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A linguagem da Escola Semiótica de Tártu-Moscou e as traduções de Iúri Lotman no Brasil

RESUMO

O uso de linguagem codificada e esópica nos trabalhos dos semioticistas que integraram a Escola Semiótica de Tártu-Mosou foi motivado pelo desejo de serem compreendidos pelo círculo e não compreendidos por possíveis intrusos indesejáveis dos órgãos de controle soviéticos. Um dos termos centrais utilizados pela Escola - os “sistemas modelizantes secundários” - foi sugerido por Vladímir Uspiénski com o objetivo de substituir a palavra "semiótica", associada à semiótica ocidental. Ao cotejar o artigo de Iúri Lotman Sobre o problema da tipologia da cultura, de 1967, com a tradução para o português do Brasil de Lucy Seki, que integrou a coletânea Semiótica Russa, organizada por Boris Schnaiderman, objetivo verificar se as peculiaridades do texto original, que surgiram devido às condições histórico-políticos da sua criação, foram preservadas na tradução.

PALAVRAS-CHAVE:
Escola Semiótica de Tártu-Moscou; Iúri Lotman; Linguagem soviética; Tradução

ABSTRACT

The use of codified and Aesopian language in the works of the semioticians who were members of the Tartu-Moscow Semiotic School was motivated by the desire to be understood by the School members and notunderstood by possible unwanted intruders from Soviet control organizations. One of the key terms they used was secondary modeling systems, which Vladimir Uspensky suggested to replace the word semiotics, associated with Western semiotics. By comparing Yuri Lotman’s essay Problems in the Typology of Culture (1967) to Lucy Seki’s translation of the essay into Brazilian Portuguese, which is part of the book Semiótica Russa [Russian Semiotics], edited by Boris Schnaiderman, I intend to verify if particularities of the original text, which resulted from the historical and political context in which the essay was produced, were maintained in the translation.

KEYWORDS:
Tartu-Moscow Semiotic School; Yuri Lotman; Soviet Language; Translation

Introdução

A Escola Semiótica de Tártu-Moscou, cujas atividades se estendem entre as décadas de 1960-1980, além de ser uma das mais significativas correntes semióticas do século XX, representa também um fenômeno curioso. É surpreendente o fato de que os estudos semióticos não só existiram como prosperaram dentro da União Soviética, que tinha um regime hoje avaliado como autoritário e/ou totalitário. Isso se tornou possível graças a uma refinada estratégia de sobrevivência que talvez não tenha surgido como algo pensado e planejado, mas se tornou necessária à medida que a Escola crescia, ganhava força e influência. Dentre as caraterísticas dessa estratégia estão a pretensão declaradamente apolítica dos estudos semióticos, o hermetismo (um círculo de pesquisadores relativamente estreito e fechado) e a linguagem dotada de caraterísticas específicas (GASPÁROV, 1994Gaspárov, B. Tártuskaia chkola 1960-kh kak semiotítcheski fenómen [A escola de Tártu dos anos 1960 como um fenômeno semiótico]. In: Iu. M. Lótman i tártusko-moskóvskaia semiotítcheskaia chkola. [Iu. M. Lotman e Escola semiótica de Tátru-Moscou].Moscou: Gnózis, 1994, p.279-294. Volume II.). De fato, ao lermos os trabalhos dos semioticistas “soviéticos”, percebermos o seu estilo carregado de estrangeirismos, elipses e terminologia científica específica. Surge, dessa maneira, a indagação se essas caraterísticas foram mantidas ou desapareceram nas traduções para as outras línguas. Com o objetivo de sanar essa dúvida, resolvi analisar um dos textos do líder (apesar de não ter sido declarado como tal) e fundador da Escola, Iúri Lotman, Sobre o problema da tipologia da cultura. O ensaio integra a coletânea Semiótica Russa, lançada em 1979, sob organização Boris Schnaiderman, que pela primeira vez apresentou os trabalhos dos semioticistas russos para os leitores brasileiros. Chama a atenção o título da coletânea, em que a semiótica é definida como “russa” e não como “soviética”, algo muito justo, dado o caráter apolítico, antissoviético e dissidente da Escola.

O cotejo entre o texto original e a tradução se insere no campo dos estudos comparativos. O estudo comparativos de discursos é um dos focos do Grupo de Pesquisa Diálogo (Universidade de São Paulo - USP), que correlacionou os conceitos da teoria bakhtiniana com fundamentos da teoria de discurso desenvolvidos pelos pesquisadores franceses, integrantes do grupo CLESTHIA-Cediscor (Université Paris III Sorbone Nouvelle):

As pesquisas do Cediscor [...] apresentaram possibilidades de análise comparativa de enunciados não literários, pouco presentes nos trabalhos bakhtinianos. Além disso, a assunção do gênero discursivo como tertium comparationis pertinente para a comparação do semelhante e para a configuração da comunidade discursiva foi ao encontro dos trabalhos bakhtinianos sobre os gêneros discursivos, permitindo uma articulação enriquecedora a ambas as teorias (GRILLO, GLUSHKOVA, 2016GRILLO, S.; GLUSHKÓVA, M. A divulgação científica no Brasil e na Rússia: um ensaio de análise comparativa de discursos. Bakhtiniana. Revista de estudos do Discurso. v. 11, n. 2, p.69-92, 2016. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/bakhtiniana/article/view/23556/19236; http://www.scielo.br/pdf/bak/v11n2/2176-4573-bak-11-02-0069.pdf. Acesso em: 25 jan. 2019.
https://revistas.pucsp.br/bakhtiniana/ar...
p.89).

Entre os princípios da comparação discursiva advindos da teoria de Bakhtin e do Círculo, as pesquisadoras destacam a questão do gênero, também considerada fundamental pelos pesquisadores de CLESTHIA, uma vez que os gêneros discursivos são “lugares de articulação mais imediatos da língua com a cultura ou os funcionamentos da sociedade” (GRILLO; GLUSHKOVA, 2016GRILLO, S.; GLUSHKÓVA, M. A divulgação científica no Brasil e na Rússia: um ensaio de análise comparativa de discursos. Bakhtiniana. Revista de estudos do Discurso. v. 11, n. 2, p.69-92, 2016. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/bakhtiniana/article/view/23556/19236; http://www.scielo.br/pdf/bak/v11n2/2176-4573-bak-11-02-0069.pdf. Acesso em: 25 jan. 2019.
https://revistas.pucsp.br/bakhtiniana/ar...
p.75), bem como o estudo da “obra literária no ‘grande tempo’, buscando seus vínculos com obras do passado próximo e longínquo, a fim de identificar visões e assimilações de aspectos do mundo - tradicionais e inovadores - que se revelam de modo privilegiado nos gêneros” (GRILLO; GLUSHKOVA, 2016GRILLO, S.; GLUSHKÓVA, M. A divulgação científica no Brasil e na Rússia: um ensaio de análise comparativa de discursos. Bakhtiniana. Revista de estudos do Discurso. v. 11, n. 2, p.69-92, 2016. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/bakhtiniana/article/view/23556/19236; http://www.scielo.br/pdf/bak/v11n2/2176-4573-bak-11-02-0069.pdf. Acesso em: 25 jan. 2019.
https://revistas.pucsp.br/bakhtiniana/ar...
p.71-72).

