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Olhares dialógicos sobre a aquisição da linguagem

A preparação deste número para Bakhtiniana foi marcada pelo triste acontecimento da morte de Frédéric François (1935 - 2020), que dedicou muito de seu trabalho ao estudo da linguagem da criança. Frédéric François foi um dos primeiros linguistas a entender em que medida o dialogismo bakhtiniano poderia prover novos e poderosos olhares para a linguagem da criança e para seu processo de aquisição (FRANÇOIS 1990FRANÇOIS, F. (Ed.). La communication inégale. Heurs et malheurs de l'interaction verbale. Neuchâtel: Délachaux et Niestlé, 1990., 1993FRANÇOIS, F. Pratiques de l’oral. Dialogue, jeu et variations des figures du sens. Paris: Nathan Pédagogie, 1993.; FRANÇOIS et al. 1977FRANÇOIS, F., FRANÇOIS, D., SOURDOT, M., & SABEAU-JOUANNET, E. La syntaxe de l'enfant avant cinq ans. Paris: Larousse, 1977., 1984FRANÇOIS, F., HUDELOT, C., & SABEAU-JOUANNET, E. Conduites linguistiques chez le jeune enfant. Paris: PUF, 1984.). A partir do final dos anos 1970, suas preocupações passaram do estudo da sintaxe para o estudo do discurso e do diálogo na criança. Em concordância com a perspectiva dialógica, ele considerou as diferentes línguas como o resultado da experiência discursiva dos falantes, e não o contrário. Ao invés de procurar por características formais do discurso, concentrou-se no papel central dos movimentos discursivos: crianças (e adultos) constroem seus enunciados com base nos enunciados dos outros e em diálogo com eles. Diante disso, a heterogeneidade e a imprevisibilidade dos eventos discursivos se mostram mais relevantes do que as regularidades estruturais. Além disso, ele enfatizou o poder do diálogo, que faz com que as crianças (e outros falantes, obviamente) produzam um discurso que elas não conseguiriam realizar sozinhas. Do ponto de vista epistemológico, ele foi também totalmente bakhtiniano, ao considerar seu próprio posicionamento como a expressão de um diálogo com os discursos e textos que estudou (FRANÇOIS, 2009FRANÇOIS, F. Essais sur quelques figures de l'orientation. Hétrogénéité, mouvements et styles. Limoges: Lambert Lucas, 2009.). Muitos artigos neste número fazem ecoar um ou outro aspecto de seus pensamentos, revelando o movimento dialógico do encontro das palavras do eu com a palavra do outro.

Como suas discípulas, na França e no Brasil, tivemos a oportunidade de ouvir suas ricas e inspiradoras reflexões e, por isso, sentimo-nos honradas em difundir, ainda que modestamente, um pouco desse seu diálogo com o pensamento bakhtiniano, assim como suas próprias contribuições. Por isso, dedicamos este número à sua memória e aos trabalhos e reflexões que ele nos legou. Consagrando um número à Aquisição da Linguagem, Bakhtiniana cria um encontro entre a teoria de Bakhtin e o Círculo com o campo de estudos sobre a linguagem infantil. Apesar de os pensadores russos não terem se dedicado especialmente a esse tema, é possível encontrar em seus textos indícios da posição dialógica da criança.

[…] dos lábios da mãe e de pessoas íntimas a criança recebe todas as definições iniciais de si mesma. Dos lábios delas, no tom volitivo-emocional do seu amor, a criança ouve e começa a reconhecer o seu nome, a denominação de todos os elementos relacionados ao seu corpo e às vivências e estados interiores; são palavras de pessoa ama as primeiras palavras sobre ela, as mais autorizadas, que pela primeira vez lhe determinam de fora a personalidade e vão ao encontro da sua própria e obscura auto-sensação interior, dando-lhe forma e nome em que pela primeira vez ela toma consciência de si e se localiza como algo (BAKHTIN, 2003BAKHTIN, M. O autor e a personagem na atividade estática. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. Prefácio da Edição Francesa Tzvetan Todorov. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.3-192., p.46; itálicos no original).

