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Letramento digital em saúde de estudantes de enfermagem ou medicina: fatores relacionados

Alfabetización digital en salud de estudiantes de enfermería o medicina: factores relacionados

Resumo

Objetivo

Identificar fatores relacionados ao letramento digital em saúde de estudantes de medicina ou enfermagem.

Métodos

O nível de letramento digital em saúde de graduandos de enfermagem ou medicina de três instituições foi avaliado pela eHealth Literacy Scale (eHEALS), versão brasileira, cujo escore varia de 8 a 40; quanto maior a pontuação, maior o nível de letramento autorreferido. Relações entre o escore do eHEALS e variáveis sociodemográficas e acadêmicas foram verificadas por meio dos testes de Mann Whitney ou Kruskal Wallis, com significância de 5%. Quando havia significância do teste de Kruskal Wallis, foi utilizado teste de Dunn para comparações dois a dois.

Resultados

Participaram 346 estudantes, com idade média de 23,0±5,0 anos, 71,5% do sexo feminino, 51,6% do curso de Enfermagem. A pontuação média do eHEALS foi de 31,6±4,4. Maiores escores do eHEALS se associaram a: sexo masculino, instituição pública, curso integral, maior tempo desde o início da graduação, ter pessoas próximas que buscam informações sobre saúde online, dominar outro idioma, se sentir bem/muito bem sobre a saúde atual. O nível de letramento se correlacionou positivamente com idade, utilidade da internet e seu conteúdo de saúde. O item “Sinto-me confiante em usar informações da Internet para tomar decisões de saúde” teve pontuação mais baixa.

Conclusão

Características sociodemográficas e acadêmicas se relacionam ao letramento digital em saúde de estudantes universitários. Esses resultados podem subsidiar e direcionar esforços curriculares nas universidades, engajando futuros profissionais da saúde na disseminação de informações confiáveis dentro e fora do contexto acadêmico, bem como na assistência assistida por tecnologias.essionals in the dissemination of reliable information inside and outside the academic context, and in technology-assisted care.

Letramento em saúde; Alfabetização digital; Estudantes de enfermagem; Estudantes de medicina; Fatores socioeconômicos

Resumen

Objetivo

Identificar factores relacionados a la alfabetización digital en salud de estudiantes de medicina o enfermería.

Métodos

El nivel de alfabetización digital en salud de estudiantes universitarios de enfermería o medicina de tres instituciones fue evaluado por la eHealth Literacy Scale (eHEALS), versión brasileña, cuya puntuación varía de 8 a 40; cuanto más alta la puntuación, más alto el nivel de alfabetización autorreferido. La relación entre la puntuación de eHEALS y variables sociodemográficas y académicas se verificó a través de las pruebas de Mann Whitney o de Kruskal Wallis, con una significancia del 5 %. Cuando había significancia en la prueba de Kruskal Wallis, se utilizó la prueba de Dunn para comparaciones de a dos.

Resultados

Participaron 346 estudiantes, de edad promedio de 23,0±5,0 años, 71,5 % del sexo femenino, 51,6 % del curso de Enfermería. El puntaje promedio del eHEALS fue de 31,6±4,4. Las puntuaciones más altas de eHEALS se asociaron con: sexo masculino, institución pública, curso integral, más tiempo desde el inicio del curso universitario, tener a personas próximas que buscan información sobre salud online, dominar otro idioma, sentirse bien/muy bien sobre la salud actual. El nivel de alfabetización se correlacionó positivamente con la edad, utilidad de internet y su contenido de salud. El ítem “Me siento seguro al usar información de internet para tomar decisiones de salud” obtuvo un puntaje más bajo.

Conclusión

Características sociodemográficas y académicas se relacionan con la alfabetización digital en salud de estudiantes universitarios. Esos resultados pueden respaldar y orientar iniciativas curriculares en las universidades, y así involucrar a futuros profesionales de salud en la diseminación de información confiable dentro y fuera del contexto académico, así como a la atención auxiliada por tecnologías.

Alfabetización en salud; Alfabetización digital; Estudiantes de enfermería; Estudiantes de medicina; Factores socioeconómicos

Abstract

Objective

To identify factors related to the digital health literacy of medical or nursing students.

Methods

The level of digital health literacy of undergraduate nursing or medical students from three institutions was assessed using the Brazilian version of the eHealth Literacy Scale (eHEALS), whose score ranges from 8 to 40; the higher the score, the higher the self-reported literacy level. Relationships between the eHEALS score and sociodemographic and academic variables were assessed using the Mann Whitney or Kruskal Wallis tests, with a significance level of 5%. When the Kruskal Wallis test was significant, the Dunn’s test was used for two by two comparisons.

Results

346 students participated in the study, with a mean age of 23.0±5.0 years, 71.5% female, 51.6% from the Nursing course. The mean eHEALS score was 31.6±4.4. Higher eHEALS scores were associated with the male gender, attending a public institution, full-time course, longer time since enrollment in the course, having close people who seek health information online, mastering another language, and feeling good/very good about their current health. The literacy level was positively correlated with age, and the usefulness of the internet and its health content. Lower scores were reached in the item “I feel confident in using information from the internet to make health decisions”.

Conclusion

Sociodemographic and academic characteristics are related to the digital health literacy of university students. These results can support and direct curricular efforts in universities, engaging future health professionals in the dissemination of reliable information inside and outside the academic context, and in technology-assisted care.