No caso particular das traduções de Lotman no Brasil, o tertium comparationis seria não somente o gênero de artigo ou ensaio científico, mas o fato de se tratar do mesmo texto, traduzido de uma língua para outra. No entanto, parti do pressuposto de que o texto original e a tradução (apesar de parecerem o mesmo texto simplesmente redigido em idiomas diferentes) são enunciados inseridos em contextos histórico-culturais diferentes (grande tempo) e voltados para públicos distintos. A necessidade de levar em consideração a interdependência entre o discurso (fenômeno semiótico) e a cultura (contexto) é o ponto de concórdia entre as formulações teóricas de Bakhtin e do Círculo, do CEDISCOR e também de Iúri Lotman (2010, p.32)LOTMAN, Iú. Sobre o problema da tipologia da cultura. Trad. Lucy Seki. In: SCHNAIDERMAN, B. (org.). Semiótica russa. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 2010, p.31-41..

A nova linguagem soviética

Os decênios que precederam e sucederam a Revolução Russa de 1917 eram, de fato, revolucionários nas mais diversas esferas. Trata-se de uma verdadeira explosão cultural que, na visão lotmaniana, é responsável pelo processo de renovação cultural (LOTMAN, 2001LOTMAN, Iú. Kultura i vzryv [Cultura e explosão]. In: LOTMAN, Iú. Semiosfera. São Petersburgo: Iskússtvo - SPB, 2001, p.12-148., p.25). Realmente, na Rússia pré-revolucionária o surgimento das correntes vanguardistas marcou praticamente todas as esferas da arte. Evidentemente, os processos explosivos não poderiam deixar de se refletir no plano linguístico. As inovações ganharam corpo na poesia vanguardista, como, por exemplo, nas obras de Elena Gurô, Velimir Khliébnikov, Aleksei Krutchônykh, Vladímir Maiakóvski, repletas de neologismos e marcadas pelo aniquilamento semântico e pela busca de uma nova linguagem.

A revolução acentuou ainda mais a incapacidade da língua “antiga” de atender às transformações socioeconômicas e culturais do país. A velocidade frenética dessas mudanças resultou na necessidade de condensar o sentido e, portanto, de abreviar as palavras. O próprio nome do país, URSS, já era fruto de uma abreviação. Todo o conjunto de transformações linguísticas ocorridas na época pós-revolução pode ser equiparado a newspeak, novilíngua, definição dada por George Orwell à linguagem de um regime autoritário. Como se sabe, 1984, de Orwell, foi escrito sob influência dos discursos soviéticos e também do romance Nós, de Evguiêni Zamiátin, que já na década de 1920 previu as distorções sociais de uma sociedade autoritária, bem como também as alterações linguísticas concomitantes.

Nos anos que sucederam a revolução, o processo de formação da nova linguagem continuou junto com a campanha de liquidação (erradicação) do analfabetismo, cujo objetivo principal, segundo Lênin, era ensinar a população a ler os periódicos para assim facilitar a agitação política e fazer com que os operários e os camponeses se tornassem sujeitos da transformação social.

No plano histórico, é muito emblemática a reforma ortográfica logo após a revolução, em 1917-1918, que, apesar de ter sido preparada em décadas anteriores, no contexto pós-revolucionário passou a demarcar com nitidez a separação entre a nova linguagem soviética e a antiga, tradicional e retrógrada. Foram abolidas algumas letras e, como resultado, a ortografia foi simplificada: ou seja, em termos práticos, a reforma não foi tão revolucionária como se poderia esperar dadas as circunstâncias, mas o seu impacto foi considerável. A reforma ultrapassava os objetivos puramente linguísticos e se estendia para a esfera política: durante a Guerra Civil que se deu após a Revolução, as mudanças decorrentes da reforma eram ignoradas nos territórios ocupados pelo Exército Branco. Grande parte dos emigrantes tampouco a aceitou nesse primeiro momento. Tudo isso corrobora ainda mais para essa interpretação do caráter político da reforma.

De acordo com Borís Kolonítski, historiador das revoluções russas, as origens da formação da linguagem política soviética se encontram na linguagem da época revolucionária, tanto dos bolcheviques, quanto das outras formações políticas, e, inclusive, do Exército Branco (2017, p.51)KOLONÍTSKI, B. Antimonarkhítcheskaia revoliútsia 1917 góda e natchálo formirovánia kulta vojdiá [A revolução antimonarquista de 1917 e o início da formação do culto de líder]. In: Istorítcheskie issliédovania [Estudos históricos], v. 6, p.35-53, 2017.. A consolidação da nova linguagem soviética é marcada, portanto, pela forte influência do vocabulário militar que, em décadas posteriores, ajudou a criar a imagem da URSS como uma ilha cercada e atacada constantemente por inimigos (ZEMTSOV, 1985ZEMTSOV, I. Soviétski politítcheski iazyk [Linguagem soviética política]. London: Overseas Publications Interchange Ltd, 1985., p.13) Como resultado dessas transformações, algumas palavras “indesejáveis” simplesmente desapareceram do vocabulário soviético, algo que o escritor Evguêni Zamiátin havia previsto em sua distopia. Por exemplo, deixaram de ser usadas (ou eram muito pouco usadas) palavras como “bem”, “mal”, “existência”, “consciência”, “intuição”, “subconsciente”, “beneficência”, “esmola”, “doação”, “humanismo” (TCHUDAKOVA, 2007TCHUDAKOVA, M. Nóvyie raboty. 2003-2006 [Trabalhos novos. 2003-2006]. Moscou: Vriémia, 2007. Disponível em: http://www.e-reading.club/chapter.php/101081/80/Chudakova_-_Novye_raboty_2003_-2006.html. Acesso em: 21 nov. 2018.
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), bem como todo o vocabulário religioso, cuja ausência pode ser observada nos dicionários bilíngues publicados na União Soviética, como é o caso, por exemplo, do Dicionário russo-português (VÓINOVA; STÁRETS et al, 1989VÓINOVA, N.; STÁRETS, S.; VERKHÚCHA, V., ZDITOVIÉTSKI, A. Rússko-portugálski slovar [Dicionário russo-português].2.ed. Moscou: Rússki iazyk, 1989.). Em contrapartida, surgiram novas palavras para designar os fenômenos da nova realidade (tendo como exemplo kolhoz, komsomol etc.), enquanto outras adquiriam novos significados Por exemplo, a palavra nessoznátelnyi, que ao pé da letra significa “aquele que não é consciente”, passou a ser utilizada para designar alguém “não consciente” do ponto de vista da ideologia dominante.

