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O cronotopo de Paris na poesia da primeira onda de emigrantes russos: um estudo de caso dos poemas de Irina Knorring

RESUMO

Este artigo propõe o uso do conceito de cronotopo para analisar a obra literária de emigrantes russos da primeira onda na França. O artigo se concentra na representação artística de mundo da comunidade de emigrantes russos em Paris, ao explorar os poemas de Irina Knorring, uma representante da jovem geração da primeira onda de emigrantes russos. Nesses poemas, a figura do emigrante russo assume uma posição central. Ao examiná-los, esta pesquisa identifica os motivos e as imagens recorrentes, dotados de sentidos espaciais e temporais, e discute aspectos específicos do cronotopo de Paris. Em seus poemas, Knorring explora não só o mundo interior e as particularidades dos indivíduos, mas também reflete sobre os acontecimentos da vida e sobre o destino comum dos refugiados russos no exílio. Nas obras da poeta, o cronotopo serve como um elemento indispensável, estabelecendo uma unidade espacial e temporal coesa, que permite aos leitores perceberem a imagem dos emigrantes russos na Europa (Paris) pelos olhos do andarilho russo. A análise cronotópica presente no artigo oferece uma representação espacial e temporal abrangente da trajetória de vida de emigrantes russos em Paris, abarcando tanto as experiências individuais, quanto o contexto mais amplo da emigração russa como um todo.

PALAVRAS-CHAVE:
Cronotopo; Diáspora russa; Poesia; Emigrantes russos da primeira onda; Irina Knorring

ABSTRACT

This article proposes to use the concept of chronotope in analyzing the literary works of first-wave Russian emigrants in France. It focuses on the artistic representation of the world within the Russian émigrés community in Paris by exploring the poems of Irina Knorring, a representative of the younger generation of first-wave Russian emigrants. In these poems, the figure of the Russian emigrant assumes a central position. By examining them, this research identifies recurring motifs and images with spatial and temporal meanings and discusses the specific features of the chronotope of Paris. In her poems, Knorring not only delves into the inner world and uniqueness of individuals but also reflects upon the collective experiences and shared destiny of Russians in exile. The chronotope in the poet’s works serves as an indispensable element, establishing a cohesive spatial and temporal unity that enables readers to perceive the image of Russian emigrants in Europe (specifically Paris) through the perspective of a Russian vagabond. The chronotopic analysis presented in this article offers a comprehensive spatial and temporal representation of the life trajectory of Russian émigrés in Paris, encompassing both their individual experiences and the broader context of Russian emigration as a whole.

KEYWORDS:
Chronotope; Russian diaspora; Poetry; First-wave Russian emigrants; Irina Knorring

Introdução

Desenvolver uma visão holística do estilo poético característico dos trabalhos dos emigrantes russos se tornou uma das áreas mais importantes da filologia russa contemporânea. Examinar as vidas e as contribuições literárias de emigrantes russos na França, particularmente em Paris, implica um esforço para reconstruir sua vida cotidiana durante esse período. Isso envolve estudar as características da interação entre a realidade e suas concepções artísticas, bem como recriar o processo de inserção nessa realidade, que se reflete nas obras dos poetas, particularmente daqueles da geração mais jovem.

Este estudo se concentra na exploração do cronotopo de Paris na poesia da primeira onda de emigrantes russos e, para isso, analisa as obras de Irina Knorring (1906-1943), uma representante da geração mais jovem.

Alguns pesquisadores formularam uma perspectiva bem definida dos trabalhos de Irina Knorring, percebendo sua arte como um diário poético, que abrange os acontecimentos da biografia da poeta (Sokolova, 2011SOKOLOVA, Vera Andreevna. Poeticheskie osobennosti tvorchestva Iriny Knorring: k voprosu o periodizatsii [Poetic Features of Irina Knorring's Creativity: On the Question of Periodization]. In: Ezhegodnik Doma russkogo zarubezhya imeni Aleksandra Solzhenitsyna [The Yearbook of the Alexander Solzhenitsyn House of Russian Abroad], n. 2, pp. 254-264, 2011.; Koznova, 2019KOZNOVA, Natal'ya Nikolaevna. Transformatsiya obraza doma v dnevnikakh Iriny Knorring [Transformation of the Image of the House in the Diaries of Irina Knorring]. Vestnik Rossiiskogo universiteta druzhby narodov. Seriya: Literaturovedenie. Zhurnalistika, v. 24, n. 2, pp. 196-203, 2019.). Conforme se sabe, os temas-chave, as imagens, os motivos e os enredos dos poemas refletem o destino da vida da poeta, e a poesia de Knorring explora predominantemente temas como a Rússia, a emigração, os refugiados errantes e experiências pessoais profundas. O estilo criativo da poeta se distingue pelo minimalismo e é marcado pela clareza na organização lírica do espaço e do tempo, bem como por uma atenção redobrada aos detalhes intricados do mundo objetivo.

Os poemas de Irina Knorring serviram como material para o estudo. Com base no conceito de “cronotopo” de M. M. Bakhtin, o objetivo deste artigo é explorar os processos pelos quais a representação do tempo e do espaço no cânon da poesia russa na diáspora se transforma em um retrato vivo do mundo dos exilados. Em especial, o foco são os textos poéticos de Irina Knorring escritos durante seu período em Paris, com seus temas, motivos e imagens guiados por um cronotopo específico. Ao mergulhar na exploração criativa de Paris, este estudo ilumina os anseios espirituais dos emigrantes.