Health literacy; Computer literacy; Students, nursing; Students, medical; Socioeconomic factors

Introdução

No Brasil, dados de 2020 e 2021 mostram que 81% da população utiliza a internet, correspondendo a 152 milhões de pessoas.(11. Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC). IC Domicílios - 2020. São Paulo: CETIC; 2021 [citado 2021 Nov 3]. Disponível em: https://cetic.br/pt/tics/domicilios/2020/individuos/
https://cetic.br/pt/tics/domicilios/2020...
) Nessa realidade, por meio da interação nas redes sociais, as sensações de empoderamento, segurança e liberdade têm sido potencializadas pela produção individual de mensagens de alcance em massa,(22. Chou WY, Prestin A, Lyons C, Wen KY. Web 2.0 for health promotion: reviewing the current evidence. Am J Public Health. 2013;103(1):e9-18. Review.,33. Azevedo IC, Gasque KC. Contribuições dos letramentos digital e informacional na sociedade contemporânea. Trans Informação. 2017;29(2):163-73.) incluindo conteúdos relacionados à saúde. Em 2020 e 2021, 53% dos internautas buscaram informações sobre saúde ou serviços de saúde, comparados a 47% em 2019.(11. Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC). IC Domicílios - 2020. São Paulo: CETIC; 2021 [citado 2021 Nov 3]. Disponível em: https://cetic.br/pt/tics/domicilios/2020/individuos/
https://cetic.br/pt/tics/domicilios/2020...
)

Essa facilidade de acesso às informações de saúde – mas não necessariamente de sua compreensão, avaliação e correta aplicação – influencia nos cuidados de saúde dos indivíduos e de suas comunidades.(44. van der Vaart R, Drossaert C. Development of the Digital Health Literacy Instrument: measuring a broad spectrum of health 1.0 and health 2.0 skills. J Med Internet Res. 2017;19(1):e27.) No entanto, uma revisão sistemática de literatura evidenciou que diferentes tipos de informação para guiar decisões são buscados em grupos de apoio online e mídias sociais, em detrimento de ferramentas online com chancela de credibilidade. Nesses grupos de apoio, o compartilhamento de conselhos pessoais é maior do que o compartilhamento de conhecimento e diretrizes. Ademais, grande parte do conteúdo sobre saúde gerado por usuários nas mídias sociais, como Youtube e Twitter, é inconsistente com as diretrizes clínicas ou evidências científicas.(22. Chou WY, Prestin A, Lyons C, Wen KY. Web 2.0 for health promotion: reviewing the current evidence. Am J Public Health. 2013;103(1):e9-18. Review.)

Nesse contexto, é imprescindível que os indivíduos tenham competências para lidar de maneira adequada com as informações, incluindo letramento digital em saúde (LDS). Norman & Skinner definem LDS como “(...) a capacidade de buscar, encontrar, entender e avaliar informações de saúde de fontes eletrônicas, integrar e aplicar o conhecimento adquirido na resolução de um problema de saúde.”(55. Norman CD, Skinner HA. eHealth literacy: essential skills for consumer health in a networked world. J Med Internet Res. 2006;8(2):e9. Review.)

Dentre os profissionais da saúde, em especial, o LDS é um pré-requisito para o sucesso da transformação digital da saúde e, portanto, tem lugar essencial durante a formação, quando os profissionais precisam desenvolver habilidades e competências para assistir utilizando os recursos digitais. No entanto, há uma lacuna significativa entre o desejo dos estudantes universitários de se tornarem atores-chave na digitalização significativa da saúde e as competências e habilidades adquiridas em seus cursos.(66. European Medical Students’ Association (EMSA). Digital Health in the Medical Curriculum: Addressing the Needs of the Future Health Workforce. Belgium: EMSA; 2019 [cited 2020 May 5]. Available from: https://emsa-europe.eu/wp-content/uploads/2021/06/Policy-2019-04-Digital-Health-in-the-Medical-Curriculum_-Addressing-the-Needs-of-the-Future-Health-Workforce.pdf
https://emsa-europe.eu/wp-content/upload...
)

Assim, a formação e capacitação de recursos humanos para a Saúde Digital é uma das prioridades do Plano de Ação para a Saúde Digital 2020-2028 no Brasil. As universidades e centros de formação são atores relevantes nesta estratégia, em especial no panorama da pandemia e pós-pandemia de COVID-19,(77. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Departamento de Informática do SUS. Estratégia de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2020 [citado 2021 Nov 3]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_saude_digital_Brasil.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicaco...
) que impulsionou a busca por informações relacionadas à saúde online e serviços de teleconsulta, a fim de reduzir o fluxo e encaminhamentos desnecessários de pacientes em unidades de saúde, além de alcance de populações distantes de centros diagnósticos e terapêuticos.(88. Montelongo A, Becker JL, Roman R, de Oliveira EB, Umpierre RN, Gonçalves MR, et al. The management of COVID-19 cases through telemedicine in Brazil. PLoS One. 2021;16(7):e0254339.

9. Gois-Santos VT, Freire DA, Libório LD, Ferreira EC, Santos VS. Telehealth actions in times of COVID-19: information with evidence. Rev Assoc Med Bras (1992). 2020;66(10):1320-2.
-1010. Oliveira SC, Costa DG, Cintra AM, Freitas MP, Jordão CN, Barros JF, et al. Telenursing in COVID-19 times and maternal health: WhatsApp® as a support tool. Acta Paul Enferm. 2021;34:eAPE02893.)

