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ÁCIDOS GRAXOS E PROTEÍNA EM GRÃOS DE AMENDOIM EM FUNÇÃO DA CALAGEM E DO MÉTODO DE SECAGEM

Resumos

Grãos de amendoim (Arachis hypogaea L.) destinados ao consumo humano permanecem armazenados até sua utilização; daí, a necessidade de que o produto tenha alta qualidade e óleo estável. Em função disso, desenvolveu-se um experimento com amendoim para avaliar o efeito da calagem e da secagem no teor de proteína e na composição dos grãos, com relação aos ácidos graxos. O amendoim cv. Botutatu foi cultivado num latossolo vermelho-escuro de textura média, em São Manuel (SP) sendo os tratamentos das parcelas sem ou com calagem (2,05 t/ha), elevando a saturação por bases a 56%. Os tratamentos das subparcelas foram os métodos de secagem: (1) à sombra; (2) ao sol; (3) ao sol até 24,7% de umidade das sementes e (4) ao sol até 35,9% de umidade das sementes. Os dois últimos tratamentos terminaram a secagem na estufa a 30oC, até atingir 10% de umidade. Determinou-se o teor de proteína e de ácidos graxos. A calagem resultou em aumento no teor de proteína; entretanto, não teve efeito na composição e na qualidade do óleo, e o sistema de secagem não teve efeito no teor de proteína nem na composição do óleo.

Arachis hypogaea; ácidos graxos; calagem; proteínas; secagem


Peanut grains for human consumption are usually stored for some period before use. The storage time depends on the product quality and oil stability. An experiment was conducted to study the effects of liming and drying methods on protein contents and fatty acids composition of peanut grains. Peanut was grown in a Dark Red Latosol (Haplortox, sandy loam) in São Manuel, São Paulo State, Brazil. Lime treatments were applied to the plots: 0 and 2.05 t/ha (soil base saturation raised to 56%). The drying methods were applied as sub-plots: (1). Shadow; (2). Field; (3). Field down to 24.7% of humidity of the seeds and (4). Field down to 35.9% of humidity of the seeds. The hulls of treatments 3 and 4 had their drying finished in an air forced oven at 30 °C and they were dried to 10% of humidity. There was an increase in grain protein contents due to liming, but there was no effect of lime on oil contents or quality. Drying methods had no effect on protein and oil contents or oil quality.

Arachis hypogaea; fatty acids; liming; protein; drying


NOTA

ÁCIDOS GRAXOS E PROTEÍNA EM GRÃOS DE AMENDOIM EM FUNÇÃO DA CALAGEM E DO MÉTODO DE SECAGEM(1)(1) Recebido para publicação em 25 de setembro de 1996 e aceito em 12 de março de 1998. Recebido para publicação em 25 de setembro de 1996 e aceito em 12 de março de 1998.

ELENA MERCEDES FERNANDEZ(2) (2) Universidad Nacional de Rio Cuarto, Facultad de Agronomía y Veterinaria, Departamento de Producción Vegetal. 5800 Rio Cuarto, Argentina. (3) Departamento de Agricultura e Melhoramento Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu (SP). (4) Com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq. e CIRO ANTONIO ROSOLEM(3 (2) Universidad Nacional de Rio Cuarto, Facultad de Agronomía y Veterinaria, Departamento de Producción Vegetal. 5800 Rio Cuarto, Argentina. (3) Departamento de Agricultura e Melhoramento Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu (SP). (4) Com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq. ,4) (2) Universidad Nacional de Rio Cuarto, Facultad de Agronomía y Veterinaria, Departamento de Producción Vegetal. 5800 Rio Cuarto, Argentina. (3) Departamento de Agricultura e Melhoramento Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu (SP). (4) Com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq.

RESUMO

Grãos de amendoim (Arachis hypogaea L.) destinados ao consumo humano permanecem armazenados até sua utilização; daí, a necessidade de que o produto tenha alta qualidade e óleo estável. Em função disso, desenvolveu-se um experimento com amendoim para avaliar o efeito da calagem e da secagem no teor de proteína e na composição dos grãos, com relação aos ácidos graxos. O amendoim cv. Botutatu foi cultivado num latossolo vermelho-escuro de textura média, em São Manuel (SP) sendo os tratamentos das parcelas sem ou com calagem (2,05 t/ha), elevando a saturação por bases a 56%. Os tratamentos das subparcelas foram os métodos de secagem: (1) à sombra; (2) ao sol; (3) ao sol até 24,7% de umidade das sementes e (4) ao sol até 35,9% de umidade das sementes. Os dois últimos tratamentos terminaram a secagem na estufa a 30oC, até atingir 10% de umidade. Determinou-se o teor de proteína e de ácidos graxos. A calagem resultou em aumento no teor de proteína; entretanto, não teve efeito na composição e na qualidade do óleo, e o sistema de secagem não teve efeito no teor de proteína nem na composição do óleo.