No entanto, de acordo com Lotman (2001)LOTMAN, Iú. Kultura i vzryv [Cultura e explosão]. In: LOTMAN, Iú. Semiosfera. São Petersburgo: Iskússtvo - SPB, 2001, p.12-148., que se baseia no esquema clássico de desenvolvimento histórico-literário de Tyniánov ([1924] 1977)TYNIÁNOV, Iu. Литературный факт [O fato literário]. In: TYNIÁNOV, Iu. Поэтика. История литературы. Кино [Poética. História da literatura. Cinema]. Moscou: Naúka, 1977. p.255-270., um período explosivo é sucedido por uma época em que uma enorme quantidade de novas informações acumuladas precisa ser organizada e conservada. Seria, portanto, um período de dogmatização. Já em meados dos anos 1920, as mudanças explosivas que marcaram a primeira época do Estado Soviético cessaram e, em praticamente todas as esferas, passou a predominar uma tendência ao enrijecimento e ao conservadorismo. O mesmo ocorreu na esfera da língua. Começaram a se formar e fossilizar dentro dela diferentes linguagens: a do discurso político, representado principalmente pelas falas de Stálin e outros líderes soviéticos posteriores, é um bom exemplo. De modo geral, a linguagem política ocupava o lugar central na semiosfera soviética e impactava todas as outras. Em consequência disso, ocorreu a fossilização de todas as linguagens culturais. Surgiram as fórmulas linguísticas, repetidas tanto nos discursos oficiais, quanto na escrita, denominadas posteriormente de “sovietismos”.

Um caso interessantíssimo e, certamente, merecedor de estudos aprofundados, é a presença dos sovietismos nos textos literários criados na época soviética. Por exemplo, no romance O Mestre e Margarida (1928-1940), de Mikhail Bulgákov, os sovietismos desempenham o papel de palavra alheia (usando a terminologia de Mikhail Bakhtin), o que lhes atribui um tom irônico. Portanto, é essencial levar em consideração a sua presença na tradução (VID, 2016VID, N. The challenges of translating culturally specific elements: the case of M. Bulgakov’s The Master and Margarita. Cadernos de Tradução, v. 36, n 3, p.140-157, 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-79682016000300140&lng=en&nrm=iso&tlng=em. Acesso em: 25 jan. 2019.
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, p.144). Os sovietismos também se destacam na obra da escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, laureada em 2015 com o prêmio Nobel de literatura, ainda que a sua produção pertença ao período mais tardio da história da URSS.

No que diz respeito aos documentos encontrados nos arquivos russos, a influência crescente dos sovietismos pode ser observada, por exemplo, nos relatórios de Valentin Volóchinov enquanto era pós-graduando do Instituto da História Comparada das Literaturas e Línguas do Ocidente e Oriente (ILIAZV - Institút Sravnítelnoi Istórii literatúr i iazykóv Západa i Vostóka). Ausente nos primeiros quatro relatórios, a linguagem militar da propaganda soviética aparece no quinto relatório, de 1930. Essa data não é ocasional: “A palavra autoritária (‘brigada de choque’) invade o enunciado de Volóchinov, que deve se submeter ao primeiro plano quinquenal (1928-1932) imposto pelo regime Stálinista com metas econômicas a todas áreas da sociedade soviética” (GRILLO; VÓLKOVA AMÉRICO, 2017GRILLO, S.; VÓLKOVA AMÉRICO, E. Valentin Nikoláievitch Volóchinov: detalhes da vida e da obra encontrados em arquivos. Alfa, São Paulo, v. 61, n. 2, p.255-281, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/alfa/v61n2/0002-5216-alfa-61-02-0255.pdf. Acesso em: 25 jan. 2019.
http://www.scielo.br/pdf/alfa/v61n2/0002...
, p.277). Ao mesmo tempo, o realismo socialista se colocava como a única forma de criação literária soviética.

A escritora, política e crítica literária Marietta Tchudakova chama esse processo pelo qual passou a língua russa de “doença” e afirma que a tarefa de politização da linguagem se tornou ainda mais fácil com a difusão do rádio, que transmitia os discursos dos políticos soviéticos durante todo o dia e em todos os cantos do enorme país. (TCHUDAKOVA, 2007TCHUDAKOVA, M. Nóvyie raboty. 2003-2006 [Trabalhos novos. 2003-2006]. Moscou: Vriémia, 2007. Disponível em: http://www.e-reading.club/chapter.php/101081/80/Chudakova_-_Novye_raboty_2003_-2006.html. Acesso em: 21 nov. 2018.
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). Por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, discursos de Stálin, compostos por frases curtas e de efeito, eram transmitidos via rádio para todo o território da União Soviética e tinham um impacto impressionante.

Em seguida, Thudakova observa que, como resultado, no final da década dos anos 1950, deu-se a formação do “vocabulário da civilização soviética” e “ocorreu, ou foi finalizada, a destruição da linguagem das ciências humanas russas” (TCHUDAKOVA, 2007TCHUDAKOVA, M. Nóvyie raboty. 2003-2006 [Trabalhos novos. 2003-2006]. Moscou: Vriémia, 2007. Disponível em: http://www.e-reading.club/chapter.php/101081/80/Chudakova_-_Novye_raboty_2003_-2006.html. Acesso em: 21 nov. 2018.
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, tradução nossa)1 1 No original: “словарь советской цивилизации”; “совершилось (или завершилось) разрушение языка русской гуманитарной науки”. . Nesse contexto, a autora cita os diários de Boris Eikhenbaum do período, nos quais ele expressa a sensação de desespero produzida pela impotência linguística:

Acho que devo desistir da ideia de escrever um livro científico. Essa linguagem não existe e não há nada que possa ser feito a respeito. Língua não é algo individual. A linguagem dos estudos literários não existe porque nessa área não há pensamento científico, ele deixou de existir [...] Não posso escrever usando os “termos” e a língua não existe mais (EIKHENBAUM apudTCHUDAKOVA, 2007TCHUDAKOVA, M. Nóvyie raboty. 2003-2006 [Trabalhos novos. 2003-2006]. Moscou: Vriémia, 2007. Disponível em: http://www.e-reading.club/chapter.php/101081/80/Chudakova_-_Novye_raboty_2003_-2006.html. Acesso em: 21 nov. 2018.
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, tradução nossa)2 2 No original: “Думаю, что надо пока оставить помыслы о научной книге, - писал Б. Эйхенбаум. - Этого языка нет - и ничего не сделаешь. Язык - дело не индивидуальное. Литературоведческого языка нет, п‹отому› ч‹то› научной мысли в этой области нет - она прекратила течение свое”; “Писать `терминами` не могу, а языка теперь нет”. .

