Inteligência emocional entre estudantes de enfermagem na pandemia de COVID-19

Inteligencia emocional en estudiantes de enfermería durante la pandemia de COVID-19

Resumo

Objetivo

Analisar a inteligência emocional entre estudantes de enfermagem na pandemia de COVID-19 e descrever os escores de atenção emocional, clareza e reparação na gestão das emoções.

Métodos

Trata-se de um estudo quantitativo, observacional de delineamento transversal, composto por 121 estudantes do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Vale do São Francisco. A coleta de dados foi realizada por meio de um formulário autoaplicável contendo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, questionário sociodemográfico e a escala Trait Meta-Mood Scale-24, validado para o uso em língua portuguesa. Os dados foram submetidos a tratamento estatístico utilizando-se o programa Statistical Package for the Social Sciences, versão 20.0.

Resultados

Não houve diferenças significativas entre sexo, dados sociodemográficos e período da graduação com a pontuação do Trait Meta-Mood Scale-24. Entretanto, os alunos do quarto e do oitavo semestre apresentaram significativamente menores médias desta escala (p=0,015).

Conclusão

Evidenciou-se a necessidade de abordar a inteligência emocional ao longo da graduação em enfermagem, além de reforçar o amparo psicológico dos estudantes, a partir de serviços já disponibilizados pela universidade.

Inteligência emocional; Estudantes de enfermagem; Infecções por coronavírus; Pandemia; Autogestão

Resumen

Objetivo

Analizar la inteligencia emocional de estudiantes de enfermería durante la pandemia de COVID-19 y describir los puntajes de atención emocional, claridad y reparación en la gestión de las emociones.

Métodos

Se trata de un estudio cuantitativo, observacional de diseño transversal, compuesto por 121 estudiantes de la carrera de Enfermería de la Universidad Federal do Vale do São Francisco. La recopilación de datos se realizó a través de un formulario autoaplicado que contenía el Consentimiento Informado, un cuestionario sociodemográfico y la escala Trait Meta-Mood Scale-24, validada para uso en idioma portugués. Los datos pasaron por tratamiento estadístico utilizando el programa Statistical Package for the Social Sciences, versión 20.0.

Resultados

No hubo diferencias significativas entre sexo, datos sociodemográficos y semestre de la carrera con el puntaje de la Trait Meta-Mood Scale-24. Sin embargo, los alumnos del cuarto y del octavo semestre presentaron promedios considerablemente inferiores en esta escala (p=0,015).

Conclusión

Se evidenció la necesidad de tratar la inteligencia emocional a lo largo de la carrera de enfermería, además de reforzar la contención psicológica de los estudiantes, a partir de servicios que la universidad ya ofrece.

Inteligencia emocional; Estudiantes de enfermería; Infecçiones por coronavírus; Pandemia; Automanejo

Abstract

Objective

To analyze emotional intelligence among nursing students during the COVID-19 pandemic and describe emotional attention, clarity and repair scores in managing emotions.

Methods

This is a quantitative, observational cross-sectional study, comprising 121 nursing students at the Universidade Federal do Vale do São Francisco. Data collection was performed using a self-administered form containing the Informed Consent Form, a sociodemographic questionnaire and the Trait Meta-Mood Scale-24, validated for use in Portuguese. Data were submitted to statistical treatment using the Statistical Package for the Social Sciences, version 20.0.

Results

There were no significant differences between gender, sociodemographic data, and graduation period with Trait Meta-Mood Scale-24 scores. However, fourth and eighth semester students had significantly lower averages on this scale (p=0.015).

Conclusion

The need to address emotional intelligence throughout the nursing graduation was evidenced, in addition to reinforcing the psychological support of students, based on services already provided by the university.

