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Análises de livros

Análises de livros

PSIQUIATRIA CLINICA MODERNA. ARTHUR P. NOYES E LAWRENCE C. KOLB. Um volume (16x23,5) com 765 páginas. Segunda edição castelhana da quinta edição norte-americana. La Prensa Médica Mexicana, México (DF), 1961.

A quinta edição do livro de Noyes, vertida agora para o castelhano, foi a primeira preparada com a colaboração do Prof. Kolb. O livro de Noyes surgiu em sua primeira edição em 1934, sendo reeditado em 1939, 1948 e 1953. Trata-se do compêndio de Psiquiatria mais divulgado na América do Norte. Como todo manual, representa um esforço deliberado para apresentar a matéria de importância relevante, de forma sucinta e clara, o que é também a fonte de suas maiores deficiências, pela necessidade de excluir aspectos julgados importantes por algumas correntes, mas não universalmente interessantes a ponto de merecer a sua inclusão em obra que prima por sua objetividade, com a finalidade de servir como cartilha ou introdução à Psiquiatria. Noyes e Kolb imprimiram ao livro uma orientação psicodinâmica. A designação psicodinâmica nos Estados Unidos é um eufemismo utilizado para significar teoria psicanalítica. O texto tem, de fato, uma orientação psicanalítica, temperada por conceitos psicobiológicos de Adolf Meyer.

Os 38 capítulos estão assim divididos: 6 para a exposição de assuntos de ordem geral; um para a semiologia psiquiátrica; 26 para a descrição sistemática das grandes síndromes psiquiátricas; um dedicado à Psiquiatria Infantil; 3 para problemas relativos às terapêuticas somáticas e psicológicas; um para os problemas legais ligados à Psiquiatria. O capítulo inicial apresenta uma concepção eclética e compreensiva da mentalidade, onde são abordados, particularmente, os aspectos evolutivos. O ecletismo dessa apresentação fica mais evidente no capítulo seguinte, onde os autores revisam as contribuições de Charcot, W. Mitchell, Bernheim, Janet, Freud, Meyer e outros. A seguir c descrito o desenvolvimento da personalidade do ponto de vista psicobiológico e psicanalítico, bem como o conceito estrutural de personalidade, segundo o modelo psicanalítico, terminando com referências aos trabalhos dos biotipologistas. O capítulo sôbre os mecanismos mentais é um dos melhores; conceituando conflito e a homeostase psicológica, os autores fazem uma revisão clara dos tipos de mecanismos mentais e de sua relação com os conceitos de consciente e inconsciente. As causas e a natureza das enfermidades mentais são tratadas de modo igualmente eclético; apontada a importância relativa de fatores hereditários, constitucionais, tóxicos, fisiopatológicos, psicológicos e sociais, especialmente familiares, os autores salientam as contribuições de Kraepelin, Meyer, Masserman, Freud, Adler, Jung, Janet e Sullivan. Os sintomas de perturbações mentais são estudados sistematicamente e de acôrdo com as funções. Êsse estudo é complementado por uma secção sôbre o exame do paciente, sendo dada importância capital ao estudo individual do caso ao invés de ressaltar a importância de classificações nosológicas. O diagnóstico é apresentado como uma formulação genético-dinâmica, com o que os autores pretendem reforçar o conceito de que as doenças mentais representam esforços de adaptação que o organismo faz frente a situações estressantes capazes de provocar angústia. Êste capítulo apresenta conceitos gerais sôbre testes psicológicos e a sua utilização em clinica psiquiátrica, bem como a classificação das doenças mentais adotada pela American Psychiatric Association.

