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WhatsApp como território e ferramenta de intervenção em terapia ocupacional social

Resumo

Com o recente aumento da migração na França, pessoas em situação de vulnerabilidade social encontram-se frequentemente isoladas e com uma frágil ou inexistente rede social de suporte, notadamente, por causa dos processos administrativos de pedido de refúgio, das condições de acolhimento e da falta de informação e oportunidade de frequentar lugares públicos. O programa PRACTS intervém junto a essa população a fim de construir redes sociais de suporte e buscar meios para sua participação social. Assim, para manter contato com as pessoas, bem como para informá-las sobre as atividades planejadas, criou-se um grupo no aplicativo de mensagem instantânea WhatsApp. A partir dessa experiência, formulou-se a hipótese de que esse dispositivo favorece a emergência de uma dinâmica que vai além do simples compartilhamento de informação. Busca-se compreender se e como esse aplicativo constitui um novo território e se pode ser usado como ferramenta de intervenção em terapia ocupacional social. Para tanto, analisou-se uma amostra de conversas e fotos extraídas desse grupo. A análise mostra seis tipos de mensagens, com informações que sugerem que o grupo se tornou um território compartilhado por profissionais e usuários e que pode ser usado como ferramenta de intervenção para fortalecer o sentimento de pertencimento a um coletivo e favorecer a participação social, tanto no espaço virtual como no espaço real. Apontam-se alguns limites desse dispositivo e o interesse em uma reflexão constante a fim de garantir as necessárias adaptações práticas e éticas das profissionais às novas realidades e necessidades dos usuários.

Palavras-chave:
Migração Humana; Rede Social; Participação Social; Território Sociocultural

Abstract

With the recent increase in migration in France, people in situation of social vulnerability are often isolated and with nearly or no social support networks, notably due to the asylum application administrative procedures, reception conditions, and lack of information and opportunity to access public places. The PRACTS program intervenes in this situation aiming to respond to the need of building social support networks and promote social participation for this population. Thus, a WhatsApp group was created to establish contact with people and inform them about the planned activities. From this experience, a hypothesis was formulated: this device favors the emergence of a dynamic that goes beyond the simple sharing of information. The aim is to understand whether and how this platform constitutes a new territory and can be used as an intervention tool in social occupational therapy. To this end, a sample of conversations and photos extracted from this WhatsApp group was analyzed. The analysis shows six types of messages, in addition to information, which suggest that the group has become a territory shared by professionals and users and can be used as an intervention tool to strengthen the feeling of belonging to a group and promote social participation, both in virtual and real spaces. Some limitations to this device are observed, as well as the interest in constant reflection to ensure the necessary practical and ethical adaptations of the professionals to the new realities and needs of their users.

Keywords:
Human Migration; Social Networking; Social Participation; Sociocultural Territory

Introdução

O tema da migração, na Europa em geral e na França em particular, tornou-se uma questão social que ocupa frequentemente o debate público e a agenda política1 1 Vê-se frequentemente na televisão cenas de militantes salvando pessoas tentando atravessar o Mar Mediterrâneo em botes de borracha ou o desmantelamento pela polícia de acampamentos de migrantes às portas de Paris. A situação de barcos com migrantes não aceitos em nenhum porto reaparece regularmente. Novas leis aparecem regularmente e a campanha presidencial francesa de 2022 foi muito ocupada por esse assunto. . Os relatórios anuais do Escritório Francês para a Proteção de Refugiados e Apátridas (OFPRA; acrônimo em francês para Office Français de Protection des Réfugiés et Apatrides) mostram um aumento do número de pedidos de proteção internacional: até 2013, os números variaram anualmente entre 20 e 60 mil solicitações, mas a partir de 2013, o número de solicitações passou de 66 mil para 86 mil em 2015, e para 133 mil em 2019. A esses números se adicionam todas as outras modalidades de permanência legal longa no território, como a união de famílias, a estadia para tratamento de saúde não disponível no país de origem, para estudo ou para trabalho.

No entanto, os “migrantes”2 2 Para fins de maior legibilidade do texto, será usado o masculino para se referir a migrantes, usuários, participantes, considerando que a grande maioria é do sexo masculino; pela mesma razão, será usado o feminino para terapeuta ocupacional e outras profissionais. só têm em comum o fato de terem saído do país de origem para se instalarem em um outro3 3 Define-se habitualmente como migrantes as pessoas que saíram de seus países para viverem em outro país, independente da razão da migração. A distinção habitual em termos de refugiados (migração forçada) ou migrante (migração escolhida) é controversa (Organização Internacional para as Migrações, 2019, p. 77, como citado em Doirre, 2023) e não será utilizada aqui por duas razões principais. O termo refugiado pode designar a pessoa que foi obrigada a fugir do seu país, mesmo se ela não obtenha o estatuto legal de refugiado. Reservamos aqui o termo refugiado às pessoas que obtiveram uma resposta positiva à solicitação de refúgio. A segunda razão é a complexidade das situações que fazem as pessoas partirem de seus países e que colocam sua vida em perigo, o que torna difícil definir até que ponto a migração foi escolhida ou forçada. . Exceção feita a esse ponto, todas as suas características são muito heterogêneas, qualquer que seja o critério analisado, como, por exemplo, motivo da migração (guerra, identidade sexual ou de gênero, falta de emprego, estudo e família); modo de transporte para a viagem (desde viagem de avião direto do país de origem com a família até atravessar o deserto à pé ou o Mar Mediterrâneo em um bote sem nenhum conhecido); modo de moradia ao chegar (ser alojado por familiares, em um abrigo do governo ou na rua). Vários autores enfatizam a diversidade de situações, notadamente em termos de violências vividas no país de origem, aquelas ocorridas durante o trajeto para chegar à França e mesmo aquelas ligadas às condições de acolhimento na França (Baubet et al., 2004Baubet, T., Abbal, T., Claudet, J., Le Duc, C., Heindenreich, F., Levy, K., Mehallel, S., Rezzoung, D., Sturm, G., & Moro, M. R. (2004). Traumas psychiques chez les demandeurs d’asile en France: des spécificités cliniques et thérapeutiques. Journal International de Victimologie, 2(2). Retrieved in 2023, February 6, from https://www.researchgate.net/publication/323654321
https://www.researchgate.net/publication...
; D’Halluin, 2009D’Halluin, E. (2009). La santé mentale des demandeurs d’asile. Hommes & Migrations, 1282(6), 66.; Jan, 2013Jan, O. (2013). Bienvenus en France: La précarité des demandeurs d'asile en France vue depuis la fenêtre d'un psychologue en Équipe mobile psychiatrie précarité. VST - Vie sociale et traitements, 120(4), 72-75. ; Chambon & Le Goff, 2016Chambon, N., & Le Goff, G. (2016). Enjeux et controverses de la prise en charge des migrants précaires en psychiatrie. Revue Française des Affaires Sociales, (2), 123-140.). Abordamos aqui a situação de pessoas que Chambon & Le Goff (2016)Chambon, N., & Le Goff, G. (2016). Enjeux et controverses de la prise en charge des migrants précaires en psychiatrie. Revue Française des Affaires Sociales, (2), 123-140. nomeiam “migrante precário”, caracterizadas por três critérios fundamentais: ter migrado recentemente, ter problemas administrativos para legalizar sua presença no território e estar em situação de grande precariedade em geral.

