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Avaliação social como recurso persuasivo em discursos políticos: Clinton vs. Trump

RESUMO

Mudanças políticas têm intensificado os debates sobre como certos discursos estabelecem agendas e influenciam eleitores. Nesse escopo, a Análise Crítica do Discurso e a Linguística Sistêmico-Funcional, juntamente com o arcabouço teórico-metodológico da Avaliatividade, demonstraram ser bem-sucedidas na investigação da ideologia em textos, bem como na abordagem de tópicos como a polarização política. Portanto, a presente pesquisa tem como objetivo analisar a avaliação social da Teoria da Avaliatividade como um dispositivo ideológico e persuasivo nos discursos de nomeação de Clinton e Trump, em 2016. Os resultados enfatizam usos de estratégias retóricas que podem levar os eleitores à preferência de certos conjuntos de valores e crenças. A análise revelou que, naqueles discursos, os candidatos usaram estratégias diferentes para persuadir os eleitores, construindo abordagens discursivas ideológicas negativas (Trump) e positivas (Clinton), aplicando a avaliação social como estratégia retórica central.

PALAVRAS-CHAVE:
Linguística Sistêmico-Funcional; Avaliação social; Análise Crítica do Discurso; Avaliatividade; Pragmática

ABSTRACT

Political changes have been intensifying debates about how certain discourses set agendas and influence voters. In this scope, Critical Discourse Analysis, Systemic-Functional Linguistics, and together with the theoretical and methodological framework of Appraisal have proved to be successful in investigating ideology in texts, as well as addressing topics such as political polarization. Therefore, this research aims to analyze the Appraisal’s social evaluation as an ideological and persuasive device in Clinton-Trump nomination speeches in 2016. Outcomes raise awareness over rhetorical strategies that can lead voters to the preference of certain sets of values & beliefs. Results revealed that then-candidates used different strategies to persuade electors by constructing negative (Trump) and positive (Clinton) ideological discursive approaches by applying social evaluation as a pivotal rhetorical strategy in those speeches.

KEYWORDS:
Systemic-Functional Linguistics; Social evaluation; Critical Discourse Analysis; Appraisal; Pragmatics

Introdução

A eleição presidencial americana de 2016 ocorreu em 8 de novembro de 2016. A 58ª eleição presidencial quadrienal americana fez com que o candidato republicano Donald Trump derrotasse a candidata democrata, ex-secretária de Estado, Hillary Clinton. Trump assumiu o cargo de 45º presidente, “apesar de ter sido consideravelmente superado nas eleições gerais; perdendo no voto popular nacional em mais de dois pontos percentuais, mas ainda ganhando o Colégio Eleitoral, algo que raramente aconteceu na história americana” (SABATO et al., 2017SABATO, L.; KONDIK, K.; SKELLEY, G. (ed.). Trumped: The 2016 Election That Broke All the Rules. Lanham, MD: Rowman & Littlefield, 2017., p.7)1 1 No original: “despite being considerably outspent in the general election; losing the national popular vote by over two percentage points but still winning the Electoral College, something that has happened rarely in American history”. .

Após o resultado surpreendente da eleição, protestos eclodiram pelo território dos Estados Unidos, com alguns confrontos nas ruas por vários dias. Por outro lado, o presidente Trump também recebeu apoio por seu triunfo. Notícias por todo o país e por todo o mundo transmitiram claras indicações de que o país estava dividido. Para além da eleição, questões acercas das visões ideológicas dos candidatos eram um sinal de que a polarização nos Estados Unidos havia atingido o seu auge.

Valores e crenças estão no centro da polarização política. Para Moreno (2019, p.1)MORENO, A. Political Cleavages: Issues, Parties, and the Consolidation of Democracy. London: Routledge , 2019., mais do que o eixo esquerda-direita da competição política, “a nova política” é definida pela “proeminência de preocupações particulares entre os eleitores de massa” e “novas questões”,

ou questões da ‘nova política’ - como ambientalismo, direitos das minorias, questões feministas e expressões de gays e lésbicas - afetaram, não apenas o significado da competição partidária, mas também a base social do apoio partidário2 2 No original: “or issues of the ‘new politics’ - such as environmentalism, minority rights, feminist issues, and gay and lesbian expressions - have affected not only the meaning of party competition but also the social basis of party support”. .

Mais recentemente, há uma percepção geral de que a eleição do presidente Trump intensificou a divisão no território dos EUA (PILKINGTON, 2017PILKINGTON, E. Trump's first 100 days. One nation, two Trumps: America as divided as ever after first 100 days. The Guardian . 2017. Available at: https://www.theguardian.com/us-news/2017/apr/27/donald-trump-first-100-days-president-ohio-voters. Access on: 25 Sept. 2019.
https://www.theguardian.com/us-news/2017...
; SHI et al., 2019SHI, F.; TEPLITSKIY, M.; DUEDE, E.; EVANS, J. A. The wisdom of polarized crowds. Nature Human Behaviour, v. 3, n. 4, p.329, 2019. ). É razoável dizer que a disputa Clinton-Trump representou uma grande ruptura ideológica na sociedade americana, a qual mais tarde foi refletida em outras nações. Muitos fatores devem ser considerados ao julgar o sucesso ou fracasso de candidatos políticos; fato é que o discurso é um aspecto importante da equação, pois incorpora suas ideologias. Van Dijk (2002, p.1) postula que políticos, geralmente, têm pelo menos duas ideologias, uma profissional para atuar como políticos e “as ideologias sociopolíticas às quais aderem”3 3 No original: “the socio-political ideologies they adhere to”. Adiante, no mesmo parágrafo, “conservative and progressive politicians, socialists and neoliberals, Christian-democrats, greens, nationalists and racists, and so on. And it is likely that these ideologies will show up and combine in the discourse of politicians”. . Estas os identificam como membros de partidos ou grupos sociais: “políticos conservadores e progressistas, socialistas e neoliberais, democratas-cristãos, verdes, nacionalistas e racistas, e assim por diante. E é provável que tais ideologias apareçam e se combinem no discurso dos políticos” (Van DIJK, 2002Van DIJK, T.A. Political Discourse and Ideology. Anàlisi del Discurs político, pp.15-34, 2002., p.1).

No espectro de agendas e discursos políticos, não é um objetivo deste estudo fornecer um senso de correção ou incorreção de qualquer orientação política. Pretendo esclarecer algumas das estratégias discursivas de Trump e Clinton, analisando um discurso de cada um. Mais especificamente, o corpus é composto pelos dois discursos mantidos durante suas nomeações nas convenções de seus respectivos partidos: o Comitê Nacional Republicano (doravante RNC) - Trump, e o Comitê Nacional Democrata (doravante DNC) - Clinton4 4 As convenções de partidos são cerimônias nas quais os delegados de ambos os lados, tradicionalmente, escolhem seus indicados para presidente e vice-presidente dos Estados Unidos. Em 2016, os Republicanos realizaram a RNC nos dias 18 e 21 de julho de 2016, na Quicken Loans Arena, em Cleveland, Ohio. Por sua vez, a DNC foi realizada no Wells Fargo Center, na Filadélfia, Pensilvânia, de 25 a 28 de julho de 2016. .

As convenções tornaram-se instrumentos importantes para os candidatos moldarem suas imagens por meio de longos discursos carregados de significado ideológico. Decker vê as convenções com “um objetivo específico: vender ou redefinir” (2016, p.2)DECKER, E. 2016. Democratic National Convention, the Final Day: 'When there are no Ceilings, the Sky's the Limit,' Clinton Says. LA Times. 2016. Available at: http://www.latimes.com/nation/politics/trailguide/la-na-democratic-convention-2016-live-21-thoughts-about-the-republican-and-1469767897-htmlstory.html. Access on: 20 Aug. 2019.
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. Por isso, o foco deste estudo será a avaliação social e a eficiência das mensagens políticas do ponto de vista retórico. Ademais, este artigo tem como objetivo analisar o discurso de nomeação de Clinton e Trump para abordar como, devido a uma série cumulativa de padrões semânticos, o público-alvo é posicionado dinamicamente para interpretar a posição ideológica de cada candidato por meio de persuasão empregada para interagir com seus eleitores e definir agendas ideológicas.

Para alcançar os objetivos anteriormente mencionados, este artigo baseia-se nos fundamentos da Linguística Sistêmico-Funcional (doravante LSF) (HALLIDAY, 1994HALLIDAY, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. 2. ed. London: Edward Arnold, 1994.), juntamente com a Análise Crítica do Discurso (daqui em diante, ACD). Além disso, aplico a estrutura teórica e metodológica de Avaliatividade de Martin (2000)MARTIN, J. R. Beyond Exchange: Appraisal Systems in English. Evaluation in Text: Authorial Stance and the Construction of Discourse. Oxford: Oxford University Press, 2000. para demostrar como os recursos interpessoais podem ser estrategicamente implantados no discurso para moldar relações interpessoais (poder e compromisso) e identidades políticas. A partir desse terreno comum, os então candidatos foram capazes de definir suas agendas, estabelecendo suas visões políticas para aquele público e contexto específicos.

A seguir, discutirei a combinação de LSF e ACD para evidenciar a ideologia no texto. Autores dessa tradição (e.g., Fairclough, 1992FAIRCLOUGH, N. Discourse and Text: Linguistic and Intertextual Analysis within Discourse Analysis. Discourse & Society. v.3, n. 2, pp.193-217, 1992.; Fowler, 2013FOWLER, R. Language in the News: Discourse and Ideology in the Press. London: Routledge , 2013.; White, 2006WHITE, P. R. Evaluative Semantics and Ideological Positioning in Journalistic Discourse. In: LASSEN, I.; STRUNCK, J.; VESTERGAARD, T. (ed.). Mediating Ideology in Text and Image: Ten critical studies. Amsterdam: Benjamins, 2006. pp.37-67.) postulam que LSF é uma abordagem teórico-metodológica eficiente para estudar complexos ideológicos em textos, uma vez que considera a linguagem como um fenômeno funcional social.

