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Editoriais do El País a partir da perspectiva dialógica

RESUMO

Neste trabalho, analisamos enunciados pertencentes ao gênero editorial produzidos em língua espanhola e publicados pelo jornal El País, em sua edição digital, durante o mês de fevereiro de 2020. Objetivamos descrever esse gênero tal como ele se manifesta no referido periódico e refletir sobre o diálogo estabelecido entre o jornal e o leitor presumido. Para a realização da análise, fundamentamo-nos na perspectiva dialógica da linguagem, sobretudo em escritos de Bakhtin e Volóchinov dos quais destacamos os conceitos de gêneros do discurso e forma arquitetônica. Além da oscilação no diálogo estabelecido entre o jornal e um leitor presumido ora habitual, ora ocasional, o resultado revela uma forma arquitetônica alicerçada na avaliação da presença da leitura entre os participantes da interação discursiva e da importância do emprego de recursos lexicais comuns, frequentes, compreensíveis, como forma de garantir a difusão do jornal em escala mundial.

PALAVRAS-CHAVE:
Arquitetônica; Diálogo; Campo jornalístico; Editorial; El País

ABSTRACT

In this work, we analyzed utterances belonging to the editorial genre, produced in Spanish and published by the newspaper El País in its digital edition, during February 2020. We aim to describe this genre just as it manifests in the aforementioned newspaper and to reflect upon the dialogue between the newspaper and the assumed reader. To conduct the analysis, we draw from the dialogical perspective of language, especially from the works of Bakhtin and Vološinov, from which we highlight the concepts of speech genres and architectonic form. Besides the oscillation in the dialogue established between the newspaper and the assumed reader, at times regular, at times occasional, the result reveals an architectonic form based on the assessment of the presence of reading among the participants of the discursive interaction and the importance of using common, frequent and understandable lexical resources to guarantee the dissemination of the newspaper on a worldwide scale.

KEYWORDS:
Architectonics; Dialogue; Journalistic Sphere; Editorial; El País

Introdução

Nosso objetivo, neste trabalho, é refletir sobre o editorial a partir de enunciados produzidos em língua espanhola e postos em circulação por El País, veículo de comunicação de referência situado na Espanha. Trata-se de um exercício de interpretação pertencente a um projeto de pesquisa mais amplo, cujo propósito é comparar a produção do editorial nos sites de um jornal de grande circulação brasileiro e do referido jornal ibérico, e contribuir com um exame das especificidades desse gênero do discurso em cada um dos espaços de circulação. Para isso, respaldamo-nos no pressuposto de que as transformações históricas e culturais de um gênero se dão à luz das transformações ocorridas no campo da comunicação humana a que pertence1 1 Adotamos o termo campo em consonância com Bakhtin (2016). .

Fundamentam nossa análise os escritos de Bakhtin (1993BAKHTIN, M. O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária. In: BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. 3. ed. Tradução Aurora Fornoni Bernadini et al. São Paulo: Editora Unesp, 1993, p.13-70., 2016) e de Volóchinov (2018VOLÓCHINOV. V. N. (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 2. ed. Tradução, ensaio introdutório, glossário e notas Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2018., 2019). Assim, além do conceito de gêneros do discurso, assumimos que todo uso da palavra é permeado pelo outro e, portanto, determinado por valores sociais, históricos e ideológicos, pensamento partilhado pelos integrantes do Círculo. Mais especificamente, adotamos o pressuposto de que o gênero (seu conteúdo temático, construção composicional e estilo) é determinado por uma unidade construtiva, por uma forma arquitetônica.

Como procedimento metodológico, utilizamos o cotejamento entre textos pertencentes ao campo jornalístico, procurando retomar contextos do passado e antecipar contextos futuros. Sendo assim, partimos de editoriais on-line do El País publicados durante o mês de fevereiro de 2020. Para o movimento retrospectivo, tomamos como fundamental o Libro de estilo (EL PAÍS, 2014EL PAÍS. Libro de estilo. 22 ed. Madrid: Aguilar, 2014. Edição do Kindle.). E, para o movimento prospectivo, a antecipação da atitude ativa responsiva do interlocutor: a suposição sobre quem é ele e sobre o que se espera dele são algumas questões que se colocaram nessa etapa da análise.

Este artigo está organizado em três seções: em primeiro lugar, discorremos sobre o conceito de gêneros do discurso, bem como sobre a noção de forma arquitetônica, dada sua centralidade para o desenvolvimento da análise. Em segundo lugar, procuramos contextualizar o surgimento do El País e a relação estabelecida com as inovações tecnológicas ao longo de sua história. Por último, apresentamos nossa interpretação do corpus, um movimento, por natureza, também dialógico, procurando descrever as características mais gerais dos enunciados e apontar as particularidades do diálogo estabelecido entre o jornal e o leitor presumido.

1 Sobre os conceitos de gêneros do discurso e forma arquitetônica

No interior do Círculo, a abordagem da noção de gêneros do discurso não se restringe a Bakhtin, sobretudo, em Os gêneros do discurso (2016)BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas Paulo Bezerra. Notas da edição russa Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016. p.11-69., mas foi feita também por Volóchinov que, tanto em Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem (2018) quanto em “A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica” (2019), dedicou-se a refletir sobre gêneros de tradição oral e escrita e a analisá-los.

Bakhtin e Volóchinov compartilham uma concepção de linguagem como atividade de natureza sociointeracional. Para o primeiro, o uso da língua se dá por meio de enunciados orais e escritos, concretos e únicos, produzidos por integrantes dos mais diversos campos da comunicação humana. Para o segundo, a palavra (e seu sentido) é indissociável da vida, ou seja, da situação extralinguística, definição que acentua a relação inextricável entre o caráter social e o caráter singular de cada interação discursiva. Logo, a construção de todo e qualquer enunciado, unidade real do fluxo discursivo, se dá entre dois indivíduos socialmente organizados.

Em sua essência, a palavra é um ato bilateral. Ela é determinada tanto por aquele de quem ela procede quanto por aquele para quem se dirige. Enquanto palavra, ela é justamente o produto das inter-relações do falante com o ouvinte. Toda palavra serve de expressão ao “um” em relação ao “outro”. Na palavra, eu dou forma a mim mesmo do ponto de vista do outro e, por fim, da perspectiva da minha coletividade. A palavra é uma ponte que liga o eu ao outro. Ela apoia uma das extremidades em mim e a outra no interlocutor. A palavra é o território comum entre o falante e o interlocutor (VOLÓCHINOV, 2018, p.205VOLÓCHINOV. V. N. (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 2. ed. Tradução, ensaio introdutório, glossário e notas Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2018.; destaque do autor).

É a partir desse quadro epistemológico que os gêneros do discurso são concebidos. Na perspectiva adotada por Bakhtin (2016)BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas Paulo Bezerra. Notas da edição russa Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016. p.11-69., há o pressuposto de que, na comunicação discursiva, os participantes falam e escrevem através de determinados gêneros do discurso. Isso equivale a dizer que, até mesmo nas situações comunicativas mais informais e espontâneas, os falantes (ou os que escrevem) moldam seu discurso por determinadas formas que, por vezes, são mais padronizadas e estereotipadas e, por outras, mais flexíveis, livres e criativas.

Sua teoria evidencia a correlação intrínseca entre os campos da atividade humana e as formas de dizer. Para Bakhtin (2016)BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas Paulo Bezerra. Notas da edição russa Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016. p.11-69., todos os campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem, portanto, o caráter e as formas desse uso são tão diversificados quanto os próprios campos. À vista disso, os enunciados

(...) refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de tudo, por sua construção composicional. Todos esses três elementos – o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional – estão indissoluvelmente ligados no conjunto do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um campo da comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso (BAKHTIN, 2016, p.11-12lBAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas Paulo Bezerra. Notas da edição russa Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016. p.11-69.; destaque do autor).

Na conceituação de gêneros do discurso, a expressão relativamente estáveis destaca sua historicidade e a compulsória imprecisão de seus traços distintivos, o que pressupõe admitir que os gêneros não são definidos de uma vez por todas, mas comportam transformações contínuas, porque as atividades humanas estão em contínua transformação. Consequentemente, os gêneros de cada campo vão alterando-se à medida que o próprio campo se desenvolve e/ou se modifica, questão que será especialmente cara para o desenvolvimento deste trabalho.

Cabe, ainda, discorrer, mesmo que brevemente, sobre os elementos imbricados na composição de cada gênero do discurso e sobre os quais nossa análise incidirá: o conteúdo temático, o estilo e a construção composicional.

O conteúdo temático não se confunde com o tema, ou seja, com aquilo de que um enunciado trata. Ele é resultado da relação sócio-historicamente determinada entre um gênero e o campo a que pertence à luz da interação estabelecida entre os interlocutores. No interior do campo jornalístico, a abordagem do conteúdo temático de um gênero como o editorial pressupõe indagar sobre o que merece a opinião da empresa jornalística. Para tanto, é necessário considerar que essa seleção se dá apoiada na relação estabelecida entre as diferentes seções de um jornal e no vínculo existente entre o editorial e a notícia, sob o ângulo dialógico, a partir do qual o enunciador aprecia os participantes da situação comunicativa.