O percurso migratório cria uma vulnerabilidade social por vários aspectos, dentre os quais o fato de as pessoas viverem essa situação de maneira muito individual e individualizante. Durante o percurso para chegar à França, e dadas as condições de acolhimento nesse país, as pessoas mudam de lugar e modo de vida individualmente e muito frequentemente. São assim constantemente separadas das pessoas com quem tenham eventualmente estabelecido uma relação. Uma das grandes dificuldades cotidianas das pessoas que participam do programa em questão é o fato de não conhecerem ninguém, tampouco o local onde estão, e de estarem limitadas em seu ir e vir, mesmo para aqueles que falam francês ou inglês. Assim, muitos deles descrevem passar muito tempo no quarto (quando abrigados) assistindo vídeos no telefone celular. Além disso, uma vez o pedido de refúgio enviado às autoridades, as pessoas têm pouco controle sobre aspectos importantes de suas vidas: onde vão morar, com quem, que dia podem ou não fazer atividades, pois as datas das convocações para entrevistas e outras obrigações administrativas podem ser estabelecidas a qualquer momento e não podem ser mudadas. O cotidiano pode assim ser bastante vazio de atividades significativas e de relações, os espaços de circulação muito limitados e o poder sobre as decisões relativas à sua própria vida muito reduzidas.

Essas situações singulares, que podem ser compreendidas no nível microssocial, refletem a situação de vulnerabilidade social (Castel, 1995Castel, R. (1995). Les Métamorphoses de la question sociale. Une chronique du salariat. Paris: Fayard.) vivenciada por essas pessoas, pois encontram-se sem pertencimento econômico e tampouco têm alguma rede social de suporte, em uma composição de fatores que levam à dificuldade de acesso à informação, à moradia, ao trabalho, à educação, à cultura, à saúde, a espaços e serviços públicos, resultando em pouco controle sobre seu cotidiano.

É nessa dialética entre desafios micro e macrossociais que foi criado o programa Prevenção e Promoção da Saúde por meio de Atividades Coletivas nos Territórios (PRACTS, acrônimo em francês para PRévention et promotion de la santé par des Activités Collectivisantes sur les TerritoireS)4 4 Nota-se a contradição do nome PRACTS : um programa norteado pelos referenciais teórico-metodológicos da Terapia Ocupacional Social (por exemplo em seus objetivos, métodos, definição da população pela questão da vulnerabilidade social e não por problemas de saúde), mas que é financiado pela Agência Regional de Saúde (equivalente da secretaria estadual de saúde) e que pertence administrativamente a um hospital psiquiátrico. Destaca-se, contudo, que a fonte de financiamento do programa não reflete seus princípios e objetivos. , tendo como fundamento de ação a terapia ocupacional social (Barros et al., 2002Barros, D. D., Ghirardi, M. I. G., & Lopes, R. E. (2002). Terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(3), 95-103.; Barros et al., 2005Barros, D. D., Ghirardi, M. I. G., & Lopes, R. E. (2005). Social occupational therapy: A socio-historical perspective. In F. Kronenberg, S. S. Algado, & N. Pollard (Eds.), Occupational therapy without borders: learning from the spirit of survivors (pp. 140-151). London: Elsevier Science; Churchill Livingstone.; Lopes & Malfitano, 2021Lopes, R. E., & Malfitano, A. P. S. (2021). Social occupational therapy: theoretical and practical designs. Philadelphia: Elsevier.).

O Programa PRACTS

O programa PRACTS foi criado em 2019 tendo como território de intervenção o departamento da Seine-Saint-Denis5 5 A França possui quatro esferas administrativas: nacional, regional, departamental e municipal. , França, que comporta 40 cidades num total de 1.500.000 habitantes. Os relatórios anuais do OFPRA mostram que esse departamento, contíguo à Paris, é um dos que acolhe o maior número de pessoas solicitando refúgio há mais de dez anos. Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos (INSEE, acrônimo em francês para Institut National de la Statistique et des Études Économiques), esse departamento se configurou como o segundo mais pobre da França em 2021.

Inicialmente, o programa contava com apenas duas terapeutas ocupacionais6 6 Segundo a ANFE - Association Nationale Française d'Ergothérapie (2021), no dia 1 de janeiro de 2021, havia 14.548 terapeutas ocupacionais em exercício na França, sendo 87% mulheres. A profissão foi criada oficialmente em 1974. Atualmente, existem 28 institutos de formação públicos ou privados no país. A disciplina de terapia ocupacional social não existe oficialmente no curriculum, mas desde 2021, as terapeutas ocupacionais do programa PRACTS começaram a ministrar aulas de terapia ocupacional social em cinco institutos (carga horária variando entre 4 e 15 horas). Em outubro de 2020, a revista Ergothérapies, periódico local da área de terapia ocupacional, publicou um número especial com o título: Terapia ocupacional social e comunitária. Em 2022 a Union Nationale des Associations d’Etudiants en Ergothérapie (UNAEE) escolheu o tema da terapia ocupacional social para seu encontro anual. Com organização do Programa PRACTS e apoio da ANFE, o Primeiro Encontro Internacional de Terapia Ocupacional Social na França: princípios, práticas, ensino e pesquisa (Première rencontre internationale de l'Ergothérapie Sociale en France: principes, pratiques, enseignement et recherche) foi realizado em 25 e 27 de agosto de 2022. Tais fatos demonstram o recente crescimento das discussões sobre terapia ocupacional social no território francês. trabalhando um dia por semana cada uma. Em 2021, a equipe passou a contar com três terapeutas ocupacionais trabalhando meio período e, a partir de 2022, passou a ser composta por sete terapeutas ocupacionais (quatro em meio período) além da coordenadora. A equipe trabalha de segunda à sexta-feira e, pontualmente, no período da noite ou aos fins de semana, em função das atividades propostas aos usuários.

Conforme previamente descrito, os usuários do programa PRACTS são pessoas em situação de vulnerabilidade social, sobretudo em razão da migração recente. São majoritariamente homens jovens vivendo em abrigos e sem família na França, em processo de solicitação de refúgio7 7 Em 2022, foram 278 usuários, sendo 56 mulheres. Muitos são vistos somente algumas poucas vezes, outros participam semanalmente das atividades propostas. A idade média é de 30 anos (mediana de 32). , mas encontramos também mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos, vivendo em abrigos ou na rua, sozinhos ou em família, em processo de solicitação de refúgio, refugiados estatutários ou em situação irregular. As pessoas vêm de mais de 32 países diferentes, principalmente do Afeganistão (97 pessoas), Bangladesh (17 pessoas) e Costa do Marfim (16 pessoas). A comunicação se faz em francês ou inglês, mas os usuários ajudam traduzindo também em dari, pashto, árabe, turco e outros, segundo as necessidades e possibilidades. Quando necessário para conversas de conteúdo particular, o Programa dispõe de financiamento específico que permite solicitar um intérprete profissional.

A equipe funciona em duas modalidades: a primeira, chamada “permanências”, conta com duas terapeutas ocupacionais uma tarde por semana em determinadas estruturas, como abrigos (dois abrigos para 180 pessoas ditas isoladas, um abrigo para 50 famílias), ou uma associação que propõe oficinas de música para os habitantes da cidade e cidades vizinhas, além de momentos festivos e shows de músicas do mundo. A equipe intervém igualmente num dispositivo chamado “casa de bairro” (maison de quartier), que propõe oficinas diversas aos moradores e em associação com um centro municipal de saúde. Um último tipo de dispositivo, chamado “acolhimento durante o dia” (accueil de jour), recebe principalmente pessoas sem domicílio, migrantes ou não, oferecendo café, local para tomar banho, máquinas de lavar roupa, acesso a computadores, etc. Essas permanências e atividades permitem o contato com os usuários, individualmente ou em grupo, bem como com os profissionais das estruturas que os acompanham e com os quais se trabalha em estreita articulação.