A noção de cronotopo, que remonta aos trabalhos do filólogo e filósofo russo Mikhail Bakhtin, é um dos conceitos mais importantes nas ciências humanas contemporâneas. Bakhtin introduziu o conceito de “cronotopo” para abarcar a inter-relação entre o espaço e o tempo, referindo-se a ela como “tempo-espaço”. Segundo Bakhtin, os gêneros e os tipos de gênero das obras literárias são moldados pelo cronotopo. Conforme afirmação de Bakhtin, no cronotopo literário, o tempo claramente predomina sobre o espaço, emprestando-lhe mais significado e mensurabilidade (Bakhtin, 2018 [1937-39])1 1 BAKHTIN, Mikhail M. Teoria do romance II: As formas do tempo e do cronotopo. Trad., posf. e notas P. Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2018 [1937-39]. . Ao expandir esse conceito e aplicá-lo à representação de indivíduos (autores e personagens), Bakhtin enfatizou que o cronotopo, como categoria formal e de conteúdo, influencia a representação dos personagens na literatura, sendo que essa representação é inerentemente cronotópica (Bakhtin, 2018)2 2 Ver nota 1. . A referência a textos da Antiguidade permitiu a M. M. Bakhtin identificar três cronotopos romanescos: um mundo alheio no romance de aventura; o cronotopo do romance de aventuras e o cronotopo do romance biográfico. O pesquisador caracteriza ainda os cronotopos do romance de cavalaria, rabelaisiano, idílico e chega à conclusão, muito importante para a análise do texto literário, de que toda entrada no domínio dos sentidos se concretiza por meio dos cronotopos (Bakhtin, 2018)3 3 Ver nota 1. .

O cronotopo desempenha um papel crucial ao estruturar as informações sobre o mundo e os indivíduos, definindo assim os parâmetros da visão de mundo do autor no texto e atribuindo-lhe uma “natureza dual”.

De um ponto de vista formal, o cronotopo serve de parâmetro para a transmissão de informação operacional, agindo como um esquema que permite a identificação dos componentes espaciais e temporais específicos, em grande medida influenciados pelo gênero da obra. Simultaneamente, no texto literário, o cronotopo funciona nas diversas configurações espaço-temporais do tempo, condensando e especificando o tempo em um contexto espacial particular (Shchukina, 2019SHCHUKINA, Daria Alekseevna. Russkaya Literatura XXI veka (fragment prostranstva khudozhestvennogo teksta): monografiya [Russian Literature of the 21st Century (A Fragment of the Space of Literary Texts): A Monograph]. Saint Petersburg: Lema, 2019., p. 12).

Como uma contribuição para a pesquisa teórica sobre esse tema, é possível destacar o trabalho de pesquisadores brasileiros, que iluminaram a importância do contexto nos trabalhos de M. M. Bakhtin e seu Círculo. Em particular, os pesquisadores identificaram o contexto estético no domínio da comunicação literária, cujas fronteiras abrangem o autor e os personagens no romance, bem como o sujeito lírico e seu “outro” na poesia (Stella; Brait, 2022STELLA, Paulo Rogério; BRAIT, Beth. Context as a Space for Creation and Cocreation. A Glimpse at Works of Bakhtin and the Circle. Bakhtiniana: Rev. Estud. Disc., 17(2), pp. 60-92, April/June 2022.).

Na pesquisa filológica contemporânea, o cronotopo serve como uma ferramenta analítica fundamental para a análise de vários tipos de textos, incluindo tanto os ficcionais quanto os não ficcionais. Por exemplo, ao examinar o cronotopo em narrativas sobre o norte russo, é evidente que o contínuo espaço-temporal construído pelo autor se alinha estreitamente à realidade. Isso é obtido por meio da composição: a inclusão do autor como narrador e um participante dos acontecimentos, e o uso de uma grande quantidade de informação factual (Kornilova et al., 2020KORNILOVA, Elena Vladimirovna; KOLESOVA Elena Al'bertovna; NAUMENKO Nadezhda Vital'evna. People in the Arctic: A Reflection on “The Polar Circle Quadrature” on the Material of Contemporary Stories and Feature Articles. IOP Conference Series: Earth and Environmental Science, n. 12091, v. 539, pp. 1-9, 2020.). Ao analisar textos narrativos atuais, os aspectos semântico e subjetivo do cronotopo são enfatizados. De acordo com W. Shmid, o domínio do espaço do narrador pode ser tanto limitado por sua posição no texto, quanto ilimitado, estendendo-se por toda a narrativa (Shmid, 2003). Em seu artigo, M. S. Mozzherina discute as particularidades da representação artística subjetiva do espaço e do tempo artísticos, propondo o termo “cronotopo da realidade subjetiva” para os romances de Lena Eltang (Mozzherina, 2022).

Ao se concentrar no exame dos cronotopos, Ana Lúcia Macedo Novroth propõe uma descrição do regime sociopolítico da sociedade no romance distópico Incidentes em Antares do escritor brasileiro Érico Veríssimo. Novroth identifica a polarização política e o esquecimento enquanto elementos integrantes do cronotopo dentro do texto. Além disso, ela enfatiza que o homem carrega em si a unidade da experiência espaço-temporal e da memória e que o cronotopo serve como a força motriz por trás das experiências singulares dos personagens, muitas vezes levando a uma reavaliação de suas identidades (Novroth, 2023). Numa vertente similar, o linguista P. Yu. Povalko conclui, por meio da análise de romances distópicos russos, que os textos literários contemporâneos provocam uma reinterpretação das categorias de tempo e de espaço e, com isso, o cronotopo tem uma função semântica e assegura a significação no contexto literário (Povalko, 2016).

No contexto do mundo moderno, os desafios em torno da orientação espaço-temporal de uma pessoa adquirem novas dimensões. Observou-se que a rápida emergência e a intrusão de novidades no espaço da existência do ser humano engendra uma ansiedade crônica e dúvidas a respeito da validade do propósito da vida (Shestakova, 2022). Em particular, o espaço urbano assume um papel essencial como ocorre com a problemática das monocidades, aquelas dominadas por uma única indústria ou companhia (Fomin, Bezzubova, 2022FOMIN, Maksim Vital'evich; BEZZUBOVA, Ol'ga Vladimirovna. Metafizika monogorodov: Prostranstvo vs Vremya [Metaphysics of Single-Industry Towns: Space vs Time]. Voprosy filosofii, n. 4, pp. 37-46, 2022.). E. Y. Burlina destaca que cada cidade tem um cronotopo distinto. A pesquisa de Burlina se concentra no cronotopo histórico e existencial da cidade, que interliga as várias épocas históricas com a paisagem cultural da cidade e as transforma em um fluxo espaço-temporal contínuo (Burlina, 2017).