Emotional intelligence; Students, nursing; Coronavirus infections; Pandemics; Self management

Introdução

O conceito de inteligência tem fomentado discussões ao longo dos séculos diante do debate sobre as múltiplas inteligências. A intersecção entre os conceitos de inteligência e emoção deu origem à Inteligência Emocional (IE), constructo definido como a capacidade de um indivíduo de perceber e distinguir emoções em si e em outros, de modo a conduzir e facilitar seu pensamento e ações.(¹) Assim, com a aptidão de Gestão de Emoções (GE), o indivíduo é capaz de perceber e discernir emoções e usar as informações obtidas em sua análise para guiar o comportamento.

Nos anos que se seguiram a IE cresceu exponencialmente. Atualmente, seu arcabouço está ancorado em cinco componentes: autoconsciência, autogestão, automotivação, empatia e gerenciamento de relacionamentos.(²) Esta perspectiva ampliou a definição da IE ao somar a motivação, funcionamento social e dimensões de personalidade ao conceito, tais como: persistência, zelo e otimismo e caracterizando, assim, o modelo misto.(²,³) A partir dos achados, investigações científicas se tornaram cada vez mais frequentes ao passo que a quantidade de interessados pelo tema aumentou.

Ante o exposto, no atual contexto turbulento causado pela pandemia da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19), as medidas implementadas para reduzir o pico de incidência de infecções, a exemplo das ações de isolamento social, divulgação constante do cenário epidemiológico em noticiários e quarentena voluntária da população, interferem de modo substancial na saúde mental e inteligência emocional das pessoas e comunidades, uma vez que o estresse, o medo da morte e de perder um familiar podem gerar repercussões negativas.(⁴-⁶)

Ainda, no que se refere à pandemia, mais de um bilhão de estudantes ficaram afastados das escolas e universidades em todo o mundo. No Brasil, o número de estudantes afetados foi superior a cinquenta milhões, dos quais 8,5 milhões cursam ensino superior.(⁷) A maioria das universidades ao redor do mundo substituiu o ensino presencial pela modalidade de Ensino Remoto Emergencial (ERE) por meio de plataformas online.(⁸)

Diversos estudos têm se empenhado em conhecer e analisar as repercussões da pandemia e do ERE na saúde biopsicossocial dos estudantes universitários. Pesquisa pioneira na área tem mostrado que as principais situações estressoras para os acadêmicos no contexto de pandemia têm sido as limitações financeiras e o ensino na modalidade remota.(⁸) Diante disso, a IE pode contribuir com o manejo das exigências da vida pessoal ou profissional e também eventos relacionados à crise desencadeada pelo novo Coronavírus (SARS-CoV-2).(⁵)

Nesta perspectiva, a habilidade de Gestão Emocional é fator determinante no modo de enfrentamento individual, uma vez que a IE tem sido associada ao melhor desempenho acadêmico,(⁹) a maior satisfação pessoal, bem-estar psicológico e social(¹⁰) e às melhores habilidades de estudantes para lidar com desafios emocionais, sobretudo na área da saúde e, em especial, na enfermagem.(¹¹)

As pesquisas realizadas com discentes de enfermagem em países como Eslovênia(¹²) e Austrália(¹³) demonstram que o nível de Inteligência Emocional tende a ser maior entre estes alunos em comparação àqueles de outros cursos, bem como pode ser aprimorada no decorrer do processo formativo. Outrossim, estudos com o mesmo público-alvo desenvolvidos na China,(¹⁴) Israel,(¹⁵) Turquia(¹⁶) e Reino Unido(¹⁷) evidenciam que o melhor nível de IE está positivamente relacionado à redução da procrastinação, aumento da autoeficácia, maior chance de sucesso acadêmico e profissional, desenvolvimento de pensamento crítico, melhor bem-estar, enfrentamento focado no problema e baixo estresse percebido.

Por considerar que os reflexos diretos e indiretos da pandemia de COVID-19 podem interferir na atenção, clareza e reparação emocional de estudantes de enfermagem, construiu-se a seguinte questão norteadora: “Como os estudantes de enfermagem gerenciam as emoções na pandemia de COVID-19?”.