A segunda modalidade são as atividades organizadas no território. Assim, coloca-se os usuários em contato com as estruturas e atividades já existentes no território. São atividades de circulação pela cidade, visitas a monumentos e exposições, espetáculos de dança, teatro ou música, cinema, oficinas de teatro, piqueniques e refeições compartilhadas, assim como atividades esportivas ou ainda de preparação de aulas para estudantes de terapia ocupacional ou congressos e participação nesses eventos.

Essas modalidades de intervenção permitem construir uma relação entre profissionais de equipes diferentes e dos usuários com os profissionais, com as atividades e com lugares, com outros usuários e com o coletivo. Essas relações proporcionam novas experiências de vida aos usuários, favorecem a constituição de uma rede social de suporte e de um coletivo, assim como o sentimento de pertencimento a esse coletivo e a apropriação de um território mais extenso.

O objetivo do trabalho fundamenta-se na terapia ocupacional social (Barros et al., 2002Barros, D. D., Ghirardi, M. I. G., & Lopes, R. E. (2002). Terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(3), 95-103.; Lopes & Malfitano, 2021Lopes, R. E., & Malfitano, A. P. S. (2021). Social occupational therapy: theoretical and practical designs. Philadelphia: Elsevier.) na compreensão de que aborda um fenômeno econômico e macrossocial, a migração, por meio de ações microssociais como a construção da convivência e de redes de suporte, para que possibilite “a perspectiva coletiva de apreensão da realidade dos grupos populacionais e a conexão entre o micro e macrossocial (...) [com] ênfase no cotidiano e na promoção dos espaços de convivência” (Malfitano, 2016, pMalfitano, A. P. S. (2016). Contexto social e atuação social: generalizações e especificidades na terapia ocupacional. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Eds.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 117-134). São Carlos: EdUFSCar.. 125).

No bojo dessas atividades, a fim de facilitar a comunicação com os usuários, foi criado um grupo de WhatsApp que rapidamente foi usado para outras funções além da transmissão de informações. O WhatsApp é a terceira rede social mais utilizada no mundo8 8 Statista (2023). , uma das mais utilizadas na França, e é bem conhecida desse público especificamente. Diversos artigos mostram, sem analisar esse procedimento, o uso corriqueiro de WhatsApp por pessoas em situação de migração recente, para manter contato com a família e amigos que ficaram no país de origem (Appelt, 2021Appelt, N. (2021). La réappropriation du récit du conflit dans la distance. Documentaires syriens tournés en exil. Hommes & Migrations, 1335, 71-79.; Piccoli et al., 2019Piccoli, V., Claudia Ticca, A., & Traverso, V. (2019). « Go Internet it’s here »: démarches administratives de personnes précaires ou en demande d’asile. Langage & Société, 167(2), 81-110.; Reveyrand-Coulon & Daure, 2020Reveyrand-Coulon, O., & Daure, I. (2020). Héritage familial empêché: la langue comme analyseur. Le Divan Familial, 44(1), 77-90.), como jornal de bordo da viagem, como método de coleta de dados para pesquisa (Marmié, 2022Marmié, C. (2022). Les oisillons de passage. Revue Projet, 387(2), 9-13.), como modalidade de circulação da informação entre os membros de uma diáspora (Poudiougou, 2018Poudiougou, I. (2018). Construire la mémoire légale du migrant pour la demande de statut de réfugié à Turin: réflexions sur l’approche de la clinique légale et la collaboration entre anthropologues et juristes. Sciences & Actions Sociales, (9), 56-81. ; Steinhilper, 2019Steinhilper, E. (2019). Dynamiques de protestation politique des exilés afghans à Berlin: entre « silence » et « prise de parole ». Critique Internationale, 84(3), 63-80. ) ou até para participação em rituais funerários à distância (Kobelinsky & Le Courant, 2020Kobelinsky, C., & Le Courant, S. (2020). Pratiques cérémonielles pour les morts en migration. Mémoires, 78(2), 12-14.).

O uso de redes sociais foi pouco estudado em terapia ocupacional. Essa situação tem se modificado desde a pandemia de COVID-19, com incremento do uso de ferramentas digitais por diversos profissionais, incluindo terapeutas ocupacionais. Barreiro (2019)Barreiro, R. G. (2019). Entre redes: juventudes, ambientes virtuais e vidas entretidas (Tese de doutorado). Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. aborda o espaço virtual como sendo um vetor importante de informações para os jovens e analisa o impacto dos influenciadores digitais nos valores e modos de vida de jovens que os “seguem” através das redes sociais. Silva et al. (2015)Silva, C. R., Cardinalli, I., & Lopes, R. E. (2015). A utilização do blog e de recursos midiáticos na ampliação das formas de comunicação e participação social/Using the blog and media resources for the expansion of forms of communication and social engagement. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 23(1), 131-142. discutem o uso de um blog no desenvolvimento da participação social de jovens em situação de vulnerabilidade social. Pan et al. (2021)Pan, L. C, Oliveira, M. L., Silva, M. J., Malfitano, A. P. S. & Lopes, R. E. (2021). Proteção social e experiências terapêutico-ocupacionais: a vida na pandemia de Covid-19. Interface: a Journal for and About Social Movements, 25(Suppl.1), 1-17. descrevem experiências de realização de oficinas por WhatsApp, no contexto pandêmico, defendendo a proteção social como categoria a ser priorizada. A intenção deste artigo é apresentar a experiência do grupo de WhatsApp “The Residents” como ferramenta de ação em terapia ocupacional social.

The Residents: Um Grupo de WhatsApp

No início do programa PRACTS as terapeutas ocupacionais não usavam o telefone para se comunicar com os usuários. Foi em março de 2020, durante o primeiro confinamento em razão da pandemia de COVID-19, que o telefone começou a ser utilizado para a comunicação com as pessoas, que estavam todas confinadas em seus quartos. A terapeuta ocupacional telefonava ou enviava mensagens aos usuários que tinham pedido ou aceito essa proposta. Para alguns deles, esse era o único contato humano na semana. Atividades à distância foram propostas, através da escrita, do desenho, de áudios (Marques & Morestin, 2020Marques, A., & Morestin, F. (2020). La santé mentale des demandeurs d’asile confinés et le programme FASDA. Les Cahiers de L’espace Éthique, (Hors Série), 42-43. Retrieved in 2023, February 6, from https://www.espace-ethique.org/sites/default/files/hors-serie_ee_covid19.pdf
https://www.espace-ethique.org/sites/def...
).

Em outubro de 2020, uma de nossas instituições parceiras criou o grupo de WhatsApp The Residents para transmitir informações aos participantes sobre oficinas de música. Criou-se, desde então, o hábito de enviar mensagens nesse grupo em francês e inglês, de modo escrito e em áudio. As vezes, as mensagens eram traduzidas em outras línguas (árabe, pashto, dari) pelos próprios usuários. Eram também usadas fotos ou emojis a fim que todos pudessem se exprimir e compreender o conteúdo das mensagens, independentemente do nível de francês ou do conhecimento da escrita.

