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Poesia e divulgação científica sobre e sob quarentena. A quarentena poética da Academia Brasileira de Literatura de Cordel

RESUMO

Este trabalho analisou a produção poética de um evento cultural virtual ocorrido durante a pandemia de covid-19 no Brasil em 2020. Neste artigo, apresentamos os dados da análise da campanha da Academia Brasileira de Literatura de Cordel chamada “Quarentena Poética da ABLC”, iniciada em abril de 2020, por ocasião da implementação das medidas de isolamento social. Através de ferramentas metodológicas da teoria semiolinguística de Patrick Charaudeau, investigamos como temas científicos e representações da ciência surgem nos pequenos cordéis do corpo de pesquisa. Em nossos resultados, percebemos a diversidade de autores nesta campanha e identificamos em seus projetos de fala as estratégias e organizações discursivas por eles mobilizadas. Concluímos que estas representações surgem ao lado de manifestações que relatam as experiências subjetivas dos cordelistas, entremeadas de visões conflitantes que refletem e refratam a natureza polêmica da ciência.

PALAVRAS-CHAVE:
Divulgação científica; Poesia; Cordel; Pandemia; Covid-19

ABSTRACT

This paper analyzed the poetic production of a cultural event that took place during the covid-19 pandemic in Brazil in 2020. In this article, we present the data from the analysis of the campaign of the Brazilian Academy of Cordel Literature called “Poetic Quarantine” that started in April 2020 due to the implemented social isolation measures. Using methodological tools from Patrick Charaudeau’s semiolinguistic theory, we investigate how scientific themes and representations of science emerge in the small works of cordel of the research corpus. In our results, we noticed the diversity of authors in this campaign and identified in their speech will the strategies and discursive organizations mobilized by them. We concluded that these representations appear alongside manifestations that describe the subjective experiences of the authors of the works of cordel, interspersed with conflicting views, which reflect and refract the controversial nature of science.

KEYWORDS:
Popularization of science; Poetry; Cordel ; Pandemic; Covid-19

Janelas e covas

A pandemia de covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, é um momento histórico da humanidade, a pior crise da saúde em nível mundial nos últimos cem anos. Nas palavras de Dina Czeresnia (2020)CZERESNIA, D. Covid-19 é parte da história cultural. In: O Globo, 19 de abril de 2020 (original). Disponível em: https://agencia.fiocruz.br/covid-19-e-parte-da-historia-cultural. Acesso em: 5 jun. 2020.
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, esta pandemia já faz parte da história cultural, brasileira e mundial.

“Temas pandêmicos” invadiram e tomaram de maneira contundente os noticiários e redes sociais, envolveram assuntos científicos, políticos, econômicos, ideológicos e polêmicos. Aprendemos a empregar rapidamente palavras novas nos diálogos mais triviais, novos significados foram construídos para palavras e conceitos antigos. Em uma frase: a pandemia do covid-19 entrou na nossa língua assim como em nossas vidas.

Corte brusco. Duas janelas em um prédio de Portugal, na cidade do Porto. Duas mulheres em quarentena, duas vizinhas que se comunicam entre si através de cartões com poemas colados em suas janelas: “Ainda não aprendi o futuro / verão que só chega no próximo ano / na florida varanda que não cheira a primavera”; “Os abraços soprarão / a dor para longe/ o toque, os beijos/ o afecto tão em falta/ inundam corações abertos/ amanhã, é quase amanhã” (RIBEIRO; NEIVA, 2020RIBEIRO, R.; NEIVA, A. No Porto, duas estranhas escrevem um poema à janela — e tornam-se vizinhas. In: O Público, 3 mai. 2020. Disponível em: https://www.publico.pt/2020/05/03/p3/reportagem/porto-duas-estranhas-escrevem-poema-janela-tornamse-vizinhas-1914291. Acesso em: 23 mai. 2020.
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)1 1 História do poema: https://www.publico.pt/2020/05/03/p3/reportagem/porto-duas-estranhas-escrevem-poema-janela-tornamse-vizinhas-1914291. Acesso em: 23 mai. 2020. .

Até onde penetrou a pandemia nas nossas relações e no uso da nossa linguagem?

Em isolamento social, foi através das janelas de nossas casas que vimos um mundo novo passar, ruas ainda quase sem pessoas. Em 2020, as janelas que deram as notícias deste mundo foram as das páginas da internet, das redes sociais. A casual conversa à janela de nossas casas, ou mesmo nas esquinas de nossas ruas, vem sendo realizada virtualmente; os rostos familiares aparecem em janelinhas iluminadas, a conversa é quase instantânea, dando-se a entender, ou pelo menos buscando assim fazer, que tudo o mais vai bem, que na segurança do distanciamento social a vida segue, apesar de tantas mortes. Aqui estamos bem, mas com medo. Sorrimos sim, choramos sim, vamos nos unindo, nos cuidando. Alguns não têm outro remédio senão escrever até isso passar. Vai passar, sim, passará.

Neste cenário pandêmico, pudemos acompanhar e capturar em tempo real os caminhos concretos da ciência e os papéis que ela representa nestes momentos. Muito ao contrário que caminhar para a frente e progressivamente, para um estado do conhecimento positivamente sempre maior, melhor e mais completo, a ciência acontece no tempo e no espaço, tem história, nasce em meio às disputas de diversas ordens. Suas vozes e seus atores estão, sempre, em profunda relação de alinhamento ou crítica às ideologias dominantes e em conflito, fomentando polêmicas científicas2 2 Seguimos a taxonomia pragmática de Marcelo Dascal (1994), que identifica a polêmica científica como um gênero discursivo pertencente aos discursos polêmicos e que a subdivide em discussão, disputa e controvérsia. Assim, com “polêmicas científicas”, estaremos a nos referir ao conjunto de produção de discursos conflitantes presentes na história e na contemporaneidade da ciência. . Uma corrida mobilizou a comunidade científica nacional e internacional no entendimento e combate da pandemia, com um grande foco de investigações, o que se expressou numa enxurrada de publicações científicas nos últimos meses.

