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Análises de revistas

Análises de revistas

TOPOGRAFIA DAS PROJEÇÕES CENTRAIS DO SISTEMA OLFATIVO (TOPOGRAPHIE DES PROJECTIONS CENTRALES DTT SYSTÈME OLFACTIVE). A. HUGELIN, M. BONVOLLET, R. DAVID e P. DELL. Rev. Neurol., 87:459-463, 1952.

Os impulsos aferentes, sensoriais ou sensitivos, atingem áreas específicas e não específicas, onde participam dos mecanismos centrais de integração. Com o objetivo de pôr em evidência as projeções não específicas das vias olfativas, os AA. apresentam um estudo feito em preparações de encéfalo isolado de gato e em preparações sob a ação do Flaxedil.

A neuronografia se baseou na introdução de um par de eletrodos concéntricos em cada bulbo olfativo do animal em estudo e outro par no encéfalo, deslocando-se milímetro a milímetro no interior do parênquima. As excitações variavam de 1 a 3 impulsos próximos, com duração de 1 mseg e potencial de 1-3 V, e as respostas eram captadas pelos eletrodos cerebrais, levadas a um oscilógrafo catódico e fotografadas. As posições sucessivas do eletrodo cerebral foram examinadas sistemàticamente em cortes seriados corados pela tionina e pelo Weigert.

As experiências demonstraram que os impulsos olfativos atingem a córtex piriforme e prepiriforme, área pré-amigdaliana e núcleo amigdalóide, septo pelúcido e hipotálamo anterior. A maior parte das formações talâmicas, subtalâmi-cas, hipotalâmicas posteriores e mesencéfalo-tegmentais é atingida pelos impulsos olfativos. Há, também, projeções cerebelosas, sobretudo próximas à fissura primária. O hipocampo recebe contingente importante dessas projeções.

Citando os trabalhos de Moruzzi, Magoun e Taylor, segundo os quais o estado de vigília depende da integridade das formações reticulares bulbomesencefálicas, a qual é ativada pelas vias aferentes sensoriais, os AA. frisam que os impulsos olfativos também terminam em parte na formação reticular do tronco cerebral, contribuindo para sua ativação e, portanto, para a manutenção do estado de vigília. Refutam a influência, atribuída por Gastaut, dos impulsos olfativos sobre o comportamento, em particular no setor afetivo, embora não esclareçam suficientemente seu ponto de vista.

Ressalta do presente estudo que, possìvelmente, ao hipocampo cheguem apenas projeções indiretas, pois a latências variáveis registradas sugerem a heterogeneidade das vias.

C. TIMO IARIA

EFEITO DO BROMETO DE HEXAMETÔNIO SÔBRE A CIRCULAÇÃO CEREBRAL NA HIPERTENSÃO (EFFECT OF HEXAMETIIONIUM BROMIDE ON THE CEREBRAL CIRCULATION IN HYPERTENSION). H. A. DEWAR, S. G. OWEN e A. R. JENKINS. Brit. M. J., 2:1017-1018 (7 novembro) 1953.

Quando há uma queda na resistência periférica total, como acontece pelo emprêgo do hexametônio, essa queda não se distribui necessàriamente na mesma proporção para todos os territórios do organismo. Processa-se então uma redistribuição do fluxo sangüíneo periférico, em que o fluxo para os pés e artelhos aumenta, enquanto que nas panturrilhas decresce. No fígado, a circulação sangüínea readquire seus níveis prévios e nos rins se desenvolvem alterações mais complexas. Evidentemente, é da maior importância o conhecimento do comportamento na circulação coronaria e na cerebral. Trabalhos anteriores de outros autores evidenciaram que, em cães com hipertensão renal experimental, a resistência vascular na circulação coronaria decresce ligeiramente pela ação do hexametônio, de forma que o fluxo coronario médio é mantido. Na investigação presente, os AA. estudaram 6 pacientes hipertensos, todos com alterações do fundo de ôlho do grau IV (Keith-Wagener-Barker), com exceção de um caso de hipertensão maligna, em que a retinopatia era mais pronunciada. Registraram, através do método do óxido nitroso, o fluxo sangüíneo cerebral antes e depois do uso do hexametônio. Concluíram que, apesar da tensão arterial média cair de 30%, não ocorreram alterações significativas do fluxo sangüíneo cerebral, de modo a evidenciar uma queda paralela na resistência cerebrovascular. Em 4 pacientes em que o consumo de oxigênio foi determinado, não observaram alterações importantes em relação aos valores prévios.

R. MELARAGNO FILHO

ENCEFALOPATÍA PELA RÖNTGENTERAPIA. DOIS CASOS DE SÍNDROMES HIPERCINÉTICO-AFÁSICA DO TIPO KRAMER E POLLNOW. CONTRIBUIÇÃO CLÍNICA (ENCEFALOPATÍA DA TERAPIA ROENTGEN. DUE CASI DI SÍNDROME IPERCINETICO-AFASICA DEL TIPO DI KRAMER E POLLNOW. CONTRIBUTO CLINICO). G. CARRIERI. Giorn. Psichiat. E Neuropatol., 81:245-257, 1953.

O A. considera demonstrado que o tecido nervoso pode ser lesado pelos raios röntgen e que os disturbios podem aparecer depois de um período de laténcia variável entre alguns meses e alguns anos. A sintomatologia varia com a sede, gravidade e difusão das lesões anatômicas, que podem atingir as células nervosas, glia e vasos. O acidente parece ser excepcional, pois ainda não foram descritos 100 casos; mas chama a atenção para vários fatos, entre os quais o número crescente de casos publicados, embora a técnica de aplicação dos raios seja pràticamente a mesma. O A. apresenta dois casos estudados clinicamente. O primeiro é o de menina de 7 anos de idade, sem antecedentes dignos de nota, e que, para tratar uma tinha, foi submetida à röntgenterapia; 3 meses depois, apresentou diminuição do rendimento escolar durante um mês, findo o qual se instalou bruscamente um estado de agitação motora, com rápida e progressiva redução da linguagem, com as características de uma afasia mais ou menos total, verificando-se depois alexia e agrafía, o caso evoluiu para cura completa, após alguns meses, ü segundo paciente é um menino de 5 anos de idade, também submetido à röntgenterapia para tratamento de tinha, e que, 3 a 4 meses depois, apresentou crises convulsivas epileptiformes prevalentes no lado esquerdo; alguns dias após entrou em estado de mal; medicado, saiu do estado de mal, porém ficou mudo e apresentou crises periódicas de agitação motora; o distúrbio da linguagem parecia ser afásico com componente sensorial; o paciente permaneceu neste estado durante 3 meses, após os quais os distúrbios da linguagem começaram a regredir, desaparecendo completamente.

O A. considera a semelhança com a síndrome de Kramer e Pollnow. Considera como fator etiológico os raios X, por não encontrar outra causa aparente demonstrável clínica ou laboratorialmente. Mostra que, na literatura, os casos em que o período de latência é curto, se referem a crianças irradiadas para o tratamento de tinhas, como se tal fato tivesse relação com a idade do paciente e com a técnica de aplicação.

O A. conclui afirmando ser desconhecida a patogenia dêstes distúrbios conseqüentes à radioterapia, lembrando que os mesmos não têm caracteres próprios e que o diagnóstico se baseia em fatos circunstanciais.

JOSÉ COLLARILE

EPILEPSIA AFETIVA (AFFECTIVE EPILEPSY). L. VAN DER HORST. J. Neurol., Neurosurg. a. Psychiat, 16:25-29, 1953.

O têrmo "epilepsia afetiva" foi introduzido por Bratz e Falkenburg em 1904, para descrever crises que, lembrando os pródromos e aura das verdadeiras epilepsias, eram acompanhadas não por convulsões epilépticas, mas por distúrbios emotivos. O interêsse por essas crises tornou-se menor quando verificou-se que tais casos tinham uma origem orgânica. Contudo, com a importância atual dos aspectos psicológicos das epilepsias, esse tipo de crise passou a merecer a atenção de clínicos e investigadores.

O A. descreve um caso de paciente de 23 anos, com crises do tipo minor, em que o olhar se tornava vago e havia desvio dos olhos, ligeiros movimentos dos lábios, ligeiro declínio da consciência e então o paciente apresentava intensos distúrbios emotivos. Repentinamente iniciava discursos em pseudo-linguagem, com acentuada mímica e gestos. Suas crises foram sempre estereotipadas. Após exame clínico e provas complementares, foi firmado o diagnóstico de tumor frontal e à cirurgia foi encontrada massa resistente situada profundamente na região íronto-temporal. Foi feita desoompressão subtemporal e radioterapia. As crises continuaram a se repetir, e seu estado mental foi-se deteriorando gradativamente; 8 anos após, apresentava sinais de hipertensão craniana, vindo a falecer. O exame anátomo-patológico demonstrou a presença de um glioblastoma multiforme que se estendia da região subcalosa do lobo frontal, ao septum pellucidum, fórnices, hipocampo, tálamo, hipotálamo, núcleo lenticulado e córtex da ínsula. O rinencéfalo era a região mais atingida pela lesão.

Discutindo os achados anatômicos, o A. procura relacionar a situação da lesão com os sintomas apresentados pelo enfêrmo, lembrando que já Papez, em 1937, afirmava que o hipocampo, através do fórnice, hipotálamo, núcleo anterior do tálamo, giro cingulado e suas conexões, constituíam um sistema auto-regulador do temperamento do indivíduo, participando de sua expressão emocional.

J. ARMURUST-FIGUEIREDO

OCORRÊNCIA DE "SINTOMAS CONTÍNUOS" EM EPILÉPTICOS (OCCURRENCE OF 'CONTINUOUS SYMPTOMS" IN EPILEPTIC PATIENTS). J. S. SCOTT e R. L. MASLAND. Neurology, 3:297-301, 1953.

Os AA. chamam a atenção para os sintomas que aparecem em epilépticos tora das crises, denominando-os "sintomas contínuos". De 100 pacientes cujas crises convulsivas foram controladas pelo tratamento medicamentoso, foram notados os sintomas contínuos em 12. Dêstes, todos apresentavam epilepsia sintomática, não se registrando casos de epilepsia idiopática. Os principais sintomas contínuos toram: viscerais, psíquicos, sensitivos e motores, sendo êstes mais raros. Com relação à fisiopatologia, chamam a atenção para recente teoria da produção da crise convulsiva, pela qual um foco epileptógeno pode influenciar a função do sistema nervoso como um todo. Do mesmo modo se produziriam os sintomas contínuos, mesmo na ausência da crise. Seria uma aura contínua. Os sintomas contínuos desaparecem com o advento de uma crise convulsiva. Embora não sejam tais fenômenos devidos ao uso dos medicamentos anticonvulsivantes, aparecem no curso do tratamento, como fenômeno por vêzes passageiro. Não foram observadas modificações eletrencefalográficas na vigência da sintomatologia contínua.

E. ZUKERMAN

EPILEPSIA CARDÍACA SIMULANDO SÍNDROME DE ANGINA (CARDIAC EPILEPSY SIMULATING THE ANGINAL SYNDROME). E. R. JANGIGIAN. Am. J. Psychiat., 110:34-40 (julho) 1953.