A participação dos usuários no grupo de WhatsApp The Residents não foi automática; ao contrário, foi necessário usar diversas estratégias para mobilizar essa participação, exatamente como foi necessário um trabalho importante de mobilização para a participação presencial nas atividades. Assim, no início, as mensagens vinham principalmente das profissionais: do PRACTS, de instituições parceiras ou dos músicos organizadores das oficinas. Ainda que a maioria das mensagens tivesse o objetivo de informar ou lembrar os horários das oficinas ou eventos, elas eram também uma forma de suscitar, no espaço virtual, a presença dos usuários no espaço físico. A terapeuta ocupacional também enviava links de vídeos do Youtube, de maneira a tornar-se presente aos usuários, como uma permanência virtual, mas também para criar uma dinâmica no grupo, suscitar a reação dos usuários: enviar uma outra música em retorno, um comentário, um emoji, buscando produzir interações regulares no grupo9 9 Ghliss et Jahjah (2019) discutem a capacidade necessária a um usuário para iniciar uma conversa ou suscitar a reação dos outros usuários em um grupo de WhatsApp. . Aos poucos, os usuários começaram a responder e mesmo a iniciar trocas de mensagens.

Desde então, o grupo evoluiu. Hoje, ele é composto por cerca de de 55 usuários do programa PRACTS, incluindo os que não participam das oficinas de música, e os assuntos tratados dizem respeito a todas as atividades do PRACTS. Após discussão entre usuários, profissionais e parceiros, o grupo foi chamado The Residents. Esse nome é uma dupla referência à residência artística dos participantes da oficina nessa associação e ao fato de que eles buscam tornar-se legalmente residentes na França. Nesse processo de escolha dos participantes e de nomeação do grupo, foi favorecido o reconhecimento e o pertencimento a um coletivo. A importância desse ato é reconhecida por Ghliss & Jahjah (2019)Ghliss, Y., & Jahjah, M. (2019). Habiter WhatsApp? Éléments d’analyse postdualiste des interactions en espace numérique. Langage & Société, (167), 29-50.: “Uma vez que os participantes foram selecionados, é necessário escolher um nome para o grupo. Nomear o grupo significa dar-lhe uma identidade que permite distingui-lo de outros grupos criados” (p. 41, tradução livre).

Atualmente, vários grupos de WhatsApp são usados pelo PRACTS, sendo, por exemplo, um deles somente para profissionais e estagiárias e outros de duração mais ou menos efêmera para atividades específicas (grupo teatro, grupo piscina etc.). Além disso, o WhatsApp é utilizado para conversas somente entre duas pessoas, por exemplo, um profissional e um usuário.

Percurso da Experiência

Com o fim de analisar os materiais do grupo The Residents, foram impressos e analisados dois períodos da conversa, cada um com duração de dois meses: o primeiro de 31/10/2021 a 07/01/2022 e o segundo de 08/05/2022 a 08/07/2022. A escolha desses períodos tem por objetivo variar as pessoas presentes no grupo, assim como os momentos do ano que supostamente suscitam interações entre os participantes: estações, festas como Natal e Ano Novo, férias ou eventos do próprio grupo. A Figura 1 ilustra o tipo de material.

Figura 1
Imagem da tela do grupo de WhatsApp The Residents ilustrando as diferentes formas de comunicação10 10 Traduçao da Figura 1: “- Você estava de gravata… uau! - Obrigado! Bom dia a todos.- Obrigado T. - Bom dia a todos. Estou saindo de férias por quatro semanas! Aproveitem bem o verão. Até logo!- Obrigado, até logo e boas férias.- Boas férias, te desejo tudo de melhor.” .

A partir da leitura desse material, foram emergindo categorias agrupando um conjunto coerente de mensagens permitindo de descrever e analisar o significado dessas mensagens e seu uso pelos diferentes participantes, segundo a metodologia da teoria fundamentada (Glaser & Strauss, 1967Glaser, B. G., & Strauss, A. L. (1967). The discovery of the grounded theory. Strategies for qualitative research. Chicago: Aldine.). Em seguida, foram contados o número de mensagens pertencentes a cada categoria, sendo que as diferentes mensagens ou fotos enviadas por uma mesma pessoa sobre um mesmo assunto foram consideradas como uma única ocorrência. Seis categorias foram obtidas e nomeadas de maneira a serem compreensíveis e sintéticas: “reações simples”, “compartilhar uma experiência”, “relações interpessoais”, “transmissão de informações”, “expressão de sentimentos” e “noção de coletivo”, em ordem decrescente do número de ocorrências.

Resultados

A categoria “reações simples” é a que aparece com mais frequência, com 230 ocorrências. Ela é caracterizada por uma reação não específica a uma mensagem da discussão, que pode tomar a forma de um emoji polegar ou um “ok”, por exemplo, como mostra a Figura 1. As reações simples representam a participação de um usuário na conversa sem buscar obter uma resposta nem tentar continuá-la. Além disso, elas não entram em nenhuma das categorias seguintes.

A segunda categoria, com 169 ocorrências, é “compartilhar uma experiência”, que se apresenta na forma de emojis, mensagens escritas, áudios, fotos ou vídeos, permitindo ao usuário compartilhar com o grupo uma atividade que ele realiza no seu cotidiano e que tem sentido para ele: visita a lugares turísticos, festas, refeições, exposições, situações profissionais, de saúde etc., realizadas com ou sem outros membros do grupo. A Figura2 exemplifica essa categoria, onde um usuário envia uma foto do prato que ele preparou e, na segunda foto, ele está no seu quarto com seus amigos, que também fazem parte deste grupo de WhatsApp, preparando-se para degustá-lo. É importante salientar que o usuário é analfabeto e não fala nenhuma outra língua além do dari.

Figura 2
Imagem da tela do grupo WhatsApp The Residents ilustrando a categoria «compartilhar uma experiência”.

Em seguida, aparece a categoria “relações interpessoais”, com 133 ocorrências. São mensagens entre duas ou mais pessoas em torno de um assunto comum. Observa-se a presença dos nomes de outros usuários ou de respostas específicas a uma pergunta. Essas mensagens são trocadas principalmente entre uma profissional e um usuário. A Figura 1 mostra uma profissional indicando que sairia de férias e a reação dos usuários desejando-lhe boas férias. Ou ainda no exemplo abaixo:

A: Se você não pode vir, não tem problema. Só avisa a gente 😉. Você sempre será bem-vindo.

B: Não, só quero dizer que tenho dificuldade em cantar.

A: Ahh ok! Mas claro que você canta bem!

Essa troca de mensagens interpessoais, mesmo que tenha sido iniciada por uma profissional, permite ao resto do grupo ver que esse espaço virtual é um lugar onde esse tipo de interação é possível. Assim, as profissionais, tendo consciência desse aspecto, podem escolher solicitar ou responder aos participantes no grupo e não em conversa individual, com o objetivo de suscitar o aparecimento dessas relações. Pode-se, igualmente, encontrar mensagens dessa categoria somente entre usuários, mas isso não apareceu nas mensagens analisadas.

A categoria “transmissão de informações” aparece 93 vezes. Ela é constituída de mensagens relativas à organização de atividades, tais como o conteúdo, o horário e a localização: “Organizamos um almoço antes [do show]! Nos encontramos às 12h30/13h00 no mesmo lugar das oficinas”. Esse tipo de mensagem é enviada principalmente por profissionais. Aparecem muito menos do que esperado, tendo em vista que o grupo foi inicialmente criado para transmitir informações. Assim, era esperado que representassem uma proporção maior das mensagens.

