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O discurso verbo-visual na língua brasileira de sinais - Libras

Resumos

Este artigo tem como objetivo ampliar as discussões sobre enunciados verbo-visuais, refletindo pressupostos teóricos do Círculo de Bakhtin que podem reforçar a argumentação de que, em enunciados de línguas de modalidade gestual visual, transparecem valores plástico-picturais e espaciais dos signos através também das Marcas não Manuais (MNMs). Está sendo ressaltada a diferença entre as expressões afetivas, comunicações paralinguísticas complementares em um enunciado, e as marcas verbo-visuais gramaticais, que são linguísticas por fazerem parte da arquitetura dos níveis fonológico, morfológico, sintático-semântico e discursivo em uma determinada língua. Essas marcas serão descritas a partir da Língua Brasileira de Sinais - Libras, incluindo a Translinguística como área de conhecimento que analisaria o discurso com relação a essas marcas verbo-visuais utilizadas pelos sujeitos na enunciação.

Dialogismo; Enunciado verbo-visual; Língua Brasileira de Sinais - Libras; Marcas não manuais; Translinguística


This article aims to broaden the discussion on verbal-visual utterances, reflecting upon theoretical assumptions of the Bakhtin Circle that can reinforce the argument that the utterances of a language that employs a visual-gestural modality convey plastic-pictorial and spatial values of signs also through non-manual markers (NMMs). This research highlights the difference between affective expressions, which are paralinguistic communications that may complement an utterance, and verbal-visual grammatical markers, which are linguistic because they are part of the architecture of phonological, morphological, syntactic-semantic and discursive levels in a particular language. These markers will be described, taking the Brazilian Sign Language-Libras as a starting point, thereby including this language in discussions of verbal-visual discourse when investigating the need to do research on this discourse also in the linguistic analyses of oral-auditory modality languages, including Transliguistics as an area of knowledge that analyzes discourse, focusing upon the verbal-visual markers used by the subjects in their utterance acts.

Dialogism; Verbal-Visual Utterance; Brazilian Sign Language-Libras; Non-Manual Markers; Translinguistics


ARTIGOS

O discurso verbo-visual na língua brasileira de sinais – Libras

Tanya A. Felipe

Universidade de Pernambuco – UPE, Recife, Pernambuco, Brasil; CNPq; tanyafelipe@gmail.com

RESUMO

Este artigo tem como objetivo ampliar as discussões sobre enunciados verbo-visuais, refletindo pressupostos teóricos do Círculo de Bakhtin que podem reforçar a argumentação de que, em enunciados de línguas de modalidade gestual visual, transparecem valores plástico-picturais e espaciais dos signos através também das Marcas não Manuais (MNMs). Está sendo ressaltada a diferença entre as expressões afetivas, comunicações paralinguísticas complementares em um enunciado, e as marcas verbo-visuais gramaticais, que são linguísticas por fazerem parte da arquitetura dos níveis fonológico, morfológico, sintático-semântico e discursivo em uma determinada língua. Essas marcas serão descritas a partir da Língua Brasileira de Sinais - Libras, incluindo a Translinguística como área de conhecimento que analisaria o discurso com relação a essas marcas verbo-visuais utilizadas pelos sujeitos na enunciação.

Palavras-chave: Dialogismo; Enunciado verbo-visual; Língua Brasileira de Sinais - Libras; Marcas não manuais; Translinguística

Introdução

Esta pesquisa sobre as marcas não manuais (MNMs) na Língua Brasileira de Sinais – Libras, língua utilizada pelas comunidades surdas brasileiras, foi realizada para dar subsídios ao Projeto Prodeaf Tradutor, cujo objetivo é desenvolver um software capaz de traduzir para a Libras, a partir de um avatar, textos em português na modalidade oral ou escrita. Está sendo pesquisada a arquitetura linguística da Libras, incluindo as MNMs que serão utilizadas pelo avatar no processo de tradução para aquela língua, de acordo com um sistema de tradução automática auxiliada por humanos1 1 Esta pesquisa, executada pelas equipes da ProAtiva e Fitec-PE, representa uma continuidade da pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos - Feneis, executora do Projeto Tradutor Libras x Português, financiado pelo MEC/SEESP-FNDE em 2004. Esse projeto teve a participação de três equipes: a da Feneis, coordenada pela autora desse artigo, responsável pela coleta de dados e descrição linguística da Libras; a do NILC-USP-SC, responsável pela tradução e criação do modelo para o tradutor; e a equipe da área de computação gráfica, responsável pela elaboração do avatar que traduziria para a Libras a partir do modelo criado. Esse projeto foi interrompido na primeira fase. Ver projeto e referências em: Tradutor Libras: Projeto TLIBRAS - Tradutor Português x LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) - http://www.acessobrasil.org.br/index.php?itemid=39 http://www.acessobrasil.org.br/index.php?itemid=163 MARTINS,R., PELIZZONI, J., HASEGAWA, R. PULø - Para um sistema de tradução semi-automática português-libras http://www.lbd.dcc.ufmg.br/colecoes/til/2005/0014.pdf PELIZZONI, J.M., NUNES, MARIA DAS GRAÇAS V. Flexibility, Configurability and Optimality, in: UNL Deconversion via Multiparadigm Programming: http://www.cicling.org/2005/UNL-book/Papers/175.pdf .

Como em outras pesquisas similares, em outros países, para a criação de tradutores através de tradução automática, esses enunciados da Libras estão sendo analisados com os objetivos de:

a) Elaboração de um dicionário bilíngue específico para o processo de tradução;

b) Elaboração de parsing a partir de modelos já existentes para línguas naturais de modalidade oral-auditiva e gestual-visual;

c) Utilização de modelos estatísticos, que trabalham com corpora disponíveis na internet ou em outras mídias que também utilizam vídeos;

d) Levantamento e descrição das MNMs presentes nos enunciados.