A literatura a respeito do LDS de estudantes de Medicina é limitada. Estudo irlandês demonstrou que as habilidades de manipular mídias digitais, buscar informações online, se engajar em atividades sociais em plataformas digitais e usar aplicativos em dispositivos móveis desses estudantes eram altas, enquanto a habilidade de criar conteúdo online era mediana.(1111. O’Doherty D, Lougheed J, Hannigan A, Last J, Dromey M, O’Tuathaigh C, et al. Internet skills of medical faculty and students: is there a difference? BMC Med Educ. 2019;19(1):39.) Na Alemanha, verificou-se que estudantes de Medicina eram capazes de encontrar informações online confiáveis relacionadas à saúde, utilizando termos médicos e nomes de páginas confiáveis nos mecanismos de busca.(1212. Loda T, Erschens R, Junne F, Stengel A, Zipfel S, Herrmann-Werner A. Undergraduate medical students’ search for health information online: explanatory cross-sectional study. JMIR Med Inform. 2020;8(3):e16279. Erratum in: JMIR Med Inform. 2020;8(8):e23253.)

Em relação aos estudantes de enfermagem, no Irã e no Sri Lanka, verificou-se que consideram a Internet uma ferramenta útil ou muito útil para ajudá-los a tomar decisões relacionadas à saúde e a utilizam para buscar informações sobre sintomas de doenças, mal-estar físico, tratamentos existentes e diagnósticos.(1313. KHademian F, Arshadi Montazer MR, Aslani A. Web-based health Information Seeking and eHealth Literacy among College students. A Self-report study. Invest Educ Enferm. 2020;38(1):e8.

14. Park H, Lee E. Self-reported eHealth literacy among undergraduate nursing students in South Korea: a pilot study. Nurse Educ Today. 2015;35(2):408-13.
-1515. Sharma S, Oli N, Thapa B. Electronic health-literacy skills among nursing students. Adv Med Educ Pract. 2019;10:527-32.) Entretanto, no Sri Lanka, até 49,4% dos estudantes de enfermagem relatam habilidades inadequadas de LDS(1616. Rathnayake S, Senevirathna A. Self-reported eHealth literacy skills among nursing students in Sri Lanka: across-sectional study. Nurse Educ Today. 2019;78:50-6. Erratum in: Nurse Educ Today. 2019;79:210.) e na Coréia do Sul, os estudantes não se sentem capazes de usar informações da Internet para tomar decisões de saúde.(1414. Park H, Lee E. Self-reported eHealth literacy among undergraduate nursing students in South Korea: a pilot study. Nurse Educ Today. 2015;35(2):408-13.) Na Jordânia,(1717. Tubaishat A, Habiballah L. eHealth literacy among undergraduate nursing students. Nurse Educ Today. 2016;42:47-52.) estudantes de enfermagem têm nível moderado de autopercepção quanto ao LDS. Similarmente, no Nepal, apresentam nível moderado de autopercepção quanto ao LDS e 44,7% tinham habilidades online medianas.(1515. Sharma S, Oli N, Thapa B. Electronic health-literacy skills among nursing students. Adv Med Educ Pract. 2019;10:527-32.) Estudos também indicam que os graduandos de enfermagem consideram terem pouca ou inadequada capacidade de diferenciar entre um recurso de saúde online de alta qualidade e um de baixa qualidade.(1414. Park H, Lee E. Self-reported eHealth literacy among undergraduate nursing students in South Korea: a pilot study. Nurse Educ Today. 2015;35(2):408-13.,1616. Rathnayake S, Senevirathna A. Self-reported eHealth literacy skills among nursing students in Sri Lanka: across-sectional study. Nurse Educ Today. 2019;78:50-6. Erratum in: Nurse Educ Today. 2019;79:210.,1717. Tubaishat A, Habiballah L. eHealth literacy among undergraduate nursing students. Nurse Educ Today. 2016;42:47-52.)

Alguns fatores podem influenciar o LDS, incluindo determinantes pessoais (p.ex., idade, renda familiar e escolaridade), relacionais (p.ex., barreiras linguísticas e culturais às informações sobre saúde), de conhecimento (p.ex., nível de conhecimento pré-existente sobre o problema de saúde) e tecnológicos (p.ex., acesso a dispositivos tecnológicos).(1818. Paige SR, Stellefson M, Krieger JL, Anderson-Lewis C, Cheong J, Stopka C. Proposing a Transactional Model of eHealth Literacy: Concept Analysis. J Med Internet Res. 2018;20(10):e10175.) Assim, conhecer o nível de LDS e os fatores intervenientes de estudantes das áreas de saúde pode auxiliar a direcionar intervenções, incluindo reestruturação curricular dos cursos. No Brasil, no melhor do conhecimento das pesquisadoras, não há estudos que tenham investigado fatores relacionados ao LDS entre estudantes de Enfermagem ou de Medicina. Assim, o objetivo deste estudo foi identificar fatores relacionados ao LDS desses estudantes.

Métodos

Estudo observacional, analítico, transversal, cuja coleta de dados foi realizada de 10 de fevereiro a 31 de março de 2021.

