Edição de 1929
Edição de 1963
Capítulo 2
O herói em Dostoiévski (14p.)
Capítulo 2
A personagem e seu enfoque pelo autor na obra de Dostoiévski (34p.)
O herói do subsolo estende o ouvido para cada palavra alheia sobre ele mesmo, quase como se se olhasse em todos os espelhos das consciências alheias, conhece todas as possíveis refrações de sua própria imagem neles; ele conhece também sua própria definição objetiva, neutra, tanto a respeito da consciência do outro quanto a respeito da sua autoconsciência, leva em conta o ponto de vista de um ‘‘terceiro’’ (BACHTIN, 1997, p.138)2.
O herói do subsolo dá ouvido a cada palavra dos outros sobre si mesmo, olha-se aparentemente em todos os espelhos das consciências dos outros, conhece todas as possíveis refrações da sua imagem nessas consciências; conhece até a sua definição objetiva, neutra tanto em relação à consciência alheia quanto à sua própria autoconsciência, leva em conta o ponto de vista de um “terceiro” (BAKHTIN, 2015a, p.59).
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Edição de 1963
Capítulo 3
A ideia em Dostoiévski (15p.)
Capítulo 3
A ideia em Dostoiévski (26p.)
O herói de Dostoiévski não é apenas uma palavra sobre si mesmo e seu círculo íntimo, ele também é uma palavra sobre o mundo: ele não é apenas um ser consciente, é um ideólogo. O "homem do subsolo" já é um ideólogo, mas a criação ideológica dos personagens atinge plenitude de significado nos romances [...] É por isso que a palavra sobre o mundo se funde com a palavra confissão sobre si mesmo (BACHTIN, 1997, p.149).
O herói dostoievskiano não é apenas um discurso sobre si mesmo e sobre seu ambiente imediato, mas também um discurso sobre o mundo: ele não é apenas um ser consciente, é um ideólogo. O “homem do subsolo” já é um ideólogo, mas a criatividade ideológica dos heróis adquire pleno significado nos romances [...] Por isso, o discurso sobre o mundo se funde com o discurso confessional sobre si mesmo (BAKHTIN, 2015a, p.87).
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Capítulo 4
Função do enredo de aventura nas obras de Dostoiévski (11p.)
Capítulo 4
Peculiaridades do gênero, do enredo e da composição das obras de Dostoiévski (91p.)
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Capítulo 1 da segunda parte – O discurso em Dostoiévski
Tipos de palavra prosaica. A palavra em Dostoiévski (29p.)
Capítulo 5
O discurso em Dostoiévski
Tipos de discurso na prosa. O discurso dostoievskiano (27p.)
Na polêmica velada, a palavra autoral é dirigida, como todas as outras palavras, ao próprio objeto, mas nisso cada afirmação sobre o objeto constrói-se de modo que, além de seu sentido objetal, se ataque polemicamente a palavra alheia sobre o mesmo tema, a afirmação alheia sobre o mesmo objeto. A palavra dirigida ao seu objeto enfrenta-se, no próprio objeto, com a palavra alheia. A palavra alheia em si mesma não é reproduzida, ela é somente subentendida: mas a estrutura inteira do discurso seria absolutamente outra, se não houvesse essa reação à palavra alheia que é subentendida. [...] A matiz polêmica da palavra manifesta-se também em outros signos puramente linguísticos: na entonação e na construção sintática (BACHTIN, 1997, p.200-201).
Na polêmica velada, o discurso do autor está orientado para o seu objeto, como qualquer outro discurso; neste caso, porém, qualquer afirmação sobre o objeto é construída de maneira que, além de resguardar seu próprio sentido objetivo, ela possa atacar polemicamente o discurso do outro sobre o mesmo assunto e a afirmação do outro sobre o mesmo objeto. Orientado para o seu objeto, o discurso se choca no próprio objeto com o discurso do outro. Este último não se reproduz, é apenas subentendido [...] O colorido polêmico do discurso manifesta-se em outros traços puramente linguísticos: na entonação e na construção sintática (BAKHTIN, 2015a, p.224).