Assim, o estudo tem o objetivo geral de analisar a inteligência entre estudantes de enfermagem na pandemia de COVID-19 e descrever os escores de atenção emocional, clareza emocional e reparação emocional na gestão das emoções.

Métodos

Trata-se de um estudo quantitativo, observacional de delineamento transversal, sendo utilizado a ferramenta STROBE (Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology) como checklist para guiar sua realização.(¹⁸)

A população foi composta por 121 estudantes do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). Esta instituição localiza-se no semiárido nordestino. O curso de Enfermagem adota estrutura curricular flexível e interdisciplinar que prioriza a formação humana e acadêmica orientada para o Sistema Único de Saúde (SUS) para o desenvolvimento de uma conduta profissional crítica e reflexiva, nos diversos cenários de atuação. Ainda, tendo em vista oferecer suporte psicológico aos estudantes em situação de sofrimento mental intenso, a Universidade dispõe do Centro de Práticas e Estudos em Psicologia (CEPPSI) e apoio do Projeto de Extensão Núcleo de Cuidado ao Estudante Universitário do Semiárido (Nuceu), os quais contribuem no cuidado à saúde mental.

O Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Vale do São Francisco possui 179 estudantes. Todos foram convidados a participar do estudo na etapa quantitativa. Convém mencionar que nesta fase, o cálculo amostral foi equivalente a 107 participantes, considerando Índice de Confiança (IC) de 95% e Erro Amostral de 5%.

Os participantes de pesquisa atenderam aos seguintes critérios de inclusão: ser estudante de enfermagem da Univasf e estar regularmente matriculado no curso. Foram excluídos os estudantes que tinham idade inferior a 18 anos no momento da coleta dos dados. Cabe destacar que possuir diagnóstico prévio de transtorno mental/psiquiátrico e estar em uso de medicamentos psicoativos não foram considerados critérios de exclusão da participação do discente.

Para o desenvolvimento da pesquisa foram adquiridos os nomes completos e e-mails de todos os estudantes regularmente matriculados no Curso de Enfermagem, encaminhado convite para participação e encaminhado o link de acesso ao formulário da coleta de dados, o qual foi hospedado na plataforma gratuita Google Forms.

O instrumento de coleta de dados consistiu em formulário autoaplicado dividido em três seções: a primeira referente ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo obrigatória a concordância para participação; a seguinte correspondente ao questionário sociodemográfico, por meio do qual se obteve o perfil dos estudantes em relação ao sexo, orientação sexual, raça/cor, fonte de renda, estado civil e semestre de graduação; e a última seção conteve a escala Trait Meta-Mood Scale (TMMS-24), validada para uso em língua portuguesa e composta de uma série de vinte e quatro afirmações divididas igualmente entre três aspectos inerentes à gestão de emoções, são eles: atenção, clareza e reparação emocional.(¹⁹)

Os dados dos questionários foram analisados a partir do agrupamento das afirmações de 1 a 8 para o fator de Atenção Emocional, de 9 a 16 para o aspecto Clareza Emocional e de 17 a 24 para a Reparação Emocional, sendo feito o somatório da pontuação e análise considerando os parâmetros validados para os públicos masculino e feminino.(¹⁹,²⁰)

Na atenção emocional o intervalo médio de pontuação é de 22 a 32 para homens e 25 a 35 para mulheres, o que sinaliza para atenção emocional adequada, já pontuações acima de 33 para homens e 36 para mulheres ou valores menores que 21 para homens e 24 para mulheres demonstram que precisa ser melhorada. Quanto à dimensão clareza emocional, escores acima de 36 para homens e 35 para mulheres, correspondem à excelente clareza emocional, entre 26 a 35 para homens e 24 a 34 para mulheres caracteriza-se como clareza adequada e valores menores que 25 para homens e 23 para mulheres sinalizam para necessidade de melhora. Na dimensão reparação emocional, as pontuações acima de 36 para homens e 35 para mulheres também representam excelente reparação emocional, entre 24 a 35 para homens e 24 a 34 para mulheres é considerada reparação emocional adequada e pontuações menores que 23 para homens e mulheres, existe a necessidade de melhora.(²⁰) No questionário, os indivíduos devem classificar cada uma de suas respostas em uma escala Likert que vai de 1 a 5 pontos para indicar o seu nível de concordância. A pontuação total é obtida somando as respostas de cada subescala, cuja pontuação varia de 8 a 40 pontos.(¹⁹,²⁰)