Foi realizado nos Cursos de Enfermagem e de Medicina de três instituições de ensino superior: uma instituição privada da região sul (Instituição A) e uma instituição privada da região sudeste (Instituição B), cujos cursos de Enfermagem ocorrem no período matutino e os cursos de Medicina ocorrem em período integral; e uma instituição pública da região sudeste (Instituição C), cujos cursos de Enfermagem e de Medicina ocorrem em período integral. Nenhuma das instituições tem cursos específicos sobre informática ou letramento digital em saúde.

A população foi composta por graduandos de Enfermagem e de Medicina de todas instituições. Para a amostra de conveniência, foram considerados elegíveis os estudantes com idade ≥18 anos e com acesso à internet.

Os pesquisadores responsáveis de cada instituição, enviaram ao endereço eletrônico de cada turma dos cursos de Enfermagem e de Medicina das três instituições, o convite para participação, o TCLE e o link para o formulário de coleta de dados online. Foi determinado um período de 15 dias para resposta. Caso não houvesse devolução neste período, o link seria reenviado, sendo conferidos mais 15 dias para resposta.

O LDS foi avaliado por meio da versão brasileira de Barros(1919. Barros JK. Adaptação transcultural e análise das propriedades psicométricas de instrumento para avaliação da literacia digital em saúde (dissertação). Maringá (PR): UniCesumar; 2019.) do eHealth Literacy Scale (eHEALS),(2020. Mialhe FL, Moraes KL, Sampaio HA, Brasil VV, Vila VS, Soares GH, et al. Evaluating the psychometric properties of the eHealth Literacy Scale in Brazilian adults. Rev Bras Enferm. 2022;75(1):e20201320.) uma escala utilizada mundialmente.(2121. Norman CD, Skinner HA. eHEALS: the eHealth Literacy Scale. J Med Internet Res. 2006;8(4):e27.

22. Soellner R, Reder M. eHealth literacy: German translation of the self-reported measure eHEALS and development of a skill-based measure. Presented at the 27th Conference of the European Health Psychology Society, Bordeaux, France. Bordeaux: Universität Bielefeld; 2013 [cited 2020 May 5]. Available from: https://pub.uni-bielefeld.de/record/2611268
https://pub.uni-bielefeld.de/record/2611...
-2323. Mitsutake S, Shibata A, Ishii K, Okazaki K, Oka K. [Developing Japanese version of the eHealth Literacy Scale (eHEALS)]. Nihon Koshu Eisei Zasshi. 2011;58(5):361-71. Japanese.) Composta por oito itens, mensura a autopercepção do indivíduo quanto ao seu conhecimento e sua habilidade de encontrar informações online e aplicar essas informações a questões de saúde.(2020. Mialhe FL, Moraes KL, Sampaio HA, Brasil VV, Vila VS, Soares GH, et al. Evaluating the psychometric properties of the eHealth Literacy Scale in Brazilian adults. Rev Bras Enferm. 2022;75(1):e20201320.,2424. van der Vaart R, van Deursen AJ, Drossaert CH, Taal E, van Dijk JA, van de Laar MA. Does the eHealth Literacy Scale (eHEALS) measure what it intends to measure? Validation of a Dutch version of the eHEALS in two adult populations. J Med Internet Res. 2011;13(4):e86.) Cada item é respondido com base em uma escala Likert de cinco pontos, com opções de resposta que variam de “discordo totalmente” a “concordo totalmente”. O escore final varia de 8 a 40 e, quanto maior a pontuação, melhor a autopercepção de conforto do indivíduo ao utilizar a internet e maior o LDS.(1919. Barros JK. Adaptação transcultural e análise das propriedades psicométricas de instrumento para avaliação da literacia digital em saúde (dissertação). Maringá (PR): UniCesumar; 2019.)

O eHEALS também inclui dois itens adicionais, sem pontuação, referentes à percepção sobre a utilidade da internet para ajudar a tomar decisões sobre saúde e à percepção sobre a importância de poder ter acesso a conteúdo sobre saúde na internet. No estudo original, adequadas evidências de confiabilidade foram obtidas após aplicação em uma amostra de 664 indivíduos: o coeficiente alfa de Cronbach foi de 0,88 e a correlação no teste-reteste foi de 0,68. Na validade de estrutura interna, apenas um fator foi identificado, com cargas variando de 0,60 a 0,84 entre os oito itens (eigenvalue = 4,48, com 56% da variância explicada).(2020. Mialhe FL, Moraes KL, Sampaio HA, Brasil VV, Vila VS, Soares GH, et al. Evaluating the psychometric properties of the eHealth Literacy Scale in Brazilian adults. Rev Bras Enferm. 2022;75(1):e20201320.)