Em consonância com pressupostos teóricos sobre linguagem e dialogismo, advindos do Círculo de Bakhtin, o enunciado na Libras está sendo pensado como um evento sócio-histórico em que valores plástico-picturais e espaciais dos signos refletem e refratam o mundo. Assim, na descrição das MNMs da Libras, estas serão apresentadas como unidades verbo-visuais de enunciados. Em conformidade com a análise de um corpus para o tradutor, este artigo pretende contribuir para as reflexões sobre a dialogia da linguagem, apresentado o enunciado, nas línguas de modalidade gestual visual, como um discurso verbo-visual em que marcas não manuais no diálogo face a face são essenciais para a completude do enunciado sinalizado para o interlocutor.

Essas marcas não manuais, enquanto expressões face corporais, são utilizadas também nas línguas de modalidade oral auditiva, mas como poucas vezes elas têm sido objeto de pesquisa linguística, o objetivo deste trabalho é refletir sobre esse componente suprassegmental também nessas línguas, que precisam ser considerados a partir de estudos nas áreas da Linguística e da Metalinguística – ou Translinguística, conforme a opção deste artigo (Cf. BAKHTIN, 2008, p.207-310).

1 Pressupostos teóricos

O Círculo de Bakhtin introduziu concepções teórico-filosóficas que vêm sendo utilizadas por pesquisadores de várias áreas de conhecimento. Os conceitos de dialogismo e polifonia têm gerado inúmeras interpretações e aplicações, comprovando a dialogia da linguagem.

No Brasil e em outros países, esses conceitos, e outros tantos do Círculo, têm originado novas traduções e produções que vêm revolucionando os estudos literários, linguísticos, filosóficos, entre outras áreas de conhecimento, como na arte cinematográfica2 2 Para citar alguns autores: Stam (1992); Clark e Holquist (1998); Brait (2004, 2008, 2012); Hansks (2008); Faraco (2010); Geraldi (2010). .

Considerando as contribuições do atualmente denominado Círculo de Bakhtin, surge uma nova perspectiva para os estudos linguísticos, fundada na dialogia da linguagem, de forma que o ser humano, enquanto falante de uma língua, passou a ser analisado como sujeito, em sua incompletude, na medida em que a completude do enunciado desse sujeito só se concretiza por meio da relação dinâmica da compreensão responsiva do seu/s interlocutor/es.

Assim, a formulação e a compreensão de um enunciado vêm sendo analisadas como uma atividade interativa e contextualizada que requer uma complexidade de saberes e habilidades, de forma que o sentido de um enunciado está relacionado a uma enunciação sócio-histórica e ideológica.

Essa visão permite incluir a língua na concepção mais ampla de linguagem, implicando contexto e interação, podendo ser vista, sob um enfoque dos estudiosos de outras perspectivas que não a exclusivamente dialógica - caso das ciências cognitivas, como um fenômeno social materializado por meio de um contínuo entre a cognição e a cultura, uma vez que "aprender a falar significa aprender a construir enunciados porque falamos por meio de enunciados e não por orações isoladas e, evidentemente, não por palavras isoladas" (BAKHTIN, 2003, p.283).

Nessa perspectiva, o enunciado concreto, enquanto unidade da comunicação discursiva é analisado a partir de dois enfoques: o enunciado como evento (acontecimento) e o enunciado como historicidade. Como evento, o enunciado é acabado e tem um fim que se marca pela alternância dos sujeitos e por uma conclusibilidade que está na possibilidade responsiva do interlocutor. Sob o ponto de vista do acontecimento em uma determinada enunciação, essa conclusibilidade torna o enunciado único, irrepetível e passível de resposta, não se apresentando apenas como unidade verbal, mas por meio de interações reais entre os sujeitos do discurso em uma situação sócio-histórica.

Portanto, o sentido de um enunciado deixa de ser um dado prévio, uma vez que é algo que se constrói e reconstrói com base nos elementos linguísticos em um contexto, nos saberes acumulados e nas relações sócio-históricas, não havendo enunciado isolado, porque este sempre tem um precedente e outro que o sucede, sendo cada um apenas um elo da cadeia de enunciados.

Como a Linguística formal analisa o abstrato das formas do sistema linguístico, isolando essas formas de seu contexto sócio-histórico, que é concreto e mutável, ela não analisa o enunciado. Essa atitude seria diferente da atitude do falante em um processo de comunicação verbal, em que a mudança do acento avaliativo da palavra está em função do contexto, porque a enunciação é de natureza social e implica uma "atividade mental do eu e uma atividade mental do nós", em que "a palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial" (BAKHTIN/ VOLOCHÍNOV, 2009, p.119; grifo do autor).

Por isso, Bakhtin/Volochínov (2009) apresentaram vários argumentos para delimitar o escopo da Linguística com relação à filosofia da linguagem a partir dos conceitos de língua, fala e enunciação. Podemos entender que, para eles, como a Linguística focaria seus estudos na frase enquanto modelo, não a ultrapassando, haveria necessidade de outro tipo de análise em que os enunciados fossem o objeto de estudo, considerados no contexto sócio-histórico das enunciações, enquanto "meio extraverbal e verbal (isto é, as outras enunciações)" (BAKHTIN/VOLOCHÍNOV, 2009, p.129).

Em função dessa nova abordagem, Bakhtin (2008) propõe a criação de uma disciplina denominada Metalinguística, que analisaria o discurso. Alguns estudiosos, porém, preferiram o termo Translinguística para denominá-la, como Clark & Holquist (1998), por considerarem que o termo "meta" havia se tornado demasiadamente banal no Ocidente; já Stam (2011), utilizando o mesmo termo, ressaltou que a Translinguística, como disciplina, analisaria a língua em sua integridade concreta e viva, materializada no discurso, enquanto enunciados integrais, determinado desde o interior e o exterior, uma vez que o limite entre o "dentro" e o "fora" é artificial, pois, de fato, o que existe é uma grande permeabilidade entre eles (STAM, 2011, p.68).