A parte sistemática está dividida em três setores: as doenças psiquiátricas associadas a comprometimento cerebral orgânico; as oligofrenias e as doenças psiquiátricas de origem psicogênica; as afecções sem causa clínica definida ou alteração estrutural demonstrável do cérebro. Dentre as primeiras os autores fazem nítida diferenciação entre quadros reversíveis (agudos) e irreversíveis (crônicos), analisando suas causas (intoxicações por drogas ou venenos, intoxicação alcoólica, traumatismos cranianos, perturbações circulatórias e metabólicas, neurolues, epilepsia, senilidade, neoplasias intracranianas, doenças de causas desconhecidas). Os capítulos sôbre alcoolismo e sífilis estão expostos com clareza e acêrto. Há menor ênfase quanto à importância da epilepsia como fator precipitante de reações psicóticas e psiconeuróticas, contrastando com a maneira como êste tópico costuma ser apresentado em compêndios europeus. De modo geral, predomina a idéia de que o comprometimento da função cerebral é um estresse capaz de determinar um desequilíbrio na homeostase psíquica, o que determina o aparecimento de sintomas psíquicos mais de acôrdo com a personalidade pré-mórbida do que com o tipo ou a localização das lesões, ainda que estas sejam de importância em alguns casos. A parte relativa à oligofrenia é sucinta e, possivelmente, insuficiente em relação ao modo pelo qual foram desenvolvidas as demais secções; entretanto o assunto é, em parte, complementado pelo capitulo sôbre Psiquiatria Infantil. Na parte relativa às doenças psicogênicas, são analisadas reações psicóticas, reações psicofisiológicas ou "psicossomáticas", reações psiconeuróticas e perturbações da personalidade. As reações maníaco-depressivas e esquizofrênicas são tratadas de forma a esgotar os temas; se a fenomenologia é apresentada com certa pobreza, em compensação são amplamente discutidas as idéias sôbre a etiologia e a psicodinâmica, sendo também destacados os aspectos hereditários, especialmente os trabalhos de Kallman. O capítulo sôbre reações psicofisiológicas é amplo e compreensivo, valioso porque o assunto geralmente é omisso nos compêndios de Psiquiatria. As reações neuróticas ou psiconeuróticas são discutidas detalhadamente, sendo aqui flagrante o predomínio da orientação psicanalítica; o capítulo inclui excelente secção sôbre neuroses traumáticas, especialmente as de guerra. Os capítulos sôbre perturbações da conduta versam sôbre personalidades psicopáticas e personalidades sociopáticas. Se é verdade que não existem conceitos claros e generalizados, acreditamos que esta secção constitua a parte menos atraente dêste compêndio. Os conceitos são confusos e as fronteiras estabelecidas entre as várias categorias descritas não são nítidas. As toxicomanias estão descritas de forma demasiadamente resumida, sendo destacadas apenas a importância do ópio e derivados e dos barbitúricos. A Psiquiatria Infantil ocupa um capítulo onde é feito um histórico do movimento de Higiene Mental e do estabelecimento de centros de tratamento ligados às côrtes juvenis; o resto do capítulo é dedicado à descrição sumária dos problemas infantis mais freqüentes, do uso de testes psicológicos, das medidas terapêuticas. No capitulo referente aos tratamentos somáticos são comentadas a insulinoterapia, o eletrochoque e a psicocirurgia. Os autores fazem notar que a insulina estava reservada ao tratamento de pacientes esquizofrênicos mas que a tendência é a de usá-la cada vez menos. O eletrochoque é indicado nas depressões, como tratamento de escolha, e nas reações esquizofrênicas, como substituto para a insulina. As psicoterapias são divididas em individuais e de grupo. As características fundamentais das várias formas de psicoterapia individual, da psicanálise até o simples conselho, são apresentadas com clareza sem ter a pretensão de servir como orientação para a prática dessas técnicas. As técnicas de grupo são consideradas de modo amplo, sendo mesmo incluídas, como tais, organizações especiais como a dos Alcoolistas Anônimos. Não é lícito esperar que um livro de texto escrito em 1958 possa ser útil em 1961 num setor de crescimento tão vertiginoso como é o tratamento por drogas; o capítulo sôbre quimioterapia apresenta o histórico, os efeitos terapêuticos e secundários assim como as indicações da clorpromazina, da reserpina e do meprobamato; o material está desatualizado e deve ser complementado pela leitura de revisões sôbre o tema. Finalmente, o capítulo sôbre a Psiquiatria e a Lei serve mais como um marco de referência das práticas norte-americanas; o capítulo serve como ilustração, mas não poderá, evidentemente, auxiliar frente aos problemas da legislação brasileira.