A categoria “expressão de sentimentos”, com 36 ocorrências, é definida pela expressão de sentimentos vividos. Os participantes contam no grupo o que acharam de uma atividade ou como se sentiram: “foi ótimo!” ou como na Figura 1, “Foi uma super noite entre amigos!”.

Com 30 ocorrências, as mensagens classificadas como “noção de coletivo” são dirigidas ao grupo que é reconhecido como tal. Os participantes exprimem o reconhecimento da existência do coletivo no grupo virtual ou físico. No exemplo acima, “Foi uma super noite entre amigos”, a reação de um usuário a uma foto mostrando que usuários e profissionais foram a um concerto indica ao mesmo tempo a expressão de sentimentos (“foi uma super noite”), como indicado acima, e a parte “entre amigos” mostra a referência ao coletivo e uma forma de pertencimento a ele. Com efeito, o usuário indica que, para ele, as pessoas presentes com ele no evento eram amigos. Observa-se também, frequentemente, o uso da palavra “família” nas mensagens dessa categoria, por exemplo: “Obrigado, obrigado a toda família. Eu amo muito vocês <3 <3 […] viva a família!”, indicando que o usuário se considera parte do grupo virtual. A Tabela 1 mostra todas as categorias, o número de ocorrências e exemplos de cada uma:

Tabela 1
Categorias de mensagens presentes no grupo de WhatsApp The Residents.

Discussão

A análise da utilização do grupo de WhatsApp The Residents através das categorias previamente descritas confirma que ele não é apenas uma forma de transmitir informações, e que pode ser usado, por exemplo, para expressar sentimentos ou compartilhar experiências. Essas outras categorias de mensagens parecem indicar que o grupo de WhatsApp The Residents é, sobretudo, uma ferramenta para criar estratégias que visam o fomento de diferentes formas de participação tanto no espaço virtual como no físico. Porém, até que ponto pode-se considerar a participação em um grupo virtual como sendo uma forma de participação social?

Em consonância com estudo anteriormente citado (Silva et al., 2015Silva, C. R., Cardinalli, I., & Lopes, R. E. (2015). A utilização do blog e de recursos midiáticos na ampliação das formas de comunicação e participação social/Using the blog and media resources for the expansion of forms of communication and social engagement. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 23(1), 131-142.), o espaço virtual pode ser considerado um recurso de intervenção da terapia ocupacional social, na medida em que favorece vivências coletivas, constituição e fortalecimento de redes sociais de suporte e reflexões sobre papéis e identidades, potencializando assim possibilidades de participação social. Por exemplo, a expressão mais sutil de uma forma de participação no grupo, que é a “reação simples”, já representa uma maneira de tomar parte, que é a definição de participação segundo o dicionário Robert (2007, pRobert, P. (2007). Le Petit Robert de la Langue Française. Paris: Le Robert.. 1815): “ação de tomar parte direta ou indiretamente em algo”.

Mais sutilmente que na reação simples, algumas pessoas participam do grupo… sem participar. Elas consultam o grupo, mas não postam nada; acompanham as atividades do PRACTS pelo grupo de WhatsApp The Residents sem vir fisicamente às atividades propostas e sem reagir às postagens, mas sabemos que elas seguem o grupo, pois estão bem informadas do que fazemos e, quando os encontramos fisicamente, nos dizem que viram tal foto ou vídeo, ou que conhecem tal pessoa por fotos e vídeos do grupo.

Essa ideia de participação somente pela leitura do conteúdo do grupo de WhatsApp The Residents explicita uma possível contradição da demonstração, pois isso seria quase o contrário da participação social que se espera promover. Não se pode negar que, para algumas pessoas, o fato de consultar o grupo já é uma forma de engajamento nele, pois outras ainda não conseguiram se mobilizar nem para esse tipo de participação. Mas se generalizarmos essa ideia, pode-se imaginar por analogia que, por exemplo, o simples fato de assistir televisão é uma forma de participação social, na medida em que se tem informações sobre o que acontece no mundo, e essa ação de assistir televisão e buscar informação poderia indicar o sentimento de pertencimento à sociedade. Não é essa a ideia defendida aqui. A participação social a que se refere é aquela que promove mudanças no cotidiano das pessoas e em suas relações com os outros. Assim, se o fato de assistir televisão permite discutir com outras pessoas sobre o que se viu, participar de debates, escrever, telefonar para outras pessoas, encontrá-las para conversar sobre o que se viu na televisão, então a televisão poderá ser considerada não uma forma de participação social, mas uma ferramenta que pode possibilitar algum nível de participação social. Assim, pode-se considerar que é a ligação entre espaço virtual e real que pode fazer com que a televisão, o WhatsApp, o blog ou as redes sociais sejam uma ferramenta de ação técnica, com a finalidade, mesmo que distante, da participação social.

Gonçalves & Malfitano (2020)Gonçalves, M. V., & Malfitano, A. P. S. (2020). Brazilian youth experiencing poverty: everyday life in the favela. Journal of Occupational Science, 27(3), 311-326. discutem a participação social, também a partir da terapia ocupacional social, de jovens moradores de favelas cariocas. Na medida em que o sentido de participação social é distante naquela realidade, visualizam a ampliação da mobilidade como uma etapa anterior objetivada por meio de ações em terapia ocupacional social. Pode-se traçar um paralelo com as ações do PRACTS e assinalar que a criação de espaços de convivência, presencial e virtual, são etapas com vistas à participação social, sendo que a terapia ocupacional social oferta recursos teóricos (na compreensão macrossocial dessa realidade) e metodológicos (de ação profissional, como discutem Lopes et al., 2021Lopes, R. E., Malfitano, A. P. S., Silva, C. R., & Borba, P. L. O. (2021). Resources and Technologies in Social Occupational Therapy: Actions with Poor Urban Youth. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Eds.), Social occupational therapy: theoretical and practical designs (pp. 169-176). Philadelphia: Elsevier.) para essa consecução.

Mas afinal, do que se trata quando se fala em participação social? SegundoSilva & Oliver (2019), aSilva, A. C. C., & Oliver, F. C. (2019). Participação social em terapia ocupacional: sobre o que estamos falando?/Social participation in occupational therapy: what are we talking about? Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 27(4), 858-872. noção de participação social tem definições muito diferentes, podendo gerar incompreensões. É definida como “o envolvimento dos sujeitos em grupos sociais e/ou nos espaços públicos e comunitários para transformar o cotidiano e as condições de vida” (p.859), sendo que esta definição pode ser completada pelo “acesso e envolvimento em atividades do cotidiano e de cidadania, como estudo, trabalho, atividades de lazer e culturais, atividades políticas, entre outras; assim como o estabelecimento de relações sociais, sejam elas no âmbito familiar, dos amigos ou dos relacionamentos afetivos.” (Ferreira & Oliver, 2018, pFerreira, N. R., & Oliver, F. C. (2018). O cotidiano de jovens com deficiência: um olhar da terapia ocupacional a partir do método photovoice. RevisbratO, 2(4), 745-764..746). Pode-se, então, focalizar aqui três aspectos encontrados no estudo do grupo de WhatsApp The Residents: o acesso às atividades, a transformação do cotidiano e o estabelecimento de relações sociais.

Em primeiro lugar, o grupo de WhatsApp The Residents favorece o acesso às atividades que eram até então pouco acessíveis aos seus participantes graças ao envio de mensagens do tipo “transmissão de informações”. Tais mensagens, enviadas num espaço virtual compartilhado, constituem uma etapa facilitadora do engajamento dos membros do grupo em atividades no espaço físico. Um conjunto de estratégias foi desenvolvido para que a informação fosse efetiva: as mensagens são enviadas em francês e inglês, escritas e em áudio, com o mapa para chegar ao lugar e fotos do lugar e de pontos de referência, vídeo ou outras informações sobre o lugar ou o evento. Contudo, embora se caracterizem como mensagens essenciais, de acesso à informação, não são suficientes para construir a participação social dos usuários.