O estilo não se restringe à expressão de uma individualidade, mas é sempre socialmente orientado. Cada escolha é expressão do eu em relação ao outro e está impregnada de avaliações. Nesse sentido, o outro, real ou presumido a quem um enunciado é endereçado, define a seleção dos recursos linguístico-discursivos. Nas palavras de Volóchinov (2019, p.143)VOLÓCHINOV, V. (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica. In: VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019. p.109-146., “o estilo é, pelo menos, dois homens, mais precisamente, o homem e seu grupo social na pessoa do seu representante autorizado, ou seja, o ouvinte que é um participante constante do discurso interior e exterior do homem”.

Bakhtin, por sua parte, considera o endereçamento, ou seja, as modalidades e concepções do destinatário definidas pelo campo da atividade humana em que o enunciado se insere determinante não apenas do estilo e da composição, mas da produção de um gênero do discurso: “Cada gênero do discurso em cada campo da comunicação discursiva tem a sua concepção típica de destinatário que o determina como gênero” (BAKHTIN, 2016, p.63BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas Paulo Bezerra. Notas da edição russa Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016. p.11-69.).

A construção composicional pode ser definida como a forma de expressão típica (relativamente estável) de produção do conjunto, isto é, aquilo que impede que um enunciado possa ser considerado uma combinação individual livre e irrestrita de formas. Essa dimensão insere o enunciado na cadeia da comunicação discursiva, circunscrevendo o projeto de dizer daquele que produz o enunciado.

Por sua vez, a concepção de arquitetônica, que perpassa a noção de enunciado partilhada pelos membros do Círculo, embora apareça mais explicitamente relacionada à estética (BAKHTIN, 1993BAKHTIN, M. O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária. In: BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. 3. ed. Tradução Aurora Fornoni Bernadini et al. São Paulo: Editora Unesp, 1993, p.13-70.), pode ser entendida como a unidade construtiva de um objeto. De acordo com Rojo e Melo (2017, p.1280)ROJO, R.; MELO, R. de. Letramentos contemporâneos e a arquitetônica Bakhtiniana. Delta, v. 33, n. 4, p.1271-1289, out./dez. 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502017000401271&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 18 jan. 2020.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
, “a arquitetônica designa o ponto de articulação entre a totalidade interna e as avaliações axiológicas (valores éticos, estéticos, morais) que constroem um objeto situado histórica, social e ideologicamente, atribuindo-lhe sentido”. Para Campos (2012, p.253)CAMPOS, M. I. B. A questão da arquitetônica em Bakhtin: um olhar para materiais didáticos em língua portuguesa. Filologia e linguística portuguesa, São Paulo, v. 14, n. 2, p.247-263, 2012. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/flp/article/view/59913. Acesso em: 18 jan. 2021.
http://www.revistas.usp.br/flp/article/v...
, esse conceito “(...) nasce de um pensamento que tem o ser humano como centro de valor, porque há um homem que fala, que se interroga e que procura estabelecer relações interativas, formulando perguntas e respostas diante dos acontecimentos da vida”.

Toda atividade de linguagem pressupõe, portanto, a organização de uma arquitetônica, o vínculo indissociável entre a totalidade interna e a realidade externa axiológica, ou seja, o preceito de que a forma composicional, o tema e o estilo (em nosso caso, de um gênero do discurso) são orientados por julgamentos de valor (avaliações, entonações expressivas) sociais, históricos e ideológicos. Na perspectiva de Sobral (2009, p.88)SOBRAL, A. Ver o texto com os olhos do gênero: uma proposta de análise. Bakhtiniana, v. 1, n. 1, p.85-103, 1º sem. 2009. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/bakhtiniana/article/view/3000/1931. Acesso em: 24 mar. 2021.
https://revistas.pucsp.br/index.php/bakh...
, “tema, estilo e forma de composição só fazem sentido no âmbito de uma arquitetônica”, em outras palavras, são axiologicamente orientados.

Por seu turno, Volóchinov (2019)VOLÓCHINOV, V. (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica. In: VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019. p.109-146. considera que as avaliações sociais e a situação extraverbal integram o enunciado, são uma parte fundamental de sua composição semântica. Ele argumenta que “as avaliações determinam a escolha da palavra pelo autor e a percepção dessa escolha (a coescolha) pelo ouvinte” (VOLÓCHINOV, 2019, p.131VOLÓCHINOV, V. (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica. In: VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019. p.109-146.).

Os escritos do Círculo que fundamentam nosso trabalho são perpassados pela consideração da interdependência entre o enunciado e a situação concreta de enunciação e entre o significado do enunciado e uma atitude avaliativa. De acordo com Faraco (2009, p.24)FARACO, C. A. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009., “a dimensão axiológica é, portanto, parte inalienável da palavra viva”. Essa afirmação, em alguma medida, recupera a reflexão bakhtiniana sobre a criação estética como decorrente de uma imbricada rede de posicionamentos axiológicos entre os planos do conteúdo, do material e da forma (BAKHTIN, 1993BAKHTIN, M. O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária. In: BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. 3. ed. Tradução Aurora Fornoni Bernadini et al. São Paulo: Editora Unesp, 1993, p.13-70.). Para o autor, não há enunciado neutro, visto que todo enunciado surge em um dado contexto cultural repleto de valores e é sempre uma tomada de posição nesse contexto.

Com base nesse referencial teórico e reconhecendo a influência recíproca entre a construção composicional e o estilo, bem como o caráter determinante da forma arquitetônica e da dimensão axiológica, analisamos um gênero do discurso próprio do campo jornalístico cuja função social reside na expressão da opinião da empresa jornalística sobre um fato da atualidade. Nossa análise incidirá, sobretudo, na avaliação que o jornal faz de si e de seus leitores – o eu-para-mim e o outro-para-mim são colocados em evidência na compreensão da arquitetônica desse gênero.

Antes de procurarmos delimitar o processo dialógico pressuposto na interação estabelecida, através dos editoriais, entre o El País e o leitor presumido por meio de seu site, remontamos parte da história desse jornal, principalmente no que se refere à sua relação com as inovações tecnológicas, visando a apreender alguns traços de sua identidade.

2 Sobre o El País

O El País é um jornal espanhol cujo surgimento coincide com o início da transição da Espanha ao regime democrático após quarenta anos de repressão. Foi idealizado pela Promotora de Informaciones Sociedad Anónima (PRISA), companhia fundada no início de 1972, por José Ortega Sppotorno, filho do filósofo José Ortega y Gasset, reconhecido pela defesa da liberdade e da democracia.

Superadas as dificuldades impostas pela Dirección General de Prensa, órgão responsável por submeter os meios de comunicação a serviço do governo do general Francisco Franco (1939-1975), o primeiro número impresso foi publicado em 4 de maio de 1976 gozando da liberdade de não ter sido obrigado a exaltar o franquismo. Naquele contexto,

Os progressistas carregavam o EL PAÍS debaixo do braço. Era uma mensagem implícita, ideológica, um sinal para reconhecer os companheiros junto à banca de jornais, nas cafeterias, no ônibus (...) os jovens rebeldes levavam o EL PAÍS até os lugares da batalha. O jornal era atropelado junto com seus leitores quando os cavalos da polícia invadiam as cafeterias do Moncloa perseguindo os manifestantes (VICENT, 1996VICENT, M. Daguerrotipo de 20 años. El País, Sociedad, Madrid, 2 mayo 1996. Disponível em: https://elpais.com/diario/1996/05/03/sociedad/831074416_850215.html. Acesso em: 23 jul. 2020.
https://elpais.com/diario/1996/05/03/soc...
, tradução nossa)2 2 No original: “Los progresistas llevaban EL PAÍS bajo el brazo. Era un guiño, ideológico, una señal para reconocer a los tuyos al pie del quiosco, en las cafeterías, en el autobús. (...) los jóvenes rebeldes llevaban EL PAÍS hasta los lugares de la batalla. El periódico era arrollado junto con sus lectores cuando los caballos de la policía irrumpían en las cafeterías de Moncloa persiguiendo a los manifestantes”. .

Na perspectiva de Moureau,

Por sua defesa vigorosa das liberdades e apoio à mudança política e social, conquistou a fidelidade de leitores cada vez mais numerosos. Símbolo e porta-voz da Espanha moderna e pluralista, de clara vocação europeia, se transformou em quatro anos no jornal mais lido e no meio de referência para os setores mais influentes da sociedade (MOUREAU, 2004, p.288, tradução nossa)3 3 No original: “Por su vigorosa defensa de las libertades y apoyo al cambio político y social, se granjeó la fidelidad de lectores cada vez más numerosos. Símbolo y portavoz de la España moderna y pluralista, de clara vocación europea, se convirtió en cuatro años en el periódico más leído y en el medio de referencia para los sectores más influyentes de la sociedad”. .

