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CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DA FIGURATIVIDADE EM TEXTOS DE IGNACIO ASSIS SILVA1 1 Este trabalho deriva da tese O conceito de figuratividade em semiótica e contou com auxílio financeiro da CAPES (Código de Financiamento 001), do CNPq (processo n. 312227/2017-5) e da FAPESP (processo n. 16/22466-0).

RESUMO

Visamos, neste trabalho, examinar a contribuição do semioticista brasileiro Ignacio Assis Silva (1937-2000) sobre o conceito de figuratividade, responsável pela construção do sentido através da articulação de simulacros do mundo natural com as dimensões tímica e sensível, acompanhando as transformações sofridas pelo conceito no interior da teoria. Objeto de estudo dos participantes dos Seminários de Semântica Geral nos anos 1970, o conceito atinge o auge investigativo na década seguinte, continuando a intrigar os semioticistas nos anos 1990, a exemplo de Silva, cuja pesquisa culmina na tese de livre-docência (1992) convertida na obra Figurativização e metamorfose: o mito de Narciso (1995). Com um córpus constituído de publicações de Silva, coletamos, inventariamos, interpretamos e analisamos os dados obtidos nesta investigação auxiliados por elementos da metodologia da Historiografia Linguística desenvolvida por Konrad Koerner (1996) e Pierre Swiggers (2009), que busca descrever e explicar a produção e o desenvolvimento do conhecimento linguístico dentro de um contexto sócio-histórico de determinada cultura. Concorrendo para a compreensão e a explicitação das contribuições brasileiras à Semiótica Discursiva, a metodologia da HL possibilitou-nos abordar os diferentes modos de Silva pensar a figuratividade, estabelecendo em que medida tais fatos teóricos colaboraram com o avanço dos estudos semióticos.

figuratividade; história das ideias semióticas; historiografia linguística; Ignacio Assis Silva; semiótica discursiva

ABSTRACT

Koerner (1996)KOERNER, E. F. K. Questões que persistem em historiografia linguística. Revista da ANPOLL, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 45-70, 1996. Disponível em: https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/240/253. Acesso em: 21 mai. 2021.
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Swiggers (2009)SWIGGERS, P. La historiografía de la lingüística: apuntes y reflexiones. Revista Argentina de Historiografía Lingüística, Buenos Aires, v. 1, n. 1, p. 67-76, 2009. Disponível em: http://www.rahl.com.ar/index.php/rahl/article/view/6. Acesso em: 12 abr. 2021.
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figurativity; history of semiotic ideas; linguistic historiography; Ignacio Assis Silva; semiotics of discourse

Introdução

O tema central das pesquisas de Ignacio, na minha leitura, é sempre o mesmo: a busca da estruturação do sentido. Como semanticista e semiólogo, a busca da significação que instaura o signo; como semioticista, a preocupação com a transformação do mundo natural em mundo da linguagem e com a transformação da linguagem estereotipada em uma nova linguagem, mediada pela metamorfose que faz-ser o novo sentido no texto (NASCIMENTO, 2010NASCIMENTO, E. M. F. dos S. Metamorfose: reflexões sobre o pensamento de Ignacio Assis Silva, ou tentando achar o fio da meada... Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 8, n. 2, p. 1-14, 2010. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/3319/3045. Acesso em: 07 mar. 2021.
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, p. 12).

A tarefa que define o fazer do semioticista da Escola de Paris é a investigação dos efeitos de sentido produzidos pelo discurso e da dimensão persuasiva da manifestação discursiva. Essa persuasão ocorre na relação entre ser e parecer ser verdade o que se enuncia, organizada por um arranjo de figuras do mundo natural e do discurso, recurso semântico muito utilizado para conduzir um enunciatário a crer em um discurso manifestado conforme percebe o mundo e o apreende. Em outros termos, é em razão dessa organização das figuras no texto, chamada de figuratividade, que experiências sensíveis são simuladas de modo que o enunciatário as considere verdadeiras.

O conceito de figuratividade foi tomado de empréstimo pela semiótica da teoria estética2 2 Referimo-nos ao estudo da organização de temas e figuras nas artes visuais por meio das noções de iconologia e de iconografia. Esta é definida por Erwin Panofsky (2007 [1955], p. 47-48) como “[...] ramo da história da arte que trata do tema ou da mensagem das obras de arte em contraposição à sua forma”. Aquela equivale a um “método de interpretação” da análise dos motivos (PANOFSKY, 2007 [1955], p. 54). , esclarece Denis Bertrand (2003BERTRAND, D. Caminhos da semiótica literária. Bauru: EDUSC, 2003. Original de 2000. [2000]), em Caminhos da semiótica literária. De acordo com o pesquisador, esse conceito “[...] foi estendido [em semiótica] a todas as linguagens, tanto verbais quanto não-verbais, para designar esta propriedade que elas têm em comum de produzir e restituir parcialmente significações análogas às de nossas experiências perceptivas mais concretas” (BERTRAND, 2003BERTRAND, D. Caminhos da semiótica literária. Bauru: EDUSC, 2003. Original de 2000. [2000], p. 154)3 3 Esse ponto de vista sobre a origem da noção de figuratividade também foi registrado no Bulletin nº 26 da Actes Sémiotiques, intitulado “La figurativité II” (BERTRAND, 1983a, p. 3, 1983b, p. 43). . Além disso, o estudo da figuratividade transcendeu os espaços dos seminários parisienses de semiótica, dos quais, junto a Greimas e a Bertrand, participavam pesquisadores como Jean-Marie Floch, Jacques Geninasca, entre outros, que encontraram um fértil campo de pesquisa em torno das manifestações figurativas na construção do sentido, caso de Ignacio Assis Silva (1995a), autor de Figurativização e metamorfose: o mito de Narciso.

Considerando a hipótese de que os estudos sobre a figuratividade empreendidos no Brasil, sobretudo por Silva, na medida em que se ocupa das estruturas da significação (das elementares às de superfície), concorrem para a mudança na compreensão da função da figura na construção do sentido do discurso dentro da economia geral da semiótica discursiva, visamos, neste trabalho, a uma leitura crítica da obra ignaciana voltada para a compreensão e para a explicitação da contribuição da pesquisa empreendida por esse pesquisador para a semiótica. Interessa-nos, nesse sentido, o processo de construção da pesquisa de um semioticista brasileiro sobre a figuratividade para, ao final, ser identificada a repercussão de seu trabalho no âmbito da teoria semiótica, em constante desenvolvimento.

Para a realização desta pesquisa, utilizamos elementos metodológicos da historiografia linguística (HL), disciplina que, segundo Ronaldo de Oliveira Batista (2019BATISTA, R. de O. Ensino de língua, livros didáticos e história: relações vistas pela historiografia da linguística. Revista Linha D’Água, São Paulo, v. 32, n. 1, p. 155-174, 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/150191/152600. Acesso em: 31 ago. 2019.
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, p. 156), estuda as “[...] etapas da história do conhecimento produzido sobre a linguagem em diferentes recortes temporais e com diferentes objetivos”. Dessa perspectiva, interessa à HL responder a questões relacionadas aos modos de produção, de circulação e de recepção de dado tipo de conhecimento linguístico em determinada época, assim como sua interação com outros saberes. Ainda importa a essa disciplina conhecer as tradições a que esse conhecimento pertence e em que medida ele dá continuidade a e/ou rompe com ideias linguísticas, esclarece Batista (2019)BATISTA, R. de O. Ensino de língua, livros didáticos e história: relações vistas pela historiografia da linguística. Revista Linha D’Água, São Paulo, v. 32, n. 1, p. 155-174, 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/150191/152600. Acesso em: 31 ago. 2019.
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.

Assim, para a investigação da produção científica de Ignacio Assis Silva em torno da figuratividade (recurso semiótico de organização figurativa) com vistas a compreender o contexto em que esse conceito desponta e se desenvolve na pesquisa do semioticista brasileiro e na semiótica, recorremos aos métodos de pesquisa desenvolvidos por Konrad Koerner (1996)KOERNER, E. F. K. Questões que persistem em historiografia linguística. Revista da ANPOLL, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 45-70, 1996. Disponível em: https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/240/253. Acesso em: 21 mai. 2021.
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e Pierre Swiggers (2009)SWIGGERS, P. La historiografía de la lingüística: apuntes y reflexiones. Revista Argentina de Historiografía Lingüística, Buenos Aires, v. 1, n. 1, p. 67-76, 2009. Disponível em: http://www.rahl.com.ar/index.php/rahl/article/view/6. Acesso em: 12 abr. 2021.
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. A perspectiva historiográfica, nesse sentido, desempenha a função de nos auxiliar a periodizar, a descrever e a interpretar as transformações sofridas no estudo do conceito no modelo teórico greimasiano e no processo de construção desse saber por Silva através de seus textos.

Ademais, adotamos uma abordagem simultaneamente “cronista” e “inovadora”, conforme Jean Cristtus Portela (2018)PORTELA, J. C. História das ideias semióticas: entre cronistas e inovadores. Estudos Semióticos, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 138–143, 2018. Edição especial. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/esse/article/view/144317/138716. Acesso em 02 abr. 2021.
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. A abordagem “cronista” procura desvelar as continuidades e as descontinuidades dos fatos teóricos, ou seja, trata-se de uma narração da retomada do trabalho de um autor por outro, enquanto a abordagem “inovadora” possibilita não apenas narrar os fatos teóricos, mas apresentá-los considerando o modo como um autor aborda o fazer dos pesquisadores que o antecederam (PORTELA, 2018PORTELA, J. C. História das ideias semióticas: entre cronistas e inovadores. Estudos Semióticos, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 138–143, 2018. Edição especial. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/esse/article/view/144317/138716. Acesso em 02 abr. 2021.
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). Em outras palavras, ao mesmo tempo em que discorremos sobre os modos de pensar a figuratividade na obra ignaciana, estabelecemos em que medida a pesquisa de Silva contribui para o avanço dos estudos semióticos.

Antes, porém, de procedermos à exploração das ideias semióticas em torno da figuratividade nos textos ignacianos, apresentamos os elementos da metodologia da historiografia linguística que embasam nossa investigação. Em seguida, fazemos uma breve revisão do percurso de Ignacio Assis Silva na semiótica – enquanto adjuvante no processo de institucionalização e de evolução da disciplina – e, na sequência, entremeada à descrição e à análise da produção teórico-científica ignaciana, trazemos à luz a empresa do pesquisador, que colaborou de modo decisivo para o estudo da figuratividade.