Desse modo, a linguagem soviética se tornou padronizada, rígida, imperativa, autoritária, e provocava, nos falantes “comuns” da língua, a sensação de uma “esterilização ideológica” (TCHUDAKOVA, 2007TCHUDAKOVA, M. Nóvyie raboty. 2003-2006 [Trabalhos novos. 2003-2006]. Moscou: Vriémia, 2007. Disponível em: http://www.e-reading.club/chapter.php/101081/80/Chudakova_-_Novye_raboty_2003_-2006.html. Acesso em: 21 nov. 2018.
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)3 3 No original: “идеологическая выхолощенность". . Tudo isso possibilitou o surgimento de uma outra linguagem.

A linguagem literária russa foi tão contaminada pelo discurso soviético oficial que, na década de 1950, já não era mais possível usá-la na vida cotidiana. Com o início do período que ficou conhecido como “Degelo”, após a morte de Stálin, houve um ligeiro abrandamento da rigidez do período anterior. O terreno para o surgimento da nova linguagem literária estava preparado. Ainda de acordo com Tchudakova, a intelligentsia teve um papel decisivo nessas mudanças. Em primeiro lugar, as palavras “proibidas” eram camufladas no meio de textos aparentemente fiéis ao discurso soviético. Em segundo lugar, eram elaboradas “formas refinadas da linguagem esópica, refletida, em grande parte, na ‘superação verbal’ dos enredos narrados: assim, por trás de uma narrativa sobre a censura ou outra forma de violência na época do Império Russo, era possível adivinhar uma crítica dos regimes totalitários”4 4 No original: “выработка изощренных форм эзопова языка, выразившегося по большей части в словесном переодевании излагаемых сюжетов: так, за обличительным повествованием о цензуре или ином насилии при царизме должно было угадываться обличение автором тоталитарных порядков”. . Ao mesmo tempo, um grupo relativamente pequeno de intelectuais começou a formular, em seus trabalhos, o novo discurso das ciências humanas, à parte do vocabulário soviético. Em alguns casos, os sovietismos eram claramente evitados, já em outros a eles eram atribuídos novos significados (TCHUDAKOVA, 2007TCHUDAKOVA, M. Nóvyie raboty. 2003-2006 [Trabalhos novos. 2003-2006]. Moscou: Vriémia, 2007. Disponível em: http://www.e-reading.club/chapter.php/101081/80/Chudakova_-_Novye_raboty_2003_-2006.html. Acesso em: 21 nov. 2018.
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).

Em suma, em decorrência do “ataque massivo da propaganda sobre a linguagem literária”, os seus fundamentos desmoronaram, o que resultou no surgimento da “linguagem da resistência” (KHÁZEGUEROV, CHMELIÓVA, 2015, p.205)5 5 No original: “язык сопротивления”. , caracterizada pela jargonização e redução do complexo. Essas mudanças podem ser equiparadas à Perestroika. Cabe lembrar aqui as palavras de Valentin Volóchinov que, ao destacar a natureza dialética do signo ideológico, afirma que ela se manifesta com maior clareza em épocas de profundas crises sociais:

Contudo, assim como Janus, qualquer signo ideológico tem duas faces. Qualquer xingamento vivo pode se tornar um elogio, qualquer verdade viva deve inevitavelmente soar para muitos como grande mentira. Essa dialética interna do signo revela-se na sua totalidade apenas em épocas de crises sociais e mudanças revolucionárias. Em condições normais da vida social, essa contradição contida em todo signo ideológico é incapaz de revelar-se em absoluto, pois na ideologia dominante o signo ideológico é sempre um pouco reacionário, em uma espécie de tentativa de estabilizar o momento anterior do fluxo dialético da formação social, ou seja, de enfatizar a verdade de ontem como se fosse a verdade de hoje. Isso determina a particularidade do signo ideológico de refratar e distorcer a realidade dentro dos limites da ideologia dominante (VOLÓCHINOV, 2017VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo; ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017., p.113-114).

Escola de Tártu-Moscou como um fenômeno semiótico

Foi esse o contexto em que surgiu a Escola Semiótica de Tártu-Moscou e a sua linguagem. Segundo Nikolai Bogomólov, é muito comum a Escola ser vista em oposição à cultura soviética oficial, o que, é claro, não deixa de ser uma verdade. No entanto, é preciso ter em vista que, para os representantes da Escola, a cultura soviética não era uma formação unilateral e homogênea. Por um lado, ela incluía a cultura soviética oficial, que era negada ou carnavalizada; mas, por outro, essa cultura era uma continuação orgânica daquela cultura russa proibida ou forçosamente esquecida, como, por exemplo, a arte religiosa, os ícones. Por fim, a assim chamada cultura marginal, dissidente e antissoviética também representava uma parte indissolúvel do fenômeno soviético (BOGOMÓLOV, 2014BOGOMÓLOV, N. Khudójestvennyi iazyk i sotsiokultúrnyie straty pozdnesoviétskogo óbschestva. [A linguagem literária e os estratos socioculturais da sociedade soviética tardia]. In: 4º Lótmanovski sbórnik [4º Coletânea Lotmaniana].Moscou: OGU, 2014, p.599-605., p.600).

Entre os trabalhos que abordam a Escola Semiótica como um fenômeno semiótico, destaca-se o artigo de Iliá Kalínin A Escola Semiótica de Tártu-Moscou: um modelo semiótico da cultura/um modelo cultural da semiótica6 6 No original: “Тартуско-московская семиотическая школа: семиотическая модель культуры / культурная модель семиотики” . Uma das afirmações centrais de Kalínin é que a escolha dos assuntos a serem estudados pelos pesquisadores da Escola era muito bem pensada:

A semiótica soviética é um típico caso de um projeto científico que surgiu e se formou no contexto de um controle ideológico severo sobre a produção do conhecimento histórico, não só resolveu os seus problemas científicos imediatos, mas também agiu como um meio de resistência intelectual aos mitos históricos oficiais, tornando-se uma forma para a sua desmistificação direta ou latente. Além disso, por trás da prática dos estudos semióticos na União Soviética, estavam os mecanismos mais complexos e ambíguos. A semiótica soviética utilizava certas épocas históricas não só como objeto de análise histórica, mas também como meio de reflexão sobre o seu próprio contexto histórico, sobre as condições que estavam por trás da orientação das descrições semióticas (KALÍNIN, 2009KALÍNIN, I. Tártussko-moskóvskaia semiotítcheskaia chkola: semiotítcheskaia model kultury/kultúrnaia model semiótiki [A Escola Semiótica de Tártu-Moscou: um modelo semiótico da cultura/um modelo cultural da semiótica]. NLO, n.98, 2009. Disponível em: http://magazines.russ.ru/nlo/2009/98/ka6.html. Acesso em: 25 jan. 2019.
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, p.2)7 7 No original: “Советская семиотика представляет собой характерный случай, когда научный проект, возникший и сложившийся в рамках жесткого идеологического контроля над производством исторического знания, не только разрешает свои непосредственные дисциплинарные задачи, но и выступает как способ интеллектуального сопротивления официальным историческим мифам, становясь формой их прямой или подспудной демистификации. При этом за практикой семиотических штудий в Советском Союзе стояли более сложные и двусмысленные механизмы. Советская семиотика использовала отдельные исторические эпохи не только как объекты исторического анализа, но также как фигуры рефлексии над собственным историческим контекстом, над условиями, стоящими за направленностью самих семиотических описаний”. .