Como o termo Metalinguística vem, desde o estruturalismo, relacionado a uma das funções da linguagem segundo Jakobson (1977, p.127), minha opção também é pelo termo Translinguística para especificar essa nova disciplina que englobaria a noção de discurso, enunciação, de locutor e de dupla orientação da palavra e, ao mesmo tempo, demarcaria sua especificidade em relação à Linguística, que embora legítima para determinados fins, seria insuficiente para o que Bakhtin propôs na obra Problemas da poética de Dostoiévski.

A Translinguística teria como objeto de análise a enunciação, mais especificamente, o discurso. Pode-se complementar com a ideia de que teria como foco a psicologia do corpo social, exteriorizada inteiramente na palavra, no gesto e no ato, porque, segundo Bakhtin/Volochínov,

nada há nela de inexprimível, de interiorizado, tudo está na superfície, tudo está na troca, tudo está no material, principalmente no material verbal [...].(BAKHTIN/VOLOCHÍNOV, 2009, p.43).

[...]

Esse campo não foi objeto de nenhum estudo até hoje. Todas estas manifestações verbais estão, por certo, ligadas aos demais tipos de manifestações e de interação de natureza semiótica, à mímica, à linguagem gestual, aos gestos condicionados, etc. (BAKHTIN/VOLOCHÍNOV, 2009, p.43).

Como a linguagem se concretiza em um espaço enunciativo-discursivo e não é apenas constituída de unidades linguísticas sonoras, todas as relações dialógicas constituem-se como unidade da interação social e, para um estudo pormenorizado da comunicação verbo visual, está sendo proposto nesta pesquisa que a psicologia do corpo social poderia ser desvendada através da análise da comunicação humana que apresenta as seguintes dimensões básicas: 1. linguagem articulada (vocal verbal); 2. paralinguagem (vocal e não-verbal); 3. cinésica (não-vocal, não-verbal); 4. proxêmica (não-vocal, não verbal), segundo Rector e Trinta (1986, p.50).

Para esses autores, a paralinguagem seriam todas as atividades comunicativas não-verbais que complementam a comunicação vocal mas, especificamente nesta pesquisa para a Libras, essas atividades estão sendo tratadas como comunicação verbo-visual que compõem também a arquitetura de um enunciado. Por isso, é possível descrever as expressões afetivas, que são paralinguísticas, e as expressões verbo-visuais gramático-discursivas, porque esse componente suprassegmental precisa ser analisado para uma melhor compreensão do enunciado enquanto comunicação social.

Dessa maneira, a Translinguística, analisando esses fatos linguísticos e paralinguísticos, partiria de uma perspectiva transdisciplinar, buscando aporte teórico na cinésica, que estuda os gestos e movimentos corporais de valor significativo e convencional; na proxêmica e na cronêmica, que estudam respectivamente o uso do espaço e do tempo na comunicação.

Segundo Hall (1963, p.50), como há o espaço visual, o auditivo, o olfativo e o táctil, a proxêmica focaria na postura, no ângulo formado pelos ombros dos interlocutores, na distância, tipos de toques, direção do contato visual, emoção, odores e altura da voz dos interlocutores. Assim, essa abordagem transdisciplinar para o estudo da psicologia do corpo social poderá desvendar essa linguagem do silêncio que se coarticula, enquanto comunicação verbo-visual, com a comunicação verbo-oral dos interlocutores.

2 A linguagem do silêncio nas enunciações

Por muito tempo as pesquisas sobre as línguas de modalidade oral auditiva descreviam apenas esse objeto linguístico a partir de suas propriedades fonológicas, uma vez que todos os demais níveis descritos sempre tomavam o fonema/grafema como a última unidade indecomponível e possível de análise linguística, embora já se analisasse a prosódia (entonação e ênfase) como um componente linguístico suprassegmental.

Mas, sob os pressupostos teóricos da Linguística Textual e de diferentes correntes da Análise do Discurso e da Análise Conversacional, vários pesquisadores vêm refletindo sobre o texto e sobre os recursos discursivos utilizados e percebíveis a partir do contexto, do conhecimento de mundo compartilhado, de inferências, entre outros recursos que permitem capturar o "dito e não dito" (DUCROT, 1977; ORLANDI, 1995) no ato locucionário, considerando os atos ilocucionários do locutor e sua expectativa com relação aos atos perlocucionários de seu interlocutor (AUSTIN, 1955; SEARLE, 1994)3 3 Foi Austin (1962) quem, pela primeira vez, conceituou esses atos de fala; posteriormente, seu ex-aluno, Searle (1994), contestou algumas questões que considerou ambíguas com relação à distinção entre atos ilocucionários e perlocucionários de seu professor. No entanto, embora ambos tivessem trabalhado esses atos enquanto ações que se realizam na comunicação enquanto fala ( parole), seus posicionamentos estão relacionados à convencionalidade na língua ( langue), uma vez que para eles, ao se proferir uma frase – ato locucionário, ela está relacionada a um certo sentido e referência. Aqui, nesse artigo, esses atos de fala estão sendo refletidos a partir de uma perspectiva bakhtiniana e não saussuriana, em que esses atos não estariam relacionados apenas à forma linguística verbo-auditivo utilizada em um enunciado com seu sentido já estabelecido. O ato locucionário, expresso através de um enunciado, coexiste com um ato ilocucionário do locutor em enunciações, que implicam situações sócio-históricas ideológicas. Esse locutor interage com seu interlocutor, que executa um ato perlocucionário. Esses atos de fala podem ser apreendidos nas enunciações, não estando apenas na formulação específica de um enunciado enquanto ato locucionário e é essa dinâmica sócio-comunicativa que estabelece o dialogismo e a polifonia na enunciação. .