Encontram-se, assim, de maneira preponderante e inesperada, mensagens do tipo “compartilhar uma experiência”, através das quais os participantes trocam mensagens relativas aos seus cotidianos. Essas mensagens permitem mostrar aos outros membros do grupo o que se faz e, assim, existir no grupo, criando significados e pertencimentos. As razões desse compartilhar podem ser diversas, mas elas permitem “construir uma identidade e uma história em comum” (O’Hara et al., 2014, pO'Hara, K. P., Massimi, M., Harper, R., Rubens, S., & Morris, J. (2014). Everyday dwelling with WhatsApp. In Proceedings of the 17th ACM Conference on Computer Supported Cooperative Work & Social Computing (pp. 1131-1143). New York: Association for Computing Machinary. https://doi.org/10.1145/2531602.2531679
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. 1140). As terapeutas ocupacionais também estão atentas ao envio regular, pelas profissionais ou se possível pelos usuários presentes, de fotos e vídeos das atividades realizadas com o coletivo no espaço físico a fim de que todos os membros do grupo de WhatsApp The Residents possam tomar parte direta ou indiretamente dessas atividades. Formula-se, assim, a hipótese que a visualização de fotos, vídeos e outras mensagens poderia facilitar a participação futura em atividades concretas. O desejo de participar e a participação concreta poderiam, assim, indicar uma transformação no cotidiano das pessoas, na medida em que elas passam a frequentar novos lugares, circular por outros espaços, encontrar outras pessoas e estabelecem novas relações, vivendo novas emoções ou revivendo emoções perdidas, construindo novos papéis sociais ou recuperando papéis sociais perdidos, como diz um usuário:

A lembrança que vou guardar para sempre é que graças a essa atividade, eu fui pela primeira vez à Villette. E a lembrança mais linda para mim é que eu fui pela primeira vez na minha vida ao cinema, o que eu nunca tinha feito no meu país, pois não tinha meios para isso, e o mais lindo era estar ao ar livre. Eu nunca vou esquecer esse filme (mensagem enviada para comentar uma foto e preparar uma aula, exterior às mensagens aqui analisadas).

Ele se refere a um festival de cinema ao ar livre, que é gratuito e ocorre todos os anos entre julho e agosto. Espera-se que ele possa continuar a frequentar o festival nos próximos anos.

À luz da terapia ocupacional social, observa-se, assim, que a criação de espaços de convivência permite novas experiências e acessos, como à arte cinematográfica, que podem criar sentidos microssociais em um lugar estranho, não se limitando a lugares e atividades relativas à condiçao de migrante. É na composição da compreensão macrossocial e na ação microssocial que se tece o trabalho.

As mensagens relativas às categorias “expressão de sentimentos”, “noção de coletivo” e “mobilização da solidariedade” ocorreram de maneira mais ocasional. No entanto, a presença desses tipos de mensagem informa sobre a função deste grupo, no estabelecimento de relações afetivas entre seus membros. O’Hara et al. (2014)O'Hara, K. P., Massimi, M., Harper, R., Rubens, S., & Morris, J. (2014). Everyday dwelling with WhatsApp. In Proceedings of the 17th ACM Conference on Computer Supported Cooperative Work & Social Computing (pp. 1131-1143). New York: Association for Computing Machinary. https://doi.org/10.1145/2531602.2531679
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indicam que o espaço de trocas virtuais pode favorecer a manutenção de vínculos entre pessoas de um mesmo grupo familiar ou de amigos, principalmente entre jovens adultos.

As terapeutas ocupacionais do PRACTS trabalham com a hipótese de que quando as pessoas se vêm nas fotos ou quando os usuários não presentes nas atividades vêm que pessoas do grupo se divertiram juntas, então, mesmo ausentes, essa imagem de um “nós” compartilhada pode contribuir para reforçar o sentimento de pertencimento ao coletivo. Trata-se de mais uma das razões pela qual as profissionais postam fotos e vídeos. Além de suscitar a participação dos usuários por enviar mensagens, pelo menos do tipo “reação simples”, essas postagens podem criar esse efeito “nós”.

O uso da palavra “família”, como aparece na categoria “noção do coletivo”, foi discutido com vários usuários em ocasiões diferentes. E, a cada vez, eles explicitam essa ideia de pertencimento, de sentir fazer parte de um grupo, de se saber esperado e desejado para participar das atividades, de ser reconhecido pelo grupo ao chegar. Por exemplo, um usuário explicou para as alunas do curso de graduação em terapia ocupacional, durante uma aula que estava ministrando conosco, que se sentia muito sozinho antes de participar das atividades do PRACTS, e isso era terrível, mas agora, mesmo quando está sozinho, não se sente mal, pois sente que pertence a algo.

Não estando presente ao lado dos usuários quando eles consultam o grupo de WhatsApp The Residents não é fácil de avaliar o efeito do seu uso. Seria necessário integrar entrevistas a essas análises a fim de se ter mais elementos a esse respeito. No entanto, as mensagens aqui analisadas, assim como os relatos dos usuários para a equipe, ofertam indícios da construção coletiva para um pertencimento e compartilhamento. Por exemplo, quando um usuário ausente comenta uma foto enviada no grupo dizendo: “pena que eu não pude estar com vocês”; ou ainda quando alguém diz estar emocionado com imagens do grupo mesmo se ele quase não apareça nelas.

Infere-se, então, que esta experiência tem colaborado para a tessitura de redes sociais de suporte - objetivo central da terapia ocupacional social. Por meio de diferentes ferramentas, tal como o uso de um grupo de WhatsApp, tem-se buscado situações de pertencimento que contribuam com a coletivização e a participação social.

Uma outra questão que se apresenta é a eventual preponderância do espaço físico sobre o espaço virtual. Sabe-se que a copresença dos usuários durante uma atividade no espaço físico não garante a construção de relações entre eles e a constituição de um coletivo, ou de um “pedaço”, nos termos de Magnani (1992)Magnani, J. G. C. (1992). Da periferia ao centro: pedaços & trajetos. Revista de Antropologia, 35, 191-203.. De fato, observa-se que pessoas podem sair do mesmo abrigo para vir ao teatro e voltar ao abrigo sem conversarem, sem nem mesmo identificarem que moram no mesmo lugar. Eles podem ter uma ligação forte com as profissionais e com as atividades, até mesmo com o teatro. Isso pode ser uma etapa do trabalho, mas as profissionais desenvolvem ações específicas para mediar processos que visam construir um coletivo, por exemplo: beber alguma coisa todos juntos na cafeteria do teatro para conversar, aproveitar do trajeto de volta, no metrô, para continuar a conversar. Assim, tanto o espaço virtual do grupo como o espaço físico necessitam de mediações específicas das profissionais que, partindo da terapia ocupacional social, lançam mão de diferentes ferramentas e ações técnicas para o trabalho entre as dimensões macrossociais do que se vive e a tessitura cotidiana de suporte social.