1 ACD e LSF: uma análise crítica da ideologia

Como parte das práticas políticas em campanhas, os discursos políticos constroem (e são construídos por) ideologias. Van Dijk (2006, p.115) entende ideologias como “definidas sociocognitivamente como representações sociais de grupos sociais e, mais especificamente, como princípios ‘axiomáticos’ de tais representações”5 5 No original: “sociocognitively defined as social representations of social groups, and more specifically, as ‘axiomatic’ principles of such representations”. Adiante, no mesmo parágrafo, “identity, actions, aims, norm and values and resources, as well as its relations to other social groups”. . Mantendo a autoimagem dos grupos sociais, as ideologias organizam sua “identidade, ações, objetivos, normas e valores e recursos, bem como suas relações com outros grupos sociais” (Van DIJK, 2006Van DIJK, T. A. Discourse and manipulation. Discourse & Society , v. 17, n. 3, pp.359-383, 2006., p.115).

Além disso, partindo de uma perspectiva sociocognitiva, “ideologias são definidas como sistemas básicos de cognições sociais fundamentais e organizam as atitudes e outras representações sociais compartilhadas por membros de grupos” (van DIJK, 1995, p.1)6 6 No original: “ideologies are defined as basic systems of fundamental social cognitions and organizing the attitudes and other social representations shared by members of groups”. . Ideologias sociopolíticas ou socioculturais estão entrelaçadas com o discurso (LI, 2010LI, J. Transitivity and Lexical Cohesion: Press Representations of a Political Disaster and its Actors. Journal of Pragmatics , v. 42, n. 12, pp.3444-3458, 2010.; Van DIJK, 2002Van DIJK, T.A. Political Discourse and Ideology. Anàlisi del Discurs político, pp.15-34, 2002.). Uma premissa da ACD é a de que a linguagem implica significados ideológicos enquanto restringe o uso da língua e dos significados envolvidos (FOWLER, 2013FOWLER, R. Language in the News: Discourse and Ideology in the Press. London: Routledge , 2013.).

Para Fuoli (2015)FUOLI, M. 2015. Combining APPRAISAL and CDA in the Analysis of Corporate Discourse. In: 42nd International Systemic Functional Congress, Aachen, Germany, 2015., a ACD baseada na LSF tem tendido a se concentrar na investigação de implicações ideológicas para padrões de discurso. A adoção da LSF é bastante comum pela ACD, a qual é comumente adotada na análise crítica de texto (e.g., Dedaic; Nelson, 2012DEDAIC, M. N.; NELSON, D. N. (ed.). At War with Words. Berlin: Walter de Gruyter, 2012. vol. 10.), enquanto concebida necessária quando a questão da ideologia está em jogo.

Pela LSF de Halliday (1994)HALLIDAY, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. 2. ed. London: Edward Arnold, 1994., a linguagem lida com o mecanismo da estrutura textual, função e significado da língua. Por ela ter uma abordagem pragmática, o autor propõe uma análise linguística em contextos sociais em que é feita uma escolha lexicogramatical específica sob a influência dos contextos sociais e culturais. Para a LSF, a língua está estruturada para construir simultaneamente três tipos de significados (metafunções): ideacionais, interpessoais e textuais. Essa simultaneidade semântica decorre do fato de que a língua é um sistema semiótico, um código convencionado, organizado como um conjunto de opções no nível intermediário de codificação, a chamada lexicogramática (HALLIDAY, 1994HALLIDAY, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. 2. ed. London: Edward Arnold, 1994.).

Muitos estudos (e.g., White, 2006WHITE, P. R. Evaluative Semantics and Ideological Positioning in Journalistic Discourse. In: LASSEN, I.; STRUNCK, J.; VESTERGAARD, T. (ed.). Mediating Ideology in Text and Image: Ten critical studies. Amsterdam: Benjamins, 2006. pp.37-67.; Fairclough, 2003FAIRCLOUGH, N. Analysing Discourse: Textual Analysis for Social Research. East Sussex: Psychology Press, 2003.) aplicam a visão funcionalista das escolhas linguísticas da LSF como índices de significados alinhados às premissas da ACD: ambas são guiadas pela suposição subjacente de que formas e escolhas linguísticas expressam significados ideológicos. A LSF fornece uma ferramenta analítica para o exame sistemático das relações de poder no texto, assim como motivações, propósitos, suposições e interesses dos produtores de textos. Com seu foco na seleção, categorização e ordenação do significado na microestrutura da sentença - e não apenas no nível macro do discurso -, a LSF é particularmente útil para análises sistemáticas de traços linguísticos no nível micro do discurso e visão crítica da organização dos significados num texto.

Em essência, a LSF é um modelo de múltiplas perspectivas, projetado para fornecer aos analistas lentes complementares para interpretar a linguagem em uso. A LSF pode ser associada à ACD para a organização dos significados nas metafunções: (1) textual, relacionada à organização de significados ideacionais e interpessoais; (2) ideacional, relacionada à representação do “estado das coisas” (HALLIDAY, 1994HALLIDAY, M.A.K. An Introduction to Functional Grammar. 2. ed. London: Edward Arnold, 1994.)7 7 No original: “state-of-affairs, em outras palavras, uma situação ou conjunto de circunstâncias”. ; e (3) interpessoal, lidando com a negociação em relações sociais. A respeito deste último, o desenvolvimento de pesquisas de outros sistemas (e.g. envolvimento, evidencialidade, tempo verbal, etc.) tem expandido o papel da metafunção interpessoal e a atenção dedicada à Avaliatividade.

No seio da metafunção interpessoal (LSF), a Avaliatividade é um sistema discursivo semântico que fornece um modelo para investigar a avaliação em textos e seu padrão semântico cumulativo. Desde a pesquisa germinal de Martin (2000)MARTIN, J. R. Beyond Exchange: Appraisal Systems in English. Evaluation in Text: Authorial Stance and the Construction of Discourse. Oxford: Oxford University Press, 2000., estudos têm buscado associá-la à ADC para desvelar nuances ideológicas em discursos políticos (WODAK, 1999WODAK, R. Critical Discourse Analysis at the End of the 20th Century. Research on Language & Social Interaction, v. 32, n. (1-2), pp.185-193, 1999.).

Algumas outras pesquisas e referenciais teóricos também abordaram a ideologia no texto. Por exemplo, o “quadrado ideológico” (ideological square) de Van Dijk (1998; 2002) investiga como as ideologias subjacentes - e atitudes sociais e opiniões pessoais influenciadas por elas - são geralmente polarizadas e podem ser organizadas numa combinação de estratégias discursivas gerais em todos os níveis de análise de discurso de pares opostos, enfatizando (positivamente) e mitigando (negativamente), respectivamente, o grupo interno (“Nós”) versus o grupo externo (“Eles”); também com base na Psicologia Social (TAJFEL, 1978). De forma análoga, De Fina (1995), Fetzer (2014)FETZER, A. ‘Judge us on what we do’: The Strategic Use of Collective We in British Political Discourse. In: PAVLIDOU, T. S. (ed.) Constructing Collectivity: ‘We’ across Language and Contexts. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2014. pp.331-350 e Kranert (2017) tratam dos discursos de grupos internos e externos por meio de escolhas pronominais.

Wodak (1999, p.33)WODAK, R. Critical Discourse Analysis at the End of the 20th Century. Research on Language & Social Interaction, v. 32, n. (1-2), pp.185-193, 1999. trata da polarização discursiva política e fornece algumas noções a respeito: (1) “grupo externo” tido como “inimigo” e definido em termos de diferenças, muitas vezes também ridicularizado ou criminalizado; (2) dicotomia do “bem ou mal” no discurso do “Nós” (grupo interno vs. grupo externo), com base em suposições de caráter e qualidade moral; (3) recorrente autoimagem positiva do grupo interno; (4) tática do “bode expiatório”; e (5) exagero da negatividade nas falas e comportamentos do grupo externo.

Outra onda de estudos recentes do tipo “nós vs. eles” enfoca o florescimento do populismo de direita e de esquerda (e.g., Block; Negrine, 2017BLOCK, E.; NEGRINE, R. The Populist Communication Style: Toward a Critical Framework. International Journal of Communication, v.11, pp.20-27, 2017.). Para Wodak (2015, p.1-2)WODAK, R. The Politics of Fear: What Right-Wing Populist Discourses Mean. London: SAGE Publications Ltd, 2015., o populismo é diferente de outros dispositivos retóricos porque “ele não se relaciona apenas à forma da retórica, mas ao seu conteúdo específico”8 8 No original: “it does not only relate to the form of rhetoric but to its specific contents”. . A autora cunha dois conceitos: (1) a “política do medo” (politics of fear), com base no argumento “nós vs. eles”, e (2) a “arrogância da ignorância” (arrogance of ignorance), fundada em uma atitude atraente de senso comum e “anti-intelectualismo”. Embora esses dois dispositivos retóricos dos discursos populistas sejam regularmente aplicados em contextos políticos, o presente artigo não tem a intenção de descrever o populismo: um tópico amplo em diferentes campos de estudo e controverso na literatura. Todavia, March (2017, p.282)MARCH, L. Left and right populism compared: The British case. The British Journal of Politics and International Relations, v.19, n. 2, pp.282-303, 2017. indica que “ancorar ideologia é mais importante que o populismo em si”9 9 No original: “host ideology is more important than populism per se”. E adiante, “what is often called ‘thin’ or ‘mainstream’ populism’ is not populism but demoticism (closeness to ordinary people)”. , e “o que é frequentemente chamado de populismo ‘fraco’ ou ‘convencional’ não é populismo, mas “demoticismo”10 10 No original: demoticism. (proximidade das pessoas comuns). O autor aconselha os analistas a não “rotularem partidos como ‘populistas’ apenas porque sua retórica é demótica”11 11 No original: “label parties ‘populist’ just because their rhetoric is demotic”. . Nesta linha, como demonstrado adiante na análise, Trump e Clinton aplicam diferentes estratégias persuasivas baseadas em demoticismo e alinhadas com as estratégias da “política do medo” e “arrogância da ignorância”.