As informações foram convertidas para planilha eletrônica do Programa Microsoft Excel 2019. Em seguida, os dados foram submetidos a tratamento estatístico utilizando-se o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 20.0.

A normalidade das variáveis foi verificada através do teste de Shapiro-Wilk, foi utilizado o teste T Student para variáveis contínuas, independentes e univariadas e análise de variância anova para afim de comparar mais de duas variáveis categóricas e contínuas, foi utilizada a estatística de Levene para verificar a homogeneidade de variâncias. O nível de significância adotado foram os valores que apresentaram o p valor ≤ 0,05.

O estudo possui aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa, conforme parecer de nº 4.823.109 e CAAE 46989021.9.0000.8052.

Resultados

Participaram do estudo 121 estudantes do Curso de Enfermagem da Univasf. A maior frequência foi do sexo feminino 97 (80,2%). Quanto à orientação sexual, 95 (78,5%) se consideram heterossexuais. Houve o predomínio de estudantes de raça/cor parda, com 67 (55,4%) e o estado civil predominante foram os solteiros, com 106 (87,6%). A média de idade da amostra foi de 23,98±5,2 anos. No que se refere a renda, 67 (55,4%) dependem dos pais para se manter, e 110 (90,9 %) relataram não possuir filhos.

O estudo contou com a participação de estudantes do segundo, quarto, sexto e oitavo período. Entre os participantes, 32 (26,4%) estavam matriculados no segundo semestre, 26 (21,5%) no quarto, 35 (23,2%) no sexto e 28 (28,9%) cursavam o oitavo semestre. Cabe mencionar que o ingresso letivo no Curso de Enfermagem é anual, por este motivo, havia somente semestres pares. O décimo semestre não foi contemplado, pois estes estudantes não puderam cursar o componente, em virtude de ser o estágio supervisionado, o qual estava suspenso, por medidas de segurança no auge da pandemia.

A média geral de pontuação da escala TMMS-24, foi de 84,17±14,9. A tabela 1, são apresentadas a distribuição das frequências dos 24 domínios que compõem a escala TMMS-24.

Tabela 1
Distribuição das frequências dos domínios da escala Trait Emotional Meta-Mood Scale TMMS-24 dos estudantes de enfermagem da Univasf (n=121)

