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O LUGAR DA HISTÓRIA DA ARTE E A CRISE DA CONFERÊNCIA

THE PLACE OF ART HISTORY AND THE CRISIS OF THE CONFERENCE

EL LUGAR DE LA HISTORIA DEL ARTE Y LA CRISIS DE LA CONFERENCIA

RESUMO

Este ensaio propõe uma reflexão sobre o modo como a Covid-19 acelerou a crise da conferência – aqui entendida, genericamente, como uma reunião científico-acadêmica. A pandemia acrescentou uma nova dimensão – a epidemiológica – a críticas de ordem econômica, social e ecológica que já vinham sendo formuladas em relação a esse tipo de evento. Por outro lado, conferências tiveram, desde o século XIX, papel fulcral na criação de uma rede global de desenvolvimento e cooperação acadêmica. Com o recente recrudescimento de posturas negacionistas e xenófobas em distintas partes do mundo, cumpre preservar e mesmo expandir esses espaços supranacionais de intercâmbio. Neste ensaio busca-se rascunhar algumas possíveis alternativas ao formato tradicional da conferência, prestando especial atenção ao campo das artes e história da arte.

Globalismo; Covid-19; História da conferência; Arte e História da Arte

ABSTRACT

This essay considers the ways in which Covid-19 has accelerated the crisis of the conference – for our purposes generally understood as a scientific-academic meeting. The pandemic has added a new dimension – the epidemiological – to economic, social and ecological criticisms that were already being formulated with regard to this type of event. On the other hand, conferences had, since the 19th century, a central role in the creation of a global network of academic development and cooperation. With the recent upsurge of denialist and xenophobic positions worldwide, it is imperative to preserve and even expand supranational interchanges. This essay seeks to draft possible alternatives to the traditional format of conferences, paying special attention to the fields of art and art history.

Globalism; Covid-19; History of the Conference; Art and Art History

RESUMEN

Este ensayo propone una reflexión sobre como la Covid-19 aceleró la crisis de la conferencia – aquí entendida genéricamente como reunión científico-académica. La pandemia acreció una nueva dimensión – la epidemiológica – a criticas de orden económico, social y ecológico que venían siendo formuladas respecto a ese tipo de evento. Por otro lado, conferencias tuvieran, desde el siglo XIX, rol central en la creación de una red global de desarrollo y cooperación académica. Con el reciente incremento de posiciones negacionistas y xenófobas en distintas partes del mundo, cumple preservar e incluso expandir esos espacios supranacionales de intercambio. En este ensayo se intenta esbozar algunas alternativas posibles al formato tradicional de conferencia, concediendo especial atención al campo del arte e historia del arte.

Globalismo; Covid-19; Historia de la conferencia; Arte e Historia del Arte

Em 11 março de 2020, o então diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, declarou que a Covid-19 havia se tornado uma pandemia1 1 . Para o pronunciamento de Adhanom, cf. https://www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020 . Acesso em: 12 mai. 2021. . Seguiram-se medidas adaptativas em escolas, locais de trabalho, áreas de lazer, espaços de cultura, meios de transporte e universidades, entre outras esferas da vida social. No âmbito acadêmico, atividades presenciais vinculadas ao ensino superior e à pesquisa foram suspensas em praticamente todo o mundo; mais de um ano depois, em junho de 2021, grande parte dessas suspensões ainda vigorava.

Neste ensaio, procurarei examinar um aspecto específico do impacto da Covid-19 no meio acadêmico, prestando especial atenção ao campo das artes e da história da arte: o cancelamento de congressos, conferências, simpósios e outras formas de reuniões científico-acadêmicas. Para fins de simplificação e clareza, doravante essas diferentes modalidades de evento serão genericamente referidas como “conferência”.