Em busca do método

Como esclarecemos, para discorrermos sobre a figuratividade no trabalho de Silva é preciso, primeiramente, apresentar a historiografia linguística e sua metodologia. Posteriormente, cabe descrever de que forma o método escolhido para a realização desta pesquisa, o historiográfico, pode contribuir para a reconstrução crítica da história de um conceito que pertence à metalinguagem semiótica, mais especificamente, para a investigação da produção científica de Ignacio Assis Silva sobre ele.

Comecemos, então, pela definição do escopo da HL, disciplina que se ocupa da produção sobre a linguagem e/ou sobre a língua em dado momento da história (BATISTA, 2019BATISTA, R. de O. Ensino de língua, livros didáticos e história: relações vistas pela historiografia da linguística. Revista Linha D’Água, São Paulo, v. 32, n. 1, p. 155-174, 2019. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/150191/152600. Acesso em: 31 ago. 2019.
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). Desse modo, ao observar o objeto língua na interação social, a HL visa à descrição e à explicação da forma como o conhecimento linguístico pertencente a determinado contexto sócio-histórico dentro de uma cultura particular é produzido e desenvolvido, como esclarece Cristina Altman (1998ALTMAN, C. A pesquisa lingüística no Brasil (1968-1988). São Paulo: Humanitas, FFLCH/USP, 1998., p. 29). Ademais, o córpus a ser descrito no modelo historiográfico pode ser constituído tanto de uma obra particular, quanto do conjunto da produção de um autor, ou de um conjunto de textos de determinado objeto de estudo, além de esse córpus ser delimitado seja geográfica, histórica ou tematicamente (SWIGGERS, 2009SWIGGERS, P. La historiografía de la lingüística: apuntes y reflexiones. Revista Argentina de Historiografía Lingüística, Buenos Aires, v. 1, n. 1, p. 67-76, 2009. Disponível em: http://www.rahl.com.ar/index.php/rahl/article/view/6. Acesso em: 12 abr. 2021.
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).

Intencionando transcender o relato de acontecimentos passados na história da atividade científica, a HL preza a sintetização de informações provenientes de fontes originais, conforme Koerner (1996)KOERNER, E. F. K. Questões que persistem em historiografia linguística. Revista da ANPOLL, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 45-70, 1996. Disponível em: https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/240/253. Acesso em: 21 mai. 2021.
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. Por isso, Swiggers (2009)SWIGGERS, P. La historiografía de la lingüística: apuntes y reflexiones. Revista Argentina de Historiografía Lingüística, Buenos Aires, v. 1, n. 1, p. 67-76, 2009. Disponível em: http://www.rahl.com.ar/index.php/rahl/article/view/6. Acesso em: 12 abr. 2021.
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desenvolve um aparato metodológico por meio do qual se considera, primordialmente, o período a ser investigado, o material a que o pesquisador tem acesso, assim como o seu ânimo e a perspectiva de análise que adota. A delimitação temporal, o ponto de vista e a forma de apresentação dos dados são considerados conforme são acessados os textos-fontes, isto é, os textos originais pesquisados – aqui, os textos de Ignacio Assis Silva publicados na forma de artigos científicos (em periódicos e em coletâneas), de livro e de tese de livre-docência.

Swiggers (2009)SWIGGERS, P. La historiografía de la lingüística: apuntes y reflexiones. Revista Argentina de Historiografía Lingüística, Buenos Aires, v. 1, n. 1, p. 67-76, 2009. Disponível em: http://www.rahl.com.ar/index.php/rahl/article/view/6. Acesso em: 12 abr. 2021.
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também esclarece que os materiais identificados nos textos-fontes devem ser analisados, descritos e interpretados para que os resultados possam ser expostos. Uma exposição que deve obedecer a uma sequência narrativa com base na análise de um tema ou de um problema, ou relacionar contexto e perspectivas diferentes sobre o objeto dentro de algum momento na história. A exposição dos resultados também exige, a depender da intencionalidade do pesquisador, que sejam consideradas as informações mais adequadas, relevantes, válidas e científicas acerca do objeto estudado. Outrossim, é tarefa do historiógrafo definir o perfil intelectual do trabalho que, no nosso caso, é o perfil correlativo, visto que pretendemos correlacionar teoria e contexto institucional4 4 O historiógrafo também pode adotar uma contextualização sociocultural e/ou política conforme Swiggers (2009). .

Tendo em vista, desse modo, os pressupostos ora mencionados, para procedermos nossa investigação, obedecemos à proposta de Swiggers (2009)SWIGGERS, P. La historiografía de la lingüística: apuntes y reflexiones. Revista Argentina de Historiografía Lingüística, Buenos Aires, v. 1, n. 1, p. 67-76, 2009. Disponível em: http://www.rahl.com.ar/index.php/rahl/article/view/6. Acesso em: 12 abr. 2021.
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, fazendo um inventário dos textos-fontes disponíveis para serem manuseados e lidos dentro de uma delimitação temporal previamente imposta: de 1970, ano da primeira publicação da revista BACAB a 2000, ano de falecimento de Ignacio Assis Silva. Para escolhermos os textos-fontes consideramos trabalhos publicados na forma de artigos nas revistas5 5 Na constituição do córpus deste trabalho não incluímos publicações de Ignacio Assis Silva na Revista de Cultura Vozes – “Direções atuais da Semântica Estrutural” (1972), “Diversificação semiolexêmica e sinonímia” (1972), “A configuração semântica do texto” (1975) –, bem como no Caderno “Suplemento Literário” do jornal O Estado de S. Paulo – “A análise estratificacional da linguagem” (1971). Optamos, nesse sentido, pelo exame de trabalhos publicados somente em periódicos e livros (coletâneas) de semiótica. BACAB, Significação, Cruzeiro Semiótico e Actes Sémiotiques; de capítulos de coletâneas de textos Exigences et perspectives de la sémiotiques. Recueil d’hommages pour Algirdas Julien Greimas (SILVA, 1985SILVA, I. A. La construction de l’acteur. In: PARRET, H.; RUPRECHT, H.-G. (org.). Exigences et perspectives de la sémiotiques: Recuel d’hommages pour Algirdas Julien Greimas. Aims and prospects of semiotics: Essays in honor of Algirdas Julien Greimas. Paris: John Benjamins, 1985. v.2. p. 575-582.)6 6 Coletânea de textos organizada por Herman Parret e Hans-George Ruprechet em homenagem a Greimas. , Do inteligível ao sensível. Em torno da obra de Algirdas Julien Greimas (SILVA, 1995b)7 7 Coletânea de textos organizada por Ana Claudia de Oliveira e Eric Landowski, também em homenagem a Greimas. e Corpo e sentido: a escuta do sensível (SILVA, 1996SILVA, I. A. A escuta do sensível. In: SILVA, I. A (org.). Corpo e sentido: a escuta do sensível. São Paulo: Ed. da UNESP, 1996.); de tese de livre-docência Figurativização e metamorfose: relações intersemióticas (o mito de Narciso) (SILVA, 1992b) e do livro Figurativização e metamorfose: o mito de Narciso (SILVA, 1995a).

Após a leitura e estabelecida a cronologia dos textos, catalogamos aqueles que versam sobre figuratividade ou de alguma maneira relacionam-se com o percurso do pesquisador até e para além de Figurativização e metamorfose (SILVA, 1995a), acompanhados do inventário das datas e dos suportes de publicação. Consideramos, nesse sentido, uma perspectiva interna (imanente) da teoria, ou seja, voltada para o objeto em si, para o conceito dentro da teoria semiótica, e também contextualizamos o clima de opinião da época em que os textos são publicados. Dessa forma, não desprezamos o espírito científico da época, apesar da adoção de uma perspectiva imanentista, como orienta Koerner (1996)KOERNER, E. F. K. Questões que persistem em historiografia linguística. Revista da ANPOLL, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 45-70, 1996. Disponível em: https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/240/253. Acesso em: 21 mai. 2021.
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.

Como resultado dessa parte de nossa investigação, apresentamos os textos que selecionamos para análise no quadro abaixo:

Quadro 1 – Inventário dos artigos publicados por Ignacio Assis Silva entre 1970 e 2000
PERIÓDICO OU COLETÂNEA ARTIGO ANO DE PUBLICAÇÃO
BACAB
  • As relações constitutivas do signo

  • Conceitos básicos da análise estratificacional

  • 1970

  • 1975

Actes Sémiotiques
  • Une lecture de Velasquez

  • L’art abstrait: une poétique du dépouillement

  • 1980

  • 1987

Corpo e sentido A escuta do sensível 1996
Cruzeiro Semiótico
  • A metamorfose de Narciso

  • Metamorfose ou metáfora radical?

  • 1988

  • 1992

Do inteligível ao sensível Brøndal, Hjelmslev, Greimas 1995
Exigences et perspectives de la sémiotique La construction de l’acteur 1985
Significação
  • Estruturação do universo linguístico

  • A construção do ator: do sígnico ao simbólico

  • Indagações sobre os fundamentos da linguagem

  • Sincretismo e comunicação visual

  • Métamorphose et rationalité mythique chez

  • Lygia Clark

  • 1974

  • 1987

  • 1990

  • 1994

  • 1999

Fonte: Elaboração própria.

Tendo concluído esse inventário e atendendo à proposta de Swiggers (2009)SWIGGERS, P. La historiografía de la lingüística: apuntes y reflexiones. Revista Argentina de Historiografía Lingüística, Buenos Aires, v. 1, n. 1, p. 67-76, 2009. Disponível em: http://www.rahl.com.ar/index.php/rahl/article/view/6. Acesso em: 12 abr. 2021.
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de que os materiais devem ser analisados e descritos para que seja possível expor os resultados, como já mencionamos, descrevemos e analisamos os fatos, correlacionando os trabalhos inventariados com o fazer de Silva dentro da economia geral da teoria e com Figurativização e metamorfose (SILVA, 1992b, 1995a), trabalho considerado um marco nos estudos sobre a figuratividade realizados no Brasil. Vejamos, antes, como a pesquisa e as ações institucionais de Silva se entrelaçam à história e ao espírito científico da semiótica.

