Indicadores de boas práticas em saúde para a população de rua: revisão de escopo

Hino, Paula; Fornari, Lucimara Fabiana; Egry, Emiko Yoshikawa; Santana, Carmen Lúcia Albuquerque de; Oliveira, Elda de

doi:10.37689/acta-ape/2022AR004766

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Acta Paulista de Enfermagem

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Sumário

Artigo de Revisão • Acta Paul Enferm 35 • 2022 • https://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AR004766 copiar

Indicadores de boas práticas em saúde para a população de rua: revisão de escopo

Indicadores de buenas prácticas en salud para los habitantes de la calle: revisión de alcance

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Resumo

Objetivo

Identificar os indicadores utilizados para embasar as Boas Práticas em Saúde à população de rua.

Métodos

Trata-se de uma revisão de escopo cuja seleção dos artigos ocorreu em dezembro de 2019 e foi atualizada em agosto de 2020. Os termos utilizados para a busca foram: homeless persons, homeless, runway, foster care, street people, health status indicators, primary care nursing e primary health care. Foram incluídos estudos publicados em língua inglesa, espanhola e portuguesa, sem delimitação de tempo de publicação.

Resultados

Foram selecionados 29 artigos. A partir da leitura na íntegra, houve a emergência de quatro categorias empíricas de indicadores: Relação do usuário com o serviço de atendimento; Avaliação das condições de saúde e doença; Avaliação da inclusão social e Avaliação das mudanças nas características comportamentais e psicológicas. Os estudos encontrados utilizaram-se de indicadores majoritariamente para perceber a adesão ao propósito do projeto de intervenção tendo por alvo a população de rua.

Conclusão

A forma para verificação destes indicadores foi variada, assim como os projetos de intervenção, não há um consenso acerca de que tipo de indicadores seria fértil para a avaliação das ações realizadas.

Pessoas em situação de rua; Atenção primária à saúde; Indicadores básicos de saúde; Indicadores sociais