O A. descreve o caso de um indivíduo que, durante 4 meses, apresentava ataques recorrentes de dor subesternal, precipitada pelo esfôrço, excitação ou refeições pesadas, ocorrendo geralmente duas a três vêzes por semana. Tinham início súbito e paroxístico, com intenso mal-estar cardíaco, acompanhado de mêdo mórbido da morte. Os exames clínicos e eletrocardiográfico nada revelaram. O A. observou que o paciente apresentava, por um ou dois segundos antes da crise aguda de dor subesternal, uma sensação particular de náusea, que caracterizou como "aura". Em virtude desta, da característica episódica irregular das crises, do início súbito, do mal-estar cardíaco e da exaustão que se seguia ao ataque, suspeitou da existência de disritmia cerebral, que foi confirmada pelo EEG. Instituído o tratamento pela fenil-hidantoína, não só os sintomas desapareceram como também o EEG se normalizou. A supressão do medicamento determinou a volta dos sintomas e da disritmia.

O A. discute a possibilidade da existência de uma entidade denominada epilepsia cardíaca, análoga à epilepsia abdominal.

JOY ARRUDA

ANÓXIA CEREBRAL E CONVULSÕES (CEREBRAL ANOXIA AND CONVULSIVE DISORDERS). B. C. COURVILLE e J. M. NIELSEN. Bull. Los Angeles Neurol. Soe, 18:59-73 (junho) 1953.

Os AA. fazem uma revisão dos vários aspectos da possível relação entre a anóxia cerebral e a produção de crises convulsivas. O problema é estudado sob vários ângulos: 1) a freqüência de convulsões como sintoma de anóxia aguda; 2) a relação da anóxia aguda com a produção de disritmias; 3) o efeito dos cianetos, que resultam em anóxia histotóxica, na produção de crises convulsivas; 4) a ocorrência de convulsões na anóxia pré-natal experimental; 5) a freqüência de convulsões como manifestação associada aos estados espásticos e de deficiência mental conseqüentes à anóxia neonatal; 6) as evidências histológicas de anóxia cerebral em lesões focais epileptógenas do córtex; 7) a relativa freqüência da epilepsia nos primeiros filhos, os quais são mais sujeitos à anóxia neonatal.

J. A. LEVY

ESTUDO ELETRENCEFALOGRÁFICO DA DOENÇA ASMÁTICA NA CRIANÇA (ÉTUDE ÉLECTROENCEPHALOGRAPHIQUE DE LA MALADIE ASTHMATIQUE CHEZ L'ENFANT). R. PANZANI e M. TURNER. Pediatrie 7:638-646 (maio) 1953.

Os AA. estudaram quarenta crianças asmáticas com idade compreendida entre 3 e 14 anos, comparando dados clínicos e eletrencefalográficos. Êste confronto eletro-clínico permitiu aos AA. encontrar, em cêrca de 50% dos casos, alterações letrencefalográficas traduzindo lesão dos centros mesodiencefálicos encarregados da regulação da eletrogênese cortical (traçados dessincronizados, traçados disrítmicos e de sincronização lenta). Alguns traçados (4 casos) levantaram o problema das relações entre asma e epilepsia, as quais, embora sendo duas doenças distintas, podem ter, em casos excepcionais, uma origem comum mesodiencefálica.

MILTON ZUCCOLOTTO

HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA E METÁSTASES PARTINDO DE SARCOMA MEDULAR EM UMA CRIANÇA (SUB-ARACHNOID HEMORRHAGE AND TUMOR IMPLANTS FROM SPINAL SARCOMA IN AN INFANT). I. M. TARLOV e E. B. KIENER. Neurology, 3:384-390 (maio) 1953.

Apresentação de um caso raro sob vários aspectos: uma criança de três meses e meio, que apresentou, sùbitamente, déficit nos membros superiores e, alguns dias depois, nos inferiores, momento em que foi notado um quadro de irritação meníngea. O liqüido lombar foi hemorrágico e xantocrômico e a perimielografia mostrou parada em T2 do contraste injetado por via lombar. O estado geral era péssimo e a criança morreu antes de ser operada. A necrópsia mostrou tratar-se de meningossarcoma. Foi verificada a presença de células tumorais em numerosos pontos do revestimento meníngeo, tanto da medula como do tronco encefálico, cerebelo e cérebro.

Os tumores medulares são muito raros nas crianças; até 1951 haviam sida descritos 22 casos. Há na literatura 10 casos de hemorragia subaracnóidea espontânea produzida por tumor medular; o caso atual é o único verificado em criança.

ANTONIO B. LEFÈVRE

ENCEFALOPATÍA APÓS INOCULAÇÃO COM VACINA PERTUSSIS-DIFTÉRICA (ENCEPHALOPATHY FOLLOWING DIPHTHERIA-PERTUSSIS INOCULATION). J. M. SUTHERLAND. Arch. Dis. Childhood, 28:149-150 (abril) 1953.

Apresentação de um caso de encefalopatía conseqüente a vacinação mista pertussis-diftérica. Criança de 11 meses que, 10 dias após ter recebido a última dose de vacina profilática pertussis-diftérica, apresentou paraplegia crural flácida. O exame de liquor apenas mostrou como anormalidade elevação da taxa de proteínas (38 mg/100 ml) e reação de Pandy positiva. Alguns dias após o início da moléstia apareceram sinais de libertação piramidal, mais evidentes em um dimídio. Aos 40 dias de evolução o quadro clínico iniciou a regressão, voltando o paciente à normalidade em poucos dias. Foi feita apenas medicação sintomática.

FRANCISCO G. NEVES

ESTUDO ELETRENCEFALOGRÁFICO DE RECÉM-NASCIDOS E CRIANÇAS QUE SOFRERAM TRAUMATISMO INTRACRANIANO AO NASCER (ELECTROENCEPHALOGRAPHIC STUDIES OF INFANTS AND CHILDREN WHO ACQUIRED INTRACRANIAL INJURIES AT BIRTH). O. MORSTAD e B. R. KAADA. Neurology, 3:544-549, 1953.

Os AA. apresentam o estudo eletrencefalográfico de 54 crianças em cuja história havia referência a hemorragia intracraniana ou asfixia ocorridas logo após o parto ou na primeira semana de vida. Dessas crianças, 11 eram normais; 21 apresentavam crises convulsivas tipo grande mal; 19, retardo mental ou crises periódicas de irritabilidade; 3, quadro espástico pirâmido-extrapiramidal. Dos traçados correspondentes às crianças do primeiro grupo, 10 foram normais e um apresentou alterações focais. No segundo grupo, 6 EEG apresentavam alterações difusas; 9, alterações focais e 6 traçados foram normais. No terceiro grupo houve um traçado normal, 7 com alterações difusas e 11 com alterações focais. No quarto grupo, um EEG apresentou alterações difusas, e 2, alterações focais. Houve, portanto, 17 traçados normais, 14 com alterações difusas e 23 com alterações focais. E' interessante notar que as alterações focais se localizavam principalmente no vértex e na região posterior dos hemisférios. Além disso, há a assinalar a predominância nítida dos focos à esquerda, fato que os AA. apenas registram, não o conseguindo relacionar a qualquer fator etiológico.

M. I. VALENTE

ANÁLISE ELETROMIOGRÁFICA DA AÇÃO DAS INFILTRAÇÕES ESTELARES NO TRATAMENTO DAS PARALISIAS FACIAIS PERIFÉRICAS (ANALYSE ÉLECTROMYOGRAPHIQUE DE L'ACTION DES INFILTRATIONS STELLAIRES DANS LE TRAITE ME NT DES PARALYSIES FACIALES PERIPHÉRIQUES). F. ISCH e C. TREUSSARD. Rev. Neurol., 87:463-464, 1952.

O bloqueio do simpático cervical tem mostrado valor na terapêutica de várias entidades patológicas, inclusive das paralisias faciais periféricas. Os AA. estudaram pelo eletromiografia os efeitos da infiltração estelar em 14 casos de paralisia facial periférica de etiologías diversos e os obtidos em 16 outros, nos quais se provocou vasodilatação facial por meio de histamina e calor.

Utilizando-se de agulhas de Bronk, traçaram eles o EMG do músculo frontal do lado paralisado antes da infiltração ganglionar. Em 4 casos não apareceram potenciais de ação ao esfôrço máximo de contração, verificando-se fibrilação, que denotava a denervação do músculo. Nos 10 restantes havia atividade elétrica fraca (uma ou poucas unidades-motoras). Depois da infiltração (sem tirar os eletrodos) fêz-se novo EMG. Nos 4 casos sem potencial antes do bloqueio não houve modificação do traçado, a não ser aumento da freqüência de amplitude e do número de unidades-motoras, encontraram-se, em 8 dos 10 casos, pelo menos 2 dêsses elementos e, em 3, apenas um.

Em 8 doentes foi feito o EMG do músculo frontal, injetando-se depois histamina intradèrmicamente, ao redor dos eletrodos. De 4 casos onde não havia atividade elétrica, 3 não se alteraram após a histamina, mas em um surgiu uma unidade-motora. Nos outros 4, em que o EMG revelava atividade elétrica, houve melhora nítida. Em outra série de 8 pacientes, registrou-se o EMG do músculo frontal antes e depois da aplicação de compressas quentes ou aquecimento do músculo. Em 2 casos, sem atividade elétrica, não houve modificação; em 4 a melhora foi nítida e em um, moderada.

Concluem que as infiltrações estelares agem pela vasodilatação e aumento do calor local, mas não esclarecem o mecanismo pelo qual esses fatores determinam a melhora observada; a ação não pode ser apenas local, pois o aumento da freqüência revela a existência de mecanismo que envolve ação central sôbre o neurônio. O EMG tem interesse prognóstico para a terapêutica por infiltração porquanto a ausência de atividade elétrica do músculo antes da intervenção faz prever fracasso terapêutico.

C. TIMO IARIA

LIMIARES ELETROMIOGRÁFICOS EM MÚSCULOS REINERVADOS (ELECTROMYOGRAPHIC PATTERNS IN REINNERVATED MUSCLE). M. D. YAHR, E. HERZ, J. MOLDAVER e H. GRUNDFEST. Arch. Neurol, a. Psychiat., 63:728 (maio) 1950.

Para determinar as modificações eletromiográficas após completa reinervação, foram estudados 76 pacientes com secção e sutura de nervos periféricos das extremidades 3-5 anos depois do acidente. Pela primeira vez se fêz contrôle eletromiográfico tão tardio em casos semelhantes.

Os AA. usaram um conjunto comum de eletromiografia e utilizaram eletrodos concêntricos colocados próximo do ponto motor de cada músculo estudado. Os resultados permitiram dividir os casos em dois grupos. O primeiro era caracterizado por potenciais de ação espontânea de cêrca de lmV, ao lado dos potenciais determinados pela contração voluntária (não verificaram as ondas polifásicas descritas por outros autores). Potenciais altos e espontâneos, ocorreram apenas em algumas áreas do mesmo músculo, o que indica haver fibras reinervadas e fibras não inervadas. A cronaxia dêsses músculos era 10 vêzes maior que a normal. Ressalta o fato de as fibras musculares ainda não reinervadas não terem sido substituídas por tecido fibroso. No segundo grupo (maior parte dos casos) não ocorreram potenciais espontâneos, mas, à contração voluntária, havia espículas de elevado potencial, isoladas ou associadas a outras de menor potencial. A espícula de grande potencial é trifásica e varia de 2-15 mV. As maiores amplitudes apareceram nos músculos pequenos, o que também se dá normalmente. Os músculos desse grupo mostraram déficit motor nas cronaxias normais, o que indica falta de massa muscular e não falta de inervação.