Em resumo: êste é um livro obrigatório para o estudante de Medicina, o clinico geral, o neuropsiquiatra e o especialista interessado nos problemas emocionais de seus pacientes. Por seu estilo simples e claro torna compreensíveis os fundamentos da Psiquiatria Dinâmica. Essa mesma simplicidade Jeva muitas vêzes os autores a uma repetição didática do mesmo tema. Apesar dos poucos senões apontados, julgamos que seja um dos melhores livros básicos em Psiquiatria.

MARCELO BLAYA

ASPETTI NEUROLOGICI, PSICOLOGICI E PSICOPATOLOGICI DEL MORBO DI HANSEN. CONTRIBUTO CLINICO-NOSOGRAFICO SU 75 CASI. G. ARGENTA. Monografia (17X24) com 118 páginas, 35 figuras e esquemas. Editrice Calia, Nápoles, 1961.

Nesta monografia são relatados os dados obtidos pelo estudo clínico de 75 pacientes que o autor observou numa colônia de hansenianos de Bari. Distúrbios neurológicos estavam presentes em quase todos os pacientes examinados (apenas em 8% dos casos o exame neurológico foi negativo). Em 42 pacientes, o início da moléstia processou-se por sintomas de ordem não neurológica; sucessivamente, porém, 36 deles apresentaram perturbações neurológicas, muitas vêzes precocemente; em 33 pacientes, a afecção manifestou-se, inicialmente, por alterações do sistema nervoso. Na maioria dos casos foram registradas paralisias periféricas, com amiotrofias pronunciadas; os reflexos profundos diminuíram paralelamente às atrofias, mas raramente se mostraram abolidos; às vêzes, apresentaram-se vivos, mas não existiam fenômenos patológicos da série piramidal. Em 10 casos não havia atrofia clinicamente apreciável, mas foi observada alteração de alguns movimentos relacionados à musculatura intrínseca das mãos; em 7 dêles, foi notada incapacidade na oposição do lº e 5º dedos, o que significaria, segundo o autor, manifestação precoce de comprometimento neurológico na lepra. Quanto à paralisia facial, em 5 casos tratava-se de déficit unilateral, em um de diplegia e, em três atingia apenas o território superior. Distúrbios sensitivos: foi observada anestesia termodolorosa em 85 % dos casos e tátil em 76 %; em 15 casos havia hipoestesia vibratória e, em três, perda do sentido de posição e movimento; quanto à topografia da anestesia, a distribuição nos territórios tronculares dos nervos foi a mais freqüentemente observada. Espessamento do nervo ulnar foi verificado, unilateralmente, 11 vêzes e, bilateralmente, em 17 casos; o mediano era palpável em 4 casos e os ramos do plexo cervical superficial em dois. Distúrbios tróficos ósseos e cutâneos estavam presentes em 18 casos. Alterações oculares (opacidade da córnea, catarata, distúrbios da acomodação) foram observadas em alguns pacientes, assim como alterações da refletividade pupilar e irregularidade do diâmetro e contorno pupilares. Um caso de síndrome parkinsoniana e outro de síndrome atáxica são descritos, sendo discutida sua eventual relação com a infecção hanseniana. Distúrbios psíquicos ocorreram em 11 casos e sua interpretação, bem como os resultados proporcionados pelo estudo psicológico dos pacientes (estudo clínico e testes psicológicos), são analisados no capitulo final do trabalho. Cinco páginas de referências bibliográficas completam esta excelente monografia, que veio enriquecer a literatura sôbre os aspectos neurológicos, psicológicos e psicopatológicos do mal de Hansen.

OSWALDO F. JULIÃO

ESSENTIALS OF NEUROLOGY. JOHN N. WALTON. Um volume (14X22) com 422 páginas. Pitman Medical Publishing Co. Ltd., Londres, 1961.

