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ANALISES DE LIVROS

THE PSYCHOLOGY OF PAIN. RICHARD A. STERNBACH, editor. Segunda edição. Um volume (16x24) encadernado, com 245 páginas. Raven Press, 1986.

A primeira edição deste volume apareceu em 1978 e desde então uma vasta literatura tem surgido no campo do estudo da dor, tendo sido necessária esta segunda edição para atualizar, em forma de revisão, os mais novos conhecimentos e abordagens do estudo da dor. Na presente edição são abordados os seguintes temas: Fundamentos Neurofisiológicos da Dor (R. Melzack); Mecanismos Neuroquímicos e Neurais da Inibição da Dor (H. Frenk e col.); Processos de Aprendizagem na Dor (W.E. Fordyce); Influências de Modelos Sociais no Contexto da Dor (K.D. Craig); Psiquiatria e Dor (H. Merskey); Medida Comportamental da Dor no Homem (B.B. Wolff); Dor, Percepção e Ilusão (CR. Chapman); Aspectos Psicodinâmicos da Experiência da Dor (I. Pilowsky); Hipnose e Dor (E.R. Hilgard); Aspectos Clínicos da Dor (R.A. Sternbach). Adequado índice remissivo permite avaliar os diversos tópicos.

Os capítulos são escritos por autores que têm dado grande contribuição ao estudo da dor, tanto no campo experimental como no clínico. Cada um deles foi elaborado tomando em conta extensa pesquisa da literatura. Resulta obra atualizada abordando os principais aspectos sociais, clínicos, cognitivos, neuroquímicos e, neurofisiológicos da dor. Como exemplo, no segundo capítulo, em que são abordados mecanismos neurais e neuroquímicos da inibição da dor, os autores discutem as estruturas que estão envolvidas na modulação da dor, como a substância cinzenta periaquedutal, núcleos bulbares ventrais (núcleo magno da rafe), área periventricular medial do tronco, núcleo do tracto solitário, parte medular da adrenal (liberando substâncias encefalinas-símiles), sistema límbico, hipófise e corno dorsal da medula espinal. Comentam também o papel da histamina, da serotonina, dos opiáceos endógenos e dos corticosteróides na modulação da dor, bem como a ativação pelo stress de sistemas de analgesia opióide e não opióide.

Trata-se, portanto, de uma obra de referência a todos os profissionais que de alguma forma trabalham com dor, nas suas várias abordagens, pois fornece revisão clara e sistemática da literatura numa área que tem apresentado verdadeira explosão de conhecimentos e avanços recentes.

JOSÉ ANTONIO LOPES

CEFALÉIAS E ALGIAS DA FACE (DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO). GABRIEL GITAHY DE ALENCASTRO. Um volume (14x21) em brochura com 103 páginas. Shogun Arte, Rio de Janeiro, 1984.

Neurologia laureado pela Academia Nacional de Medicina, o autor oferece nesta monografia análise adequada e atual sobre o tema, que é abordado de modo didático. A matéria é dividida em 12 capítulos, após os quais é apresentada bibliografia básica e, encerrando a obra, índice remissivo.

Aspectos gerais sobre as cefaléias são abordados no primeiro capítulo. No segundo são analisadas as cefaléias psicogênicas. O problema da enxaqueca é enfocado no terceiro capítulo. Seguem-se os capítulos sobre cefaléia cluster, hemicrania crônica paroxística, cefaléias dos tumores intracranianos, da hipertensão (arterial), dos epilépticos, da arterite temporal. Nevralgia do trigêmio e algias da face são abordadas no décimo capítulo e a síndrome paratrigeminal de Raeder, no undécimo. No último capítulo, são analisados aspectos das cefaléias na infância. Sinopse do diagnóstico diferencial dos principais tipos de cefaléia e algias da face é apresentado sob forma de quadro, encartado à monografia. Preferencialmente após a análise de cada um dos temas, são apresentados sob forma de quadro dados essenciais sobre o respectivo tipo de cefaléia ou algia da face.

Merece destaque o fato de representar este estudo o fruto da profunda experiência do autor no manejo diuturno da matéria, em função do assistir pacientes.

Assim, logo no primeiro capítulo, apresenta e analisa os pontos essenciais da anamnese, que resume em oito itens essenciais. Além da já citada experiência do autor sobre o assunto, ao adotar caráter sintético para a exposição - o que o faz com bastante clareza e em linguagem escorreita - oferece aos leitores fonte de ensinamentos que torna a monografia altamente recomendável tanto aos que se iniciam em especialidades neurológicas, como aos especialistas já experientes, por permitir análise comparativa da respectiva vivência sobre o tema.