Além desses pressupostos teóricos, a constatação de uma comunicação verbo-visual, através de imagens e outros recursos gráficos em textos escritos está ampliando os horizontes das pesquisas linguísticas com a articulação do verbal e do não-verbal sob um enfoque discursivo e sob uma perspectiva do círculo de Bakhtin, como as pesquisas de Geraldi (1991), Brait (2004, 2005 e outros), Grillo (2009, 2013), Berti-Santos (2011, 2013), entre outros4 4 Orlandi (1995) trabalhou com a categoria silêncio para mostrar que o sentido de um enunciado pode ser apreendido através da ausência de uma expressão verbal ou a partir de um silêncio entre ela: "Silêncio não é o vazio, o sem-sentido" (ORLANDI, 1995, p.70). Weil e Tompakon (2002) denominaram de linguagem silenciosa a comunicação não-verbal expressa através do corpo, mas as abordagens desses três autores são conceitualmente diferentes do que, nessa pesquisa, está sendo conceituada como "Linguagem do Silêncio". .

No entanto, esses recursos discursivos na enunciação têm sido analisados preferentemente através de signos visuais pictóricos não linguísticos coarticulados com o próprio enunciado verbal enquanto forma linguística possível de análise fono-morfossintático-semântico-pragmático-discursiva. Com relação a estudos relacionados a uma língua de modalidade gestual visual, Nascimento (2013), trabalhando com o gênero jornalístico televisivo, relacionou esse tipo de discurso verbo-visual com o trabalho do intérprete da Libras; mas, embora tenha apresentado a coarticulação desse tipo de discurso verbo-visual com a Libras e tenha refletido sobre a tridimensionalidade com relação ao posicionamento do locutor intérprete e a direcionalidade do olhar nessa situação enunciativa, essas marcas gramático-discursivas na Libras não foram consideradas um discurso verbo-visual, tal como será apresentado neste artigo.

Desde a década de 80, venho refletindo sobre essas expressões face corporais que tenho chamando de "linguagem do silêncio", uma vez que elas se coarticulam ao enunciado sonoro, estabelecendo o sentido da comunicação verbal na enunciação. Quando iniciei minhas pesquisas sobre a Libras, tinha como objetivo elucidar essa linguagem do silêncio, mais visível em uma língua de modalidade gestual visual. A análise dessa prosódia face corporal revelou dois tipos de expressões visuais: a) Expressões visuais afetivas; b) Signos gramático-discursivos visuais.

As expressões visuais afetivas são comunicações paralinguísticas complementares que expressam os sentimentos do locutor e interlocutor, através de gestos e postura corporal, das expressões faciais e do olhar, sendo possível apreender estados e sensações como, por exemplo: alegria, tristeza, angústia, insegurança, dúvida, ironia, surpresa, confronto, rejeição, entre outros, que são atitudes comportamentais. Muitas vezes, por expressarem sentimentos e emoções, essas expressões são involuntárias e podem não acontecer concomitantemente com um enunciado, mas independentemente de serem realizadas isoladamente ou simultaneamente a uma enunciação, elas sempre são identificadas, por serem apreendidas cognitivamente pelos interlocutores em uma relação dialógica.

Por outro lado, os signos gramático-discursivos visuais são marcas verbo-visuais – MNMs - gramático-discursivas e fazem parte da arquitetura dos níveis fonológico, morfológico, sintático-semântico e discursivo em uma determinada língua, enquanto comunicação social.

Partindo do pressuposto teórico de que, em uma descrição linguística, a língua enquanto linguagem envolve o dialogismo e a polifonia, implicando relações sociais ideologizadas, um determinado enunciado será analisado a partir dos signos verbo-visuais utilizados pelo locutor e pelo interlocutor que, percebidos alternadamente por ambos, permite a intercompletude do locutor no e para o outro, decorrendo daí o agir conforme essa complexidade discursiva.

Essa comunicação tácita e silenciosa, que denomino linguagem do silêncio compartilhada, expressa através de expressões face corporais, possibilita a completude do discurso a partir da alteridade5 5 Para aprofundamento desse conceito, sob uma perspectiva bakhtiniana, ver Brait (2006, p. 9-31), e Geraldi (2010, p.83-101). Sob uma perspectiva antropológica, ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Alteridade : ver com os ouvidos e ouvir com os olhos interagindo com as "forças centrípetas e centrífugas do simpósio universal" (FARACO, 2009, p.69).

Para a reflexão da linguagem, independentemente de sua modalidade, as pesquisas sobre as línguas de sinais podem dar uma grande contribuição e, cada vez mais, está sendo possível, com recursos tecnológicos, aferir esse discurso verbo-visual, analisando detalhadamente as MNMs, concomitante às expressões lexicais ou frasais que possibilitam e delimitam o sentido de um enunciado.

Os estudos sobre essas expressões face corporais também para as línguas de modalidade oral auditiva poderão ampliar o escopo da análise gramático-discursiva na área da Translinguística, enquanto ciência que analisa a linguagem nas enunciações e, a partir dessas pesquisas nas línguas de sinais, essas expressões face corporais poderão ser comparadas e repensadas para a arquitetura das línguas de modalidade oral auditiva.

3 Expressões visuais afetivas e gramático-discursivas na Libras

As pesquisas sobre as expressões faciais e outras marcas não manuais iniciaram-se com Liddell (1978), que desde então vem pesquisando sobre essas MNMs em perguntas (Yes/No), topicalização, frases negativas, relativas, tendo seus estudos complementados por outros autores como: Baker (1988); Johnson and Liddell (1989); Reilly, Mcintire and Bellugi (1990); Bahan (1996); Ekman, Matsumoto and Friesen (1997); Wilbur and Patschle (1998); Emmorey (1999); Knapp and Hall (1999); Reilly (2006), entre muitos outros que vêm pesquisando as MNMs na Língua de Sinais Americana – ASL. Todas essas pesquisas têm sido objeto de estudos comparativos nos trabalhos de: Felipe (1989 1992, 1993, 1998, 2006); Arrotéia (2005); Correa (2007); Quadros, Pizzio e Resende (2007); Anater (2009), que vêm pesquisando as MNMs na Libras sob enfoques teóricos específicos.