No Brasil, o eHEALS foi adaptado e validado por Barros(1919. Barros JK. Adaptação transcultural e análise das propriedades psicométricas de instrumento para avaliação da literacia digital em saúde (dissertação). Maringá (PR): UniCesumar; 2019.) e por Mialhe et al.,(2020. Mialhe FL, Moraes KL, Sampaio HA, Brasil VV, Vila VS, Soares GH, et al. Evaluating the psychometric properties of the eHealth Literacy Scale in Brazilian adults. Rev Bras Enferm. 2022;75(1):e20201320.)respectivamente, com 431 usuários das redes sociais e 502 indivíduos da população em geral de um município do interior do estado de São Paulo. A versão brasileira de Barros,(1919. Barros JK. Adaptação transcultural e análise das propriedades psicométricas de instrumento para avaliação da literacia digital em saúde (dissertação). Maringá (PR): UniCesumar; 2019.) única disponível à época da coleta de dados e, portanto, utilizada neste estudo, obteve adequadas propriedades psicométricas. O coeficiente alfa de Cronbach foi de 0,90. Semelhante ao estudo original, as cargas fatoriais que explicam o construto indicaram que todos os itens apresentavam valores adequados, variando de 0,65 a 0,88, para o modelo de um fator.(2525. Del Giudice P, Bravo G, Poletto M, De Odorico A, Conte A, Brunelli L, et al. Correlation Between eHealth Literacy and Health Literacy Using the eHealth Literacy Scale and Real-Life Experiences in the Health Sector as a Proxy Measure of Functional Health Literacy: Cross-Sectional Web-Based Survey. J Med Internet Res. 2018;20(10):e281.,2626. Yamaguchi MU, Barros JK, Souza RC, Bernuci MP, Oliveira LP. O papel das mídias digitais e da literacia digital na educação não-formal em saúde. Rev Eletr Educação. 2020;14:1-11.)

As variáveis potencialmente relacionadas ao LDS com base na literatura(1313. KHademian F, Arshadi Montazer MR, Aslani A. Web-based health Information Seeking and eHealth Literacy among College students. A Self-report study. Invest Educ Enferm. 2020;38(1):e8.

14. Park H, Lee E. Self-reported eHealth literacy among undergraduate nursing students in South Korea: a pilot study. Nurse Educ Today. 2015;35(2):408-13.

15. Sharma S, Oli N, Thapa B. Electronic health-literacy skills among nursing students. Adv Med Educ Pract. 2019;10:527-32.

16. Rathnayake S, Senevirathna A. Self-reported eHealth literacy skills among nursing students in Sri Lanka: across-sectional study. Nurse Educ Today. 2019;78:50-6. Erratum in: Nurse Educ Today. 2019;79:210.

17. Tubaishat A, Habiballah L. eHealth literacy among undergraduate nursing students. Nurse Educ Today. 2016;42:47-52.
-1818. Paige SR, Stellefson M, Krieger JL, Anderson-Lewis C, Cheong J, Stopka C. Proposing a Transactional Model of eHealth Literacy: Concept Analysis. J Med Internet Res. 2018;20(10):e10175.,2727. Pasquali L. Psychometrics. Rev Esc Enferm USP. 2009;43(Spe):992-9.

28. Huang CL, Yang SC, Chiang CH. The Associations between Individual Factors, eHealth Literacy, and Health Behaviors among College Students. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(6):2108.

29. Dashti S, Peyman N, Tajfard M, Esmaeeli H. E-Health literacy of medical and health sciences university students in Mashhad, Iran in 2016: a pilot study. Electron Physician. 2017;9(3):3966-73.

30. Tennant B, Stellefson M, Dodd V, Chaney B, Chaney D, Paige S, et al. eHealth literacy and Web 2.0 health information seeking behaviors among baby boomers and older adults. J Med Internet Res. 2015;17(3):e70.
-3131. Soleimaninejad A, Valizadeh-Haghi S, Rahmatizadeh S. Assessing the eHealth literacy skills of family caregivers of medically ill elderly. Online J Public Health Inform. 2019;11(2):e12.) foram investigadas, incluindo a importância atribuída à saúde (1: nada importante até 5, muito importante) e a percepção a respeito do estado de saúde atual (1: muito mal até 5: muito bem), questões incluídas no eHEALS, porém que não pontuam no escore.

A normalidade da distribuição das variáveis foi verificada por meio do teste de Shapiro-Wilk. As relações entre o escore do eHEALS (variável dependente) e as variáveis independentes foram verificadas por meio dos testes de Mann Whitney ou Kruskal Wallis, com nível de significância de 5%. Quando havia significância do teste de Kruskal Wallis, foi utilizado o teste de Dunn para comparações 2 a 2. Verificou-se a confiabilidade do eHEALS para esta amostra por meio do cálculo do alfa de Cronbach, classificado como: ≤ 0,30: Muito baixa; 0,30 < α ≤ 0,60: baixa; 0,60 < α ≤ 0,75: moderada; 0,75 < α ≤ 0,90: alta; α > 0,90: muito alta.(2727. Pasquali L. Psychometrics. Rev Esc Enferm USP. 2009;43(Spe):992-9.)

O projeto foi aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa das três instituições de ensino superior onde foi realizado (Pareceres 4.459.119/2020; 4.469.547/2020 e 4.595.647/2021). Foram garantidos anonimato e confidencialidade aos indivíduos e foi solicitada assinatura digital de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Coletaram-se dados de 346 estudantes, com média de idade de 23,0±5,0, 269 (71,5%) do sexo feminino e 194 (51,6%) do curso de Enfermagem. 104 estudantes (30,1%) eram da Instituição A, 131 (34,8%) da Instituição B e 109 (31,5%) da C. A maioria dos estudantes estudava em período integral e tinha domínio de outra língua, 221 (63,9%) e 251 (72,5%), respectivamente. O escore médio do eHEALS foi 31,6±4,4. A tabela 1 mostra a relação dos estudantes com os conteúdos sobre saúde na internet, sua confiabilidade e aplicação. O item com menor escore foi “Eu sinto confiança para usar a informação da internet para tomar decisão sobre saúde”. Com relação às questões do eHEALS não consideradas para a pontuação total do LDS, «Até que ponto considera a internet útil para ajudá-lo (a) a tomar decisões sobre saúde?” atingiu um escore médio de 4,1±0,7. Concomitantemente, “Em que medida você considera útil poder acessar conteúdo de saúde na internet?” teve uma pontuação média de 4,5±0,6, consistente com concordância total. A consistência interna do eHEALS neste estudo foi alta (alfa de Cronbach=0,90).