Mas nem a quantidade de produções científicas, tipicamente grande em períodos de epidemias e pandemias (KAGAN; MORAN-GILAD; FIRE, 2020KAGAN, D.; MORAN-GILAD, J.; FIRE, M. Scientometric Trends for Coronaviruses and Other Emerging Viral Infections. GigaScience, v. 9, n. 8, ago. 2020. Disponível em: https://academic.oup.com/gigascience/article/9/8/giaa085/5891952 Acesso em: 30 jun. 2020.
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), ou a presença massiva de temas científicos popularizados nos diálogos cotidianos e/ou midiatizados deram conta de sustentar um consenso efetivo sobre o vírus. Apesar de uma atividade vigorosa, a ciência não produziu respostas à rapidez do contágio e da transmissão: a única informação uníssona que cientistas, instituições de pesquisa e órgãos governamentais tiveram a indicar para a população foi a necessidade do isolamento social (o distanciamento, a quarentena, o confinamento). Não obstante, estas medidas de controle da pandemia não são novidade, há muito são conhecidas em nossa história no combate a outras pandemias (HUREMOVIC, 2019HUREMOVIC, D. Brief History of Pandemics (Pandemics Throughout History). Psychiatry of Pandemics, pp.7-35, 16 de maio de 2019. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7123574/. Acessado em: 20 jul. de 2020.
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), tanto em suas justificativas sanitárias e científicas, como em seus impactos sociais.

Nesta perspectiva, o conhecimento científico produzido neste período não se “cristalizou” às vistas do público em novidades tecnológicas no combate à pandemia. Vacinas e tratamentos eficazes que trazem expectativa de cura não surgem espontaneamente como mercadorias nas farmácias ou na agulha do profissional da saúde. A ciência avança, mas a percepção de tempo se contrai, os efeitos e os resultados positivos não são “descobertos”, o número de mortos e infectados aumenta e a população se vê duplamente afastada do processo científico: não participa deste movimentado programa científico pandêmico e não recebe “notificações” em seu dia a dia dos seus resultados. Isolamento não cura. Outras coisas devem ser usadas como remédio...

Há alguns agravantes na condição pandêmica da população em relação à sua representação da ciência. Em tempos de emergência do negacionismo, as controvérsias são científicas e anticientíficas. Isto é, a polêmica não é somente na construção científica de conceitos, consensos, teorias e tecnologias, e sim também contra a própria construção do conhecimento científico. Deste modo, a disputa vira diatribe contra a ciência. Discussões científicas (e anticientíficas) arrulhentas, que, muito embora sejam constitutivas do processo e da natureza da ciência (MAGALHÃES, 2018MAGALHÃES, G. Por uma dialética das controvérsias: o fim do modelo positivista na história das ciências. Estudos Avançados, v. 32, n. 94, p.345-361, set./dez. 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/msgB4Zgtj7YSB9rN7RMzgFD/?lang=pt. Acesso em 16-09-2021.
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), podem impactar sensivelmente a visão pública da ciência, desorientar a tomada de decisões de políticas públicas e também o comportamento social da população.

Desta maneira, não deverá ser estranho que temas científicos façam parte das conversas cotidianas, das interações à distância durante o isolamento. A pandemia invadiu os diálogos mais comuns; seus temas, suas novas palavras ascenderam dos gêneros discursivos primários, propagaram-se e perturbaram os estilos de gêneros mais elaborados. É preciso falar da pandemia!

Esta força conjuntural da pandemia materializa-se no tecido social em quase todas as atividades humanas. E é aqui que nosso estudo se formula. À pergunta feita mais acima, “até onde penetrou a pandemia nas nossas relações e no uso da nossa linguagem?”, lançamos um olhar poético e reformulamo-la com uma pergunta mais objetiva: como temas científicos e representações da ciência aparecem em poemas produzidos durante a quarentena e sobre a pandemia de covid-19? Embasa-nos esta questão uma premissa assertiva: temas diversos poderão aparecer em poemas e outras linguagens literárias, pois é a língua que as alimenta, formando uma “parceria inquestionável” (CITELLI, 2011CITELLI, A. Literatura e outras linguagens. Sobre diálogos discursivos. Bakhtiniana, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 285-291, ago./dez. 2011. (Resenha). BRAIT, Beth. Literatura e outras linguagens. São Paulo: Contexto, 2010, p.240. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bak/a/VqtsVyGvhGsxK9XR9smXr4N/?lang=pt Acesso em 16-09-2021.
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).

Corte. Em tempo: “só mil te diz o jornal / mas ali não te diz do João. / mil pode ser muito pouco / pois mil não tem rosto, / nem mesmo tem emoção/ mas João era amigo, / era amado, era irmão”.

1 “O poeta e suas loas”3 3 Trecho do cordel de Everardo Sena (ABLC, 2020). : a questão mora na poesia

É preciso apresentar a origem e motivação deste trabalho. Primeiro, dizer que este estudo foi produzido em uma disciplina de Introdução à Divulgação Científica, no primeiro semestre de 2020, oferecida pela Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz e pelo Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz, cuja turma e professoras se viram - presencialmente - apenas uma única vez antes das medidas de isolamento social serem implementadas. Todas as aulas transcorreram em ambiente virtual e síncrono. Mesmo sendo uma novidade emergencial, os encontros possibilitaram trocas profícuas entre todos e todas em torno, e através, de debates e leituras em diversos temas, metodologias e concepções de divulgação científica e de sua história enquanto campo prático e teórico.

Meados de abril, dia 13, lemos em uma rede social o poema de um amigo (MICHELUTTI)4 4 Trata-se do poema de Leonardo Michelutti, ao qual o trecho citado na seção anterior pertence. . Nele, o pessimismo, as mortes, os números que começavam a disparar. As imagens das covas e valas comuns, das “mortestatísticas”, reverberaram introspectivamente. Este poema se encontrava com outros lidos nas semanas anteriores, no decorrer das primeiras semanas de quarentena. Vozes em eco, refletindo e refratando imagens e representações comuns em meio a diferentes relatos e vivências de seus autores e autoras, falando de muitas coisas, além da pandemia.

Pareceu-nos, então, oportuno lançar uma investida sobre esta ideia: o que poderia revelar uma análise destas representações? Levantamos uma primeira hipótese: certos enunciados apareceriam nos poemas, uma vez que os poetas tentariam comunicar o seu entendimento da própria pandemia, da quarentena, da doença, do vírus, do processo de descoberta/fabricação de vacinas e tratamentos… e de temas científicos, sobretudo os polêmicos. Portanto, seguindo esta linha de pensamento, os poemas poderiam ser objetivados enquanto um material de divulgação científica em potencial, para fins práticos ou estudos teóricos.