Essas pesquisas reforçam o pressuposto de que as MNMs, presentes nas relações dialógicas enquanto espaço de tensão entre enunciados, podem ser definidas como uma prosódia visual expressa através de diferentes expressões face corporal. Essa prosódia visual pode ser analisada também a partir da propriedade qualidade do movimento de um sinal que, ocasionando uma mudança na sua raiz Movimento (raiz-M), pode acrescentar, ao item lexical, um caso modal, um aspecto verbal, o grau, entre outros traços gramático-discursivos (FELIPE, 1989).

Com relação às expressões faciais, Ekman, Matsumoto and Friesen (1997) criaram um Facial Action Coding System para descrever e analisar essas expressões através da codificação dos movimentos dos olhos, da cabeça e de, aproximadamente, quarenta músculos faciais, registrando-os a partir das variáveis: direção do olhar; movimento/aceno de cabeça; posição do corpo; y/n (sim-não); wh (interrogativa - QU), entre outros.

Essa variável "posição do corpo" foi incluída porque a postura e movimento do corpo pode alterar o sentido do enunciado sinalizado, podendo estabelecer temporalidade, força ilocucionária para aproximação ou distanciamento dos interlocutores, hierarquia social, entre outras intencionalidades gramático-discursivas já apreendidas para a Libras.

Assim, a partir dessas pesquisas e de similares em outras línguas de sinais e também nas línguas de modalidade oral auditiva, será possível verificar e comparar as prosódias face corporais nos discursos, verificando se as expressões visuais afetivas são universais ou culturais e se as expressões visuais gramaticais também são marcas discursivas culturais que se diferenciariam de língua para língua.

Esse fato pôde ser constatado a partir das pesquisas sobre as línguas de sinais que propiciaram descrições desse componente, que vem sendo analisado como "entonação" nessas línguas (SANDLER and LILLO-MARTIN, 2006). No entanto, como outros pesquisadores dessas línguas de sinais, nesta pesquisa, partimos do pressuposto de que as MNMs, enquanto componente verbo-visual presente também na arquitetura das línguas de modalidade oral auditiva, não podem ser consideradas entonação nas línguas de sinais por se coarticularem com a entonação de um enunciado das línguas de modalidade oral auditiva. Por isso, essas MNMs estão sendo analisadas como um componente verbo-visual gramático-discursivo tanto nas línguas de modalidade oral auditiva como nas línguas de modalidade gestual visual.

Nas línguas de sinais, as expressões visuais gramático-discursivas são expressas através de MNMs que, realizadas concomitantemente com o sinal ou frase, integram-se ao plano fonológico, morfossintático e semântico-discursivo delas. Por isso, caso elas não sejam expressas, o sinal ou enunciado pode se tornar agramatical ou pode não ser decodificável, causando ambiguidade.

Prillwitz et al. (1989) elaboraram o Sistema de Notação de Hamburg para línguas de sinais, que tem sido utilizado para transcrição de dados de línguas de sinais em projetos para a criação de sistemas de tradutor automático ou semiautomático (ADAM, 2011)6 6 Para a transcrição de dados de línguas de sinais, estão sendo utilizados também outros sistemas, como por exemplo: a) LAN - Manual for AMS II, version 1.3. Language archiving technology. AMS II. Access Management System for language archive resources. Disponível em: < http://www.lat-mpi.eu/tools/elan/download?> Acesso em: 17 mar. 2007; b) SIGNSTREAM: American Sign Language Linguistic Research Project. Disponível em: < http://www.bu.edu/asllrp/>. Acesso em: 17 mar. 2007; c) AGA-Sign: animador de gestos aplicado à língua de sinais. Disponível em: < http://www.dcc.ufla.br/infocomp/artigos/v4.1/art06.pdf>. Acesso em: 11 out. 2006. 7 O símbolo @ está sendo utilizado para indicar o gênero neutro na Libras: sistema de transcrição criado por Felipe (1989). 8 Há várias expressões faciais e face corporais, transmitidas culturalmente, que representam sensações, sentimentos e atitudes. Essas expressões podem ser coarticuladas como componente fonológico de sinais, como TRISTE e ALEGRE, apresentados acima, porque a ausência de uma determinada expressão afetiva em um determinado item lexical pode causar um equívoco na decodificabilidade do sinal na Libras ou propiciar inferências equivocadas. Ver os vídeos dos sinais exemplificados em Felipe (2005). Dicionário da Libras. http://www.librasemcontexto.org e também em http://www.acessobrasil.org.br/libras/ DC ROM com distribuição gratuita pelo INES. 9 As marcas não manuais, coarticuladas com um sinal, estão representadas acima da tradução do sinal. Ver Sistema de Transcrição no Livro Libras em Felipe (1999; 2008) http://www.librasemcontexto.org/ e http://www.librasemcontexto.org/producao/lingua_brasileira_sinais_mec.pdf. 10 Banco de dados do GP Libras – Feneis - Fotos e programação gráfica: Elaine de Lima Bulhões e Paulo André Bulhões, professores surdos e membros do GP Libras. 11 A mudança na qualidade/frequência/alongamento do movimento também marca um intensificador ou um aspecto verbal, como nesses exemplos para o verbo TRABALHAR. . Esse sistema permite descrever as expressões visuais afetivas e gramático-discursivas, trabalhando com três articuladores - cabeça, face e tronco. Esses três articuladores isolados ou concomitantes têm suas especificidades na Libras e, a partir da pesquisa de Anater (2009), baseada também nos autores já citados, é possível identificar as MNMs que, sendo gramático-discursivas, estão presentes nos níveis fonológico, morfológico, sintático-semântico e discursivo descritos a seguir.