Li (2010)LI, J. Transitivity and Lexical Cohesion: Press Representations of a Political Disaster and its Actors. Journal of Pragmatics , v. 42, n. 12, pp.3444-3458, 2010. baseia-se na abordagem de Van Dijk (1995; 1997) para revelar como as práticas sociais estão ligadas aos significados ideológicos nos textos. Uma abordagem semelhante será adotada neste estudo para evidenciar o uso do dispositivo retórico da avaliação social para responder questões como: O discurso político, independentemente de estar disfarçado em expressões “objetivas”, favorece certos valores de atitude? É verdade que o recurso persuasivo em análise, associado à cultura subjacente, pode levar à preferência de certos conjuntos de valores de atitude? Os mesmos parâmetros discursivos se aplicam a todos os contextos culturais, levando em consideração o enquadre de classe dos eleitores? Antes de investigar o corpus e abordar tais questões, as próximas duas seções discutirão a Avaliatividade e sua grande aplicabilidade como sistema de análise do discurso político.

2 Avaliatividade: um modelo funcional de análise linguística

A Avaliatividade foi elaborada por Martin (2000)MARTIN, J. R. Beyond Exchange: Appraisal Systems in English. Evaluation in Text: Authorial Stance and the Construction of Discourse. Oxford: Oxford University Press, 2000. e desenvolvida por colaboradores como Christie e Martin (2005)CHRISTIE, F.; MARTIN, J. R. Genre and Institutions: Social Processes in the Workplace and School. London: A&C Black, 2005., Scherer, Schorr e Johnstone (2001)SCHERER, K. R.; SCHORR, A.; JOHNSTONE, T. (ed.). Appraisal Processes in Emotion: Theory, Methods, Research. Oxford: Oxford University Press , 2001., Macken-Horarik (2003)MACKEN-HORARIK, M. Appraisal and the special instructiveness of narrative. Text-The Hague then Amsterdam then Berlin , v. 23, n. 2, pp.285-312, 2003., entre outros. Segundo Martin (2000, p.145)MARTIN, J. R. Beyond Exchange: Appraisal Systems in English. Evaluation in Text: Authorial Stance and the Construction of Discourse. Oxford: Oxford University Press, 2000., “a Avaliatividade lida com os recursos semânticos usados para negociar emoções, julgamentos e apreciações. São recursos usados para expandir e comprometer-se com essas avaliações”12 12 No original: “appraisal deals with the semantic resources used to negotiate emotions, judgements and appreciations. They are resources used to expand and commit to these evaluations”. , sendo o termo cunhado para denominar todos os usos avaliativos da linguagem, incluindo aqueles em que falantes/escritores adotam visões ou posições ideológicas particulares.

Martin e White (2005, p.61)MARTIN, J. R.; WHITE, P. R. The Language of Evaluation: Appraisal in English. Basingstoke; New York: Palgrave Macmillan, 2005. concebem a realização como a ideia de que a linguagem é um sistema semiótico estratificado que envolve ciclos de codificação em diferentes níveis de abstração. Além da fonologia e da lexicogramática, a abstração é um nível de codificação, acrescenta Martin (2005)MARTIN, J. R.; WHITE, P. R. The Language of Evaluation: Appraisal in English. Basingstoke; New York: Palgrave Macmillan, 2005., para se referir à semântica do discurso. A abstração enfatiza o fato de que ela está relacionada ao significado além da oração (com texto, cotexto e contexto). Este nível se preocupa com vários aspectos da organização do discurso, incluindo a questão de como pessoas, coisas e lugares são introduzidos no texto e, uma vez lá (identificação), controlados; como eventos e estados de coisas estão ligados entre si em termos de tempo, causa, contraste e semelhança; como os participantes são relacionados como parte do todo e subclasses de classes (ideação); como os turnos são organizadas em trocas de bens, serviços e informações (negociação); e como a avaliação é estabelecida, ampliada, direcionada e obtida (avaliatividade). Os pressupostos de Martin estão localizados na semântica do discurso porque lidam com diferentes níveis de abstração além da lexicogramática, decodificando significados no fluxo discursivo em uma ampla variedade de sistemas. A realização de uma atitude tende a emergir de uma fase do discurso mais proeminente, independentemente de suas fronteiras gramaticais. Portanto, o discurso semântico “não pode ser visto simplesmente como uma lista de laços coesos que relacionam uma unidade gramatical a outra, mas como um nível adicional de estrutura em si própria” (MARTIN, 2014MARTIN, J.R. Evolving Systemic Functional Linguistics: Beyond the Clause. Functional Linguistics, v. 1, n. 3, pp.1-24, 2014., p.9)13 13 No original: “cannot be seen simply as a list of cohesive ties relating one grammatical unit to another, but as a further level of structure in its own right”. , expressando a necessidade de sair da lexicogramática para generalizar o significado avaliativo comum a esse tipo de dispersão.

Conforme Martin (2000)MARTIN, J. R. Beyond Exchange: Appraisal Systems in English. Evaluation in Text: Authorial Stance and the Construction of Discourse. Oxford: Oxford University Press, 2000., a Avaliação pode ser localizada como um sistema interpessoal no nível da semântica do discurso, onde ela “co-articula” o significado interpessoal em três subsistemas para o posicionamento atitudinal: atitude, engajamento e gradação, todos os quais lidam com significados interpessoais avaliativos de participantes, processos e circunstâncias (elementos centrais na representação da experiência). A atitude refere-se a avaliações de valores emocionais / afetivos de interactantes e, por sua vez, é dividida em subsistemas de afeto, julgamento e apreciação. Martin (2000, p.173) define-os da seguinte maneira: (1) o afeto analisa emoções canonicamente no quadro gramatical; (2) o julgamento analisa atitudes sobre personagens para sancionar ou censurar comportamentos canonicamente na estrutura gramatical; e (3) a apreciação analisa atitudes sobre textos, performances e fenômenos naturais (i.e. coisas).

Além disso, a atitude (da Avaliatividade) “revela a expressão das emoções pelo afeto e suas ‘institucionalizações’” (MARTIN, 2000MARTIN, J. R. Beyond Exchange: Appraisal Systems in English. Evaluation in Text: Authorial Stance and the Construction of Discourse. Oxford: Oxford University Press, 2000., p.147)14 14 No original: “reveals the expression of emotions by affection and its ‘institutionalizations’”. Adiante, no mesmo parágrafo, “judgement is affection to control behavior (what we should or should not do) and appreciation is affection recontextualized to administer ‘tastes’ (which things are worse or better)”. , id est, “julgamento é afeto para controlar o comportamento (o que devemos ou não fazer) e a apreciação é afeto recontextualizado para administrar ‘gostos’ (que as coisas são piores ou melhores)” (MARTIN, 2000MARTIN, J. R. Beyond Exchange: Appraisal Systems in English. Evaluation in Text: Authorial Stance and the Construction of Discourse. Oxford: Oxford University Press, 2000., p.62). Valores éticos e morais (regras e regulações) são alcançados pelo julgamento, enquanto valores estéticos (critério e cota) são alcançados pela apreciação. Os outros dois subtipos de Avaliatividade, engajamento e graduação, organizam força e foco de enunciados e a noção de intersubjetividade pelo uso de marcadores epistêmicos (HYLAND, 1998HYLAND, K. Persuasion and Context: The Pragmatics of Academic Metadiscourse. Journal of Pragmatics, v. 30, n. 4, pp.437-455, 1998.) para interpretar um posicionamento epistêmico, evidencialidade, intensidade e outras combinações. Neste artigo, focalizarei os subsistemas de atitude, uma vez que fornecem dados mais substanciais para provar o argumento ora proposto.

Por fim, além de atitude positiva ou negativa, dois tipos básicos de Avaliatividade podem ocorrer combinados ou separadamente: (1) inscritos - explícitos por meio de sintaxe e léxico avaliativos (epítetos, atributos relacionais ou adjuntos de comentários); e (2) evocados - implícitos por meio de enriquecimento lexical, como, por exemplo, na linguagem figurada (MARTIN, 2000MARTIN, J. R. Beyond Exchange: Appraisal Systems in English. Evaluation in Text: Authorial Stance and the Construction of Discourse. Oxford: Oxford University Press, 2000.).

Nos discursos políticos, a Avaliatividade aprimora o metadiscurso (HYLAND, 2018HYLAND, K. Metadiscourse: Exploring Interaction in Writing. London: Bloomsbury, 2018.) - não concebido aqui como o “discurso sobre o discurso”, mas como uma noção que incorpora a ideia de que a comunicação é mais do que apenas a troca de informações, bens ou serviços, pois “envolve as personalidades, atitudes e premissas daqueles que estão se comunicando” (HYLAND, 2018HYLAND, K. Metadiscourse: Exploring Interaction in Writing. London: Bloomsbury, 2018., p.3)15 15 No original: “involves the personalities, attitudes and assumptions of those who are communicating”. . O metadiscurso concentra-se em como “os recursos interativos e textuais são usados para criar e manter relações com os leitores” (AGUILAR, 2008AGUILAR, M. Metadiscourse in Academic Speech: A Relevance-Theoretic Approach. Bern: Peter Lang, 2008., p.87)16 16 No original: “both interactive and textual resources are used to create and maintain relations with readers”. , de uma maneira “na qual contexto e significado linguístico são integrados para permitir que os leitores derivem interpretações pretendidas” (HYLAND, 2018HYLAND, K. Metadiscourse: Exploring Interaction in Writing. London: Bloomsbury, 2018., p.437)17 17 No original: “in which context and linguistic meaning are integrated to allow readers to derive intended interpretations”. .