2 Divulgação científica e poesia

Fizemos nossa pergunta de investigação à produção poética produzida pela ocasião da Quarentena Poética da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), que começou em abril de 20205 5 Até a submissão deste trabalho, a Quarentena Poética da ABLC ainda estava ocorrendo oficialmente, apesar de não haver novas publicações desde a época da coleta apresentada neste artigo. .

Este evento foi completamente realizado à distância, através de redes sociais.

2.1 Literatura de cordel e o movimento Novo Cordel

A nossa porta de entrada foram os cordéis, terreno mais conhecido em termos das relações entre divulgação científica e poesia. A literatura de cordel é uma poesia tradicional dos estados da região Nordeste do país. É uma tradição antiga, cujas origens remontam ao trovadorismo português do final da Idade Média, e que chegou ao Brasil no século XIX, ganhando aqui novas características (ASSIS; TENORIO, CALLEGARO, 2012ASSIS, R. A; TENORIO, C. M.; CALLEGARO, T. Literatura de cordel como fonte de informação. CRB-8 Digital, São Paulo, v. 5, n. 1, p.3-21, jan. 2012. Disponível em: http://revista.crb8.org.br/index.php/crb8digital/article/viewFile/66/68 Acesso em: 02 jul. 2020.
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), como estrutura e linguagem típicas (ALMEIDA; MASSARANI; MOREIRA, 2016ALMEIDA, C.; MASSARANI, L.; MOREIRA, I. C. Representações da ciência e da tecnologia na literatura de cordel. Bakhtiniana, São Paulo, v. 11, n. 3, p.5-25, set./dez. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bak/a/smgG7VksTtn7x3QDXcbKWbb/abstract/?lang=pt Acesso em 16-09-2021.
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).

Expressão cuja concepção comunicativa é a escrita impressa e leitura oral, a literatura de cordel cumpriu papel fundamental na alfabetização da população nordestina, sendo lida, cantada ou recitada em espaços públicos, abordando uma infinidade de temas, desde fantasiosos, aos noticiosos e científicos. Nas palavras do cordelista Tião Simpatia, o cordel era o “jornal do sertão” (SIMPATIA, 2020SIMPATIA, T. Cordel na Rede - 4ª edição (Cordel do Coronavírus), 2020. Vídeo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=J0wK79tYS-I. Acesso em: 15 jun. 2020.
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).

Os tempos dos cordéis, poder-se-ia pensar, passaram. São materiais impressos, com baixa tiragem, veiculados em espaços culturais restritos, abordando temas que não transcenderiam limites regionais... Todavia, em um movimento de resistência cultural, como apontam Farias e Alves (2009)FARIAS, A. S.; ALVES, J. H. Literatura de Cordel: novos temas, novos leitores. In: VI Congresso de Iniciação Científica da UFCG, 6, 2009, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande, Universidade Federal de Campina Grande, 2009. Disponível em: http://pesquisa.ufcg.edu.br/anais/2009/ch/index.html. Acesso em: 15 set. 2021.
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, a literatura de cordel persiste, trazendo à cena novos temas e novos leitores, inclusive buscando espaço na internet através de blogs e redes sociais para sua disseminação. As concepções temáticas e a escolha de determinados conteúdos conferiram à literatura de cordel novas possibilidades de uso e de pesquisa, como por exemplo em ensino de ciências e divulgação científica. A este movimento, de resgate e representatividade do cordel, alguns autores têm chamado “O Novo Cordel” (FARIAS; ALVES, 2009FARIAS, A. S.; ALVES, J. H. Literatura de Cordel: novos temas, novos leitores. In: VI Congresso de Iniciação Científica da UFCG, 6, 2009, Campina Grande. Anais [...]. Campina Grande, Universidade Federal de Campina Grande, 2009. Disponível em: http://pesquisa.ufcg.edu.br/anais/2009/ch/index.html. Acesso em: 15 set. 2021.
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; MONTEIRO, 2012MONTEIRO, M. Pedro Américo: O gênio de Areia. 3.ed. Campina Grande: Projeto Paraíba, Sim Senhor!, 2012.).

Lima (2013)LIMA, J. M. Literatura de cordel e ensino de física: uma aproximação para a popularização da ciência, 2013. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2013. lembra-nos que, dentro do movimento Novo Cordel, pode ser identificado um subgênero intitulado “Cordel Científico”, cujas temáticas são questões científicas, vida e obra de cientistas, representações da ciência, da tecnologia, motes relacionados à saúde, questões éticas envolvendo a ciência, temas socioambientais, entre outros (MOREIRA; MASSARANI; ALMEIDA, 2005MOREIRA, I. C.; MASSARANI, L.; ALMEIDA, C. (orgs.). Cordel e a ciência: A ciência em versos populares. Rio de Janeiro-RJ: Vieira & Lent: Fio Cruz, 2005.).

3 O corpo da pesquisa: A Quarentena Poética da ABLC

A Academia Brasileira de Literatura de Cordel lançou uma campanha em abril de 2020, chamada “Quarentena Poética da ABLC”, com o objetivo de

[...] tornar os dias de quarentena menos difíceis. Essa iniciativa tem como objetivo principal, falar sobre a quarentena dos milhões de brasileiros em forma de poesia, o que torna a rotina mais interessante e desta forma ajudaremos a divulgar o trabalho de diversos cordelistas e poetas brasileiros! (ABLC, 2020).

Esta campanha, totalmente realizada em ambiente digital, feita para “divulgar versos relacionados ao atual problema global, covid-19 ou coronavírus”, recebeu contribuições de várias cidades em diferentes estados do país, de pessoas de idades diversas, e foi divulgada em todos os meios de comunicação da Academia.