Vinte anos após a publicação da primeira edição impressa, chegou à internet sua primeira edição digital registrada sob o domínio elpais.es. Prontamente, o jornal conquistou cerca de 27.000 leitores dos quais 40% eram procedentes de cem diferentes países (CABRERA, 2004CABRERA, M. A. Periodismo digital y nuevas tecnologías. In: BARRERA, C. (coord.). Historia del periodismo universal. Barcelona: Ariel, 2004. p.393-417.). No início da década de 2000, o primeiro domínio adotado foi substituído por elpais.com, com o intuito de assinalar a vocação mundial do jornal reivindicada também em seu slogan: El periódico global (O jornal global)4 4 O primeiro slogan adotado pelo El País foi Diario independiente de la mañana (Diário independente da manhã). Em 2007, esse slogan foi substituído por El periódico global en español (O jornal global em espanhol). A versão atual, ao excluir a referência ao idioma, procura abarcar a diversidade de edições e línguas em que o jornal on-line é publicado. . A enumeração apresentada em artigo de opinião comemorativo ao vigésimo aniversário do El País é reveladora da ampliação e da diversidade de seu público leitor:

Liam-no os amantes dos Rolling Stones, os políticos nas sedes dos partidos, os sindicalistas nos escritórios, os designers, decoradores, os artistas precursores do agito, os diplomatas e os primeiros punks recicladores. Já fazia tempo que todos os pais da pátria se observavam, a cada manhã, neste espelho, para saber quem era o mais bonito. EL PAÍS não pretendia derrubar nenhum Governo. Bastava- lhe saber que podia despertar o presidente e obrigá-lo a ler um editorial de pijama (VINCENT, 1996, tradução nossa)5 5 No original: “Lo leían los amantes de los Rolling Stones, los políticos en las sedes de los partidos, los sindicalistas en las oficinas, los diseñadores, interioristas, los artistas iniciáticos de la movida, los diplomáticos y los primeros punkis reciclados. Ya hacía tiempo que todos los padres de la patria se miraban cada mañana en este espejo para saber quién era el más guapo. EL PAÍS no pretendía derribar a ningún Gobierno. Le bastaba con saber que podía levantar de la cama al presidente y obligarle a leer un editorial en pijama”. .

Atualmente, o site do jornal oferece seis edições em quatro idiomas diferentes: Espanha, América e México em espanhol; Brasil em português; Catalunha em catalão; e uma edição com as principais notícias em inglês. Essas edições são identificadas no alto da página da seguinte maneira: ESP, AME, MEX, BRA, CAT, ENG6 6 As edições AME, MEX, BRA e CAT apresentam textos publicados na edição ESP (traduzidos para o português e o catalão, conforme o caso) e textos próprios, ou seja, produzidos por jornalistas que atuam nas redações locais. . Sua distribuição é multiplataforma, ou seja, o jornal digital pode ser acessado pela web, por meio de aplicativos móveis e redes sociais. A edição impressa está restrita ao território espanhol.

Decorridas mais de quatro décadas desde sua fundação, o El País é considerado o meio de comunicação com o maior número de leitores na Espanha. De acordo com dados do estudo Mikroscopia 2020, realizado pela 40dB., empresa especializada em pesquisas de mercado, 26,1% da população espanhola, com idade entre 18 e 65 anos, acessa o site do jornal habitualmente, isto é, três vezes ou mais por semana (ELDIARIO.ES, 2020ELDIARIO.ES, el cuarto periódico digital más leído y el que más crece. elDiario.es, Blogs, Madrid, 17 sep.2020. Disponível em: https://www.eldiario.es/redaccion/eldiario-cuarto-periodico-digital-leido-crece_132_6226205.html. Acesso em: 1 dez. 2020.
https://www.eldiario.es/redaccion/eldiar...
).

Entre as causas atribuídas ao sucesso de audiência, o próprio jornal aponta os artigos de opinião cuja leitura experimentou um crescimento superior ao de outros gêneros jornalísticos, com um incremento de 200% em um ano. Durante o mês de outubro de 2017, por exemplo, sete dos dez textos mais lidos pertenciam aos gêneros editorial e artigo de opinião, o que, em alguma medida, demonstra o vigor do conteúdo opinativo entre os leitores on-line. No mesmo período, a edição digital atingiu a marca de 100 milhões de visitantes únicos, sendo metade deles proveniente, em especial, da América Latina (EL PAÍS, 2017EL PAÍS alcanza los 100 millones de navegadores únicos. El País, España, Madrid, 4 nov. 2017. Disponível em: https://elpais.com/politica/2017/11/04/actualidad/1509821900_271947.html. Acesso em: 23 jul. 2020.
https://elpais.com/politica/2017/11/04/a...
)7 7 Para a análise que desenvolveremos aqui, é importante salientar o fato de que os enunciados pertencentes ao gênero editorial figuram igualmente nas edições ESP e AME. .

O fortalecimento da relação estabelecida entre o El País e o digital pode ser atestado pela última edição de seu Libro de estilo publicada em 2014. A capa do manual (Figura 1) apresenta a imagem do que seria um livro de capa dura cujo dorso contém conexões típicas de um computador e um cabo USB acoplado. No prólogo, a emergência da referida edição é justificada pelas modificações substanciais na produção e distribuição de informação provocadas pela internet mais recentemente. No manual propriamente dito, são encontradas prescrições gerais e específicas para as publicações on- line, principalmente, para as notícias. Nessa circunstância, o El País digital é considerado a partir de sua ambição, autonomia narrativa e velocidade de publicação próprias (EL PAÍS, 2014EL PAÍS. Libro de estilo. 22 ed. Madrid: Aguilar, 2014. Edição do Kindle.).

Figura 1
Capa do Libro de estilo do El País. Fonte: El País (2014)EL PAÍS. Libro de estilo. 22 ed. Madrid: Aguilar, 2014. Edição do Kindle..

É interessante observar que a vigésima primeira edição do Libro de estilo foi publicada seis anos antes da edição atual, em 2008. Naquele momento, mesmo tendo decorrido doze anos desde o lançamento da edição digital do jornal, as mudanças advindas com a produção e publicação de informações por meio da internet eram consideradas tão somente marginais (EL PAÍS, 2014EL PAÍS. Libro de estilo. 22 ed. Madrid: Aguilar, 2014. Edição do Kindle.). Esse fato parece assinalar certa moderação do jornal, que não se restringe à relação estabelecida com a internet.

Moureau (2010) destaca que, embora, no início da década de 1990 muitos periódicos comecem a introduzir fotos coloridas em suas edições impressas, o El País só o faz a partir do final de setembro de 1998 e tão somente na primeira e na última páginas da edição de domingo. A explicação apresentada pelo jornal à época permite entrever certa resistência a algo que, em princípio, poderia ser visto como um indício de banalização do conteúdo:

A mudança não é consequência de uma simples adaptação estética, mas responde ao desejo do EL PAÍS de continuar em sua linha necessária e permanente de adequação do jornal às novas tendências da sociedade (...) sem perder, com isso, seus signos identitários de rigor e jornalismo de qualidade (EL PAÍS, 1998EL PAÍS pone color al domingo. El País, Sociedad, Madrid, 25 sep.1998. Disponível em: https://elpais.com/diario/1998/09/25/sociedad/906674417_850215.html. Acesso em: 5 ago. 2020.
https://elpais.com/diario/1998/09/25/soc...
, tradução nossa)8 8 No original: “El cambio no es consecuencia de una mera adaptación estética, sino que responde al deseo de EL PAÍS de continuar en su línea de necesaria y permanente adecuación del periódico a las nuevas tendencias de la sociedad (...) sin perder por ello sus señas de identidad de rigor y periodismo de calidad”. .

Em 2001, a inclusão de cores passa a ocorrer diariamente, mas, ainda assim, restrita à primeira e à última páginas da edição impressa. Somente a partir de outubro de 2007, a impressão colorida se torna massiva, consequência de uma grande reestruturação que atingiu a tipografia, o desenho e a disposição interna das seções.

Considerando o comedimento do El País ao adotar certas inovações tecnológicas (o emprego gradual de cores na edição impressa e a prescrição “tardia” de normas específicas para o conteúdo on-line podem ser considerados indícios dessa característica), sua índole global, a heterogeneidade e amplitude do público que acessa o jornal por meio de plataformas digitais, analisamos, a seguir, seus editoriais.

3 Sobre os editoriais do El País

Para a realização deste trabalho, selecionamos os editoriais publicados no site do jornal El País, edição ESP (https://elpais.com), durante o mês de fevereiro de 2020. A escolha do editorial, por um lado, deve-se ao fato de que pretendemos descrever esse gênero tal como ele se manifesta na referida publicação espanhola e analisar o diálogo estabelecido entre o jornal e o público leitor presumido. A escolha do El País, por outro lado, deve-se à sua destacada difusão e influência. Deve-se, ainda, à relação, aparentemente, comedida estabelecida entre o jornal e as inovações tecnológicas ao longo de sua história, algo que, certamente, imprime sua marca nos tipos de enunciados relativamente estáveis por meio dos quais a empresa jornalística pressupõe certo horizonte social (VOLÓCHINOV, 2018VOLÓCHINOV. V. N. (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 2. ed. Tradução, ensaio introdutório, glossário e notas Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2018.).

Como procuraremos mostrar, a avaliação que o jornal faz do destinatário dos editoriais oscila entre um leitor “típico” de jornal impresso, considerado proficiente e interessado pelo gênero jornalístico independentemente do assunto abordado, e um leitor ocasional, tomado como menos preparado e, aparentemente, procedente do processo de digitalização da prática jornalística.