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Capítulo 2 da segunda parte – O discurso em Dostoiévski
A palavra monológica do herói e a palavra narrativa nas novelas de Dostoiévski (41p.)
Capítulo 5 O discurso em Dostoiévski
Seção 2: O discurso monológico do herói e o discurso narrativo nas novelas de Dostoiévski (40p.)
‘Viver mais de quarenta anos é uma coisa inconveniente, é vulgar, imoral! Quem vive mais de quarenta anos? Respondam-me sinceramente, honestamente. Eu vos direi quem: os imbecis e os patifes, ninguém mais. E isso eu direi na cara de todos os velhos, na cara de todos esses velhos respeitáveis, de todos esses velhos das coroas de prata e perfumados! Eu digo tudo isso na cara do mundo inteiro. Eu tenho o direito de falar assim, porque, de minha parte, viverei até os sessenta anos. Até os sessenta anos viverei!... Esperem! Deixem-me retomar o folego um momento [...] (BACHTIN, 1997, p.245).
Viver além dos quarenta é indecente, vulgar, imoral! Quem é que vive além dos quarenta? Respondei-me sincera e honestamente. Dir-vos-ei: os imbecis e os canalhas. Di-lo-ei na cara de todos os anciões, de todos esses anciões respeitáveis, perfumados, de cabelos argênteos! Di-lo-ei na cara de todo o mundo! Tenho direito de falar assim, porque eu próprio hei de viver até os sessenta! Até os setenta! Até os oitenta!
Um momento! Deixai-me tomar fôlego ... (BAKHTIN, 2015a, p.264).
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Capítulo 2
A palavra monológica do herói e a palavra narrativa nas novelas de Dostoiévski (41p.)
Capítulo 5 O discurso em Dostoiévski
Seção 2: O discurso monológico do herói e o discurso narrativo nas novelas de Dostoiévski (40p.)
Com certeza, vocês estarão pensando, senhores, que eu queira fazê-los rir, não? Bom, até nisso vocês erraram. Eu realmente não sou aquele tipo divertido que acreditam, ou que talvez acreditem que eu seja; e, por outro lado, se vocês, irritados como estão por todas essas minhas conversas (sim porque eu já sinto que estão irritados), tivessem a ideia de me perguntar quem eu exatamente sou, eu então responderia que sou um conselheiro de colégio’ (BACHTIN, 1997, p.245).
Pensais acaso, senhores, que eu queria fazer-vos rir? É um engano. Não sou de modo algum tão alegre como vos parece, ou como vos possa parecer. Aliás, se irritados com toda esta tagarelice (e eu já sinto que vos irritastes), tiverdes a ideia de me perguntar quem, afinal, sou eu, responder-vos-ei: sou um assessor-colegial (DOSTOIEVSKI, 2003, p.17) (BAKHTIN, 2015a, p.264).
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Capítulo 2
A palavra monológica do herói e a palavra narrativa nas novelas de Dostoiévski (41p.)
Capítulo 5 O discurso em Dostoiévski
Seção 2: O discurso monológico do herói e o discurso narrativo nas novelas de Dostoiévski (40p.)
Aposto que vocês estão pensando que eu escrevo tudo isso por fanfarronice, ou para fazer o espirituoso às custas dos homens de ação, e que sempre, por amor de uma fanfarronice de péssimo gosto, eu também esteja fazendo tinir minha espada, como aquele meu oficial. (BACHTIN, 1997, p.246).
Pensais, sou capaz de jurar, que escrevo tudo isto para causar efeito, para gracejar sobre os homens de ação, e também por mau gosto; que faço tilintar o sabre, tal como o meu oficial. (BAKHTIN, 2015a, p.264-265).
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Capítulo 2
A palavra monológica do herói e a palavra narrativa nas novelas de Dostoiévski (41p.)