A organização espaço-temporal dos textos poéticos permite explorar um dos aspectos-chave do nosso estudo: o reflexo das experiências pessoais do autor. O diálogo autobiográfico começa a emergir na poesia russa, no século 18 (Maslova, 2018MASLOVA, Anna Gennad'evna. Mifologizaciya xudozhestvennogo prostranstva i vremeni v tvorchestve S. S. Bobrova [Mythology of Artistic Space and Time in S. S. Bobrov’s Works]. Tomsk State University Journal of Philology, n. 51, pp. 162-176, 2018.; 2019). Ao identificar as tendências-chave da literatura da primeira onda da emigração russa na França, o professor A. B. Ledenev enfatiza que a prosa memorial e autobiográfica, incluindo os diários e textos poéticos, serviu como seu fundamento estilístico, representando uma “síntese entre o relato de fatos e a autorreflexão” (Ledevev, 2013, p. 128). As ciências humanas contemporâneas se empenham no estudo de fontes dos fatos, inclusive ego-documentos, que fornecem informação pessoal confiável. Por exemplo, ao explorar os acontecimentos da guerra civil na Rússia dos anos 1920, são utilizados, como fontes científicas, as memórias de participantes diretos dos acontecimentos na Criméia (Kalinovskii; Samylovskaia, 2022), os diários, as cartas e as memórias dos indivíduos envolvidos no movimento branco no noroeste da Rússia (Tropov, Konkin, 2022TROPOV, Igor' Anatol'evich; KONKIN, Andrej Alekseevich. Sobytiya Grazhdanskoi voiny na Severo-Zapade Rossii v ego-dokumentakh voennosluzhashchikh Severo-Zapadnoi armii (1918-1920 gg.) [Events of the Civil War in the North-West of Russia in the Ego-Documents of Servicemen of the North-Western Army (1918-1920)]. Modern History of Russiathis, 12(4), pp. 970-983, 2022.).

Portanto, é evidente que o cronotopo desempenha um papel importante, uma vez que ele estabelece a coesão artística da obra literária em sua relação com a realidade. Por conseguinte, ele nos permite compreender diferentes aspectos da visão de mundo do autor, desvelando fragmentos do conteúdo da sua cosmovisão.

1 Questões da identidade dos emigrantes russos da primeira onda em Paris

No contexto da exploração da criação poética da diáspora russa, a herança literária de autores russos que emigraram à Europa é um tópico de grande interesse e um tema que continua a cativar leitores e pesquisadores. As ondas mais numerosas de emigração russa à França ocorreram nos anos de 1921 (mais de 32 mil pessoas) e de 1926 (67 mil pessoas) (Schor, 2019). Segundo Catherine Gousseff, os refugiados dos anos 1920 fizeram parte de outros grandes deslocamentos populacionais, que contribuíram para a criação de uma “França estrangeira” (Goussef, 2023). No início, eles eram chamados de refugiados políticos, mas depois ficaram conhecidos como “emigrantes russos”, termo que revelava o drama do exílio forçado. Em nosso artigo, utilizamos os termos “andarilho” e “exilado”, que têm conotações avaliativas amplas, para se referir aos emigrantes da primeira onda. Essa escolha segue a tendência geral nas pesquisas do discurso social contemporâneo de selecionar palavras que refletem momentos cruciais no desenvolvimento político, econômico e cultural (Gagarina; Goncharova; Mikhaylova, 2022GAGARINA, Oksana YUr'evna; GONCHAROVA, Mariya Vyacheslavovna; MIKHAYLOVA, Marina Sergeevna. Lexical Innovations in Social Discourse. Xlinguae, n. 15(3), pp. 187-199, 2022.). Entre esses exilados estavam escritores ilustres tais como Ivan Bunin, Vladislav Khodassevitch, Georgui Adamovitch e outros.

Hoje o estudo da diáspora russa está estreitamente relacionado ao desafio da conservação de sua identidade cultural e ética. Em sua análise da linguagem de emigrantes russos, E. A. Zemskaya observa que a primeira onda de emigrantes e de seus descendentes são pessoas bastante instruídas e proficientes em muitas línguas: “Eles partilham diversos traços na linguagem, na psicologia e na relação com a Rússia. Seus pais manifestam uma profunda devoção à Rússia e um forte desejo de preservar sua ‘identidade russa’” (Zemskaya, 2001, p. 36). Por exemplo, N. V. Letaeva ilumina o cronotopo do Natal na prosa da diáspora russa, revelando os valores inerentes associados a essa festividade religiosa e fixados na memória histórica e cultural (Letaeva, 2020). Em diferentes períodos da vida social, a memória coletiva está estreitamente conectada aos mecanismos da autoidentificação social, da interação intergeracional de valores e da transmissão da herança social (Kornilova, 2022KORNILOVA, Elena Vladimirovna. Arktika i Sever v kontekste problemy istoricheskoi pamyati [The Arctic and the North in the Context of the Problem of Historical Memory]. Voprosy istorii, n. 5, (1), pp. 18-30, 2022.).

Pesquisadores franceses contemporâneos também têm estudado questões ligadas à identidade dos indivíduos da diáspora russa. O artigo de Coline Saintherant Le renouveau identitaire des écrivains russes exilés en France [A renovação identitária dos escritores russos exilados na França] é dedicado ao estudo das personalidades dos escritores russos que emigraram para a França entre o período da revolução russa e o início da Segunda Guerra Mundial. Com base na análise de autobiografias de aproximadamente quarenta autores-emigrantes de distintas origens e situações sociais, a pesquisadora revela que a população emigrante russa é heterogênea, o que desafia tentativas de categorizá-la como um grupo homogêneo. Apesar disso, os processos de reconstrução da identidade vividos por essas pessoas são semelhantes. Os autores enfrentaram questões comuns: a identidade do escritor, a nacionalidade, a emergência de mitologias. Contudo, suas respostas divergem: eles não partilham a mesma definição de escritor no exílio, os mitos por eles criados são diversos e os caminhos para o novo país nem sempre coincidem (Saintherant, 2021).

