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War stress and neurotic illness: Abram Kardiner E Herbert Spiegel. Um volume com 428 páginas. Paulo P. Hoeber, Inc., New York - London, 1947

ANÁLISES DE LIVROS

War stress and neurotic illness. Abram Kardiner E Herbert Spiegel. Um volume com 428 páginas. Paulo P. Hoeber, Inc., New York - London, 1947.

Êste livro é a nova edição, revista e ampliada, da obra de Kardiner intitulada "The Traumatic Neuroses of War", publicada antes da recente conflagração e que, pela contribuição fornecida à simplificação dos problemas relativos à psicodinâmica, profilaxia e tratamento das neuroses traumáticas, exerceu ponderável influência sobre a literatura posteriormente publicada. Representando o resultado de longos estudos de formas crônicas das neuroses traumáticas da primeira grande guerra e de profunda meditação a respeito de problemas de psicopatologia, esta obra foi considerada uma das mais intensas e construtivas investigações publicadas. Com a experiência da última guerra, o autor resolveu rever todo o livro para remover suas falhas com ensinamentos colhidos no campo de batalha, o que foi admiravelmente conseguido com a colaboração de Herbert Spiegel, que cooperou com farta documentação colhida durante sua atuação no serviço psiquiátrico militar ativo.

A presente edição é uma análise fundamental das neuroses traumáticas, oferecendo elementos substanciosos para o estudo da natureza e da dinâmica destas desordens, cuidando também, de maneira precisa, de sua profilaxia, tratamento e aspectos forenses, tudo ordenado em 12 capítulos: introdução; o soldado e suas atribuições; psiquiatria de campo de batalha; a fase aguda; tratamento da fase aguda; a fase crônica, sintomatologia; análise da sintomatologia; desenvolvimento do Ego efetivo; psicodinâmica; tratamento da fase crônica; evolução, prognóstico, diagnóstico diferencial; questões forenses. Entre aquêles que oferecem maior interêsse - seleção difícil, dada a excelência de todo o conteúdo - destacam-se os referentes à psiquiatira de campo de batalha, ao tratamento da fase aguda, ao desenvolvimento do Ego efetivo e à psicodinâmica. É interessante salientar a afirmativa dos AA., ao tratarem das neuroses dos combatentes, de que as síndromes da última conflagração eram semelhantes às observadas durante a primeira guerra mundial, contrariando, assim, os prognósticos de muitos que afirmavam que os dados colhidos divergiriam, acreditando que a nova aparelhagem bélica iria desenvolver diferentes modalidades nosográficas. A êsse respeito, a única diferença digna de nota entre as duas grandes guerras foi a pronunciada queda das histerias de conversão e dos tipos epileptiformes de neuroses traumáticas, o que os AA. explicam pela orientação ministrada aos soldados no sentido da livre manifestação do mêdo e do terror. Assim, conhecendo o significado do fenômeno e não havendo pressão disciplinar com o fim de reprimir as manifestações incipientes de mêdo, as reações explosivas de tensões acumuladas escassearam. A diversidade de tipos de neuroses nos exércitos dos diversos países, como o demonstraram os autores, é apenas aparente e diz respeito a poucas entidades. Além de considerarem a influência de hábitos e costumes, das variações de clima, dão destacada importância ao papel das normas disciplinares ao explicarem esta aparente diversidade. Citam o raso da síndrome de surdez e mutismo, bastante freqüente entre os russos e raramente observada entre anglo-americanos, atribuindo o fato à circunstância de aos primeiros não ser permitido externar qualquer sinal de medo ou de terror, ao contrário do que se passava com os últimos. No capítulo do tratamento, com farta casuística, mostram os resultados obtidos com a abordagem direta consciente, a narcoanálise e a hipnose, estabelecendo normas para o emprêgo de cada uma destas formas terapêuticas. Assim, reservam a primeira para os casos crônicos, a hipnose para os agudos e o emprêgo de barbitúricos para pacientes muito perturbados ou refratários à hipnose. Aproveitando a lição da primeira grande guerra, os autores chamam a atenção para a necessidade do tratamento imediato das neuroses entre combatentes, visando evitar evolução para a cronicidade ou para formas não influenciáveis pela terapêutica. Ainda sôbre o tratamento da fase aguda, mostram a importância de manter elevado o moral da tropa, bem como a necessidade da adoção de medidas adequadas de profilaxia, com o fim de contribuir para que as reações neuróticas se manifestem apenas por formas benignas, como tiques defensivos, por exemplo. O último capítulo trata de questões forenses, mostrando que as vítimas destas neuroses, além de problema médico, constituem também problema social, uma vez que um dos sintomas é a persistente diminuição da capacidade de trabalho, pela qual procuram responsabilizar o govêrno, no desejo de lograr alguma compensação. Os autores não deixaram de salientar a importância da reabilitação do ex-combatente, problema de suma importância médico-social.

A. CAIUBY NOVAES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1947
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