Por exemplo, as reformas de Pedro, o Grande puderam servir como pretexto para criticar o mito soviético da modernização ou as formulações conservadoras. A Revolta Dezembrista de 1825 chamava a atenção para a história da dissidência dos intelectuais russos. Além disso, o próprio olhar para a realidade como um conjunto de signos pode ser analisado como uma reação a um trauma histórico. Nesse sentido, a “semiotização total da realidade [...] representa uma tentativa de resistir à entropia informacional representada pela reprodução tediosa da ideologia e dos mitos culturais dominantes” (KALÍNIN, 2009KALÍNIN, I. Tártussko-moskóvskaia semiotítcheskaia chkola: semiotítcheskaia model kultury/kultúrnaia model semiótiki [A Escola Semiótica de Tártu-Moscou: um modelo semiótico da cultura/um modelo cultural da semiótica]. NLO, n.98, 2009. Disponível em: http://magazines.russ.ru/nlo/2009/98/ka6.html. Acesso em: 25 jan. 2019.
http://magazines.russ.ru/nlo/2009/98/ka6...
, p.3-4)8 8 No original: “В этом смысле тотальная семиотизация реальности, осуществляемая в рамках семиотического подхода, является попыткой противостояния информационной энтропии, задаваемой унылым воспроизводством доминирующей идеологии и господствующих культурных мифов”. . Se a própria Escola é analisada como um fenômeno semiótico, a figura do seu líder não declarado, Iúri Lotman, “passa a adquirir traços de um trikster cultural que cria ou ao menos transforma a estrutura do mundo” ou até mesmo de um profeta (KALÍNIN, 2009KALÍNIN, I. Tártussko-moskóvskaia semiotítcheskaia chkola: semiotítcheskaia model kultury/kultúrnaia model semiótiki [A Escola Semiótica de Tártu-Moscou: um modelo semiótico da cultura/um modelo cultural da semiótica]. NLO, n.98, 2009. Disponível em: http://magazines.russ.ru/nlo/2009/98/ka6.html. Acesso em: 25 jan. 2019.
http://magazines.russ.ru/nlo/2009/98/ka6...
, p.21)9 9 No original: “Так, фигура Ю.М. Лотмана начинает приобретать черты культурного трикстера, создающего или хотя бы структурно преобразующего мир”. .

Segundo Nikolai Bogomólov (2014)BOGOMÓLOV, N. Khudójestvennyi iazyk i sotsiokultúrnyie straty pozdnesoviétskogo óbschestva. [A linguagem literária e os estratos socioculturais da sociedade soviética tardia]. In: 4º Lótmanovski sbórnik [4º Coletânea Lotmaniana].Moscou: OGU, 2014, p.599-605., entre as formas de resistência criadas pela Escola estava a superação insistente das proibições, como, por exemplo, a discussão das obras forçosamente esquecidas e a publicação de trabalhos sobre elas (por exemplo, sobre os poetas e escritores absurdistas do grupo OBERIU). O segundo aspecto é a criação da sua própria escala de valores culturais, que deveria substituir a escala oficial (BOGOMÓLOV, 2014BOGOMÓLOV, N. Khudójestvennyi iazyk i sotsiokultúrnyie straty pozdnesoviétskogo óbschestva. [A linguagem literária e os estratos socioculturais da sociedade soviética tardia]. In: 4º Lótmanovski sbórnik [4º Coletânea Lotmaniana].Moscou: OGU, 2014, p.599-605., p.599).

Se as observações de Kalínin e Bogomólov são feitas à distância temporal, o artigo de Borís Gaspárov, A Escola de Tártu-Moscou dos anos 1960 como um fenômeno semiótico10 10 No original: “Тартуская школа 1960-х годов как семиотический феномен”. , representa um olhar “de dentro”, isto é, a visão de um participante da Escola. Em 1994, na Rússia, foi publicada a coletânea I. M. Lótman e a Escola Semiótica de Tártu-Moscou11 11 No original: “Ю.М. Лотман и тартуско-московская семиотическая школа”. , cuja segunda parte foi dedicada especialmente às recordações dos participantes da Escola. As memórias de Boris Gaspárov foram as que tiveram maior repercussão: grande parte de seus críticos considerou que ele havia exagerado ao descrever o caráter hermético e esotérico da Escola. No entanto, acredito que as observações de Gaspárov se sustentam principalmente em relação à primeira etapa do funcionamento da Escola, isto é, os anos de 1960 e início da década de 1970.

Gaspárov destaca três principais traços da Escola: o fechamento hermético; a variedade dos participantes e a sensação de alienação. Apenas um número reduzido de pessoas participava das reuniões periódicas chamadas de Escolas de Verão e das edições periódicas dos Trabalhos sobre os sistemas sígnicos. Todas essas particularidades se expressaram também no nível da linguagem, denominada por Gaspárov de “linguagem científica esotérica” (1994, p.284)Gaspárov, B. Tártuskaia chkola 1960-kh kak semiotítcheski fenómen [A escola de Tártu dos anos 1960 como um fenômeno semiótico]. In: Iu. M. Lótman i tártusko-moskóvskaia semiotítcheskaia chkola. [Iu. M. Lotman e Escola semiótica de Tátru-Moscou].Moscou: Gnózis, 1994, p.279-294. Volume II. 12 12 No original: “эзотерический научный язык.” .

