação entre terapeuta e cliente a partir do conhecimento de sua história, o que também é observado em dois estudos da presente revisão (Apte et al., 2005Apte, A., Kielhofner, G., Paul-Ward, A., & Braveman, B. (2005). Therapist’s and client’s perceptions of the occupational performance history interview. Occupational Therapy in Health Care, 19(1), 173-192. http://dx.doi.org/10.1080/J003v19n01_13.
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; Ennals & Fossey, 2007Ennals, P., & Fossey, E. (2007). The occupational performance history interview in community mental health case management: consumer and occupational therapist perspectives. Australian Occupational Therapy Journal, 54(1), 11-21. http://dx.doi.org/10.1111/j.1440-1630.2006.00593.x.
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), mas para o planejamento de uma terapêutica significativa e congruente com o modelo no qual é baseado (Gray & Fossey, 2003Gray, M. L., & Fossey, E. (2003). Illness experiences and occupations of people with chronic fatigue syndrome. Australian Occupational Therapy Journal, 50(3), 127-136. http://dx.doi.org/10.1046/j.1440-1630.2003.00336.x.
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; Farnworth et al., 2004Farnworth, L., Nikitin, L., & Fossey, E. (2004). Being in a secure forensic psychiatric unit: everyday is the same, killing time or make the most of it. British Journal of Occupational Therapy, 67(10), 430-438.; Ennals & Fossey, 2007Ennals, P., & Fossey, E. (2007). The occupational performance history interview in community mental health case management: consumer and occupational therapist perspectives. Australian Occupational Therapy Journal, 54(1), 11-21. http://dx.doi.org/10.1111/j.1440-1630.2006.00593.x.
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; Ziv & Roitman, 2008Ziv, N., & Roitman, D. M. (2008). Addressing the needs of ederly clients whose lives have been compounded by traumatic histories. Occupational Therapy in Health Care, 22(2-3), 85-93. http://dx.doi.org/10.1080/07380570801989507.
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) . O uso de um modelo conceitual da prática, ou, em outras palavras, “teórico-prático”, para embasar tanto a intervenção como a pesquisa em terapia ocupacional, fornece meios claros e objetivos, bem como fortalece a filosofia da profissão, uma vez que organiza todo o raciocínio profissional a partir de suas crenças de valores; focados na ocupação (Kielhofner, 2009Kielhofner, G. (2009). Conceptual foundations of occupational therapy. Philadelphia: FA Davies Company.; Forsyth & Kielhofner, 2013Forsyth, K., & Kielhofner, G. (2013). The Model of Human Occupation: embracing the complexity of occupation by integrating theory into practice and practice into theory. In E. A. S. Duncan (Ed.), Foundations for practice in Occupational Therapy (pp. 51-80). London: Churchill Livingstone.; Andersen & Reed, 2017Andersen, L. T., & Reed, K. L. (2017). The history of occupational therapy: the first century. New York: Slack Incorporated.; Cruz, 2020).

Uma vez que o OPHI-II é constituído de entrevista semiestruturada que atua como base para o preenchimento da curva narrativa e das escalas avaliativas, este fornece dados qualitativos e quantitativos. Os meios de utilização variam e podem ou não incluir o preenchimento das escalas quantitativas e da curva narrativa. Essa flexibilidade possibilita pesquisas com métodos de análise qualitativos, quantitativos ou mistos, o que pôde ser observado pelos resultados desta revisão. Como o preenchimento das escalas necessariamente é precedido pela narrativa da história de vida, e esta pode ser direcionada para diferentes temas de investigação ou focar determinados eventos críticos vivenciados, explica-se o fato de as escolhas metodológicas dos artigos da revisão serem majoritariamente qualitativas (uma característica dos estudos desse modelo), sendo que, dos 26 estudos, apenas 5 eram quantitativos, dois dos quais se referem às validações métricas do instrumento (Kielhofner et al., 2001Kielhofner, G., Mallinson, T., Forsyth, K., & Lai, J. S. (2001). Psychometric Properties of the Second Version of the Occupational Performance History Interview (OPHI-II). The American Journal of Occupational Therapy, 55(3), 260-267., 2005Kielhofner, G., Dobria, L., Forsyth, K., & Basu, S. (2005). The construction of key-forms for obtaining instantaneous measures from the occupational performance history rating scales. Occupational Therapy Journal of Research: Occupational. Participation and Health, 25(1), 23-31.).

Essas informações fornecem dados sobre uso do OPHI-II, evidenciando a abrangência populacional, a importância do MOHO e de suas avaliações no cenário mundial da terapia ocupacional, a possibilidade de aplicação em associação com outras avaliações pertinentes a cada caso de pesquisa ou de terapêutica, e a viabilidade de ser aplicado em diferentes formatos, escolhendo não só o modo de administração do instrumento, mas também sobre a utilização ou não de escalas quantitativas para análise.

Desse modo, percebe-se uma flexibilidade prática do OPHI-II, o qual se mostra potente para conhecer a pessoa, o cliente da terapia, na criação e no fortalecimento do vínculo terapêutico. Além disso, o OPHI-II proporciona um planejamento terapêutico pautado nas experiências individuais significativas de modo objetivo e consistente.

A importância de sua aplicação também se evidencia para a pesquisa, uma vez que tem a capacidade de coletar dados robustos que podem ser estudados à luz da análise temática de conteúdo, além dos resultados quantitativos utilizados tanto de modo comparativo quanto para analisar os resultados de uma forma mais objetiva dentro dos serviços que o terapeuta ocupacional pode atuar.