De acordo com Aguilar (2008)AGUILAR, M. Metadiscourse in Academic Speech: A Relevance-Theoretic Approach. Bern: Peter Lang, 2008., em seu extenso estudo sobre metadiscurso, todos os avanços centrados na interpessoalidade18 18 No original: “‘all-interpersonal’ developments”. feitos pelos funcionalistas são uma das contribuições mais importantes para as teorias do metadiscurso até o momento. Essa tradição entrelaça o metadiscurso interativo (que guia o leitor pelo texto com transições, enquadres e marcadores endofóricos, etc.) com o metadiscurso interacional (que envolve o leitor no texto com modalizadores, enfatizadores, marcadores de atitude etc.). A Avaliatividade é, portanto, um vetor importante do metadiscurso.

3 Atitude: a avaliação social como instanciação da apreciação

As avaliações se propagam ou se ramificam ao longo de um texto, o que leva à suposição de que a avaliação flui através de cadeias de referência coesas (LEMKE, 1998LEMKE, J. Multiplying Meaning. Reading Science: Critical and Functional Perspectives on Discourses of Science, pp.87-113, 1998.). Às vezes, tais cadeias podem ser longas o suficiente para implicar significados sutis ao longo do texto todo, algo que é particularmente frequente em discursos políticos (COFFIN, 2002COFFIN, C. The Voices of History: Theorizing the Interpersponal Semantics of historical discourses. Text-The Hague then Amsterdam then Berlin-, 22(4), pp.503-528, 2002.).

Coffin e O’Halloran (2005, p.148)COFFIN, C.; O'HALLORAN, K. Finding the Global Groove: Theorising and Analysing Dynamic Reader Positioning Using APPRAISAL, Corpus and a Concordancer. Critical Discourse Studies, v. 2, n. 2, pp.143-163, 2005. tinham um interesse particular nessas “propagações coesivas de maior alcance” (cf. LEMKE, 1998LEMKE, J. Multiplying Meaning. Reading Science: Critical and Functional Perspectives on Discourses of Science, pp.87-113, 1998., p.53)19 19 No original: “longer range cohesive propagations”. . Segundo os autores, há críticas contínuas a analistas que abordam inclinações ideológicas de textos com base em partes de texto como prova, deixando de considerar a modificação textual (cf. WIDDOWSON, 2008WIDDOWSON, H. G. Text, Context, Pretext: Critical Issues in Discourse Analysis. New Jersey: John Wiley & Sons, 2008. v. 12.; O’HALLORAN, 2003O'HALLORAN, K. Critical Discourse Analysis and Language Cognition. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2003.). Portanto, estudos sobre a Avaliatividade têm enfatizado que padrões de avaliação em partes de textos servem para construir uma posição avaliativa específica ao longo de um texto (COFFIN, 2002COFFIN, C. The Voices of History: Theorizing the Interpersponal Semantics of historical discourses. Text-The Hague then Amsterdam then Berlin-, 22(4), pp.503-528, 2002.; COFFIN; O'HALLORAN, 2005COFFIN, C.; O'HALLORAN, K. Finding the Global Groove: Theorising and Analysing Dynamic Reader Positioning Using APPRAISAL, Corpus and a Concordancer. Critical Discourse Studies, v. 2, n. 2, pp.143-163, 2005.; MACKEN-HORARIK, 2003MACKEN-HORARIK, M. Appraisal and the special instructiveness of narrative. Text-The Hague then Amsterdam then Berlin , v. 23, n. 2, pp.285-312, 2003.; MARTIN; ROSE, 2003MARTIN, J. R.; ROSE, D. Working with Discourse: Meaning beyond the Clause. London: Bloomsbury Publishing, 2003.; DE OLIVEIRA, 2017DE OLIVEIRA, U. Ideology in Text: The Fenhedor Persona in Galician-Portuguese Love Songs of King D. Dinis. WORD, v. 63, n. 4, pp.258-274, 2017.). Coffin e O’Halloran (2005, p.149) indicaram que as avaliações indiretas (evocadas) são muito comuns em textos políticos, e exemplificam20 20 No original: “Consider the following sentence: ‘TWO million jobs will be lost if Tony Blair signs the new EU treaty, it was feared last night.’. There is no direct Judgement on Blair’s personality here […]. However, this sentence, we would argue, functions as an indirect Judgement, since it is likely to prompt many readers to judge Blair’s action as morally irresponsible.” :

Considere a seguinte frase: ‘DOIS milhões de empregos serão perdidos se Tony Blair assinar o novo tratado da UE, isso foi temido ontem à noite.’. Aqui, não há um Julgamento direto sobre a personalidade de Blair [...]. Contudo, argumentaríamos que essa sentença funciona como um Julgamento indireto, uma vez que é provável que leve muitos leitores a julgar a ação de Blair como moralmente irresponsável.

Avaliações indiretas podem apenas ser recuperadas a partir de significados contextuais no fluxo discursivo, o que impõe um ponto de vista para sua classificação e as tornam limítrofes. Martin (2000, p.58-62)MARTIN, J. R. Beyond Exchange: Appraisal Systems in English. Evaluation in Text: Authorial Stance and the Construction of Discourse. Oxford: Oxford University Press, 2000. e Martin e White (2005) discutiram avaliações limítrofes, mas não alcançaram perspectivas sobre as áreas cinzentas entre afeto, julgamento e apreciação21 21 “Similarmente, valorações positivas e negativas de algo implicam julgamentos positivos e negativos da capacidade de alguém criar ou executar. Todavia, consideramos útil distinguir entre julgamentos de comportamento e avaliações de coisas” (MARTIN; WHITE, 2005, p.27). No original: “Similarly, positive and negative valuations of something imply positive and negative judgements of the capacity of someone to create or perform. But we consider it useful to distinguish between judgements of behavior and evaluations of things”. . Uma dessas áreas cinzentas é a avaliação social, concebida na fronteira entre julgamento e apreciação, por se referir (positiva ou negativamente) a produtos, atividades, processos ou fenômenos sociais (COFFIN; O’HALLORAN, 2005COFFIN, C.; O'HALLORAN, K. Finding the Global Groove: Theorising and Analysing Dynamic Reader Positioning Using APPRAISAL, Corpus and a Concordancer. Critical Discourse Studies, v. 2, n. 2, pp.143-163, 2005.).

Como exemplo de avaliação social, apresento o excerto a seguir, extraído de um artigo publicado no jornal ‘The Guardian’ (2017), no qual Joffe trata da ascensão de partidos de direita na Europa. A posição que assume fica bem evidente pelo título do artigo: “A direita está subindo e a social-democracia está morrendo na Europa - mas por quê?” O autor usa a avaliação social para disfarçar o julgamento como apreciação, de modo a graduar a avaliação.

O denominador comum é o ressentimento e o protesto. Então, pense em Marine Le Pen e sua Frente Nacional, Geert Wilders e seu partido da Liberdade (PVV), Ukip, Donald Trump e, claro, Hungria e Polônia, onde populistas autoritários estão governando. [...] Então olhe mais longe. À primeira vista, a Grã-Bretanha se destaca como a grande exceção, porque o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn quase venceu os Conservadores nas eleições de junho. Sem dúvida, o veredicto foi mais anti-May do que pró-Trabalhistas.22 22 Do original: “The common denominator is resentment and protest. So, think Marine Le Pen and her Front National, Geert Wilders and his Freedom party (PVV), Ukip, Donald Trump, and of course Hungary and Poland where authoritarian populists are running the governments. […] Then look farther afield. At first sight, Britain sticks out as the great exception because Jeremy Corbyn’s Labour almost edged out the Tories in the June election. Arguably, the verdict was more anti-May than pro-Labour.”

Ao adotar o modelo tradicional de análise de Martin, ambas as expressões em azul são apenas avaliações de apreciação, pois avaliam “coisas”23 23 Em “a Grã-Bretanha se destaca como a grande exceção”, “grande” gradua a apreciação em grau de força. . No entanto, os leitores podem alcançar e individualizar as pessoas (políticos), que são o principal alvo das críticas do autor. Daí, avaliação social parece ser a melhor classificação nos dois casos. Recuperadas do fluxo discursivo, as duas escolhas lexicais em itálico grupam ou institucionalizam pessoas para realizar uma avaliação abrangente de políticos e países; por isso, a avaliação social é um dispositivo de persuasão que também propicia tensão entre o domínio ideacional e o interpessoal na interpretação de categorias, ou seja, a apreciação incorpora o julgamento como fato na perspectiva de grupos sociais (e.g. “as casas são em Manhattan”).

Joffe concebe “populistas” como “autoritários”, agrupando Marine Le Pen, Geert Wilders, Ukip e Donald Trump com seus respectivos partidos. A partir daí, quando afirma que a Grã-Bretanha é uma “grande exceção” - também uma avaliação de apreciação (cf. modelo de MARTIN) -, o autor julga as pessoas “no comando” de maneira positiva. Com esse intento, a avaliação social é aplicada como um recurso poderoso nos discursos políticos para condensar significados na mente dos leitores, construindo associações implícitas que dificilmente seriam validadas em avaliações do tipo julgamento.

Avaliações sociais elucidam silogismo - um tipo de argumento lógico que aplica raciocínio dedutivo para chegar a uma conclusão com base em duas ou mais proposições que são alegadas ou consideradas verdadeiras - como no exemplo: (1) Marine Le Pen, Geert Wilders, Ukip e Donald Trump são populistas; (2) Os populistas são autoritários; 3) Marine Le Pen, Geert Wilders, Ukip e Donald Trump são autoritários. Esse tipo de raciocínio dedutivo combina apreciação e julgamento para criar avaliação social: um subsistema24 24 Veja Martin e White (2005) para entender como as avaliações de Atitude podem ser subcategorizadas. da apreciação que associa pessoas, mentalidades, partidos, ideologias como a mesma “coisa”.