3.1 Marcas Fonológicas

As MNMs podem ser um componente fonológico de um sinal ou representar o próprio sinal não manual:

a) Exemplo de componente fonológico através da expressão facial:

b) Exemplos de sinais não manuais, ou seja, sinais que não utilizam a(s) mão(s) em sua configuração sígnica:

Nesse nível fonológico, a configuração da boca, enquanto articulador não-manual, pode ser caracterizada como:

a) Gestos bucais (Mouth gesture), que são realizados concomitantemente com um sinal, mas que não têm relação com a palavra oral correspondente à língua oral, podendo ser uma característica icônica do conceito representado pelo sinal. Exemplos:

b) Imagem visual da palavra (Mouthings: mouth pictures ou word pictures), que é uma articulação da boca com base na pronúncia da palavra de uma língua oral auditiva, mas que se articula de maneira peculiar, não representando, de fato, a prolação da palavra de uma língua oral-auditiva. Exemplos:

3.2 Marcas Morfológicas

Uma MNM pode ser um morfema complexo, realizado através de articuladores, para a marca adjetiva, adverbial, pronominal, interjeições, marca de aspecto e tempo verbal e grau em adjetivos:

a) Morfema adjetivo: Um tipo de movimento da cabeça e a direcionalidade do olhar, simultâneos ao sinal manual, marca uma qualidade para o substantivo ou intensificador para um advérbio ou adjetivo. Exemplos:

b) Morfemas dêiticos: a direcionalidade do olhar e da cabeça, simultânea a um sinal pronominal ou locativo, marca uma referência espacial específica para os referentes indicados através de apontações. Exemplos:

c) Morfema adverbial

i. Intensificador: uma expressão facial específica, através do levantar ou do franzir das sobrancelhas, às vezes também com as bochechas infladas e com o arregalar dos olhos, simultânea a um adjetivo, substantivo ou verbo marca um intensificador:

ii. Caso modal: uma expressão facial específica, sinalizada pela boca simultaneamente com a sinalização de um verbo, marca um caso modal. Exemplos

iii. Negação, reprovação: a MNM pode ser uma expressão específica, sinalizada pela cabeça se movimentando repetidamente para os lados e testa franzida, simultaneamente a determinado sinal; a cabeça levemente inclinada; as sobrancelhas baixas; os lábios estendidos lateralmente ou arredondados; o olhar com movimentos para as laterais (squinting eyes). Exemplos:

d) Morfema para grau de adjetivo: a intensidade no arregalar ou diminuir as pálpebras, simultânea ao levantar ou franzir as sobrancelhas e ao inflar ou contrair as bochechas marca os graus aumentativo ou grau diminutivo e o superlativo.

3.3 Marcas Sintáticas

Uma MNM pode ser um morfema complexo, realizado através de articuladores, para marcar um determinado tipo de frase, a topicalização, o foco, a concordância nominal e verbal, enunciado com orações condicional e relativa ou com conectores interfrásticos:

a) Tipos de frases: Na Libras, a prosódia para os tipos de frases está na diferenciação das MNMs para cada tipo: interrogativa, exclamativa e negativa, com suas possíveis combinações (Felipe, 1989; 2008). A forma afirmativa é neutra, quando não há uma MNM para ênfase afirmativa. A marca de negação através da MNM é obrigatória para as frases negativas; no entanto, o balançar da cabeça é opcional e a sua utilização pode caracterizar uma ênfase. Exemplo:

b) Interrogativas – QU: Esse tipo de interrogativa possui sinais manuais específicos e uma MNM ou combinações de MNM: um elevar das sobrancelhas concomitantemente a um movimento leve de cabeça para cima; balanços da cabeça para os lados e um elevar das sobrancelhas concomitantemente com um movimento leve de cabeça para cima, antecedendo ao sinal manual e que permanece até o final enunciado.

c) Topicalização: O argumento topicalizado é marcado por um levantar de sobrancelhas ou também, concomitantemente, por uma inclinação da cabeça do locutor, seguida de uma pausa.

d) Foco: No enunciado com foco, este ficando em posição inicial, é marcado através de um movimento de cabeça do locutor.

e) Concordância: Dependendo de tipo de concordância e contexto, há várias possibilidades de MNM, através dos três articuladores. Assim, a concordância pode ser marcada através: do movimento da cabeça levemente para cima, para um lado determinado, para frente ou para trás; das sobrancelhas levantadas ou abaixadas; dos olhos com diversas expressões e movimentos direcionados; do nariz enrugado; das bochechas infladas ou contraídas; dos lábios com formatos específicos e do tronco em várias posições, por exemplo:

i. Concordância número-pessoal: Nos verbos que possuem esse tipo de concordância, ela é marcada pela direcionalidade da raiz-M do verbo com relação ao locativo das pessoas do discurso (primeira, segunda e terceira pessoas do singular; primeira, segunda e terceira pessoas do plural) que podem ser marcadas também ou concomitantemente através da inclinação de cabeça (head tilt) e direcionalidade do olhar (eye gaze), marcas utilizadas também para outros tipos de concordância verbal.

ii. Concordância com o sujeito - MNM, concomitante com marcas manuais:

1. Movimento direcional da cabeça e do olhar com relação ao sujeito posicionado no enunciado;

2. Locutor em posição não-marcada (de frente para o interlocutor), assumi ser o sujeito de um enunciado em primeira pessoa do discurso.

iii. Concordância com o objeto:

1. Movimento direcional do olhar, concomitante ao sinal manual referente ao objeto da frase. Essa marca é utilizada também para outros fatos sintáticos e discursivos;