A conferência pode ser caracterizada como um encontro de ordem regional, nacional ou internacional entre pesquisadores atuantes em uma determinada área do conhecimento. Tal como o conhecemos contemporaneamente, esse tipo de evento prosperou a partir da segunda metade do século XIX, paralelamente ao surgimento de associações e sociedades em distintas áreas do conhecimento que promoviam eventos científicos anuais em diferentes sedes. Cite-se, a título de exemplo, a British Science Association (1831), de natureza geral, ou sociedades especializadas como a Deutsche Physikalische Gesellschaft (1845), American Chemical Society (1876) ou a Société Française de Physique (1873). No campo específico da história da arte, o Comité international d’histoire de l’art (CIHA), considerado a mais antiga instituição histórico-artística do mundo, foi constituído em Viena em 18732 2 . Cf. DUFRENE (2007) . . Desde então, a conferência revelou-se fundamental para o intercâmbio acadêmico, o estabelecimento de relações profissionais supranacionais e a divulgação científica. Seu princípio fundamental é o compartilhamento de pesquisas realizadas em diferentes espaços e, nesse sentido, ela foi crucial para o estabelecimento de redes científicas internacionais que, muitas vezes, serviram como contrapeso para o nacionalismo em momentos históricos tão delicados quanto, por exemplo, a guerra fria.

Nas primeiras décadas do século XXI, a quantidade de conferências realizadas mundialmente aumentou exponencialmente3 3 . A partir do seu surgimento, em meados do século XIX, e até 2017, estima-se que tenham sido realizadas 170.000 conferências internacionais. Ver https://heranet.info/projects/public-spaces-culture-and-integration-in-europe/the-scientific-conference-a-social-cultural-and-political-history/ . Acesso em: 28 abr 2021. Dados sobre a realização mundial de conferências internacionais a partir de 1851 são reunidos pela UIA, Union of International Associations. Disponível em: https://uia.org/calendar . Acesso em: 13 jun. 2021. . Paralelamente a esse crescimento, porém, cresceram também as críticas a esse tipo de evento. Essas críticas estruturam-se, fundamentalmente, em três eixos:

  1. Conferências multiplicaram-se a tal ponto que se tornaram banais. Não era incomum, antes da pandemia de Covid-19, que pesquisadores viajassem diversas vezes ao ano para participar de eventos científicos na qualidade de comunicadores. Sob um ponto de vista acadêmico, porém, não parece plausível que uma mesma pessoa possa apresentar pesquisas novas a cada viagem; reciclar apresentações tornou-se prática comum e aceitável. Estudos anteriores à pandemia, de fato, já vinham demonstrando que não existe relação direta mensurável entre quantidade de viagens acadêmicas e produtividade ( WYNES, 2019WYNES, Seth et al. Academic Air Travel Has a Limited Influence on Professional Success. Journal of Cleaner Production , vol. 226, jul. 2019, pp. 959-967. );

  2. Apesar de esforços pontuais por parte de certas agências e organizações, conferências internacionais não refletem um equilíbrio geográfico, mas econômico, contando predominantemente com participantes oriundos de países ricos. A falta de inclusividade vem sendo apontada também no tocante ao gênero e à raça dos participantes. Pais e mães de menores e pessoas responsáveis pelo cuidado de familiares idosos, assim como pesquisadores com algum tipo de deficiência, com frequência veem-se totalmente impossibilitados de viajar e, consequentemente, de participar de conferências4 4 . Cf. SARABIPOUR (2020) . . Vistos de viagem – e seus custos – são obstáculos igualmente intransponíveis para alguns cientistas. A escolha de locais para sediar conferências, por fim, tende a favorecer destinos turísticos estabelecidos, deixando em segundo plano cidades com menos infraestrutura e atrativos;

  3. Conferências não são ecologicamente sustentáveis. Diversas pesquisas realizadas ao longo do século XXI dedicaram-se a apontar o custo ambiental desse tipo de evento, indicando, entre outros fatores, a enormidade das emissões de carbono resultantes das viagens realizadas pelos seus participantes5 5 . Ver, por exemplo, LE QUÉRÉ (2015) . . Um cálculo publicado em julho de 2020 a partir de um estudo de caso, por exemplo, indicou que participantes do encontro anual da American Geophysical Union (AGU) em 2019 emitiram nada menos que o equivalente a 80.000 toneladas de CO2 (tCO2e) para deslocar-se de suas casas ao local da conferência ( KLÖWER, 2020KLÖWER, Milan. An Analysis of Ways to Decarbonize Conference Travel After Covid-19. Nature , vol. 583, jul. 2020. Disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-020-02057-2. Acesso em: 24 abr. 2021.
    https://www.nature.com/articles/d41586-0...
    ). Além das emissões de carbono, note-se que somente uma minoria das conferências procura criar estratégias ecológicas – como, por exemplo, reciclagem de materiais, pôsteres eletrônicos, oferta gratuita de água potável, de modo a reduzir o descarte de garrafas plásticas – em sua organização6 6 . Cf. SARABIPOUR (2021) . .