4 Metodologia

Como dito anteriormente, o corpus do presente estudo é composto por dois discursos, um de Donald Trump e outro de Hillary Clinton. Ambos os discursos são particularmente relevantes, pois foram realizados durante suas respectivas nomeações como candidatos à presidência na época (RNC em 18 - 21 de julho de 2016 e DNC em 25 - 28 de julho de 2016).

Em se tratando dos procedimentos de análise adotados, os discursos de nomeação dos candidatos foram subdivididos em três seções, representando o primeiro, segundo e terceiro momentos iniciais dos discursos dos candidatos (três partes de 500 palavras a partir do início - Seções 1, 2 e 3) . Essa divisão é justificada pela intenção de analisar como os candidatos estabeleceram sua estratégia retórica e o tom de seus discursos desde o princípio. Em seguida, mapeei as estratégias persuasivas que cada candidato aplicou em cada uma das seções do discurso com base na Avaliatividade e com foco na avaliação social. As avaliações foram divididas em categorias: Afeto, Julgamento, Apreciação e Apreciação - Avaliação Social.

Na parte quantitativa da pesquisa, um gráfico do tipo radar foi criado a partir das ocorrências de avaliações em cada discurso (divididos nas três seções acima mencionadas). O gráfico de radar (também conhecido como gráfico de teia, gráfico de aranha ou gráfico de estrela) é um método visual de exibição de dados multivariados na forma de um gráfico bidimensional de três ou mais variáveis quantitativas representadas em eixos a partir do mesmo ponto. Para Kaczynski et al. (2008)KACZYNSKI, D.; WOOD, L.; HARDING, A. Using Radar Charts with Qualitative Evaluation: Techniques to Assess Change in Blended Learning. Active Learning in Higher Education, v. 9, n. 1, pp.23-41, 2008., gráficos de radar são primariamente adequados para mostrar “destaques” e “comunalidades” de forma atraente, ou quando um gráfico é maior em todas as variáveis do que outro, e usado para medições ordinais, pelo que forneceu uma representação visual de quanto cada candidato aplicou avaliações positivas e negativas, bem como sua proporção e distribuição no primeiro segmento dos discursos de nomeação.

Na parte qualitativa da pesquisa, concentrei-me nas avaliações como dispositivos retóricos de persuasão, com o objetivo de preservar e mudar as atitudes ou comportamentos dos eleitores em relação às ideias relevantes das agendas políticas. A análise demonstra como cada candidato investiu em certos valores de atitude e abordagens para retratar suas visões ideológicas. Eles adotaram estratégias diferentes na distribuição de avaliações na abertura de seus discursos, associando-as com persuasão baseada nas noções de grupo interno (“Nós”) versus grupo externo (“Eles”). Nas próximas seções, demonstro como a avaliação social foi eficaz na última corrida presidencial nos EUA (2016).

5 Hillary Clinton: um discurso de positividade

A própria Hillary Clinton afirma em seu livro (CLINTON, 2017CLINTON, H. R. What Happened. New York: Simon and Schuster, 2017.) que o lema de sua campanha, “Mais fortes juntos” (Stronger together), traz muitas informações sobre a imagem que ela queria construir de si mesma. Em certo sentido, resume a complexa atividade ideológica que os profissionais de marketing queriam associar à candidata democrata (nas palavras dela, no Anexo A Anexo A "Stronger together"motto: "We had settled on Stronger Together as our theme for the general election after a lot of thought and discussion. [...]. My team in Brooklyn had started with three basic contrasts we wanted to draw with Trump. He was risky and unqualified, but I was steady and ready to deliver results on Day One. He was a fraud who was in it only for himself, but I was in it for children and families and would make our economy work for everyone, not just those at the top. He was divisive, while I would work to bring the country together. The challenge was to find a way to marry all three together in a memorable slogan that reflected my values and record. Stronger Together did that better than anything else we could think of." (CLINTON, 2017, p.23). ). Como resultado dessa atitude, a análise da fala de Clinton no DNC revelou um discurso propositada e excessivamente positivo, investindo bastante em autoavaliação positiva emulada, principalmente, por avaliações do tipo avaliação social.

O Gráfico 1 (e 2 próxima seção, para Trump), no Anexo B Anexo B Chart 1 Mapa da avaliatividade na fala de Clinton , representa como a avaliação foi mapeada no discurso de Clinton. Para a leitura dos gráficos, os discursos foram divididos em três partes de 500 palavras desde seu início - Seções 1, 2 e 3. Os círculos de fundo foram subdivididos em três seções, representando o primeiro, segundo e terceiro momentos iniciais dos discursos dos candidatos, e em tipos de avaliações (Afeto, Julgamento, Apreciação, Apreciação - Avaliação Social). O tamanho das manchas azul e vermelha representam, respectivamente, a proporção de uso de avaliações positivas e negativas, enquanto as pontas das manchas apontam para os tipos de avaliação. A proporção é baseada em ocorrências de avaliações em números; por exemplo, a mancha mais ampla no Gráfico 1 (Seção 3 - Apr. - Avaliação Social) representa o uso de 29 avaliações desse tipo na Seção 3.

Com relação às particularidades das avaliações de Clinton (Gráfico 1 - Anexo B Anexo B Chart 1 Mapa da avaliatividade na fala de Clinton ), a candidata começa a avaliar mais constantemente nas Seções 2 e 3. A área azul no Gráfico 1 ilustra um posicionamento altamente positivo (tom), geralmente realizado por avaliações sociais em todas Seções. Na Seção 1, por exemplo, Clinton oferece uma orientação sobre qual será sua estratégia discursiva25 25 Em vermelho = JULGAMENTO; em azul = AFETO; em verde = APRECIAÇÃO; +pos = positiva. No trecho, “homem de Esperança” trad. de “man from Hope” e “homem da Esperança” trad. de “man of Hope”. :

Que semana marcante tem sido. Ouvimos o homem de Esperança (+pos), Bill Clinton. E o homem da Esperança (+pos), Barack Obama. A América é mais forte (+pos) por causa da liderança do Presidente Obama (+pos), e eu sou melhor (+pos) por causa da amizade dele (+pos).

Que semana marcante tem sido. Ouvimos o homem de Esperança (+pos), Bill Clinton. E o homem da Esperança (+pos), Barack Obama. A América é mais forte (+pos) por causa da liderança do Presidente Obama (+pos), e eu sou melhor (+pos) por causa da amizade dele (+pos).

No trecho, a estratégia discursiva e abordagem ideológica de Clinton investe no equilíbrio entre julgamento e apreciação positivos para convencer. Seu raciocínio: Bill Clinton é alguém que personaliza os valores dos Democratas (“o homem de esperança” - julgamento positivo). Barack Obama sucede a Bill Clinton e também personaliza tais valores (“homem da esperança” - julgamento positivo). Em consequência, “a América é mais forte” (apreciação positiva), resultado de Clinton + Obama. Então, Hillary emprega afeto positivo para falar de si mesma enquanto modaliza a fala ao dar crédito a Obama e Bill Clinton. A estratégia persuasiva de Clinton enfatiza a emoção num esforço de se apresentar como pessoa humilde. Ainda, uma representação de seu discurso, em termos de afeto, revela uma posição altamente positiva, principalmente a respeito dos membros do partido Democrata (Tabela 1).

Tabela 1
Afeto positivo na Seção 1 (Clinton)

Além disso, há apenas mais duas ocorrências de afeto na Seção 3: positivamente para si mesma (“acredito nisso com todo o meu coração”) e negativamente para Trump (“onde o amor supera o ódio27 27 N. do T. Efeito de sentido criado pela ambiguidade do verbo “to trump” e o nome do candidato Republicano. ). Esse posicionamento emocional de Clinton em relação aos membros do partido é, como veremos na análise do discurso de Trump, drasticamente diferente para o candidato Republicano, que não investe no afeto como um recurso persuasivo.

As avaliações de julgamento reforçam o mesmo tom de Clinton. Por exemplo, na Seção 1, ela avalia positivamente Bill Clinton (1), Obama (1), Joe Biden (1), Michele Obama (1), Bernie Sanders (1) e Tim Kaine (3). A Democrata prefere utilizar avaliação evocada para construir um julgamento positivo por meio de enriquecimento lexical, como no seguinte exemplo (1), em itálico: (1) “Tim Kaine - você logo entenderá por que o povo da Virgínia continua te promovendo: da câmara municipal e prefeito, a governador e agora senador. E ele deixará todo seu país orgulhoso como nosso vice-presidente”28 28 Original: “Tim Kaine - you're soon going to understand why the people of Virginia keep promoting him: from city council and mayor, to Governor, and now Senator. And he'll make our whole country proud as our Vice President”. .

Nas seções 2 e 3, Clinton estabelece uma espécie de “disputa de caráter” contra Trump. Há nove (9) julgamentos positivos para si mesma e treze (13) julgamentos negativos direcionados ao republicano. Embora um claro posicionamento crítico seja assumido por Clinton, esse quadro poderia ser bem mais negativo, tal como é a estratégia de Trump (próxima seção). O exemplo dois (2) nos dá uma ideia de como a Democrata estabeleceu esse debate: (2) “Às vezes, as pessoas neste pódio são novas no cenário nacional (julgamento negativo a Trump). Eu não sou uma dessas pessoas (julgamento positivo a si mesma)”29 29 “Sometimes the people at this podium are new to the national stage. I'm not one of those people.” .

Quanto à apreciação, Clinton é novamente positiva. DNC (1), América (1), Partido Democrata (3) e Estado de Nova York (1) são todos avaliados positivamente.