Finalmente, cabe enfatizar que, por meio do uso do OPHI-II, são possíveis de serem analisados muitos constructos e conceitos relacionados aos fundamentos da terapia ocupacional focados na ocupação e centrados no cliente. Segundo Forsyth & Kielhofner (2013)Forsyth, K., & Kielhofner, G. (2013). The Model of Human Occupation: embracing the complexity of occupation by integrating theory into practice and practice into theory. In E. A. S. Duncan (Ed.), Foundations for practice in Occupational Therapy (pp. 51-80). London: Churchill Livingstone., a teoria do MOHO por si própria incorpora cada cliente individualmente e uma narrativa cultural destes a partir de seus conceitos.

O OPHI-II é um exemplo disso, pois considera culturalmente os valores, interesses e papéis do cliente a partir de uma narrativa etnográfica pela ênfase no método da entrevista. Essa avaliação também é útil para conhecer os pensamentos, sentimentos e ações do cliente que são influenciados culturalmente (Forsyth & Kielhofner, 2013Forsyth, K., & Kielhofner, G. (2013). The Model of Human Occupation: embracing the complexity of occupation by integrating theory into practice and practice into theory. In E. A. S. Duncan (Ed.), Foundations for practice in Occupational Therapy (pp. 51-80). London: Churchill Livingstone.). Conceitos como forma ocupacional podem ser úteis na identificação sobre como diferentes culturas definem como as ocupações diárias devem ser feitas, logo, conhecer essas formas ocupacionais com base na narrativa do cliente ajuda o terapeuta ocupacional a ser sensível às diferenças culturais que influenciam no modo do cliente para fazer coisas que lhes são significativas (Forsyth & Kielhofner, 2013Forsyth, K., & Kielhofner, G. (2013). The Model of Human Occupation: embracing the complexity of occupation by integrating theory into practice and practice into theory. In E. A. S. Duncan (Ed.), Foundations for practice in Occupational Therapy (pp. 51-80). London: Churchill Livingstone.).

Compreendendo que a presente revisão pudesse apresentar limitações metodológicas relacionadas aos idiomas considerados e à impossibilidade de incluir todas as bases de dados e periódicos existentes, os autores procuraram ampliar as buscas por meio do uso de diferentes fontes de informação, minimizando o risco de perda de material textual que pudesse ser pertinente às análises do uso do OPHI-II.

Como observado pelos resultados e discussões apresentadas, o OPHI-II pode ser aplicado com diferentes clientes, e o seu uso pode ser combinado com outros instrumentos de avaliação, pertinentes a cada contexto de prática e de pesquisa. Nota-se ainda que, por ser constituído por 3 partes distintas, a forma de aplicação também é flexível, confirmando a forte característica do modelo no qual o instrumento é baseado, o qual se preocupa com uma prática que tenha processos avaliativos e intervenções planejadas individualmente para cada pessoa, grupos e coletivos. Assim, fica evidente que o OPHI-II é um potente instrumento para a pesquisa e prática em terapia ocupacional, valorizando a pessoa por meio da prática centrada no cliente, focada na ocupação e baseada em evidência.

Conclusão

Este trabalho trouxe uma revisão de escopo de estudos que fizeram o uso do instrumento OPHI-II, o qual contribuiu para a construção e ampliação da produção de conhecimento em terapia ocupacional no que se refere à utilização de tal instrumento. Nota-se a existência de uma tendência mundial, em que a profissão tem buscado embasamento teórico-prático no MOHO. No entanto, o Brasil ainda se encontra em um processo anterior, iniciando as pesquisas com o modelo, com a adaptação de seus instrumentos.

Alguns estudos foram excluídos da revisão por não terem utilizado o OPHI-II em seu formato original, mas sim como meio de embasar uma nova avaliação. Contudo, essa limitação não influencia nos resultados da revisão, uma vez que esta teve como o objetivo descrever características dos estudos que empregaram o instrumento em sua segunda versão – a mais atual no momento.

Pode-se perceber que o uso do instrumento pelas equipes de pesquisa em terapia ocupacional se pauta nos constructos do MOHO, com o foco no cliente e na ocupação. O uso do instrumento em intervenções, com o objetivo de uma avaliação inicial para o planejamento terapêutico, também pôde ser observado, uma vez que foram encontrados artigos que relataram a percepção da eficácia do instrumento para o processo terapêutico ocupacional.

Conclui-se que o presente estudo propiciou o conhecimento sobre o uso do OPHI-II, por meio da exploração de suas possibilidades e potências tanto para a prática de intervenção como para a pesquisa acadêmica. Espera-se que a disponibilização do OPHI-II para o Brasil possa abrir mais os horizontes para diálogos internacionais sobre o constructo do desempenho ocupacional e a produção de conhecimento local que converse sobre o assunto.

  • Como citar: Gorla, J. A., Martinez, C. M. S., Figueiredo, M. O., & Cruz, D. M. C. (2021). Revisão de escopo sobre o instrumento “Occupational Performance History Interview – II”: perspectivas para o seu uso no Brasil. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2807. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAR2123
  • Fonte de Financiamento

    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – Código 001.

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Editado por

Editora de seção

Profa. Dra. Tatiana Pontes

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    08 Jul 2020
  • Revisado
    08 Out 2020
  • Aceito
    15 Fev 2021
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