Entre a institucionalização da semiótica no Brasil e a pesquisa sobre a figuratividade

Embora a produção intelectual greimasiana seja um ponto de partida no estudo da figuratividade – de Semântica Estrutural: pesquisa de método (1966) a Da imperfeição (1987) –, muitas produções científicas sobre o conceito estão dispersas na forma de livros, artigos, teses e dissertações de semioticistas de diferentes gerações, porém todos eles herdeiros do legado greimasiano. Ignacio Assis Silva foi um desses herdeiros. Orientando de Greimas entre 1979 e 1980, atuara no Groupe de Recherches Sémio-linguistiques (GRSL)8 8 Grupo de Pesquisas Semiolinguísticas (GRSL). – nos ateliers de Semiótica do Espaço, de Semióticas Poéticas e de Semiótica Plástica – e nos Seminários de Semântica Geral. Assim, enquanto estagiava, participava dos seminários (SILVA apudSOUZA, 2003SOUZA, M. G. G. de. Permanências: Ignacio por ele mesmo. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 1, n. 2, p. 1-6, 2003. Disponível em https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/622/537. Acesso em: 13 ago. 2021.
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, p.5) e colaborava com a revista francesa de semiótica Actes Sémiotiques9 9 Greimas funda o periódico francês de semiótica idealizado por Anne Hénault, Actes Sémiotiques, em 1977/78 com o apoio financeiro do Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS) e do Instituto Nacional da Língua Francesa. Até 1987 a revista se divide em duas séries paralelas: Bulletin e Documents. Torna-se “Nouveaux Actes Sémiotiques” em 1989 (LANDOWSKI, 2007). A partir de 2013 volta a intitular-se Actes Sémiotiques. .

Antes disso, Silva já era um pesquisador ativo no Brasil desde a década de 1960, mesmo período em que Greimas deu início ao projeto semiótico com a publicação de Semântica Estrutural (GREIMAS, 1973GREIMAS, A. J. Semântica Estrutural: pesquisa de método. Tradução de Haquira Osakabe e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1973. Original de 1966. [1966]). Formado em Letras Clássicas pela USP, leciona a disciplina “Língua e Literatura Latina” na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FAFI)10 10 Atual Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE) da Universidade Estadual Paulista (UNESP). de São José do Rio Preto, entre 1964 e 1967 (SILVA apudSOUZA, 2003SOUZA, M. G. G. de. Permanências: Ignacio por ele mesmo. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 1, n. 2, p. 1-6, 2003. Disponível em https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/622/537. Acesso em: 13 ago. 2021.
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, p.2), instituição onde é fundado o grupo BACAB11 11 Grupo de estudos sobre semiologia formado em 1969, por Eduardo Peñuela Cañizal, Alceu Dias Lima, Ignacio Assis Silva, Edward Lopes e Tieko Yamaguchi Miyazaki. O termo BACAB faz referência à mitologia asteca, que reverencia deuses nomeados Bacabes, responsáveis pela circunscrição da orientação cósmica no calendário daquele povo. Para os membros do grupo, o ideograma exemplifica um sistema semiológico. , precursor do primeiro grupo de especialistas em semiótica do Brasil, o Centro de Estudos Semióticos “A. J. Greimas” (CESAJG). Silva é, ainda, um dos protagonistas na inauguração do CESAJG em 1973 – com o apoio financeiro e institucional da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Barão de Mauá, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo12 12 A fundação do CESAJG resulta do empenho de Edward Lopes junto à Universidade Barão de Mauá de trazer Greimas ao Brasil para ministrar o curso “Semiótica da narrativa” e do esforço coletivo do BACAB, grupo que Silva e Lopes integravam, em dar continuidade ao projeto greimasiano em terras brasileiras e ainda de erigir um periódico voltado para a publicação de textos que se ocupavam da semiótica estudada e desenvolvida em Paris. – e na criação do primeiro periódico brasileiro de semiótica, a Significação – revista brasileira de semiótica13 13 Com a mudança de escopo em 2007, o periódico deixa de voltar-se exclusivamente para os estudos sobre semiótica e passa a intitular-se: Significação - revista de cultura audiovisual. , em 1974, onde publica vários textos. Antes disso, também é sócio-fundador do Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo (GEL), criado em 1969, participando da Diretoria da associação entre 1971 e 1973, então presidida por Izidoro Blikstein e tendo como tesoureiro Edward Lopes, ocupando o cargo de secretário (GEL, 2019).

Nos Actes Sémiotiques, o pesquisador publica nos Documents em 1980 e, em 1987, nos Bulletins, acompanhando as discussões acerca da figuratividade nos debates dos seminários greimasianos daquela década. Essa efervescência teórica em torno da figuratividade é notada, sobretudo, nos Bulletins nº 20, “La figurativité”, em 1981, e nº 26, “La figurativité II”, em 1983, bem como no n° 44 “L’art abstrait”, que abriga o texto do pesquisador brasileiro “L’art abstrait: une poetique du dépouillement”, em 1987. Nos Documents, por exemplo, nota-se que nos anos 1980 a preocupação com o texto literário divide espaço com abordagens voltadas à representação pictural, haja vista a publicação de Silva no nº 19, de 1980, “Une lecture de Velasquez”, acompanhando trabalhos ali publicados por Jean-Marie Floch, François Rastier, Eric Landowski, Denis Bertrand, Algirdas Julien Greimas, entre outros, ao longo do decênio.

Ademais, é na mesma década que são publicados o tomo II do Dictionnaire raisonné de la théorie du langage (1986), no qual a figuratividade passa a ser, oficialmente, um verbete da metalinguagem semiótica, e Da imperfeição, em 1987, de Greimas, marcos para o estudo da figuratividade e de alguns conceitos a ela correlatos (semissimbolismo, por exemplo).

Nas décadas de 1970 e 1980, a Significação abriga vários textos que se preocupam com a figuratividade. Além dos trabalhos de Silva, destacamos a abordagem do conceito em textos de Algirdas Julien Greimas (1982GREIMAS, A. J. Métaphore et isotopie. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 3, p. 4-13, 1982. [1973]14 14 Uma nota de rodapé informa que o texto é uma transcrição de uma fala no curso ministrado por A. J. Greimas em julho de 1973, no CESAJG, realizada por Louis Panier. , 1984a, 1984b)15 15 Texto de Greimas traduzido por Ignacio Assis Silva, “Semiótica figurativa e semiótica plástica”, também publicado nos Documents com o título “Sémiotique figurative et sémiotique plastique” no mesmo ano. , e de Jean-Marie Floch16 16 O texto “Semiótica plástica e linguagem publicitária” é uma tradução de José Luiz Fiorin para texto publicado nos Documents em 1981, “Sémiotique plastique et langage publicitaire”. em 1987. Nos anos 1990 a quantidade de artigos publicados na Significação que têm como foco estudos relacionados com a figuratividade per se é menos expressiva, sobressaindo entre esses textos, trabalhos de Ignacio Assis Silva, em 1994 e 199917 17 Trataremos desses textos adiante. , e de Eduardo Peñuela Cañizal, “La Metáfora Visual en las Cartografías del Cuerpo”, de 1999.

Também é entre 1970 e 1980 que o semioticista atua no Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa (PPGLLP) da UNESP de Araraquara desde o seu surgimento – como membro do Conselho de Curso, do rol dos orientadores e do corpo docente desse Programa –, ficando responsável pelas disciplinas “Sintaxe-semântica das classes gramaticais”, esta em conjunto com Alceu Dias Lima, e “Semântica da dinâmica textual”, conforme processo 119/77-FFCL (p. 7, p. 93, p. 145 e p. 152)18 18 Texto inédito, o processo 119/77-FFCL remonta o processo 217/75 da unidade de Marília, que após a reestruturação da UNESP teve o seu Instituto de Letras incorporado pelo câmpus de Araraquara, exigindo que alterações fossem impostas ao projeto inicial, adequando-o à nova realidade do ILCSE. Entre as alterações sublinhamos a mudança do título do Curso de Pós-Graduação em Linguística e Literatura Portuguesa, originalmente, para Curso de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, 1977, p. 6-8). que documenta a origem, a aprovação e o credenciamento, em 1978, do PPGLLP no Instituto de Letras, Ciências Sociais e Educação (ILCSE)19 19 Atualmente, Faculdade de Ciências e Letras (FCL). do câmpus de Araraquara, registro original do papel de Silva na pesquisa em semiótica desenvolvida na UNESP e no Brasil.

Vinculado ao PPGLLP, Silva também exerce docência no Programa de Pós-Graduação em Semiótica, criado na UNESP de Araraquara em 1980, junto a Edna Nascimento, Alceu Dias Lima e Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan (2003)BALDAN, U. O desenho do arquiteto. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 1, n. 1, p. 1-9, 2003. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/569/490. Acesso em: 22 mar. 2019.
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, citando alguns. Além da produção do conhecido Roteiro: para Introdução à Semiótica Greimasiana em 198120 20 Edna Nascimento (2004, p. 2) esclarece que Silva escreveu o roteiro ao retornar do estágio com Greimas, em Paris, com o fim de “facilitar a compreensão dos princípios semióticos”. O documento não foi publicado. , compartilhado com professores e alunos da instituição (NASCIMENTO, 2004NASCIMENTO, E. M. F. dos S. Resposta ao Ignacio: um galo sozinho não tece uma manhã. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 2, n. 1, p. 1-4, 2004. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/612/529. Acesso em: 07 mar. 2021.
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), entre as disciplinas ministradas no Programa, destacam-se “Literatura e artes visuais”, “Semiótica das Paixões”, “Teoria Semiótica II”, “O espaço como prática significante”21 21 As informações sobre as disciplinas ministradas no Programa de Pós-Graduação em Semiótica (ou Estudos Literários, alguns anos depois) encontram-se no Currículo Lattes do pesquisador, disponível em http://lattes.cnpq.br/3294565159970447. Acesso em: 26 out. 2021. .