Analisamos todas as produções disponíveis nos endereços da ABLC no contexto da Quarentena Poética, um total de 59 poemas, em sua maioria pequenos cordéis. Os dados apresentados até o presente6 6 31 de outubro de 2020. A campanha foi iniciada no dia 11 de abril de 2020. foram buscados nos sítios da ABLC, uma vez por semana, durante todo o período. A maioria dos cordéis não tem data, mas sabemos que foram publicados cada um em seu tempo dentro do período analisado (não tivemos nenhum compromisso com datas exatas). Na chamada desta campanha, a própria ABLC anunciou que o envio e a publicação de poemas poderiam ser feitos a todo momento pela página principal e redes sociais.

Uma característica importante destes cordéis é seu tamanho e estrutura. São curtos em sua maioria, configurando-se mais enquanto unidades de um cordel (SILVA, 2007SILVA, J. C. Literatura de Cordel: um fazer popular a caminho da sala de aula. 2007. Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2007.), como a sextilha, a setilha e a décima.

Para delinear a metodologia, partimos da abordagem utilizada em Almeida, Massarani e Moreira (2016)ALMEIDA, C.; MASSARANI, L.; MOREIRA, I. C. Representações da ciência e da tecnologia na literatura de cordel. Bakhtiniana, São Paulo, v. 11, n. 3, p.5-25, set./dez. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bak/a/smgG7VksTtn7x3QDXcbKWbb/abstract/?lang=pt Acesso em 16-09-2021.
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para a análise de cordéis, baseada na teoria semiolinguística de Patrick Charaudeau (CHARAUDEAU, 1992CHARAUDEAU, P. Grammaire du sens et de l’expression. Paris: Hachette Livre, 1992.; CHARAUDEAU, 2008CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: modos de organização. Organização Aparecida Lino Paulikonis e Ida Lúcia Machado, tradução Angela M.S. Corrêa e Ida Lúcia Machado. São Paulo: Contexto, 2008.; SOUZA, 2016SOUZA, A. E. Linguagem e discurso: modos de organização. Alfa, São Paulo, v. 60, n. 3, p. 611-615, 2016. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/view/7903. Acesso em 16-09-2021.
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; ALMEIDA; MASSARANI; MOREIRA, 2016ALMEIDA, C.; MASSARANI, L.; MOREIRA, I. C. Representações da ciência e da tecnologia na literatura de cordel. Bakhtiniana, São Paulo, v. 11, n. 3, p.5-25, set./dez. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bak/a/smgG7VksTtn7x3QDXcbKWbb/abstract/?lang=pt Acesso em 16-09-2021.
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). Pretendemos analisar os projetos de fala dos cordelistas, usando as ferramentas de sua teoria, as quais evidenciam as estratégias e dispositivos do discurso por eles mobilizados.

Além disso, extraímos informações autorais que pudessem influenciar os resultados ou a discussão dos dados. Por isso, iniciamos coletando na página principal da ABLC os nomes dos/as autores/as, idade aparente, gênero, cidade/região, profissão.

Em seguida, para evidenciar os temas e subtemas, optamos por construir uma nuvem de palavras orientada por critérios de exclusão (PRAIS; ROSA, 2017PRAIS, J. L. S.; ROSA, V. F. Nuvem de palavras e mapa conceitual: estratégias e recursos tecnológicos na prática pedagógica. Nuances: estudos sobre Educação, Presidente Prudente-SP, v. 28, n. 1, p.201-219, jan./abr. 2017. Disponível em: https://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/4833. Acesso em: 15 set. 2021.
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). Essa escolha metodológica surgiu como factível e coerente com nossos objetivos substancialmente porque os cordéis são pequenos, de modo que a presença de certas palavras e expressões poderiam indicar por si só o tema e/ou um subtema de cada cordel. Os critérios de exclusão buscaram retirar do “radar” da nuvem de palavras os termos sem nenhuma atribuição de sentido imediatamente ligado ao contexto da quarentena e da pandemia.

A teoria semiolinguística de Charaudeau (2008)CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: modos de organização. Organização Aparecida Lino Paulikonis e Ida Lúcia Machado, tradução Angela M.S. Corrêa e Ida Lúcia Machado. São Paulo: Contexto, 2008. forneceu instrumentos para a análise dos projetos de fala dos cordelistas que estão diante de uma temática e um excedente de visão bem definidos: a pandemia do covid-19. Os cordéis que compõem nosso corpo de pesquisa foram escritos sobre - e sob - a quarentena e o isolamento social. As ferramentas desta teoria possibilitaram analisar o discurso e os seus modos de organização, identificando os temas e subtemas presentes e os diferentes métodos de abordá-los.

As estratégias discursivas dos cordelistas serão analisadas a partir da “legitimidade (poder dizer), credibilidade (saber dizer) e captação (convencer pela razão ou pela emoção)” e “da organização enunciativa de seus discursos (alocutiva, elocutiva e delocutiva)” (ALMEIDA; MASSARANI; MOREIRA, 2016ALMEIDA, C.; MASSARANI, L.; MOREIRA, I. C. Representações da ciência e da tecnologia na literatura de cordel. Bakhtiniana, São Paulo, v. 11, n. 3, p.5-25, set./dez. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bak/a/smgG7VksTtn7x3QDXcbKWbb/abstract/?lang=pt Acesso em 16-09-2021.
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, p.10). Quanto ao modo de organização discursiva, analisamos os dispositivos descritivos, como a nomeação, a localização e qualificação, e narrativos, como a marcação dos sujeitos e seus papéis em relação à temática.

4 Resultados

4.1 Dados autorais

A exposição virtual destas produções contou com fotos e informações de quase todos os autores. Por conseguinte, foi possível fazer a análise autoral.

Do total de 59 cordéis, 3 autores contribuíram com dois cordéis cada, resultando assim em 56 diferentes cordelistas. Fizemos um recorte de gênero e notamos que 15 eram mulheres e 41 homens; as idades não são informadas por todos, porém, com as fotos disponíveis, foi possível perceber a presença maior de pessoas mais velhas, com idade aparente acima dos 50 anos. Não obstante, um certo número de autores aparentam ser jovens adultos com menos de 30 anos e alguns na faixa etária infanto-juvenil, sendo uma autora de apenas 10 anos uma das que tiveram dois cordéis publicados. Percebemos que esta maioria constituída por pessoas mais velhas pode demonstrar a tradicionalidade da literatura de cordel; por outro lado, a presença de jovens entre os autores demonstra os “novos leitores e novos autores” que Monteiro (2012)MONTEIRO, M. Pedro Américo: O gênio de Areia. 3.ed. Campina Grande: Projeto Paraíba, Sim Senhor!, 2012. defende como característica do movimento “Novo Cordel”.