2. Movimento direcional do olhar e do tronco com relação ao objeto.

f) Tempo e aspecto verbal: Os tempos presente, futuro e passado, além de serem expressos sintaticamente por sinais específicos para advérbio de tempo, podem ser também marcados por uma MNM, em relação ao corpo do sinalizador, através de uma linha temporal em que o presente seria a posição neutra, o futuro seria marcado por um movimento do corpo para frente e o passado pelo movimento do corpo para trás. Os aspectos verbais pontual, continuativo, durativo, iterativo e distribucional são marcados através da alteração da raiz Movimento de um sinal ou da frequência desse Movimento. Essa flexão para aspectualidade, através da alteração na frequência, da repetição, do alongamento, da tensão ou mudança da velocidade da raiz Movimento, pode ser coarticulada com uma mudança do ponto de articulação do verbo e com uma determinada MNM, como baixar e levantar as sobrancelhas, o movimento dos olhos e a posição da boca.

g) Enunciado que expressa condicional: Esse tipo de enunciado expressa situações hipotéticas e as MNMs são expressas através da elevação das sobrancelhas, normalmente coarticulada com a elevação do queixo, levemente conduzido à frente. O locutor pode coarticular o sinal manual (S-I) concomitante às MNMs, embora essa sinalização manual seja opcional, já que é gramatical utilizar apenas as MNMs que diferenciam um enunciado declarativo de um condicional.

h) Enunciado com oração relativa ou com conectores interfrásticos: Esse tipo de enunciado também é marcado pela elevação das sobrancelhas ao longo da oração ou do conector, podendo ter, concomitantemente, um movimento da cabeça para trás e um movimento específico da parte superior da boca e uma pausa na sinalização para o encaixamento da informação dentro do enunciado.

3.4 Marcas Discursivas

Expressões afetivas e gramaticais estão presentes nos enunciados enquanto prosódia visual. Mas, por essas expressões afetivas representarem estados e sensações que não estão explícitos na forma léxico-sintática dos enunciados, esses traços prosódicos podem ser manipuláveis pelos interlocutores que podem negá-los ou fingir que são ininteligíveis. Essas atitudes consentidas podem estar relacionadas a uma enunciação em que a polidez e discrição devem ser mantidas pelos interlocutores ou quando está se exigindo tacitamente uma atitude autoritária/subserviência, imposição/aceitação involuntária ou os interlocutores estejam ironizando, desdenhando, entre outras atitudes discursivas expressas através dessa prosódia visual. Assim, as expressões face corporais afetivas e gramaticais delimitam o sentido do enunciado na enunciação.

Em uma conversação ou em um discurso argumentativo, as MNMs podem representar troca de papéis discursivos (role shift), divergência ou concordância de pontos de vista e posicionamento fático, marcados a partir do direcionamento do olhar, de pausa, aceno de cabeça, gestos corporais e também a partir de expressões afetivas.

Em enunciados narrativos, os discursos do narrador e das personagens são marcados por MNMs em que as expressões face corporais afetivas e gramaticais podem caracterizar as personagens, diferenciando-as do narrador e, através do deslocamento do tronco do locutor no espaço e direcionamento do olhar, pode-se demarcar os tipos de discursos (direto, indireto, indireto livre) dos personagens (FELIPE, 1992), organizando discursivamente, o encadeamento das ações e falas do narrador e das personagens.

MNMs de direção do olhar do locutor e a utilização do espaço podem também ser referências locativas para as ações realizadas pelas personagens e, quando o narrador incorpora uma personagem, assume as características físico-emocionais e discursivas já atribuídas a cada personagem, como uma teatralização em que o ator assume ser uma personagem.

Essa pesquisa terá sua continuidade, para especificações mais detalhadas dessas marcas.

Considerações finais

A conclusibilidade, sob o ponto de vista do acontecimento em uma determinada enunciação, faz com que o enunciado seja único, irrepetível e passível de resposta, não se apresentando apenas como unidade verbal, mas através de interações reais entre os sujeitos do discurso, que se expressam também verbo-visualmente, articulando ao dito informações ideologizadas e históricas que complementam e/ou acrescentam o novo no dado que precisa ser decodificado para a completude de um enunciado; portanto, é sempre dito além do sonoro e é justamente esse não dito sonoramente que pode apresentar a ilocucionaridade do locutor percebida pelo interlocutor que dá a completude do enunciado: o dito no não dito, a linguagem verbo-visual do silêncio.

Embora muitas MNMs aqui apresentadas possam também ser verificadas em enunciados na língua portuguesa em sua modalidade oral, as descrições linguísticas têm apenas destacado a prosódia fonético-fonológica na modalidade oral ou os recursos gráficos e pictóricos para a modalidade escrita, desconsiderando essa prosódia visual. No entanto, a partir da descrição de MNMs afetivas e gramático-discursivas é possível traçar uma proposta analítica que possa descrever todos os fatos sígnicos de um discurso face a face porque

Viver significa tomar parte no diálogo: fazer perguntas, dar respostas, dar atenção, responder, estar de acordo e assim por diante. Desse diálogo, uma pessoa participa integralmente e no correr de toda a sua vida: com olhos, lábios, mãos, alma, espírito, com seu corpo todo e com todos os seus feitos. Ela veste seu ser inteiro no discurso e esse discurso penetra no tecido dialógico da vida humana, o simpósio universal (BAKHTIN, 1961, p.293 apud FARACO, 2010, p.76).

Diante do exposto, é possível afirmar que em todo enunciado há uma prosódia face corporal, que se concretiza através de expressões faciais, gestos e corpo, utilizada por locutores surdos e ouvintes, sendo uma estratégia cognitivo-discursiva que precisa ser considerada em uma descrição linguística e em uma descrição translinguística do discurso.

Portanto, a partir dessas duas modalidades de língua, em seus processos de significações linguística e discursiva, que são sequenciais e simultâneos, através de estudos comparativos, será possível analisar se a prosódia face corporal é específica a cada língua, independentemente de sua modalidade, ou se é a mesma enquanto traço cognitivo-discursivo da linguagem humana no discurso face a face.