Em seu trabalho Les écrivains russes blancs en France. Un entre-deux identitaire (1919-1939) [Os escritores russos brancos na França. Um entre-duas identidades (1919-1939)], Ralph Schor aponta que muitos emigrantes tinham uma dupla identidade: russa e francesa. Ao desejarem preservar a lealdade à Rússia e ao mesmo tempo se beneficiarem do que a França podia lhes oferecer, os jovens emigrantes se sentiam divididos entre duas identidades e relataram sérias dificuldades. A maioria dos russos se queixava dos sentimentos de solidão e de isolamento enfrentados por eles. Além disso, eles lutaram para encontrar seu auditório e suas fontes de inspiração; eles tinham dúvidas sobre sua identidade russa, bem como sobre a possibilidade de manterem sua essência russa e de criar obras na língua russa fora da terra natal (Schor, 2019).

Segundo D. Iu. Dorofeev, a reflexão filosófica sobre a identidade do ser humano começa com a questão fundamental do que define uma pessoa como pessoa. Filósofos da Antiguidade, incluindo Platão, já responderam a essa questão. Platão acreditava que “a compreensão da existência humana está estreitamente ligada ao trabalho da mente, o qual é influenciado pelas escolhas individuais e pela autopercepção” (Dorofeev, 2019, p. 253). Ao desenvolver o tema da autocompreensão, Dorofeev defende que a vida humana se desenvolve como um processo inerente de auto-organização, guiado por um princípio cíclico: “Esse princípio (...) se manifesta no cronotopo de um modo de vida sedentário, mas seus elementos, tais como as alternâncias entre dia e noite, podem ser encontrados até na vida de um andarilho” (Dorofeev, 2022, p. 131).

Pesquisar as vidas de emigrantes russos em Paris envolve a tentativa de resgatar suas experiências cotidianas, bem como de elucidar as interações com a diáspora e os complexos domínios da identidade nacional e criativa. A pesquisadora contemporânea E. Volodina observa que, em Paris, os emigrantes russos enfrentaram decepções: “Em vez de encontrarem uma terra de festividades, diversão e abundância, eles se viram nos arredores de Paris, sem as festividades e apenas com dias de trabalho” (Volodina, 2015, p. 46). Nascida em uma família de emigrantes russos da primeira onda, Elena Menegaldo destaca que os emigrantes “foram incapazes de se libertar de sentimentos perturbadores associados à partida de sua terra natal, mesmo a mais desamparada, e do medo de abraçar a mudança” (Menegaldo, 2001, p. 247).

As memórias de emigrantes da primeira onda são uma continuação pungente da tradição da poesia psicológica na virada do século. Elas fornecem meios para o conhecimento dos outros e de si próprio em um espaço inabitual vivido pelos emigrantes russos, onde se formaram relações singulares entre o “Eu” do emigrante russo e a França como o espaço da existência.

2 O cronotopo de Paris nos poemas de Irina Knorring (Início do período parisiense)

A questão da identidade e a criação de uma autodeterminação se colocaram de modo especialmente agudo para os representantes da nova geração da primeira onda de emigrantes. Esses indivíduos, que deixaram a Rússia na infância e na adolescência, passaram por circunstâncias difíceis, residindo em um país estranho, enquanto preservavam a sua identidade nacional. A poeta Irina Knorring (1906-1943), que viveu em Paris a partir de 1925, pertenceu a essa geração. Em seus trabalhos poéticos, a exploração do tempo e do espaço emerge como um tema central. Com base em acontecimentos de sua biografia pessoal, os versos por ela compostos podem ser categorizados como “poesia de diário”.

Em Paris, Irina Knorring integra ativamente a vida cultural dos emigrantes russos, e o tema da França se torna um motivo recorrente em seus poemas e em seu diário. Nos seus escritos, a França é representada como um país chuvoso, nublado, pintado com a cor cinza. Em um de seus primeiros poemas parisienses, Knorring se dirige à cidade e expressa sua relação com ela: “Tu, cinza, fria e austera,/ A tão desejada Paris” (“Bordos ramificados soam barulhentos para mim”4 4 Original em russo: “Chumiát mnié viétvistye klióny”. , 25 de maio de 1925) 5 5 Original em russo: “Ty siéryi, kholódnyi i stróguii,/ Tak dolgo jelánnyi Paríj”. . Eis algumas linhas do poema “No vagão” [V vagóne] (1925): “Vilarejos, fábricas, túneis, encostas/Poeira musguenta, cinza/ Rodas tricotando em dáctilas dispersas,/ Contando uma terrível história” (Knorring, 2014, p. 322)6 6 Original em russo: “Pociólki, zavódy, tunnéli, otkóssy,/ Mokhnátaiia, siéraia pyl./Rasseiánnym dáktilem viájut kolióssa/Kakúiu-to stráchnuiu byl” . Ela chegou “A uma cidade de prédios cinzas e “a uma cidade de estranhas e novas ansiedades, com uma “Uma massa turva de enormes-/Cinzentos prédios”. Durante suas observações de Paris, a poeta encontra prédios, ruas, travessas e praças cinzas: “Em Paris o frio começa, e as crianças congelam em uma travessa cinza...”7 7 Original em russo: “V górod siérykh zdánii;” “V górod nóvykh stránnykh trevóg;” “Mútno slítnye gromady - / Serye domá;” “V Paríje nastupáyut khóloda, i diéti miórznut v pereúlke serom ...” .

Knorring observou e capturou essa particularidade do ambiente em sua arte, conforme observado por V. A. Sokolova, que escreveu sobre a poesia da década de 1920:

A principal cor usada por ela em sua paleta foi o cinza. A chuva e as nuvens com frequência estão presentes como pano de fundo de suas obras. Seus poemas costumam retratar estados de profundo cansaço, insônia ou sonolência agonizante, delírios, dores morais e físicas ligadas a um estado doentio (Sokolova, 2011SOKOLOVA, Vera Andreevna. Poeticheskie osobennosti tvorchestva Iriny Knorring: k voprosu o periodizatsii [Poetic Features of Irina Knorring's Creativity: On the Question of Periodization]. In: Ezhegodnik Doma russkogo zarubezhya imeni Aleksandra Solzhenitsyna [The Yearbook of the Alexander Solzhenitsyn House of Russian Abroad], n. 2, pp. 254-264, 2011., p. 263; grifos das autoras)