Quando analisamos as cidades e regiões, percebemos uma maior representatividade dos estados da Região Nordeste do país, com 25 autores, de todos os nove estados, em seguida da Região Sudeste, com 21 autores, e da Região Norte, com 3 autores. Apesar da maioria ser de origem nordestina, o que pode marcar a força cultural do cordel para essa população, observamos que o estado com maior número de cordelistas é o Rio de Janeiro, com 16 autores. Aventamos a possibilidade de que tal expressividade se deva ao fato de a ABLC ter sua sede na cidade do Rio de Janeiro, de seus acadêmicos, em sua maioria, morarem na cidade, assim como suas atividades públicas estarem nela concentradas.

Um dado importante que emergiu desta análise autoral foi o leque de profissões dos cordelistas, quando indicadas. Além dos acadêmicos da ABLC, percebemos a presença de professores, educadores, poetas, músicos, empresários e estudantes, mostrando o alcance desta Quarentena Poética.

4.2 Palavras temáticas

A nuvem de palavras criada pelo sítio Wordclouds.com passou por um processo de exclusão de palavras. Foram retirados artigos, interjeições, pronomes e verbos, de modo que, em essência, ficassem apenas substantivos (nomes) e adjetivos (qualidade dos nomes). Desta feita, nossa nuvem de palavras ficou assim (Figura 1):

Figura 1
Nuvem de palavras.

Legenda: Nuvem de palavra, realizada através do sítio wordclouds.com


Em nossa análise, a partir desta nuvem de palavras, os temas e subtemas pandêmicos mais presentes são: o vírus, a doença, o contexto da pandemia, a origem do vírus, as medidas de isolamento, as prevenção e transmissão e as expressões de fé.

O cordel, em sua linguagem e estilo próprios, é permeado por temáticas religiosas (SOBRINHO, 2013). Pode parecer, então, inadequado apresentar a expressão de fé como um tema ou subtema. Não obstante, os pequenos cordéis da Quarentena Poética da ABLC, como dissemos, não possuem muitos subtemas ligados aos temas principais. O cordel de Antonio de Gusmão (s/d) é um exemplo em que expressões de fé dominam o projeto temático do autor, mesmo que haja menção ao vírus e à doença:

Eu queria meu bom Deus / Que mandasse muitas luzes / Pra esses pobres filhos teus / Evitar que tantas cruzes / Se mudem pro beleléu / Pois tem gente safadona / Um bom tema pra cordel / Foi esse tal de corona / Mande embora essa doença / Salve qualquer desse irmão / Que mesmo não tendo crença / Precisa ganhar o pão / Mande que São Ezequiel / Que não sabendo ele clona / Um bom tema pra cordel / Foi esse tal de corona (ABLC, 2020).

4.3 Estratégias discursivas

As marcas da busca pela legitimidade dos projetos de fala acompanham recomendações de prevenção de contágio e transmissão, fazendo ou não referência à ciência. Os cordelistas relatam suas próprias vidas, trazem suas impressões e vivências da pandemia. Seus discursos se tornam legítimos porque não refletem a vida de outros apenas, mas também a de si mesmos durante a quarentena, que foi vivida por todos. Assim, é o que vemos no cordel de Silva Filho (s/d): Um vírus mortal e imundo / Provocou essa pandemia / Que tem a profilaxia / Do isolamento profundo / É visto por todo o mundo / Pobre e rico perecer / A morte prevalecer / Causando calamidade / Que triste realidade / Pode nos acontecer.

O discurso da credibilidade surge com demonstrações de conhecimento do problema (origens e diferentes nomes atribuídos ao vírus), porém com alguns erros conceituais e permeado por expressões de fé, como podemos ver no cordel de Nascimento (s/d): Ele começou na China / Para o mundo se espalhou / Na Europa ele chegou / Sem avisar contamina / Muitas vidas elimina / Na Itália se instalou / Muita gente lá matou / Invadiu os continentes / Hoje estamos impotentes / No nosso País chegou (ABLC, 2020).

Do mesmo modo que Almeida, Massarani e Moreira (2016)ALMEIDA, C.; MASSARANI, L.; MOREIRA, I. C. Representações da ciência e da tecnologia na literatura de cordel. Bakhtiniana, São Paulo, v. 11, n. 3, p.5-25, set./dez. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bak/a/smgG7VksTtn7x3QDXcbKWbb/abstract/?lang=pt Acesso em 16-09-2021.
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, não nos preocupamos em corrigir erros conceituais ou gramaticais nos cordéis. Deste modo, percebemos neste cordel de Massilon Silva (s/d) uma licença poética estruturada em um erro para explicar a origem do vírus: De onde veio o Corona, ninguém sabe / Se da China, do Afeganistão, / Da Itália, de França ou do Gabão, / Mas chegou assustando a humanidade (ABLC, 2020).

A razão e a emoção ora dividem, ora dominam a captação impressa pelo cordelista. A captação apela à razão quando são transmitidas recomendações sanitárias e dados científicos, e à emoção quando são compartilhadas questões psicológicas do isolamento. Assim, vê-se no cordel de Bortolotti (s/d): A única forma existente / Para o vírus derrotar / É praticar o isolamento / Cada um dentro do seu lar / Eu rezo a Deus pelas pessoas / Que tem como teto o luar […] Todo pânico que existe / A televisão anuncia / Enquanto dentro de casa / Há medo e melancolia (ABLC, 2020). As recomendações científicas e sanitárias são escritas com verbos no infinitivo, como que repetindo um protocolo por meio de um ato delocutivo; em seguida, passa a expressar suas angústias, demonstrando empatia para a população sem teto em situação de rua.

4.4 Organização enunciativa

Nesta etapa, analisamos e apresentamos os resultados da organização dos projetos de fala dos cordelistas, para quem se dirigem, quem são os sujeitos do seu projeto de fala, quais são os elementos descritivos acionados.

A organização enunciativa (os atos locutivos de Charaudeau) pode ser, como dissemos, elocutiva (o autor verbaliza seus pensamentos), alocutiva (o autor implica um interlocutor, um “você(s)” ou um “tu”) e delocutiva (o autor tem em mente um interlocutor genérico).