Domínios TMMS-24	Discordo totalmente n(%)	Concordo um pouco n(%)	Concordo bastante n(%)	Concordo muito n(%)	Concordo totalmente n(%)
Atenção aos sentimentos	0(0)	15(12,4)	25(20,7)	43(35,5)	38(31,4)
Preocupação com que sinto	0(0)	10(8,3)	20(16,5)	37(30,6)	54(44,6)
Dedicado a pensar sobre as emoções	2(1,7)	21(17,4)	29(24,0)	40(33,1)	29(24,0)
Vale a pena pensar sobre minhas emoções e humor	2(1,7)	7(5,8)	15(12,4)	29(24,0)	68(56,2)
Permito que meus sentimentos afetem os meus pensamentos	3(2,5)	8(6,6)	23(19,0)	46(38,0)	41(33,9)
Penso no meu humor constantemente	5(4,1)	32(26,4)	35(28,9)	26(21,5)	23(19,0)
Penso nos meus sentimentos frequentemente	3(2,5)	22(18,2)	31(25,6)	31(25,6)	34(28,1)
Presto muita atenção em como estou me sentindo	4(3,3)	19(15,7)	36(29,8)	35(28,9)	27(22,3)
Meus sentimentos são claros para mim	14(11,6)	35(28,9)	30(24,8)	30(24,8)	12(9,9)
Posso definir meus sentimentos frequentemente	9(7,4)	31(25,6)	38(31,4)	27(22,3)	16(13,2)
Quase sempre sei como estou me sentindo	7(5,8)	22(18,2)	46(38,0)	28(23,1)	18(14,9)
Conheço meus sentimentos com relação às pessoas	2(1,7)	12(9,9)	38(31,4)	41(33,9)	28(23,1)
Percebo meus sentimentos em diferentes situações	2(1,7)	9(7,4)	34(28,1)	45(37,2)	31(25,6)
Sempre posso dizer como estou me sentido	12(9,9)	36(29,8)	35(28,9)	26(21,5)	12(9,9)
Às vezes posso dizer quais são minhas emoções	1(0,8)	17(14,0)	34(28,1)	44(36,4)	25(20,7)
Posso chegar a compreender meus sentimentos	1(0,8)	11(9,1)	37(30,6)	48(39,7)	24(19,8)
Mesmo que me sinta triste, tenho uma visão otimista	14(11,6)	32(26,4)	27(22,3)	29(24,0)	19(15,7)
Mesmo que me sinta mal, procuro pensar em coisas agradáveis	6(5,0)	35(28,9)	30(24,8)	28(23,1)	22(18,2)
Quando estou muito triste, penso nos prazeres da vida	14(11,6)	40(33,1)	33(27,3)	17(14,0)	17(14,0)
Tento pensar positivamente mesmo que me sinta mal	7(5,8)	40(33,1)	26(21,5)	27(22,3)	21(17,4)
Se penso muito sobre alguma coisa, tento me acalmar	5(4,1)	14(11,6)	40(33,1)	35(28,9)	27(22,3)
Preocupo-me em estar de bom humor	10(8,3)	16(13,2)	29(24,0)	40(33,1)	26(21,5)
Tenho muita energia quando me sinto feliz	0(0)	1(0,8)	7(5,8)	40(33,1)	73(60,3)
Quando estou irritado, tento mudar meu humor	8(6,6)	17(14,0)	37(30,6)	44(36,4)	15(12,4)

Na tabela 2 estão expressas as distribuições das frequências dos três fatores que constituem a escala TMMS-24, sendo eles: atenção, clareza e reparação emocional, estratificados por gênero. Verifica-se que na Atenção Emocional em ambos os sexos a maior frequência foi de atenção adequada 58 (59,8%) e 14 (58,3%), sobre o item clareza emocional tanto nos indivíduos do sexo feminino 59 (60,8%), quanto do sexo masculino 14 (58,3%) apresentaram este elemento adequado, e na Reparação Emocional, 55 (56,7%) e 11 (45,8%) da amostra apresentaram conjuntamente reparação adequada.

Tabela 2
Distribuição das frequências dos fatores da escala Trait Meta-Mood Scale (TMMS-24) nos estudantes de enfermagem da Univasf (n=121)

Fatores TMMS-24	Sexo feminino n(%)	Sexo masculino n(%)
Atenção emocional
Melhorar atenção	18(18,5)	2(8,3)
Atenção adequada	58(59,8)	14(58,3)
Presta atenção demais	21(21,6)	8(33,3)
Clareza emocional
Melhorar clareza	27(27,8)	7(29,2)
Reparação clareza	59(60,8)	14(58,3)
Excelente clareza	11(11,3)	3(12,5)
Reparação emocional
Melhorar reparação	32(33,0)	6(25,0)
Reparação adequada	55(56,7)	11(45,8)
Excelente reparação	10(10,6)	7(29,2)

Em relação a associação entre a média da pontuação da escala TMMS-24 com dados sociodemográficos não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, porém, sobre o período da graduação observou-se que os alunos do quarto e oitavo semestres, apresentaram significativamente menores médias no instrumento, em comparação aos estudantes do sexto período p=0,015 (Tabela 3).