O predomínio da cor cinza na descrição de Paris pode ser atribuído tanto à real aparência da cidade, com seus prédios construídos sobretudo com pedras cinzas, bem como à tradição literária de sua descrição (por exemplo, a rima “Paris - cinza” [Paris - gris] aparece com frequência em poetas francesas) (Mazur, 2011MAZUR, Natal'ya Nikolaevna. Maksimilian Vol-oh-Chine i tradiciya mezh``yazy`kovy`x igr v russkoj poe`zii nachala XX veka [Maximilian Vol-oh-Chine and the Tradition of Interlanguage Games in Russian Poetry of the Early Twentieth Century]. In: GARDZONIO, S.; KAZANSKII, N. N.; LEVINTON, G. A. (dir.) Laurea Lorae: pamyati Larisy Georgievny Stepanovoi. Saint Petersburg: Nestor-Istoriya, 2011. pp. 434-441., p. 434). Na poesia russa do Século de Prata, que influenciou em grande medida Knorring, a cor cinza simbolizava a melancolia, a desesperança e o vazio espiritual, conforme verificado em A. Blok e A. Biélyi. Enquanto A. Blok usa a cor cinza na descrição de São Petersburgo, onde o corpo “cinza e de pedra” da cidade jaz sob um “céu cinza”, Biélyi interpreta a natureza simbólica da cor, afirmando que o cinza representa a encarnação da inexistência na existência, imbuindo-a de um caráter fantasmagórico (Biélyi, 1994, p. 201). Na representação da Paris “cinza”, Knorring segue e desenvolve uma tradição bem estabelecida. O cinza é a cor das cinzas, da fumaça e da neblina; ela é derivada da mistura de duas cores primárias: o preto e o branco. Nos poemas da jovem poeta recém-chegada a Paris, a cor cinza reflete a incerteza, a melancolia e o estado doentio do eu lírico.

Portanto, é possível concluir que, se por um lado os primeiros poemas parisienses de Knorring têm uma clara indicação espacial (o nome da capital francesa é reiteradamente mencionado), por outro, esse espaço carece de uma definição temporal (indicações do período do ano estão ausentes, e predominam cenas noturnas) e está velado por chuvas e neblinas. A cor cinza intensifica a ambiguidade do retrato da cidade, o que lembra as telas dos impressionistas, como a famosa “Boulevard Montmartre em uma manhã de inverno” de Camille Pissarro. O cronotopo de Paris é subjetivo em Irina Knorring, expressando o estado interior do eu lírico.

A evolução da percepção da cidade pela jovem poeta pode ser vista como uma mudança do cronotopo de Paris na sua poesia de meados dos anos 1920. Nessa fase, aparecem lugares ícones do centro da cidade: palácios, castelos, catedrais, museus e praças, que servem como símbolos de Paris.

Nos “Poemas sobre Paris” [Stikhákh o Paríje] (30 de novembro de 1925), Knorring retrata sua percepção do centro da cidade. Ela destaca lugares significativos tais como: o museu de história e arqueologia Carnavalet; o Museu Clunny de arte medieval localizado em Saint-Michel; o auditório da Sorbonne, onde Knorring estudou; e a Conciergerie, castelo e prisão no coração de Paris. Ela menciona as icônicas “duas torres cinzas” de Notre-Dame, catedral localizada na Île de la Cité; o Palácio Tuilleries dos reis franceses; e a praça central de Paris, a Place de la Concorde (Knorring, 2014, p. 336-337). No seu diário intitulado “História da própria vida” [Póvest iz sóbstvennoi jízni], que cobre de maio a agosto de 1925, Knorring reflete sobre os primeiros lugares parisienses vistos por ela, incluindo a Conciergerie, a Place de la Concorde, a Sorbonne, o museu Carnavalet e o Museu do Louvre (Knorring, 2009, 2013).

O poema é composto por duas partes distintas, cada uma refletindo um componente temporal diferente do cronotopo. A primeira parte é dedicada ao tempo do passado da cidade e do país, que é refletido em frases tais como “séculos se passaram”, “preservando as lendas dos tempos antigos”, “a era do amanhecer do fogo, de belas palavras e da guilhotina”8 8 Original em russo: “stoliétiia proplyli”, “khraniát predánia staríny”, “épokha plámennoi zari, krassívykh slov i guilotiny”. . A segunda parte retrata a realidade contemporânea de Paris, onde bulevares são adornados por “lanternas que se tornam lilases na escuridão”, aos pares vão os transeuntes, “escurecem as saliências das paredes”, e a praça da Concorde “retumba, brilha e gira”9 9 Original em russo: “liloveyut vo mgle fonari;” “cherneyut vystupy sten;” “grokhochet, blestit i kruzhitsya.” . Essa divisão também se mantém no nível métrico, com a primeira parte escrita em tetrâmetro iâmbico e a segunda em metros anapesto e trocaico. Essas duas partes do poema se interconectam por meio da descrição dos locais parisienses em modo zoom-in, partindo dos limites de Paris rumo ao seu centro e finalmente à Place de la Concorde. Além disso, elas partilham um pano de fundo comum, com seu nebuloso-cinza, escuro, sombrio, do qual se destaca nitidamente a praça central da cidade como um “brinquedo mecânico”. O início da primeira parte Em uma cinza e abafada névoa e seu final Duas cinzas torres de Notre Dame/ Como duas asas em um céu negro10 10 Original em russo: “v tumanno siéroi duchnoi mgle;” “dve serykh bashni notr dam kak dva kryla na nebe mglistom.” definem a composição circular, que enfatiza a cor cinza predominante e a névoa. Pode-se dizer que, para Irina Knorring, a cidade de Paris se tornou um espelho, no qual ela vê suas próprias emoções e experiências.