Baseados na observação de que a regeneração nervosa cria novos padrões anatômicos, pois os axônios se relacionam com as fibras musculares de modo diverso do anterior, e de que a amplitude das descargas é a expressão direta do tamanho da unidade motora, os AA. admitem que esses potenciais elevados dos músculos reinervados são o resultado da reconstituição das unidades motoras em unidades de número maior de fibras.

C. TIMO IARIA

DIAGNÓSTICO DA MENINGITE AGUDA NA INFÂNCIA (DIAGNOSIS OF ACUTE MENINGITIS IN INFANCY). J. C. HAWORTH. Lancet, 1:911-958 (maio) 1953.

Os AA., considerando que é ainda bastante alta a mortalidade nos casos de meningites purulentas nas crianças, apesar do tratamento corretamente realizado pelos antibióticos, procuram analisar as causas dêste prognóstico relativamente mau. Concluem que um dos mais importantes fatôres desta alta mortalidade vem a ser o diagnóstico tardio. Estudam 50 crianças com idade inferior a 12 meses, com o diagnóstico de meningite purulenta aguda; 13 dêstes casos não apresentavam nenhum dos sinais clàssicamente descritos como característicos das meningites agudas. Chamam a atenção para um sinal de grande valor, que é a tensão da fontanela bregmática; porém, êste sinal pode estar ausente em crianças desidratadas. Os sinais mais freqüentemente verificados foram: rigidez de nuca, fontanela tensa, Kernig e desvio dos olhos. Os sintomas mais freqüentemente relatados foram: vômitos, irritabilidade, anorexia, sonolência e convulsões.

Os AA. chamam a atenção para o mau significado prognóstico das convulsões e lembram a necessidade de ser feito precocemente o exame de liqüido cefalorraqueano, sem esperar o aparecimnto de todo o cortêjo de sinais clínicos das meningites.

A. ANGHINAH

NEOPLASIAS INTRA-RAQUIDIANAS DA REGIÃO CERVICAL (INTRASPINAL NEOPLASMS IN THE CERVICAL REGION). J. H. WEBB, W. MCK. CRAIG e J. W. KERNOHAN. J. Neurosurg., 10:360-366 (julho) 1953.

Estudo de revisão de 179 casos de neoplasias intra-raquidianas da região cervical observadas na Clínica Mayo de 1914 a 1950. Dêsses casos, 64 eram neurofibromas; 41, meningiomas; 41, gliomas; 15, tumores vasculares; 4, cordomas; e 14 de diversos tipos. São analisados de início o quadro anátomo-patológico e clínico e, finalmente, os caracteres do liqüido cefalorraquidiano colhido pela punção lombar. O estudo da sua dinâmica foi feito pela prova de compressão jugular em 121 casos, dos quais havia bloqueio completo do canal raquidiano em 53 e parcial em 40, enquanto nos demais a prova foi normal. A proteinorraquia não ultrapassou 40 mg/100 ml em apenas 14 dos 83 casos em que foi determinada; nos demais as taxas eram mais elevadas, correspondendo os maiores valores àqueles casos onde fora demonstrada a existência de bloqueio completo do canal raqueano. A citometria, determinada em 110 casos, foi menor que 5 por mm3 em 79 casos e igual ou maior nos demais, raramente ultrapassando o número de 10; não há referências ao estudo dessas células. Em 19 casos a punção lombar determinou aumento da intensidade das dores e da fraqueza muscular e acentuação do comprometimento sensitivo.

A. SPINA FRANÇA NETTO

SÍNDROME DE ARAN-DUCHENE CAUSADA POR UMA PAQUIMENINOITE CARCINOMATOSA. E. P. TORTELLA, R. R. DE VIÑALS, C. L. DE GRIGNON e J. B. RODRIGUES-ARIAS. Actas Luso-Españ. Neurol, y Fsiquiat., 4:334-344 (novembro) 1952.

As síndromes amiotróficas mielopáticas de origem metastática são raras. Os AA. relatam a observação de um paciente que apresentou afonia progressiva e raquialgia, e, quase um ano após, paresia braquial esquerda e amiotrofia na mão; posteriormente, sinais semelhantes à direita, acompanhados de paresia facial, blefaroptose esquerda e disfagia. Oito anos antes fôra feita ablação da mama esquerda por neoplasia maligna. Ao exame neurológico foi observado: paresia braquial bilateral, mãos tipo Aran-Duchenne, hiperreflexia profunda, alterações da sensibilidade superficial, particularmente térmica, ao nível de C7-T1 e mais nítida à esquerda, síndrome de Claude Bernard-Horner à esquerda, paresia facial central, lesão discreta do hipoglosso à direita e apraxia. O exame do líqüido cetalorraqueano revelou xantocromia, dissociação albumino-citológica e bloqueio. A radiografia da região cérvico-torácica foi normal. O quadro se agravou progressivamente, falecendo a paciente um mês depois. A necropsia mostrou: metastases pulmonares, hepáticas, cerebrais e raquidianas na zona C8-T4, com bloqueio subaracnóideo (paquimeningite cervical). Os AA. admitem a propagação das células cancerosas até as meninges através da sua rêde venosa, pois as raízes posteriores estavam mais lesadas.

W BROTTO

CERVICOBRAQUIALGIA E ARTROSE UNCOVERTEBRAL (CERVICOBRAQUIALGIA Y ARTROSIS DE LAS ARTICULACIONES UNCOVERTEBRALES) . F. V. RAVEST. Rev. Méd. de Chile, 81: 287-293 (maio) 1953.

A dor cervicobraquial tem sido explicada por herniação de discos intervertebrals cervicais, à semelhança do que ocorre na região lombar; o autor, baseado nos estudos de Sèze e col. e de Mason, chama a atenção para o papel das articulações uncovertebrais em relação à patogenia dessas dôres. Essas articulações são diartroses que formem a parede anteromedial do conduto de conjugação das vértebras cervicais, mantendo relação direta com a raiz nervosa que passa pelo conduto. Sua importância se liga à sua situação, impedindo que uma hérnia de disco intervertebral comprima a raiz correspondente. Processos patológicos dessas articulações, entretanto, podem afetar a raiz nervosa; isto ocorre com freqüência na artrose, onde osteófitos crescem para a luz do conduto de conjugação. A compressão do conteúdo do conduto pode determinar alterações vasculares locais, com edema e aparecimento de sintomatologia radicular. Alterações do disco intervertebral podem facilitar o aparecimento da artropatia, destacando-se, entre essas alterações, a sua hérnia, com compressão da cápsula articular.

O estudo é baseado na observação de 20 casos, na maioria pacientes na sexta década de vida, cuja sintomatologia era radicular posterior, em geral unilateral e de instalação progressiva. Havia ausência de sinais clínicos de comprometimento articular escápulo-umeral, defesa muscular cervical e limitação dolorosa dos movimentos da região, predominando no lado comprometido; alterações objetivas da sensibilidade foram raras. Os achados radiográficos da coluna cervical corresponderam a diminuição da lordose fisiológica, alterações dos espaços intervertebrals (diminuição da altura e reação proliferativa dos corpos vertebrais adjacentes) e alterações artróticas uncovertebrais. Estas foram verificadas em 17 casos e se caracterizavam por diminuição do espaço articular, condensação óssea das superfícies articulares e proliferações osteofítieas de crescimento predominantemente posterior, estreitando o orifício de conjugação correspondente; correspondiam aos espaços intervertebrals C5-C6 e/ou C6-C7.

A. SPINA FRANÇA NETTO

IMPRESSÕES DAS CIRCUNVOLUÇÕES EM CRANIOGRAMAS DE PACIENTES COM CEFALÉIA (CON-VOLUTIONAL MARKING IN THE SKULL ROENTGENOGRAMS OF PATIENTS WITH HEADACHE). L. M. DAVIDOFF e H. GASS. Am. J. Roentgenol., 61:317-323 (março) 1949

O trabalho focaliza um aspecto craniográfico cuja interpretação é ainda muito discutida e sôbre o qual não existe até agora um ponto de vista uniforme. Trata-se das impressões digitais, tão freqüentemente encontradas nos craniogramas e consideradas como indicativas de hipertensão craniana. Tais impressões são verificáveis no fim do primeiro ano de vida extra-uterina, quando as fontanelas e suturas iniciam suas sinostoses; tornam-se mais acentuadas aos 7 anos de idade mais ou menos e permanecem bem evidentes até à idade dos 14 anos; no adulto são observadas com certa freqüência mesmo até aos 60 anos. Observando as radiografias de crânio praticadas na Headache Clinic do Monlefiore Hospital, os AA. verificaram a existência de impressões digitais com grande freqüência; daí, realizarem pesquisa com finalidade de apurar se as impressões digitais tinham ou não significação patológica. Na literatura, aliás pequena, as opiniões eram divergentes.

Foram estudadas radiografias do crânio de 100 pacientes, separados segundo o sexo e a idade; para estudo comparativo, foram radiografados 100 indivíduos que não sofriam de cefaléia e se mostravam perfeitamente hígidos. As impressões digitais foram classificadas em 4 graus, de acordo com a intensidade, tendo sido observado que ocorriam indistintamente tanto em pacientes com cefaléia, como em indivíduos hígidos. Impressões digitais foram encontradas com bastante freqüência em craniogramas de adultos (em 45-46% dos casos) sem maior significação patológica. A acentuação das impressões digitais ocorreu, sem significação clínica, em cerca de 15% dos pacientes adultos; impressões digitais ligeiramente acentuadas foram vistas em indivíduos com mais de 60 anos de idade, em aproximadamente 20% dos casos, não tendo significado patológico. Esse aspecto radiológico ocorre com maior freqüência nos craniogramas de mulheres.

C. PEREIRA DA SILVA

A SÍNDROME DE CABELLO CAMPOS NO DIAGNÓSTICO DA MENINGOCELE INTRATORÁCICA (EL. SÍNDROME DE CABELLO-CAMPOS EN EL DIAGNÓSTICO DEL MENINGOGELE INTRATORÁCICO). O. F. NOGUERA. Acta Radiol. Interamer., 2:13-20 (julho-dezembro) 1952.

O A. considera justo denominar síndrome de Cabello de Campos ao conjunto de sinais radiológicos descritos pela primeira vez por Cabello de Campos, nos casos de meningocele intratorácica; tais sinais são: neurofibromatose da pele; sombra tumoral intratorácica e anomalias de desenvolvimento da coluna vertebral.

