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A dominância de um hemisfério cerebral nos processos psíquicos. José Alves Garcia. Tese apresentada para concurso à Docência-livre de Clínica Psiquiátrica na Fac. Med. Univ. Brasil (Rio de Janeiro). Um volume com 92 páginas. Gráfica Editora Aurora, Rio, 1946

ANÁLISES DE LIVROS

A dominância de um hemisfério cerebral nos processos psíquicos. José Alves Garcia. Tese apresentada para concurso à Docência-livre de Clínica Psiquiátrica na Fac. Med. Univ. Brasil (Rio de Janeiro). Um volume com 92 páginas. Gráfica Editora Aurora, Rio, 1946

A observação e o estudo meticuloso do comportamento, da mímica e da gesticulação, assim como do aprendizado de surdos-mudos, permitiu ao A. abordar, de maneira absolutamente original, o problema da dominância de um hemisfério cerebral nos processos psíquicos. Investigando com testes pacientemente escolhidos uma série extensa de surdos-mudos e pesquisando no abundante material já colhido com auxílio de professores especializados neste mister, pôde o A. estabelecer alguns fatos de grande interesse: 1 — o ambidextrismo de quase 100% dos surdos-mudos, objetivado pela especial capacidade de ambigrafismo, do qual apresenta exemplos muito curiosos; 2 — a mímica riquíssima, particularmente a mímica bimanual desses pacientes; 3 — a quase ausência dos movimentos automáticos associados dos membros superiores durante a marcha ou durante qualquer outro movimento destes pacientes, uma vez que esses membros estão sempre em atitude de expectativa à mímica intencional; 4 — o aprendizado de tais pacientes só é possível pela imitação, utilizando-se de seu excepcional senso de forma e aprimorada memoria eidética. Por outro lado, estudando, com aprofundamento digno de nota, as origens remotas do dextrismo humano, o A. estabelece que a diminuição corporal, com o uso predominante dos segmentos de um lado, resulta de um processo de integração superior da função. Tal ocorrência tem como conseqüência o estabelecimento de um hemisfério cerebral dominante. Dentro dessa especialização o dextrismo não passa de uma imposição ao homem pela força, coercitiva do hábito e da educação.

Baseado nestas duas séries de elementos e analisando o que se passa na patologia humana, principalmente na desintegração da linguagem, estabelece seus pontos de vista, que são verdadeiras conclusões do trabalho: por intermédio do hemisfério dominante, o homem põe em ação todo seu sistema de motricidade (praxias) e particularmente da linguagem; quando essa dominância não foi firmada na evolução do indivíduo, a linguagem compósita não será constituída (surdos-mudos - ambidextros); se ela for interferida, aberra-se o mecanismo da expressão verbal (gagos); se, finalmente, a dominância for desorganizada, degrada a linguagem, decompõem-se as formas da compreensão e da expressão (afasias). Eis a relação íntima, que estabeleceu entre dominância de um hemisfério cerebral e processos psíquicos, uma vez que estes — exemplificados pela linguagem — são produtos da lenta e progressiva evolução da espécie humana, paralela ao estabelecimento da dominância de um hemisfério cerebral, assim como, no indivíduo, o aprendizado conduz ao estabelecimento dessa dominância. Tomando por base suas verificações, o A. está experimentando medidas educacionais tendentes a firmar, nos surdos-mudos, a dominância cerebral.

P. Pinto Pupo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1948
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