A França permanece um espaço “alheio” para o eu lírico, o que pode explicar o uso frequente de imagens poéticas para retratar dor, melancolia e perda. Além disso, as experiências do eu lírico são enfatizadas pelas imagens do silêncio, da escuridão e da melancolia “silenciosa” (Sokolova, 2011SOKOLOVA, Vera Andreevna. Poeticheskie osobennosti tvorchestva Iriny Knorring: k voprosu o periodizatsii [Poetic Features of Irina Knorring's Creativity: On the Question of Periodization]. In: Ezhegodnik Doma russkogo zarubezhya imeni Aleksandra Solzhenitsyna [The Yearbook of the Alexander Solzhenitsyn House of Russian Abroad], n. 2, pp. 254-264, 2011.), que são centrais nos trabalhos poéticos de Knorring. Com angústia e vergonha, ela recorda a sua partida da Rússia no meio do caos da guerra civil, ansiando regressar à sua terra natal, mas é forçada a permanecer longe dela. Mesmo em seus poemas mais tardios, a imagem da escuridão persiste acompanhada pelo motivo recorrente do silêncio. No poema “Uma janela na sala de jantar” [Okno v stolóvoi] (1938), ela escreve: “Um cigarro. A chama de um fósforo,/ Escuridão e silêncio”; “Quantos minutos cansativos se passaram silenciosamente aqui,.../ Quanta dor foi refletida,/ Pelo vidro escuro...” (Knorring, 2014, p. 574)11 11 Original em russo: “Papirossa. Plamia spitchki,/mrak i tichiná; skolko zdies minut, ustákykh, .../skolko boli otrajalo,/Tómnoe stekló, ...” . Na poesia de Knorring, o silêncio é retratado como algo inevitável para uma alma solitária.

Com o tempo, o cronotopo de Paris e a representação da cidade se tornam mais complexos. Por um lado, a cidade permanece monótona, triste e cinza. Ao mesmo tempo, a imagem da vida cotidiana dos emigrantes russos na França é introduzida nos poemas escritos no final dos anos 1920 e no início dos anos 1930. Essa vida é alheia ao eu lírico, pois estão ausentes a sinceridade, as emoções genuínas e as relações interpessoais verdadeiras. No poema “Montparnasse” [Monparnass] (1931), ela escreve: “Tornou-se monótono, amedrontador até./ Esperemos que alguém agora chegue/ E conte-nos, pela centésima vez,/Uma anedota literária cáustica” (Knorring, 2014KNORRING, Irina Nikolaevna. Zolotye miry [Golden Worlds]. Red. N. M. Chernova. Almaty: Sedmaya versta, 2014., p. 498-499)12 12 Original em russo: “stanovilos skuchno stráchno daje. / jdióm chto kto nibud sitchas pridet / I so smakom v sotyj raz rasskajet, / zloi literatúrnyi anekdót.” .

Por outro lado, a abordagem da cidade por Knorring está ligada ao tema da natureza. Além de Paris, ela retrata seus subúrbios e arredores. A contemplação do mundo natural proporciona uma alegria genuína ao eu lírico, permitindo-lhe escapar do fardo da vida cotidiana cinzenta.

Na segunda metade dos anos 1920, o cronotopo de Paris é caracterizado, na poesia de Knorring, por sua conexão profunda com o tema do amor. O amor surge como um sentimento poderoso, que proporciona ao eu lírico as forças necessárias para resistir à natureza monótona e agitada da existência terrestre. O espaço da cidade - com seus bulevares, vias ao longo de canais, praças e avenidas arborizadas, assim como o espaço de Versailles - é aberto à poeta, que dedica vários poemas ao palácio em 1927. Por exemplo, o poema “Versailles” [Versal]: “Percorremos todos os canais,/ O Grande e o Pequeno Trianon./ Acima de nós o sol tremia/ E iluminava o céu” (Knorring, 2014, p. 397)13 13 Original em russo: “My minovali vse kanaly, / bolshói I malyi Trianon. / nad nami solntse trepetalo / I ozaryalo nebosklón.” . O pronome pessoal plural “nós” significa a união do eu lírico com seu amado. Ele aparece cinco vezes ao longo do poema, com quatro ocorrências de “nós” e uma na expressão “acima de nós”. Esse pronome forma o tema central do poema e contribui para a criação do cronotopo biográfico. O estado de espírito do eu lírico é refletido na paisagem, com seus palácios e os canais de Versailles.

No poema “As castanheiras florescem em Paris” [Zatsvetáiut v Paríje kachtany] (15 de abril de 1927), é representada a chegada da primavera em Paris. A descrição capta muitos dos elementos definidores do cronotopo de Paris na poesia de Knorring: uma cidade envolta em tons de cinza, nebulosa, sombria, repleta de ar úmido e de chuva (como indica a menção à “cerca enferrujada”). No entanto, durante o desenvolvimento do enredo, a cidade se transforma e revela sua beleza. Com o início da primavera, Paris desperta com uma exibição de flores e árvores florescendo. Elas infundem luz e variadas cores na cidade. As flores das castanheiras são comparadas a velas que iluminam o espaço opaco, enquanto as flores lilás adicionam o tom roxo à paleta de cores. Além disso, a chegada da primavera no poema está ligada ao despertar de sensações e às expectativas do amor. O eu lírico aprendeu a ver a beleza da cidade, começando um novo capítulo da vida da poeta, em que o desejo de amar tem um profundo significado e importância.

As castanheiras florescem em Paris, Como austeras velas nupciais. Uma noite nebulosa desce, Uma esfumaçada tarde de primavera. Atrás da cerca do nebuloso jardim O crepúsculo está repleto de languidez e preguiça. A cerca enferrujada esconde O roxo dos lilases começando a florir. Há uma mudança no meu coração, Uma recém-descoberta agitação, uma elevação curiosa. As castanheiras em ladeiras Assemelham-se a velas nupciais. (Knorring, 2014KNORRING, Irina Nikolaevna. Zolotye miry [Golden Worlds]. Red. N. M. Chernova. Almaty: Sedmaya versta, 2014., p. 395)14 14 Original em russo: “Zacvetayut v Parije kashtany,/ Kak ventchalnye strogie svetchi/ Opuskaetsya vecher tumanny/ Po vesennemu dymchatyj vietcher// Za ogradoo tumannogo sada/ Sumrak polon tomlenem I lenyu./ Liloveyut za rzhavoj ogradoi/ Tchut rascvetshie kisti sireni.// A uj serdce byt prejnim ne mojet,/ Stalo novym vzvolnovanno strannym/ Ottogo chto v alleyakh kashtany/ Na ventchalnye svetchi pokhoji ».