Acentua o A. a importância para a radiologia clínica da síndrome descrita por Cabello de Campos, permitindo o diagnóstico radiológico de meningocele intratorácica que, só era diagnosticada após intervenção cirúrgica. A intervenção resultava de êrro de interpretação radiológica, pois era considerada como tumor de extirpação necessária, mas que na realidade é tumor inócuo, cuja extirpação, muitas vêzes, acarreta a morte por perfuração do saco hemiario ou por infecção.

A meningocele intratorácica aparece associada, geralmente, à neurofibromatose da pele, o que pode conduzir o radiologista a interpretar a imagem tumoral como a de neurofibroma, o que é raro. É possível a ocorrência da meningocele intratorácica sem neurofibromatose da pele, como também podem ser observados casos de neurofibromatose cutânea, com tumorações intratorácicas de outra natureza, mas, nessa eventualidade, não há anomalias de desenvolvimento da coluna vertebral.

O trabalho é documentado com radiografias de dois casos observados por Cabello de Campos e de um caso diagnosticado pelo A.

C. PEREIRA DA SILVA

INCIDÊNCIA COMPARATIVA DE CEFALÉIA PÓS-PUNÇÃO LOMBAR PARA ANESTESIA FEITA COM AGULHAS DE CALIBRE 20 E 24 (THE COMPARATIVE INCIDENCE OF POST LUMBAR PUNCTURE HEADACHE FOLLOWING SPINAL ANESTHESIA ADMINISTERED THROUGH 20 AND 24 GAUGE NEEDLES). L. M. HARRIS e M. H. HARMEI. Anesthesiology, 14:390-397 (julho) 1953.

AA. estudam 1.040 doentes submetidos a raquianestesia com pantocaína hiperbárica e nupercaína hipobárica (39 casos), utilizando agulhas de punção de calibre 24 (529 doentes) e 20 (511 pacientes); 149 pacientes (14,3%) apresentaram cefaléia, sendo 88 (59%) devido a causas como sinusite e enxaqueca e 61 (41%) classificadas como cefaléia pós-punção lombar. Desses 61 pacientes, 19,7% mostraram sinais de meningismo. Us AA. puderam concluir que a incidência da cefaléia diminui de 50% quando se usa agulha mais fina (nº 24), é inversamente proporcional ao volume de fluido intravenoso administrado durante a operação, aumenta com o aparecimento de vômitos e quando a operação é realizada com o paciente em posição supina, é maior nos jovens, nas mulheres e na mão de pun-cionadores inespertos. De maneira geral, diversos fatores como idade, sexo, local da operação, nível da punção, duração da operação, deixam de influir sôbre a incidência da cefaléia quando se usam agulhas finas. Os demais fatores relatados necessitam ainda maior observação, com número maior de pacientes, para sua positivação. Êste trabalho concorda, assim, com nossa experiência sôbre o interêsse de usar-se agulhas finas nas punções raquidianas.

J. M. TAQUES BITTENCOURT

MECANISMO DAS VARIAÇÕES DA PRESSÃO DO LÍQÜIDO CEFALORRAQUIDIANO PELA INDUÇÃO DE VARIAÇÕES NO VOLUME DO FLUIDO (THE MECHANISM OF THE CHANGE IN CEREBROSPINAL FLUID PRESSURE FOLLOWING AN INDUCED CHANGE IN THE VOLUME OF THE FLUID SPACE). H. W. RYDER, F. F. ESPEY, F. D. KUNBELL, E. J. PENKA, A. ROSENAUER, B. PODOLSKY e J. P. EVANS. J. Lab. Clin. Méd., 41(3):428, março, 1953.

Trata-se de estudo das variações produzidas na pressão liquórica por introdução de quantidades variáveis de liqüido no canal raquidiano ou retirada de quantidades variáveis de liquor; foram utilizados pacientes com pressão liquórica normal ou elevada, sendo registrada a pressão no canal raquidiano, na veia jugular interna e na artéria femural ou braquial.

A introdução de alguns milímetros de liqüido no canal raquidiano determinava elevação da pressão liquórica e a retirada de quantidade semelhante, sua diminuição; a normalização da pressão ocorria espontâneamente em alguns minutos, com velocidade maior nos primeiros segundos. Se o volume em questão era maior tornava-se necessário retirar ou introduzir certo volume de liqüido para que a pressão liquórica retornasse aos níveis iniciais; em tais casos, porém, o volume era menor que o inicialmente introduzido ou retirado. Êsses fatos foram verificados tanto em pacientes com pressão liquórica normal, como elevada; quer na punção lombar, quer na ventricular. Em pacientes com hipertensão liquórica, o volume a ser retirado ou introduzido para restabelecer a pressão inicial era menor que nos pacientes com pressão liquórica normal; em casos de hipertensão venosa esse volume era menor que nos casos com pressão venosa normal. Essas diferenças, embora pequenas, se mostraram significativas pelo estudo estatístico.

Como a introdução de liqüido no espaço subaracnóideo ou sua retirada provoca o funcionamento da barreira hemoliquórica no sentido de compensar a variação ocorrida na pressão e como o volume total do conteúdo intracraniano é constante em uma dada pressão, deve haver, por parte de algum dos seus elementos, uma variação que compensa a modificação provocada. Do conteúdo intracraniano, o elemento que mais diretamente pode ser responsabilizado por essa reação imediata de compensação é a rêde vascular, que sofreria uma alteração recíproca à provocada. Essa interpretação pode ser justificada pelo fato de a reação de compensação ser imediata, antes que a barreira hemoliquórica esteja funcionando e por ser menor o volume que se necessita retirar ou introduzir para determinar retorno de pressão aos níveis iniciais. Dessa verificação decorre que, ao se avaliar alterações da pressão do conteúdo fluido craniospinal, trabalha-se com uma só variante, cujas variações determinariam o funcionamento da barreira num ou noutro sentido, visando compensar a pressão, não importando qual tenha sido o valor inicial desta, o valor da pressão venosa ou a natureza do processo de que o paciente é portador.

A. SPINA FRANÇA NETTO

EXPLORAÇÃO MANOMÉTRICA DO CANAL RAQUIDIANO. (LA EXPLORACIÓN MANOMÉTRICA DEL CANAL RADUÍDEO). R. A. P. BLANCO, A. F. FORCADE e H. MOLOSETT. Anales de la Facultad de Medicina de Montevideo, 38(1-2):31-4-4 (janeiro-fevereiro) 1953.

Estudo da prova manométrica de Queckenstedt-Stookey em 20 pacientes normais do ponto de vista raquidiano e em vários com processos patológicos condicionando dificuldade ao trânsito liquórico raquidiano. Raquimetrogramas efetuados pelo registro da pressão liquórica com o manômetro de Claude. As observações dos AA. estão de acôrdo com as da literatura, a não ser no que se retere ao tempo de normalização da pressão após cada uma das manobras, maior do que até agora tem sido admitido. Estudam, de modo particular, as variações da curva de compressão abdominal, principalmente a fase descendente da cuiva nos casos de bloqueio completo ou parcial, realçando a importância da rapidez da normali zação da pressão e a sua queda a níveis inferiores aos iniciais, à qual dão grande importância no estabelecimento do diagnóstico dêsses bloqueios; a fisiopatologia dessas variações da curva abdominal é analisada sob o ponto de vista do tamanho da câmara raquídea delimitada pelo bloqueio e pelo grau de permeabilidade possível ainda. As variações da pressão com a retirada de pequenas quantidades de liquor (0,5 a 2 ml) foram também estudadas, bem como aquelas produzidas pela introdução de volumes semelhantes de solução fisiológica ou ar; as variações pequenas e fugazes nos pacientes normais se tornavam muito maiores e duradouras nos casos de bloqueio.

A. SPINA FRANÇA NETTO

XANTOCROMIA DO LÍQÜIDO CEFALORRAQUIDIANO. II: DESCRIÇÃO PRELIMINAR DE NOVAS SUBSTÂNCIAS CORADAS (XANTHOCROMIA OF THE CEREBROSPINAL FLUID. II: PRELIMINARY DESCRIPTION OF SEVERAL NEW COLORED SUBSTANCES). R. M. N. CROSBY e G. L. WEILAND. Arch. Neurol, a. Psychiat., 69:732-736 (junho) 1953.

Até o presente tem sido estudada a xantocromia do liqüido cefalorraquidiano causada pelos pigmentos derivados da bilirrubina e hemoglobina; nos casos em que estes não são encontrados não se procurou identificar a natureza do pigmento que a determina. No presente estudo, os AA. cuidaram da identificação de tais pigmentos; para isso submeteram as amostras (num total de 200) a diversos processos de extração e análise, conseguindo identificar, pelo menos, três tipos novos de pigmento. Em cêrca de 80% dos casos foi possível extrair, com mistura de éter dietílico e ácido acético, pigmento que, à análise cromatográfica, se separou em três porções (amarelo-limão, verde e castanho-esverdeada), que se mostraram em parte etersolúveis e em parte hidrossolúveis; a secagem do material mostrava resíduo amarelo acastanhado, semelhante a lípido; pela análise espectrográfica foi verificada faixa de absorção contínua, sugerindo a presença de vários compostos em cada fração; em nenhuma havia ferro ou núcleos pirrólicos. Nas amostras restantes foi possível identificar um tipo de pigmento que se caracterizava pela destruição à adição de ácidos concentrados, e outro, solúvel sòmente em água; ambos também não continham ferro ou bilirrubina.

Clinicamente, ao primeiro tipo correspondiam casos de hidrocefalia comunicante interna, certas neoplasias intracranianas, encefalomalácias associadas à hipertensão craniana e casos de liqüido loculado no espaço subaracnóideo encefálico; ao segundo tipo, doenças degenerativas da medula espinal em fase ativa e bloqueio do canal raquidiano; certas meningites serosas (formas pseudo-tumorais) e certos casos de distensão do espaço subaracnóideo na criança, ao terceiro tipo.

A provável origem dêsses pigmentos é interpretada pelos AA. como devida a destruição de tecido no sistema nervoso central, o que explicaria sua natureza semelhante a Jípidos e o aparecimento transitório em fase ativa da moléstia ou de hipertensão intracraniana. Parece ser diversa a natureza dos pigmentos depositados no liqüido cefalorraquidiano, conforme provenham da destruição de tecido encefálico ou medular.

A. SPINA FRANÇA NETTO

DIAGNÓSTICO CITOLÓGICO DE CÉLULAS TUMORAIS NO LÍQÜIDO CEFALORRAQUIDIANO (CYTOLOGIC DIAGNOSIS OF TUMOR CELLS IN CEREBROSPINAL FLUID). C. P. LARSON, J. T. ROBSON e C. C. REBERGER. J. Neurosurg., 10:337-341 (julho) 1953.

Os AA. estudaram as células do liqüido cefalorraquidiano, em esfregaços corados pelo método de Papanicolaou, em 22 casos em que fôra pedida a pesquisa de células tumorais. Estas foram identificadas em 5 casos; dos 17 restantes, apenas em um foi ulteriormente confirmada a hipótese de tumor, em dois permaneceu a suspeita, sem confirmação, e nos demais ela foi afastada. Nos 5 casos assinalados não há referência aos demais caracteres do líqüido cefalorraquidiano; nestes foi a existência do tumor comprovada cirùrgicamente ou pela necrópsia.

