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O problema dos nervosos. Karen Horney. Tradução de Isaac Mielnik. I volume com 219 páginas. Editora Clássico-Científica, S. Paulo, 1946

ANÁLISES DE LIVROS

O problema dos nervosos. Karen Horney. Tradução de Isaac Mielnik. I volume com 219 páginas. Editora Clássico-Científica, S. Paulo, 1946

A biblioterapia está em voga nos Estados Unidos e produz, muitas vezes, efeito surpreendente e rápido na solução de certas condições psiconeuróticas de adultos e, principalmente, de adolescentes. Karen Horney é autora de excelente livro desta natureza, "Self-Analysis", já traduzido para o castelhano. Em outro livro, "Our Inner Conflicts", a A. comenta a teoria psicanalítica das neuroses. Freud considerava como fundamental na personalidade humana o conflito entre os impulsos básicos e o ambiente externo familial e social; o padrão deste ambiente externo é absorvido pela criança e irá constituir o super-ego; do conflito entre os instintos e o super-ego resulta a neurose. Para Horney, este conflito é de grande importância, porém, secundário, formando-se durante o desenvolvimento da neurose e originando-se nos distúrbios das relações humanas. Esta diferença de pontos de vista acarretará modificações, não só no processo terapêutico, como no conceito da personalidade. A teoria freudiana deixará de ser primeiramente instintivista, se assim podemos dizer, para se tornar ambientalista, o que é mais promissor para a civilização, pois que "o homem pode modificar a cultura ambiental, melhorar as relações humanas que, sob certas condições, dão origem às neuroses, e, por isto, prevenir o desenvolvimento dos traços neuróticos que conduzem ao desastre social".

O presente livro, tradução de "The Neurotic personality of Our Time", não traz normas para a solução dos problemas dos nervosos; estuda e analisa a personalidade neurótica de nossa época. Com conceitos próprios e originais, baseados em sua própria experiência psicanalítica e nos princípios fundamentais da teoria freudiana, a A. emite novos conceitos sobre as neuroses, encarando-as dinamicamente e relacionando-as com a cultura de nossa civilização. Assim, são estudados os fatores primários das neuroses, a ansiedade e os conflitos sociais, a estrutura básica das neuroses e as suas manifestações: a necessidade neurótica de afeição, a luta pelo poder, prestígio e posse, a competição neurótica, a fuga da competição, os sentimentos de culpa do neurótico e o problema do masoquismo. Trata-se, pois, de livro de grande interesse para psiquiatras, médicos, assistentes sociais, ou pessoas possuidoras de cultura psiquiátrica. Como a própria A. explica, somente será útil para o neurótico que possuir profundos conhecimentos psicológicos, embora a leitura de sua situação não vá curá-lo.

No que respeita à tradução, julgamos que o tradutor usou de excessiva liberdade, não mantendo o estilo claro e conciso da A., embora tivesse apreendido perfeitamente o sentido da matéria. Seria de desejar que, em traduções de livros científicos, os tradutores procurassem se ater o mais possível ao texto original, pois, o tradutor, embora realize trabalho sumamente importante, não é co-autor das obras que traduz. Para uma boa tradução é necessário certa humildade diante do texto. Quem traduz se vê muitas vezes tentado a expor as idéias de acordo com seu próprio feitio de escrever. Tradução assim pode ser até muito bem escrita, mas não deixa de ser má, pois a fidelidade é a primeira virtude de um tradutor. Estes comentários que em nada afetam o valor intrínseco do livro, não se referem sòmente ao volume em questão, mas sim a vários livros científicos que têm sido traduzidos para a nossa língua, e que muito deixam a desejar.

Joy Arruda

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2015
  • Data do Fascículo
    Jun 1947
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