Em geral os livros de Neurologia redigidos com o propósito de serem úteis aos médicos não especialistas pecam pelo excesso, seja no tocante às bases anátomo-fisiológicas ministradas, seja em virtude de exaustivas discussões quanto ao diagnóstico diferencial ou de minúcias desnecessárias em relação a doenças raras; em alguns os dados semiológicos e semiotécnicos são esmiuçados de maneira cansativa, apegando-se os autores a detalhes de pouca monta para as necessidades da clínica. Alguns autores não se contêm nos capítulos em que tratam de assuntos de sua preferência, de sorte que o livro se hipertrofia em alguns capítulos, em detrimento do que é geral e indispensável. Tudo isso faz com que docentes consultados sôbre qual livro que indicariam para atender às necessidades imediatas da Neurologia clínica, hesitem entre um livro pouco dispendioso mas falho ou com material mal dosado e um compêndio completo mas volumoso e que nem sempre está ao alcance das possibilidades econômicas do consulente. São poucos os livros que reúnem o útil ao econômicamente acessível; na literatura médica brasileira e castelhana, salvo exceções constituidas por traduções de livros estrangeiros, livros de tal feição são positivamente raros.

Por isso o livro "Essentials of Neurology" merece atenção e pode ser recomendado. O autor - sem se preocupar em demonstrar virtuosismo didático, sem cansar os leitores com longas tiradas sôbre anatomia e fisiologia, sem alongar-se em discussões quanto ao diagnóstico diferencial e quanto a etiopatogenias mais ou menos hipotéticas, sem se deter nas referências às doenças raras, sem divagar sobre as causalidades neuroendócrinas e neuroquímicas - procurou transmitir o estritamente necessário para a formulação diagnostica e para a instituição de terapêutica racional, tendo como alvo as necessidades da prática e as doenças mais comuns. Após judiciosas e precisas referências à metodologia clínica e laboratorial aplicada ao diagnóstico das afecções do sistema nervoso, o autor analisa os principais sintomas e síndromes pelos quais o médico é convocado - dores, desordens de palavra, desordens da consciência, desordens motoras e sensitivas, desordens dos sentidos especiais, desordens neurovegetativas, desordens psíquicas - mencionando os meios de identificação e a respectiva patogênese. A partir do 12º capítulo são estudadas as doenças congênitas, hereditárias e degenerativas, os efeitos dos traumatismos crânio-encefálicos, as infecções e as doenças alérgicas, as doenças desmielinizantes, os tumores, as afecções vasculares, as doenças do sistema nervoso periférico e dos músculos, as doenças por dismetabolismo. O último capítulo é dedicado à terapêutica, sendo dadas as bases gerais para o tratamento de epilépticos, para o tratamento dos comas, das paralisias respiratórias, para a reabilitação de paraplégicos e hemiplégicos, daí partindo para as particularizações e para os tratamentos específicos.

Trata-se de livro sem pretensões doutrinárias, redigido em linguagem simples, de utilidade prática, no qual os estudantes, os recém-diplomados e os médicos não especialistas encontrarão tudo o que é essencial para um diagnóstico acertado e para uma terapêutica racional. Para os casos raros são fornecidas poucas mas boas fontes, permitindo estudo mais aprofundado. Detalhado sumário e índice final facilitam a consulta.

O. LANGE

VÍRUS MENINGO-ENCEPHALITIS. G. E. WOLSTENHOLME E M. G. CAMERON. Um volume (12,50X18,50) com 120 páginas, contendo os relatórios apresentados em simpósio promovido pela Ciba Foundation. J. & Churchill Ltd., Londres, 1961.