A pandemia de Covid-19, portanto, não fez senão acelerar radicalmente um processo em marcha. Às críticas já vigentes somou-se uma quarta, incontornável, de ordem epidemiológica: não é sanitariamente responsável promover nenhum tipo de aglomeração, muito menos quando esta inclui pessoas oriundas de diferentes países. Já em março de 2020, de fato, a revista Nature publicou um artigo ponderando que aquele seria “o ano em que cientistas pararam de ir a conferências” ( VIGLIONE, 2020VIGLIONE, Giuliana. A Year Without Conferences? How the Coronavirus Pandemic Could Change Research. Nature , vol. 579, mar. 2020, pp. 327-330. Disponível em: https://www.nature.com/articles/d41586-020-00786-y. Acesso em: 24 abr. 2021.
https://www.nature.com/articles/d41586-0...
). À época, diversos acadêmicos sugeriam que a Covid-19 seria o golpe de misericórdia em um formato incompatível com o Zeitgeist que anima a academia contemporânea.

Face a esse novo quadro, rapidamente universidades e centros de pesquisa procuraram encontrar alternativas, sendo a mais imediata e evidente a transição para um modelo virtual de conferências ( KALIA, 2020KALIA, Vivek et al. Adapting Scientific Conferences to the Realities Imposed by Covid-19. Radiology: Imagining Cancer , jun. 2020. Disponível em: https://pubs.rsna.org/doi/10.1148/rycan.2020204020. Acesso em: 26 abr. 2021.
https://pubs.rsna.org/doi/10.1148/rycan....
). Um ano mais tarde, porém, esse modelo apresenta suas próprias dificuldades. Estudos realizados, sobretudo, na área da neurolinguística, demonstraram que a pura e simples transformação da conferência tradicional em um evento online é ineficiente. A diminuição do engajamento intelectual, aumento do cansaço e a dispersão são mensuráveis e têm sido objeto de diversos estudos na área de linguística, neurociência e educação, entre outras7 7 . Os estudos dos impactos negativos da interação virtual sobre a atenção são numerosos; ver, por exemplo, https://www.psychiatrictimes.com/view/psychological-exploration-zoom-fatigue . Acesso em: 28 abr. 2021. . Além disso, eventos online não permitem – a princípio – aquele que vinha sendo considerado como um dos principais subprodutos da conferência, isto é, o “ networking ”, as conversas de corredor, as ideias trocadas em coffee breaks – atividades que criam, certamente, combustível para importantes intercâmbios acadêmicos e novos projetos de colaboração.

Isso posto, estamos, parece-me, diante de uma realidade inescapável: em um mundo pós-Covid 19 – e esse cenário de superação habita ainda um horizonte longínquo –, conferências presenciais serão tão política e ecologicamente incorretas quanto o consumo de cigarros ou carne bovina. É muito provável que as gerações mais jovens – já anteriormente críticas em relação a uma maquinaria da qual se sentiam excluídas – rejeitem definitivamente um formato que, poder-se-ia pensar, colabora para empobrecer e ameaçar ecologicamente o mundo no qual precisam construir sua vida. O princípio segundo o qual conferências servem para gerar mais conferências corre o risco de afinar-se perigosamente com a estrutura de acumulação capitalista, e seu custo econômico e ecológico parece extravagante em um mundo iminentemente ameaçado pelo colapso ambiental.