Todos os dias são publicados, em média, dois editoriais9 9 Durante o período recortado para análise, houve dia em que não foram publicados editoriais, dia em que foi publicado apenas um editorial e dia em que foram publicados três editoriais. . O acesso a eles, a partir de um computador pessoal, pode se dar de três formas distintas no interior do site do jornal: por meio do menu principal situado na parte superior da página logo abaixo do nome do jornal; por meio de um menu mais detalhado localizado na lateral esquerda da página ao qual se tem acesso através de um ícone; ou por meio do destaque – conferido ao índice, a um dos editoriais e a alguns artigos da seção Opinião – localizado ao longo da página10 10 As descrições são referentes ao que foi observado no site do jornal no primeiro semestre de 2020. .

No menu principal, as seções do El País são apresentadas na seguinte ordem: Internacional, Opinión, España, Economía, Sociedad11 11 Essa seção não se confunde com colunismo social, mas está voltada para assuntos relacionados a saúde, meio ambiente, igualdade, consumo, comunicação, laicismo e educação. , Educación, Ciencia, Tecnología, Cultura, Deportes, Televisión, Gente e Vídeo (Internacional, Opinião, Espanha, Sociedade, Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Esportes, Televisão, Gente e Vídeo)12 12 Diferentemente da divisão normalmente encontrada em jornais brasileiros, o El País não reserva uma seção específica para conteúdos relativos ao cenário político e governamental. Os textos a esse respeito aparecem distribuídos em seções como, Espanha, Economia, Sociedade e Educação. . Essa forma de apresentação, com a seção de notícias exteriores à Espanha na primeira posição, por si só indicia o caráter propositadamente global aspirado pelo jornal (e explicitado em seu slogan) e o diálogo com um leitor presumido que, por sua vez, se interessa por assuntos com essa abrangência. A mesma conjectura pode ser verificada na distribuição do conteúdo temático dos editoriais.

Dos cinquenta e cinco enunciados analisados, mais de 50% se relacionam com notícias publicadas na seção Internacional, subdivididas da seguinte maneira: Europa, 15; América Latina, 5; Estados Unidos, 3; África, 2; Ásia, 2; México, 2; e Oriente Médio, 2. A grande quantidade de editoriais atinentes a notícias sobre a União Europeia e o continente americano (vinte e cinco editoriais ao todo), a nosso ver, é reveladora do diálogo entre o El País e um leitor mais imediato, cuja identidade compartilhada com o jornal parece transcender o traço da hispanidade em proveito do caráter supranacional; e um leitor que, estando geograficamente um pouco mais distante, nos demais países da Europa, nos Estados Unidos e/ou na América Latina, pode reconhecer sua realidade contemplada pelo veículo de comunicação.

Com relação aos temas de abrangência nacional, os vinte e quatro enunciados se relacionam com notícias publicadas nas seções: Espanha, 12 editoriais de cunho político-partidário; Sociedade, 6 (sendo dois deles relacionados a meio ambiente, outros dois, a política migratória, um sobre a regulação da eutanásia e outro a respeito do isolamento social dos idosos); Economia: 4; Educação, 1; e Tecnologia, 1. Nesses editoriais, por vezes são encontradas comparações entre a Espanha e outros países europeus e/ou menção a estes, o que, em alguma medida, reforça a orientação europeia de parte dos participantes da situação comunicativa.

A disparidade entre os editoriais sobre assuntos de cunho político-partidário e os demais ligados a temas nacionais, à primeira vista, poderia ser interpretada como reveladora do diálogo com um auditório, para empregar a mesma expressão usada por Volóchinov (2019)VOLÓCHINOV, V. (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica. In: VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019. p.109-146., formado por governantes e representantes de partidos políticos. Essa leitura, entretanto, não se sustenta em função de como o jornal distribui as notícias referentes a esses editoriais ao longo de suas seções. Os temas políticos, em sentido estrito, aparecem de forma integrada a outros eventos da vida da sociedade espanhola, visto que não há, no site do jornal, uma seção específica para eles.

Como nossos dados apontam, a forma arquitetônica determina a própria seleção dos temas dos editoriais do El País, visto que subjaz à escolha do que merecerá a opinião do jornal uma avaliação da situação extralinguística, pautada pela localização geográfica da maioria dos leitores, pela suposição acerca de seus interesses e pela necessidade de prover as diferentes edições.

Do ponto de vista formal, cada enunciado apresenta o título centralizado em itálico e negrito antecedido da palavra editorial em caixa alta na cor azul. O subtítulo, que aparece disposto de forma centralizada logo abaixo do título, é seguido pelo nome do jornal, no espaço que seria correspondente à assinatura, pela data e horário da publicação alinhados à margem esquerda da página. Uma grande fotografia colorida ilustra cada editorial que, geralmente, é composto por quatro parágrafos. No corpus, há, entretanto, enunciados com três, cinco, seis e sete parágrafos. Não há qualquer link no corpo dos enunciados. Quando utilizados, os links são dispostos sob a forma de uma espécie de olho13 13 Jargão jornalístico empregado para designar o destaque, na diagramação, de parte da matéria considerada interessante e/ou que possa atrair a atenção do leitor para o texto. e remetem a editoriais anteriores sobre o mesmo assunto ou a informação relacionada quando se trata da primeira vez que o jornal se posiciona a respeito de um tema (vide Anexo A)14 14 No corpus, há apenas dois enunciados com links para informação relacionada. .

De acordo com o Libro de estilo do El País, a existência de um código tipográfico que permita ao leitor identificar o grau de subjetividade de cada gênero jornalístico é uma forma de garantir um direito do leitor (EL PAÍS, 2014EL PAÍS. Libro de estilo. 22 ed. Madrid: Aguilar, 2014. Edição do Kindle.). Assim, o fato de que os títulos dos editoriais sejam grafados em itálico – estilo de fonte prescrito pelo manual – na perspectiva do jornal, sinaliza, com clareza, para o leitor, que ele se encontra diante de um enunciado com forte presença da opinião do autor. A opção pelo itálico é um indício importante da avaliação que o jornal faz da realidade externa ao enunciado, ou melhor, da permeabilidade constitutiva dos enunciados por elementos extralinguísticos, isto é, de sua arquitetônica. Além disso, ao lado da palavra editorial, há um botão de informação que15 15 O botão de informação e a mensagem correspondente são encontrados também em outros gêneros opinativos. , se acionado, apresenta a seguinte mensagem sobre o gênero jornalístico: “É de responsabilidade do diretor e expressa a opinião do jornal sobre assuntos de atualidade nacional ou internacional” (EL PAÍS, 1996-EL PAÍS. PRISA. 1996-. Publicação diária. Disponível em: https://elpais.com. Acesso em: 31 ago. 2020.
https://elpais.com...
, tradução nossa)16 16 No original: “Es responsabilidad del director, y expresa la opinión del diario sobre asuntos de actualidad nacional o internacional”. . Talvez, resida, nesses dois recursos, um indício sutil de que o El País dialoga com um leitor presumido que, navegando, de qualquer lugar do mundo, não teria condições de, sozinho, avaliar o grau de subjetividade dos enunciados com os quais se depara.

Os editoriais apresentam títulos sucintos formados, com frequência, por construções nominais: Confianza, Situación insostenible, Violencia en Brasil. Embora sejam menos recorrentes, há, também, títulos construídos com sintagmas verbais: Combatir la soledad, Comienza la carrera, El campo negocia17 17 Em português, os títulos dos editoriais seriam, respectivamente: Confiança, Situação insustentável, Violência no Brasil, Combater a solidão, Começa a corrida, O campo negocia (tradução nossa). .

Em geral, os títulos oscilam entre aqueles que apresentam informações mais explícitas, por meio dos quais o leitor poderia antecipar o mote do editorial com certa facilidade, e outros por meio dos quais seria mais difícil predizer o assunto. Essa oscilação, em alguma medida, responde à prescrição de que, nos textos de opinião, os títulos “ficam a critério do autor, mas, como todos os títulos, sua missão é orientar o leitor sobre o conteúdo” e “não devem antecipar a conclusão do texto” (EL PAÍS, 2014, p.75EL PAÍS. Libro de estilo. 22 ed. Madrid: Aguilar, 2014. Edição do Kindle., tradução nossa)18 18 No original: “Quedan a criterio del autor, pero, como todos los títulos, su misión es orientar al lector sobre el contenido. (…) no deben destripar el remate final del texto”. . Em ambas as formas de composição, salvo raras exceções (Combatir la soledad é uma delas), os títulos não permitem entrever a opinião defendida ao longo do enunciado. Do nosso ponto de vista, por meio dos títulos que, em certa medida, resumem o assunto, o jornal dialoga com um leitor que seleciona os enunciados jornalísticos a partir dos temas de seu interesse em detrimento do gênero. Os títulos que não resumem o assunto de forma clara, diferentemente, parecem colocar em cena o diálogo com um leitor que, independentemente do tema, seleciona o editorial para leitura porque valoriza a opinião do veículo.

Os títulos Violencia en Brasil e El campo negocia, por um lado, Confianza e Situación insostenible, por outro lado, exemplificam, relativamente bem, mesmo para um leitor estrangeiro, como é nosso caso, o processo de responsividade que descrevemos. A partir dos dois primeiros títulos, é possível antecipar que os editoriais tratarão, respectiva e genericamente, da violência no país sul-americano e de uma questão agrária. Os outros títulos, diferentemente, não sugerem, mesmo que aproximadamente, um assunto.