É, ainda, responsável pela integração entre os Programas de Pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa e em Estudos Literários, promovendo discussões sobre linguística, semiótica e literatura, conforme Maria Célia Leonel (2010)LEONEL, M. C. Ignacio Assis Silva e os estudos literários. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 8, n. 2, p. 1-9, 2010. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/3328/3053. Acesso em: 13 set. 2021.
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22 22 O Programa de Pós-Graduação em Semiótica, passa ser Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários em 1987, abarcando duas áreas de concentração, Teoria da Literatura e Semiótica, até se tornar Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários em 2002, ficando a semiótica absorvida pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, 2019). , e oferecendo, nos anos 1990, um curso intitulado “Indagações sobre os fundamentos da linguagem: figurativização e metamorfose”23 23 Mesmo título do artigo publicado em 1990 e inversão de posição lexical do título original da tese defendida em 1992, Figurativização e metamorfose: indagações sobre os fundamentos da linguagem (SILVA, 1995a, p. 28). , segundo Neiva Pinto (2003)PINTO, N. F. Eco: linguagem e paixão. Itinerários: Revista de Literatura, Araraquara, n. esp., p. 175-184, 2003.. Além do mais, transitando entre os dois Programas de Pós-graduação – Linguística e Língua Portuguesa e Estudos Literários – orientou pesquisadores como Maria do Carmo Almeida Corrêa, Marisa Giannecchini Gonçalves de Souza e Maria Tereza de França Rolland, entre outros. Para completar o seu papel no processo de institucionalização da semiótica no interior paulista, também na UNESP de Araraquara, ministra, entre 1978 e 1995, as disciplinas “Teoria da Comunicação” e “Linguística” na Graduação em Letras24 24 As disciplinas ministradas na Graduação em Letras e as orientações realizadas pelo semioticista também estão disponíveis em http://lattes.cnpq.br/3294565159970447. Acesso em: 26 out. 2021. , além de idealizar e fundar o grupo Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA) em 2000. Antes disso, entre 1996 e 1999, animou as discussões do Centro de Pesquisas Sociossemióticas (CPS), grupo de semiótica da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, conforme relato de Ana Claudia de Oliveira (2010)OLIVEIRA, A. C. de. Estesia e experiência do sentido. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 8, n. 2, p. 1-12, 2010. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/3376/3099. Acesso em: 13 ago. 2021.
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Ainda no papel temático de pesquisador, Silva publica dois artigos na revista portuguesa Cruzeiro Semiótico25 25 À exceção dos textos de Silva, a figuratividade não é o foco dos trabalhos publicados na revista até as tiragens iniciadas em 1984 cessarem em 1993. – “A metamorfose de Narciso” (SILVA, 1988SILVA, I. A. A metamorfose de Narciso. Cruzeiro semiótico, Porto, v. 9, p. 57-71, 1988.) e “Metamorfose ou metáfora radical?” (SILVA, 1992a) –, pertencente à Associação Portuguesa de Semiótica e dirigido por Norma Backes Tasca. Também publica nas coletâneas Exigences et perspectives de la sémiotique (SILVA, 1985SILVA, I. A. La construction de l’acteur. In: PARRET, H.; RUPRECHT, H.-G. (org.). Exigences et perspectives de la sémiotiques: Recuel d’hommages pour Algirdas Julien Greimas. Aims and prospects of semiotics: Essays in honor of Algirdas Julien Greimas. Paris: John Benjamins, 1985. v.2. p. 575-582.), Do inteligível ao sensível (SILVA, 1995b), Corpo e Sentido (SILVA, 1996SILVA, I. A. A escuta do sensível. In: SILVA, I. A (org.). Corpo e sentido: a escuta do sensível. São Paulo: Ed. da UNESP, 1996.); todas resultantes de eventos científicos da semiótica. Assim, tendo conhecido o papel de Silva nesse processo de introdução e enraizamento da semiótica no Brasil, sobretudo nas universidades paulistas26 26 Para Leonel (2010, p. 1), Silva é “[...] um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento e pela difusão da semiótica greimasiana no Brasil [...]”, em razão de suas publicações e de sua atuação docente “[...] no Curso de Letras e nos Programas de Pós-graduação em Estudos Literários e em Linguística e Língua Portuguesa da FCL da UNESP de Araraquara”. , vejamos, nas próximas linhas, de que maneira o semioticista se configura um ator discursivo na história da semiótica e dos estudos brasileiros sobre a figuratividade.

Do rigor à defesa da flexibilização do modelo estrutural: a instauração do interesse pela figuratividade nos textos de Silva

Defendida por diferentes pesquisadores das ciências humanas nos anos 1960 – da etnologia de Jean Pouillon à antropologia estrutural de Claude Lévi-Strauss, da psicanálise de Jacques Lacan à linguística estrutural de Roman Jakobson, da semiologia de Roland Barthes à semiótica de A. J. Greimas –, a concepção estruturalista está presente em “Conceitos básicos da análise estratificacional” (1975), texto publicado no segundo número da revista Bacab. Nele, Silva (1975SILVA, I. A. Conceitos básicos da análise estratificacional. BACAB: Estudos Semiológicos, São José do Rio Preto, n. 2, p. 3-36, 1975., p. 7) defende a utilização de um modelo estrutural de análise: hierarquizado, assim como a língua que também é constituída de uma “[...] rede de relações que se estabelece entre os elementos e as realizações desses elementos”, conforme determina a teoria estratificacional da linguagem.

Para Silva (1975SILVA, I. A. Conceitos básicos da análise estratificacional. BACAB: Estudos Semiológicos, São José do Rio Preto, n. 2, p. 3-36, 1975., p. 32-33), o “modelo estratificacional” é simultaneamente sintagmático e distribucional, possibilitando à “análise estratificacional” não admitir uma relação direta e imediata entre os planos da expressão e do conteúdo, visto que o significante linguístico não é linear, ou seja, pode se realizar de diferentes maneiras como acontece no discurso poético, refletindo sua formação jakobsoniana27 27 Após afirmar que os resultados dessa tese “[...] repercutem proveitosamente nas modernas investigações do discurso poético”, deixa claro, em nota, que é Roman Jakobson “quem mais tem insistido no caráter não-linear do significante linguístico [...]” (SILVA, 1975, p. 34). . Outrossim, traz à luz leituras da Semântica Estrutural, de Greimas (1973GREIMAS, A. J. Semântica Estrutural: pesquisa de método. Tradução de Haquira Osakabe e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1973. Original de 1966. [1966]), dos Prolegômenos a uma teoria da linguagem, de Hjelmslev (2003HJELMSLEV, L. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. Tradução de T. C. Neto. São Paulo: Perspectiva, 2003. Original de 1961. [1961]) e dos Problemas de linguística geral, de Benveniste (2005BENVENISTE, É. Problemas de linguística geral I. Tradução de Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. Revisão do prof. Isaac Nicolau Salum. Campinas: Pontes, 2005. Original de 1966. [1966]).

Vinte anos depois, em “Brøndal, Hjelmslev, Greimas” (SILVA, 1995b) coloca o modelo estruturalista em discussão. Se de um lado propõe que a semiótica pós-Da imperfeição (GREIMAS, 2002GREIMAS, A. J. Da imperfeição. Tradução de Ana Cláudia de Oliveira. São Paulo: Hacker, 2002. Original de 1987. [1987]) não abandone a estrutura, de outro, reivindica que a disciplina se desdobre de modo a tornar-se uma semiótica “meta- ou semi-simbólica”28 28 De acordo com o semioticista, essa abertura da semiótica para além das estruturas “[...] contemplaria a tensão entre o que é da ordem do semiótico ‘stricto sensu’, os sistemas de signos, e aquilo que está mais para o simbólico, em cujo âmbito estão as outras substâncias, aguardando vez de serem alcançadas pela teoria, de serem formalizadas” (SILVA, 1995b, p. 65). , isto é, menos ortodoxa a fim de que a tensividade esteja presente com mais frequência nas análises (SILVA, 1995b, p. 65). Diante dessa exigência por uma maior abertura (flexibilidade) nas análises semióticas, não rompendo, mas propondo que a disciplina evolua, visto ser uma teoria que se denomina constantemente in fieri, que acontecimentos teóricos levaram Silva à mudança no modo de olhar para o rígido modelo estrutural da semiótica discursiva dos anos 1970 e 1980?

Retomando brevemente a história da semiótica, a figuratividade é reclamada em três momentos distintos, mas que configuram uma continuidade na transformação de seu papel no interior da teoria. Na década de 1970, seu papel vincula-se à organização da estrutura de superfície (nível discursivo). Na primeira metade dos anos 1980, Bertrand e Floch (1986)BERTRAND, D.; FLOCH, J-M. Figurativité. In: GREIMAS, A. J.; COURTÉS, J. (org.). Sémiotique, dictionnaire raisonné de la théorie du langage. Paris: Hachette, 1986. Tomo II. p. 90-91. esclarecem que ela é vista em todas as camadas do percurso gerativo do sentido, engendrando-as ao mesmo tempo em que articula e une os espaços cognitivo e tímico, bem como tece, em cada uma delas, as isotopias responsáveis por fazer significar valores, modalizações, transformações e contratos veridictórios conforme realiza procedimentos de ancoragem espacial, temporal, actorial, etc.

Após Da imperfeição (GREIMAS, 2002GREIMAS, A. J. Da imperfeição. Tradução de Ana Cláudia de Oliveira. São Paulo: Hacker, 2002. Original de 1987. [1987]), a figuratividade é chamada a despertar e/ou a fazer perceber, em cada camada do percurso gerativo, diferentes sensações por meio da estesia e da sinestesia; é, pois, convocada a integrar os estudos sobre o corpo que sente, que é e que faz ser o sujeito semiótico, segundo Prado e Santos (2017)PRADO, M. G. S.; SANTOS, F. K. R. Epistemologia e história dos conceitos de enunciação e de figuratividade na semiótica francesa. Entretextos, Londrina, v. 17, n. 2, p. 275-302, jul./dez. 2017. Disponível em: https://www.uel.br/revistas/uel/index.php/entretextos/article/view/28291/23685. Acesso em 16 out. 2021.
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. Simultaneamente, é vista entramando as figuras a fim de produzir a plasticidade dos textos, dando continuidade ao que Floch propusera ainda em 1979 e Greimas em 1984. Essa figuratividade posterior a Da imperfeição propicia o surgimento da semiótica da experiência sensível, na medida em que, explicitamente influenciada pela fenomenologia merleau-pontyana, transcende, sem desmerecer ou descartar, ao contrário, enxergando com menos radicalismo, porém com o mesmo rigor greimasiano de outrora, a análise estrutural. Esse novo modo de pensar a semiótica também está presente na produção ignaciana.