Tabela 3
Associação entre a média geral da Trait Meta-Mood Scale (TMMS-24) com dados sociodemográficos e período da graduação dos estudantes da Univasf

Variáveis	TMMS-24 Média ±DV	p-value
Sexo		0,766*
Feminino	83,88±14,89
Masculino	85,33±15,2
Orientação sexual		0,631**
Homossexual	87,83±16,65
Heterossexual	84,49±14,85
Bissexual	78,58±14,56
Raça/Cor		0,375**
Preta	80,54±17,44
Parda	84,64±13,93
Branca	86,10±14,92
Estado civil		0,286**
Casado	90,43±14,07
Solteiro	83,23±14,41
União Estável	89,86±21,52
Renda		0,339**
Próprio trabalho	89,19±12,58
Pais	83,63±15,00
Terceiros	99,00±25,45
Bolsa e pais	82,11±15,16
Semestre		0,015**
Segundo	84,03±15,33
Quartoab	80,15±13,26
Sextoab	90,51±14,37
Oitavoab	80,11±14,54

• ^*p-value calculado pelo teste T Studant; ^** p-value calculado pelo teste Anova One-Away; ^abvalores com letras diferentes apresentam significância estatística pelo teste de Bonferroni

Discussão

A inteligência emocional vem ganhando notoriedade enquanto uma habilidade que precisa ser desenvolvida pelos estudantes de enfermagem. As habilidades emocionais são requeridas tanto para ofertar cuidado de qualidade às pessoas, quanto para gerenciar situações conflituosas em diferentes ambientes de trabalho.(²¹) Ademais, no decorrer da formação superior, os estudantes podem experienciar ansiedade, estresse e depressão relacionados a fatores acadêmicos, cuja prevalência se concentra entre alunos da área da saúde.(²²,²³) Esta realidade reafirma a importância da inteligência emocional frente à necessidade de assegurar o bem-estar dos estudantes e de preparar os futuros profissionais da enfermagem.(⁹-¹¹,¹⁴-¹⁷,²⁴)

Uma pesquisa realizada com estudantes de enfermagem da Universidade de Veracruz, no México, utilizando a escala TMMS-24 obteve uma população com idade entre 18 e 27 anos e majoritariamente do sexo feminino, com participação de 94,28%.(²⁵) Tal informação se assemelha ao perfil dos estudantes desta investigação, em que houve predominância de um público jovem e feminino. Ainda sobre o perfil dos estudantes, estudo realizado em uma universidade pública do Ceará, com o escopo de descrever o perfil sociodemográfico de 276 estudantes do curso de Graduação em Enfermagem constatou que 57,2% se autodeclararam de raça/cor parda,(²⁶) número semelhante ao observado neste estudo.

Estudo realizado com estudantes de enfermagem em Israel, no contexto de pandemia, evidenciou prevalência de ansiedade de 55,9% e os principais problemas associados foram a incerteza econômica, medo da infecção em si e em familiares, necessidade de prestar cuidados a familiares e desafios para lidar com a educação à distância,(²⁷) reafirmando a relevância de investigar a inteligência emocional junto aos estudantes de enfermagem. Quanto à escala TMMS-24, estudo desenvolvido na Espanha, buscou explorar as propriedades psicométricas da TMMS-24 em uma amostra de 530 enfermeiros de 11 hospitais da Comunidade Valenciana. No que concerne a IE nos enfermeiros participantes, a dimensão referente à clareza dos sentimentos apresentou maior pontuação, enquanto as dimensões relacionadas à reparação emocional e atenção emocional apresentaram médias mais baixas.(²⁸) Comparando com os resultados, as dimensões atenção, clareza e reparação emocional adequadas obtiveram as maiores pontuações no sexo feminino.