Termos de indexação: Arachis hypogaea, ácidos graxos, calagem, proteínas, secagem.

ABSTRACT

FATTY ACIDS AND PROTEIN IN PEANUT GRAINS AS AFFECTED BY LIMING AND DRYING METHOD

Peanut grains for human consumption are usually stored for some period before use. The storage time depends on the product quality and oil stability. An experiment was conducted to study the effects of liming and drying methods on protein contents and fatty acids composition of peanut grains. Peanut was grown in a Dark Red Latosol (Haplortox, sandy loam) in São Manuel, São Paulo State, Brazil. Lime treatments were applied to the plots: 0 and 2.05 t/ha (soil base saturation raised to 56%). The drying methods were applied as sub-plots: (1). Shadow; (2). Field; (3). Field down to 24.7% of humidity of the seeds and (4). Field down to 35.9% of humidity of the seeds. The hulls of treatments 3 and 4 had their drying finished in an air forced oven at 30 °C and they were dried to 10% of humidity. There was an increase in grain protein contents due to liming, but there was no effect of lime on oil contents or quality. Drying methods had no effect on protein and oil contents or oil quality.

Index terms: Arachis hypogaea, fatty acids, liming, protein, drying.

O amendoim, além de ser matéria-prima oleaginosa, destina-se também ao consumo in natura, daí a importância de conhecer sua composição e sua estabilidade.

Seu conteúdo de proteína pode variar de 21,0 a 36,4% (Woodroof, 1983), alcançando-se os maiores teores com a aplicação de gesso mais fósforo (Singh et al., 1993).

A composição do óleo define a sua qualidade e estabilidade. O ácido palmítico (16:0) é hipercolesterolêmico e o ácido beênico (22:0) pode ser relacionado a propriedades aterogênicas do óleo (Worthington & Hammons, 1977). Em geral, considera-se que os ácidos graxos saturados favorecem a manifestação de problemas cardiovasculares (Driss, 1990), enquanto o consumo de maior quantidade de ácido oléico (18:1), que é insaturado, diminui tais problemas. O ácido linoléico (18:2) e o linolênico são considerados essenciais, pois os animais não podem dessaturar as posições 6 e 3 da cadeia carbonada; esses ácidos formam parte da estrutura das membranas e são precursores de seus homólogos superiores (20 e 22 oC), responsáveis pela formação das prosta-glandinas, além de reduzir os níveis plasmáticos de colesterol (Viola & Audisio, 1987).

O ácido oléico e o linoléico compreendem a maior proporção de ácidos no óleo de amendoim. A relação oléico/linoléico (O/L) é um indicador da estabilidade do óleo (Stalker et al., 1989). A maior proporção do oléico confere maior estabilidade auto-oxidativa (O'Keefe et al.,1993). O conteúdo de ácido oléico e de linoléico e sua relação estão correla-cionados positivamente com o pH do solo (Dwivedi et al., 1993). O índice de iodo (II), uma medida do grau de insaturação do óleo, é utilizado na estimativa da estabilidade (Mercer et al., 1990).

Com o intuito de estudar o efeito da calagem e do sistema de secagem das vagens sobre o teor de proteína e a composição e estabilidade do óleo dos grãos de amendoim, realizou-se este experimento.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido na Fazenda São Manuel, da Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP, Câmpus Botucatu, em um latossolo vermelho-escuro de textura média, no qual foi cultivado amendoim (Arachis hypogaea L.), tipo Valência, cultivar Botucatu.

Realizou-se a calagem, com calcário dolomítico, 53 dias antes da semeadura, na dose de 2,05 t/ha, com o intuito de elevar a 70% a saturação por bases, embora esta tenha ficado em 56%. Os resultados da análise química do solo, por ocasião da semeadura encontram-se no Quadro 1, sendo o método usado o descrito por Raij (1981).


O delineamento experimental foi em blocos ao acaso com parcelas subdivididas, com quatro repetições. Os tratamentos principais, nas parcelas, foram presença ou não de calagem, e os sistemas de secagem das vagens, instalados nas subparcelas, foram os seguintes: 1: à sombra; 2: ao sol; 3: ao sol, até 24,7% de umidade das sementes; 4: ao sol, até 35,9% de umidade das sementes. Nos dois últimos, os grãos terminaram a secagem na estufa a 30 oC. As sementes de todos os tratamentos, ao finalizar a secagem, estavam com 10% de umidade. Durante a secagem no campo, as amostras foram expostas a 200 mm de chuva.

O teor de nitrogênio dos grãos secos e moídos foi obtido por digestão sulfúrica da matéria seca e determinado pelo método semimicro Kjeldahl, sendo, em seguida, determinada a proteína pela equação Prot. = % N x 5,46 (FAO, 1970).