Capítulo 5 O discurso em Dostoiévski
Seção 2: O discurso monológico do herói e o discurso narrativo nas novelas de Dostoiévski (40p.)
Vocês dirão que é vulgar e desprezível colocar à mostra tudo isso [os sonhos do herói, M.B.] como se eu estivesse na feira, depois de todos os estados de embriaguez e as lágrimas que confessei agora há pouco. Mas por que seria desprezível, meus senhores? [...] (BACHTIN, 1997, p.247).
Dir-me-eis que é vulgar e ignóbil levar agora tudo isso (os sonhos do herói – M.B.) para a feira, depois de tantos transportes e lágrimas por mim próprio confessados. Mas ignóbil por quê? [...] (BAKHTIN, 2015a, p.266).
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Capítulo 2
A palavra monológica do herói e a palavra narrativa nas novelas de Dostoiévski (41p.)
Capítulo 5 O discurso em Dostoiévski
Seção 2: O discurso monológico do herói e o discurso narrativo nas novelas de Dostoiévski (40p.)
Sim, exatamente assim, eu roubo vossa tranquilidade, eu atormento vossa alma, não deixo ninguém dormir em toda a casa. E isso exatamente porque vocês não devem dormir, mas sim sentir vocês também, em cada momento, que eu estou com dor de dentes. Agora para vocês eu não sou mais aquele herói que queria parecer antes, mas simplesmente um pequeno covarde, um chenapan. Que seja! Estou realmente contente que vocês finalmente entenderam (BACHTIN, 1997, p.249).
Eu os inquieto, faço-lhes mal ao coração, não deixo ninguém dormir em casa. Pois não durmam, sintam vocês também, a todo instante, que estou com dor de dente. Para vocês eu já não sou o herói que anteriormente quis parecer, mas simplesmente um homem ruinzinho, um chenapan. Bem seja! Estou muito contente porque vocês me decifraram [...]” (BAKHTIN, 2015a, p.268).
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Capítulo 2
A palavra monológica do herói e a palavra narrativa nas novelas de Dostoiévski (41p.)
Capítulo 5 O discurso em Dostoiévski
Seção 2: O discurso monológico do herói e o discurso narrativo nas novelas de Dostoiévski (40p.)
[...] eu triunfava sobre qualquer coisa, e todos, obviamente, eram reduzidos a poeira [...] Todos choravam e me beijavam (ou teriam sido uns verdadeiros otários), e eu andava, descalço e faminto, pregando as novas ideias e derrotava os retrógrados em Austerlitz (BACHTIN, 1997, p.251).
Eu, por exemplo, triunfo sobre todos; todos, naturalmente, ficam reduzidos a nada [...]. Todos choram e me beijam (de outro modo, que idiotas seriam eles!), e eu vou, descalço e faminto, pregar as novas ideias, e derroto os retrógrados em Austerlitz. (grifo do autor) (BAKHTIN, 2015a, p.70).
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Parte II - Capítulo 4
O diálogo em Dostoiévski (2 p.)
Capítulo 5/
seção 4 O diálogo em Dostoiévski (18p.)
Também, as lágrimas de agora há pouco, aquelas lágrimas de mulherzinha envergonhada, que, diante de você, não consegui conter: até por elas, jamais te perdoarei! E o que eu agora te confesso, o mesmo a você nunca perdoarei! assim ele grita durante sua confissão para a moça que o ama. ‘Mas o compreende ou não, que agora que eu te disse essas coisas te odiarei porque você estava aqui me escutando? [...] (BACHTIN, 1997, p.283)
E nunca desculparei também a você as lágrimas de há pouco, que não pude conter, como uma mulher envergonhada! E também nunca desculparei a você as confissões que lhe estou fazendo agora! Assim grita ele durante as suas confissões à moça que por ele se apaixonara. Mas compreende você como agora, depois de lhe contar tudo isso, vou odiá-la porque esteve aqui e me ouviu? [...] (BAKHTIN, 2015a, p.214)