Tabela 1
Escores médios de cada item do eHealth Literacy Scale conforme respostas de estudantes de enfermagem e de medicina (n=346)

A tabela 2 evidencia que a instituição C teve escore médio significativamente maior comparado às instituições A e B. As características que se associaram significativamente a maiores escores do eHEALS foram: sexo masculino, maior tempo desde o início da graduação, curso em tempo integral, ter pessoas próximas que buscam informações sobre saúde na internet, dominar outro idioma, se sentir bem ou muito bem a respeito do estado de saúde atual. De acordo com o teste de Dunn, comparado ao primeiro semestre, os estudantes têm maior nível de LDS autopercebido no segundo (p=0,019), terceiro (p=0,007), quarto (p<0,001), quinto (p <0,001), sexto (p<0,001), sétimo (p<0,001), oitavo (p<0,001), nono (p=0,002) e décimo (p<0,001) semestres. Entretanto, a tendência ao aumento do LDS não se mantém crescente ao longo dos semestres, conforme verificado na tabela 2.

Tabela 2
Relação entre o nível de letramento digital em saúde (escore eHEALS) e as características sociodemográficas e acadêmicas de estudantes de enfermagem e de medicina (n=346)

A tabela 3 mostra que as características que se correlacionaram positivamente com o nível de LDS foram idade, considerar a internet útil para ajudar a tomar decisões sobre saúde e considerar útil poder ter acesso a conteúdo sobre saúde na internet.

Tabela 3
Correlações entre variáveis quantitativas e níveis de letramento digital em saúde (escore do eHEALS) de estudantes de enfermagem e de medicina (n=346)

Discussão

Este é o primeiro estudo brasileiro a verificar que dados sociodemográficos e características acadêmicas dos alunos de Graduação em Enfermagem e Medicina se relacionam ao seu nível de LDS. No presente estudo, as pontuações médias mostram que os estudantes consideram que sabem onde encontrar recursos sobre saúde online, como usar as informações encontradas para responder às suas perguntas de saúde e diferenciar recursos de saúde de alta qualidade dos de baixa qualidade online. No entanto, não se sentem confiantes em usar informações de internet para tomar decisões de saúde.

Resultados semelhantes também foram encontrados em outros estudos. No Irã, mais da metade dos estudantes universitários de enfermagem e obstetrícia, gestão e informática médica, nutrição e reabilitação e para medicina não se sentem confiantes em usar informações da internet para tomar decisões de saúde.(2828. Huang CL, Yang SC, Chiang CH. The Associations between Individual Factors, eHealth Literacy, and Health Behaviors among College Students. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(6):2108.) Já no Paquistão, onde altos níveis de LDS foram encontrados, estes também se relacionaram a baixos níveis de autoconfiança.(3232. Hsu W, Chiang C, Yang S. The effect of individual factors on health behaviors among college students: the mediating effects of eHealth literacy. J Med Internet Res. 2014;16(12):e287.,3333. Zakar R, Iqbal S, Zakar MZ, Fischer F. COVID-19 and Health Information Seeking Behavior: Digital Health Literacy Survey amongst University Students in Pakistan. Int J Environ Res Public Health. 2021;18(8):4009.)

Tendo em vista estes resultados, um dos alvos críticos a ser considerado no planejamento de intervenções para adequação dos níveis de LDS é a autoconfiança no uso de informações, especialmente entre pessoas do sexo feminino. Assim como nosso estudo verificou que o sexo feminino se associou a menores níveis de LDS autopercebido, um estudo na Alemanha verificou que estudantes universitárias do sexo feminino tinham maiores dificuldades em buscar e avaliar informações online relacionadas ao COVID-19 do que estudantes do sexo masculino.(3434. Dadaczynski K, Okan O, Messer M, Leung AY, Rosário R, Darlington E, et al. Digital Health Literacy and Web-Based Information-Seeking Behaviors of University Students in Germany During the COVID-19 Pandemic: Cross-sectional Survey Study. J Med Internet Res. 2021;23(1):e24097.)Dessa forma, são necessárias intervenções que melhorem a confiança das estudantes em relação ao uso das informações para tomar decisões de saúde.

Nosso estudo evidenciou correlação positiva entre os níveis de LDS e a percepção dos estudantes sobre a utilidade da internet e seu conteúdo de saúde. Um estudo realizado na Jordânia corrobora estes resultados, pois verificou-se que as percepções acerca da importância e utilidade da internet se relacionaram ao nível de LDS.(1717. Tubaishat A, Habiballah L. eHealth literacy among undergraduate nursing students. Nurse Educ Today. 2016;42:47-52.) Esta percepção é potencialmente aprimorada ao longo do curso, devido às repetidas demandas por busca online, julgamento e aplicação de informações para solucionar problemas clínicos. Assim, à medida que o aluno avança no curso, seu LDS autorreferido também é aprimorado. De fato, outros estudos realizados na Etiópia, Gana e Escócia têm evidenciado relação entre tempo de graduação e maiores níveis de LDS.(3535. Shiferaw KB, Mehari EA, Eshete T. eHealth literacy and internet use among undergraduate nursing students in a resource limited country: a cross-sectional study. Inform Med Unlocked. 2020;18:100273.