Nossa análise percebeu que os cordéis mais informativos, que apresentam de maneira lógica e ordenada concepções científicas, explícitas ou não, têm uma organização delocutiva. Fala-se “com a voz da ciência”, como mostra Cacá Lopes (s/d):

Foi necessário um vírus / Para desacelerar / A vida aqui na terra / E o medo propagar / O corona mata mais / Do que guerra nuclear. / O mundo todo parou / Com a chegada do invisível / Mostrando ao ser humano / Um ensinamento incrível / Que riqueza não é nada / Perante o mal horrível (ABLC, 2020);

ou no cordel de Cris Sousa (s/d), que resolveu [...] falar um pouco / De um vírus que é fatal, / Na Europa se espalhou / Mudando o mundo atual / E em seguida transformou / Toda higiene pessoal [...].

Por outro lado, a alocução é predominante nos cordéis nos quais o autor busca convencer o leitor de sua opinião sobre as medidas de prevenção. É um instrumento enunciativo importante para transmitir informações científicas juntamente com a visão do autor sobre elas. Tião Simpatia (s/d), um conhecido cordelista cearense que participou também desta campanha, escreve:

Por causa dessa Covid / Que ao mundo inteiro arrasa / Eu não vou em sua casa / Nem que você me convide / O tempo a gente divide / Com os amigos na linha / Fazendo uma livezinha / a ciência me embasa / Eu não vou em sua casa / Pra você não vir na minha! (ABLC, 2020).

Com este tipo de organização, o cordelista pode tanto mostrar-se empático e crítico, transmitindo as recomendações científicas, mas com a intenção de convencer seu interlocutor.

Um outro exemplo deste caso é o cordel de Vicente Campos (12 de abril de 2020), em que o autor critica o isolamento social:

Pra ser empreendedor / No país da roubalheira / Tem que matar um leão / Por dia, a semana inteira / Tente abrir uma empresa / E diga, por gentileza / Se não é dessa maneira. / Agora, para fechar / Não demora muito não / Leva só uns 15 dias / É muita humilhação / Basta o vírus perfeito / Governador e prefeito / Com a caneta na mão (ABLC, 2020),

mostrando que nem só se usou cordel para defender as difíceis medidas sanitárias e científicas para o combate ao vírus...

E, por fim, observamos que a organização elocutiva está mais presente nos cordéis em que as impressões pessoais sobre as medidas de isolamento e o avanço da doença estão representadas. Aqui, não vemos as vozes da ciência, nem as intervenções favoráveis às medidas pandêmicas, mas sim o medo, a dúvida, a angústia, ao lado da esperança, da valorização moral da solidariedade, do amor e do respeito pelo próximo. Assim, vemos, no cordel de Cícero do Maranhão (s/d), um exemplo: a verbalização do pensamento do autor, suas visões e decepções.

[...] Já tá me dando agonia / Mas não devo esmorecer / Algo preciso dizer / Mesmo sem ver melhoria / Não sou dono da verdade / Nem quero me intrometer / Mas o que vejo na mídia / Só serve pro rico ver / Quem não tem televisão / Jamais terá proteção / Nem nada irá entender [...]

4.5 Elementos descritivos

A nomeação enquanto elemento descritivo, muito ligada aos discursos de legitimidade e credibilidade, se aplicou sobre o vírus, as medidas de prevenção e os países. O vírus é citado de formas diferentes: “corona”, “corona vírus”, coronavírus”, “o covid”, “corona 19”, entre outros. Do mesmo modo, as qualificações são abundantes e “rodeiam” o vírus e a doença de toda forma de adjetivos, notadamente os depreciativos. A descrição por localização mostra um interessante recorte: da China à rua de casa, da nação ao lar, os autores localizam suas falas no tempo e no espaço pandêmico: no aqui e no agora, reconhecendo o alcance global da doença e, ao mesmo tempo, transpondo-o para a vida hodierna. Um exemplo único entre os cordéis analisados é de Antonio Mota da Silva (s/d), que, usando da trova, localiza a quarentena na sua rotina (ou na de um personagem) de maneira bem-humorada: Eu estava em quarentena / Tremendo as pernas de medo / Era domingo bem cedo / Tinha rezado a novena / Chegou Zé de Madalena / No cavalo Bacurau / E gritou: “Ei, pessoal! / Passou na rádio Torona / Que hoje um tal de Corona / Despenca do pedestal!” [...] (ABLC, 2020).

Sobre os actantes dos cordéis, suas qualificações e papéis no contexto da pandemia, encontramos: a) o papel da ciência, dos cientistas e de profissionais da saúde no combate à pandemia; b) o papel da arte e dos artistas, sobretudo dos próprios cordelistas, em difundir medidas de prevenção, em defender o isolamento e em fazer da expressão poética um “remédio”; e c) o papel da sociedade civil.

A ciência, os cientistas e os profissionais da saúde são nomeados para fortalecer a credibilidade do discurso, como é exemplo o cordel de Tião Simpatia citado acima: a ciência me embasa, ou como é exemplo o cordel de Teles (s/d), que defende um medicamente à base de cloroquina: Felizmente, ao que parece, / Surgiu enfim uma luz: / Um antídoto que está / Cativando e que seduz; / À base de cloroquina, / É dos olhos, a menina; / O vírus ela abduz (ABLC, 2020). Ou seja, buscando referenciarem-se em uma ciência que “embasa” e que dá “uma luz: um antídoto”, os cordelistas trazem suas visões das contribuições da ciência para o combate da pandemia. Além disso, esse último exemplo mostra que o cordelista reflete e refrata um momento do processo científico nesta pandemia: o medicamento à base da cloroquina, mesmo quando sua ineficácia ficou totalmente comprovada, esteve desde o início da pandemia em alta nos noticiários, entre polêmicas científicas e anticientíficas.

Outro cordel, de Wilamy Carneiro (s/d), lança um olhar para as dificuldades e os dilemas do trabalho de pesquisadores: Um vírus tão pequeno / Desafia os pesquisadores / Se alojando em seu corpo / Dando insônia aos doutores ( ABLC, 2020). Mas, ao mesmo tempo, enaltece os esforços dos cientistas, que deixam de dormir para encontrar respostas ao desafio científico.

