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Infecção experimental de Physa cubensis Pfeiffer 1839 e Lymnaea columella com miracídios de Fasciola hepatica Linnaeus, 1758

Experimental infection of Physa cubensis Pfeiffer, 1839 and Lymnaea columella with Fasciola hepatica miracidiae Linnaeus, 1758

Resumos

Foi realizada a infecção experimental de Physa cubensis Pfeiffer, 1839, com miracídios de Fasciola hepatica. Para tanto, cada um dos cem moluscos, selecionados para o experimento, foram infectados com três miracídeos. Alguns exemplares, escolhidos ao acaso, foram mantidos até o 60º dia para observação da emergência de formas larvais. Os moluscos restantes foram fixados após 0,5; 1; 2; 3; 4; 5; 24; 48; 72; 96; 120 e 144 horas de infecção, utilizando Raillet & Henry. O trabalho foi realizado de forma comparativa com Lymnaea columella. Os resultados demonstraram o desenvolvimento das formas larvais do trematódeo em L. columella e a presença de esporocistos em vários estágios de degeneração na região cefalopodal e na região do manto nos primeiros dias de infecção em P. cubensis.

Physa sp. Lymnaea sp; Fasciola hepatica; Infecção experimental


The experimental infection of Physa cubensis Pfeiffer, 1839 was realized with three Fasciola hepatica miracidiae. One hundred snails were infected. Some groups were maintained up to the 60º. day post infection for the observation of the larval forms emergency. The snails, in the remaining groups, were immerged in Raillet & Henry 0,5; 1; 2; 3; 4; 5; 24; 48; 72; 96; 120 and 144 hours post infection. The experiment was realized comparatively with Lymnaea columella. The results demonstrated, at first days infection, esporocysts presence in the cephalopodal mass and mantle, however, in the last days it didn't get to identify any larval form, in P. cubensis.

Physa sp. Lymnaea sp; F. hepatica; Experimental infection


Infecção experimental de Physa cubensis Pfeiffer 1839 e Lymnaea columella com miracídios de Fasciola hepatica Linnaeus, 1758

Experimental infection of Physa cubensis Pfeiffer, 1839 and Lymnaea columella with Fasciola hepatica miracidiae Linnaeus, 1758

Juliana SãoLuiz de Barros; Edwin Alberto Maure Pile; Mauricio Carvalho de Vasconcellos; José Augusto Albuquerque dos Santos; Claudia Lessa

Departamento de Biologia/IOC/FIOCRUZ, Rio de Janeiro - RJ

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Edwin Pile Núcleo de Biologia e Controle de Endo e Ectoparasitos de Interesse Médico e Veterinário Departamento de Biologia/IOC/FIOCRUZAv. Brasil, 4365 21045-900 – Rio de Janeiro - RJ E-mail: edwin_pile@uol.com.br

RESUMO

Foi realizada a infecção experimental de Physa cubensis Pfeiffer, 1839, com miracídios de Fasciola hepatica. Para tanto, cada um dos cem moluscos, selecionados para o experimento, foram infectados com três miracídeos. Alguns exemplares, escolhidos ao acaso, foram mantidos até o 60o dia para observação da emergência de formas larvais. Os moluscos restantes foram fixados após 0,5; 1; 2; 3; 4; 5; 24; 48; 72; 96; 120 e 144 horas de infecção, utilizando Raillet & Henry. O trabalho foi realizado de forma comparativa com Lymnaea columella. Os resultados demonstraram o desenvolvimento das formas larvais do trematódeo em L. columella e a presença de esporocistos em vários estágios de degeneração na região cefalopodal e na região do manto nos primeiros dias de infecção em P. cubensis.

Palavras-chave:Physa sp. Lymnaea sp. Fasciola hepatica. Infecção experimental.

SUMMARY

The experimental infection of Physa cubensis Pfeiffer, 1839 was realized with three Fasciola hepatica miracidiae. One hundred snails were infected. Some groups were maintained up to the 60o. day post infection for the observation of the larval forms emergency. The snails, in the remaining groups, were immerged in Raillet & Henry 0,5; 1; 2; 3; 4; 5; 24; 48; 72; 96; 120 and 144 hours post infection. The experiment was realized comparatively with Lymnaea columella. The results demonstrated, at first days infection, esporocysts presence in the cephalopodal mass and mantle, however, in the last days it didn't get to identify any larval form, in P. cubensis.