36. Osei Asibey B, Agyemang S, Boakye Dankwah A. The Internet Use for Health Information Seeking among Ghanaian University Students: a Cross-Sectional Study. Int J Telemed Appl. 2017;2017:1756473.
-3737. Moreland J, French TL, Cumming GP. The Prevalence of Online Health Information Seeking Among Patients in Scotland: a Cross-Sectional Exploratory Study. JMIR Res Protoc. 2015;4(3):e85.)

Nossos dados vão ao encontro dessas informações, ao demonstrar que alunos mais velhos, que passaram mais tempo desde o início da graduação e cursaram o período integral, têm LDS maior. Os alunos da instituição C – uma universidade pública – tiveram pontuação no eHEALS mais elevada em comparação à pontuação dos alunos das instituições privadas. Esse resultado possivelmente se deve à predominância de estudantes do Curso de Enfermagem na amostra, os quais são matriculados em curso integral apenas na Instituição C.

Nos cursos integrais, em comparação a cursos de meio período, os estudantes permanecem em contato com o ambiente acadêmico por um período maior, com exigência de cumprimento de maior carga horária em atividades curriculares e extracurriculares, como participação em projetos e programas de extensão, atividades de iniciação científica, monitorias e ligas acadêmicas. Assim, os estudantes se veem frequentemente em condição de educadores em saúde e promotores de eventos científicos, o que demanda busca por informações online e julgamento quanto à sua veracidade, enquanto supervisionados por professores.

Isso demonstra que a grade curricular também pode contribuir para o desenvolvimento do LDS. Há a necessidade de criação de estratégias na universidade que colaborem com maiores oportunidades de acesso às plataformas digitais com conteúdo científico de alta qualidade. Os futuros profissionais de saúde devem desenvolver habilidades digitais adequadas e usá-las para ajudar seus pacientes a encontrar informações confiáveis.(1212. Loda T, Erschens R, Junne F, Stengel A, Zipfel S, Herrmann-Werner A. Undergraduate medical students’ search for health information online: explanatory cross-sectional study. JMIR Med Inform. 2020;8(3):e16279. Erratum in: JMIR Med Inform. 2020;8(8):e23253.) Assim, espera-se que um aluno migre de um nível básico ou interativo de LDS para um nível crítico com habilidades cognitivas de LDS ainda mais avançadas para analisar criticamente as informações e controlar eventos de vida e situações de saúde.(3838. World Health Organization (WHO). Discussion paper on promoting, measuring and implementing health literacy: Implications for policy and practice in non-communicable disease prevention and control. Geneva (WHO; 2017 [cited 2020 May 5]. Available from: https://www.who.int/global-coordination-mechanism/working-groups/background.pdf
https://www.who.int/global-coordination-...
)

Outro desafio para professores e alunos é equilibrar a equação profissionalismo versus privacidade pessoal versus privacidade do paciente em um ambiente virtual. Os estudantes frequentemente apresentam dificuldade em discernir o que é adequado do que é inadequado, com necessidade crescente de manter um perfil profissional online.(2222. Soellner R, Reder M. eHealth literacy: German translation of the self-reported measure eHEALS and development of a skill-based measure. Presented at the 27th Conference of the European Health Psychology Society, Bordeaux, France. Bordeaux: Universität Bielefeld; 2013 [cited 2020 May 5]. Available from: https://pub.uni-bielefeld.de/record/2611268
https://pub.uni-bielefeld.de/record/2611...
) Assim, espera-se dos educadores que não presumam que o letramento digital atribuído a alunos nativos da era digital é altamente desenvolvido e que saibam distinguir onde e quando a tecnologia deve estar presente, (por exemplo, para permitir que os alunos pesquisem e colaborem online) e quando isso seria prejudicial (por exemplo, uma fonte de distração).(3939. Kirschner PA, De Bruyckere P. The myths of the digital native and the multitasker. Teaching Teacher Education. 2017;67:135-42.)Portanto, devem-se buscar as melhores estratégias, inicialmente para diagnosticar e posteriormente para avaliar o nível de LDS após as intervenções,(1212. Loda T, Erschens R, Junne F, Stengel A, Zipfel S, Herrmann-Werner A. Undergraduate medical students’ search for health information online: explanatory cross-sectional study. JMIR Med Inform. 2020;8(3):e16279. Erratum in: JMIR Med Inform. 2020;8(8):e23253.,1313. KHademian F, Arshadi Montazer MR, Aslani A. Web-based health Information Seeking and eHealth Literacy among College students. A Self-report study. Invest Educ Enferm. 2020;38(1):e8.) como o emprego do eHEALS.

