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I Congresso Internacional de Neurocirurgia

I International Congress of Neurosurgery

CONGRESSOS MÉDICOS

I Congresso Internacional de Neurocirurgia

O I Congresso Internacional de Neurocirurgia reuniu-se em Bruxelas, de 21 a 28 de julho de 1957, sob a presidência de Sir Geoffrey Jefferson. Realizado como parte do I Congresso Internacional de Ciências Neurológicas, revestiu-se de raro brilhantismo, dele participando vultos dos mais eminentes da neurologia dos cinco continentes.

Os temas oficiais, todos de grande atualidade, foram os seguintes: 1) Patologia extrapiramidal; 2) Estados de consciência em Neurologia; 3) Uso terapêutico da hipotermia; 4) Métodos estereotáxicos; 5) Angiomas supra-tentoriais.

1. Patologia extrapiramidal - Este tema constituiu uma das reuniões combinadas de todas as disciplinas presentes ao I Congresso Internacional de Ciências Neurológicas, a saber: VI Congresso Internacional de Neurologia, V Simpósio Neurorradiológico, V Reunião da Liga Internacional contra a Epilepsia, IV Congresso Internacional de Eletrencefalografia e Neurofisiologia Clínica, III Congresso Internacional de Neuropatologia e I Congresso Internacional de Neurocirurgia. A reunião combinada permitiu a mais completa atualização do assunto, pelos maiores especialistas na matéria, sendo discutidos em detalhe aspectos da anatomia, da fisiologia, da patologia, da clínica e da cirurgia das moléstias extrapyramidals.

Do ponto de vista neurocirúrgico, merecem destaque especial as contribuições de Paul C. Bucy e Earl A. Walker.

Bucy chamou a atenção para a definição imprecisa do feixe piramidal, disto resultando conceitos também imprecisos de feixe extrapiramidal e, conseqüentemente, de síndrome extrapiramidal. Afirmou que, em sua experiência, toda e qualquer intervenção que seja capaz de abolir tremor, interrompe certas fibras piramidais, ou as destrói em sua origem, na circunvolução pré-central. Acredita que, no que diz respeito a movimento anormais involuntários, os resultados variáveis e incertos das várias operações propostas (secção da porção anterior da cápsula interna, destruição cirúrgica, vascular ou química do globo pálido e seu sistema de projeção) correm por conta de destruição associada de fibras corticospinals existentes nas proximidades.

Walker, após revisão das várias técnicas desenvolvidas nestes últimos anos, particularmente das intervenções sobre o globo pálido, afirmou que o tratamento cirúrgico de movimentos involuntários progrediu enormemente no último decênio, mas, antes de tornar-se rotineiro, necessário se torna que tenhamos não só melhor conhecimento da fisiopatologia desses movimentos anormais, como também métodos mais precisos, capazes de destruir seletivamente estruturas cerebrais profundas. As técnicas atuais são empíricas, dando resultados maravilhosos em alguns casos e falhando miseravelmente em outros.

O tratamento clínico das chamadas moléstias extrapiramidais foi focalizado por Deolindo Couto e Paulino Longo, que analisaram cuidadosamente os medicamentos tradicionais e as drogas mais recentes, utilizadas, particularmente, no parkinsonismo, nas coréias e na degeneração hepatolenticular.

2. Estados de consciência em Neurologia - Este tema também foi discutido em reunião combinada de várias disciplinas, ficando a cargo de Per-cival Bailey a apresentação dos "Dados neurocirúrgicos sobre estados de consciência". Esses dados lhe permitiram concluir que o estado da consciência pode alterar-se em conseqüência de lesões em várias partes do sistema nervoso, mas as alterações mais graves resultam de lesões do tronco cerebral, do bulbo ao quiasma óptico. Além do exemplar trabalho de Bailey, brilhantemente discutido por Walshe, contribuições livres foram apresentadas por Bickford e por Scoville, relatando modificações do estado da consciência após estimulação de determinadas áreas do cérebro.

3. Uso terapêutico da hipotermia - Sweet, Brewster, Oagood e White apresentaram um estudo clínico e experimental do estado de hipotermia, por eles considerado procedimento seguro e bem tolerado, desde que o esfriamento e o reaquecimento sejam lentos, a temperatura permaneça sempre acima de 25°C e a tensão de gás carbônico arterial seja conservada em níveis subnormals.