É preciso considerar, ainda, que o acesso aos enunciados é sempre antecedido por uma apresentação formada pela palavra editorial, uma fotografia em miniatura, em algumas ocasiões, o título e o subtítulo que, por sua vez, antecipa a opinião da empresa jornalística, como em: La respuesta frente al coronavirus debe estar coordinada por la OMS19 19 No original: “A resposta em vista do coronavírus deve ser coordenada pela OMS”. , subtítulo do editorial Confianza, de 1º de fevereiro de 2020. Essa forma parcial de apresentação dos enunciados, em alguma medida, evidencia o diálogo com um leitor que, considerado com pouca disponibilidade de tempo para ler, poderia prescindir da leitura do editorial. Contudo, quando da apresentação integral dos enunciados, outro leitor parece ser convocado.

Apesar de curtos (os editoriais possuem, aproximadamente, 500 palavras), os enunciados são constituídos por densos parágrafos que, por sua vez, são formados por frases que não devem ultrapassar a extensão máxima de vinte palavras prescrita no Libro de estilo (EL PAÍS, 2014EL PAÍS. Libro de estilo. 22 ed. Madrid: Aguilar, 2014. Edição do Kindle.). Esse aspecto da construção composicional é revelador do diálogo com um leitor presumido capaz de “enfrentar” uma massa textual consistente, um leitor habitual. Frente à pouca disponibilidade de tempo, esse leitor pode ler o primeiro e o último parágrafos do texto, uma estratégia de leitura decorrente da construção composicional dos editoriais do El País que se dá de forma análoga à estratégia mobilizada na leitura de notícias, visto que a técnica de estruturação desse gênero do discurso, conhecida como pirâmide invertida, favorece a leitura do lead para apreender os dados essenciais relacionados ao acontecimento noticiado20 20 Sobre estratégias de leitura, ver Kleiman (2013). . Desse modo, como mostraremos a seguir, o leitor informa-se sobre a notícia que motivou a produção do editorial, em uma espécie de “o que é preciso saber hoje”, e conhece a posição da empresa jornalística. Note-se que a forma composicional dos enunciados decorre do valor apreciativo atribuído pelo jornal à proficiência em leitura de seu destinatário e não se confunde com a forma arquitetônica.

A introdução dos enunciados é, predominantemente, de tipo informativo. São apresentados dados suficientes para que o leitor possa compreender o editorial, sem que, para isso, tenha que conhecer previamente a notícia que motivou o posicionamento do jornal. Esse fato, que não apresenta qualquer coerção temática, aparentemente, encena um diálogo com um leitor habituado à leitura dos gêneros opinativos, visto que, por meio deles, a exemplo dos editoriais, é possível recuperar o conteúdo noticioso considerado relevante pela empresa jornalística. O primeiro parágrafo do editorial Violencia en Brasil, de 16 de fevereiro de 2020, em anexo, é exemplar desse processo21 21 Reproduzimos, no Anexo B, a tradução do editorial Violencia en Brasil (2020) exatamente como foi publicada na edição brasileira do jornal El País, sob o título “A queda da violência num Brasil envolto no mistério da morte de Adriano da Nóbrega” (2020). :

Los asesinatos cayeron en Brasil un 19% en 2019, el mayor descenso desde que comenzó el recuento que gracias a una iniciativa de la sociedad civil reúne y homologa los datos estatales desde 2007. Es una noticia esperanzadora, pese a que con más de 41.000 muertos el gigante sudamericano se mantiene entre los países más violentos del mundo. Son casi 10.000 asesinados menos que un año antes y también han disminuido otros delitos, como los robos o las violaciones. Los datos confirman una tendencia que asomaba hacía meses. Son logros importantes porque la inseguridad es una de las principales preocupaciones de los 210 millones de brasileños, sean ricos o pobres. Y es lógico que el Gobierno del presidente Bolsonaro se felicite por ello (VIOLENCIA, 2020VIOLENCIA en Brasil. El País, Opinión, Madrid, 17 feb. 2020. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2020/02/16/opinion/1581872745_226836.html. Acesso em: 24 ago. 2020.
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).

O desenvolvimento da argumentação, ou seja, a análise e interpretação do acontecimento, de modo geral, é permeado pela recuperação de fatos históricos, apresentação de dados estatísticos, exposição de argumentos positivos e negativos, difusão de pesquisas, menção ao posicionamento de especialistas e/ou a padrões estabelecidos por organismos internacionais.

No editorial que recortamos para fundamentar nossa análise, à informação referente à redução do número de assassinatos e outros delitos cometidos no Brasil em 2019 é contraposto um dado referente ao aumento do número de mortos em operações policiais. A contraposição é marcada pelo emprego da locução adversativa sin embargo que abre o segundo parágrafo:

Sin embargo, hay otro dato que no se puede obviar. Las muertes en operaciones policiales —también entre las más altas del mundo— han aumentado notablemente, sobre todo en el Estado de Río de Janeiro, donde hubo más de 1.800 víctimas el año pasado, el máximo en dos décadas. Es un nivel de letalidad policial incompatible con un Estado de derecho afianzado, en el que las fuerzas de seguridad tienen el deber de proteger a la ciudadanía en lugar de ser consideradas por amplios sectores de la sociedad como una amenaza (VIOLENCIA, 2020VIOLENCIA en Brasil. El País, Opinión, Madrid, 17 feb. 2020. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2020/02/16/opinion/1581872745_226836.html. Acesso em: 24 ago. 2020.
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).

Nesse fragmento, a expressão de opinião, que no parágrafo introdutório fica restrita aos adjetivos esperanzadora e gigante atribuídos, respectivamente, à notícia sobre a redução do índice de criminalidade e ao país em pauta, ganha contornos mais precisos. O autor tece considerações a respeito da discrepância entre o nível de letalidade policial e um estado democrático, apoiando-se na suposta perspectiva de amplos setores da sociedade a respeito das forças de segurança.

A argumentação se sustenta, ainda, na alusão a dados estatísticos sobre o perfil dos que perdem a vida em ações policiais e na inconclusividade dos inquéritos que apuram a responsabilidade por essas mortes:

Las estadísticas muestran que la mayoría de las víctimas de acciones policiales son hombres negros y pobres que mueren alcanzados por disparos en incursiones contra el tráfico de drogas en favelas. Rara vez las investigaciones sobre esas muertes determinan que los agentes se excedieron en el uso de la fuerza, lo que refuerza una sensación de impunidad (VIOLENCIA, 2020VIOLENCIA en Brasil. El País, Opinión, Madrid, 17 feb. 2020. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2020/02/16/opinion/1581872745_226836.html. Acesso em: 24 ago. 2020.
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).

Se, no final do primeiro parágrafo, o jornal admite como legítimo que o governo de Jair Bolsonaro se congratule pela queda no número de homicídios, os parágrafos intermediários alicerçam a crítica que toma corpo no parágrafo final:

El presidente Bolsonaro atribuye a su Gobierno la histórica caída de los asesinatos en su primer año de mandato, pero nada dice de las cifras de fallecidos en operativos policiales que han hecho saltar las alarmas incluso en Naciones Unidas. Su pretensión de blindar por ley a los agentes que abaten a sospechosos en intervenciones policiales fue frenada en el Congreso, pero su intención de flexibilizar la compra y tenencia de armas es firme. Los especialistas atribuyen el descenso de las muertes violentas a una conjunción de factores que van más allá́ de la acción del Gobierno federal, y advierten contra el uso de la caída de los delitos para legitimar el abuso de la fuerza. La muerte de un antiguo policía sospechoso del crimen que le costó la vida a la concejal izquierdista Marielle Franco ha puesto el foco sobre las bandas criminales de exagentes y sobre sus conexiones con políticos locales, sospechas que salpican al senador Flávio Bolsonaro. El presidente no puede obviar esta realidad. Tiene la obligación de despejar cualquier tipo de relación y tomar medidas para evitar un mayor daño a la democracia (VIOLENCIA, 2020VIOLENCIA en Brasil. El País, Opinión, Madrid, 17 feb. 2020. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2020/02/16/opinion/1581872745_226836.html. Acesso em: 24 ago. 2020.
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).

A crítica contundente ao mandatário brasileiro é construída em torno de seu silêncio frente à quantidade de mortos em operações policiais, vista com assombro também pelas Nações Unidas, um argumento de autoridade. Outro recurso mobilizado refere-se à voz dos especialistas sobre a redução do número de homicídios (o que retira a centralidade das supostas ações do governo na redução da criminalidade) e sua advertência sobre o uso das estatísticas para legitimar a violência policial. Basta ao discurso jornalístico aludir aos especialistas para construir sua argumentação, sem precisar quem são eles e/ou em que áreas atuam. O mesmo se dá em relação aos “amplos setores da sociedade” mencionados no segundo parágrafo. Assim, ao longo do enunciado, o posicionamento do El País vai sendo construído sobre argumentos, em alguma medida, irrefutáveis. É como se o jornal afirmasse “é verdade, porque não sou eu que digo”, forjando, dessa maneira, uma opinião que parece emanar do seio da vida social.