As três instituições participantes não incluem conteúdo específico sobre LDS. Da mesma maneira, no Reino Unido, uma pesquisa com 21.697 estudantes universitários verificou que apenas 17 a 28% deles receberam apoio ou treinamento para desenvolver habilidades básicas de tecnologia da informação, manter dados pessoais seguros, proteger a privacidade em espaços online e buscar, avaliar e aplicar informações para solucionar problemas.(4040. Jisc Data Analytics. Student digital experience insights survey 2020/21. Findings from UK higher education (pulse 1: October-December 2020). United Kingdom: Jisc Data Analytics; 2021 [cited 2021 Nov 4]. Available from: https://repository.jisc.ac.uk/8318/1/DEI-P1-HE-student-briefing-2021-FINAL.pdf
https://repository.jisc.ac.uk/8318/1/DEI...
)

Neste sentido, estratégias têm sido implementadas no currículo acadêmico para melhorar o LDS de universitários. Na Austrália, a Faculdade de Medicina, Enfermagem e Ciências da Saúde, a Faculdade de Farmácia e Ciências Farmacêuticas e a Faculdade de Tecnologia da Informação da Monash University colaboraram para tornar explícitos os objetivos de aprendizagem em saúde digital em comum exigidos de todos os estudantes da saúde, por meio do estabelecimento de uma estrutura curricular. Os objetivos de aprendizagem incluem, por exemplo, explicar como a privacidade é aplicada à saúde digital e sua importância para os profissionais de saúde e explicar as oportunidades, riscos e desafios do uso de smartphones no futuro.(4141. Monash University. The Monash University digital health curriculum framework. Australian: Monash University; 2021 [cited 2021 Nov 4]. Available from: https://www.monash.edu/__data/assets/pdf_file/0010/2205496/Digital-Health-Framework.pdf
https://www.monash.edu/__data/assets/pdf...
)

Nossos resultados são limitados pela coleta em apenas duas regiões do país, o que não permite a generalização dos resultados. Estudantes com conexões instáveis também podem ter desconsiderado a participação ou desistido de participar. Há de se considerar também que, caso a versão brasileira do eHEALS de Mialhe et al.(2020. Mialhe FL, Moraes KL, Sampaio HA, Brasil VV, Vila VS, Soares GH, et al. Evaluating the psychometric properties of the eHealth Literacy Scale in Brazilian adults. Rev Bras Enferm. 2022;75(1):e20201320.) tivesse sido utilizada, diferenças poderiam ter sido verificadas no nível de LDS autorreferido, uma vez que os itens 1, 2, 3, 6 e 7 do instrumento foram adaptados de maneira diferente por Barros(1919. Barros JK. Adaptação transcultural e análise das propriedades psicométricas de instrumento para avaliação da literacia digital em saúde (dissertação). Maringá (PR): UniCesumar; 2019.)e Mialhe et al.(2020. Mialhe FL, Moraes KL, Sampaio HA, Brasil VV, Vila VS, Soares GH, et al. Evaluating the psychometric properties of the eHealth Literacy Scale in Brazilian adults. Rev Bras Enferm. 2022;75(1):e20201320.) Nesses itens, Mialhe et al.(2020. Mialhe FL, Moraes KL, Sampaio HA, Brasil VV, Vila VS, Soares GH, et al. Evaluating the psychometric properties of the eHealth Literacy Scale in Brazilian adults. Rev Bras Enferm. 2022;75(1):e20201320.)utilizaram a expressão “recursos de saúde” e acrescentaram a explicação de que tais recursos se referem tanto às páginas da internet como a aplicativos relacionados à saúde. Barros,(1919. Barros JK. Adaptação transcultural e análise das propriedades psicométricas de instrumento para avaliação da literacia digital em saúde (dissertação). Maringá (PR): UniCesumar; 2019.) por sua vez, utilizou a expressão “conteúdos sobre saúde”, enfatizando as informações veiculadas online, conforme sugestões dos especialistas durante a verificação de evidências de validade de conteúdo. Embora haja divergência nos termos, estudos futuros, com populações semelhantes podem ser realizados para identificar as limitações das versões do instrumento eHEALS usadas no Brasil.

Além disso, a desejabilidade social - o desejo do estudante de fornecer uma resposta esperada e desejada no meio acadêmico - pode ter impactado o resultado das respostas dos estudantes. Neste sentido, estudos de base populacional de avaliações do nível de LDS e fatores relacionados devem ser reproduzidos, de forma a subsidiar e direcionar esforços curriculares nas universidades, engajando futuros profissionais da saúde na disseminação de informações confiáveis dentro e fora do contexto acadêmico, bem como na assistência assistida por tecnologias.

Conclusão

Dentre estudantes universitários cursando Enfermagem ou Medicina, ser mais velho, do sexo masculino, compreender a utilidade da internet, ter maior tempo no curso de graduação, estudar em instituição pública em curso integral, ter pessoas próximas que buscam informações sobre saúde online, dominar outro idioma e ter sentimento positivo a respeito do estado de saúde se relacionaram a maiores níveis de LDS.

Agradecimentos

Bárbara Stéphanie Pereira Macedo recebeu bolsa de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, Processo no. 139145/2020-6.

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Editado por

Editor Associado (Avaliação pelos pares): Alexandre Pazetto Balsanelli (https://orcid.org/0000-0003-3757-1061) Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, SP, Brasil

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    9 Set 2021
  • Aceito
    12 Abr 2022
Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo R. Napoleão de Barros, 754, 04024-002 São Paulo - SP/Brasil, Tel./Fax: (55 11) 5576 4430 - São Paulo - SP - Brazil
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