Uma outra característica que tem sido observada é a possibilidade de as pessoas mudarem de território físico sem deixarem o território virtual do grupo. Assim, alguns continuam a mandar mensagens no grupo mesmo depois de terem saído do território francês há meses. Da mesma maneira que algumas pessoas deixam de vir às atividades e retornam periodicamente. Isso sugere, mais uma vez, uma relação entre espaço físico e espaço virtual, pois parece que os usuários podem investi-los de forma intermitente, tanto um quanto o outro. Além disso, aqueles que não mais podem participar fisicamente dos espaços reais podem continuar a participar do espaço virtual.

A continuidade existente entre o virtual e o físico permite a circulação do efeito da construção da participação social de um espaço ao outro. Assim, as ações realizadas pelas terapeutas ocupacionais levam em conta a articulação entre esses dois tipos de espaços, buscando potencializar a participação em um pela participação no outro. As mensagens analisadas no grupo de WhatsApp The Residents mostram como os usuários reagem no espaço virtual às interpelações do espaço virtual, mas também àquelas do espaço físico, representado no espaço virtual pelas fotos e vídeos, como ilustrado na Figura 1.

No entanto, o uso do WhatsApp no programa PRACTS apresenta algumas particularidades e levanta questões. Em primeiro lugar, contrariamente às análises de Ghliss et Jahjah (2019)Ghliss, Y., & Jahjah, M. (2019). Habiter WhatsApp? Éléments d’analyse postdualiste des interactions en espace numérique. Langage & Société, (167), 29-50., esse grupo não é constituído de pessoas que tinham uma relação pessoal anterior e relativamente forte, como um grupo de família ou de amigos. Quando uma pessoa nova entra no grupo, ela não compartilha os códigos e a história comuns do grupo, como as pessoas que fazem parte há semanas, mesmo se o tempo não é o único critério de sentimento de pertencimento ao coletivo. O grupo de WhatsApp The Residents também não é público, como o blog analisado por Silva et al. (2015)Silva, C. R., Cardinalli, I., & Lopes, R. E. (2015). A utilização do blog e de recursos midiáticos na ampliação das formas de comunicação e participação social/Using the blog and media resources for the expansion of forms of communication and social engagement. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 23(1), 131-142.. A característica meio privada, meio pública permite contextualizar a participação dos usuários. De fato, alguns são ou se sentem mais pertencentes ao grupo, conhecem mais pessoas do grupo, usuários ou profissionais, e portanto se sentem mais à vontade para postar mensagens ou para reagir às dos outros, o que é uma hipótese que liga participação e sentimento de pertencimento ao coletivo. Outros não se sentem tão à vontade em compartilhar experiências ou expressar sentimentos num grupo comportando tantas pessoas desconhecidas.

Portanto, podemos formular a hipótese que o grupo seria mais que um lugar, um espaço virtual, mas sim um território, compreendido na articulação de seus aspectos espaciais, ainda que virtuais, e de seus aspectos relacionais, códigos compartilhados, pertencimentos (Magnani, 1992Magnani, J. G. C. (1992). Da periferia ao centro: pedaços & trajetos. Revista de Antropologia, 35, 191-203.). Nesse sentido, nos múltiplos espaços de atuação em terapia ocupacional social, destaca-se o território, na aproximação ao conceito de comunidade, pertencimento e possibilidade de suportes de solidariedade (Bianchi & Malfitano, 2022Bianchi, P. C., & Malfitano, A. P. S. (2022). Atuação profissional de terapeutas ocupacionais em países latino-americanos: o que caracteriza uma ação territorial-comunitária? Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 30, e3053.). Uma vez mais, trata-se dos princípios da terapia ocupacional social na configuração de um espaço intermediário entre o privado mais restrito (a casa, a família) e o público.

Por fim, constata-se também que o grupo favorece a participação social na medida em que contribui para o estabelecimento, reforço e ampliação das relações entre os usuários e a transformação do cotidiano, como, por exemplo: não mais ficar o dia todo no quarto; ir a lugares diferentes e não se limitar a lugares e atividades relacionados à condição de “migrante”; engajar-se em atividades que lhes interessam e que permitem exercer papéis sociais diferentes do de “migrante” (podem ser músico, amigo, usuário de equipamentos públicos como piscina ou biblioteca, professor, profissional etc.); criar, consolidar e ampliar suas redes de suporte; discutir assuntos como “migração”, “racismo” e “participação social”. O fato de compartilhar atividades cotidianas por meio da postagem de fotos e vídeos permite construir uma história em comum e assim suscitar sentimento de pertencimento, que também são aspectos que favorecem a participação social.

Conclusão

A análise do conteúdo do grupo de WhatsApp The Residents indica que se configurou como uma ferramenta de intervenção em terapia ocupacional social, favorecendo a participação social dos usuários, não somente no espaço virtual, mas também nas atividades no espaço físico. Explicita-se como ferramenta na medida em que as profissionais puderam utilizá-lo com ações precisas (enviar convites e postagens, solicitar a opinião dos usuários) a fim de atingir objetivos como o fortalecimento das redes sociais de suporte e a criação de espaços de convivência, resultando em sentimentos de pertencimento e coletividade. A participação dos usuários se exprime de diferentes maneiras no grupo - reações simples, compartilhar experiências, expressão de sentimentos, informações, relações interpessoais, noção de coletivo, e mesmo pela simples leitura do conteúdo do grupo.

Um dos resultados desta reflexão foi compreender a continuidade entre as ações realizadas no espaço virtual e no espaço físico, e sua utilização no campo da terapia ocupacional social. Considerando a continuidade entre espaço físico e espaço virtual, a análise mostra que o grupo de WhatsApp The Residents é um lugar de intervenção, mesmo que virtual, como a sala onde acontecem as oficinas de música ou os espaços utilizados pela equipe nos abrigos. Pode-se mesmo avançar a ideia de que, mais do que um lugar, ele é um território, no sentido de que além de espaço virtual onde se pode transmitir informações, nele também se desenvolve uma rede de relações, com códigos compartilhados e construção de uma história e de identidades em comum (O’Hara et al., 2014O'Hara, K. P., Massimi, M., Harper, R., Rubens, S., & Morris, J. (2014). Everyday dwelling with WhatsApp. In Proceedings of the 17th ACM Conference on Computer Supported Cooperative Work & Social Computing (pp. 1131-1143). New York: Association for Computing Machinary. https://doi.org/10.1145/2531602.2531679
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).

Contudo, tais ferramentas de ação microssocial não podem ser desarticuladas das demais necessidades sociais das pessoas em situação de migração, por exemplo, de seu exercício de cidadania, da efetivação da garantia de seus direitos, que, desterritorializados, em um país com distanciamentos culturais e dos seus modos de vida, muitas vezes não têm perspectivas de voltar a “existir” como cidadãos. Para tanto, sentir pertencer a um grupo, a um territorio torna-se fundamental para construir formas de participação social.

Por fim, destacam-se algumas contradições que também compõem esta experiência. Contrariamente a uma prática no espaço físico, o telefone celular está sempre com seu dono, seja uma profissional ou um usuário. No final do dia de trabalho ou nos finais de semana, o que fazem as profissionais com esses telefones que levam para casa, como se levassem potencialmente todas os usuários consigo? Ainda que as terapeutas ocupacionais do PRACTS disponham de um telefone profissional, que deve ser desligado fora dos horários de trabalho, o fato de tê-lo consigo parece ter um efeito de permanência do contexto de trabalho em suas vidas privadas. Elas testemunham, frequentemente, a dificuldade em desligar o telefone profissional e não o consultar durante os fins de semana ou no trajeto para o trabalho. Além disso, o que dizer do uso de WhatsApp por profissionais que não dispõem de telefone profissional? Como preservar o contexto de vida privada? No nosso caso, no estado atual da reflexão e da experiência, as estagiárias não integram o grupo WhatsApp The Residents nem utilizam o telefone no contato com os usuários, pois não dispõem de telefone profissional.