Essa forma de construção da argumentação expõe o diálogo com um veículo de comunicação supostamente reconhecido pelo destinatário como fiável e detentor de conhecimento cabal. É para o leitor que hipoteticamente respeita o jornal como “fonte primária”, haja vista a prática discursiva que o faz parecer próximo e/ou na origem da informação – tal como assinalamos na análise de Violencia en Brasil (2020)VIOLENCIA en Brasil. El País, Opinión, Madrid, 17 feb. 2020. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2020/02/16/opinion/1581872745_226836.html. Acesso em: 24 ago. 2020.
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– que os editoriais são produzidos. Ao que parece, o jornal coloca em circulação uma opinião já formada entre o público, procurando consolidar o que supostamente seriam as expectativas dos demais participantes da interação discursiva. Nossa leitura pode ser reforçada pelo juízo expresso no manual do jornal a respeito de quem detém a posse da informação: “Desde que foi fundado, no EL PAÍS, considera-se que os leitores são os proprietários definitivos da informação, e os jornalistas, tão somente os mediadores entre os dois” (EL PAÍS, 2014, p.8EL PAÍS. Libro de estilo. 22 ed. Madrid: Aguilar, 2014. Edição do Kindle., tradução nossa)22 22 No original: “Desde que se fundó, en EL PAÍS se ha considerado que son los lectores los propietarios últimos de la información, y los periodistas tan sólo los mediadores entre aquéllos y ésta”. .

A densidade dos parágrafos contrasta com a imagem colorida que ilustra cada enunciado e produz certa leveza na página (vide Anexo A). Talvez resida, nesse recurso, o traço mais evidente, no gênero analisado, da integração do El País a um dos preceitos do jornalismo em meio digital: a multimedialidade (PALACIOS, 2003PALACIOS, M. Jornalismo online, informação e memória: apontamentos para debate. In: FIDALGO, A.; SERRA, P.(org.). Informação e comunicação online: jornalismo online. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2003, p.75-89. v. 1. Disponível em: http://labcom.ubi.pt/ficheiros/20110829-fidalgo_serra_ico1_jornalismo_online.pdf. Acesso em: 9 set. 2020.
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). Trata-se, contudo, de uma integração comedida se consideramos que o uso de imagens estáticas coloridas se tornou bastante comum nas práticas jornalísticas há, pelo menos, três décadas. A “novidade” reside no emprego dessas imagens em um gênero que, historicamente e, principalmente, em edições impressas, não é ilustrado. Por meio da fotografia, o jornal procura assegurar uma espécie de pausa para o ciberleitor, um indivíduo supostamente familiarizado com a linguagem verbo-visual, e marcar a proximidade entre a opinião da empresa jornalística e a situação extralinguística: a vida é em cores.

A hipertextualidade (PALACIOS, 2003PALACIOS, M. Jornalismo online, informação e memória: apontamentos para debate. In: FIDALGO, A.; SERRA, P.(org.). Informação e comunicação online: jornalismo online. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2003, p.75-89. v. 1. Disponível em: http://labcom.ubi.pt/ficheiros/20110829-fidalgo_serra_ico1_jornalismo_online.pdf. Acesso em: 9 set. 2020.
http://labcom.ubi.pt/ficheiros/20110829-...
), outra característica dessa forma de jornalismo, não se verifica no corpus. Ao longo dos enunciados, não há elementos destacados que, acionados por meio de um clique, remetem a outro hipertexto. No entanto, o jornal, como afirmamos anteriormente, não se abstém do emprego de links23 23 Os editoriais sobre o Brasil publicados na edição espanhola são traduzidos e postos em circulação também na edição brasileira do El País. No entanto, nesse contexto, como se pode observar em A queda da violência num Brasil envolto no mistério da morte de Adriano da Nóbrega (2020), tradução de Violencia en Brasil (2020) reproduzida, aqui, no Anexo B, o jornal “abusa” do emprego de links e define um título para o enunciado que em nada se aproxima do verificado no corpus de análise. Grosso modo, esses aspectos do estilo do enunciado endereçado especificamente ao público brasileiro sugerem uma alteração substancial na relação dialógica estabelecida entre o El País e o leitor que merece ser examinada. .

Em seu manual de estilo, na parte reservada à prescrição de normas para as notícias veiculadas no site (extensivas aos demais gêneros jornalísticos), os links são considerados elementos diferenciais da internet destinados a contribuir com mais informação e referências, ajudar na contextualização e aumentar o tempo de navegação (EL PAÍS, 2014EL PAÍS. Libro de estilo. 22 ed. Madrid: Aguilar, 2014. Edição do Kindle.). Quanto a seu emprego, afirma-se: “É preciso considerar que os links podem desviar o leitor do relato principal e, portanto, devem ser usados com comedimento” (EL PAÍS, 2014, p.46EL PAÍS. Libro de estilo. 22 ed. Madrid: Aguilar, 2014. Edição do Kindle., tradução nossa)24 24 No original: “Ha de tenerse en cuenta que los enlaces pueden desviar al lector del relato principal y, por tanto, han de usarse con comedimiento”. .

Se a presença de links ao longo de um enunciado jornalístico, por um lado, pode conferir certa liberdade ao leitor para construir seu percurso de leitura, não necessariamente linear, e preencher supostas lacunas de conhecimento, sua ausência, por outro lado, pode ser vista como um indício de que o leitor presumido está bem informado e valoriza um modo de leitura mais próximo daquele que se dá na edição impressa.

A apresentação desse recurso sob a forma de olho, ao que parece, reforça o diálogo com um leitor cativo da seção Opinião, visto que os links remetem, na maioria das vezes, a editoriais correlacionados. Ela também aponta para uma estratégia do El País de aproximar o gênero editorial de sua versão impressa, por prescindir do hipertexto, ao mesmo tempo em que reconhece a importância comercial de divulgar matérias jornalísticas e manter o leitor por mais tempo no site. Em outras palavras, a exemplo da justificativa dada pelo El País, no final dos anos 1990, para a inclusão de fotografias coloridas na edição impressa, os links, nos editoriais, também parecem responder ao desejo do jornal de adequar-se às novas tecnologias sem, no entanto, renunciar ao rigor e à qualidade que supostamente conformam sua identidade. Essa prática jornalística, em alguma medida, expõe um olhar sobre o on-line a partir do impresso que pode implicar preconceitos, tal como ocorre, no campo dos estudos da linguagem, quando a modalidade oral da linguagem é “lida” a partir da modalidade escrita25 25 Para uma história do pensamento sobre fala e escrita, suas dicotomias e paradigmas, ver Marcuschi (2004). .

Por fim, as escolhas lexicais – comuns, frequentes, de fácil compreensão – reiteram o diálogo com um público leitor heterogêneo:

Os jornalistas hão de escrever com o estilo dos jornalistas, não com o dos políticos, dos economistas ou dos advogados. Os jornalistas têm a obrigação de comunicar e tornar acessível ao público em geral a informação técnica ou especializada. A presença de palavras eruditas não explicadas reflete a incapacidade do redator para compreender e transmitir uma realidade complexa (EL PAÍS, 2014, p.31EL PAÍS. Libro de estilo. 22 ed. Madrid: Aguilar, 2014. Edição do Kindle., tradução nossa)26 26 No original: “Los periodistas han de escribir con el estilo de los periodistas, no con el de los políticos, los economistas o los abogados. Los periodistas tienen la obligación de comunicar y hacer accesible al público en general la información técnica o especializada. La presencia de palabras eruditas no explicadas refleja la incapacidad del redactor para comprender y transmitir una realidad compleja”. .

A ocorrência de três latinismos é exemplar do “estilo” dos jornalistas recomendado no manual de estilo. As locuções ex post e ex ante aparecem no enunciado El Peñón y el veto, de 5 de fevereiro de 2020EL PEÑÓN y el veto. El País, Opinión, Madrid, 5 feb. 2020. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2020/02/04/opinion/1580839324_627103.html. Acesso em: 1 dez. 2020.
https://elpais.com/elpais/2020/02/04/opi...
, acompanhadas de uma explicação entre parênteses. Elas remetem a um contexto muito específico dos acordos estabelecidos no marco da União Europeia:

Pese a ese traspiés diplomático, que conviene no repetir —y menos aún en un asunto tan sensible—, esta eventual nueva mesa podría prestar algunos servicios complementarios, a condición estricta de que el papel en ella de España no se produzca ex post (en la fase de validación de los acuerdos) sino ex ante (con carácter previo a su fragua) (EL PEÑÓN, 2020EL PEÑÓN y el veto. El País, Opinión, Madrid, 5 feb. 2020. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2020/02/04/opinion/1580839324_627103.html. Acesso em: 1 dez. 2020.
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)27 27 Em português: “Apesar deste revés diplomático, que convém não se repetir – e muito menos em um assunto tão delicado – essa eventual nova reunião poderá contribuir com alguns serviços complementares, com a estrita condição de que o papel da Espanha não ocorra ex post (na fase de validação dos acordos), mas ex ante (com caráter prévio à sua formalização)”. .

No entanto, no enunciado Mal momento, de 11 de fevereiro de 2020, também relacionado ao bloco econômico, sine die é empregada sem qualquer explicação, o que pode ser interpretado como um indício do pertencimento dessa locução ao conhecimento supostamente partilhado entre o redator e o leitor:

Si también se demora sine die un acercamiento de la política fiscal entre los socios europeos y sigue sin concretarse la recuperación de los ingresos fiscales escamoteados por los grupos tecnológicos, queda reforzada la percepción pesimista de que la UE no valora la cohesión social o económica (MAL, 2020MAL momento. El País, Opinión, Madrid, 11 feb. 2020. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2020/02/10/opinion/1581357414_854935.html. Acesso em: 1 dez. 2020.
https://elpais.com/elpais/2020/02/10/opi...
)28 28 Em português: “Caso também se prorrogue sine die uma aproximação da política fiscal entre os sócios europeus e continue sem se concretizar a recuperação das receitas fiscais sonegadas por grupos de tecnologia, ficará reforçada a percepção pessimista de que a União Europeia não valoriza a coesão social ou econômica”. .