O óleo foi extraído com hexano normal e esterificado a frio. Para a esterificação, tomou-se 1,0 ml de óleo, ao qual se adicionaram 2,0 ml de KHO3 0,1N em metanol e 7,0 ml de hexano grau cromatográfico. Na determinação dos ácidos graxos, empregou-se um cromatógrafo gasoso Hewlett Packard 5890 A., com um detetor de ionização de chama, com coluna de 10% de BDS (butano diol succinato) sobre Chromosorb WAW DMCS 80-100 mesh de 1,80 m de comprimento e 1,80 polegada de diâmetro; a coluna de gases foi dos ésteres metílicos. A cromatografia foi isotérmica a 190oC, utilizando-se nitrogênio como gás carregador com fluxo de 30 mm por minuto e 120 kPa de pressão. Usou-se hidrogênio e ar para a combustão, com três repetições por subtratamento.

Obteve-se a relação oléico/linoléico (O/L) pela divisão dos seus teores. O índice de iodo (II) foi obtido mediante a equação de Silva (*) (*) C. SIlva. Aceitera General Deheza S.A. Equação utilizada pela empresa para enquadramento do produto em normas de exportação. Informação pessoal, 1997. :

II = SS(C18:1 x 0,860) + (C18:2 x 1,732) + (C18:3 x 2,616) + (20:1 x 0,785)

Os resultados foram submetidos à análise da variância e as médias, comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O teor de proteína nas sementes (Quadro 2) foi significativamente aumentado com a aplicação de calcário, passando de 24,7 a 28,9%. Singh et al. (1993) observaram esse efeito em amendoim quando aplicaram gesso mais fósforo. O efeito pode ser devido à calagem, que modificou o ambiente do solo, favorecendo a acumulação de nitrogênio pelas plantas, uma vez que estas apresentaram maior nodulação e não mostraram sintomas de fitotoxicidade (Fernandez, 1996).


O sistema de secagem não interferiu no teor de proteína (Quadro 2), mostrando que as condições ambientes às quais as vagens foram expostas não causaram degradação daquele componente. Por outro lado, a acumulação de óleo já estava finalizada quando da maturidade das sementes.

Os teores de ácidos graxos (Quadro 2) são compatíveis com os valores determinados por Treadwell et al. (1983) quando compararam onze cultivares de amendoim tipo Valência. A proporção desses ácidos não foi modificada pela calagem, o que difere dos dados obtidos por Dwivedi et al. (1993), que observaram incremento do ácido oléico e do linoléico com incremento do pH do solo.

O sistema de secagem não modificou a composição do óleo. Embora as diferenças sejam estatisticamente significativas para o ácido araquídico (Quadro 2) e para o somatório dos ácidos graxos saturados e insaturados (Quadro 3), elas não têm significado biológico, sendo, portanto, desprezíveis.


Por outro lado, os teores de ácidos graxos de maior importância, seja benéfica (18:1 e 18:2), seja prejudicial (16:0 e 22:0) à saúde humana, não foram modificados. Esses dados discordam dos obtidos por Mozingo et al. (1988), que observaram efeito do ambiente, do cultivar e do tamanho da semente na composição do óleo.

Os indicadores de estabilidade do óleo (relação O/L e II) não foram modificados nem pela calagem nem pelo sistema de secagem (Quadro 3). Os valores da relação O/L são menores que os encontrados por Stalker et al. (1989) em cultivares de amendoim tipo Spanish e Virginia e por Treadwell et al. (1983) nesses dois cultivares, além do tipo Valência.

Em função dos resultados, pode-se considerar que a exposição a abundante precipitação pluvial durante a secagem, assim como a calagem, não afetam a composição do óleo de amendoim, enquanto a calagem proporciona aumento no teor de proteína nos grãos.

AGRADECIMENTO

Ao Eng.Químico Carlos Silva, da Aceitera General Deheza S.A., General Deheza, Córdoba, Argentina, pela realização das análises de óleo.

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  • (1) Recebido para publicação em 25 de setembro de 1996 e aceito em 12 de março de 1998.
    Recebido para publicação em 25 de setembro de 1996 e aceito em 12 de março de 1998.
  • (2)
    Universidad Nacional de Rio Cuarto, Facultad de Agronomía y Veterinaria, Departamento de Producción Vegetal. 5800 Rio Cuarto, Argentina.
  • (3)
    Departamento de Agricultura e Melhoramento Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Caixa Postal 237, 18603-970 Botucatu (SP).
  • (4)
    Com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq.
  • (*)
    C. SIlva. Aceitera General Deheza S.A. Equação utilizada pela empresa para enquadramento do produto em normas de exportação. Informação pessoal, 1997.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Jun 1999
    • Data do Fascículo
      1998

    Histórico

    • Aceito
      12 Mar 1998
    • Recebido
      25 Set 1996
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