Além disso, alguns usuários saíram do grupo alegando um número muito grande de mensagens, o que nos leva questionar o sentimento de invasão do espaço privado que esse grupo virtual pode gerar, tanto junto aos usuários, quanto às profissionais.

Dois aspectos que não pudemos tratar nesse artigo, mas que são considerados na utilização cotidiana do grupo de WhatsApp The Residents: a questão da moderação do conteúdo do grupo e o direito à imagem. Não houve, por enquanto, necessidade de moderação, nem mesmo de explicitação de regras, com exceção de uma vez, em que se fez a postagem de imagens de um líder político. Foi pedido ao usuário que retirasse o conteúdo, o que ele fez sem problemas. O segundo aspecto é, do ponto de vista ético, a questão de o direito à imagem merecer outra discussão. Um formulário de autorização de utilização da imagem é proposto aos usuários, mas não sistematicamente. De qualquer forma, antes de postar uma imagem no grupo, as profissionais pedem, verbalmente, a autorização dos usuários.

Apesar dos questionamentos salientados e do caráter provisório das reflexões aqui compartilhadas, pode-se considerar as potencialidades do uso de grupos de WhatsApp como ferramenta e território de intervenção da terapia ocupacional social com o objetivo de desenvolver ações que possam favorecer a participação social dos usuários.

Agradecimentos

A Frédéric Morestin, por iniciar a prática no espaço WhatsApp. A Justine Pirony et Roxane Chauvet, pela releitura e comentários sobre o texto. A Erhan, Bilal e Hilal, por nos contarem o que é o grupo de WhatsAppThe Residents” para eles. A Saïd, Souleymane e todos os participantes do grupo de WhatsApp “The Residents”.

  • 1
    Vê-se frequentemente na televisão cenas de militantes salvando pessoas tentando atravessar o Mar Mediterrâneo em botes de borracha ou o desmantelamento pela polícia de acampamentos de migrantes às portas de Paris. A situação de barcos com migrantes não aceitos em nenhum porto reaparece regularmente. Novas leis aparecem regularmente e a campanha presidencial francesa de 2022 foi muito ocupada por esse assunto.
  • 2
    Para fins de maior legibilidade do texto, será usado o masculino para se referir a migrantes, usuários, participantes, considerando que a grande maioria é do sexo masculino; pela mesma razão, será usado o feminino para terapeuta ocupacional e outras profissionais.
  • 3
    Define-se habitualmente como migrantes as pessoas que saíram de seus países para viverem em outro país, independente da razão da migração. A distinção habitual em termos de refugiados (migração forçada) ou migrante (migração escolhida) é controversa (Organização Internacional para as Migrações, 2019, p. 77, como citado em Doirre, 2023) e não será utilizada aqui por duas razões principais. O termo refugiado pode designar a pessoa que foi obrigada a fugir do seu país, mesmo se ela não obtenha o estatuto legal de refugiado. Reservamos aqui o termo refugiado às pessoas que obtiveram uma resposta positiva à solicitação de refúgio. A segunda razão é a complexidade das situações que fazem as pessoas partirem de seus países e que colocam sua vida em perigo, o que torna difícil definir até que ponto a migração foi escolhida ou forçada.
  • 4
    Nota-se a contradição do nome PRACTS : um programa norteado pelos referenciais teórico-metodológicos da Terapia Ocupacional Social (por exemplo em seus objetivos, métodos, definição da população pela questão da vulnerabilidade social e não por problemas de saúde), mas que é financiado pela Agência Regional de Saúde (equivalente da secretaria estadual de saúde) e que pertence administrativamente a um hospital psiquiátrico. Destaca-se, contudo, que a fonte de financiamento do programa não reflete seus princípios e objetivos.
  • 5
    A França possui quatro esferas administrativas: nacional, regional, departamental e municipal.
  • 6
    Segundo a ANFE - Association Nationale Française d'Ergothérapie (2021)Association Nationale Française d'Ergothérapie - ANFE. (2021). La profession d'ergothérapeute. Retrieved in 2023, February 6, from https://anfe.fr/la- profession/#:~:text=Au%201er%20janvier%202021%2C%20la,%2C%20dont%2087%25%20de%20femmes
    https://anfe.fr/la- ...
    , no dia 1 de janeiro de 2021, havia 14.548 terapeutas ocupacionais em exercício na França, sendo 87% mulheres. A profissão foi criada oficialmente em 1974. Atualmente, existem 28 institutos de formação públicos ou privados no país. A disciplina de terapia ocupacional social não existe oficialmente no curriculum, mas desde 2021, as terapeutas ocupacionais do programa PRACTS começaram a ministrar aulas de terapia ocupacional social em cinco institutos (carga horária variando entre 4 e 15 horas). Em outubro de 2020, a revista Ergothérapies, periódico local da área de terapia ocupacional, publicou um número especial com o título: Terapia ocupacional social e comunitária. Em 2022 a Union Nationale des Associations d’Etudiants en Ergothérapie (UNAEE) escolheu o tema da terapia ocupacional social para seu encontro anual. Com organização do Programa PRACTS e apoio da ANFE, o Primeiro Encontro Internacional de Terapia Ocupacional Social na França: princípios, práticas, ensino e pesquisa (Première rencontre internationale de l'Ergothérapie Sociale en France: principes, pratiques, enseignement et recherche) foi realizado em 25 e 27 de agosto de 2022. Tais fatos demonstram o recente crescimento das discussões sobre terapia ocupacional social no território francês.
  • 7
    Em 2022, foram 278 usuários, sendo 56 mulheres. Muitos são vistos somente algumas poucas vezes, outros participam semanalmente das atividades propostas. A idade média é de 30 anos (mediana de 32).
  • 8
    Statista (2023).Statista. (2023). Classement des réseaux sociaux les plus populaires dans le monde au janvier 2023, selon le nombre d'utilisateurs actifs. Retrieved in 2023, February 6, from https://fr.statista.com/statistiques/570930/reseaux-sociaux-mondiaux-classes-par-nombre-d-utilisateurs/
    https://fr.statista.com/statistiques/570...
  • 9
    Ghliss et Jahjah (2019)Ghliss, Y., & Jahjah, M. (2019). Habiter WhatsApp? Éléments d’analyse postdualiste des interactions en espace numérique. Langage & Société, (167), 29-50. discutem a capacidade necessária a um usuário para iniciar uma conversa ou suscitar a reação dos outros usuários em um grupo de WhatsApp.
  • 10
    Traduçao da Figura 1: “- Você estava de gravata… uau! - Obrigado! Bom dia a todos.- Obrigado T. - Bom dia a todos. Estou saindo de férias por quatro semanas! Aproveitem bem o verão. Até logo!- Obrigado, até logo e boas férias.- Boas férias, te desejo tudo de melhor.”
  • Como citar: Guigon, L., & Marques, A. (2023). WhatsApp como território e ferramenta de intervenção em terapia ocupacional social. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 31(spe), e3524. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO270135241

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Editado por

Editora de seção

Profa. Dra. Marina Leandrini de Oliveira e Profa. Dra. Giovanna Bardi

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    06 Fev 2023
  • Revisado
    10 Fev 2023
  • Revisado
    20 Mar 2023
  • Aceito
    03 Maio 2023
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