A. SPINA-FRANÇA

LB SOMMEIL DE L'ENFANT ET SES TROUBLES. PHILLIPE MAZET & ALLAIN BRACONNIER. Um volume (11,5x19) em brochura com 127 páginas e 8 figuras. Presses Universitaires de France, Paris, 1986.

Poucos são os livros que abrangem exclusivamente as alterações do sono na infância e este é ainda mais incomum por vir da escola francesa. Mazet e Braconnier procuram unir em um tomo de pequenas dimensões os achados recentes da fisiologia do sono, frutos de trabalhos de polissonografia em Centros de Distúrbios do Sono, com as lições da psiquiatria infantil. Tarefa nada fácil, que poderia para o menos experiente gerar ligações tênues ou simples inferências.

Inicialmente é mostrado o aspecto histórico das pesquisas sobre o sono até chegar ao conceito de ciclos e da existência de estados funcionais distintos: vigília, sono REM e não-REM. A polissonografia como instrumento de observação e a caracterização dos diversos estágios do sono são apresentadas. Discutem brevemente as funções hipotéticas do sono e mostram em mais detalhes seu desenvolvimento normal e seu papel no ciclo circadiano. Os distúrbios foram divididos de acordo com faixas etárias, acometendo o lactente, a criança e o adolescente. É no primeiro grupo que vemos a experiência dos autores melhor aplicada: é a chamada insónia do lactente, na qual interagem de forma mais aberta os fatores ambientais, a regularidade dos estímulos externos, a maturidade neurofisiológica e o complexo funcional albergado sob o título de «relações mãe-filho». Ao analisarem a criança após os dois anos e até a adolescência, descrevem a oposição, os rituais e as fobias do adormecer, terror noturno, pesadelos, bruxismo, enurese, crises epilépticas e as síndromes de sonolência excessiva diurna. Já na adolescência as insónias passam a ter lugar de maior destaque pois de acordo com estudos estatísticos suíços e franceses por eles citados, 12% dos adolescentes relatam alterações crônicas e severas do sono e 10% já utilizavam drogas para dormir. As patologias que levam à sonolência excessiva diurna, como narcolepsia, apnéia do sono e depressão também adquirem maior relevância a partir da segunda década de vida.

A lista bibliográfica ao final do tomo é bastante resumida (18 títulos) e abrange quase exclusivamente pesquisas francesas. Em uma visão geral, a obra segue uma linha estimulante, louvável e ainda pouco trilhada, da qual teremos certamente frutos ainda mais elaborados em futuro próximo.

RUBENS REI MÃO

TICS AND RELATED DISORDERS. A. J. LEES. Um volume (16x24) com 276 páginas. Clinical Neurology and Neurosurgery Monographs, volume 7. Churchill-Livigstone, Edinburgh, 1985.

A história do conceito dos tiques é curiosa. Inicialmente, devido à influência de Kinnier Wilson, foi adotado na literatura anglo-saxônica o conceito da escola francesa que considerava os tiques como eventos corticais volitivos, ocorrendo em indivíduos imaturos e neuróticos. Essa teoria veio a ser reforçada pelas escolas psicanalíticas, proporcionando teorias e explicações fantasiosas. Todavia, o aparecimento de discinesias iatrogênicas originou as primeiras observações a essas teorias meramente psiquiátricas.

Este volume engloba o estudo da maior parte dos movimentos anormais desprovidos, até o momento, de uma patologia característica histológica ou neuroquímica. Os movimentos anormais observados era indivíduos psicóticos, em retardados mentais e nos cegos são revistos, pois freqüentemente são interpretados erroneamente, como tiques. As distonias focais de início na idade adulta e as hiperecplexias são estudadas a partir de suas bases históricas. Neste volume, de modo reconhecidamente arbitrário,