Com efeito, um dos pontos fortes do dialogismo bakhtiniano está no fato de ele estabelecer as bases de uma ontologia (MARKOVÁ, 2016MARKOVÁ, I. The Dialogical Mind. Common Sense and Ethics. Cambridge: Cambridge University Press, 2016.; TODOROV, 1984). Como uma ontologia, o dialogismo considera o ser humano (e as crianças) como sendo definido por sua relação com os outros.

Os atos mais importantes, que constituem a autoconsciência, são determinados pela relação com outra consciência (com o tu). [...] O próprio ser do homem (tanto interno quanto externo) é convívio mais profundo. Ser significa conviver. [...] Ser significa ser para o outro e, através dele, para si. O homem não tem um território interior soberano, está todo e sempre na fronteira, olhando para dentro de si ele olha o outro nos olhos ou com os olhos do outro (BAKHTIN, 2003BAKHTIN, M. Reformulação do livro sobre Dostoiévski. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.337-358., p.341-342; itálicos no original).

Esse posicionamento ontológico converge e ressoa as perspectivas interacionistas que entendem o desenvolvimento cognitivo e linguístico das crianças dentro da esfera de relações com os outros, em contextos sociais e culturais (cf. Bruner, 1983BRUNER, J. S. Child's Talk. Learning to Use Language. New York: W.W. Norton & Company, 1983., 1990BRUNER, J. S. Acts of Meaning. Harvard: Harvard University Press, 1990.; Vygotsky, 1962VYGOTSKY, L. S. Thought and Language. Cambridge, MA: M.I.T. Press, 1962 [1934]., 1978VYGOTSKY, L. S. Mind in Society. The Development of Higher Psychological Processes. Eds. M. Cole, V. John-Steiner, S. Scribner, & E. Souberman. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1978.; Nelson, 2007NELSON, K. Young Minds in Social Worlds: Experience, Meaning, and Memory. Cambridge, MA.: Harvard University Press, 2007.; Tomasello, 1999TOMASELLO, M. The Cultural Origins of Human Cognition. Cambridge, Ma. and London: Harvard University Press, 1999.inter alia). A abordagem dialógica vai ao encontro dessa perspectiva teórica mais geral focalizando o discurso efetivamente produzido e o que está em jogo em cada encontro. O dialogismo envolve um posicionamento epistemológico, que diverge das abordagens estruturalistas ou formalistas no que diz respeito ao reconhecimento do caráter primário do diálogo na experiência humana e de sua inclusão na sociedade e na cultura, invadindo sua visão de língua e de uso da linguagem. Não apenas a abordagem dialógica considera uma língua, qualquer língua, como o produto de trocas dialógicas em contextos culturais, mas também concebe, acima de tudo, a aquisição da linguagem como um processo cultural que conduz as crianças do discurso, enquanto enunciados e gêneros, às palavras e estruturas.

Esta é a razão pela qual, ainda que os estudos bakhtinianos tenham se concentrado no discurso adulto, o dialogismo oferece um embasamento robusto para o estudo de aquisição da linguagem. E, ao mesmo tempo, como dizia François (2006FRANÇOIS, F. O que nos indica a “linguagem da criança”: algumas considerações sobre a “linguagem”. In: DEL RÉ, A et al. (org.). Aquisição da linguagem: uma abordagem psicolinguística. São Paulo: Contexto, 2006. p.183-200.), falar em linguagem da criança é falar da linguagem humana. Trata-se, portanto, de olhar para a gênese onde a criança, na e por meio da linguagem, passa a se constituir como sujeito. Assim, “usar os óculos bakhtinianos” para olhar para a linguagem da criança não significa

[…] partir de uma teoria da linguagem para estudar em seguida a maneira pela qual ela é adquirida e se desenvolve na criança. Pelo menos parcialmente acontece o inverso. A criança entra na linguagem de maneiras diferentes, e isso nos mostra a dificuldade para se falar da linguagem (FRANÇOIS, 2006FRANÇOIS, F. O que nos indica a “linguagem da criança”: algumas considerações sobre a “linguagem”. In: DEL RÉ, A et al. (org.). Aquisição da linguagem: uma abordagem psicolinguística. São Paulo: Contexto, 2006. p.183-200., p.198).