No número inaugural da revista Bacab, revista de orientação semiológica, o pesquisador publica “As relações constitutivas do signo”. Nesse artigo, Ignacio Assis Silva (1970)SILVA, I. A. As relações constitutivas do signo. BACAB: Estudos Semiológicos, São José do Rio Preto, n. 1, p. 7-32, 1970. destaca as relações opositivas do signo que, nas profundidades da significação, propiciam a transformação de signo em símbolo. A relação entre denotação e conotação seria, nesse sentido, responsável por elevar um signo, não importa se mais ou menos icônico, à categoria de símbolo, que deixaria de significar do ponto de vista denotativo, assumindo uma significação conotativa no interior do “[...] complexo sócio-cultural29 29 Podemos tomar a expressão “complexo sócio-cultural” por “universo sociocultural”. de um povo, na linguagem [...]” (SILVA, 1970SILVA, I. A. As relações constitutivas do signo. BACAB: Estudos Semiológicos, São José do Rio Preto, n. 1, p. 7-32, 1970., p. 23-26), ponto de vista que se aproximaria do que Greimas (1973GREIMAS, A. J. Semântica Estrutural: pesquisa de método. Tradução de Haquira Osakabe e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1973. Original de 1966. [1966]) chama de investimento temático das figuras do discurso. Trata-se de um texto que pode ser considerado a pedra fundamental dos estudos ignacianos sobre as relações semissimbólicas.

Estimulado pela leitura de Semântica Estrutural (GREIMAS, 1973GREIMAS, A. J. Semântica Estrutural: pesquisa de método. Tradução de Haquira Osakabe e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1973. Original de 1966. [1966]) e pelo curso de Greimas, Silva traz no texto de inauguração da Significação, “Estruturação do universo linguístico” (SILVA, 1974SILVA, I. A. Estruturação do universo linguístico. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 1, p. 26-42, 1974.), um cotejo da obra fundadora da semiótica da Escola de Paris, no que tange à relação entre os arranjos figurativos e a percepção, com impressões da fala do mestre lituano em que se nota uma primeira transformação no entendimento sobre o que virá a ser “figuratividade”. De acordo com Silva (1974)SILVA, I. A. Estruturação do universo linguístico. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 1, p. 26-42, 1974., Greimas (1973GREIMAS, A. J. Semântica Estrutural: pesquisa de método. Tradução de Haquira Osakabe e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1973. Original de 1966. [1966]) estabelece que o Mundo Natural é codificado pela Língua Natural, ou seja, é significado à medida que é experimentado e, consequentemente, percebido. Desse modo, nomeia nível semiológico o lugar de articulação, no discurso, das figuras sêmicas que decorrem do mundo dos objetos – definição inicial do que veio a ser entendido como figuratividade anos mais tarde – e nível semântico a manifestação do discurso. Entretanto, em aula ministrada durante o curso “Semiótica da Narrativa”, Greimas introduz uma mudança terminológica ao se declarar, nas palavras de Silva (1974SILVA, I. A. Estruturação do universo linguístico. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 1, p. 26-42, 1974., p. 30, grifo do autor), “[...] propenso a substituir a expressão nível semiológico por nível figurativo”; revisão na metalinguagem provocada pelo entendimento de que o sujeito que percebe, para produzir a significação, é perpassado por semas do nível semântico que lhe são intrínsecos (categorias interoceptivas), como a língua, e por semas que são exteriores a esse sujeito, porém correspondentes aos já internalizados por ele (categorias exteroceptivas). Esses semas exteriores ao sujeito pertencem à sua cultura e é a articulação dos sentidos (percepção) que os coloca em contato com ele. Além disso, são responsáveis por diferenciar, por exemplo, “[...] os lexemas grande vs. pequeno, alto vs. baixo, quadrado vs. redondo, reto vs. curvo)”, narra Silva (1974SILVA, I. A. Estruturação do universo linguístico. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 1, p. 26-42, 1974., p. 30, grifo do autor).

Ao contrário dos semas das categorias interoceptivas, que pertencem ao plano do conteúdo, os semas das categorias exteroceptivas são significantes e a transformação de significantes em significados ocorre em razão da mediação da relação entre o mundo (o que está em torno do sujeito) e o pensamento, que é realizada pelo cérebro. Por isso, Greimas denomina que as categorias exteroceptivas correspondem à “[...] expressão nível figurativo, cuja função é articular, transformar o mundo exterior em significação [...]”, continuando, as categorias interoceptivas, designadas ao nível semântico, pelo menos naquele momento, esclarece Silva (1974SILVA, I. A. Estruturação do universo linguístico. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 1, p. 26-42, 1974., p. 30, grifo do autor).

Além de tratar da reorganização metalinguística em torno do nível semiológico/figurativo, enquanto o artigo publicado em 1970, na Bacab, dá os primeiros passos em direção ao estudo das relações semissimbólicas nos textos, este trabalho pode ser a gênese de toda a pesquisa ignaciana em torno da relação entre a figuratividade que acontece nos níveis profundo e superficial. Dizemos isso porque Silva (1974)SILVA, I. A. Estruturação do universo linguístico. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 1, p. 26-42, 1974. também se ocupa de explicar como a língua faz significar o mundo exterior através da integração de duas gramáticas, uma profunda, que pertence às estruturas profundas e mais abstratas da significação, e outra de superfície, voltada para o nível mais superficial, portanto, mais concreto do discurso, que se combinam por intermédio da manifestação figurativa; interesse investigativo que culmina em Figurativização e metamorfose: o mito de Narciso (SILVA, 1995a) e publicações ulteriores.

Essa obra é a transmutação verbum ad verbum da tese de livre-docência Figurativização e metamorfose: relações intersemióticas (o mito de Narciso) (SILVA, 1992b) na qual todas as pesquisas comunicadas por Silva nas revistas científicas e em coletâneas de artigos até a sua defesa convergem em um único trabalho, que exploramos a seguir, conforme analisamos de que forma as publicações relacionadas à pesquisa de Silva são engendradas em sua tese que, publicada na forma de livro, três anos depois, só se diferencia deste último no subtítulo, que suprime a expressão lexical “relações intersemióticas”.

Estruturação do sentido nos moldes ignacianos: dos artigos à obra

Dividida em doze capítulos aos quais foi incorporada boa parte dos artigos aqui examinados, Figurativização e metamorfose (SILVA, 1992b, 1995a) inscreve-se na terceira abordagem da figuratividade, visto que busca por uma semiótica do sensível (SILVA, 1995a). Tal busca fica evidente na escolha de um corpus diversificado, simultaneamente mítico e poético, constituído de semióticas-objeto de raízes latinas – poemas de Ovídio, esculturas de Brancusi, pinturas de Picasso e Dali – e vinculadas à mitologia clássica.

Assim, conforme constrói a obra, reordenando os textos já publicados, Silva infunde a sua colaboração intelectual e científica para a edificação do arcabouço semiótico. Se no primeiro capítulo, “Balizas”, menciona as bases teóricas que direcionaram a sua pesquisa, no capítulo seguinte, “Principais casos de metamorfoses”, aborda os tipos de metamorfoses que se destacam em sua pesquisa: aqueles cuja forma dirige-se à nulidade e aqueles em que a forma adquire investimentos figurativos de alta densidade sêmica. Assim, introduz a metamorfose dos “tourinhos” de Picasso rumo às formas mais abstratas, um tipo de transformação na qual há supressão de traços figurativos até que se chegue à nulidade – o caminho do touro rumo à “tauridade” –, analisados primeiramente em “L’art abstrait: une poetique du dépouillement30 30 Texto publicado em 1987 no Bulletin nº 44, republicado no livro Leggere l’opera d’arte: Dal figurativo all’ astratto, organizado por Lucia Corrain e Mario Valenti, em 1991. (SILVA, 1987b), contrastando-os com o modelo figurativo da metamorfose de Eco, voz transmutada em estrutura calcária, de “A metamorfose de Narciso” (SILVA, 1988SILVA, I. A. A metamorfose de Narciso. Cruzeiro semiótico, Porto, v. 9, p. 57-71, 1988.).

A relação de oposição entre as análises dos touros picassianos e do mito de Eco ainda estão presentes em “Indagações aos fundamentos da linguagem” (SILVA, 1990SILVA, I. A. Indagações sobre os fundamentos da linguagem. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 8-9, p. 5-15, 1990.), texto que compõe outra seção de Figurativização e metamorfose (SILVA, 1992b, 1995a). O cotejo das obras nesse texto leva Silva (1990)SILVA, I. A. Indagações sobre os fundamentos da linguagem. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 8-9, p. 5-15, 1990. a concluir que, se a figuratividade é responsável pela disposição figurativa que faz significar o discurso em todos os níveis do percurso gerativo do sentido conforme o sentido se constrói, no caso da metamorfose picassiana, efeitos de sentido como a iconização31 31 Efeito de sentido em que figuras que recobrem os temas têm maior densidade sêmica. são produzidos, no nível discursivo, pela figurativização, enquanto um fenômeno de desreferencialização32 32 A desreferencialização é um processo de despojamento de traços figurativos. Opõe-se à referencialização, isto é, à figurativização, uma vez que o referente é um recurso figurativo responsável pela produção de efeitos de realidade e/ou de irrealidade, de verdade e/ou de mentira (GREIMAS, 1983, p. 49). No Dicionário de semiótica, Greimas e Courtés (2011 [1979]) explicam que à referencialização são associados os procedimentos de ancoragem espaço-temporal e actancial (neste caso, por meio da debreagem interna). se instala nas estruturas profundas. Inversamente, na metamorfose ovidiana, caso de Eco, há um segundo processo: de referencialização.

Em “Indagações aos fundamentos da linguagem” (SILVA, 1990SILVA, I. A. Indagações sobre os fundamentos da linguagem. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 8-9, p. 5-15, 1990.), métodos de análise de “L’art abstrait: une poetique du dépouillement” (SILVA, 1987b) e de “A metamorfose de Narciso” (SILVA, 1988SILVA, I. A. A metamorfose de Narciso. Cruzeiro semiótico, Porto, v. 9, p. 57-71, 1988.) são reivindicados para demonstrar como a supressão de traços figurativos – a desreferencialização – conduz a um efeito de “evacuação de sentido” (rarefação do corpo de Eco e das formas dos touros de Picasso). Ao mesmo tempo, em “A metamorfose de Narciso” (SILVA, 1988SILVA, I. A. A metamorfose de Narciso. Cruzeiro semiótico, Porto, v. 9, p. 57-71, 1988.), o processo é oposto ao do touro de Picasso, evidenciando o papel da referencialização.