Em contraste com os textos por nós anteriormente analisados, onde a cidade é predominantemente retratada na cor cinza, este poema apresenta uma perspectiva diferente. O autor e o eu lírico veem o mundo circundante pelas lentes do amor; ele é repleto de cores vibrantes simbolizadas pelas árvores floridas. Para ela, Paris se tornou em uma cidade diferente, ela observa o mundo ao redor com mais atenção. Ela não só observa as flores desabrochando; em vez disso, ela é cativada pelo esse processo em desenvolvimento. Como uma mulher apaixonada, ela demonstra uma curiosidade fervorosa, abraçando a novidade e a intriga que permeiam o seu entorno.

Neste poema, o uso de formas verbais capta a natureza dinâmica das cenas retratadas (florescer, esconder-se, começar a florescer). O sujeito lírico percebe tudo como um processo contínuo, abraçando a própria essência do movimento. A partir dessa perspectiva recém-descoberta, ela descobriu o sentido da vida, o qual transforma o seu olhar sobre o mundo. Elementos do poema ressoam com esse clima: as flores, as velas de casamento, a neblina e os tons lilás. Nos níveis lexical e gramatical, há uma indicação sutil do futuro, sugerindo que o presente ainda não chegou por completo e apenas o processo está atualmente a se desenrolar. A linha “O roxo dos lilases começando a florir”15 15 Original em russo: “Liloveyut za rzhavoj ogradoi.” projeta um senso de direção rumo ao futuro.

Psicolinguistas contemporâneos analisam as funções cognitivas do discurso interior, que permeiam o mundo mental do ser humano. Isso serve como fundamento à compreensão do problema da relação entre pensamento, discurso e consciência humana. “O discurso interior é condicionado pelo verbal, assim como a experiência pessoal do autor e suas auto-observações (Koltsova, Kartachkova, 2018KOLTSOVA, Elena Aleksandrovna; KARTASHKOVA, Faina Iosifovna/ Funktsionalnye osobennosti vnutrennei rechi v lingvopragmaticheskom i psikhologicheskom aspektakh [Functional Features of Internal Speech in Linguopragmatic and Psychological Aspects]. Vestnik Novosibirskogo gosudarstvennogo pedagogicheskogo universiteta, v. 8, n. 4, pp. 55-73, 2018., p. 59).

O tema do amor é introduzido por meio da comparação das cores das castanheiras com as velas nupciais, representando Paris como uma catedral, onde o sacramento do casamento está para ser celebrado. Nas tradições cristãs, as velas simbolizam a força, a pureza e a graça do amor do noivo e da noiva, bem como a graça permanente de Deus. A escolha das plantas, mencionadas na descrição, pode adquirir uma significação especial nesse contexto. A relação entre as características espaciais e as sensações e experiências dos personagens se torna evidente, sobretudo na última estrofe. As castanheiras floridas são vistas como um motivo para o eu lírico experimentar novas e desconhecidas emoções. A repetição de palavras adquire uma significação conceitual. As associações fonéticas e semânticas criadas por elas e pelas palavras circundantes enfatizam a ideia de que o eu lírico está em harmonia com o espaço urbano de Paris. O uso de repetições na primeira e na última estrofes forma um círculo, que pode ser interpretado como uma referência adicional à cerimônia de casamento, durante a qual a troca de alianças simboliza a união de dois indivíduos.

Isso demonstra que o cronotopo de Paris na lírica amorosa de Knorring se transforma. Ela se torna uma cidade de primavera a florescer, onde o eu lírico e seu amado passeiam por parques, jardins e bulevares. A representação do espaço é caracterizada pela harmonia, conferindo ao cronotopo de Paris uma elevada intensidade emocional e um senso de universalidade.

Conclusão

O cronotopo de Paris nos poemas do primeiro período da obra de Irina Knorring exibe um retrato dinâmico que captura tanto as questões de identidade nacional, cultural e criativa, que eram comuns aos emigrantes da primeira onda, quanto as experiências específicas, de eventos e de datas, associadas ao desenvolvimento pessoal de Knorring e a sua percepção da cidade e de seus subúrbios.

Três variantes complementares do cronotopo de Paris foram exploradas. Inicialmente, o cronotopo apresenta uma Paris cinza e noturna, cheia de incerteza e representada em versos imersos em chuva, névoa e neblina. Mais tarde, locais parisienses específicos, principalmente os marcos arquitetônicos e históricos da capital francesa, começam a emergir contra o fundo cinza e nublado da cidade. Na percepção de Knorring, a cidade é interligada à história e à cultura do país, com seus marcos de significado cultural e histórico. O cronotopo de Paris, permeado por paisagens de jardins e por Versailles, tem um caráter altamente subjetivo, pois está ligado ao tema do amor. A exploração da cidade e de seus arredores - incluindo jardins, bulevares e parques - contribui ao desenvolvimento da narrativa do amor, o que atribui ao cronotopo de Paris tanto subjetividade quanto universalidade.

Nos níveis gramatical e lexical, o cronotopo da poesia de Knorring está alinhado a três indicadores dêiticos temporais: o ontem, o hoje e o amanhã. Todavia, nenhum desses tempos é estável ou definido. Knorring não se despede do passado, mas olha para o futuro com inquietação e melancolia, pois não sabe o que a espera. No presente, ela ocupa um espaço que é sentido por ela como distante, dominado por sombras cinzas e caracterizado por um estado de desequilíbrio físico e espiritual. Mais tarde, o cronotopo de Paris se transforma junto com a antecipação do amor que se apossa do eu lírico, abrindo uma nova etapa na vida e na obra de Irina Knorring.

Em suma, nos primeiros trabalhos de Irina Knorring, a evolução do cronotopo de Paris apresenta uma mudança que parte do espaço externo em direção ao interno, do tempo histórico rumo ao pessoal e dos relatos objetivos dos eventos para sua percepção e avaliação subjetivas. O cronotopo da jornada da vida nos trabalhos de Knorring representa uma exploração do seu destino e vocação poética.

Declaração de disponibilidade de conteúdo

Os conteúdos subjacentes ao texto da pesquisa estão contidos no manuscrito.