O posicionamento dialógico tangencia as perspectivas sócio-pragmática e interacionista, as quais consideram o impacto do input e do discurso dirigido à criança como fatores principais no processo de aquisição. O diálogo com as crianças começa mesmo antes de suas primeiras palavras. Pais, primos, pesquisadores, etc. se dirigem à criança como seu interlocutor, atribuindo valores, significados aos gestos ou quaisquer manifestações enunciativas que são aparentemente incompletas, e com uma maneira particular de falar (simplificação sintática e semântica, mudanças prosódicas, etc.). Ao mesmo tempo, a palavra da criança é retomada dialogicamente pelos pais, como palavra alheia e inserida em outros contextos (cf. Abaurre; Fiad; Mayrink-Sabinson, 1997ABAURRE, M. B.; FIAD, R. S.; MAYRINK-SABINSON, M. L. T. Cenas de aquisição da escrita: o sujeito e o trabalho com o texto. Campinas: Mercado de Letras, 1997.). Seja pela linguagem dirigida à criança, seja pela palavra entendida como alheia pelos pais, as crianças estão, desde o início, mergulhadas em diferentes modos de estar na linguagem, em movimentos dialógicos e em maneiras particulares de encadear nossos enunciados ao nosso próprio discurso e aos enunciados do outro (FRANÇOIS, 2006FRANÇOIS, F. O que nos indica a “linguagem da criança”: algumas considerações sobre a “linguagem”. In: DEL RÉ, A et al. (org.). Aquisição da linguagem: uma abordagem psicolinguística. São Paulo: Contexto, 2006. p.183-200., p.194).

Este número de Bakhtiniana procura mostrar a relevância das contribuições do pensamento bakhtiniano para a compreensão da linguagem da criança e de temas relacionados à aquisição da linguagem. Nos diferentes artigos que o compõem, os autores trataram de facetas do dialogismo, seja adotando uma abordagem puramente dialógica, seja trazendo perspectivas teóricas relacionadas, tais como o interacionismo, a linguística aquisicional, o construtivismo ou a teoria enunciativa, contribuindo para fornecer um panorama das pesquisas atuais e de perspectivas futuras.

No artigo que inaugura este número, Del Ré (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP, Faculdade de Ciências e Letras - FCLAr, Araraquara-SP, Brasil), Hilário (Grupo GEALIN/NALíngua, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP/FCLAr, Araraquara-SP, Brasil) e Vieira (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, Instituto de Letras, Porto Alegre-RS, Brasil) apresentam um panorama da emergência e do desenvolvimento da abordagem dialógica da aquisição da linguagem no Brasil e suas relações com as perspectivas dialógica, enunciativa e interacionista desenvolvidas na França. O artigo recapitula as orientações dos diversos autores que serviram de base para as escolhas teórico-metodológicas do grupo de pesquisa GEALin-FCLAr (Grupo de Estudos em Aquisição da Linguagem, Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, Araraquara / NALingua-CNPq), mostrando que a filiação teórica foi acompanhada por uma colaboração continuada. Além disso, as autoras destacam desafios teóricos a serem enfrentados quando se trata da linguagem infantil, tais como as implicações multidimensionais do contexto e do outro na linguagem. Elas expõem, igualmente, as implicações teóricas de algumas noções bakhtinianas (tais como os gêneros do discurso, a palavra alheia) e apresentam escolhas metodológicas particularmente relevantes na área. Como um todo, o artigo ilustra as principais preocupações dos estudos dialógicos da aquisição da linguagem no Brasil.