A pesquisa de células tumorais no liqüido cefalorraquidiano se baseia na freqüente invasão tumoral do espaço subaracnóideo, através da disseminação pelo liquor. As metástases subaracnóideas dessa origem ocorrem com maior ou menor freqüência conforme o tipo de tumor; são mais comuns nos meduloblastomas e menos nos astrocitomas mais diferenciados. A ação da gravidade favorece o depósio de maior número dessas células no espaço subaracnóideo lombar, o que justifica a preferência desta via para a colheita da amostra. Esta deve ser colhida após aspiração e reinjeção do líqüido raqueano. O caráter das células permite, muitas vêzes, identificar o tipo de tumor.

A. SPINA FRANÇA NETTO

HIPOGLICORRAQUIA DE ORIGEM NÃO INFECCIOSA: NEOPLASIA MENÍNGEA DIFUSA (HYPOGLYCORRHACHIA OF NON-INFECTIOUS ORIGIN: DIFFUSE MENINGEAL NEOPLASIA). L. BERG. Neurology, 3:811-824 (novembro) 1953.

Revisão de 57 casos da literatura (5 apresentados no presente trabalho pelo próprio A.), 43 dos quais apresentavam glicorraquia inferior a 40 mg/100 mi; tais casos eram de neoplasia meníngea difusa primária ou metastática.

O mecanismo dessa hipogucorraquia é discutível, citando o A. como prováveis as hipóteses de alterações da barreira hemoliquórica pela extensão do processo e a da maior metabolização da glicose pelas células neoplásticas (fato já demonstrado para células neoplásticas de modo geral).

A finalidade do trabalho é salientar a importância clínica dêsse dado, mòrmente quando associado a certas síndromes, como as de hipertensão intracraniana, irritação meníngea, alterações mentais de natureza orgânica e comprometimento múltiplo de pares cranianos ou raízes espináis, nas quais a etiología infecciosa está afastada ou é pouco provável. É necessário, nesses casos, explorar a hipótese de neoplasia meníngea difusa.

A. SPINA FRANÇA NETTO

CROMATOGRAFIA DE SEPARAÇÃP EM PAPEL, DOS AMINOÁCIDOS LIVRES DO LÍQÜIDO CEFALORRAQUIDIANO (LA CROMATOGRAFIA DI RIPARTIZIONI SU CARTA DEGLI AMINO-ACIDI LIBERI NEL LIQUIDO CEFALO-RACHIDIANO). D. KEMALI e G. PORCELATTI Acta Neurol., 8:321-344 (maio-junho) 1953.

Pela cromatografia bidimensional em papel foi estudado o conteúdo de aminoácidos livres no líqüido cefalorraquidiano de 100 indivíduos. Êstes eram hígidos ou portadores de síndromes neurológicas ou psiquiátricas, acompanhadas ou não de alterações liquóricas. Os aminoácidos encontrados e as respectivas concentrações nem sempre corresponderam ao que foi descrito por outros autores; a explicação do fato se liga a diferenças de técnica e de volume de liqüido cefalorra-queano submetido aos processos preparatórios da análise. Também houve diferença na concentração encontrada para cada aminoácido, ligada ao tipo de diluente orgânico utilizado. Nos líquores de indivíduos normais foram isolados e dosados glicina, alanina e valina; em certos casos, ou com o emprêgo de maiores volumes de liqüido, foi possível identificar também ácido aspártico, ácido glutâmico, leucina, arginina e histidina. Dêstes, alguns puderam ser evidenciados habitualmente (associados ou não a aumento da taxa de glicina, alanina e valina) no grupo de pacientes portadores de síndromes neurológicas ou psiquiátricas não acompanhadas de alterações do líqüido cefalorraquidiano. Diminuição das taxas normais foi verificada em reações meníngeas; em certos casos de tumores intracranianos, aumento de ácido glutâmico e ácido aspártico; em um caso de siringomielia, a presença provável de serina.

O estudo permitiu evidenciar variações da taxa de aminoácidos do líqüido cefalorraquidiano em diversas moléstias do sistema nervoso, embora seja pequeno o número de casos de cada uma delas para permitir conclusões particularizadas.

A. SPINA FRANÇA NETTO

TESTES SOROLÓGICOS E LIQUÓRICOS PARA A REAGINA SIFILÍTICA APÓS TRATAMENTO DA NEUROLUES (BLOOD AND SPINAL FLUID TESTS FOR REAGIN AFTER TREATMENT OF NEUROSYPHILIS). E. W. THOMAS. J.A.M.A., 153:718-722 (24 outubro) 1953.

Para Dattner como para outros autores, o conceito de sucesso no tratamento da neurossífilis se baseia no desaparecimento da pleocitose Jiquórica após 3 ou 4 meses, não entrando em linha de conta a positividade das reações específicas; no sentido de elucidar êsse conceito, o A. reviu os protocolos da evolução dessas reações no sangue e liquor de neuroluéticos tratados pela malária e pela penicilina; 181 pacientes submetidos à malarioterapia foram seguidos por 5 a 14 anos e 213, submetidos à penicilinoterapia, foram acompanhados por 5 a 8 anos e meio. As reações sorológicas permaneciam positivas em 80-84% dos pacientes após 5 anos e em 70%, após 10 anos; no líqüido cefalorraquidiano, após 5 anos, a positividade ocorria em 63% dos pacientes e em 27,7%, após 10 anos.

O título de positividade variou bastante, para o mesmo caso, tanto entre as diversas reações empregadas, como para a mesma, observada sucessivamente; êsse fato, observado com relação às reações praticadas no sôro, foi menos nítido e ocorreu em freqüência menor no líquor. Em vista disso, o A. sugere que, neste, as reaginas não são tão influenciadas por outros fatôres, como ocorre no sangue, uma vez que se admita, como faz o A., a natureza complexa da reagina do sôro; esta seria constituída por mais de um anticorpo, podendo, por isso, ser influenciada por outros fatores além da sífilis.

Apesar da positividade das reações permanecer após longo tempo, não é necessário repetir a terapêutica, mesmo quando o título da positividade seja alto; êste fato pôde ser verificado pela influência não significativa sofrida pelos títulos em casos submetidos a nova série terapêutica. Em nenhum dos pacientes houve recidiva, conforme se pode julgar pela pleocitose e outros dados liquóricos além das reações específicas, após 2 anos de terminado o tratamento.

A. SPINA FRANÇA NETTO

PRIMEIROS RESULTADOS DA DOSAGEM DE TIAMINA E RIBOFLAVINA NO LÍQÜIDO CEFALORRAQUIDIANO (PRIMI RESULTATI DEI DOSAGGI DI ANEURINA E DI RIBOFLAVINA NEL LIQUIDO CEFALO-RACHIDIANO). L. L. BARBIERI e G. GAIST. Arch, di Neurochir. (Bolonha), 1:293, 1952.

O conteúdo de tiamina e riboflavina do líqüido cefalorraquidiano foi determinado em 30 indivíduos, dos quais 6 normais e os restantes portadores de processos neurológicos diversos. A taxa de tiamina nos indivíduos normais foi 4,8 a 8,8 y por 100 ml e a de riboflavina, 6,8 a 16 y por 100 ml. Em casos singulares de tromboflebite do seio cavernoso, trombose da carótida interna, estenose do aqueduto de Sílvio, demência senil, atrofia cortical e neurite óptica, foi encontrada diminuição de ambas, chegando mesmo ao desaparecimento. Em 6 casos de epilepsia e em 4 de aracnoidite optoquiasmática houve redução da taxa de tiamina em alguns casos, desaparecimento associado a valores discretamente acima do normal da taxa de riboflavina. Desaparecimento completo ou quase completo da tiamina associado a aumento de riboflavina foi encontrado em 7 casos de tumores intracranianos. Em caso de aracnoidite tuberculosa ambas estavam aumentadas.

A dissociação das taxas de tiamina e riboflavina nas síndromes de hipertensão intracraniana é salientada pelos AA., embora considerem ainda pequeno o número de casos estudados para permitir conclusões.

A. SPINA FRANÇA NETTO

ANTICORPOS ESPECÍFICOS NO LÍQÜÍDO CEFALORRAQUIDIANO NA MENINGITE TUBERCULOSA (SPECIFIC ANTIBODIES IN SPINAL FLUID FROM MENINGEAL TUBERCULOSIS). Y. TODA, T. INOUE e Y. MORI. Ann. Tuberc (Japão), 3:113-118 (dezembro) 1952.

Estudo das reações de floculação e de fixação do complemento no líqüido cefalorraquidiano com antígenos de extrato de bacilo de tuberculose. Êste antígeno era preparado segundo a técnica desenvolvida por Hada, Momoi, Inoue, Kashihara e Nagao. O comportamento das reações foi estudado do ponto de vista quantitativo no liqüido de indivíduos hígidos, portadores de tuberculose pulmonar e portadores de neurotuberculose. Nos primeiros foram negativas e nos pacientes com neurotuberculose, positivas. A positividade se instalava precocemente, permanecendo elevada até os estádios finais, quando havia evolução fatal, e caía rapidamente, quando a evolução se fazia para cura. Em todos, o tratamento teve como base a estreptomicina administrada por vias muscular e raqueana.

A. SPINA FRANÇA NETTO

O LÍQÜIDO CEFALORRAQUIDIANO NA MOLÉSTIA DE WEIL. J. M. T. BITTENCOURT, M. O. CORRÊA, T. FUJIOKA, J. TRANCHESI e B. BEDRIKOW. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 12:145-161, 1952.

Estudo do quadro liquórico em 20 casos de leptospirose icteroemorrágica observados no Hospital das Clínicas da Fac. Med. da Univ. São Paulo, todos ictéricos, nenhum com meningismo, mas vários com sintomatologia neurológica (cefaléia, vômitos). Em 19 casos as reações de soroaglutinação foram positivas para moléstia de Weil e, em um, para febre canícola. Baseados nos dados da literatura, os A A. revêem os achados obtidos na análise de 27 amostras de liquor dêsses 20 casos, colhidos em estádios diversos da moléstia, pela via suboccipital. Encontraram, em todos, alterações liquóricas caracterizadas por xantocromia variável, mas constante, tendendo ao tom amarelo-canário, diferente da observada nas hemorragias subaracnóideas, com tom amarelo-avermelhado; à análise espectrográfica correspondia à bilirrubina, ao passo que, nos processos hemorrágicos, à hemoglobina e substâncias oriundas de sua desintegração direta; não guardava relação com a bilirrubinemia e ocorria precocemente; hipercitose variável, regredindo à medida que a moléstia evolui, estando a percentagem de polimorfonucleares neutrófilos em proporção direta com o grau de hipercitose; em 11 casos não havia hipercitose; hiperproteinorraquia discreta em alguns casos, com reações coloidais de tipo variável; as taxas de cloretos e glicose foram normais; a de uréia guardava relação direta com a do sangue e a pesquisa de bilirrubinas foi negativa em todos os casos; hipertensão liquórica foi observada em apenas um caso.

A. SPINA FRANÇA NETTO

NEUROBRUCELOSE NA CRIANÇA (NEUROBRUCELOSIS EN EL NIÑO). J. M. VALDES, C. PIANTONI e A. S. SEGURA. Arch. Argent, de Pediat., 39:165-175 (abril) 1953.