Recebido em 19/03/2013

Aprovado em 27/10/2013

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  • 1
    Esta pesquisa, executada pelas equipes da ProAtiva e Fitec-PE, representa uma continuidade da pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos - Feneis, executora do Projeto Tradutor Libras x Português, financiado pelo MEC/SEESP-FNDE em 2004. Esse projeto teve a participação de três equipes: a da Feneis, coordenada pela autora desse artigo, responsável pela coleta de dados e descrição linguística da Libras; a do NILC-USP-SC, responsável pela tradução e criação do modelo para o tradutor; e a equipe da área de computação gráfica, responsável pela elaboração do avatar que traduziria para a Libras a partir do modelo criado. Esse projeto foi interrompido na primeira fase.
    Ver projeto e referências em: Tradutor Libras: Projeto TLIBRAS - Tradutor Português x LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) -
    MARTINS,R., PELIZZONI, J., HASEGAWA, R. PULø - Para um sistema de tradução semi-automática português-libras
    http://www.lbd.dcc.ufmg.br/colecoes/til/2005/0014.pdf PELIZZONI, J.M., NUNES, MARIA DAS GRAÇAS V. Flexibility, Configurability and Optimality, in: UNL Deconversion via Multiparadigm Programming:
  • 2
    Para citar alguns autores: Stam (1992); Clark e Holquist (1998); Brait (2004, 2008, 2012); Hansks (2008); Faraco (2010); Geraldi (2010).
  • 3
    Foi Austin (1962) quem, pela primeira vez, conceituou esses atos de fala; posteriormente, seu ex-aluno, Searle (1994), contestou algumas questões que considerou ambíguas com relação à distinção entre atos ilocucionários e perlocucionários de seu professor. No entanto, embora ambos tivessem trabalhado esses atos enquanto ações que se realizam na comunicação enquanto fala (
    parole), seus posicionamentos estão relacionados à convencionalidade na língua (
    langue), uma vez que para eles, ao se proferir uma frase – ato locucionário, ela está relacionada a um certo sentido e referência. Aqui, nesse artigo, esses atos de fala estão sendo refletidos a partir de uma perspectiva bakhtiniana e não saussuriana, em que esses atos não estariam relacionados apenas à forma linguística verbo-auditivo utilizada em um enunciado com seu sentido já estabelecido. O ato locucionário, expresso através de um enunciado, coexiste com um ato ilocucionário do locutor em enunciações, que implicam situações sócio-históricas ideológicas. Esse locutor interage com seu interlocutor, que executa um ato perlocucionário. Esses atos de fala podem ser apreendidos nas enunciações, não estando apenas na formulação específica de um enunciado enquanto ato locucionário e é essa dinâmica sócio-comunicativa que estabelece o dialogismo e a polifonia na enunciação.
  • 4
    Orlandi (1995) trabalhou com a categoria silêncio para mostrar que o sentido de um enunciado pode ser apreendido através da ausência de uma expressão verbal ou a partir de um silêncio entre ela: "Silêncio não é o vazio, o sem-sentido" (ORLANDI, 1995, p.70). Weil e Tompakon (2002) denominaram de linguagem silenciosa a comunicação não-verbal expressa através do corpo, mas as abordagens desses três autores são conceitualmente diferentes do que, nessa pesquisa, está sendo conceituada como "Linguagem do Silêncio".
  • 5
    Para aprofundamento desse conceito, sob uma perspectiva bakhtiniana, ver Brait (2006, p. 9-31), e Geraldi (2010, p.83-101). Sob uma perspectiva antropológica, ver
  • 6
    Para a transcrição de dados de línguas de sinais, estão sendo utilizados também outros sistemas, como por exemplo: a)
    LAN - Manual for AMS II, version 1.3. Language archiving technology.
    AMS II.
    Access Management System for language archive resources. Disponível em: <
    http://www.lat-mpi.eu/tools/elan/download?> Acesso em: 17 mar. 2007; b)
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    http://www.bu.edu/asllrp/>. Acesso em: 17 mar. 2007; c)
    AGA-Sign: animador de gestos aplicado à língua de sinais. Disponível em: <
    7 O símbolo @ está sendo utilizado para indicar o gênero neutro na Libras: sistema de transcrição criado por Felipe (1989).
    8 Há várias expressões faciais e face corporais, transmitidas culturalmente, que representam sensações, sentimentos e atitudes. Essas expressões podem ser coarticuladas como componente fonológico de sinais, como TRISTE e ALEGRE, apresentados acima, porque a ausência de uma determinada expressão afetiva em um determinado item lexical pode causar um equívoco na decodificabilidade do sinal na Libras ou propiciar inferências equivocadas. Ver os vídeos dos sinais exemplificados em Felipe (2005). Dicionário da Libras.
    http://www.acessobrasil.org.br/libras/ DC ROM com distribuição gratuita pelo INES.
    9 As marcas não manuais, coarticuladas com um sinal, estão representadas acima da tradução do sinal. Ver Sistema de Transcrição no Livro Libras em Felipe (1999; 2008)
    10 Banco de dados do GP Libras – Feneis - Fotos e programação gráfica: Elaine de Lima Bulhões e Paulo André Bulhões, professores surdos e membros do GP Libras.
    11 A mudança na qualidade/frequência/alongamento do movimento também marca um intensificador ou um aspecto verbal, como nesses exemplos para o verbo TRABALHAR.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Dez 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2013

    Histórico

    • Recebido
      19 Mar 2013
    • Aceito
      27 Out 2013
    LAEL/PUC-SP (Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Rua Monte Alegre, 984 , 05014-901 São Paulo - SP, Tel.: (55 11) 3258-4383 - São Paulo - SP - Brazil
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