De todos os tipos de avaliações, as avaliações sociais foram provavelmente as mais emblemáticas para os dois candidatos. Clinton empregou-as para caracterizar sua persona de candidata com base em valores socialmente compartilhados entre os Democratas. Ambos os candidatos tentam criar ethé sociais nutridos por conjuntos de ideias estabelecidas, que estão cristalizadas o suficiente para serem avaliadas como “coisas” (apreciação). Por outro lado, o alvo primário (ocasionalmente secundário) de suas críticas continua sendo o “outro” candidato (julgamento). Por motivos como esses, Coffin e O’Halloran (2005)COFFIN, C.; O'HALLORAN, K. Finding the Global Groove: Theorising and Analysing Dynamic Reader Positioning Using APPRAISAL, Corpus and a Concordancer. Critical Discourse Studies, v. 2, n. 2, pp.143-163, 2005. consideram esse tipo de avaliação na fronteira do modelo inicial de Martin. O exemplo três (3) traz uma das muitas avaliações sociais feitas por Clinton (itálico - avaliação evocada): (3) “Portanto, não deixe ninguém lhe dizer que nosso país é fraco. Não somos30 30 No original: “So don't let anyone tell you that our country is weak. We're not.” .

Para esclarecer essa interpretação, nomeei “Nós-Americanos” (grupo interno) e “Eles-Americanos” (grupo externo) como as duas ilhas (ou blocos) ideológicos em que os candidatos tentaram se inserir ou rejeitar (cf. van DIJK, 2002). No exemplo 3, Clinton usa “qualquer pessoa” (exclusivo) e “nós” (inclusivo) para afastar os grupos sociais. Essas “ilhas sociais” compartilham valores, crenças e um conjunto bem estabelecido de ideias que Clinton e seu público-alvo rejeita (qualquer um = Republicanos) e alinha-se a (nós = Democratas). Portanto, a percepção de grupo interno e externo de cada candidato é diferente: para Clinton, o interno (inclusivo) é Nós-Americanos = Nós-Democratas, enquanto o grupo externo (exclusivo) é Eles-Americanos = Eles-Republicanos. Já o grupo interno (inclusivo) de Trump é Nós-Americanos = Nós-Republicanos e o grupo externo (exclusivo) é Eles-Americanos = Eles-Democratas.

A avaliação social tornou-se mais frequente e condensada (no fluxo discursivo) à medida que o discurso de Clinton prosseguia. Por exemplo, Clinton, na Seção 3, constrói uma faixa mais ampla de propagação coesa. (excerto do Anexo C Anexo C Excerto do discurso DNC de Clinton: Don't let anyone tell you we don't have what it takes. We do. And most of all, don't believe anyone who says: I alone can fix it. Those were actually Donald Trump's words in Cleveland. And they should set off alarm bells for all of us. Really? I alone can fix it? Isn't he forgetting? Troops on the front lines. Police officers and fire fighters who run toward danger. Doctors and nurses who care for us. Teachers who change lives. Entrepreneurs who see possibilities in every problem. Mothers who lost children to violence and are building a movement to keep other kids safe. He's forgetting every last one of us. Americans don't say: I alone can fix it. We say: We'll fix it together. Remember: Our Founders fought a revolution and wrote a Constitution so America would never be a nation where one person had all the power. ). Este trecho, na Tabela 3, revela como a avaliação social (em itálico) é direcionada a Democratas e Republicanos, respectivamente, avaliação social positiva e negativa em todo o fluxo discursivo (1 a 5). É importante notar que Clinton se refere ao grupo interno como incorporado na avaliação social, ou seja, ela está associando os Americanos a valores e crenças Democratas: “Nós-Americanos” é igual a “Nós-democratas” (grupo interno), por assim dizer.

Tabela 2
Avaliação social no discurso de Clinton
(temas ideológicos de unidade e dissensão de Americanos)
Tabela 3
Exemplos de tipos de estratégias persuasivas nos discursos dos candidatos

Neste exemplo, ao interligar avaliações de afeto, julgamento e apreciação, Clinton aplica a avaliação social para criar uma avaliação ecoica de “nós” versus “eles”, a qual é erguida nas categorias ideológicas assumidas e projetadas (construídas hipoteticamente) dos Americanos: aqueles que são melhores, o grupo interno (Nós-Americanos = Nós-Democratas) e os piores, o grupo externo (Eles-Americanos = Eles-Republicanos). Esse tipo de avaliação estabelece um metadiscurso e leva o público a dividir os grupos sociais. Itens lexicais como “tropas”, “bombeiros” e “policiais” são aparentemente neutros, mas trazem um significado interpessoal cumulativo implícito; por exemplo, “médicos e enfermeiros que cuidam de nós” (= médicos e enfermeiros Democratas) se opõem a “uma nação onde uma pessoa tenha todo o poder” (= a nação dos Republicanos, o grupo externo rejeitado). Portanto, avaliação social parece a melhor classificação para essas avaliações (e não apenas apreciação - “nação”), uma vez que significados implícitos de nação (coisa), Republicanos (grupo social) e Trump (indivíduo) colocam todos alinhados e agrupados como alvo. Os alvos primários e secundários podem variar de acordo com o critério de cada pessoa, de acordo com seu ponto de vista, contexto e base ideológica.

Assim sendo, nesse caso, avaliações de afeto (e.g. “mães que perderam filhos para a violência”) e julgamento (e.g. “os Americanos não dizem: “só eu posso consertar isso”) complementam significados implícitos para discutir o tema ideológico maior de “unidade e dissensão” entre Americanos (Republicanos vs. Democratas), e outros co-relacionados32 32 Clinton discutiu temas variados em seu discurso, a saber, plataforma política, fundação e história do país, unidade e dissensão, perigos mundiais, Economia, Imigração, Religião, Terrorismo, Educação e Família. .

Por fim, como o traço mais proeminente na estratégia persuasiva de Clinton (cf. quadrado ideológico de van DIJK), ela é excessivamente positiva na discussão de temas ideológicos. Clinton opta por enfatizar mais o grupo interno com avaliações positivas (9 na Seção 1, 34 na Seção 2, 29 na Seção 3), em vez de diminuir o grupo externo com avaliações negativas (1 na Seção 1, 4 na Seção 2, 4 na Seção 3).

6 Donald Trump: um discurso de negatividade

O lema da campanha de Trump “Faça a América Grande Novamente” (Make America Great Again) implica a ideia de que a América não é grande “agora”. Esse raciocínio ancora a estratégia discursiva do Republicano; portanto, contrariamente ao discurso de positividade de Clinton, o discurso de Trump investe mais em avaliações negativas do tipo avaliações sociais. Como pode ser visto no Gráfico 2, no Anexo E Anexo D Chart 2 Mapa da avaliatividade na fala de Trump , Trump avalia mais do que a Democrata (área colorida representando 154 avaliações, contra 136 de Clinton), sendo altamente negativo nas avaliações sociais (mancha vermelha: 91 avaliações negativas, contra 23 de Clinton). Em sua estratégia ao longo do discurso, Trump opta por se concentrar na suposta reviravolta causada pela ascensão dos Democratas à Casa Branca.

O Diagrama 1, do trecho do Anexo E Annex E Excerto do discurso RNC de Trump: Let's review the record. In 2009, pre-Hillary, ISIS was not even on the map. Libya was cooperating. Egypt was peaceful. Iraq was seeing a reduction in violence. Iran was being choked by sanctions. Syria was under control. After four years of Hillary Clinton, what do we have? ISIS has spread across the region, and the world. Libya is in ruins, and our Ambassador and his staff were left helpless to die at the hands of savage killers. Egypt was turned over to the radical Muslim brotherhood, forcing the military to retake control. Iraq is in chaos. Iran is on the path to nuclear weapons. Syria is engulfed in a civil war and a refugee crisis that now threatens the West. After fifteen years of wars in the Middle East, after trillions of dollars spent and thousands of lives lost, the situation is worse than it has ever been before. This is the legacy of Hillary Clinton: death, destruction and weakness. (Seção 3 do discurso), ilustra como Trump emprega uma estratégia discursiva recorrente: a avaliação positiva do tempo e pessoas “pré-Hillary” associada à avaliação negativa “Após quatro anos de Hillary Clinton”. As setas indicam o fluxo discursivo ao longo da leitura no Diagrama 1. No trecho:

Diagrama 1
Estratégia discursiva de Trump

  • - a apreciação positiva é azul (grupo interno);

  • - a apreciação negativa está em vermelho (grupo externo); então,

  • - Trump fornece uma sanção como resultado deste processo: o “legado de Hillary Clinton”.

A estratégia de Trump de usar a apreciação no lugar de afeto ou julgamento fortaleceu suas críticas por construir uma validação do “estado de coisas” para seu argumento. Apesar da responsabilidade discutível de Clinton para aquela situação, a avaliação negativa à candidata Democrata se acumula na forma de julgamentos evocados: Clinton só pode ser estabelecida como alvo por meio de enriquecimento lexical no fluxo discursivo. Um levantamento do discurso de Trump em termos de afeto, julgamento e apreciação revela resultados semelhantes, implicando que ele é excessivamente negativo, preferindo enfatizar mais o grupo externo (Eles-Americanos = Eles-Democratas) com avaliações negativas (cf. van DIJK [1998 ] quadrado ideológico), como analiso a seguir em detalhes.

Afeto é pouco usado por Trump. As três únicas ocorrências em todas as seções incluem duas relacionadas a Sarah Root, uma garota que havia sido recentemente assassinada (“… uma jovem inocente”; “sua filha incrível”). Distintamente do que fez Clinton, que usou 15 avaliações de afeto, as declarações iniciais de Trump se afastam do apelo emocional.

Com respeito ao julgamento, em todas as seções, Trump é mais evidente do que Clinton para estabelecer a anteriormente referida “batalha de caráter”. As avaliações de julgamento positivo para si mesmo (18) e avaliações de julgamento negativo para Clinton (17) são complementadas por 10 avaliações de julgamento negativas inscritas e evocadas para Obama, uma estratégia retórica de exploração de crise33 33 Avaliações de julgamento negativo estão sublinhadas. .