Em seguida, a partir da ligação entre as noções de enunciação e entoação expressiva propostas pelo Círculo, Vasconcelos (Universidade Federal de Alagoas-UFAL, Instituto de Psicologia, Maceió, Alagoas, Brasil), Vieira (Universidade Federal de Alagoas-Ufal, Instituto de Psicologia, Maceió, Alagoas, Brasil) e Scarpa (Universidade Estadual de Campinas-Unicamp, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, São-Paulo, Brasil) defendem que os aspectos prosódicos no início da vida têm uma função linguística nos diálogos entre adultos e bebês, permitindo à criança transformar a palavra alheia em palavra própria. Essa discussão é realizada a partir da análise dos dados de uma criança brasileira e outra francesa, comparando-se variações da curva entonacional dos enunciados dos adultos com vocalizações dos bebês. As autoras observaram que os aspectos prosódicos são recursos valiosíssimos para a enunciação no começo da vida.

O artigo escrito por Morgenstern (Université Sorbonne Nouvelle, Institut du Monde Anglophone, PRISMES, Paris, France) aborda outra faceta do dialogismo: a forma como as vozes do outro moldam a subjetividade e suas expressões. Em um estudo que mostra especialmente a importância de se trabalhar com dados naturalísticos, ela aborda a aquisição da autorreferência. Os insights de Bakhtin sobre a dialogicidade fornecem uma estrutura complementar e relevante para as abordagens funcional e enunciativa que geralmente servem de base para se estudar a maneira como as crianças adquirem progressivamente a expressão de autorreferência em contraste com a referência àquele com quem se fala e a entidades. Por meio da seleção de cenas extraídas de uma base de dados longitudinais de interações pais-filhos, o estudo de Morgenstern traz à tona a natureza heteroglóssica dos primeiros diálogos familiares e mostra a força da proposta bakhtiniana segundo a qual adquirimos a linguagem por meio das palavras do outro.

Bertin e Masson (ambas da Université Sorbonne Nouvelle, Paris, France) se propõem a examinar a contribuição conjunta da abordagem interacionista, da linguística da aquisição (LENTIN, 2009LENTIN, L. Apprendre à penser, parler, lire, écrire. Acquisition du langage oral et écrit. Paris: ESF, 2009.), e do dialogismo bakhtiniano, concentrando-se na aquisição de aspectos morfossintáticos e lexicais da linguagem e no processo de interação que serve de base e favorece a produção da linguagem em crianças. Elas discutem as características dialógicas das repetições e reformulações nas interações entre adultos e crianças (de 2 a 4 anos) com desenvolvimentos típicos e atípicos, e, em particular, os fenômenos interdiscursivos observados nas trocas andaimadas. Suas análises lançam luz sobre as implicações dialógicas para o discurso do adulto que está na Zona de Desenvolvimento Proximal de uma criança (VYGOTSKY, 1978VYGOTSKY, L. S. Mind in Society. The Development of Higher Psychological Processes. Eds. M. Cole, V. John-Steiner, S. Scribner, & E. Souberman. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1978.), o que lhes permite fazer dialogar as abordagens interacionistas e dialógicas.

Delamotte (Université de Rouen Normandie, Rouen, France) explora outra dimensão da natureza dialógica dos enunciados na interação verbal, prestando dupla homenagem ao pensamento de François e de Bakhtin. Apoiando-se na diferença entre o dialogal e o dialógico, ela aborda duas noções: a de movimento discursivo (FRANÇOIS 1990FRANÇOIS, F. (Ed.). La communication inégale. Heurs et malheurs de l'interaction verbale. Neuchâtel: Délachaux et Niestlé, 1990., 2005FRANÇOIS, F. Interprétation et dialogue chez des enfants et quelques autres. Lyon: ENS editions, 2005.) e a de responsividade bakhtiniana (BAKHTIN, 2003BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. Prefácio à edição francesa de Tzvetan Todorov. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.261-306. ). Em sua análise de diálogos envolvendo crianças pequenas, Delamotte mostra várias facetas dos modos como a responsividade interdiscursiva e intradiscursiva - o “combate dialógico” - contribuem para a construção de significado.