A linguagem da semiótica soviética

Nos estudos dedicados à semiótica russa nas últimas décadas, não só a Escola de Tártu-Moscou é vista como um fenômeno semiótico, mas também a sua linguagem se torna foco da análise. Um dos fatos mais curiosos em relação à linguagem da semiótica russa é que ela era endereçada para, no mínimo, dois tipos de destinatários: para os “seus”, isto é, para o círculo restrito dos pesquisadores que faziam parte da Escola e/ou tinham interesse em estudos semióticos, e para o público “alheio” e potencialmente perigoso, pois dela podiam fazer parte os intrusos indesejáveis dos órgãos de controle. Portanto, essa linguagem visava à compreensão por parte do primeiro grupo e à incompreensão por parte do segundo. A coexistência entre a “linguagem para os próximos” e a “linguagem para todos” já era, para os próprios semioticistas, um objeto de reflexão. Assim, Lotman, em seu artigo O texto e a estrutura do auditório ([1977]2002b), destaca dois tipos de atividade discursiva:

  1. Atividade discursiva voltada para um destinatário abstrato cujo volume de memória é próprio de qualquer falante da língua;

  2. Atividade discursiva voltada para um interlocutor concreto, um conhecido, dotado de um nome próprio (LOTMAN, 2002bLOTMAN, Iú. Tiekst i struktúra auditórii [O texto e a estrutura do auditório]. In: LOTMAN, Iú. Istória i tipológuia rússkoi kultúry [A história e a tipologia da cultura russa].São Petersburgo: Iskússtvo-SPB, 2002b, p.169-173., p.169). Nesse último caso, como não há necessidade de explicar no texto os pormenores que o interlocutor já conhece, recorre-se às “construções elípticas, semântica local que tende a formar um léxico ‘caseiro’ e ‘íntimo’” (LOTMAN, 2002bLOTMAN, Iú. Tiekst i struktúra auditórii [O texto e a estrutura do auditório]. In: LOTMAN, Iú. Istória i tipológuia rússkoi kultúry [A história e a tipologia da cultura russa].São Petersburgo: Iskússtvo-SPB, 2002b, p.169-173., p.171)13 13 No original: Будут развиваться эллиптические конструкции, локальная семантика, тяготеющая к формированию «домашней», «интимной» лексики. . Essas conclusões, certamente, podem ser estendidas para a linguagem da semiótica russa.

No mesmo artigo, Lotman sugere o conceito de “imagem do auditório”: todo texto não só é orientado para um determinado auditório, como também atua ativamente sobre este auditório por meio da imagem dele que contém dentro de si. Existe um código normatizador que, ao ser imposto a um auditório, transforma-se em uma norma da imagem que esse auditório tem sobre si. Essas relações dialógicas (e aqui Lotman retoma o conceito bakhtiniano) só se tornam possíveis graças à memória comum entre o remetente e o destinatário (LOTMAN, 2002bLOTMAN, Iú. Tiekst i struktúra auditórii [O texto e a estrutura do auditório]. In: LOTMAN, Iú. Istória i tipológuia rússkoi kultúry [A história e a tipologia da cultura russa].São Petersburgo: Iskússtvo-SPB, 2002b, p.169-173., p.169). Estendendo o conceito de imagem do auditório para as atividades da Escola, é preciso ressaltar que, apesar de terem destinatários restritos, a obra dos semioticistas russos visava, sim, à transformação positiva do ambiente circundante. Não é por acaso que, no final dos anos de 1980, quando os órgãos da censura baixaram a sua guarda, a semiótica russa saiu da "torre de marfim". Foi nesse período que Lotman gravou, para a televisão soviética, um ciclo de palestras intitulado Conversas sobre a cultura russa (Bessiédy o rússkoi kultúre). O objetivo do ciclo era contar sobre a semiótica e a cultura russa da forma mais simples e acessível possível. Da mesma forma, os textos de Lotman, escritos nos anos de 1980-1990, tornam-se menos codificados e se caracterizam por uma linguagem cada vez mais clara, além da presença de inúmeros exemplos que facilitam a sua interpretação por parte do público leitor.

Com base nas observações de Borís Gaspárov, é possível destacar as principais características da linguagem da semiótica russa durante a primeira etapa de sua atuação, isto é, nos anos 1960-1970:

  • Nos trabalhos dos semioticistas russos nota-se a abstenção da linguagem soviética oficial e dos assuntos político-culturais da atualidade. Iliá Zemtsov chama essa libertação da linguagem soviética de “dissidência linguística”14 14 No original: языковое диссидентство. (1985, p.9)ZEMTSOV, I. Soviétski politítcheski iazyk [Linguagem soviética política]. London: Overseas Publications Interchange Ltd, 1985..

  • Muitos dos textos que chegavam a ser publicados possuíam caráter breve e resumido. Como os semioticistas não tinham certeza de que haveria uma outra oportunidade de publicar os seus trabalhos, muitos dos seus textos não podiam ser desenvolvidos e permaneciam na forma resumida. O melhor exemplo aqui são Teses para uma análise semiótica da cultura (Uma aplicação aos textos eslavos) (MACHADO, 2003MACHADO, I. Escola de semiótica: a experiência de Tártu-Moscou para o estudo da cultura. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2003., p.99-132).

  • Os termos que potencialmente poderiam ser perigosos eram substituídos por outros. No início, até mesmo o termo “semiótica” era evitado e substituído pela expressão de autoria de Vladímir Uspiénski “sistemas modelizantes secundários” (VÓLKOVA AMÉRICO, 2015VÓLKOVA AMÉRICO, E. Iúri Lotman e a Escola de Tártu-Moscou. Galaxia, n. 29, p.123-140, 2015. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/galaxia/article/view/20156/16749. Acesso em: 25 jan. 2019.
    https://revistas.pucsp.br/galaxia/articl...
    , p.128).

  • A linguagem utilizada em uma grande parcela dos trabalhos dos semioticistas tendia a ser estritamente científica. A sua natureza restrita e hermética se manifestava pelo uso de palavras pouco compreensíveis para o público leigo. A título de exemplo citaremos algumas expressões comumente encontradas nos textos dos anos de 1960: sistema monotípico; hierarquicamente complexo; discreto-linear; princípio organizacional homeomorfo-contínuo etc.

  • A codificação da linguagem semiótica ocorria também por meio do amplo uso dos estrangeirismos, o que se encaixa na tendência ocidentalista mais geral adotada pela Escola. A cidade estoniana de Tártu, um dos centros da Escola, e local em que trabalhava Iúri Lotman, estava na periferia do mapa soviético o que dava maior liberdade aos pesquisadores que ali atuavam. Além disso, os países bálticos, de modo geral, e, particularmente a Estônia e Tártu, representavam, para os soviéticos, uma espécie do Ocidente. As tendências ocidentalistas observam-se também no nível linguístico: muitas das palavras utilizadas por semioticistas eram termos estrangeiros simplesmente transliterados, desconhecidos pela linguagem científica russa e soviética (GASPÁROV, 1994Gaspárov, B. Tártuskaia chkola 1960-kh kak semiotítcheski fenómen [A escola de Tártu dos anos 1960 como um fenômeno semiótico]. In: Iu. M. Lótman i tártusko-moskóvskaia semiotítcheskaia chkola. [Iu. M. Lotman e Escola semiótica de Tátru-Moscou].Moscou: Gnózis, 1994, p.279-294. Volume II., p.285).

  • O procedimento da linguagem esópica também era aplicado com frequência. Pode-se dizer que a cultura e a literatura russa dominavam esse procedimento com grande maestria, pois era obrigada a conviver com a censura rigorosa desde os seus primórdios. No caso da Escola, uma análise de certas situações históricas, aparentemente muito distantes, podia aludir, para um leitor erudito e atento, à atualidade soviética.