O uso da hipotermia no tratamento de traumatismos crânio-encefálicos foi focalizado por Lazorthes e Campan, que se basearam na observação de 47 pacientes em estado grave. Concluem os autores que a hipotermia é teoricamente justificável e que é eficaz, parecendo mesmo ser a melhor terapêutica de conjunto para distúrbios neurovegetatives pós-traumáticos.

Sedzmir e Dundes apresentaram suas impressões sobre 173 intervenções neurocirúrgicas praticadas sob hipotermia, incluindo 94 tumores intracranianos e 67 lesões vasculares; seus resultados são animadores, evidenciando diminuição do tempo operatório e ausência de casos de morte atribuíveis à hipotermia.

Bons resultados em casos de aneurismas foram apresentados por Botterel, Morley, Lougheed e Vanderwater, que observaram 73 casos operados sob hipotermia.

4. Métodos estereotdxicos - Em reunião combinada com o V Simpósio Neurorradiológico, foram estudados os métodos estereotáxicos. Spiegel e Wycis discutiram os princípios e métodos de estereoencefalotomia, descrevendo as técnicas por eles usadas e mostrando que, em geral, não há erro de mais de 1 ou 2 mm.

Talairach, David, Corredor, Tournoux e Kvasina discutiram a localização radiológica indireta dos núcleos centrais e da região mesencéfalo-subóptica do homem, enunciando os princípios gerais que lhes permitiram organizar um atlas de anatomia estereotáxica.

Riecher estudou as aplicações práticas dos métodos estereotáxicos em vários estados mórbidos, particularmente nas hipercinesias (excluído o parkinsonismo), nos processos dolorosos, na introdução de isótopos radioativos em tumores cerebrais e na hipofisectomia.

Percival Bailey, Schaltenbrand e Wahren, em comunicação livre e em exposição científica, apresentaram um atlas do cérebro humano para cirurgia estereotáxica, o qual impressionou vivamente aos especialistas presentes, parecendo-nos que esse atlas tornar-se-á referência obrigatória para a cirurgia estereotáxica.

A cirurgia estereotáxica encontra-se ainda em franca evolução, sendo difícil prever se vai tornar-se um método neurocirúrgico de larga utilização ou se irá pouco a pouco cedendo terreno a outros meios de tratamento menos complexos.

5. Angiomas supratentoriais - Angiomas supratentoriais foram discutidos em reunião conjunta do I Congresso Internacional de Neurocirurgia e do V Simpósio Neurorradiológico.

Hamby apresentou o estudo patológico, enquanto Toennis analisou a sintomatologia, Norlen os aspectos angiográficos e McKissock e Hankinson o tratamento cirúrgico dos angiomas supratentoriais; todas essas contribuições, baseadas em cuidadosos estudos de um número relativamente grande de pacientes, vieram demonstrar os grandes progressos da terapêutica dos angiomas supratentoriais, progressos esses conseguidos em prazo relativamente curto.

A hipotensão controlada na cirurgia dos angiomas supratentoriais foi objeto de considerações interessantes por parte de Petit-Dutailis, que chamou a atenção para a simplicidade da técnica, benignidade do método e a facilidade do ato cirúrgico.

Além do exposto acima, fizeram-se ouvir centenas de comunicações livres, algumas como contribuição aos temas oficiais, outras versando sobre os mais variados assuntos da neurocirurgia.

A representação brasileira apresentou os seguintes trabalhos: 1) P. Niemeyer - Cryptic supratentorial angiomas diagnosed by vertebral angiography; 2) J. A. Rodrigues e J. G. Albernaz - Pneumoencephalography with helium and without removal of spinal fluid; 3) J. Pernambucano, J. A. Maia e M. C- Barros - Recurring sub-arachnoid hemorrhage due to ependymoma of terminal segment of the spinal cord; 4) R. T. Barbosa - Electrocortico~ graphic examination of the gyrus cinguli; 5) José Zaclis - Pan-arterio-graphy.

Na sessão final do Congresso foram anunciadas as decisões da Federação Internacional das Sociedades de Neurocirurgia com referência ao II Con- gresso Internacional das Sociedades de Neurocirurgia. Este congresso, que será presidido por Paul Bucy, Professor da Northwestern University School of Medicine (Chicago), deverá reunir-se em outubro de 1961, nos Estados Unidos da América do Norte, próximo à costa do Atlântico, provavelmente em Atlantic City ou Washington, D.C.

José Geraldo Albernaz* * Representante oficial da Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais ao I Congresso Internacional de Ciências Neurológicas.

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    Representante oficial da Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais ao I Congresso Internacional de Ciências Neurológicas.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Fev 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 1957
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