Keywords:Physa sp. Lymnaea sp. F. hepatica. Experimental infection.

INTRODUÇÃO

A fasciolose causada por Fasciola hepatica é considerada uma zoonose com ampla distribuição geográfica, capaz de limitar a criação de diversas espécies de animais domésticos de interesse zootécnico, além de acometer o homem hospedeiro como ocasional.

Em todas as regiões endêmicas, as espécies do gênero Lymnaea são aceitas, quase por unanimidade, como hospedeiro intermediário de F. hepatica5. As exceções no hemisfério ocidental ficam por conta de Vigueira; Moreno, em Cuba10, Richards, em Porto Rico9 e Busseti, no Brasil2. Esses autores destacam a Physa cubensis como boa hospedeira intermediária de F. hepatica, registros discordantes dos resultados de De León, Ritchive e Chiriboga3; Morales Pino e Angelo7 e Luz, Vieira e Cezar5,6.

Com base nesses dados, e considerando os estudos sobre aspectos epidemiológicos da fasciolose hepática, realizaram-se investigações experimentais comparativas infectando exemplares de P. cubensis e L. columella com miracídios de F. hepatica.

MATERIAL E MÉTODO

Os moluscos foram coletados em campo e identificados segundo os registros de Paraense8. Depois de aclimatados, foram criados e mantidos em laboratório, em condições naturais de luz e temperatura. Os experimentos foram realizados com as gerações obtidas desses indivíduos. Para a realização dos experimentos, cem moluscos de cada espécie foram selecionados e separados em grupos de dez animais.

Os ovos de F. hepatica foram obtidos da bile de bovinos criados e beneficiados no município de Santa Vitória do Palmar–RS/Brasil. A bile obtida desses animais foi processada através da técnica de Quatro Tamises4 e, os ovos isolados foram colocados, em recipientes de vidro que continha água destilada. Posteriormente, esses recepientes foram envoltos em papel laminado, o que os mantinham protegido da luz. A incubação foi feita em câmara climatizadaa a Marca Fanem b Microscópio marca Carls Zeiss c Asa 100, marca Kodak d Moluscos com 6±1mm de comprimento de concha e valor modal 6mm e Moluscos com 5±1mm de comprimento de concha e valor modal 5mm a uma temperatura de 26±1 ºC.

Após quinze dias de incubação, os ovos foram expostos à luz de lâmpada incandescente de 60 watts, durante vinte minutos, aproximadamente para a eclosão dos miracídios.

Para realizar a infecção, os moluscos foram mantidos em recipientes individuais. Cada molusco foi exposto a três miracídios por um período de sessenta minutos, aproximadamente.

Posteriormente, cinco moluscos de cada grupo foram anestesiados com tionembutal após 0.5, 1, 2, 3, 4, 5, 24, 48, 72, 96, 120 e 144 horas de infecção e, tiveram suas conchas removidas cuidadosamente. Os moluscos restantes foram mantidos até o sexagésimo dia de infecção para a verificação da eliminação de cercárias. Posteriormente, foram imersos em solução fixadora Raillet & Henry. Após o material ter sido fixado, procedeu-se a rotina para os exames histológicos1. Os órgãos estudados foram: rim, glândula digestiva e gônadas.

As fotomicrografias foram feitas com microscopia de luzb a Marca Fanem b Microscópio marca Carls Zeiss c Asa 100, marca Kodak d Moluscos com 6±1mm de comprimento de concha e valor modal 6mm e Moluscos com 5±1mm de comprimento de concha e valor modal 5mm , utilizando filme coloridoc a Marca Fanem b Microscópio marca Carls Zeiss c Asa 100, marca Kodak d Moluscos com 6±1mm de comprimento de concha e valor modal 6mm e Moluscos com 5±1mm de comprimento de concha e valor modal 5mm .