Como se pode observar, em todos esses casos o termo “código” adquire uma importância singular: os textos dos semioticistas russos eram literalmente codificados e nem todos os leitores tinham a competência e as chaves necessárias para a sua decodificação (GAPÁROV, 1994, p.287).

O original e a tradução

Nos estudos comparativos, o cotejo entre o original e a tradução é um caso bastante particular, pois poderíamos supor que é o mesmo texto escrito originalmente em russo e depois traduzido para o português. No entanto, os estudos modernos da tradução apontam para a importância de contextos diferentes, em que o original e a tradução foram criados e estão circulando, além de destacarem o papel criativo do tradutor (VENUTI, 1996VENUTI, L. O escândalo da tradução. Tradterm, v. 3, p.111-122, 1996. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/tradterm/article/view/49897/54005. Acesso em: 25 jan. 2019.
http://www.revistas.usp.br/tradterm/arti...
, p.111-112).

No Brasil, a obra de Iúri Lotman e dos semioticistas russos em geral tornou-se conhecida principalmente graças aos esforços de Boris Schnaiderman. Ao que tudo indica, o primeiro texto de Lotman traduzido no Brasil foi A estrutura do texto artístico que, em 1978, foi parte da dissertação de mestrado de Jasna Paravich Sarhan, sob a orientação de Boris Schnaiderman. O livro é fundamental para a definição do conceito central para a obra de Iúri Lótman: o texto, ainda que nele o termo texto se refira estritamente à esfera da literatura.

O grande marco divisor na divulgação dos trabalhos dos semioticistas russos no Brasil foi a publicação, em 1979, da coletânea Semiótica russa, organizada por Boris Schnaiderman. Os artigos que a integram pertencem à primeira etapa da semiótica russa, marcada justamente pelo fechamento extremo em relação ao resto do universo soviético. O volume é composto por textos de vários expoentes da Escola e, inclusive, por dois textos de Iúri Lotman. No prefácio, Boris Schnaiderman busca definir o caminho do surgimento da “consciência semiótica” na Rússia e na União Soviética, anterior às atividades da Escola. Entre os nomes e as correntes, denominados por ele de “elos perdidos”, estão Vesselóvski, Potebniá, o formalismo russo, Florênski, Propp, Jakobson, Bakhtin, Volóchinov, Medviédev, Vigótski, Marr, Eisenstein (SCHNAIDERMAN, 2010SCHNAIDERMAN, B. Semiótica na U.R.S.S. Uma busca dos “elos perdidos” (À guisa de Introdução). In: SCHNAIDERMAN, B. (Org.). Semiótica russa. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010, p.9-30.). O artigo de Lotman Sobre o problema da tipologia da cultura, de 1967, na tradução de Lucy Seki feita diretamente do russo, abre o volume. Trata-se de um texto programático que expõe os fundamentos da semiótica da cultura. Assim, Lotman descreve cultura como um mecanismo extremamente complexo, dentro do qual os textos culturais (é justamente aqui que surge o célebre termo “sistemas modelizantes secundários”) obedecem a certa hierarquia. (2010, p.33)LOTMAN, Iú. Sobre o problema da tipologia da cultura. Trad. Lucy Seki. In: SCHNAIDERMAN, B. (org.). Semiótica russa. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 2010, p.31-41.. Ao contrapor duas épocas diferentes, a Idade Média e a Renascença, cada uma dotada de códigos culturais distintos, Lotman demonstra como o mesmo objeto semiótico pode ser interpretado de maneiras diferentes (2010, p.41)LOTMAN, Iú. Sobre o problema da tipologia da cultura. Trad. Lucy Seki. In: SCHNAIDERMAN, B. (org.). Semiótica russa. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 2010, p.31-41..

Para a análise, selecionei três trechos que, a meu ver, ilustram as particularidades da linguagem da semiótica russa dos anos 1960.

Trecho 1

O primeiro trecho exemplifica a linguagem codificada da semiótica russa por vários motivos. No plano semântico, é apresentada uma das ideias centrais desse ensaio: a alegação da necessidade de dominar certos códigos culturais para decifrar e interpretar corretamente um texto. Afirma-se a possibilidade de que o mesmo texto cultural possa ser interpretado de formas diferentes por destinatários distintos. É possível até mesmo supor que essas conclusões, fundamentais para a semiótica da cultura lotmaniana, foram suscitadas por conta das condições em que os seus trabalhos foram criados, isto é, pela consideração de, no mínimo, dois possíveis destinatários para os seus textos. É muito interessante a afirmação de que, entre as linguagens da cultura, as linguagens científicas seriam menos sujeitas a fornecer, para os seus “consumidores”, informações diferentes. Essa afirmação é contestada pelo próprio conteúdo semântico do artigo, que também pertence à esfera das linguagens culturais.

No plano linguístico, destaca-se a segunda frase: um longo período, composto por coordenação e subordinação, traço típico da linguagem científica em geral. Além disso, nesse trecho há várias palavras e expressões de origem estrangeira, como por exemplo: mobilidade semântica; hierarquia dos códigos; decifrada; estrutura de código idêntica. É uma verdadeira invasão da palavra alheia. Isto é, as oposições seu/alheio; compreensível/incompreensível; decifrável/indecifrável manifestam-se não só no plano semântico, como também no nível linguístico. No entanto, isso só ocorre no texto em russo. Apesar do fato da tradução ter sido feita diretamente do russo, essas características do texto original foram praticamente apagadas na tradução, pois as palavras que no texto russo são claramente marcadas como de origem estrangeira, no texto em português perdem essa característica.

Os trechos 2 e 3 possuem poucas palavras de origem estrangeira e tampouco são marcados pela presença de períodos longos. O mais importante aqui ocorre no plano semântico. Lotman se refere à oposição entre a Idade Média e a Renascença, afirmando que essa última foi responsável pela desvalorização do signo e, consequentemente, da palavra, como sua principal representação. Essa ideia, segundo Lotman, teve um impacto muito grande na obra literária e filosófica de Liev Tolstói e se expressou, em particular, em sua novela Kholstomer (1886), a qual Lotman se refere no parágrafo do trecho 3. É claro que, no contexto da União Soviética dos anos 1960, as conclusões sobre a natureza falsa, bem como sobre a posição marginal e até mesmo extrassocial do portador da verdade tornam-se bastante sugestivas. O artifício da linguagem esópica é aplicado aqui com grande maestria.