Lees excluiu as síndromes mioclônicas, a distonia de torsão idiopática generalizada, as discinesias paroxísticas, assim como os hemiespasmos faciais. Embora os tiques produzidos por drogas sejam relativamente raros, o autor os reviu com alguns detalhes, assim como realizou uma cobertura da constelação de outros movimentos involuntários anormais iatrogênicos. Neste livro, composto de 12 capítulos, o autor principia por conceituar e classificar as diversas desordens que caracterizam os tiques. A ainda discutida natureza de muitos desses movimentos anormais, sua conexão com um desencadear emocional e a variedade da patologia estrutural associada dificultam uma classificação racional. De modo amplo, o autor considera 4 formas fundamentais de tiques e condições correlatas: tiques idiopáticos, síndrome de Gilles de La Tourette, tiques associados a doenças cerebrais estruturais e tiques induzidos por drogas. Em classificação paralela, registra algumas manifestações correlatas aos tiques: hiperecplexias, manipulações habituais do corpo, estereotipias, maneirismos, síndrome hipercinética, distonias focais de início adulto e espasmos clónicos. No capítulo 2 são estudados os tiques idiopáticos, isto é, aqueles movimentos abruptos, repetitivos, que abrangem um grupo discreto de músculos. Esses tiques imitam um movimento coordenado normal, mas com diferente intensidade. Podem eventualmente ser suprimidos pelo poder da vontade e, devido às suas características estereotipadas, esses movimentos são facilmente imitáveis. Seguindo uma sistematização comum na maior parte dos capítulos, o autor revê sucessivamente a epidemiologia dos sintomas, os estudos concernentes a animais, etiologia, fisiopatologia, descrição clínica, localizações e variedades, evolução e tratamento por técnicas comportamentais ou por medicamentos. No capítulo 3, estuda a síndrome de Gilles de La Tourette, afecção que habitualmente se inicia na adolescência e se caracteriza por tiques focais e corporais múltiplos, de curta duração, e cuja intensidade diminui e aumenta rapidamente, quer em sua forma quer em sua apresentação. A coprolalia, a copropraxia, ecofenômenos e complexos maneirismos comumente acompanham a síndrome. O capítulo 4 refere-se a alguns portadores famosos de tiques, incluindo Samuel Johnson. No capítulo 5 são estudados os tiques que ocorrem em associação com desordens estruturais do sistema nervoso central, principalmente as encefalites letárgicas. A associação da acantocitose com doenças neurológicas constitui parte deste capítulo. No capítulo 6 são estudadas as hiperecplexias, isto é, as mioclonias desencadeadas pelo susto. Manipulações habituais do corpo, isto é, movimentos coordenados não bem recebidos socialmente e que tendem a ocorrer principalmente em períodos de fadiga ou de ansiedade são revistos. Essas manipulações podem ser consideradas de acordo com a sede de sua ocorrência como, por exemplo, a mordedura da língua e a introdução do dedo no nariz. Movimentos anormais, registrados em cegos e em pacientes com problemas mentais e retardados são de várias naturezas (cap. 9). Na maior parte das vezes se revestem das características de estereotipias (orais, cefálicas, manuais, do tronco ou dos membros). Outras vezes são manifestações dos tipos que ocorrem na síndrome de Gilles de La Tourette. No capítulo 10 são revistas as desordens dos movimentos em esquizofrênicos, quer sob a forma de movimentos espontâneos anormais, quer como movimentos anormais induzidos, quer manifestando-se como desordens na execução desses mesmos movimentos. Distonias focais que se iniciam no adulto são objeto do capítulo 11, inclusive o torcicolo espasmódico. Após investigação minuciosa das possibilidades terapêuticas, é feita menção também às possibilidades da cirurgia periférica assim como da cirurgia estereotáxica. A síndrome de Meige, composta principalmente por distonia mandibular associada a blefarespasmo, é também minuciosamente estudada. A distonia espasmódica está também incluida e o particular interesse desse capítulo reside na revisão da conhecida e muito discutida distonia da escrita (habitualmente denominada, por vezes impropriamente, de câimbra dos escrivães), assim como de outras distonias profissionais. No último capítulo, as discinesias induzidas por drogas são revistas, a começar pelas desordens dos movimentos provocadas por neurolépticos (discinesias agudas acatisia, discinesias tardias). As discinesias produzidas por substâncias psicoestimulantes e finalmente aquelas condicionadas pelo levodopa (coreoatetoses, distonias, mioclonias e tiques) são sucessivamente descritas.

É recomendável aos neurologistas a leitura deste livro, aliás vazado em linguagem fácil e de leitura agradável. O estudo de tiques, os quais por algum tempo foram considerados como território limítrofe entre desordens neurológicas e psiquiátricas, merece também ser objeto de consideração por parte dos psiquiatras.

ROBERTO MELARAGNO FILHO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jun 2011
  • Data do Fascículo
    Dez 1987
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