A intencionalidade do cordel - isto é, a defesa explícita do uso do cordel e a manifestada importância da poesia neste período de pandemia - é uma marca de sua linguagem típica (ALMEIDA; MASSARANI; MOREIRA, 2016ALMEIDA, C.; MASSARANI, L.; MOREIRA, I. C. Representações da ciência e da tecnologia na literatura de cordel. Bakhtiniana, São Paulo, v. 11, n. 3, p.5-25, set./dez. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bak/a/smgG7VksTtn7x3QDXcbKWbb/abstract/?lang=pt Acesso em 16-09-2021.
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). Deste modo, percebemos que muitos cordelistas qualificam positivamente o tema pandêmico como uma boa oportunidade para escreverem e expressarem suas visões. Assim, como vimos mais acima, Antonio de Gusmão diz que [...] Um bom tema pra cordel / foi esse tal de corona ou o também já citado Everardo Sena: O tal corona 19 / Aproxima as pessoas / Poeta com suas loas / Ao povo ele comove [...].

O papel da sociedade civil é representado quase que exclusivamente em torno do cumprimento das medidas de isolamento social e de prevenção. Nestes cordéis, a sociedade civil é o “eu, você, todo mundo”, e os cordelistas se esforçam em transmitir a importância e urgência destas medidas e também valores morais. É o que vemos no cordel de Suyane Arrais Melo (s/d): Vamos falar de afeto, / e solidariedade / pensar como coletivo, / Agir com humanidade / Construir uma corrente / De carinho e bondade! (ABLC, 2020), ou como Cristine Nobre Leite (14 de abril de 2020): Somos um e somos todos / Distintos em nossos modos / Iguais na diversidade (ABLC, 2020).

5 Discussões

A arte não necessariamente representa objetivamente o real, mas é capaz de sintetizá-lo com enorme pungência; pode antecipar a ciência ao abrir um campo de saberes e conhecimentos que permitem solucionar problemas concretos como, por exemplo, fortalecer o uso da escrita para lidar com a solidão do isolamento social. Estudar estes cordéis é como olhar instantâneos de uma paisagem em movimento, de um filme ou uma cena que ainda se desenrola. Nossas análises aqui se debruçam sobre o passado recente com um olho no devir. A pandemia ainda é.

Uma leitura de um “poema pandêmico” em uma rede social nas primeiras semanas de isolamento desencadeou em nós reflexões e foi motivação para buscar entender de que forma a poesia produzida e divulgada durante a pandemia - e, neste nosso caso, o cordel - reflete e refrata o tempo que vivemos, bem como os temas mais frequentes, em específico, temas científicos. Buscar como eles aparecem e fazem parte do projeto de fala dos cordelistas é uma forma de vislumbrar os impactos da pandemia na sociedade e de obter uma informação sobre a visão pública da ciência.

Olhando para nosso corpo de pesquisa, percebemos na diversidade autoral uma característica forte: 56 autores, de 12 estados da federação, de diversas idades e profissões, e trazendo diferentes posicionamentos diante da pandemia, sobretudo, diante da quarentena imposta como forma de combate ao avanço da doença.

A restrição temática em torno da quarentena do coronavírus permitiu, todavia, que outros subtemas surgissem. O vírus, com a sua difusa nomeação pelos cordelistas, reflete duplamente tanto um termo novo surgindo nos diálogos e discursos, como também o estranhamento. Qual é o nome da doença e qual é o nome do vírus? Um exemplo é “corona 19”, onde o autor mistura o patógeno com a doença.

Os discursos que optavam por estratégias de legitimidade baseavam-se numa condição material e objetiva: todos os cordelistas viveram o avanço da pandemia e se viram diante de questões sociais e individuais consequentes das medidas de isolamento e dos novos protocolos de higiene. Portanto, acreditamos que todos os cordelistas estão imersos em uma conjuntura única e totalizante, na qual o recurso da legitimidade em seus discursos surge não só como ato individual em cada poeta, mas sim em relação ao restante da produção poética e dos seus autores. Favoráveis ou não às medidas de isolamento, defensores ou críticos da ciência, ao serem instados a falarem sobre suas vidas em quarentena, todos se conversam sem se citarem, se respondem sem se perguntarem; cada cordel, como um depoimento e uma escuta, legitima o cordel do outro.

Entendemos que os cordelistas que buscaram a credibilidade o fizeram quando intencionavam comunicar informações que, entre alguns equívocos, eram as que a ciência conhecia e apresentava publicamente sobre a doença: o nome do vírus e da doença, a origem da pandemia, como ocorre o contágio e a transmissão, as medidas de isolamento e os hábitos de higiene. Essa credibilidade se dá tanto de um autor que se projeta para o diálogo com um interlocutor (ato alocutivo) para tentar convencê-lo, quanto de outro autor que pretende comunicar ciência de modo organizado e didático (ato delocutivo), ora nomeando e organizando a informação, ora puramente no plano da retórica.

Em quase todos os cordéis percebeu-se alternância de estratégias de captação. A emoção ocupa o espaço da razão quando esta não tem muito mais argumentos. Pede-se a Deus para que se descubram vacinas; ataca-se ou defende-se o controle da pandemia através da contenção social e logo se expressa os impactos psicológicos dessa medida sobre si mesmo.

Quando refletimos sob o viés de avaliar o cordel do ponto de vista do seu conteúdo conceitual, concordamos com Josenildo Lima (2013)LIMA, J. M. Literatura de cordel e ensino de física: uma aproximação para a popularização da ciência, 2013. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2013., que receita que seu uso em contextos educativos seja antecedido por uma leitura crítica e reflexiva. Aventamos, porém, que, nos pequenos cordéis do nosso corpo de pesquisa, podemos, na realidade, observar a transformação temporal e não linear de diversos enunciados científicos, de conceitos científicos que vão sendo popularizados “a toque de caixa”, de “fora para dentro”, da língua para a vida, de um contexto social e sanitário se refletindo na vida de cada pessoa. Do globo ao meu lar.