Primeiro autor, ano de publicação	Objetivo	Tipo de estudo/ Indicadores
1. Díez El. (1996)⁽¹³⁾	Avaliar um programa de assistência social e acompanhamento de saúde voltado para pessoas em situação de rua.	* Relação com os serviços: número e frequência de internação hospitalar; Condições de saúde-doença.
2. Orwin RG. (1999)⁽¹⁴⁾	Estudar um programa de intervenção para pessoas em situação de rua com problemas de álcool e outras drogas.	♠ Relação com os serviços: motivos para permanência e saída do programa; Inclusão social: tempo sem teto e satisfação com a moradia; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias.
3. Lam JÁ. (2000)⁽¹⁵⁾	Estudar a relação entre a melhora na qualidade de vida entre pessoas em situação de rua com doença mental grave.	* Características psicológicas: melhoria da qualidade de vida; Inclusão social: tempo sem teto, satisfação com a moradia, apoio social, emprego e renda; Condição de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias.
4. Rosenheck RA. (2001)⁽¹⁶⁾	Avaliar as mudanças pós-alta no estado de saúde e no uso de serviços associados a um modelo de tratamento comunitário.	* Relação dos usuários com os serviços: motivos para permanência e saída do programa; Fidelidade ao modelo^a.
5. Cook J. (2011)⁽¹⁷⁾	Estudar os resultados de 4.778 moradores de rua com doença mental grave matriculados no Programa de Acesso aos Cuidados Comunitários e Serviços e Apoio Eficazes.	* Relação dos usuários com os serviços: assistência jurídica e sistema de justiça; Inclusão social: apoio social, emprego e renda; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias, melhoria da saúde física, mental e sexual.
6. Clark C. (2003)⁽¹⁸⁾	Comparar a eficácia de dois tipos de programas de serviços na melhoria da falta de moradia entre pessoas com doença mental grave.	* Inclusão social: tempo sem teto, satisfação com a moradia; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias; melhoria da saúde física, mental e sexual; Fidelidade do modelo^a.
7. Yanos PT. (2004)⁽¹⁹⁾	Investigar a resposta à moradia e experiência de integração na comunidade de ex-moradores de rua com doença mental grave.	♣ Características psicológicas: satisfação geral com a vida e saúde, resultados subjetivos e funcionais, escolhas/mudanças de vida, sensação de segurança e proteção; Inclusão social: melhoria nas relações interpessoais, participação social e comunitária; Condições de saúde-doença: melhoria das condições físicas, mentais e infecciosas.
8. Jarjoura D. (2004)⁽²⁰⁾	Verificar a eficácia da triagem e do tratamento para depressão entre pacientes ambulatoriais que vivem em situação de rua.	* Características psicológicas: melhoria da qualidade de vida; Condições de saúde-doença: melhoria da saúde física, mental e sexual, avaliação dos transtornos mentais, melhoria das condições físicas, mentais e infecciosas.
9. Graham-Jones S. (2004)⁽²¹⁾	Avaliar a eficácia de um defensor da saúde junto a pessoas em situação de rua em ambiente de atenção primária.	* Relação dos usuários com os serviços: acesso e uso dos serviços de saúde, adesão ao projeto terapêutico; Características psicológicas: qualidade de vida; Inclusão social: tempo sem teto, satisfação com a moradia, suporte e apoio social; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias; melhoria das condições físicas, mentais e sexual.
10. Nelson G. (2005)⁽²²⁾	Determinar se a aquisição de habitação está associada a melhorias no apoio social, integração comunitária, atividade significativa e outros aspectos.	* Características psicológicas: mudanças de vida e sentimento de esperança.
11. Cheng AL. (2008)⁽²³⁾	Avaliar o impacto do gênero sobre os resultados de uma intervenção de política pública voltada para pessoas em situação de rua e com doença mental.	* Características psicológicas: vitimização; Inclusão social: tempo sem teto, satisfação com a moradia, melhoria nas relações interpessoais, participação social e comunitária, suporte e apoio social; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias.
12. Savage CL. (2008)⁽²⁴⁾	Comparar resultados de saúde específicos em um grupo de pessoas em situação de rua que receberam intervenção de uma enfermeira.	* Relação dos usuários com os serviços: acesso e uso dos serviços de saúde; Características psicológicas: melhoria da qualidade de vida; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias.
13. McGuire J. (2009)⁽²⁵⁾	Examinar a hipótese de que uma demonstração clínica integrando atenção primária e serviços de saúde mental pode melhorar o estado de saúde de pessoas em situação de rua.	* Relação dos usuários com os serviços: melhoria do acesso ao cuidado.
14. Herman D. (2011)⁽²⁶⁾	Avaliar a eficácia do modelo Critical Time Intervention.	* Relação dos usuários com os serviços: adesão ao projeto terapêutico; Inclusão social: tempo sem teto e satisfação com a moradia.
15. Van Vugt MD. (2011)⁽²⁷⁾	Investigar a associação entre a fidelidade do modelo e desfecho no sistema de saúde holandês.	* Relação dos usuários com os serviços: acesso e uso dos serviços de saúde, frequência de internação, relação médico-paciente; Características psicológicas: necessidades de cuidados psicológicas específicas dos moradores de rua, comportamento de busca de ajuda, funcionamento mental e social; Inclusão social: housing stability, status de moradia, tempo sem satisfação com a moradia, melhoria nas relações interpessoais, participação social e comunitária emprego e renda; Fidelidade do modelo^a.
16. Tsai J. (2011)⁽²⁸⁾	Avaliar a satisfação da moradia de pessoas em situação de rua que receberam alojamento.	* Características psicológicas: satisfação geral com a vida e saúde, resultados subjetivos e funcionais; Inclusão social: status de moradia, tempo sem teto e satisfação com a moradia.