Ao analisar um poema de Ovídio, cuja obra é constituída de traços de figurativos de alta densidade sêmica (SILVA, 1988SILVA, I. A. A metamorfose de Narciso. Cruzeiro semiótico, Porto, v. 9, p. 57-71, 1988., p. 58), o semioticista busca desvelar “[...] o papel da figuratividade no funcionamento da metamorfose”. Para tanto, Silva (1988)SILVA, I. A. A metamorfose de Narciso. Cruzeiro semiótico, Porto, v. 9, p. 57-71, 1988. parte do princípio de que o enunciado ovidiano possui uma matriz figurativa (suporte figurativo) dotada da capacidade de se apropriar de uma organização figurativa (aporte figurativo) que possibilita a produção de impressões referenciais. Assim, conforme são entretecidas as relações internas e intrínsecas ao discurso, uma poesia fortemente visual é produzida. Nesse sentido, o exame das isotopias profundas e superficiais tem por finalidade a necessidade de identificação dos sincretismos que fazem surgir novas formas (SILVA, 1988SILVA, I. A. A metamorfose de Narciso. Cruzeiro semiótico, Porto, v. 9, p. 57-71, 1988.).

Essa discussão reverbera nos capítulos “Figurativização e metamorfose”, “Metamorfose e pensamento mítico” e “Balizas”, em que o semioticista afirma que embora a metamorfose destrua uma forma para construir outra, os traços figurativos primeiros ressoam na nova forma (SILVA, 1995a), a exemplo da metamorfose de Eco, já desconstruída, em rocha ressoante; e do Narciso-homem em Narciso-imagem e, depois, em Narciso-flor. A seguir, ilustramos o movimento de referencialização/desreferencialização da figura:

Figura 1
– Dupla leitura do percurso da figuratividade nos moldes ignacianos

Ademais, Silva (1988SILVA, I. A. A metamorfose de Narciso. Cruzeiro semiótico, Porto, v. 9, p. 57-71, 1988., p. 59) diz que “[...] um ato de linguagem [...] faz-ser um estado novo” conforme “[...] executa a transformação de um estado sígnico num estado simbólico” e as novas formas que surgem “[...] reúnem [...] valores assumidos ou assimilados pela memória cultural do seu tempo”, ou seja, tornam-se, Eco e Narciso, por fim, símbolos de um mito. Essa afirmação retoma, em certa medida, “Une lecture de Velasquez” (SILVA, 1980SILVA, I. A. Une lecture de Velasquez. Actes Sémiotiques: Documents, Paris, n. 19, 1980.) – que visa à ressignificação a partir da reconstrução de um texto despido de traços figurativos33 33 “Une lecture de Velasquez” (SILVA, 1980) traz a primeira análise semiótica de Silva, que faz uma leitura ao mesmo tempo figurativa, simbólica e mítica de Vieja friendo huevos, de Velasquez, visando à transposição do sígnico para chegar ao simbólico, ou seja, desprovê o texto pictural de traços figurativos para reconstruí-los e, assim, retomar o sentido descartado e o simbolismo presente em uma figuratividade composta de figuras que carregam “[...] ‘qualidades sensíveis’ do mundo e tratam diretamente do homem” (SILVA, 2004 [1980], p. 192-204), conforme a terceira acepção de Mundo Natural (GREIMAS; COURTÉS, 2011 [1979]) e ainda antecipando discussões sobre a experiência sensível pós-Da imperfeição (GREIMAS, 2002 [1987]). Embora realize o primeiro exercício de desreferencialização, essa não é a metamorfose que é mote de sua contribuição, aquela que nasce da redescoberta de Ovídio, conforme Silva (apudSOUZA, 2003). – à medida que reconstrói a significação do texto ovidiano com foco na transformação do Narciso-homem em Narciso-flor mediada pelo Narciso-imagem (SILVA, 1988SILVA, I. A. A metamorfose de Narciso. Cruzeiro semiótico, Porto, v. 9, p. 57-71, 1988.).

Importa ainda esclarecer que “Une lecture de Velasquez” (1980) reproduz um espírito de época. O termo figuratividade já é recorrente nos debates realizados do GRSL, pelo fato de aparecer em textos de Jean-Marie Floch, como “Des couleurs du monde au discours poétique des leurs qualités” (FLOCH, 1979FLOCH, J-M. Des couleurs du monde au discours poétique des leurs qualités. Actes Sémiotiques: Documents, Paris, n. 6, p. 7-31, 1979.), ser mencionado por Greimas e Courtés (2011GREIMAS, A. J; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Tradução de Alceu Dias Lima et al. São Paulo: Contexto, 2011. [1979]) no verbete “figurativização” e ter sido explorado por Greimas no Brasil, no curso de 197334 34 Em conformidade com fala intitulada “Métaphore et isotopie”, transcrita e publicada na Significação em 1982. . Ademais, embora a figuratividade não se configure um verbete dicionarizado no início dos anos 1980, essa publicação de Silva (1980)SILVA, I. A. Une lecture de Velasquez. Actes Sémiotiques: Documents, Paris, n. 19, 1980. nos Documents35 35 Texto republicado em Leggere l’opera d’arte: Dal figurativo all’ astratto (1991), de Lucia Corrain e Mario Valenti, e na coletânea brasileira Semiótica Plástica (SILVA, 2004), de Ana Claudia de Oliveira, traduzido por E. Goes. Como não tivemos acesso ao texto original, utilizamos esta última versão neste trabalho. , acompanha as discussões sobre a figuratividade empreendidas pelo grupo de visualistas nesse período em que estagiou na França e que resultaram na publicação de “Sémiotique figurative et sémiotique plastique” por Greimas (1984a)36 36 Esse texto foi escrito em 1978, conforme Greimas (1984b). .

Além de figurativização, referencialização e desreferencialização, o semioticista brasileiro explora outro conceito correlato à figuratividade: o semissimbolismo. Esse estudo é comunicado após a defesa da tese de livre-docência no artigo “Sincretismo e comunicação visual” (1994). Nesse texto, que também integra Figurativização e metamorfose (1992b, 1995a), a comunicação visual é alçada ao estatuto de melhor representante da relação entre diferentes semióticas em um mesmo texto e baseia seu estudo sobre os sincretismos nas relações entre os estratos (SILVA, 1994SILVA, I. A. Sincretismo e comunicação visual. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 10, p. 73-80, 1994.), em conformidade com a Gramática Estratificacional de Lamb e Bennett37 37 Já na introdução do texto afirma: “Meu primeiro contato com a noção de sincretismo foi quando estudei os conceitos básicos da Gramática Estratificacional de Sydney Lamb e D. C. Bennett” (SILVA, 1994, p. 73). , já explorada em “Conceitos básicos da análise estratificacional” (SILVA, 1975SILVA, I. A. Conceitos básicos da análise estratificacional. BACAB: Estudos Semiológicos, São José do Rio Preto, n. 2, p. 3-36, 1975.).

De acordo com Silva, as relações semissimbólicas nascem na organização discursiva que possibilita produzir significação no sincretismo38 38 Greimas e Courtés (2011 [1979]) definem o sincretismo (ou as semióticas sincréticas) como o acionamento de “[...] várias linguagens de manifestação [...]”. Lucia Teixeira (2004, p. 235) vai um pouco mais além e assevera que são “[...] são aqueles [objetos] em que o plano de expressão se caracteriza por uma pluralidade de substâncias mobilizadas por uma única enunciação cuja competência de textualizar supõe o domínio de várias linguagens para a formalização de uma outra que as organize num todo de significação”. entre as linguagens. Nesse sentido, o semissimbolismo corresponde às “[...] configurações de qualidades sensíveis sobre/sob as quais se erigem/deslizam qualidades de sentido [...]”, ou seja, são “[...] grandezas atravessadas por tensões relacionais/relativizadoras” (SILVA, 1994SILVA, I. A. Sincretismo e comunicação visual. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 10, p. 73-80, 1994., p. 75). Essas tensões surgem na oposição entre sincretismo e discretismo e delas resultam três tipos de metamorfoses (SILVA, 1994SILVA, I. A. Sincretismo e comunicação visual. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 10, p. 73-80, 1994., p. 76-77): a que “faz-ser a leitura sígnica do mundo”, a que “faz-ser a relação semi-simbólica”, a que “faz-ser a linguagem das linguagens”, tal qual nomeia em Figurativização e metamorfose (SILVA, 1995a, p. 64-67).

Assim sendo, primeiramente, a tensão pode conduzir a uma “dessincretização” – “desinvestimento” passional, figurativo e temático no qual o “menos” passa a dizer “mais” através dos primitivos figurais e temáticos, em suma, “desfigurativização” (SILVA, 1994SILVA, I. A. Sincretismo e comunicação visual. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 10, p. 73-80, 1994., p. 77). Em um segundo caso, por intermédio de um sincretismo intertextual e intra-actancial, ao metamorfosear figuras do mundo natural em figuras da língua natural, anulando ou reduzindo radicalmente a distância entre elas, há um restabelecimento dos valores, da cultura e da história há tempos adormecidos em um signo já corroído pelo uso. Esse sincretismo é considerado o “sincretismo dos sincretismos” (SILVA, 1994SILVA, I. A. Sincretismo e comunicação visual. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 10, p. 73-80, 1994., p. 77-78). Por fim, diferentes sistemas semióticos podem ser combinados em textos visuais realizando uma operação ao mesmo tempo intratextual e intertextual (com ênfase nesta última). Essa terceira tensão corresponde a uma “[...] operação intersemiótica que faz-ser uma imagem ou conjunto de imagens [...] como uma figura emblemática de uma Cultura ou de uma fase dessa Cultura”, esclarece Silva (1994SILVA, I. A. Sincretismo e comunicação visual. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 10, p. 73-80, 1994., p. 78). Trata-se de uma metamorfose que só pode ser assim classificada se ocorrer em todos os estratos do percurso gerativo, ainda que não na mesma intensidade, entretecendo-os, assim como as “imagens” particulares a cada sistema semiótico, durante o ato de linguagem. Em suas palavras,

[...] só se deve falar de sincretismo, neste terceiro caso, se há ato de linguagem que entretece as “imagens” particulares não em nível meramente temático ou meramente figurativo, mas as entretece em todas as camadas do percurso gerativo da significação, umas mais, outras menos, mas todas. Quanto menos se trabalham as “imagens” tanto gerativa como transformacionalmente, menos sincretismo há [...] (SILVA, 1994SILVA, I. A. Sincretismo e comunicação visual. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 10, p. 73-80, 1994., p. 79).