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas tabelas 1 e 2 estão apresentadas as taxas de infecção de P. cubensis e L. columella com miracídios de F. hepatica. Os resultados demonstraram que houve infecção das duas espécies de moluscos utilizados durante o experimento. As taxas de infecção foram confirmadas através da histologia. Em L. columella, conseguiu-se acompanhar a infecção e o desenvolvimento das formas larvais até a fase de escape das cercárias do corpo do molusco. Estes registros contrastaram com os observados em P. cubensis, em que só pode ser observado a presença de esporocistos por ocasião da penetração da larva na região cefalopodal e na região do manto, estas observações puderam ser registradas até a quarta hora de infecção. Nesse período, também foi verificado o comprometimento da integridade tecidual do molusco. Estes resultados estão em concordância, em parte, com os de Luz, Vieira e Cezar6, já que os autores não registraram parasitismo por F. hepatica em 6392 exemplares de P. cubensis dissecados, nem nos analisados histologicamente. Neste caso, nos exemplares de P. cubensis, mantidos até sexagésimo dia de infecção, não houve liberação de cercárias, porém, através da histologia demonstraram-se evidências de infecção nas primeiras horas. Estes registros deixaram a indicação da possibilidade da espécie se infectar, contudo, sem evolução das fases larvais. Fato este que nos leva a discordar da afirmação feita por Vigueiras; Moreno10, Richards9 e Busseti2, os quais destacaram a Physa cubensis como hospedeira de F. hepatica.

Recebido para publicação: 08/06/2001

Aprovado para publicação: 19/03/2002

  • 1
    BEHMER, O.A., DE TOLOSA, E.M.C., DE FREITAS NETO, A.G.Manual de técnicas para histologia normal e patológica São Paulo: Ed. Edart, 1976. 257 p.
  • 2
    BUSSETI, E.T. Contribuição ao estudo da Fasciola hepatica no Estado do Paraná-Brasil. 1985.Tese (Professor Titular em Parasitologia Veterinária) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1985.
  • 3
    DE LEON, D.; RITCHIE, L.; CHIRIBOGA, J. Refractiveness of Physa cubensis Pfeiffer and Aplexa marmorata Guildind to Fasciola hepatica L. Journal Agricultural University Puerto Rico, v.55, p.267-270, 1971.
  • 4
    GIRÃO, E. S.; UENO, H. Técnica de Quatro tamises para o diagnóstico coprológico quantitativo da fasciolose dos ruminantes. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.20, n.8, p.905-912, 1985.
  • 5
    LUZ, E.; SILVANA, M.C.; DINIZ, J.M.F.; LEITE, L.C.; KOZEMJAKIN, D.A.; WERKA, L. Infecção Experimental de Lymnaea columella, Physa cubensis e Physa marmorata com miracídios de Fasciola hepatica, provenientes de gado das regiões metropolitana de Curitiba e do litoral Paranaense, Brasil. Arquivos de Biologia e Tecnologia, v. 39, n. 2, p. 401-403, 1996.
  • 6
    LUZ, E.; VIEIRA, A.M.; CEZAR,T.C.P. Aspectos biológicos de Lymnaea columella, Say, 1817, Physa cubensis Pfeiffer, 1839 e Physa marmorata Guilding, 1828 (Mollusca-Pulmonata) no Primeiro Planalto e Litoral Parananese. Arquivos Biologia Tecnológicos Paraná, v. 37, n.3, p. 667-671, 1994.
  • 7
    MORALES, G.; PINO, L.; ANGULO, N. Resistencia de Physa cubensis a la infección com Fasciola hepatica. Revista Facultad Ciencias. Veterinarias, v.34, n.1-4, p. 43-55, 1987.
  • 8
    PARAENSE, W.L. Lymnaea columella in Northen Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 78, n. 4, p. 477-482, 1983.
  • 9
    RICHARDS, C.S. Studies on Puerto Rican Physidae. Public Health Rep., v. 79, n. 11, p. 25-29, 1964.
  • 10
    VIGUEIRA, I.; MORENO, A. Physa cubensis (Mollusca). Un nuevo hospedero intermediario de Fasciola hepatica (Trematoda). Memorias. de la Sociedad Cubana de Historia Natural Felipe Poey, v. 12, p. 74, 1938.
  • Endereço para correspondência
    Edwin Pile
    Núcleo de Biologia e Controle de Endo e Ectoparasitos de Interesse Médico e Veterinário Departamento de Biologia/IOC/FIOCRUZAv. Brasil, 4365
    21045-900 – Rio de Janeiro - RJ
    E-mail:
  • a
    Marca Fanem
    b
    Microscópio marca Carls Zeiss
    c
    Asa 100, marca Kodak
    d Moluscos com 6±1mm de comprimento de concha e valor modal 6mm
    e Moluscos com 5±1mm de comprimento de concha e valor modal 5mm
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Jun 2003
    • Data do Fascículo
      2002

    Histórico

    • Aceito
      19 Mar 2002
    • Recebido
      08 Jun 2001
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