Considerando a apreciação, Trump é, novamente, negativo para referir-se ao lado de Hillary ao avaliar as “coisas” como excessivamente ruins (avaliações negativas): [SEÇÃO 1] América (8), Administração Democrata (1); [SEÇÃO 2] Administração Democrata / Imigração (4), Imprensa (2), estradas, pontes, aeroportos (2), acordo com o Irã (2), América (1), mundo (1); e [SEÇÃO 3] outros países (6), América (1), Oriente Médio (1), apoiadores Democratas - empresas, mídia (2).

As avaliações sociais também preenchem grande parte do discurso de Trump. Ele usa esse tipo de dispositivo retórico de maneira diferente de Clinton. Ao definir suas “ilhas sociais”, “Nós” e “Eles-Americanos”, ele combina julgamento, apreciação e avaliação social de forma que o público perca de vista o real alvo de suas críticas, como pode ser notado no trecho a seguir:

"Essa noite, vou compartilhar com vocês o meu plano de ação para a América. A diferença mais importante entre nosso plano e o dos nossos oponentes é que nosso plano colocará a América em primeiro lugar. O Americanismo, não o globalismo, será o nosso credo"

Detalhada no Diagrama 2, a análise dos dêiticos do trecho revela uma combinação de apreciação (coisas), julgamento (candidatos) e avaliação social (partidos). Tal conexão de avaliações é permitida por uma identificação ideológica do alvo de fundo (real): Clinton.

Diagrama 2
Avaliação por combinação de Appraisals

As avaliações sociais são empregadas por Trump para consolidar complexos ideológicos. Ao misturar participantes não humanos com processos humanos, o agora Presidente cria uma tensão de significados ideacionais e interpessoais por meio do uso de processos como metáforas gramaticais. Essa estratégia persuasiva implica uma espécie de “comportamento institucional” que só pode ser obtido do ponto de vista do “pensamento de grupo”, refletindo ideologias com as quais seu público-alvo está alinhado (“nós” - inclusivo) ou rejeitado (“eles” - exclusivo). Veja o seguinte trecho (participantes da avaliação social em itálicos):

 Enquanto nós formos liderados por políticos que não colocarão a América em primeiro lugar, (nós) podemos ter certeza de que outras nações não tratarão a América com respeito o respeito que (nós) merecemos.   Participantes não humanos: América, outras nações  Processos humanos: liderar - colocar - ter certeza - tratar - merecer

Participantes não humanos: América, outras nações

Processos humanos: liderar - colocar - ter certeza - tratar - merecer

Portanto, nesse excerto, as avaliações sociais são um subtipo particularmente forte de Avaliatividade porque, ao unir candidatos e partidos, é possível estabelecer um terreno comum para avaliações criado a partir de conjuntos ideológicos compartilhados ou rejeitados que colocam candidatos e instituições (partidos, organizações, grupos sociais, empresas, etc.) ao alcance de um tipo de avaliação em menor nível (lexicogramatical), mas conectado à ideologia implícita disseminada no texto. Isso pode ser observado no trecho a seguir, detalhado no Diagrama 3.

"Grandes empresas, a elite da mídia e grandes doadores estão alinhados atrás da campanha da minha oponente porque sabem que ela manterá nosso sistema fraudulento no lugar"

Diagrama 3
Desdobramento microdiscursivo e macrodiscursivo

O Diagrama 3 apresenta a macronoção de ideologia acessada a partir das micronoções dos discursos e práticas sociais dos membros do grupo (cf. LI, 2010LI, J. Transitivity and Lexical Cohesion: Press Representations of a Political Disaster and its Actors. Journal of Pragmatics , v. 42, n. 12, pp.3444-3458, 2010.). Esse efeito retórico é resultado de um desdobramento micro e macrodiscursivo: variações pronominais do grupo externo não definem nem “coisas” nem “pessoas”, ou seja, “empresas”, “elite”, “doadores” e “ela” estão todos encapsulados como a mesma “coisa” que “sabe” (processo humano) de uma situação problemática: é a responsabilização e a identificação ideológica que estabelecem essa conexão.

7 Estratégias persuasivas dos candidatos

Após examinar as estratégias discursivas dos então candidatos, é possível reunir algumas informações sobre os tipos de estratégias que implantaram. Na Tabela 3, podemos ver se, e em que medida, a avaliação social foi empregada por Clinton e Trump como dispositivos retóricos baseados no demoticismo e nas variações de “política do medo” e “arrogância da ignorância” (cf. WODAK, 2015WODAK, R. The Politics of Fear: What Right-Wing Populist Discourses Mean. London: SAGE Publications Ltd, 2015.). Seus discursos não diferiram muito em termos dos tipos de arsenal retórico aplicados para persuadir os eleitores, isto é, ambos implementaram estratégias discursivas alinhadas ao que a Wodak define como “estratégias argumentativas usadas por membros do grupo interno para delinear diferenças entre grupos e distanciar-se do grupo externo” (1999, p.31)34 34 Do original: “argumentation strategies used by ingroup members to delineate differences between groups and distance themselves from the outgroup”. . Embora todos os dispositivos listados tenham sido identificados nos dois discursos, eles foram aplicados de maneira distinta, variando de pontos de vista (positivo-negativo) a diferentes proporções de léxico avaliativo.

O panorama obtido dos Gráficos 1 e 2 (Anexos B Anexo B Chart 1 Mapa da avaliatividade na fala de Clinton e D Anexo D Chart 2 Mapa da avaliatividade na fala de Trump ) evidencia, como argumento, que discursos políticos desse tipo em cenários eleitorais ou polarizados, quando baseados em avaliações sociais, devem ser assumidos a partir de uma perspectiva de “pano de fundo antitético”; em outras palavras, os significados ideológicos estão diretamente conectados aos significados de fundo codificados em agendas e/ou personificados em rivalidades políticas específicas. Esse significado de pano de fundo antitético é dificilmente acessado em pequenos corpora de textos isolados (e.g. discurso vs. discurso); ele deve ser extraído de agendas e discursos políticos. Portanto, o discurso é geralmente identificado pelo público-alvo com base na identificação tendenciosa de uma figura “inimiga” que desencadeia uma postura de “conjunto-de-ideias-a-que-somos-contrários”, especialmente em cenários polarizados.

Neste estudo, ao colocar lado a lado os discursos de RNC e DNC, os usos da avaliação social revelaram aspectos importantes a serem considerados em análises políticas dicotômicas como esta, tais como: (a) proporção do significado avaliativo; (b) propagação da avaliação no texto; (c) significado negativo (grupo externo) versus significado positivo (grupo interno); e (d) negatividade ou positividade inabaláveis. Além disso, a identificação da solidariedade ideológica ou avaliativa é, portanto, um parâmetro interpessoal essencial para os eleitores compreenderem os discursos políticos.

Considerações Finais

A presente pesquisa estudou a persuasão pelo emprego da Avaliatividade, com foco na avaliação social nos discursos de nomeação de Clinton e Trump. Os resultados indicaram que a avaliação social se mostrou um forte dispositivo de persuasão, pois funciona no domínio dos sistemas de crenças encapsulados em discursos, mudando e/ou preservando ideologias. Nesse sentido, de uma perspectiva metadiscursiva, a avaliação social pode ser particularmente eficaz nos discursos políticos devido à sua capacidade de combater agendas ideológicas, alcançando um alvo de crítica em nível mais alto, o qual não seria tão efetivamente acessado por avaliações do tipo julgamento ou apreciação separadamente.

As análises revelaram que os então candidatos adotaram diferentes abordagens em termos de tom, proporção e escala para sustentar visões ideológicas e situar avaliações em discursos. Na primeira parte de seu discurso, Clinton empregou menos avaliações se comparada a Trump, que conseguiu expressá-las de forma consistente. Enquanto Trump adotou uma postura excessivamente negativa, baseada em julgamento e avaliação social, Clinton carregou seu discurso com avaliação positiva, usando substancialmente afeto e julgamento. Ambos os candidatos investiram pesadamente na avaliação social como um dispositivo persuasivo para se destacar ideologicamente.

As categorias Nós-Americanos e Eles-Americanos foram sabiamente aplicadas pelos dois candidatos. A estratégia de Clinton foi baseada em distanciar a si mesma e seus eleitores de toda a negatividade que ela buscou associar ao candidato Republicano. Por outro lado, Trump avaliou Clinton constantemente, usando principalmente avaliações evocadas para coadunar um estado de coisas negativo (apreciação) com as pessoas no comando (julgamento), à medida que transferia a responsabilidade para Clinton ancorado na ponte ideológica viabilizada pela avaliação social.

A Avaliatividade mostrou-se eficiente no mapeamento do significado ideológico em discursos políticos. Por serem carregados de avaliação social, esses discursos são capazes de aumentar a polarização política, pois tendem a ampliar uma orientação de pensamento de grupo baseada na distinção de valores do tipo “bom-ou-mau” que os eleitores rejeitam ou apoiam. Portanto, conjuntos de valores e crenças compartilhados e associados a partidos, políticos e eleitores tornam esse tipo de público particularmente suscetível à avaliação social.

Em suma, os discursos políticos favorecem certos valores de atitude pressupostos que, geralmente, estão baseados em orientações culturais subjacentes a esse grupo político/ideológico específico. Parâmetros discursivos aplicados nesse contexto cultural e situacional muito específico estabelecem as regras do jogo para candidatos e eleitores para além de suas crenças codificadas. No caso analisado, a maneira como os discursos dos então candidatos influenciou os eleitores dentro de seus grupos ideológicos “aliados” e “inimigos”, para o resultado da eleição, envolve uma análise política muito mais complexa. Entretanto, é inegável que os discursos foram um aspecto essencial dessa eleição, uma vez que forneceram uma série cumulativa de padrões semânticos com o potencial de liderar a interpretação dos eleitores e reforçar visões ideológicas.