Uma investigação realizada com estudantes universitários na Argentina, buscou examinar as propriedades psicométricas da escala TMMS-24. Ao serem avaliados as dimensões atenção, clareza e reparação emocional e sua relação com as variáveis sociodemográficas, não foi identificado diferenças significativas relacionadas ao sexo e nem a idade dos participantes.(²⁹) Achado semelhante foi evidenciado, pois em comparação com os resultados obtidos junto aos estudantes de enfermagem, mesmo não havendo diferenças significativas entre sexo e a pontuação da escala.

Ainda, o estudo implementado na Universidade de Veracruz, no México, utilizando a escala TMMS-24 mostrou que mais de 50% dos estudantes possuíam ao menos uma habilidade da inteligência emocional afetada.(²⁵) Este aspecto entra em consonância com os resultados em questão, uma vez que os alunos do quarto e do oitavo semestre apresentaram significativamente menores médias na escala do TMMS-24, correspondendo a 50,4% dos estudantes da amostra.

Pesquisa realizada com aplicação do TMMS-24 com estudantes de nutrição de uma universidade pública do Chile identificou que os níveis de inteligência emocional se mostraram uniformes, sem relação de aumento ou diminuição com o avanço na graduação, assim como no estudo em questão.(³⁰) Tal achado pode ser explicado pelo fato de as amostras universitárias serem homogêneas, haja vista que os universitários apresentam trajetória de superação educacional para chegar ao ensino superior, processo que pode contribuir para o desenvolvimento da IE.

Ao longo da graduação os estudantes de enfermagem vivenciam situações, que podem ser emocionalmente difíceis de gerenciar, como cuidar de pacientes em estado crítico, lidar com o sofrimento do outro e com a terminalidade. Cabe mencionar que a pandemia de COVID-19 agravou esse cenário. Deste modo, é necessário auxiliá-los no desenvolvimento da inteligência emocional, para que possam estar mais preparados para enfrentar os desafios da vida profissional.

Para tanto, torna-se imprescindível a criação de espaços que possibilitem o diálogo sobre a temática na graduação e a criação de alternativas envolvendo professores e estudantes, em prol da disseminação da importância da inteligência emocional. Além de oportunizar a discussão, o respaldo psicológico precisa ser fomentado formalmente pelas instituições de ensino, a partir de serviços estabelecidos com este escopo. A realização de oficinas e o desenvolvimento de projetos de extensão com o foco na inteligência emocional podem ser estratégias interessantes a serem implementadas. Também carece sua abordagem de modo transversal, desde o primeiro semestre da graduação, a fim de potencializar a maturidade dos estudantes para gerenciar as emoções.

O estudo busca avançar na produção científica, pois retrata o perfil de estudantes de enfermagem do Sertão Nordestino e sua relação com a inteligência emocional na pandemia. Quanto às limitações do estudo, devido a homogeneidade da amostra não foi possível tecer alguns resultados estatísticos significativos como, por exemplo, em relação ao gênero, com o propósito de investigar outros fatores que possam influenciar as diferenças da pontuação da escala TMMS-24 nos semestres da graduação. Deste modo, torna-se importante explorar novas variáveis e uma investigação qualitativa com os estudantes, para aprofundar os resultados obtidos e contribuir para o entendimento da inteligência emocional na enfermagem.

Conclusão

O estudo possibilitou analisar a inteligência entre estudantes de enfermagem na pandemia de COVID-19 a partir da escala (TMMS-24). Os achados sinalizam para a necessidade de abordar a inteligência emocional ao longo da graduação em enfermagem, além de reforçar o amparo psicológico aos estudantes. Recomenda-se a realização de outros estudos com o enfoque na abordagem qualitativa, com o intuito de conhecer a dimensão subjetiva dos escores obtidos, bem como averiguar os desafios e as estratégias adotadas pelos estudantes de enfermagem para gerir suas emoções.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CNPq) pela bolsa de iniciação científica.

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Editado por

Editor Associado (Avaliação pelos pares): Thiago da Silva Domingos (https://orcid.org/0000-0002-1421-7468) Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, SP, Brasil

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  08 Maio 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  8 Jul 2022
• Aceito
  24 Out 2022