Todo esse percurso em direção à metamorfose enquanto acontecimento semiótico está sintetizado em “Metamorfose ou metáfora radical?” (SILVA, 1992a)39 39 Esse artigo não só se tornou uma seção homônima no terceiro capítulo da obra ignaciana, como lá está reproduzido ipsis litteris e em toda a sua completude. . Reproduzido integralmente na tese (e no livro), esse texto apresenta-se como a “pedra de roseta” para desvendar “a metamorfose” genuína, verdadeira aspiração do pesquisador (SILVA apudSOUZA, 2003SOUZA, M. G. G. de. Permanências: Ignacio por ele mesmo. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 1, n. 2, p. 1-6, 2003. Disponível em https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/622/537. Acesso em: 13 ago. 2021.
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, p. 5). Dito de outro modo, o texto parece encontrar um caminho de reconstrução do sentido no qual “[...] em vez de ir da metáfora radical às manifestações artísticas, ir destas àquela, ou melhor, à metamorfose radical” (SILVA, 1992a, p. 51), entendida como o movimento em que o comum (pertencente a uma dada classe) é transformado em algo de ordem mítica, uma classe reconhecida como sendo outra – movimento da metáfora radical –, mas cria, nesse processo, uma nova classe que a um só tempo lhe possibilita tanto ir para a nova classe (mítica), realizando a metáfora radical, quanto retornar à classe de onde saiu, constituindo-se uma metamorfose radical. Esta corresponde, dessa maneira, ao retorno do comum transformado em mítico à classe do comum; um comum que já não é mais o comum primeiro, mas um comum outro, um comum duplamente transformado, portanto, reformulado (SILVA, 1992a), assim como Eco e Narciso:

Figura 2
– Modelo de metamorfose radical (a transformação de Eco e Narciso)

Outra preocupação do pesquisador recuperada nos artigos, formalmente organizada no quarto capítulo de Figurativização e metamorfose (SILVA, 1992b, 1995a), é a figura narratológica do ator: quem ele é e como é construído pelo discurso. Em “La construction de l’acteur” (1985), publicado em Exigences et perspectives de la sémiotique, o semioticista discorre sobre a primeira de duas hipóteses que para ele são as responsáveis pela construção discursiva e textual do ator: “[...] aquela em que a figura (sobretudo na pintura barroca) seria construída como um estado, talvez como um lugar semiodiscursivo do domínio aspectual [...]” (SILVA, 1985SILVA, I. A. La construction de l’acteur. In: PARRET, H.; RUPRECHT, H.-G. (org.). Exigences et perspectives de la sémiotiques: Recuel d’hommages pour Algirdas Julien Greimas. Aims and prospects of semiotics: Essays in honor of Algirdas Julien Greimas. Paris: John Benjamins, 1985. v.2. p. 575-582., p. 575, tradução nossa40 40 Trecho original: “[...] celle d’après laquelle la figure (surtout dans la peinture baroque) serait construite comme un état, voire comme un lieu sémio-discursif à domination aspectuelle [...]” (SILVA, 1985, p. 575). ). A segunda hipótese é desenvolvida no artigo “A construção do ator: do sígnico ao simbólico” (SILVA, 1987a) e volta-se para a construção discursiva e textual do ator na qual a figura é tornada figura-ator, uma figura narratológica, por meio dos procedimentos discursivos, e “[...] surge como o lugar por excelência de constituição da intersemioticidade”. Construída no discurso e pelo discurso, essa figura sincretiza a disjunção Mundo Natural/Língua Natural, constituindo-se, dessa forma, uma instância semissimbólica (SILVA, 1987a, p. 56, grifo do autor).

Até aqui, vimos a realização de um programa narrativo de uso necessário à realização de um programa narrativo de base, produção de saber acerca da figuratividade, que é condensado na tese de livre-docência. Para o pesquisador, essa busca teve início ao revisitar Ovídio (SILVA apudSOUZA, 2003SOUZA, M. G. G. de. Permanências: Ignacio por ele mesmo. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 1, n. 2, p. 1-6, 2003. Disponível em https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/622/537. Acesso em: 13 ago. 2021.
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), mas, de acordo com os textos examinados, o estado inicial desse sujeito autodestinado revela-se muito antes, quando, em “Estruturação do universo linguístico” (SILVA, 1974SILVA, I. A. Estruturação do universo linguístico. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 1, p. 26-42, 1974.), polemiza a substituição da expressão “nível semiológico” por “nível figurativo”, feita por Greimas, embora já viesse desenvolvendo trabalhos que seriam explorados mais ao fundo em artigos futuros, como a publicação de 1970 na Bacab. Cabe à publicação de “Metamorfose ou metáfora radical?” em 1992 a última fase da transformação de estado do pesquisador, já detentor de um saber constituído.

Concluída a investigação? Não ainda. Ainda que a performance tenha sido realizada, pois constatamos a conjunção do sujeito (Silva) com o seu objeto-valor (a verdadeira metamorfose), resta ainda a sanção a essa performance, haja vista que “[...] a complexidade do objeto [a figuratividade nos textos ignacianos] pede um discurso, uma metalinguagem, que não se feche, não se petrifique [...]” (SILVA, 1995a, p. 268), diríamos, na fascinação que suscita.

Da tese-livro aos novos desafios

Publicada Figurativização e metamorfose (SILVA, 1995a) e consolidada a sua pesquisa acerca da figuratividade, acontece na UNESP de Araraquara, em 1995, o Colóquio Internacional Interdisciplinar “Corpo e sentido”, realizado em parceria com o CPS, que resulta, em 1996, na coletânea Corpo e sentido: a escuta do sensível, organizada por Silva e que abriga o texto autoral “A escuta do sensível” (SILVA, 1996). Nesse artigo, é evidenciada uma figuratividade atrelada ao semissimbolismo na qualidade de uma matriz fundadora do imaginário (SILVA, 1996SILVA, I. A. A escuta do sensível. In: SILVA, I. A (org.). Corpo e sentido: a escuta do sensível. São Paulo: Ed. da UNESP, 1996.), que pode ser compreendida como um suporte figural que subjaz a figurativização (SILVA, 1995a). O texto também revela o interesse no evento estético, na constituição e no funcionamento das configurações semissimbólicas, no papel das configurações passionais em meio a essas transformações (SILVA, 1996SILVA, I. A. A escuta do sensível. In: SILVA, I. A (org.). Corpo e sentido: a escuta do sensível. São Paulo: Ed. da UNESP, 1996.); inquietação que acompanha a busca pela transcendência das estruturas (manifestada no texto “Brøndal, Hjelmslev, Greimas”, em 1995) e no qual a experiência sensível convoca e é convocada nos e pelos trabalhos de pensamento pós-greimasiano41 41 De acordo com Moreira (2019), “pensamento pós-greimasiano” são as ideias de autores cujos trabalhos produzidos de 1992 aos dias atuais obtiveram repercussão positiva na semiótica discursiva, destacando-se pela reprodução de suas pesquisas por pesquisadores da Europa e do Brasil, sobretudo. São, portanto, cientistas – a exemplo de Jacques Fontanille (1995), Claude Zilberberg, Éric Landowski – cujas “ideias potencialmente inovadoras” são fortemente recepcionadas por outros semioticistas. .

Essas novas inquietações do semioticista, assim como o posicionamento de que a figuratividade, ao engendrar a figurativização e o semissimbolismo pode ser entendida como matriz fundadora do imaginário têm eco na análise de uma exposição de Lygia Clark42 42 A exposição “Memória do corpo - o ‘dentro’ e o ‘fora’” foi realizada em 1967 no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. em “Métamorphose et rationalité mythique chez Lygia Clark” (SILVA, 1999SILVA, I. A. Métamorphose et rationalité mythique chez Lygia Clark. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 13, p. 127-141, 1999.). Da perspectiva do pesquisador, a atualidade desses estudos sobre a figuratividade é mantida, no final do século XX, porque ela é vista despontando “[...] rumo ao sensível imanente, ao estatuto mítico, subjacente [...] às descamações do discurso; mítico, pois lá produz a transformação fundamental da relação Sujeito-Objeto, acontecimento único, extraordinário, estabelecimento instantâneo de um ‘estado de coisas’” (SILVA, 1999SILVA, I. A. Métamorphose et rationalité mythique chez Lygia Clark. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 13, p. 127-141, 1999., p. 135, tradução nossa)43 43 Trecho original: “[...] vers un sensible immanent, au statut mythique, sous-jacent [...] les exfoliations du discours; mythique car il s’y produit la transformation fondamentale de la relation Sujet-Objet, événement unique, extraordinaire, établissement instantané d’un ‘état de choses’” (SILVA, 1999, p. 135). .

Com base no exame da produção ignaciana que nos propusemos a realizar, a atualidade de seu estudo sobre a figuratividade revela o espírito de uma época, conforme Koerner (1996)KOERNER, E. F. K. Questões que persistem em historiografia linguística. Revista da ANPOLL, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 45-70, 1996. Disponível em: https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/240/253. Acesso em: 21 mai. 2021.
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e como demonstra Cañizal (1999)CAÑIZAL, E. P. La Metáfora Visual en las Cartografias del Cuerpo. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 13, p. 75-126, 1999. ao tratar do sobrevir provocado pela experiência estética, pois explica que o trabalho de Silva (1995a) consegue, nos moldes greimasianos, imbricar a significação que se encontra a posteriori na semiótica da narrativa e aquela que, conforme a semiótica estética, está intimamente ligada à imperfeição do ser.

Relembramos que o olhar de Ignacio Assis Silva para o figurativo, bem como a busca por uma semiótica ao mesmo tempo poética e plástica, tem início durante o estágio realizado em Paris entre 1979 e 1980 e após a participação nos ateliês “Semiótica Plástica”, de Floch (1987)FLOCH, J-M. Semiótica plástica e linguagem publicitária. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 6, p. 29-50, 1987., e “Semiótica do Discurso Poético”, de Zilberberg (SILVA apudSOUZA, 2003SOUZA, M. G. G. de. Permanências: Ignacio por ele mesmo. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 1, n. 2, p. 1-6, 2003. Disponível em https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/622/537. Acesso em: 13 ago. 2021.
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). Os objetos plástico e literário permanecem como objeto de interesse do pesquisador até o fim de sua vida, uma vez que pesquisas a elas relacionadas constituem o projeto do grupo CASA, redigido por Silva em 2000.