  • Traduzido pelo autor.
  • 1
    No original: “despite being considerably outspent in the general election; losing the national popular vote by over two percentage points but still winning the Electoral College, something that has happened rarely in American history”.
  • 2
    No original: “or issues of the ‘new politics’ - such as environmentalism, minority rights, feminist issues, and gay and lesbian expressions - have affected not only the meaning of party competition but also the social basis of party support”.
  • 3
    No original: “the socio-political ideologies they adhere to”. Adiante, no mesmo parágrafo, “conservative and progressive politicians, socialists and neoliberals, Christian-democrats, greens, nationalists and racists, and so on. And it is likely that these ideologies will show up and combine in the discourse of politicians”.
  • 4
    As convenções de partidos são cerimônias nas quais os delegados de ambos os lados, tradicionalmente, escolhem seus indicados para presidente e vice-presidente dos Estados Unidos. Em 2016, os Republicanos realizaram a RNC nos dias 18 e 21 de julho de 2016, na Quicken Loans Arena, em Cleveland, Ohio. Por sua vez, a DNC foi realizada no Wells Fargo Center, na Filadélfia, Pensilvânia, de 25 a 28 de julho de 2016.
  • 5
    No original: “sociocognitively defined as social representations of social groups, and more specifically, as ‘axiomatic’ principles of such representations”. Adiante, no mesmo parágrafo, “identity, actions, aims, norm and values and resources, as well as its relations to other social groups”.
  • 6
    No original: “ideologies are defined as basic systems of fundamental social cognitions and organizing the attitudes and other social representations shared by members of groups”.
  • 7
    No original: “state-of-affairs, em outras palavras, uma situação ou conjunto de circunstâncias”.
  • 8
    No original: “it does not only relate to the form of rhetoric but to its specific contents”.
  • 9
    No original: “host ideology is more important than populism per se”. E adiante, “what is often called ‘thin’ or ‘mainstream’ populism’ is not populism but demoticism (closeness to ordinary people)”.
  • 10
    No original: demoticism.
  • 11
    No original: “label parties ‘populist’ just because their rhetoric is demotic”.
  • 12
    No original: “appraisal deals with the semantic resources used to negotiate emotions, judgements and appreciations. They are resources used to expand and commit to these evaluations”.
  • 13
    No original: “cannot be seen simply as a list of cohesive ties relating one grammatical unit to another, but as a further level of structure in its own right”.
  • 14
    No original: “reveals the expression of emotions by affection and its ‘institutionalizations’”. Adiante, no mesmo parágrafo, “judgement is affection to control behavior (what we should or should not do) and appreciation is affection recontextualized to administer ‘tastes’ (which things are worse or better)”.
  • 15
    No original: “involves the personalities, attitudes and assumptions of those who are communicating”.
  • 16
    No original: “both interactive and textual resources are used to create and maintain relations with readers”.
  • 17
    No original: “in which context and linguistic meaning are integrated to allow readers to derive intended interpretations”.
  • 18
    No original: “‘all-interpersonal’ developments”.
  • 19
    No original: “longer range cohesive propagations”.
  • 20
    No original: “Consider the following sentence: ‘TWO million jobs will be lost if Tony Blair signs the new EU treaty, it was feared last night.’. There is no direct Judgement on Blair’s personality here […]. However, this sentence, we would argue, functions as an indirect Judgement, since it is likely to prompt many readers to judge Blair’s action as morally irresponsible.”
  • 21
    “Similarmente, valorações positivas e negativas de algo implicam julgamentos positivos e negativos da capacidade de alguém criar ou executar. Todavia, consideramos útil distinguir entre julgamentos de comportamento e avaliações de coisas” (MARTIN; WHITE, 2005, p.27). No original: “Similarly, positive and negative valuations of something imply positive and negative judgements of the capacity of someone to create or perform. But we consider it useful to distinguish between judgements of behavior and evaluations of things”.
  • 22
    Do original: “The common denominator is resentment and protest. So, think Marine Le Pen and her Front National, Geert Wilders and his Freedom party (PVV), Ukip, Donald Trump, and of course Hungary and Poland where authoritarian populists are running the governments. […] Then look farther afield. At first sight, Britain sticks out as the great exception because Jeremy Corbyn’s Labour almost edged out the Tories in the June election. Arguably, the verdict was more anti-May than pro-Labour.”
  • 23
    Em “a Grã-Bretanha se destaca como a grande exceção”, “grande” gradua a apreciação em grau de força.
  • 24
    Veja Martin e White (2005) para entender como as avaliações de Atitude podem ser subcategorizadas.
  • 25
    Em vermelho = JULGAMENTO; em azul = AFETO; em verde = APRECIAÇÃO; +pos = positiva. No trecho, “homem de Esperança” trad. de “man from Hope” e “homem da Esperança” trad. de “man of Hope”.
  • 26
    No original: “Target: Electors, family, friends and Party members (4 occurrences) / Example: “I'm also grateful to the rest of my family and the friends of a lifetime. To all of you whose hard work brought us here tonight. And to those of you who joined our campaign this week”. / Target: HERSELF (1 occurrence) / Obama (1 occurrence) / Example: “I'm better because of his (Obama) friendship”. / Target: Joe Biden (3 occurrences) / Examples: “the one-and-only Joe B
  • 27
    N. do T. Efeito de sentido criado pela ambiguidade do verbo “to trump” e o nome do candidato Republicano.
  • 28
    Original: “Tim Kaine - you're soon going to understand why the people of Virginia keep promoting him: from city council and mayor, to Governor, and now Senator. And he'll make our whole country proud as our Vice President”.
  • 29
    “Sometimes the people at this podium are new to the national stage. I'm not one of those people.”
  • 30
    No original: “So don't let anyone tell you that our country is weak. We're not.”
  • 31
    No original: “1. Don’t let anyone tell you / 2. we don’t have what it takes. We do. / 3. And most of all, don't believe anyone who says […] / 4. Americans don’t say: “I alone can fix it.” / 5. […] Troops on the front lines. Police officers and fire fighters who run toward danger. Doctors and nurses who care for us. Teachers who change lives. Entrepreneurs who see possibilities in every problem. Mothers who lost children to violence and are building a movement to keep other kids safe. We say: “We’ll fix it together.” Our Founders […] / 6. […] so America would never be a nation where one person had all the power”.
  • 32
    Clinton discutiu temas variados em seu discurso, a saber, plataforma política, fundação e história do país, unidade e dissensão, perigos mundiais, Economia, Imigração, Religião, Terrorismo, Educação e Família.
  • 33
    Avaliações de julgamento negativo estão sublinhadas.
  • 34
    Do original: “argumentation strategies used by ingroup members to delineate differences between groups and distance themselves from the outgroup”.
  • 35
    O original das citações diretas da Tabela 3: 1) “Trump is arrogant and does not operate with people”; “The most important difference between our plan and that of our opponents” / 2) “America is unity” / “Trump is I can fix it”; “A change in leadership is required to produce a change in outcomes. But Hillary Clinton’s legacy…” / 3) “we are not afraid. We will rise to the challenge, just as we always have. We will not build a wall. Instead, we will build an economy where everyone who wants a good job can get one. And we'll build […]”; “But here, at our convention, there will be no lies. We will honor the American people with the truth, and nothing else.” / 4) “you'll find contractors and small businesses who lost everything because Donald Trump…” ;“The problems we face now - poverty and violence at home, war and destruction abroad” / 5) “He wants to divide us” ; “Another humiliation came when president Obama drew a red line in Syria”.

Anexo A

"Stronger together"motto: "We had settled on Stronger Together as our theme for the general election after a lot of thought and discussion. [...]. My team in Brooklyn had started with three basic contrasts we wanted to draw with Trump. He was risky and unqualified, but I was steady and ready to deliver results on Day One. He was a fraud who was in it only for himself, but I was in it for children and families and would make our economy work for everyone, not just those at the top. He was divisive, while I would work to bring the country together. The challenge was to find a way to marry all three together in a memorable slogan that reflected my values and record. Stronger Together did that better than anything else we could think of." (CLINTON, 2017, p.23).

Anexo B

Chart 1
Mapa da avaliatividade na fala de Clinton

Anexo C

Excerto do discurso DNC de Clinton: Don't let anyone tell you we don't have what it takes. We do. And most of all, don't believe anyone who says: I alone can fix it. Those were actually Donald Trump's words in Cleveland. And they should set off alarm bells for all of us. Really? I alone can fix it? Isn't he forgetting? Troops on the front lines. Police officers and fire fighters who run toward danger. Doctors and nurses who care for us. Teachers who change lives. Entrepreneurs who see possibilities in every problem. Mothers who lost children to violence and are building a movement to keep other kids safe. He's forgetting every last one of us. Americans don't say: I alone can fix it. We say: We'll fix it together. Remember: Our Founders fought a revolution and wrote a Constitution so America would never be a nation where one person had all the power.

Anexo D

Chart 2
Mapa da avaliatividade na fala de Trump

Annex E

Excerto do discurso RNC de Trump: Let's review the record. In 2009, pre-Hillary, ISIS was not even on the map. Libya was cooperating. Egypt was peaceful. Iraq was seeing a reduction in violence. Iran was being choked by sanctions. Syria was under control. After four years of Hillary Clinton, what do we have? ISIS has spread across the region, and the world. Libya is in ruins, and our Ambassador and his staff were left helpless to die at the hands of savage killers. Egypt was turned over to the radical Muslim brotherhood, forcing the military to retake control. Iraq is in chaos. Iran is on the path to nuclear weapons. Syria is engulfed in a civil war and a refugee crisis that now threatens the West. After fifteen years of wars in the Middle East, after trillions of dollars spent and thousands of lives lost, the situation is worse than it has ever been before. This is the legacy of Hillary Clinton: death, destruction and weakness.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Set 2020
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2020

Histórico

  • Recebido
    25 Out 2019
  • Aceito
    05 Jun 2020
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