Nessa senda, acreditamos ser possível perceber nos cordéis alguns fragmentos da evolução da pandemia no país. De fato, como dissemos na metodologia de pesquisa, coletamos os cordéis acessando semanalmente os sítios da ABLC. Analisando os dispositivos descritivos de localização, pudemos ver em alguns cordéis registros dos passos da pandemia: sua origem na Ásia, sua expansão na Europa e chegada ao Brasil; e também o aumento do número de mortes, as polêmicas em torno dos profiláticos e medicamentos testados; as polêmicas ideológicas na ciência vão surgindo nos pequenos cordéis conforme a dinâmica da temática se desenrolava. É preciso, certamente, avaliar de forma mais sistemática a existência nestes cordéis deste paralelo entre a representação da ciência e a temporalidade da pandemia. Isso não se configurava, aliás, como pressuposto em nosso projeto de investigação e só percebemos esta possibilidade durante a coleta do corpo de pesquisa e análises iniciais. Em contrapartida, esta percepção não nos abandonou durante a etapa de amadurecimento destas discussões e acreditamos ser importante colocá-la aqui.

O que também surgiu em nosso estudo e que não estava previamente em nossos pressupostos é a grande menção ao desamparo psicológico, à incompreensão e desalento diante do futuro. Como dissemos mais acima, ao lado da recomendação da ciência, o cordelista por vezes fala também de si mesmo e de sua família. O “fica em casa” mesclou a intencionalidade educativa do cordel temático com o espaço para a sensibilidade e a expressão subjetiva.

Considerações finais

Nas palavras do cordelista Rodrigo Silva Cristalino (s/d): O vírus é passageiro / Mas a vida não é não. A vida não está de passagem, realmente, e ainda não é simples entender pelo que passamos. A Quarentena Poética da ABLC foi chamada para “tornar menos difíceis os dias de quarentena” (ABLC, 2020) com tema sobre o coronavírus e o covid-19, cujo mote vem do presidente da Academia, o cordelista Gonçalo da Silva, no dia 11 de abril de 2020: BOM DIA CAROS TERRÁQUEOS, / DE REPENTE VEM À TONA, / FALAR DE UM VÍRUS MORTAL / DENOMINADO CORONA. / CUJA AÇÃO DEVASTADORA, REALMENTE IMPRESSIONA! (ABLC, 2020)7 7 Caixa alta no original. .

Impressiona que esses pequenos poemas, pequenos cordéis, possam, sob uma análise adequada, revelar ou lançar um olhar para representações de diversos aspectos que vivemos durante a pandemia de covid-19, em especial, as visões e representações da ciência. Estudamos neste trabalho um conjunto de pequenos cordéis a partir de um olhar localizado nos referenciais da divulgação e popularização da ciência e pudemos observar, destarte, que há muita ciência nesses poemas. Falar sobre a pandemia, falar sobre si mesmo, fazer a quarentena ser menos difícil. Que papel social a poesia cumpriu nos meses de isolamento social, em que a maior parte da população se viu afastada de tudo e de quase todos, inclusive afastada dos caminhos e preâmbulos da ciência? É possível estender nossa pergunta de investigação para outro corpo de pesquisa, isto é, para outras formas de expressão poética?

Para finalizar, queremos deixar aqui um aspecto não exposto acima, que é o caráter exploratório que esta pesquisa adquiriu; em busca de temas científicos, com um olhar focado na divulgação científica, os pequenos cordéis se mostraram mais expressivos do que pensávamos.

Percebemos que as representações da ciência nos projetos de fala dos cordelistas expressam um processo histórico e social que está inacabado e no qual a ciência assume um papel protagonista e antagônico: enquanto intensifica a busca pela solução do problema, caminha a passos lentos. Todos e todas querem curas e tratamentos, mas o invisível vírus “impressiona”; as medidas de combate comunicadas publicamente isolaram as pessoas umas das outras, mas, no nosso país, estas medidas foram alvo de intensa polêmica. Os tratamentos médicos estiveram sob disputa, confundindo e desorientando a tomada de decisões em políticas públicas.

Defendemos que a poesia em tempos de pandemia - ao que chamamos “poesia pandêmica” - seja abordada enquanto espaço e tempo de encontros de vozes e visões de autores e autoras em quarentena sobre a ciência, articulando seus conhecimentos sobre o tema com expressões subjetivas. Esperamos, assim, que estas poesias pandêmicas, em suas várias linguagens, possam de fato ter feito os dias menos difíceis até aqui e também serem futuramente estudadas de forma mais aprofundada enquanto material de divulgação científica.

  • 1
  • 2
    Seguimos a taxonomia pragmática de Marcelo Dascal (1994), que identifica a polêmica científica como um gênero discursivo pertencente aos discursos polêmicos e que a subdivide em discussão, disputa e controvérsia. Assim, com “polêmicas científicas”, estaremos a nos referir ao conjunto de produção de discursos conflitantes presentes na história e na contemporaneidade da ciência.
  • 3
    Trecho do cordel de Everardo Sena (ABLC, 2020).
  • 4
    Trata-se do poema de Leonardo Michelutti, ao qual o trecho citado na seção anterior pertence.
  • 5
    Até a submissão deste trabalho, a Quarentena Poética da ABLC ainda estava ocorrendo oficialmente, apesar de não haver novas publicações desde a época da coleta apresentada neste artigo.
  • 6
    31 de outubro de 2020. A campanha foi iniciada no dia 11 de abril de 2020.
  • 7
    Caixa alta no original.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

Todos os cordéis citados estão em:

ABLC, Quarentena Poética da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Disponível em: http://www.ablc.com.br/service/quarentena-poetica-da-ablc/. Último acesso em: 31 de outubro de 2020.

Declaração de autoria e responsabilidade pelo conteúdo publicado

Especificamos que o intitulado “Poesia e divulgação científica sobre e sob quarentena. A quarentena poética da Academia Brasileira de Literatura de Cordel” foi escrito pelo primeiro autor, Kim Silva Ramos, porém, os dois autores tiveram acesso ao corpus de pesquisa, que é público e se encontra no site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Afirmamos o mesmo sobre a análise e interpretação dos dados, que foram realizadas em conjunto. A revisão crítica ficou a cargo da segunda autora, Maria da Conceição Almeida Barbosa-Lima e ambos os autores aprovamos a versão final a ser publicada.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    Oct/Dec 2021

Histórico

  • Recebido
    27 Out 2020
  • Aceito
    31 Ago 2021
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