Os AA. estudaram 92 crianças de 1 a 13 anos, oriundas de zona rural onde é endêmica a brucelose, tendo encontrado 11 casos de complicação neurológica (11,95%). Dêsses casos, todos apresentavam alteração do líqüido cefalorraquidiano, que consistia de hipercitose (linfomononucleose com aparecimento de pequena percentagem de neutrófilos quando o número global de células era grande), hiperproteinorraquia e hipertensão. Somente em um caso foi positiva a cultura. Seria êste um caso de verdadeira meningite brucelótica, enquanto os demais eram alterações produzidas por reações tóxicas inespecíficas ou lesões de vizinhança, invadindo as meninges. Todos os casos com sintomatologia neurológica apresentavam alteração liquórica, tendo havido, porém, casos de liqüido cefalorraquidiano alterados sem sinais neurológicos (neurobrucelose pré-clínica). O início da sintomatologia neurológica adveio um a quatro meses após o início da moléstia, no período agudo, por conseguinte, quando os germes e os produtos tóxicos circulando podiam atacar e lesar o sistema nervoso e seus envoltórios. Essas lesões foram as seguintes: paralisias de nervos cranianos (terceiro e sexto), sinais meningíticos, sinais de hipertensão intracraniana, convulsões, hemiparesia e sinais de comprometimento global do encéfalo.

J. M. TAQUES BITTENCOURT

TUBERCULOSE MILIAR E MENINGITE TUBERCULOSA (TUBERCULOSE MILIAIRE ET MÉNINGITE TUBERCULEUSE). PARAF, FINET e LACCOURRAYE. Bull. et Mém. Soc. Méd. Hôp. Paris, 69:559-562 (29 maio e 5 junho) 1953.

A terapêutica estreptomicínica cura a tuberculose miliar em 7 a 8 semanas, mas não evita a complicação meningoencefálica. Por êsse motivo é de boa norma realizar punções raquidianas sucessivas e exames do liqüido cefalorraquidiano nos casos de tuberculose miliar, no interêsse de diagnosticar precocemente o início da complicação meníngea e instituir rapidamente a terapêutica intratecal.

Os AA. relatam 3 casos de tuberculose miliar com exames de liqüido cefalorraquidiano normais que, após a cura clínica, vieram a apresentar meningite. Acreditam êles que pequenos focos parameníngeos ocultos e latentes não destruídos pelo tratamento sistêmico venham posteriormente a exacerbar-se, produzindo meningite. Para evitar esta complicação, os AA. propõem novo esquema de tratamento da tuberculose miliar, constituído de estreptomicina por via sistêmica durante 3 meses e injeções intra-raqueanas durante os 2 primeiros meses, duas a três vêzes por semana, mesmo quando não haja alteração do liqüido cefalorraquidiano, para destruir os focos parameníngeos.

Discutindo o trabalho, Bernard relata que, em sua experiência, todos os casos de meningites são precedidos de alterações liquóricas. Por isso recomenda exames sistemáticos de liquor no curso e no fim do tratamento da tuberculose miliar. Casos de meningites como complicação tardia da tuberculose miliar são muito raros, pois mesmo durante a infecção miliar só 40% dos pacientes apresentam meningites. Por êsse motivo aconselha só instituir tratamento intratecal após o aparecimento de alterações liquóricas, usar a isoniazida no tratamento da tuberculose miliar, que, por ser muito difusível, pode chegar aos focos parameníngeos mesmo quando introduzida por via sistêmica e alargar o prazo de tratamento da tuberculose miliar para 8 meses, fazendo exames sistemáticos do liqüido cefalorraquidiano para diagnosticar precocemente a complicação meníngea antes do aparecimento da sintomatologia neurológica.

J. M. TAQUES BITTENCOURT

FILME CISTERNOGRÁFICO DAS MENINGITES TUBERCULOSAS (LE FILM CISTERNOGRAPHIQUE DES MÉNINGITES TUBERCULEUSES) . E. BENHAMOU, F. DESTAING e M. TIMSIT. Presse Méd., 60:1751-1755 (25 dezembro) 1952.

Os AA. utilizaram a cisternografia para julgar os aspectos radiológico, evolutivo e terapêutico das meningites tuberculosas, em um estudo realizado de 1951 a 1952, tendo praticado 42 exames cisternográficos. Não recorreram à pneumen- cefalografia, que pode, também, fornecer indicações úteis nesse sentido, porque constitui um método estático, enquanto a cisternografia é essencialmente dinâmica.

A técnica empregada consistiu em puncionar pacientes em decúbito lateral com inclinação caudal de 15º, a fim de que o fundo de saco durai ficasse em nível mais elevado que a cabeça. Após injeção de ar, o paciente era colocado em decúbito dorsal, para a bolha de ar passar para a face anterior do fundo de saco. Em seguida, a mesa era basculada até atingir uma inclinação cefálica de 40°, com o que a bôlha gasosa sobe para os espaços ventrais do tronco cerebral, atingindo as cisternas pontina, interpeduncular e quiasmática, passando daí para os sulcos intergirais frontais. Praticavam radiografias depois de 10, 20 segundos, 1, 5 e 10 minutos do término da báscula. Em geral, ao fim de 10 segundos as cisternas basais estavam completamente injetadas e no 5°' minuto o ar já passava para os sulcos frontais.

Relativamente aos aspectos radiológicos, verificaram modificações discretas de forma das cisternas (dilatações cisternais), retardamento do trânsito da bôlha gasosa e de sua evacuação. Atribuem maior significado à falta de enchimento das cisternas, o que traduz bloqueio basilar. Em um de seus casos, em que a cisternografia fôra normal no 3º mês de tratamento, verificaram, após recaída, bloqueio das vias cisternais com parada da bôlha gasosa na cisterna pré-pontina.

Com relação às formas evolutivas, distinguem quatro formas de meningite tuberculosa: Forma livre comum, em que as cisternas são permeáveis e o exame clínico não revela alterações neurovegetativas importantes, as curvas biológicas são satisfatórias, o fundo de ôlho é normal e o EEG mostra apenas leves alterações; essas formas representam o contingente mais importante das formas curá-veis da meningite tuberculosa e uma das mais freqüentes. Forma livre com sofrimento cerebral, em que as cisternas são também permeáveis, mas a intensidade das alterações clínicas, vegetativas em particular, a hiperalbuminorraquia e a hipoclororraquia, a estase papilar e os distúrbios do EEG atestam a existência de uma encefalite ou diencefalite; alguns casos podem evoluir para a cura. Bloqueio basilar sem sofrimento cerebral: são aquelas formas em que as cisternas estão bloqueadas, mas não há sinais de sofrimento cerebral; nessas formas são observadas curas aparentes e a hidrocefalia é freqüentemente verificada. Bloqueio com sofrimento cerebral: correspondem às formas mais graves da meningite tuberculosa.

Quanto ao prognóstico, a impermeabilidade cisternal tem prognóstico mais grave (54% de mortalidade), enquanto a permeabilidade permite um prognóstico menos reservado (36% de mortalidade).

Com relação à terapêutica, a cisternografia associada à eletrencefalografia permite avaliação mais completa dos dois elementos essenciais da meningite tuberculosa: o componente mecânico e o componente encefalítico. O componente mecânico é já anunciado pela elevação da albuminorraquia; êle permitirá a orientação dos tratamentos locais. São os bloqueios laquéanos e, principalmente, basilares que obrigam a recorrer sistematicamente à punção suboccipital injetando estreptomicina e rimifon. A presença de palidez papilar, exprimindo tendência à atrofia e obstrução da cisterna optoquiasmática, leva à indicação da sonda de Cairns; a dilatação ventricular demonstra necessidade de punções ventriculares repetidas. O componente encefalítico é problema angustiante, representando o fator essencial das mortes súbitas.

Os AA. consideram a cisternografia como um método indispensável e inofensivo, que deve ser anexado aos outros métodos de exploração nos casos de meningite tuberculosa.

C. PEREIRA DA SILVA

A ANÁLISE ESTATÍSTICA APLICADA AO ESTUDO DE CERTOS PROBLEMAS DO PROGNÓSTICO DA MENINGITE TUBERCULOSA (L'ANALYSE STATISTIQUE APPLIQUÉE À L'ÉTUDE DE CERTAINS PROBLÈMES DU PRONOSTIC DE LA MÉNINGITE TUBERCULEUSE). C. S. SOUZA. Imprensa Méd. (Lisboa), 17:469-481 (agôsto) 1953.

O A. faz um estudo estatístico dos resultados do tratamento da meningoencefalite tuberculosa desde o advento da estreptomicina. Assinala que no cálculo da mortalidade devem ser excluídos os casos de óbito dentro dos 6 primeiros dias após o início do tratamento (casos atendidos já em estado desesperador). As cifras assim corrigidas de mortalidade foram as seguintes: 1947, 53% (o tratamento consistiu em estreptomicina por via intratecal exclusiva e prolongada até a cura, na maioria dos casos); 1948, 54% (nesse ano o A. já utilizou também a via intramuscular); 1949, 56% (também via mista); 1950, 72% (êsse aumento da mortalidade ocorreu apesar de terem sido associados o PAS e o TB1) ; 1951, 53% (estreptomicina, PAS intratecal e também heparina na raque em alguns casos). No segundo semestre de 1952 começou a ser empregada a hidrazida do ácido isonicotínico, o que fêz a mortalidade baixar a 40%, diminuindo também o periodo ae tratamento necessário para normalização do líquor; a mortalidade apenas nos casos tratados com hidrazida e estreptomicina foi de 23%. O A. conclui preconizando o uso inicial da hidrazida em grandes doses, associada à estreptomicina intramuscular e algumas vezes mesmo intratecal; após 2 meses, interromper o antibiótico para evitar resistência; pela mesma razão, suspender a hidrazida no fim de 3 a 4 meses, recomeçando então a estreptomicina; 30 a 60 dias após, voltar a empregar a hidrazida. O A. ainda verificou estatisticamente que: a) nos casos em que o tratamento foi iniciado antes do aparecimento dos sinais meníngeos, a importância da precocidade terapêutica foi evidente; nos casos com 5 ou mais dias de doença esta influência foi menos nítida; b) o tratamento tardio influiu significativamente no desenvolvimento de seqüelas; c) a coexistência de granulia interveio ligeiramente como fator agravante do prognóstico.

H. CANELAS

QUIMIOTERAPIA DA TUBERCULOSE MILIAR E MENÍNGEA (CHEMOTHERAPY OF MILIARY TUBERCULOSIS AND TUBERCULOUS MENINGITIS). L. R. ROSEN, P. A. KLLBOURNE, S. FERABEE e R. H. HIGH. Pediatrics, 12:38-56 (julho) 1953.