Êste livro reúne o que foi dito e discutido por renomados virologistas, neurologistas e neuropatologistas em simpósio promovido em 27 de setembro de 1960. Inicialmente K. Todorovic, da Clínica de Moléstias Infecciosas de Belgrado, teceu considerações clínicas gerais sôbre as meningoencefalites virais. A. D. Macrae, do Laboratório de Vírus de Colindale (Londres), salientou que na grande maioria dos casos de meningoencefalite é impossível distinguir, apenas pela sintomatologia clínica, entre os vários agentes responsáveis. Depois de referir os recursos de laboratório utilizados - demonstração de anticorpos por meio de reações com desvio de complemento, de testes de inibição das hemaglutininas e de reações neutralizantes, assim como o isolamento dos vírus em culturas do tecido - Macrae esboçou uma classificação geral das neuroviroses em três grupos, focalizando especialmente o primeiro no qual estão incluídas as meningoencefalites produzidas pelos enterovírus (ECHO, Coxsackie e poliomielite) e pelos arboviruas que, aliás, constituíram o motivo principal dêste simpósio. Os vírus ECHO foram estudados por N. R. Grist, do Departamento de Virologia da Universidade de Glasgow, que salientou a variabilidade, de ano para ano, dos tipos de tais vírus assinalados como causadores de meningoencefalites no hospital onde trabalha; as provas de laboratório são sempre indispensáveis, pois as observações clínicas e mesmo os dados epidemiológicos não permitem afirmar qual o vírus responsável em cada caso. Olof Kahlmeter, do Departamento de Vírus de Estocolmo, analisou os aspectos clínicos das meningoencefalites pelos vírus ECHO, salientando a sua variabilidade. W. F. Scherer, do Departamento de Bacteriologia da Universidade de Minnesota, discorreu sôbre a histopatologia do vírus Coxsackie; G. Giunchi, do Instituto de Moléstias Infecciosas de Sassari, expôs os aspectos clínicos das meningoencefalites produzidas por estes vírus. E. G. Brevis referiu casos de meningites ou meningoencefalites determinados pelo vírus da poliomielite; entretanto, ao ser discutido êste trabalho ficou demonstrado que o diagnóstico etiológico poderia ser pôsto em dúvida, pois o autor reconheceu não ter sido possível, nos casos de sua casuística pessoal, isolar o vírus do liqüido cefalorraquidiano ou positivar o diagnóstico mediante provas virológicas. As meningoencefalites por arbovírus foram relatadas por três investigadores: D. Slonim, do Departamento de Virologia de Praga, N. Oker-Blom, do Departamento de Virologia de Helsinski, e W. F. Scherer, do Departamento de Bacteriologia da Universidade de Minnesota. Muito sucinta mas importante foi a contribuição de J. Bethlem, da Clínica Neurológica do Wlhelmina Gathuis (Amsterdam) sôbre a significação das inclusões intracelulares em encefalites de variada natureza. A. M. G. Campbell comentou as meningoencefalo-mielo-radiculites produzidas por vírus de outros grupos (moléstias exantemáticas, herpes, parotidite epidêmica, influenza), procurando analisar os elementos para o diagnóstico diferencial entre as que são produzidas diretamente pelo vírus e as que são devidas a reações alérgicas como resposta ã atividade virai antigênica. Por fim J. D. Spillane aludiu à possível origem virai da moléstia de Behcet, na qual, em alguns casos, ocorrem sintomas meningoencefálicos.

A leitura dêste pequeno livro é extremamente útil, pois, além das comunicações - tôdas sucintas e precisas - há muito que aprender no que foi discutido, especialmente que tange às dúvidas que ainda perduram neste difícil campo da patologia geral e que foram francamente manifestadas pelos simposiastas participantes. Este simpósio mostrou que já foram feitos grandes progressos no que diz respeito ao conhecimento dos processos virais que acometem o sistema nervoso. A Ciba Foundation deve ser felicitada pela iniciativa que permitiu maior entendimento entre neurologistas, neuropatologistas e virologistas.

O. LANGE

ANATOMIE DU SYSTÈME NERVEUX CENTRAL. GEORGES VlNCENT. Um volume (16X24) com 208 páginas e 109 figuras. G. Doin & Cie., Paris, 1961.