Partindo das concepções bakhtinianas de voz e de romance como um gênero heteroglóssico complexo, Veneziano (Université de Paris & CNRS, Paris, France) explora a dimensão polifônica das narrativas infantis. Crianças falantes do francês (com idades entre 5 e 8 anos) foram solicitadas a contar uma história, em um primeiro momento, depois de olhar para uma sequência de cinco imagens e, em seguida, após uma intervenção conversacional. Em seu estudo, Veneziano mostra a grande variedade de vozes nas narrativas (polifônicas) infantis, apresentando as crianças ora na posição de narradoras, ora dando voz a diferentes personagens, por meio do discurso reportado e da expressão de estados internos. O estudo verifica igualmente a evolução com a idade e o efeito da intervenção conversacional. A partir dos resultados, Veneziano estabelece um diálogo entre os conceitos bakhtinianos, interacionistas e os conceitos piagetianos, demonstrando a riqueza do dialogismo bakhtiniano quando confrontado com a área de aquisição da linguagem.

O artigo de Salazar Orvig (Université Sorbonne Nouvelle, Paris, France), De Weck (Université de Neuchâtel, Neuchâtel, Suisse) e Hassan (Université de Lille 3, Lille, France) apresenta alguns resultados do projeto DIAREF (“Aquisição das expressões referenciais em diálogo: abordagem multimodal”), cujo objetivo é propor uma explicação dialógica para a sensibilidade de crianças (entre 1;7 e 7;5 anos) à acessibilidade do referente e à sua posição na cadeia referencial, tanto em meio familiar, quanto escolar. Essa abordagem mostra como os contextos sócio-discursivos influenciam a opção pelas diferentes expressões referenciais, bem como a maneira como suas funções são construídas. As autoras aderem a uma concepção de processo de aquisição da linguagem coerente com as propostas metodológicas de Volóshinov e Bakhtin, mostrando como as crianças experimentam a linguagem (e, portanto, as unidades e estruturas) em diferentes tipos de interações, atividades e gêneros de discurso.

Já no trabalho de Calil (Universidade Federal de Alagoas - UFAL, Centro de Educação, Maceió, Alagoas, Brasil), temos uma outra possibilidade de diálogo com o processo de aquisição da linguagem, desta vez com a escrita. Ao buscar compreender o processo criativo de títulos em histórias inventadas por dois alunos portugueses, de 8 anos de idade, o autor faz dialogar a abordagem linguístico-enunciativa da Genética Textual com um olhar bakhtiniano para aquilo que é construído, dialógica, sócio-histórica e contextualmente. A partir de uma análise qualitativa e microgenética foi possível ao autor desvendar o modo como ideias e elementos linguísticos dessa díade de crianças se articulam, revelando redes associativas por semelhança sonora e semântica (homonímia, aliteração, sentidos) na produção de títulos para a história que estava em construção.

Os artigos publicados neste número trazem, assim, um panorama das inúmeras possibilidades dialógicas entre as diferentes línguas e culturas que fizeram parte deste número, abrindo espaço para um locus privilegiado de diálogo construído entre o Círculo de Bakhtin e o tema da Aquisição da Linguagem. Esperamos que eles possam dar origem a novos encontros entre as palavras, próprias e alheias. Finalmente, agradecemos à Bakhtiniana pela oportunidade de fazer ecoar esses discursos.

REFERÊNCIAS

  • ABAURRE, M. B.; FIAD, R. S.; MAYRINK-SABINSON, M. L. T. Cenas de aquisição da escrita: o sujeito e o trabalho com o texto. Campinas: Mercado de Letras, 1997.
  • BAKHTIN, M. O autor e a personagem na atividade estática. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. Prefácio da Edição Francesa Tzvetan Todorov. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.3-192.
  • BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal Introdução e tradução do russo de Paulo Bezerra. Prefácio à edição francesa de Tzvetan Todorov. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.261-306.
  • BAKHTIN, M. Reformulação do livro sobre Dostoiévski. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.337-358.
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  • BRUNER, J. S. Acts of Meaning Harvard: Harvard University Press, 1990.
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  • VYGOTSKY, L. S. Mind in Society. The Development of Higher Psychological Processes. Eds. M. Cole, V. John-Steiner, S. Scribner, & E. Souberman. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1978.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2021
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