Trecho 2

Trecho 3

Cabe aqui uma pergunta: levando em consideração a famosa afirmação de Valentin Volóchinov de que todo signo é de natureza ideológica e social (2017, p.91-102)VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo; ensaio introdutório de Sheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017., estaria Lotman discordando dele ao dizer que, em determinadas épocas o conceito de verdade (que também pode ser vista como um signo) pode encontrar-se em uma posição extrassocial? Ao que parece, não se trata de uma discordância pois, ao afirmar que na época da Renascença a verdade era vista como pertencente à esfera extrassocial, o seu vínculo estreito com a esfera ideológica e social torna-se ainda mais evidente.

Embora o cotejo entre o original e a tradução de apenas um artigo de Lotman não seja suficiente para tirar conclusões de caráter mais geral, ele permite chegar a algumas observações importantes. Trazendo novamente à tona o conceito tertium comparationis, sugerido pelo grupo CLESTHIA-Cediscor, é possível afirmar que não se trata do mesmo texto, uma vez que o contexto da sua criação e circulação é diferente.

De modo geral, a linguagem da obra de Lotman tende à clareza - mesmo nos textos criados na década de 1960 - o que a distingue dos demais trabalhos dos semioticistas russos da época. A explanação teórica sempre muito bem exemplificada é também a marca registrada dos textos lotmanianos. No entanto, mesmo em seus trabalhos é possível observar algumas das particularidades apontadas acima.

O texto em português preserva as principais características linguísticas do original: a ausência dos sovietismos e, no plano semântico, a ausência das referências histórico-políticos da atualidade; os longos períodos compostos e a terminologia “esotérica” complexa. No que diz respeito ao amplo uso dos estrangeirismos, nas traduções esse traço da linguagem foi bastante atenuado. Além disso, para o leitor que desconhece o contexto da criação da obra lotmaniana, não está clara a razão da complexidade linguística e da ausência das referências políticas e históricas da época. As características marcantes do texto original em geral são apagadas, tornam-se invisíveis ou misturam-se às caraterísticas gerais do gênero de artigo científico: isso ocorre porque o contexto em que os textos dos semioticistas russos são traduzidos e lidos é outro. No entanto, para a compreensão correta da obra dessa importantíssima corrente semiótica, é imprescindível levar em consideração as circunstâncias de sua formação. Como afirma o próprio Lotman no final do artigo em questão: “É possível supor que o aparecimento da Semiótica seja resultado não só de determinado movimento científico, mas também da expressão das peculiaridades do código cultural da época” (2010, p.41)LOTMAN, Iú. Sobre o problema da tipologia da cultura. Trad. Lucy Seki. In: SCHNAIDERMAN, B. (org.). Semiótica russa. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 2010, p.31-41..

Figura 1
Reunião no barco: IV Escola de verão, 1970.
  • 1
    No original: “словарь советской цивилизации”; “совершилось (или завершилось) разрушение языка русской гуманитарной науки”.
  • 2
    No original: “Думаю, что надо пока оставить помыслы о научной книге, - писал Б. Эйхенбаум. - Этого языка нет - и ничего не сделаешь. Язык - дело не индивидуальное. Литературоведческого языка нет, п‹отому› ч‹то› научной мысли в этой области нет - она прекратила течение свое”; “Писать `терминами` не могу, а языка теперь нет”.
  • 3
    No original: “идеологическая выхолощенность".
  • 4
    No original: “выработка изощренных форм эзопова языка, выразившегося по большей части в словесном переодевании излагаемых сюжетов: так, за обличительным повествованием о цензуре или ином насилии при царизме должно было угадываться обличение автором тоталитарных порядков”.
  • 5
    No original: “язык сопротивления”.
  • 6
    No original: “Тартуско-московская семиотическая школа: семиотическая модель культуры / культурная модель семиотики”
  • 7
    No original: “Советская семиотика представляет собой характерный случай, когда научный проект, возникший и сложившийся в рамках жесткого идеологического контроля над производством исторического знания, не только разрешает свои непосредственные дисциплинарные задачи, но и выступает как способ интеллектуального сопротивления официальным историческим мифам, становясь формой их прямой или подспудной демистификации. При этом за практикой семиотических штудий в Советском Союзе стояли более сложные и двусмысленные механизмы. Советская семиотика использовала отдельные исторические эпохи не только как объекты исторического анализа, но также как фигуры рефлексии над собственным историческим контекстом, над условиями, стоящими за направленностью самих семиотических описаний”.
  • 8
    No original: “В этом смысле тотальная семиотизация реальности, осуществляемая в рамках семиотического подхода, является попыткой противостояния информационной энтропии, задаваемой унылым воспроизводством доминирующей идеологии и господствующих культурных мифов”.
  • 9
    No original: “Так, фигура Ю.М. Лотмана начинает приобретать черты культурного трикстера, создающего или хотя бы структурно преобразующего мир”.
  • 10
    No original: “Тартуская школа 1960-х годов как семиотический феномен”.
  • 11
    No original: “Ю.М. Лотман и тартуско-московская семиотическая школа”.
  • 12
    No original: “эзотерический научный язык.”
  • 13
    No original: Будут развиваться эллиптические конструкции, локальная семантика, тяготеющая к формированию «домашней», «интимной» лексики.
  • 14
    No original: языковое диссидентство.

REFERÊNCIAS

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  • Gaspárov, B. Tártuskaia chkola 1960-kh kak semiotítcheski fenómen [A escola de Tártu dos anos 1960 como um fenômeno semiótico]. In: Iu. M. Lótman i tártusko-moskóvskaia semiotítcheskaia chkola [Iu. M. Lotman e Escola semiótica de Tátru-Moscou].Moscou: Gnózis, 1994, p.279-294. Volume II.
  • GRILLO, S.; GLUSHKÓVA, M. A divulgação científica no Brasil e na Rússia: um ensaio de análise comparativa de discursos. Bakhtiniana. Revista de estudos do Discurso. v. 11, n. 2, p.69-92, 2016. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/bakhtiniana/article/view/23556/19236; http://www.scielo.br/pdf/bak/v11n2/2176-4573-bak-11-02-0069.pdf Acesso em: 25 jan. 2019.
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  • GRILLO, S.; VÓLKOVA AMÉRICO, E. Valentin Nikoláievitch Volóchinov: detalhes da vida e da obra encontrados em arquivos. Alfa, São Paulo, v. 61, n. 2, p.255-281, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/alfa/v61n2/0002-5216-alfa-61-02-0255.pdf Acesso em: 25 jan. 2019.
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  • KALÍNIN, I. Tártussko-moskóvskaia semiotítcheskaia chkola: semiotítcheskaia model kultury/kultúrnaia model semiótiki [A Escola Semiótica de Tártu-Moscou: um modelo semiótico da cultura/um modelo cultural da semiótica]. NLO, n.98, 2009. Disponível em: http://magazines.russ.ru/nlo/2009/98/ka6.html Acesso em: 25 jan. 2019.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2019

Histórico

  • Recebido
    20 Jul 2018
  • Aceito
    10 Ago 2019
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