Este livro condensa as aulas dadas pelo autor aos estudantes da Faculdade de Medicina de Lille. Êle não visa igualar-se aos tratados clássicos de Neuranatomia e muito menos trazer novidades. É um livro didático contendo os elementos que o autor julga serem diretamente necessários para a correlação anátomo-clínica; como, no sistema nervoso, as funções seguem as estruturas e às vêzes as explicam, as noções anatômicas foram complementadas com dados relativos à neurofisiologia. Com êste critério são estudados, sucessivamente, nos 24 capítulos: o neurônio, a embriologia geral do neuroeixo, a morfologia da medula e os nervos raquidianos, a sistematização das substâncias branca e cinzenta na medula, o tronco cerebral, as cavidades ependimárias do tronco cerebral, a sistematização do bulbo, da protuberância, do mesencéfalo, do cerebelo, do diencéfalo, do córtex cerebral, as localizações cerebrais, as comissuras inter-hemisféricas, as cavidades ventriculares, as vias olfativas e o rinencéfalo, as vias ópticas e as vias auditivas.

Trata-se de excelente obra didática, de grande utilidade especialmente em cursos de graduação. Pena é que os estudantes brasileiros, mais habituados à nomenclatura anglo-saxã, tenham dificuldade em aproveitá-lo em tôdas as suas minúcias. Apesar disso, o livre é recomendável pela clareza e sobriedade dos desenhos e esquemas, alguns dos quais bastante esclarecedores.

O. LANGE

LES GIGANTISMES PARTIELS. MICHEL LAXENAIRE. Um volume (15,5X24) com 156 páginas e 16 figuras. G. Doin & Cie., Paris, 1961.

As hipertrofias circunscritas - desde a macrodactilia isolada até a hipertrofia completa de uma metade do corpo - constituem o que o autor conceitua como gigantismos parciais. Êste conceito implica apenas a noção de assimetria e não de dimensões exageradas uniforme e simètricamente, como é o caso dos gigantismos de origem neuro-hormonal; trata-se de assimetrias circunscritas produzidas por defeitos disgenéticos locais, responsáveis, direta ou indiretamente, pela hiperplasia ou hipertrofia. Na primeira parte são estudados os "gigantismos parciais" associados a malformações vasculares, constituindo conjuntos nosológicos bem delimitados, como a moléstia de Klippel-Trénaunay (nevus, varizes, ósteo-hipertrofia), a moléstia de Parkes Weber (malformações vasculares com shunts arteriovenosos e hipertrofia óssea), a moléstia de Sturge-Weber. Esforça-se aqui o autor para manter a dualidade das duas primeiras moléstias citadas, considerando que na primeira as alterações vasculares afetam apenas o sistema venoso (flebectasias), ao passo que na segunda tratar-se-ia de processos arteriovenosos (flebarteriectasias), ao contrário da tendência geral para considerá-los como uma única entidade, diferenciáveis apenas pelo fato de ter Parker Weber assinalado a existência de shunts arteriovenosos, demonstráveis pelo teste de Brown e mediante angiografia. Na segunda parte o autor estuda os "gigantismos parciais" associados às facomatoses (neurofibromatose, esclerose tuberculosa). No terceiro capítulo são analisados os "gigantismos parciais" isolados congênitos ou adquiridos (hemi-hipertrofia corporal, hemi-hipertrofia craniofacial, hipertrofias apendiculares, macrodactilia). A última parte do livro é dedicada à patogenia, sendo revistas a teoria vascular, as teorias neurais e neuroendócrinas, as teorias embriológicas; o autor defende a idéia de que tais hipertrofias, localizadas ou difusas, podem ser consideradas como malformações coordenadas, provocadas por um distúrbio disgenético agindo em fase precoce do desenvolvimento embriológico.

O. LANGE

TUMORES DEL SISTEMA NERVIOSO CENTRAL. S. OBRADOR ALCALDE. Um volume (17,5X25) com 225 páginas e 42 figuras. Editorial Paz Montalvo, Madrid, 1961.