Tendo em vista que a estreptomicina, extremamente eficaz no tratamento da tuberculose miliar, não evita o aparecimento da meningite e que nesta complicação a mortalidade continua alta, assim como o número de seqüelas e recaídas, o Serviço de Saúde Pública norte-americano orientou este estudo comparativo da eficácia das combinações estreptomicina mais ácido para-amino-salicílico e êstes dois medicamentos mais o promizol. Foram estudados 32 casos de tuberculose miliar e" 93 de meningite tuberculosa, dos quais 23 apresentavam, também, tuberculose miliar. Não se observaram diferenças significativas entre os dois esquemas de tratamento, quer na tuberculose miliar, quer na meningite. No fim de 4 anos, dos 93 pacientes de meningite tratados, 54 haviam falecido, 12 apresentavam seqüelas sérias, um foi perdido de vista e 26 vivem sem seqüelas significativas. O resultado terapêutico está em relação direta com a precocidade do diagnóstico feito pelo exame liquórico, cujo quadro mostra pleocitose abaixo de 250 células, com predominância de linfócitos, hiperproteinorraquia, taxa de cloretos invariavelmente baixa e hipoglicorraquia observada em 78 dos 93 pacientes. Os componentes do quadro liquórico que se normalizam antes são a glicose e os cloretos, cujo nível volta ao normal após 6 semanas de tratamento. As células e as proteínas normalizam-se mais lentamente e mostram variações durante meses e mesmo durante a convalescença. A coexistência da tuberculose miliar com a meningite piora o prognóstico. Os AA. relatam 8 casos de surdez nos sobreviventes e descrevem como reação do organismo à introdução intratecal da estreptomicina, o aparecimento de vômitos, cefaléia, tremores, surdez, febre s raramente convulsões. A introdução intra-raquidiana de PAS só produz vômitos.

J. M. TAQUES BITTENCOURT

INJEÇÃO INTRATECAL DE AGENTES HIDROSCÓPICOS PARA ALÍVIO DE DÔRES INCURÁVEIS (THE INTRATHECAL INJECTION OF HYDROSCOPIC AGENTS FOR THE RELIEF OF INTRACTABLE PAIN). R. B. AIRD e J. SEIFERT. J. Nerv. a. Ment. Dis., 116:912 (dezembro) 1952.

Revendo o processo de injeção intra-raquidiana de álcool (método de Do-gliotti) no tratamento de dôres incuráveis, os AA. procuraram encontrar outras substâncias capazes de produzir efeitos semelhantes, mas, que por suas propriedades físicas, fôssem menos defusíveis e tivessem ação mais específica sôbre as fibras nervosas condutoras da sensibilidade dolorosa. Nesse sentido foram estudadas substâncias hidroscópicas mais viscosas, de pêso específico maior e cuja capacidade de dissolver lípidos fôsse menor, com o fito de diminuir a ação sobre as fibras mielinizadas. O etilercoglicol e o dietilenoglicol foram estudados, comparando-se sua ação à dos álcoois etílico e metílico.

Os estudos da ação dessas diferentes drogas foram efetuados cm rãs decorticadas, cães e gatos, empregando concentrações diversas e verificando a capacidade de resposta dos membros posteriores à excitação cutânea elétrica (sensibilidade táctil) e dolorosa. O tempo necessário para o desaparecimento da capacidade de resposta a tais estímulos foi também verificado. Melhores resultados foram obtidos com pequenas concentrações de dietilenoglicol, sendo mais rápido o desaparecimento de respostas à excitação cutânea dolorosa, e maior o intervalo entre o desaparecimento de uma e outra com o emprêgo do glicol. Verificações anátomo-patológicas mostraram alterações semelhantes para ambas as drogas, de acordo com as observadas anteriormente por Aird e Naffziger. A injeção intra-raquidiana dessas substâncias em cães de grande porte e em pacientes portadores de dôres incuráveis produziu efeitos colaterais e comprometimento motor bilateral, embora fossem colocados em proclive e no decúbito lateral, correspondente às raízes cuja lesão se desejava produzir. Tal fato foi explicado pelo colabamento do espaço subaracnóideo da região, produzido pela retirada prévia do liquor da porção caudal do espaço por punção em nível mais rostral ao da punção por onde se injetava a droga. Em vista disso, em cães de grande porte, os AA. passaram a introduzir ar, previamente, de modo a formar uma câmara hipertensiva gasosa na porção caudal do espaço subaracnóideo, antes de introduzir álcool ou glicol. Com esta técnica os efeitos se limitaram mais à parte sensitiva, foram mais localizados e as alterações motoras, mínimas. Com o glicol as lesões foram mais limitadas e específicas que com o álcool etílico. O exame anátomo-patológico mostrou lesões mais extensas ao nível das raízes posteriores e gânglios espináis, não acompanhadas de alterações da medula.

Êsses resultados experimentais levaram os AA. a iniciar o emprêgo dessa técnica em pacientes com dôres incuráveis, cujo resultado será motivo de publicação ulterior.

A. SPINA FRANÇA NETTO

ARACNOIDITE DA FOSSA POSTERIOR; APRESENTAÇÃO DE CASO CURADO POR IODOTERAPIA SUBARACNÓIDEA (UN CASO DL ARACNOIDITE DEL LA FOSSA CRANIANA POSTERIORE GUA- RITO DOPO JODOTERAPIA SOTTOARACNOIDEA). G. A. BUSCAINO. Acta Neural., 8: 361 (maio-junho) 1953.

Registro de caso de aracnoidite da fossa craniana posterior em paciente de 47 anos, com 8 meses de evolução, cujo diagnóstico foi estabelecido após afastar outras etiologías possíveis e tendo em vista a melhora obtida com iodoterapia intravenosa. Foram feitas 7 injeções intra-raquidianas de Triod (segundo esquema que o A. não relata), com as quais houve regressão completa do quadro.

O A. analisa a ação da iodoterapia intra-raquidiana segundo as idéias de V. M. Buscaino: ação farmacológica local e mobilização dos processos de defesa do organismo por reação dop centros neurovegetativos e do sistema retículo-endotelial intratecal. Há boa revisão bibliográfica sobre a aracnoiditc da fossa craniana posterior e seu tratamento pela injeção intra-raqueana de iôdo.

A. SPINA FRANÇA NETTO

TERAPÊUTICA DA SIRINGOMIELIA COM INJEÇÕES INTRA-RAQUIDIANAS DE VITAMINA (SULLA TERAPIA VITAMÍNICA ENDORACHIDEA DELLA SIRINGOMIELIA). F. PARIANTE. Acta Neurol., 8:345 (maio-junho) 1953.

Apresentação de 3 casos de pacientes portadoras de siringomielia, submetidas a terapêutica intra-raquidiana com complexo B. Êste era injetado por via lombar cada 3 ou 4 dias, perfazendo um total de 15 injeções, em doses progressivas até atingir 2,0 ml a partir da 4ª injeção. A recuperação foi progressiva, iniciando-se após as primeiras injeções e permanecendo apenas pequenas alterações da sensibilidade térmica na ocasião da alta; em dois casos, após certo tempo, tornou-se indicada a repetição do tratamento.

O A. discute as melhoras obtidas pelo prisma do metabolismo celular, sem, entretanto, tirar conclusões por falta de dados experimentais ou morfológicos que as sustentem.

A. SPINA FRANÇA NETTO

LESÕES CUTÂNEAS EM NEUROLUÉTICO: CURA RÁPIDA COM ASSOCIAÇÃO DE VACINA, BISMUTO E INJEÇÕES INTRA-RAQ.UEANAS DE IÔDO (LESIONI CUTANE IN NEUROLUETICO: GUARIGIONE RAPIDA CON, ASSOCIAZIONE DI VACCINO, BISMUTO, IODO ENDORACHIDE) . D. VENTRA. Acta Neurol., 8:369 (maio-junho) 1953.

Relato de caso de taboparalisia com alterações tróficas nos membros inferiores, resistente aos tratamentos clássicos, inclusive pela penicilina, submetido a esquema terapêutico que se tem mostrado eficaz em outros casos. Consta da associação de piretoterapia, iodoterapia intra-raquidiana e bismutoterapia. A febre é provocada por injeções intravenosas de vacina antitífica em doses suficientes para determinar reação hipertérmica ao redor de 39ºC; as injeções intra-raquidianas de iôdo e a bismutoterapia eram feitas segundo os moldes habitualmente seguidos pelo A. (não referidos no presente trabalho). O tratamento obedece a certa ordem cronológica: no primeiro dia é feita a vacina por via intravenosa; no segundo, a injeção intra-raquidiana de iôdo e, no terceiro, o bismuto por via intramuscular. Seguem-se 2 ou 3 dias de repouso, após os quais é repetida a terapêutica, até um total de 10 séries, podendo ser efetuados até dois ciclos terapêuticos em um ano.

Com êsse tratamento houve regressão das ulcerações tróficas e melhora dos quadros clínico e liquórico.

A. SPINA FRANÇA NETTO

DORMISON, NOVO TIPO DE HIPNÓTICO. SEU USO TERAPÊUTICO EM PACIENTES PSIQUIÁTRICOS. (DORMISON, A NEW TYPE OF HYPNOTIC. ITS THERAPEUTIC USE IN PSYCHIATRIC PATIENTS). P. R. A. MAY e F. G. EBANGH. Am. J. Psyehiat, 109:881-888 (junho) 1953.

Dormison (metilparfinol) é um novo tipo de hipnótico que difere dos demais, pela constituição química sem relação com os opiáceos, barbitúricos ou hidrato de cloral; assemelha-se ao paraldeído. Estudos farmacológicos mostraram que o Dormison tem elevada margem de segurança, é de curta ação e ràpidamente metabolizado, capaz de induzir rápida acalmia e sono, sem efeitos tóxicos ou cumulativos. Tem ainda grande ação potencializadora sôbre o pentobarbital sódico; quando ambos medicamentos são administrados simultâneamente em animal, obtém-se sono-profundo por 24 a 48 horas, enquanto que, com a mesma dose de pentobarbital sem Dormison, o efeito duraria somente 4 a 6 horas.

Os AA. resumem os resultados favoráveis obtidos por vários pesquisadores tratando grupos mistos de pacientes com moléstias orgânicas ou leves desordens psiquiátricas, fazendo uso de grandes doses (até 2,5 g) e provando a grande segurança do preparado. Os AA. experimentaram o medicamento em 150 pacientes da secção de agitados do hospital psiquiátrico, nos quais os barbitúricos e o paraldeído haviam fracassado. Experimentaram-no, igualmente, como sedativo em pacientes agitados. Fizeram uso da forma em elixir para facilitar a dosagem. Constante vigilância e registro de horas de sono, assim como a avaliação subjetiva do paciente e outros dados foram cuidadosamente obtidos, analisados e classificados, de acôrdo com o diagnóstico, dose e eficiência do medicamento.

Os AA. concluem ser o Dormison, sem dúvida, o medicamento de escolha para pacientes psicóticos, idosos, senis e arterioscleróticos. Como sedativo em pacientes agitados não se mostrou eficiente. O perigo do hábito foi considerado menor do que com os outros medicamentos, dada sua ação ultracurta e a falta do efeito eufórico. Os AA. chamam a atenção para a capacidade do Dormison potencializar outros hipnóticos, não devendo ser dado para pacientes em uso de barbitúricos e nos intoxicados por outros hipnóticos.