A nosso ver, essa ocorrência demonstra que o emprego de um léxico acessível visa a abarcar um auditório muito diverso sem, no entanto, desprezar seu conhecimento29 29 Outro indício de que o jornal não desqualifica seu leitor, talvez, resida no fato de que a frase em português estampada na camiseta da brasileira retratada na fotografia que ilustra o editorial Violencia en Brasil (2020) tampouco foi traduzida. .

Na relação dialógica estabelecida por meio do estilo dos enunciados, fica evidenciada a razão pela qual o público leitor presumido é, também, cativo: os editoriais do El País são produzidos com linguagem acessível, versam, em sua maioria, sobre assuntos que não se restringem ao contexto mais imediato da interação discursiva, são, além do mais, informativos.

Com isso, o El País dialoga com um público leitor absolutamente heterogêneo, formado, principalmente, por espanhóis, outros europeus e latino-americanos, fazendo valer, por meio das escolhas linguísticas, sua difusão em escala mundial. Para uma empresa que se autodenomina global, uma linguagem clara, acessível, partilhada por falantes nativos de diferentes variedades da língua espanhola e estrangeiros é tão fundamental quanto a defesa de valores democráticos e de pautas relacionadas a direitos humanos e a mudanças políticas e sociais. Corroboram nossa leitura as palavras do então presidente do Grupo PRISA, Juan Luis Cebrián, em sua autobiografia:

Queria fazer um jornal de perfil equilibrado e sucinto, um jornal sóbrio, bem escrito, documentado em suas análises e plural em suas opiniões. (...) lido e respeitado, tanto pela elite como pelas pessoas comuns, que desempenhasse um papel essencial na formação da opinião pública (CEBRIÁN apud ARIAS, 2017ARIAS, J. O El País é um jornal de esquerda? El País, Opinião, São Paulo, 22 fev. 2017. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/22/opinion/1487788532_309244.html. Acesso em: 2 dez. 2020.
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02...
).

A comunidade de leitores da edição digital, dados seus números expressivos, parece responder ao diálogo validando o editorial, não como um gênero sério, excessivamente formal e/ou distante do público em geral, mas como um evento da vida social.

Considerações finais

A análise que realizamos dos editoriais em língua espanhola veiculados na edição digital do El País revela um processo axiológico de responsividade, ao que parece, pautado na consideração da grande diversidade do público leitor e de sua proficiência.

O diálogo com um auditório consideravelmente amplo e heterogêneo se revela na arquitetônica e nas três dimensões do gênero analisado: em seu conteúdo temático, em sua construção composicional e em seu estilo.

A seleção do que merece a opinião da empresa jornalística demonstra que o leitor presumido não se restringe aos residentes no território espanhol, mas avança, principalmente, as fronteiras dos demais países pertencentes ao continente europeu e se localiza também no continente americano. A suposição da diversidade etnolinguística entre os destinatários do jornal (indivíduos falantes de diferentes variedades da língua espanhola e estrangeiros) evidencia a importância da escolha de recursos lexicais claros, descomplicados, compreensíveis. Essa estratégia pretende contemplar um público leitor absolutamente diverso e “democratizar” o acesso à informação e à opinião fundamentada, um eufemismo para o que, em outro momento histórico, poderia ser considerado expansionismo.

O leitor presumido pelo El País não apenas lê em língua espanhola, mas lê textos com uma configuração espessa e de caráter opinativo. Não fosse assim, que razão teria o jornal para sugerir a leitura de outros editoriais quando poderia reter o tempo de navegação do leitor com qualquer outro gênero jornalístico?

É evidente que o jornal também pressupõe um leitor ocasional que acessa suas páginas a partir de redes sociais e sistemas de busca e parece um pouco despreparado. A presunção desse leitor, seja por meio da ilustração dos enunciados com grandes fotografias coloridas ou da apresentação prévia de seu título, subtítulo e imagem em miniatura, a nosso ver, é um sinal do funcionamento do campo jornalístico em meio digital, uma atividade comercial que não pode prescindir dos cliques. Sua presença na edição digital do El País, entretanto, não se sobrepõe à presença do leitor considerado “de fato” e “de direito”.

Essa oscilação no diálogo estabelecido entre o jornal e um leitor ora habitual, ora eventual pode ser vista como um efeito da produção, circulação e recepção dos enunciados analisados em meio digital. De acordo com Grillo (2005, p.174)GRILLO, S. V. de C. A noção de campo nas obras de Bourdieu e do Círculo de Bakhtin: suas implicações para a teorização dos gêneros do discurso. Revista da ANPOLL, Florianópolis, n. 19, p.151-184, jul./dez. 2005. Disponível em: https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/461. Acesso em: 10 ago. 2020.
https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/...
, “a relação do enunciado com seus co-enunciadores – a antecipação de sua atitude responsiva, o conhecimento de sua posição social, seus gostos, suas preferências etc. – também é condicionada pelas especificidades de um campo”. Nossa análise aponta indícios de que a digitalização das práticas do campo jornalístico altera o produto da inter-relação estabelecida entre o El País e seu horizonte social.

Do ponto de vista teórico adotado, pode-se afirmar que estão em curso mudanças relacionadas ao vínculo indissociável entre a totalidade interna dos editoriais e a realidade externa axiológica. A partir da internet, a imagem típica do leitor de jornal se altera. Se comparada ao impresso, uma nova arquitetônica começa a tomar corpo fundamentada na considerável ampliação do público leitor e dos limites de tempo e espaço impostas ao campo jornalístico. Sendo assim, esse conceito, ainda pouco explorado nos estudos bakhtinianos, mostra-se bastante produtivo para a análise dos gêneros de discurso cujo modo de circulação se dá de forma on-line e para a apreensão de suas idiossincrasias socioculturais, históricas e discursivas.

Consideramos, por fim, que a forma arquitetônica determinante da forma composicional dos enunciados analisados está alicerçada na avaliação de que a leitura faz parte dos hábitos dos participantes da interação discursiva e de que a língua espanhola apresenta um inestimável valor econômico. É por essa razão que, em seus editoriais, o El País pode renunciar a um estilo que poderia distanciá- lo do grande público.

