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Les méningiomes de la troisième frontale: Léon Ectors. Um volume com 164 páginas. Masson et Cie., Paris, 1945

ANÁLISES DE LIVROS

Les méningiomes de la troisième frontale. Léon Ectors. Um volume com 164 páginas. Masson et Cie., Paris, 1945.

O A. nos apresenta, em cuidada monografia, nova síndrome - a dos meningiomas da terceira circunvolução frontal - colocando-a em pé de igualdade às síndromes já clássicas dos meningiomas da região rolândica (Jackson, Foerster), da asa do esfenóide (Cushing e Cl. Vincent), da região supra-selar (Holmes e Sergent), da região olfativa (Foster Kennedy e Cushing) e, finalmente, dos meningiomas para-sagitais (Olivecrona). Baseado em três observações pessoais bastante interessantes e em 14 outras que pôde encontrar na literatura, estabeleceu a síndrome, constituída por cinco elementos principais: hemiplegia homolateral precoce; síndrome motora da área 8 de Brodmann; síndrome piramidal contralateral e epilepsia; síndrome mental frontal; síndrome radiológica peculiar.

A hemiplegia homolateral precoce é o elemento mais caraterístico e de maior interêsse. Ela é conseqüência da pressão exercida pelo tumor contra a 3.a circunvolução frontal, que se transmite diretamente ao tronco cerebral, provocando seu deslocamento contra o bordo cortante da tenda do cerebelo do lado oposto e, secundàriamente, a compressão do pé do pedúnculo. Assim se explica a síndrome piramidal precoce e homolateral ao tumor, que se inicia pelo membro inferior, atingindo depois o superior e só tardiamente a face, de acôrdo com a disposição topográfica das fibras piramidais nessa região. Êsses elementos estão muito bem documentados nas observações de Ectors e na de Groenevelde e Schaltenbrand, assim como de Kernohan e Weltman, que primeiro deram a demonstração anatômica desta hemiplegia homolateral nos tumores supratentoriais. Esta síndrome é muito bem discutida pelo A., que discorda da interpretação clássica (Cruveilhier, Monakow, Kaufmann) de que seja devida à contrapressão do córtex motor do hemisfério oposto sôbre a calota craniana. Além disso, êle estabelece o diagnóstico diferencial com a hemiplegia homolateral tardia, sempre acompanhada de sinais de hipertensão intracraniana e de sinais de sofrimento do pedúnculo cerebral, devida ao edema cerebral final e engajamento de circunvoluções temporais no orifício da tenda do cerebelo. A êste respeito, procura demonstrar com esquemas interessantes que os tumores da região da 3.a frontal, e particularmente os extracerebrais, são os únicos que criam as condições propícias ao estabelecimento de hemiplegia homolateral precoce, trazendo, ainda mais, a contraprova cabal de seus pontos de vista com os resultados da extirpação do tumor em seus 3 casos e conseqüente desaparecimento total da sintomatologia.

A síndrome da área 8 é caraterizada por tendência preponderante ao desvio do olhar e da cabeça para o lado do tumor, paresia dos movimentos conjugados da rotação da cabeça e olhos para o lado oposto à lesão, lateropulsão, marcha em estrêla e mesmo hipercinesia automática e desordenada dos membros do lado da lesão. Baseado em dados clínicos e experimentais (ablação ou excitação da área 8 em macacos), interpreta as manifestações da lateropulsão e desvio da marcha, já anteriormente estudadas por Delmas-Marsallet, Barré, Claude, Vincent e Lhermitte, como devidas à falta de regência dos movimentos dos membros pelos movimentos da cabeça (perturbados diretamente pela lesão da área 8), no sentido dos reflexos tônicos de Magnus e Kleijn.

A síndrome piramidal contralateral, como a epilepsia, depende da ação direta do tumor sôbre o córtex. A primeira decorre da extensão da compressão até a circunvolução rolândica e se apresenta por simples paresia facial central contralateral, como é clàssicamente admitido na síndrome dos tumores frontais em geral. A segunda, de tipo bravais-jacksoniana, se inicia por contrações da musculatura da hemiface contralateral (quando dependente da circunvolução rolândica), ou por desvio oculocefalógiro (quando proveniente do pé da 3.a frontal). De particular, neste capítulo, é assinalada a possibilidade do estabelecimento de hemiplegia homolateral e paresia facial central contralateral, quando o tumor compromete simultaneamente as áreas 8 e 4, dando falsa impressão de hemiplegia alterna, o que pode levar a êrro diagnóstico.

Em relação à síndrome mental frontal, o A. discorre em extenso capítulo, analisando casos de tumores e de lobotomias frontais (comparando-os em tabelas bem organizadas), assim como experimentações de excitação farádica de núcleos hipotalâmicos diferentes. Conclui que os distúrbios mentais propriamente devidos ao lobo frontal são dependentes do comprometimento dos 2/3 posteriores das três circunvoluções frontais e se caraterizam por diminuição da iniciativa, apatia, distúrbios da memória (particularmente da iniciativa mnéstica), permanecendo a atenção e o julgamento intactos por muito tempo, até que se instalem a obnubilação e o torpor, devidos à hipertensão intracraniana. Ao lado disso, a afetividade reflexa do indivíduo é exagerada em conseqüência da liberação, por parte das áreas frontais, dos centros hipotalâmicos, resultando que a expressão afetiva do paciente se apresenta com um quadro exagerado da afetividade individual pré-mórbida: tendência acentuada ao bom humor e à mória ou, pelo contrário, às reações coléricas.

A síndrome radiológica pode ser sintetizada em: adelgaçamento focal da parede craniana; hipertrofia focal da parede craniana sem invasão tumoral; dilatação das veias diplóicas dos ramos anteriores da artéria meníngea média e pertuitos ósseos; invasão tumoral do osso, com aparição de espículas, osteomas e erosões; calcificações visíveis radiològicamente. A ventriculografia mostra deslocamento dos cornos frontais dos venfrículos laterais para o lado oposto, conservando-se mediana a metade posterior do ventrículo, com abaixamento acentuado ou deformação correspondente ao tumor, do ventrículo lateral homolateral.

A síndrome do meningioma da 3.a frontal apareceu, nos casos do autor, bem caraterizada com o quadro mental frontal, acompanhado ou não da síndrome neurológica da área 8, com hemiparesia homolateral precoce, com cefaléia frontal, com quadro de hipertensão intracraniana e baixa de visão e sobretudo com a síndrome radiológica de acentuação dos ramos colaterais anteriores da artéria meníngea média. Com esta síndrome é possível o diagnóstico de certeza, sendo mesmo desnecessária a ventriculografia prévia à craniotomia, como se deu na observação 2, a mais caraterística de tôda a casuística apresentada. Sem dúvida alguma, trata-se de uma síndrome de alto interêsse neurocirúrgico e a monografia, além da discussão da fisiopatologia de cada um de seus componentes, apresenta dissertações, por vezes extensas, sôbre problemas gerais já bem conhecidos - como o das perturbações mentais frontais, as experimentações de excitação do hipotálamo provocando a falsa raiva ou a falsa angústia em animais de laboratório, os elementos radiológicos gerais dos meningiomas e outros tumores cerebrais e a anatomia patológica dos meningiomas. Extensa bibliografia sôbre meningiomas e outros problemas ligados aos tumores intracranianos e um muito bem cuidado índice, completam esta bela monografia.

P. PINTO PUPO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1947
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