JOY ARRUDA

EFEITO DE DÉFICIT SENSITIVO PREGRESSO SÔBRE O APARECIMENTO DE HERPES SIMPLES APÓS SECÇÃO DA RAIZ DO TRIGÊMIO (EFFECT OF PREVIOUS TRIGEMINAL SENSORY LOSS ON THE APPEARANCE OF HERPES SIMPLEX FOLLOWING TRIGEMINAL HOOT SECTION). C. A. CARTON. J. Neurosurg., 10:463-468 (setembro) 1953.

Estudando portadores de trigeminalgia submetidos a secção da raiz sensitiva do 5º par por via temporal extradural, o A. pôde verificar a alta incidência de erupção herpética cutâneo-mucosa após a intervenção cirúrgica; dos 47 operados» 44 tiveram essa complicação. Mais interessante ainda foi o fato observado de, em pacientes que antes de neurotomia retrogasseriana apresentavam uma área de sensibilidade comprometida em virtude de operação pregressa, como neurotomia periférica ou alcoolização, a erupção herpética respeitar essa área.

Procurando explicar o fato, o A. formula a seguinte hipótese: as lesões das células ganglionares, secundárias à secção, ocasionariam aumento da irritabilidade das fibras sensitivas correspondentes; êsse aumento da irritabilidade ativaria os vírus do herpes simples latentes que existem na pele. Portanto, na área prèviamente denervada, estando interrompida a via de condução do estímulo necessário para a ativação do vírus, a erupção não se manifestaria.

Processo inflamatório pós-operatório de discos lombares (Postoperative inflammatory disease of lombar discs). F. Turnbull. J. Neurosurg., 10:469-473 (setembro) 1953.

O artigo consta da análise de 3 casos que ilustram a gravidade e a longa duração da infecção do disco intervertebral que pode ocorrer após uma extirpação de hérnia. O aparecimento de um quadro que lembra meningite tuberculosa em paciente que fôra submetido a intervenção cirúrgica sôbre um disco intervertebral sugere, segundo a opinião do A., infecção do disco. Quanto ao tratamento, o A. obteve bons resultados com as medidas conservadoras e expectantes.

J. ZACLIS

FUSÃO EXPERIMENTAL DE VÉRTEBRAS MEDIANTE O EMPREGO DE FOSFATO BÁSICO DE CÁLCIO (EXPERIMENTAL INTERVERTEBRAL FUSION USING BASIC CALCIUM PHOSPHATE) F L. JENKER, E. L. FOLTZ e A. A. WARD JR. J. Neurosurg., 10:443-452 (setembro) 1953.

Trabalhando com 18 macacos, divididos em diferentes lotes, os AA. estudaram os efeitos locais da retirada de disco intervertebral e puderam observar que: a) a simples extirpação da porção central de um disco intervertebral determina proliferação fibrosa, que enche o espaço resultante, sem ocasionar qualquer limitação nos movimentos entre as vértebras; b) retirando a porção central do disco e enchendo a cavidade resultante com fosfato básico de cálcio, a união fibrosa intervertebral é muito mais firme e determina uma limitação de 50% na amplitude dos movimentos entre as vértebras; c) se, além de esvaziar o disco, as lâminas cartilagíneas são curetadas, o que ocorre é uma verdadeira fusão vertebral com invasão óssea do espaço e completa imobilização intervertebral; d) enchendo com tosfato básico de cálcio a cavidade resultante do esvaziamento discal e da curetagem das lâminas cartilagíneas, a fusão das vértebras é mais rápida, por ser mais intensa a invasão do espaço intervertebral por tecido ósseo.

Na discussão dos resultados são também ventiladas as vantagens e desvantagens que o emprêgo eventual do fosfato básico de cálcio poderia proporcionar na prática.

J. ZACLIS

INJEÇÕES INTRACAROTÍDEAS E INTRAVERTEBRAIS DE CARDIAZOL NO PEQUENO MAL EPILÉPTICO (INTRACAROTID AND INTRAVERTEBRAL METRAZOL IN PETIT MAL EPILEPSY). F. E. BENNETT. Neurology, 3:668-673 (setembro) 1953.

O A. realizou pesquisas com o fim de apurar a origem dos surtos de pequeno mal. Baseou-se na diversa distribuição do sangue proveniente da carótida interna e da vertebral: a primeira supre córtex, putâmen, núcleo caudado e área pré-óptica do hipotáiamo, excluindo-se desta circulação o tálamo, que é irrigado por ramos da vertebral, O A. fêz injeções intracarotídeas e posteriormente intravertebrais de cardiazol em pacientes portadores de pequeno mal, fazendo concomitantemente o traçado eletrencefalográfico.

Em 17 injeções intracarotídeas obteve, prontamente, em 13 casos, o desencadeamento de um traçado clássico do pequeno mal; em 2 casos, o de pequeno mal e um larvario; em um caso, alguns complexos de onda e espícula; em um único caso não obteve modificações do traçado, o que atribuiu à narcose profunda do paciente. De 8 injeções na artéria vertebral somente em um caso obteve o tra- çado clássico de pequeno mal, assim mesmo com doses maiores de cardiazol; em 2 casos apareceram ondas de grande mal interrompendo o traçado de pequeno, mal; um caso larvario de pequeno mal; um grande mal típico e um caso sem alterações do traçado. Além do mais, nestas injeções intravertebrais observou, em 2 pacientes, fenômenos como rubor seguido de palidez, diaforese, náuseas e vômitos, bradicardia seguida de taquicardia. Em um paciente houve parada da respiração por 40 segundos.

O A. concluiu que as ondas de pequeno mal são desencadeadas mais facilmente pelo córtex que pelo tálamo. O aparecimento de atividade PM em todos os canais do eletrencefalógrafo não seria necessariamente uin sinal de origem subcortical, mas sim devido à rápida expansão inter-hemisférica da atividade elétrica.

HELENA WRONSKI

A ELETROCHOQUETERAPIA DE PACIENTES TUBERCULOSOS (THE TREATMENT OF TUBERCULOUS PATIENTS WITH ELECTROSHOCK THERAPY). J. H. MC CLELLAN e A. SCHWARTZ. Am. J. Psychiat., 109:899-905 (Junho) 1953.

Tem havido freqüentes controvérsias sôbre as possibilidades de tratamento pelo eletrochoque, de pacientes portadores de tuberculose, mesmo quando esta moléstia esteja em estado latente. Em 1949, H. P. Close mostrou-se favorável ao emprêgo dêsse método. Neste trabalho, realizado no Hospital Neuropsiquiátrico de Los Angeles, os AA. relatam que, por muitos anos, empregam a eletrochoque-terapia no Serviço de tuberculose e neuropsiquiatria do Hospital e que, pela experiência que possuem, a consideram processo seguro para pacientes sofrendo de tuberculose, mesmo em estágios avançados. Desde 1949, trataram 23 pacientes em vários estágios de tuberculose (a maioria muito avançados). As melhoras nos sintomas psiquiátricos têm sido geralmente satisfatórias. Não observaram efeitos prejudiciais em relação à tuberculose, mesmo após a administração, em alguns casos, de prolongada choqueterapia; ao contrário, referem melhora geral na tuberculose pulmonar, com exceção de um paciente, cuja forma era de freqüentes reativações e que teve leve disseminação. Mesmo neste caso os AA. consideram favorável o resultado, pois as melhoras mentais permitiram um tratamento correto da tuberculose, o trabalho dos AA. não deixa dúvidas sôbre a aplicabilidade do método.

ESTUDO DA EVOLUÇÃO DE 75 CASOS DE FORMA NÃO PARALÍTICA DE POLIOMIELITE (FOLIOWUP STUDY IN SEVENTY-FIVE CASES OF NON-PARALYTIC POLIOMYELITIS). E. MOSKOWITZ e L. I. KAPLAN. J.A.M.A., 152:1505-1506 (agôsto) 1953.

A forma não paralítica estudada pelos AA. refere-se a casos diagnosticados clínica e laboratorialmente, nos quais, por ocasião da alta, não foi notado qualquer déficit motor. Durante o exame rotineiro de evolução, um número surpreendente mostrou as mais variadas seqüelas. Decidiram então os AA. realizar o exame de grande número de casos diagnosticados como formas não paralíticas durante o período de 1947 a 1951, considerados como normais por ocasião do exame de alta. Foram examinados 75 casos, sendo 51 menores de 13 anos e 24 adultos, tendo sido notado que 29 (38,0%) apresentavam déficits motores. Os músculos mais atingidos foram o gastrocnêmio e o quadríceps. Os AA. discutem a questão do tempo de permanência no hospital e os cuidados que se deve ter por ocasião da alta.

A. ANGHINAH

TRATAMENTO DAS SEQÜELAS MOTORAS E VESICAIS DOS TRAUMATISMOS MEDULARES (TRAITEMENT DES SÉQUELLES MOTRICES ET VESICALES DES TRAUMATISMES MEDULLAIRES). J. FIERRO e R. POBLETE. L'Encéphale, 42:320-337, 1953.

Os AA. são discípulos de Asenjo, que, em 1948, fundou o primeiro centro sul-americano para recuperação de traumatizados da medula. A fim de obter melhor recuperação motora, experimentaram o método que combina o tratamento clássico de fisioterapia e cinesioterapia, com algumas intervenções cirúrgicas. As intervenções cirúrgicas praticadas pelos AA. têm por finalidade restituir estabilidade e motilidade aos membros inferiores e visam substituir as ações do grande glúteo e do quadriceps, reproduzindo os movimentos elementares da marcha; intervém ainda sobre as articulações, promovendo anciloses em posições adequadas. São descritas várias observações onde os resultados se revelam animadores.

A. ANGHINAH

ESCARAS DE DECÚBITO TRATADAS COM PLASMA SANGÜÍNEO EM PÓ; ESTUDOS PRELIMINARES (DECUBITUS ULCERS TREATED WITH DRIED BLOOD PLASMA. PRELIMINARY REPORT). A. B. CLARK e H. A. RUSK. J.A.M.A., 153:787-788 (outubro) 1953.

Nos últimos 30 anos foram publicados cêrca de 40 processos diferentes visando a terapêutica da escara de decúbito. Barker e col. concluíram que as escaras de decúbito estabeleciam um círculo vicioso, pois que um paciente por êles observado perdia, através de úlceras, cêrca de 50 g de proteína em 24 horas, o que contribuía para sua debilitação geral. Groth sugeriu haver alguma relação entre peso, pressão e tempo de exposição de um animal de laboratório, na formação de escara de decúbito.

Os AA. estudaram os efeitos de uma mistura de plasma em pó com bálsamo do Peru, em 11 pacientes portadores de escaras de decúbito. Os pacientes foram observados durante 14 meses, permitindo aos AA. chegar às seguinces conclusões: a aplicação local de plasma em pó teria efeito de debridação do tecido necrótico e infectado, seguido de granulação rápida e aceleração da cobertura epitelial; a dissolução do tecido necrótico e a rapidez com que a lesão é debridada levam a admitir que o plasma em pó contém uma protease que se torna ativada, resultando um ambiente celular mais promissor para o novo tecido de granulação.

A. ANGHINAH

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Abr 2014
  • Data do Fascículo
    Mar 1954
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