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Études de Psychologie Médicale, I- Perception et Langage. André Ombredane

ANÁLISES DE LIVROS

Études de Psychologie Médicale, I- Perception et Langage. André Ombredane. 1 volume com 189 páginas. Atlântica Editora, Rio de Janeiro, 1943

Este volume é o primeiro de uma série de três que o A. publicará sobre psicologia médica e no qual são estudados temas de grande interesse para o neurologista. Neste primeiro volume é feita uma revisão de assuntos concernentes à patologia da percepção e da linguagem, tendo o A. oportunidade para aplicar ao estudo de alguns quadros neurológicos extremamente complexos, como sejam as afasias, as agnosias, a cegueira verbal congênita e a alexia pura, elementos semiológicos e interpretações clínicas colhidas no terreno da psicologia, que contribuem de maneira notável para seu esclarecimento. A análise de um caso de alexia pura, sintoma da agnosia óptica, constitui bom exemplo do que acaba de ser afirmado, pois, ao lado dos sintomas comumente encontrados pelo exame neuropsiquiátrico, são fornecidos dados psicológicos que dão ao neurologista a possibilidade de enriquecer a observação clínica com elementos que conferem à complexidade sintomatológica uma expressão mais objetiva, passível de interpretação mais positiva.

Sente-se em todos os trabalhos do presente volume um elemento de ligação entre os diversos assuntos que o constituem, elemento este que poderemos reconhecer dentro do espírito jacksoniano com que o A. analisa estes problemas. O entusiasmo de Ombredane pelas idéias de Jackson é, mesmo, confessado desde o primeiro estudo em que são expostos o princípio de Billarger e a doutrina de Jackson sobre a dissociação dos aspectos automáticos e voluntários do gesto, da percepção e da linguagem. Muito embora a obra de Jackson tenha sido ultrapassada em certos pormenores e contenha alguns erros impossíveis de evitar com os meios de que êle dispunha, ninguém poderá contestar o poder de seu gênio e a lógica de suas induções; o estudo de sua obra é, ainda hoje, de inegável utilidade. Ombredane, depois de passar em revista a distinção feita por Jackson entre a linguagem automática e a voluntária, faz a análise dos diferentes usos da linguagem, distinguindo seus aspectos afetivo, lúdico, prático, representativo e dialético, correspondentes a momentos sucessivos da evolução e a graus sucessivos de organização da função.

São estudadas, em seguida, as agnosias óptica e acústica; expostos os quadros sintomatológicos destas agnosias, o A. apresenta as diversas interpretações que lhes têm sido propostas. Salienta a importância daquela que acentua o déficit da atenção que estes doentes sempre apresentam, interpretação esta fortalecida pelos resultados das pesquisas anátomo-patológicas de Brouwer, que demonstraram a existência de fibras corticífugas indo da cortiça occipital ao corpo geniculado externo sem qualquer articulação com as fibras motoras; seriam fibras corticífugas de ação sensorial que exerceriam ação inibidora sobre as excitações visuais vindas da periferia. Estas fibras realizariam um processo de alta importância como elementos básicos da atenção, determinando uma inibição seletiva destas excitações provenientes da periferia. Esta mesma noção de inibição seletiva é retomada na interpretação da agnosia acústica dentro do ponto de vista que atribui uma grande importância à ação da lesão central como perturbadora da integração propressiva das impressões acústicas em série cronológica. Este mecanismo seletivo encontrou um ótimo apoio em estudos eletrencefalográficos realizados pelo A. em colaboração com Fessard; foi verificado que, em afásicos, as excitações sensoriais não provocam a inibição das ondas de Berger com a mesma constância e o mesmo grau que provocam nos indivíduos normais. Psicologicamente dir-se-ia que a atenção estava perturbada; neurologicamente diremos que a inibição constitui a base essencial da atenção e que a lesão cerebral suprime a ação inibidora exercida sobre as atividades em curso pelas excitações sensoriais correspondentes ao analisador lesado. O paciente fica, então, entregue ao afluxo contínuo das excitações sensoriais, incapazes de filtrar tais ou tais impressões sensoriais, admissíveis em figuras determinadas; o déficit será tanto mais notável quanto mais elevado for o nível em que se processa, como é o caso, por exemplo, da linguagem em que ela é mais elevada, mais arbitrária. Este mesmo mecanismo explicaria um fenômeno muito comum, como seja a intoxicação que estes paciente apresentam, não somente por alguma palavra como também por gestos ou pelas ordens recebidas; tudo se passa como se o aparelho neuropsíquico levasse um tempo anormalmente longo para voltar à situação indiferente de repouso uma vez que tenha sido excitado de uma certa maneira.

O segundo volume desta série tratará das perturbações do gesto e da ação; o terceiro, das perturbações do caráter e dos delírios.

Antonio B. Lefèvre

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Set 1944
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