Este volume reúne aulas proferidas em curso promovido pela Associação Española contra el Cáncer (Madrid, 1960). Inicialmente S. Obrador Alcalde trata da clínica dos tumores cerebrais, salientando o valor dos dados clínicos e dos elementos obtidos pelos recursos complementares para o diagnóstico e localização. Nos capítulos seguintes são referidas as técnicas e analisados os resultados dos exames complementares de rotina: pneumencefalografia (A. Gimeno Alava), ventriculografia (J. V. Anastasio Pastor), angiografia cerebral (E. Ley Gracia e E. Ley Palomeque), eletrencefalografia (J. C. Oliveros e J. Carbonell), radioisotopometria (S. Pérez Modrego e P. Mateo Ruiz). Depois de duas aulas sobre a classificação dos tumores do sistema nervoso central (J. Saenz Ibañez) e sobre sua histologia (M. Morales Pleguezuelo), as oito seguintes foram dedicadas à patologia, na seguinte ordem: gliomas (S. Obrador Alcalde), adenomas de hipófise (E. Lamas Crego), neurinomas do acústico (J. R. Boixadós), hemangiomas e malformações vasculares (S. Obrador Alcalde), abscessos e granulomas (P. Peraita Peraita), parasitoses (J. M. Ortiz Gonzales). Os dois últimos capítulos são dedicados à clínica da compressão medular (A. López Zanón) e ao tratamento cirúrgico dos tumores raquimedulares (S. Obrador Alcalde).

Trata-se de livro útil para quem desejar ter conhecimentos gerais sôbre o diagnóstico e a patologia das afecções expansivas do estojo crânio-raquidiano. O curso foi dado a médicos não especialistas e, dado o caráter didático das exposições, merece ser divulgado. Embora se trate de matéria ministrada em curso de pós-graduação e que, portanto, deve ser lida no todo, faz falta um índice final para eventuais consultas.

O. LANGE

LIVROS RECEBIDOS

Nota da Redação - A notificação dos livros recentemente recebidos não implica em compromisso da Redação da revista quanto à publicação ulterior de uma apreciação. Todos os livros recebidos são arquivados na biblioteca do Serviço de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

THE PROGNOSIS AFTER STERILIZATION ON SOCIAL-PSYCHIATRIC GROUNDS. A follow-up study of 225 women. Martin Ekblad. Monografia (16,5X24,5) com 162 páginas e 24 tabelas. Suplemento 161 de Acta Psychiatrica Scandinavica. Ejnar Munksgaard, Copenhague, 1961.

ESSENTIALS OF NEUROLOGY. John N. Walton. Um volume (14X22) com 422 páginas. Pitman Medicai Publishing Co. Ltd., Londres, 1961. Preço: 30s.

LES GIGANTISMES PARTIELS. Michel Laxenaire. Um volume (15,5X24) com 156 páginas e 16 figuras. G. Doin & Cie., Paris, 1961. Preço: 25 N.F.

ANATOMIE DU SYSTÈME NERVEUX CENTRAL. Georges Vincent. Um volume 16X24) com 208 páginas e 109 figuras. G. Doin & Cie., Paris, 1961. Preço: 27 N.F.

TUMORES DEL SISTEMA NERVIOSO CENTRAL. S. Obrador Alcalde. Um volume (17,5X25) com 225 páginas e 42 figuras. Editorial Paz Montalvo, Madrid, 1961.

THE Q-SORT METHOD IN PERSONALITY ASSESSM ENT AND PSYCHIATRIC RESEARCH. Jack Block. Um volume (15,5X23,5) com 161 páginas e várias tabelas. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois), U.S.A., 1961. Preço: US$ 6.75.

CLINICAL RESEARCH DESIGN AND ANALYSIS IN THE BEHAVIORAL SCIENCES. Eugene E. Levitt. Um volume (15,5X23,5) com 199 páginas e várias tabelas. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois), U.S.A., 1961. Preço: US$ 8.50.

THE SPINAL CORD. George Austin. Um volume (17,5X26) com 532 páginas e 363 figuras. Charles C. Thomas, Springfield (Illinois), U.S.A., 1961. Preço: U.S.$ 26.50.

VÍRUS MENINGO-ENCEPHALITIS. G. E. W. Wolstenholme e M. G. Cameron. Um volume (12,50X18,50) com 120 páginas, contendo os relatórios apresentados em simpósio promovido pela Ciba Foundation. J. & Churchill Ltd., Londres, 1961.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1962
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