De acordo com os resultados de uma ampla pesquisa publicada recentemente pela revista Nature , 74% dos acadêmicos entrevistados considera que, em um mundo pós-pandêmico, conferências devem continuar sendo inteira ou parcialmente virtuais. Segundo essa mesma pesquisa, as principais vantagens de encontros virtuais são, em ordem decrescente de importância, maior acessibilidade, diminuição das emissões de carbono e custos mais baixos. A maioria, por outro lado (69%), considerou que a grande desvantagem desse tipo de eventos é a perda das oportunidades de networking 8 8 . REMMEL (2021 , pp. 185-186). .

Mas se os encontros remotos não substituem, em termos de eficácia e produtividade, os presenciais, e se, por outro lado, eventos científicos presenciais tornaram-se ecológica e epidemiologicamente inviáveis (ao menos no ritmo pré-2019), quais são as alternativas? A saída, muito possivelmente, encontra-se em uma ação combinada que reduza drasticamente o número de conferências realizadas por ano – resgatando o sentido original de uma apresentação de resultados acadêmicos novos – e, paralelamente, invista em viagens mais longas e preparadas.

É factível pensar que um pesquisador ou pesquisadora apresente duas pesquisas novas por ano – ou, ao menos, duas novas etapas de pesquisas em andamento –, mas não dez. Além da diminuição das emissões de carbono associadas a essas viagens, esse tipo de redução responde ao primeiro eixo crítico formulado acima, ou seja, a ideia de que as conferências se tornaram meros palcos onde pesquisadores encenam apresentar resultados inéditos. Por outro lado, as conferências podem ser amparadas por processos remotos como, por exemplo, pré-conferências ou intercâmbio antecipado de bibliografia e rascunhos, de modo a tornar-se não um evento isolado, mas o momento culminante de um processo de investigação e colaboração mais longo. Paralelamente, poder-se-ia pensar em aumentar o investimento em intercâmbios acadêmicos nos quais pesquisadores e estudantes possam permanecer em uma instituição diferente da sua por períodos de semanas, ou mesmo meses.

O campo específico das artes e história da arte beneficia-se enormemente da possibilidade de encontro entre o pesquisador ou pesquisadora e seu objeto de estudo. A internet certamente contribuiu, e de modo decisivo, para a democratização da área – de fato, a partir dos anos 2000, a história da arte cresceu de modo extraordinário no Brasil e no mundo9 9 . No Brasil foram criados, desde o início do século XXI, dois programas específicos de pós-graduação (Uerj e Unifesp) e cinco cursos de graduação (Uerj, UnB, Unifesp, UFRGS e UFRJ) em história da arte vinculados a universidades públicas. O CBHA – Comitê Brasileiro de História da Arte – expandiu notavelmente suas atividades ao longo das últimas duas décadas, e a cidade de São Paulo teria sediado o 35º Congresso Mundial de História da Arte em setembro de 2020 se não tivesse sido pela Covid-19. O congresso foi adiado para janeiro de 2022. Cf. < http://www.ciha.org/content/ciha-s%C3%A3o-paulo-motion-migrationspostponed-january-2022> . Acesso em: 12 mai. 2021. –, mas ela não substitui inteiramente o potencial produtivo da pesquisa in situ . Instituições como Bibliotheca Hertziana, em Roma, Institut national d'histoire de l'art (INHA/Paris), Villa I Tatti, em Florença, ou Getty Foundation, em Los Angeles, entre outras, investiram e seguem investindo no financiamento de bolsas de viagem para que – sobretudo jovens – pesquisadores e pesquisadoras possam beneficiar-se de sua infraestrutura de pesquisa e, também, da oferta artístico-cultural das cidades que as sediam. As residências artísticas, que possuíam um papel de internacionalização e inclusão fundamentais, foram profundamente impactadas pela pandemia; uma pesquisa publicada pela Res Artis e University College London em setembro de 2020, de fato, indicou – a partir de 1.132 respostas de 774 artistas e 358 instituições localizadas em todo o mundo – o cancelamento ou adiamento de mais de 70% delas10 10 . Ver o relatório em: https://resartis.org/wp-content/uploads/2020/09/Res-Artis_UCL_first-survey-report_COVID-19-impact-on-arts-residencies.pdf . Acesso em: 26 abr. 2021. . Neste setor, como indica a pesquisa, a relutância em substituir a residência presencial pela virtual é marcadamente maior que em outros; por outro lado, artistas também têm sugerido que algumas das suas atividades poderiam, complementarmente, ocorrer de modo remoto.