17. Padgett DK. (2011)⁽²⁹⁾	Averiguar o uso de serviços de tratamento de abuso de substâncias entre pessoas em situação de rua com doenças mentais matriculados nos programas Housing First e Treatment First.	♣ Relação dos usuários com os serviços: experiências nos serviços; Características psicológicas: necessidades de físico e psicológico, necessidades específicas dos moradores de rua; comportamento de busca de ajuda e funcionamento mental e social, recuperação clínica, existencial, funcional, física e social; Inclusão social: melhoria nas relações interpessoais, participação social e comunitária; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias; melhoria da saúde física, mental e sexual.
18. Patterson M. (2012)⁽³⁰⁾	Estudar as conclusões do Homelessness Intervention Project.	* Relação dos usuários com os serviços: acesso e uso dos serviços de saúde, frequência de internação hospitalar, assistência jurídica, sistema de justiça; Inclusão social: suporte, apoio social, emprego e renda; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias.
19. Tomita A. (2012)⁽³¹⁾	Estudar o impacto da Intervenção em Tempo Crítico na redução da reinternação entre ex-moradores de rua com doença mental grave.	* Relação dos usuários com os serviços: frequência de internação hospitalar; Inclusão social: housing stability, status de moradia e tempo sem teto.
20. Krabbenborg MAM. (2013)⁽³²⁾	Examinar a eficácia do Houvast em serviços holandeses para jovens em situação de rua.	* Relação dos usuários com os serviços: acesso e uso dos serviços de saúde, aumento da confiança nos profissionais; Características psicológicas: melhoria da qualidade de vida, necessidades de cuidados e psicológicas, necessidades específicas dos moradores de rua, coping, resiliência e incapacidade intelectual; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias; melhoria da saúde física, mental e sexual.
21. Kertesz SG. (2013)⁽³³⁾	Comparar as experiências de atendimento de pessoas em situação de rua em organizações de saúde.	* Relação dos usuários com os serviços: relação médico-paciente, qualidade do cuidado primário, melhoria do acesso ao cuidado; Características psicológicas: necessidades físicos e psicológicas, necessidades específicas dos moradores de rua, satisfação geral com a vida e saúde, resultados subjetivos e funcionais, e modelo comportamental; Inclusão social: tempo sem teto e satisfação com a moradia; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias, melhoria da saúde física, mental e sexual.
22. Patterson ML. (2014)⁽³⁴⁾	Investigar a integração na comunidade entre adultos desabrigados com doença mental.	* Inclusão social: melhoria nas relações interpessoais, participação social e comunitária; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias, avaliação dos transtornos mentais, condições médicas e doenças infecciosas.
23. Padgett DK. (2016)⁽³⁵⁾	Investigar a trajetória de recuperação de 38 pessoas em situação de rua inscritos em programas habitacionais de apoio.	♣ Características psicológicas: recuperação clínica, existencial, funcional, física e social.
24. Kriegel LS. (2016)⁽³⁶⁾	Comparar a fidelidade do modelo Housing First e resultados do cliente residencial entre programas forenses e não forenses.	♣ Fidelidade do modelo^a.
25. Wittenberg E. (2016)⁽³⁷⁾	Demonstrar a aplicação da Escala Melhor-Pior em ambiente de atenção primária.	* Best-worst scaling (provedor, configuração, procedimento, medos e preocupações).
26. Tsai J. (2019)⁽³⁸⁾	Investigar mudanças na saúde física de pessoas em situação de rua que participam de um programa de moradia e as associações entre mudanças na saúde física, situação de moradia e confiança nos prestadores de cuidado.	* Relação dos usuários com os serviços: aumento da confiança nos profissionais; Características psicológicas: melhoria da qualidade de vida, satisfação com a vida e saúde, resultados subjetivos e funcionais; Inclusão social: tempo sem teto; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias, avaliação de transtornos mentais, condições médicas e doenças infecciosas, e efetividade das condições médicas.
27. Varley Al. (2020)⁽³⁹⁾	Investigar os principais domínios da atenção primária a partir de um modelo centrado na pessoa desabrigada.	♣ Relação do usuário com serviço: acesso e uso dos serviços de saúde, adesão ao projeto terapêutico, aumento da confiança nos profissionais e relação médico-paciente; Características psicológicas: necessidades de cuidados e psicológicas, necessidades específicas dos moradores de rua; Inclusão social: melhoria nas relações interpessoais, participação social e comunitária; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias.
28. Chhabra M. (2020)⁽⁴⁰⁾	Investigar como a estabilidade da moradia afetou a gestão de doenças crônicas e as relações sociais e comunitárias.	♣ Relação do usuário com serviço: acesso e uso dos serviços de saúde; Características psicológicas: sensação de segurança e proteção, gestão das condições agudas e crônicas; Inclusão Social: tempo sem teto, satisfação com a moradia, melhoria nas relações interpessoais, participação social e comunitária; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias.
29. Zeitler M. (2020)⁽⁴¹⁾	Investigar o impacto da prevalência de condições crônicas e uso de cuidados em saúde em uma clínica para pessoas em situação de rua.	* Relação do usuário com serviço: acesso e uso dos serviços de saúde, adesão ao projeto terapêutico, qualidade do cuidado primário; Inclusão social: suporte e apoio social; Condições de saúde-doença: frequência do consumo de substâncias, melhoria da saúde física, mental e sexual, e efetividade das condições médicas.

