Acessibilidade / Reportar erro

Tumor odontogênico epitelial calcificante da maxila

RELATO DE CASO

Tumor odontogênico epitelial calcificante da maxila

George João Ferreira do NascimentoI; Karuza Maria Alves PereiraI; Cassiano Francisco Weege NonakaI; Ana Miryam Costa de MedeirosII; Hébel Cavalcanti GalvãoIII

IMestre. Aluno de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral da UFRN. Universidade Federal do Rio Grande do Norte

IIDoutora em Patologia Oral. Professora Doutora da Disciplina de Diagnóstico Oral da UFRN. Universidade Federal do Rio Grande do Norte

IIIDoutora em Patologia Oral. Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral da UFRN. Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Endereço para correspondência

Palavras-chave: neoplasias maxilares, neoplasias maxilo-mandibulares, tumores odontogênicos.

INTRODUÇÃO

O tumor odontogênico epitelial calcificante (TOEC) é uma neoplasia benigna rara, representando apenas 0,6 % a 1,7 % de todos os tumores odontogênicos1-4. A maioria dos casos afeta a região posterior da mandíbula, com poucos casos reportados em maxila3. Apesar do comportamento biológico relativamente indolente, as lesões em maxila tendem a crescer rapidamente e não exibir circunscrição1. O tratamento para o TOEC consiste na remoção cirúrgica e pode variar de intervenção conservadora à ressecção mais agressiva4,5. Uma taxa de recorrência local de 14% é relatada e o prognóstico é considerado bom1-3.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo masculino, 35 anos, procurou atendimento na Disciplina de Diagnóstico Oral exibindo aumento de volume na região maxilar esquerda. À inspeção intra-oral, constatou-se massa nodular (8,0 x 5,0cm), localizada em gengiva vestibular maxilar esquerda, estendendo-se da região de incisivo lateral ao segundo molar (Figura 1a), com consistência mole e superfície lobular.



O paciente relatou evolução clínicade apenas 6 meses para a lesão. Os exames radiográficos revelaram área radiolúcida, com bordos indistintos, associada a depósitos radiopacos centrais (Figura 1b). Expansão e reabsorção da cortical óssea vestibular maxilar também foram evidentes. Em face aos achados clínicos e radiográficos, foram propostas as hipóteses diagnósticas de cisto odontogênico calcificante e TOEC.

Procedeu-se biópsia incisional e o espécime obtido foi enviado ao Laboratório de Patologia Oral. A análise histopatológica revelou ilhas e cordões de células epiteliais odontogênicas poliédricas, com pleomorfismo celular epontes intercelulares proeminentes (Figura 1c), grande quantidade de material extracelular amilóide-like e ocasional formação de calcificações lamelares concêntricas (anéis de Liesegang) (Figura 1d), característicos do tumor de Pindborg.

Procedeu-se à ressecção cirúrgica, incluindo porção marginal de osso aparentemente saudável. Após um ano de proservação, não há evidências de recorrência.

DISCUSSÃO

O TOEC é uma neoplasia odontogênica epitelial benigna rara, com prevalência que varia entre 0,6% a 1,7% de todos os tumores odontogênicos1-4. O presente relatoacresce ao pequeno número de casos de tumores de Pindborg localizados em maxila, visto que mais de 2/3 dos casos de TOEC são descritos em região posterior demandíbula1-5.

Duas características microscópicas marcantes foram identificadas no presente caso: grande deposição de material amilóide-like e; escassa deposição mineral, com inconspícuos anéis de Liesegang. Apesar da escassez de material mineralizado no estroma tumoral, o presente caso não pode ser classificado nas raras variantes não-mineralizadas do tumor de Pindborg5,6. Adicionalmente, a relativa ausência de áreas de mineralização é um aspecto descrito como característico às variantes periféricas de TOEC1,2.

O tratamento para o TOEC consiste em remoção cirúrgica, incluindo porção marginal de osso aparentemente saudável. Sugere-se um período mínimo de proservação de cinco anos1,3. Os casos de TOEC localizados em maxila podem ser tratados com intervenção cirúrgica mais agressiva, já que, nesta localização anatômica, estes tumores tendem a crescer mais rapidamente e não revelam circunscrição1.

Apesar da extensão considerável e a evolução clínica relativamente rápida, fatos que concordam com o comportamento biológico distintodeste tumor quando localizado em maxila1, o presente caso foi submetido à remoção cirúrgica conservadora, incluindo porção marginal óssea não-comprometida. Após um ano sem indícios de recorrência, o paciente continua sob proservação, em virtude da possibilidade de recidiva, especialmente dentro dos cinco primeiros anos após intervenção cirúrgica.

COMENTÁRIOS FINAIS

O TOEC é um tumor odontogênico epitelial raro que apresenta marcante predileção pela mandíbula, com poucos casos descritos em maxila. Neste sítio anatômico, o TOEC tende a crescer mais rapidamente e não revela circunscrição, sugerindo-se intervenção cirúrgica mais agressiva no tratamento destes casos em particular.

Um dos achados característicos das formas intra-ósseas de TOEC é a presença de mineralizações, comumente sob a forma de anéis de Liesegang, com as formas extraósseas geralmente não revelando tais depósitos. A escassez de depósitos mineralizados aliada à localização em maxila enfatiza a particularidade do caso ora apresentado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • 1.Philipsen HP, Reichart PA. Calcifying epithelial odontogenic tumor: biological profile based on 181 cases from the literature. Oral Oncol. 2000;36(1):17-26.
  • 2.Takata T, Slootweg PJ. Calcifying epithelial odontogenic tumour. In: Barnes L, Eveson JW, Reichart P, Sidransky D. Editors. Pathology and Genetics - Head and Neck Tumours. Lyon: IARCPress; 2005. p.302-3.
  • 3.Patiño B, Fernández-Alba J, Garcia-Rozado A, Martin R, López-Cedrún JL, Sanromán B. Calcifying epithelial odontogenic (Pindborg) tumor: a series of 4 distinctive cases and a review of the literature. J Oral Maxillofac Surg. 2005;63(9):1361-8.
  • 4.Simon ENM, Merkx MAW, Vuhahula E, Ngassapa D, Stoelinga PJW. A 4-year prospective study on epidemiology and clinicopathological presentation of odontogenic tumors in Tanzania. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2005;99(5):598-602.
  • 5.Orsini G, Favia G, Piatelli A. Peripheral clear cell calcifying epithelial odontogenic tumor: report of a case. J Periodontol. 2000;71(7):1177-80.
  • 6.Takata T, Ogawa I, Miyauchi M, Ijuhin N, Nikai H, Fujita M. Non-calcifying Pindborg tumor with Langerhans cells. J Oral Pathol Med. 1993;22(8):378-83.
  • Address for correspondence:

    Profa. Dra. Hébel Cavalcanti Galvão
    Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Departamento de Odontologia
    Programa de Pos-Graduaçao em Patologia Oral
    Av. Senador Salgado Filho 1787 Lagoa Nova
    Natal RN Brazil 59056-000
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Jul 2009
    • Data do Fascículo
      Jun 2009
    Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Sede da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial, Av. Indianópolia, 1287, 04063-002 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (0xx11) 5053-7500, Fax: (0xx11) 5053-7512 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revista@aborlccf.org.br