Um caminho frutífero, no futuro, seria o de investir em centros de pesquisa e criação artística locais que pudessem receber pesquisadores e pesquisadoras em zonas consideradas “periféricas” do ponto de vista da produção acadêmica. Organizações como a alemã DAAD (Deutscher Akademischer Austauschdienst), por exemplo, promovem tanto o financiamento de estudantes estrangeiros na Alemanha quanto de alemães em instituições estrangeiras; esse tipo de estratégia concebe a internacionalização do sistema acadêmico como uma via de mão dupla apta a estabelecer pontes sustentáveis entre – neste caso – a Alemanha e o mundo.

Em resumo, a era do “turismo acadêmico”11 11 . A mobilidade acadêmica tem sido considerada, tecnicamente, como uma forma de turismo, uma vez que ela atende a parâmetros estabelecidos nesse campo. Cf. STEYN (2015) . foi definitivamente enterrada pela Covid-19. A viagem para fins de participação em eventos científicos pode e deve continuar existindo, mas forçosamente precisa repensar-se e tornar-se muito menos superficial.

Uma saída possível – além da diminuição quantitativa desse tipo de evento, a qual deve caminhar pari passu com um maior investimento, por parte dos comunicadores e organizadores, na qualidade e inovação de cada pesquisa apresentada – é o incremento de residências, intercâmbios e cursos de curta duração em detrimento de conferências. O programa Erasmus de intercâmbio acadêmico, por exemplo, propõe-se a criar estratégias sustentáveis de internacionalização estudantil através – entre outras medidas – da diminuição das distâncias percorridas por seus bolsistas, de modo a poder privilegiar a utilização do transporte terrestre ao invés do aéreo12 12 . Ver o site do projeto “Erasmus Goes Green”, o qual, em 26 de abril de 2021, é acessível em: http://www.egg-project-eu.uvsq.fr/ . No que diz respeito, mais especificamente, a conferências, a organização de projetos híbridos – isto é, envolvendo tanto atividades presenciais quanto remotas – de longa duração poderia, ainda, responder a quase todos os eixos críticos tradicionalmente vinculados a conferências tradicionais: menos emissões de gás carbono, menor risco epidemiológico, maior profundidade de interação entre acadêmicos visitantes e anfitriões.

Aquela que foi apontada, segundo a pesquisa de opinião da revista Nature citada acima, como a maior desvantagem de eventos online – isso é, a perda do networking e do contato pessoal em corredores e eventos sociais que acompanham as conferências – poderia ser minorada através de técnicas organizacionais que permitam interações individuais ou em grupos menores, assim como pela criação de eventos sociais online . Já em 2019, de fato, começaram a ser criados eventos experimentais que procuravam recriar virtualmente essa dimensão social13 13 . ABBOTT (2020, p , p. 13). .

A ideia do scholar como um “cidadão do mundo” – isto é, um cosmopolita culturalmente adaptável e preparado para interagir com pessoas de diferentes culturas – permanece crucial em uma conjuntura global abalada pelo retrocesso nacionalista. O conceito de “república das letras”, de um espaço à margem de entidades políticas no qual pessoas de diferentes regiões do globo compartilham experiências e saberes, é uma salvaguarda e um contrapeso necessário ao sequestro do conhecimento e ao desmonte da ciência por parte de forças negacionistas e xenófobas. Que a pesquisa e a ciência transcendem limitações geográficas é uma noção tão antiga quanto o próprio conceito de conferência que herdamos do século XIX. Este conceito, certamente, teve um papel fulcral na criação desta rede global de desenvolvimento e cooperação acadêmica que tanto prezamos e que devemos, com unhas e dentes, defender. As circunstâncias físicas do planeta, porém, sofreram alterações drásticas, e urge estabelecer alternativas sustentáveis e inclusivas a esse modelo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NOTAS

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Out 2021
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2021

Histórico

  • Recebido
    7 Jun 2021
  • Aceito
    18 Jun 2021
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