Categorias empíricas	Indicadores	Artigos que mencionam os indicadores
a) Relação do usuário com o serviço de atendimento	Acesso e uso dos serviços de saúde	(21) (27) (24) (30) (32) (39) (40) (41)
	Número e frequência de internação hospitalar ou psiquiátrica	(13) (27) (30) (31)
	Adesão ao projeto terapêutico-cuidativo	(21) (26) (39) (41)
	Aumento da confiança nos profissionais	(32) (36) (38) (39)
	Working aliance e relação médico-paciente	(27) (33) (39)
	Assistência jurídica e sistema de justiça	(17) (30)
	Motivos para permanência e saída do programa	(14) (16)
	Qualidade do cuidado primário	(33)(41)
	Melhoria do acesso ao cuidado	(25) (33)
	Experiências nos serviços	(29)
b) Avaliação das condições de saúde e doença	Frequência e intensidade do consumo de álcool, tabaco e outras substâncias psicoativas	(15) (14) (17) (18) (21) (23) (24) (29) (32) (33) (34) (38) (39) (40) (41)
	Melhoria da saúde física, mental e sexual	(17) (18) (20) (21) (29) (32) (33) (41)
	Melhoria da qualidade de vida	(15) (20) (21) (24) (32) (38)
	Avaliação dos transtornos mentais, condições médicas e doenças infeciosas	(19)(20)(34)(38)
	Efetividade das condições médicas	(38) (41)
	Evolução das taxas de tuberculose	(13)
c) Avaliação da inclusão social	Housing stability, status de moradia, tempo sem teto e satisfação com a moradia	(14) (15) (18) (21) (23) (26) (27) (28) (31) (33) (40)
	Participação social e melhoria nos relacionamentos interpessoais e com a comunidade	(19) (23) (27) (29) (34) (39) (40)
	Suporte e apoio social	(15) (17) (21) (23) (30) (41)
	Emprego e renda	(15) (17) (27)(30)
d) Avaliação das mudanças nas características comportamentais e psicológicas	Necessidades de cuidados psicológicos e específicas dos moradores de rua	(27) (29) (32) (33) (39)
	Satisfação geral com a vida e saúde, resultados subjetivos e funcionais	(19) (28) (33)
	Escolhas e mudanças de vida	(19) (22)
	Sensação de segurança e proteção	(19) (40)
	Comportamento de busca de ajuda e funcionamento mental e social	(27) (29)
	Coping	(32)
	Resiliência	(32)
	Vitimização	(23)
	Sentimento de esperança	(22)
	Incapacidade intelectual	(32)
	Modelo comportamental	(33)
	Recuperação clínica, existencial, funcional, física e social	(35)
	Gestão das condições agudas e crônicas	(40)

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[1] Autor correspondente: Paula Hino E-mail: paulahino@yahoo.com.br