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  • 1
    BAKHTIN, Mikhail M. Teoria do romance II: As formas do tempo e do cronotopo. Trad., posf. e notas P. Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2018 [1937-39].
  • 2
    Ver nota 1.
  • 3
    Ver nota 1.
  • 4
    Original em russo: “Chumiát mnié viétvistye klióny”.
  • 5
    Original em russo: “Ty siéryi, kholódnyi i stróguii,/ Tak dolgo jelánnyi Paríj”.
  • 6
    Original em russo: “Pociólki, zavódy, tunnéli, otkóssy,/ Mokhnátaiia, siéraia pyl./Rasseiánnym dáktilem viájut kolióssa/Kakúiu-to stráchnuiu byl”
  • 7
    Original em russo: “V górod siérykh zdánii;” “V górod nóvykh stránnykh trevóg;” “Mútno slítnye gromady - / Serye domá;” “V Paríje nastupáyut khóloda, i diéti miórznut v pereúlke serom ...”
  • 8
    Original em russo: “stoliétiia proplyli”, “khraniát predánia staríny”, “épokha plámennoi zari, krassívykh slov i guilotiny”.
  • 9
    Original em russo: “liloveyut vo mgle fonari;” “cherneyut vystupy sten;” “grokhochet, blestit i kruzhitsya.”
  • 10
    Original em russo: “v tumanno siéroi duchnoi mgle;” “dve serykh bashni notr dam kak dva kryla na nebe mglistom.”
  • 11
    Original em russo: “Papirossa. Plamia spitchki,/mrak i tichiná; skolko zdies minut, ustákykh, .../skolko boli otrajalo,/Tómnoe stekló, ...”
  • 12
    Original em russo: “stanovilos skuchno stráchno daje. / jdióm chto kto nibud sitchas pridet / I so smakom v sotyj raz rasskajet, / zloi literatúrnyi anekdót.”
  • 13
    Original em russo: “My minovali vse kanaly, / bolshói I malyi Trianon. / nad nami solntse trepetalo / I ozaryalo nebosklón.”
  • 14
    Original em russo: “Zacvetayut v Parije kashtany,/ Kak ventchalnye strogie svetchi/ Opuskaetsya vecher tumanny/ Po vesennemu dymchatyj vietcher// Za ogradoo tumannogo sada/ Sumrak polon tomlenem I lenyu./ Liloveyut za rzhavoj ogradoi/ Tchut rascvetshie kisti sireni.// A uj serdce byt prejnim ne mojet,/ Stalo novym vzvolnovanno strannym/ Ottogo chto v alleyakh kashtany/ Na ventchalnye svetchi pokhoji ».
  • 15
    Original em russo: “Liloveyut za rzhavoj ogradoi.”
  • Pareceres

    Tendo em vista o compromisso assumido por Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso com a Ciência Aberta, a revista publica somente os pareceres autorizados por todas as partes envolvidas.

Parecer I

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

1. Adequação do trabalho ao tema proposto.

O trabalho é completamente consistente com o tema que propõe.

2. O objetivo explícito do esto e desenvolvimento coerente do texto

O autor formula claramente o propósito do trabalho e as tarefas necessárias para alcançá-lo; e oferece as necessárias soluções para elas. O cronotopo de Paris na poesia de Irina Knorring é reconstruído com base em um número suficiente de exemplos representativos. O artigo apresenta um vasto contexto literário e cultural, que torna as conclusões finais do autor convincentes.

3. Conformidade com a teoria proposta, demonstrando conhecimento atual de literatura relevante.

O autor se baseia na teoria do cronotopo de M. Bakhtin, que torna possível a reconstrução convincente da imagem de Paris na poesia de Irina Knorring. Destacar o cronotopo da cidadde é consequência da posição correspondente da obra de Bakhtin sobre o cronotopo e permite uma análise profunda e clara da especificidades da visão de Paris de Irina Knorrina e de seus contemporâneos, técnicas e recursos para criar a imagem da Paris russa. O autor faz uso extensivo de trabalhos russos e estrangeiros sobre o cronotopo, incluindo aqueles publicados nas páginas de Bakhtiniana. Ao mesmo tempo, lamentamos que o artigo quase não tenha referências aos estudos relevantes em língua inglesa.

4. Originalidade e contribuição ao campo do conhecimento

Embora a questão do cronotopo tenha sido o foco da pesquisa por muitos anos, há muitos aspectos científicos a serem ainda explorados. O cronotpo da cidade num texto poético é um deles. Ao reconstruir a imagem de Paris na poesia de uma poetisa russa pouco conhecida até em seu país natal, a autora contribui para a solução desse problema, que determina a novidade científica e a importância do artigo.

5. Clareza, correção e adequação da linguagem a um trabalho científico

A linguagem e o estilo correspondem ao que é requerido para artigos científicos.

Embora apreciando este artigo em geral, como revisora gostaria de fazer alguns comentários específicos:

  1. Tenho certeza de que para o leitor de língua inglesa teria sido muito mais conveniente obter citações de Bakhtin a partir de traduções em inglês já disponíveis.

  2. Seria útil incluir a definição de Bakhtin do cronotopo da cidade como um dos tipos de cronotopo. Talvez fosse apropriada uma referência ao livro de Bakhtin sobre Rabelais, no qual Bakhtin ofereceu sua versão da reconstrução do cronotopo de Paris no texto do escritor francês.

  3. Talvez valha a pena dizer algumas palavras sobre como o cronotopo de Paris é criado na obra de outros poetas emigrados russos, quão semelhante ou diferente ele é da versão de Irina Knorring. APROVADO COM SUGESTÕES

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Histórico

  • Parecer recebido em
    10 Jun 2023

Parecer II

Sobre o autor do parecer SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

O artigo aborda o conceito bakhtiniano de cronotopo na poesia de Irina Knorring, parte da literatura émigré em língua russa. Trata-se de um tema original e pouco explorado. Referenciada por V. Khodassiévitch como parte da “poesia feminina” em língua russa, a obra de Knorring reflete os sentimentos dos emigrantes da primeira onda, sobretudo em relação à sua percepção da capital francesa. Recomendo apenas trazer todas as citações, bem como os títulos dos poemas, também na língua original (russo) para facilitar a sua localização.

  • recomendação: aceitar

Histórico

  • Parecer recebido em
    17 Jul 2023

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    29 Maio 2023
  • Aceito
    12 Out 2023
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