  • 1
    Adotamos o termo campo em consonância com Bakhtin (2016)BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas Paulo Bezerra. Notas da edição russa Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016. p.11-69..
  • 2
    No original: “Los progresistas llevaban EL PAÍS bajo el brazo. Era un guiño, ideológico, una señal para reconocer a los tuyos al pie del quiosco, en las cafeterías, en el autobús. (...) los jóvenes rebeldes llevaban EL PAÍS hasta los lugares de la batalla. El periódico era arrollado junto con sus lectores cuando los caballos de la policía irrumpían en las cafeterías de Moncloa persiguiendo a los manifestantes”.
  • 3
    No original: “Por su vigorosa defensa de las libertades y apoyo al cambio político y social, se granjeó la fidelidad de lectores cada vez más numerosos. Símbolo y portavoz de la España moderna y pluralista, de clara vocación europea, se convirtió en cuatro años en el periódico más leído y en el medio de referencia para los sectores más influyentes de la sociedad”.
  • 4
    O primeiro slogan adotado pelo El País foi Diario independiente de la mañana (Diário independente da manhã). Em 2007, esse slogan foi substituído por El periódico global en español (O jornal global em espanhol). A versão atual, ao excluir a referência ao idioma, procura abarcar a diversidade de edições e línguas em que o jornal on-line é publicado.
  • 5
    No original: “Lo leían los amantes de los Rolling Stones, los políticos en las sedes de los partidos, los sindicalistas en las oficinas, los diseñadores, interioristas, los artistas iniciáticos de la movida, los diplomáticos y los primeros punkis reciclados. Ya hacía tiempo que todos los padres de la patria se miraban cada mañana en este espejo para saber quién era el más guapo. EL PAÍS no pretendía derribar a ningún Gobierno. Le bastaba con saber que podía levantar de la cama al presidente y obligarle a leer un editorial en pijama”.
  • 6
    As edições AME, MEX, BRA e CAT apresentam textos publicados na edição ESP (traduzidos para o português e o catalão, conforme o caso) e textos próprios, ou seja, produzidos por jornalistas que atuam nas redações locais.
  • 7
    Para a análise que desenvolveremos aqui, é importante salientar o fato de que os enunciados pertencentes ao gênero editorial figuram igualmente nas edições ESP e AME.
  • 8
    No original: “El cambio no es consecuencia de una mera adaptación estética, sino que responde al deseo de EL PAÍS de continuar en su línea de necesaria y permanente adecuación del periódico a las nuevas tendencias de la sociedad (...) sin perder por ello sus señas de identidad de rigor y periodismo de calidad”.
  • 9
    Durante o período recortado para análise, houve dia em que não foram publicados editoriais, dia em que foi publicado apenas um editorial e dia em que foram publicados três editoriais.
  • 10
    As descrições são referentes ao que foi observado no site do jornal no primeiro semestre de 2020.
  • 11
    Essa seção não se confunde com colunismo social, mas está voltada para assuntos relacionados a saúde, meio ambiente, igualdade, consumo, comunicação, laicismo e educação.
  • 12
    Diferentemente da divisão normalmente encontrada em jornais brasileiros, o El País não reserva uma seção específica para conteúdos relativos ao cenário político e governamental. Os textos a esse respeito aparecem distribuídos em seções como, Espanha, Economia, Sociedade e Educação.
  • 13
    Jargão jornalístico empregado para designar o destaque, na diagramação, de parte da matéria considerada interessante e/ou que possa atrair a atenção do leitor para o texto.
  • 14
    No corpus, há apenas dois enunciados com links para informação relacionada.
  • 15
    O botão de informação e a mensagem correspondente são encontrados também em outros gêneros opinativos.
  • 16
    No original: “Es responsabilidad del director, y expresa la opinión del diario sobre asuntos de actualidad nacional o internacional”.
  • 17
    Em português, os títulos dos editoriais seriam, respectivamente: Confiança, Situação insustentável, Violência no Brasil, Combater a solidão, Começa a corrida, O campo negocia (tradução nossa).
  • 18
    No original: “Quedan a criterio del autor, pero, como todos los títulos, su misión es orientar al lector sobre el contenido. (…) no deben destripar el remate final del texto”.
  • 19
    No original: “A resposta em vista do coronavírus deve ser coordenada pela OMS”.
  • 20
    Sobre estratégias de leitura, ver Kleiman (2013)KLEIMAN, A. Oficina de leitura: teoria e prática. 15. ed. Campinas, SP: Pontes, 2013..
  • 21
    Reproduzimos, no Anexo B, a tradução do editorial Violencia en Brasil (2020)VIOLENCIA en Brasil. El País, Opinión, Madrid, 17 feb. 2020. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2020/02/16/opinion/1581872745_226836.html. Acesso em: 24 ago. 2020.
    https://elpais.com/elpais/2020/02/16/opi...
    exatamente como foi publicada na edição brasileira do jornal El País, sob o título “A queda da violência num Brasil envolto no mistério da morte de Adriano da Nóbrega” (2020).
  • 22
    No original: “Desde que se fundó, en EL PAÍS se ha considerado que son los lectores los propietarios últimos de la información, y los periodistas tan sólo los mediadores entre aquéllos y ésta”.
  • 23
    Os editoriais sobre o Brasil publicados na edição espanhola são traduzidos e postos em circulação também na edição brasileira do El País. No entanto, nesse contexto, como se pode observar em A queda da violência num Brasil envolto no mistério da morte de Adriano da Nóbrega (2020), tradução de Violencia en Brasil (2020)VIOLENCIA en Brasil. El País, Opinión, Madrid, 17 feb. 2020. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2020/02/16/opinion/1581872745_226836.html. Acesso em: 24 ago. 2020.
    https://elpais.com/elpais/2020/02/16/opi...
    reproduzida, aqui, no Anexo B, o jornal “abusa” do emprego de links e define um título para o enunciado que em nada se aproxima do verificado no corpus de análise. Grosso modo, esses aspectos do estilo do enunciado endereçado especificamente ao público brasileiro sugerem uma alteração substancial na relação dialógica estabelecida entre o El País e o leitor que merece ser examinada.
  • 24
    No original: “Ha de tenerse en cuenta que los enlaces pueden desviar al lector del relato principal y, por tanto, han de usarse con comedimiento”.
  • 25
    Para uma história do pensamento sobre fala e escrita, suas dicotomias e paradigmas, ver Marcuschi (2004)MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2004..
  • 26
    No original: “Los periodistas han de escribir con el estilo de los periodistas, no con el de los políticos, los economistas o los abogados. Los periodistas tienen la obligación de comunicar y hacer accesible al público en general la información técnica o especializada. La presencia de palabras eruditas no explicadas refleja la incapacidad del redactor para comprender y transmitir una realidad compleja”.
  • 27
    Em português: “Apesar deste revés diplomático, que convém não se repetir – e muito menos em um assunto tão delicado – essa eventual nova reunião poderá contribuir com alguns serviços complementares, com a estrita condição de que o papel da Espanha não ocorra ex post (na fase de validação dos acordos), mas ex ante (com caráter prévio à sua formalização)”.
  • 28
    Em português: “Caso também se prorrogue sine die uma aproximação da política fiscal entre os sócios europeus e continue sem se concretizar a recuperação das receitas fiscais sonegadas por grupos de tecnologia, ficará reforçada a percepção pessimista de que a União Europeia não valoriza a coesão social ou econômica”.
  • 29
    Outro indício de que o jornal não desqualifica seu leitor, talvez, resida no fato de que a frase em português estampada na camiseta da brasileira retratada na fotografia que ilustra o editorial Violencia en Brasil (2020)VIOLENCIA en Brasil. El País, Opinión, Madrid, 17 feb. 2020. Disponível em: https://elpais.com/elpais/2020/02/16/opinion/1581872745_226836.html. Acesso em: 24 ago. 2020.
    https://elpais.com/elpais/2020/02/16/opi...
    tampouco foi traduzida.
  • ERRATA

    Em nosso último número (17.1), houve um equívoco na filiação da autora do artigo “Editoriais do El País a partir da perspectiva dialógica”. Trata-se de Heloisa Mara Mendes, da Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Letras e Linguística, a quem publicamente apresentamos nossas desculpas. hlsmnds@ufu.br

REFERENCES

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  • VOLÓCHINOV. V. N. (Círculo de Bakhtin). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 2. ed. Tradução, ensaio introdutório, glossário e notas Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2018.
  • VOLÓCHINOV, V. (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética sociológica. In: VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia Organização, tradução, ensaio introdutório e notas Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019. p.109-146.

Pareceres

Parecer I

O artigo tem por objetivo discutir os editoriais do jornal espanhol El País numa perspectiva discursiva bakhtiniana. O título já sintetiza de modo preciso o que se discute no artigo, cuja organização textual permite acompanhar o desenvolvimento lógico da proposta. A parte teórica que fundamenta a pesquisa está adequada à proposta e apresenta com coerência as categorias que são exploradas nos editoriais selecionados como objetos de análise. A pesquisa é coerente e representa a etapa de um projeto mais amplo. Numa linguagem clara e objetiva sem problemas redacionais torna mais explícita sua proposta investigativa. As obras e os autores mencionados estão adequados à proposta de pesquisa na perspectiva dialógica da linguagem. Por isso considero o artigo adequado à publicação. APROVADO

Miriam Bauab Puzzo - https://orcid.org/0000-0002-0046-7159; puzzo@uol.com.br; Universidade de Taubaté: Taubaté, SP, Brazil;

Parecer II

O artigo atende à maioria dos critérios de avaliação estabelecidos pela revista: o título é adequado, os objetivos são claramente explicitados e o desenvolvimento do texto é coerente com a proposta. A linguagem é correta, clara e adequada ao trabalho científico. No entanto, a discussão teórica poderia ser mais ampla e aprofundada. A apresentação da noção de gênero a partir do ensaio “Os gêneros do discurso” retoma elementos bastante conhecidos, mas o componente expressivo, inseparável da posição do autor, ou seja, o posicionamento axiológico, importantíssimo no gênero analisado, não é explorado nem na parte teórica nem na análise. A noção de arquitetônica também merece um aprofundamento, tendo em vista que é apontada como uma categoria de análise. Sugiro um aprofundamento das noções indicadas no parecer. APROVADO COM RESTRIÇÕES

Doris Arruda Cunha - https://orcid.org/0000-0001-5349-2887; dorisarrudacunha@gmail.com; Universidade Católica de Pernambuco: Recife, PE, Brasil; Universidade Federal de Pernambuco: Recife, PE, Brasil;

Parecer editorial

Considerando os pareceres acima, solicitamos aos autores que atendam as solicitações do segundo parecerista, revisem o texto e o reenviem para o email da revista bakhtinianarevista@gmail.com até 05-04-2021 para nova avaliação.

Parecer III

O artigo foi reapresentado com acréscimos na fundamentação teórica em relação à versão anterior. Conforme avaliação anterior, o texto atende à maioria dos critérios de avaliação estabelecidos pela revista: o título é adequado, os objetivos são claramente explicitados e o desenvolvimento do texto é coerente com a proposta. A linguagem é correta, clara e adequada ao trabalho científico. Os acréscimos feitos referem-se à noção de arquitetônica e ao posicionamento axiológico. APROVADO

Doris Arruda Cunha - https://orcid.org/0000-0001-5349-2887; dorisarrudacunha@gmail.com; Universidade Católica de Pernambuco: Recife, PE, Brasil; Universidade Federal de Pernambuco: Recife, PE, Brasil;

Parecer final

Considerando o parecer anexado, o artigo “Editoriais do El País a partir da perspectiva dialógica” está APROVADO. Solicitamos que realize a atenta leitura das orientações a seguir, com os próximos passos para edição e publicação em Bakhtiniana. Revista de Estudos do Discurso e reenvie os textos para o email bakhtinianarevista@gmail.com até 30-05-2021.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    Jan-Mar 2022

Histórico

  • Recebido
    11 Fev 2021
  • Aceito
    16 Set 2021
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