Como já explicitamos, a formação em Letras Clássicas permite a Silva lecionar “Língua e Literatura Latina” na década de 1960, e essa formação, sobretudo, confere-lhe a competência do saber acerca do mítico e do poético inerentes a essa literatura. Todavia, também dotado da competência teórica de uma semiótica discursiva já assimilada, o contato com os visualistas e o gosto pelas artes plásticas, especialmente a latina, faz com que a poética que subjaz ao objeto plástico no início dos anos 1980 venha a chamar a sua atenção. É ainda nessa mesma década que redescobre os textos ovidianos e surge o interesse pela metamorfose44 44 Aparentemente, o projeto inicial previa o estudo de metamorfoses diversas, conforme Silva (apudSOUZA, 2003, p. 5). No livro, porém, o pesquisador menciona a existência de “dois grandes grupos” de metamorfoses: por antropogênese (Narciso e Gregor Samsa) e por morfogênese (Eco e Proteu), nos quais é possível identificar seja um sobreinvestimento seja um esvaziamento da forma (SILVA, 1995a). (SILVA apudSOUZA, 2003SOUZA, M. G. G. de. Permanências: Ignacio por ele mesmo. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 1, n. 2, p. 1-6, 2003. Disponível em https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/622/537. Acesso em: 13 ago. 2021.
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), especificamente, a que sai da estrutura de superfície rumo à estrutura profunda; relação que não havia sido estudada até então (SILVA, 1995a) e, como evidenciam os textos examinados, é a principal contribuição do pesquisador para a semiótica. Essa passagem da poética verbal para a poética visual que culmina em uma retomada do gosto pela poética verbal latina (ou ovidiana) anos depois constitui um avanço na pesquisa de Silva concernente à instauração de um “objeto construído”. Isso quer dizer que o pesquisador, ao transitar entre a poética verbal e a visual, constrói um objeto de interesse suscetível aos modelos de descrição e análise da semiótica, tendo em vista ser igualmente genérico, abstrato e descritivo (GREIMAS; COURTÉS, 2011GREIMAS, A. J; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Tradução de Alceu Dias Lima et al. São Paulo: Contexto, 2011.): a poética, pois é ela que o semioticista descreve e analisa no texto verbal, de Ovídio, e no visual, de Picasso, por exemplo.

A eleição da orientação figurativa do nível discursivo rumo ao nível fundamental como contribuição ignaciana e, portanto, brasileira de grande importância para a semiótica discursiva não advém do fascínio que o texto desse semioticista provoca. A revelação de que, nas metáforas de Eco e de Narciso, existe uma orientação de mão dupla – da estrutura profunda em direção à superfície e no sentido inverso – e, ainda, que talvez “[...] a relação entre essas camadas seja uma espécie de relação narcísica, um jogo de espelhos” (SILVA, 1995a, p. 31), é significativa em virtude de, a princípio, muitos semioticistas terem internalizado “[...] o caminho de uma só mão, que talvez só seja bom na estrada”, como afirma Leonel (2010LEONEL, M. C. Ignacio Assis Silva e os estudos literários. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 8, n. 2, p. 1-9, 2010. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/3328/3053. Acesso em: 13 set. 2021.
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, p. 8).

Igualmente, a análise dos textos de Silva demonstra que sua pesquisa concorre para a mudança na forma de a semiótica compreender a função da figura na construção do sentido do discurso. Sendo assim, a produção bibliográfica desse pesquisador possibilita-nos afirmar, utilizando a metalinguagem semiótica, que o programa narrativo de Silva de contribuir para a disciplina com um estudo aprofundado da figuratividade foi realizado com sucesso. Exemplo disso é a tese publicada na forma de livro tornar-se fonte de consulta para os pesquisadores a ele contemporâneos e extemporâneos.

Ademais, Silva não é adjuvante na construção da semiótica apenas no que tange ao aparato teórico. Ele é responsável pela institucionalização e pela difusão da disciplina. Primeiramente, porque, como já mencionamos, cofunda o CESAJG no interior do Estado de São Paulo, participa do surgimento e do desenvolvimento dos Programas de Pós-graduação em Estudos Literários (em 1980, Semiótica) e em Linguística e Língua Portuguesa na UNESP de Araraquara e faz nascer o grupo CASA nessa mesma instituição. Em segundo lugar, porque promove a formação de novos semioticistas ao oferecer disciplinas relacionadas com a semiótica discursiva (cujos conteúdos programáticos eram compostos de textos de A. J. Greimas, J.-C., Coquet, M. Arrivé, entre outros) nos Programas de Pós-graduação e ao acolher estudantes de graduação no grupo CASA.

Parte inextricável da vida, quando parecia despontar um novo interesse de investigação, mais direcionado à tensividade e às manifestações sensíveis, complementar àquele que encerrara em 1995, falece em 2000, após idealizar e fundar o CASA45 45 Ignacio Assis Silva falece em julho de 2000, após as duas primeiras reuniões do CASA. ; última ação que torna incontestável a institucionalização da semiótica discursiva no Brasil, processo iniciado com a criação do grupo BACAB em 1967.

A transformação de statu quo do conhecimento sobre a figuratividade realizada por Ignacio Assis Silva, nas palavras de Cañizal (1995)CAÑIZAL, E. P. [Orelha do livro]. In: SILVA, I. A. Figurativização e metamorfose: o mito de Narciso. São Paulo: Ed. da UNESP, 1995., se resume em “[...] uma tessitura metalinguística por meio da qual esses avanços [da semiótica] se explicitam e na originalidade das contribuições com que o autor fortifica as bases dos pressupostos teóricos utilizados numa grande aventura interpretativa”. Além disso, é em razão das novas maneiras de olhar para a figuratividade que reconhecemos, aqui, a “uis mythica” da produção ignaciana, Figurativização e metamorfose (SILVA, 1992b, 1995a); obra que, acreditamos, não se encontra em um lugar qualquer entre as obras que se ocupam desse conceito.

Tomando de empréstimo os dizeres do pesquisador, a “uis mythica” de Figurativização e metamorfose (SILVA, 1995a) faz com que semioticistas, assim como qualquer estudioso da linguagem que se aventure a lê-la, experiencie as figuratividades que subjazem às metamorfoses ali (des)construídas e (re)construídas “[...] não de maneira objetiva, inerte, neutra, como um sujeito em grau zero, mas também não como um sujeito pleno, oceânico, barthesiano, e, sim, como um sujeito que desliza entre esses pólos” (SILVA, 1995a, p. 28). A repercussão disso? Provavelmente, surja daí um novo sujeito, também metamorfoseado, pois, se não como um sujeito que conhece tudo ou muito ou o quanto desejaria conhecer, ainda assim um sujeito transformado pelo saber que verte da obra desse latinista, semanticista, semiólogo e... semioticista.

REFERÊNCIAS

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  • TEIXEIRA, L. Entre dispersão e acúmulo: para uma metodologia de análise de textos sincréticos. Gragoatá, Niterói, v. 16, p. 209-227, 2004.
  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários Disponível em: https://www.fclar.unesp.br/#!/pos-estudosliterarios Acesso em: 12 set. 2019.
    » https://www.fclar.unesp.br/#!/pos-estudosliterarios
  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Faculdade de Filosofia Ciências e Letras. Instituto de Letras, Ciências Sociais e Educação do Câmpus de Araraquara. Instalação do Curso de Pós-Graduação em Linguística e Literatura Portuguesa. Parecerista da CCPG/UNESP: Prof. Dr. Antônio Lázaro de Almeida Prado, 15 de agosto de 1978. Processo 119/77 Araraquara, p. 3-372, 1977.
  • 2
    Referimo-nos ao estudo da organização de temas e figuras nas artes visuais por meio das noções de iconologia e de iconografia. Esta é definida por Erwin Panofsky (2007PANOFSKY, E. Significado nas artes visuais. Tradução de Maria Clara F. Kneese e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2007. Original de 1955. [1955], p. 47-48) como “[...] ramo da história da arte que trata do tema ou da mensagem das obras de arte em contraposição à sua forma”. Aquela equivale a um “método de interpretação” da análise dos motivos (PANOFSKY, 2007PANOFSKY, E. Significado nas artes visuais. Tradução de Maria Clara F. Kneese e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2007. Original de 1955. [1955], p. 54).
  • 3
    Esse ponto de vista sobre a origem da noção de figuratividade também foi registrado no Bulletin nº 26 da Actes Sémiotiques, intitulado “La figurativité II” (BERTRAND, 1983a, p. 3, 1983b, p. 43).
  • 4
    O historiógrafo também pode adotar uma contextualização sociocultural e/ou política conforme Swiggers (2009)SWIGGERS, P. La historiografía de la lingüística: apuntes y reflexiones. Revista Argentina de Historiografía Lingüística, Buenos Aires, v. 1, n. 1, p. 67-76, 2009. Disponível em: http://www.rahl.com.ar/index.php/rahl/article/view/6. Acesso em: 12 abr. 2021.
    http://www.rahl.com.ar/index.php/rahl/ar...
    .
  • 5
    Na constituição do córpus deste trabalho não incluímos publicações de Ignacio Assis Silva na Revista de Cultura Vozes – “Direções atuais da Semântica Estrutural” (1972), “Diversificação semiolexêmica e sinonímia” (1972), “A configuração semântica do texto” (1975) –, bem como no Caderno “Suplemento Literário” do jornal O Estado de S. Paulo – “A análise estratificacional da linguagem” (1971). Optamos, nesse sentido, pelo exame de trabalhos publicados somente em periódicos e livros (coletâneas) de semiótica.
  • 6
    Coletânea de textos organizada por Herman Parret e Hans-George Ruprechet em homenagem a Greimas.
  • 7
    Coletânea de textos organizada por Ana Claudia de Oliveira e Eric Landowski, também em homenagem a Greimas.
  • 8
    Grupo de Pesquisas Semiolinguísticas (GRSL).
  • 9
    Greimas funda o periódico francês de semiótica idealizado por Anne Hénault, Actes Sémiotiques, em 1977/78 com o apoio financeiro do Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS) e do Instituto Nacional da Língua Francesa. Até 1987 a revista se divide em duas séries paralelas: Bulletin e Documents. Torna-se “Nouveaux Actes Sémiotiques” em 1989 (LANDOWSKI, 2007LANDOWSKI, É. Les nouveaux Nouveaux Actes Sémiotiques: présentation. In: Actes Sémiotiques. Limoges, 2007. Disponível em: http://epublications.unilim.fr/revues/as/5665. Acesso em: 02 jul. 2021.
    http://epublications.unilim.fr/revues/as...
    ). A partir de 2013 volta a intitular-se Actes Sémiotiques.
  • 10
    Atual Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE) da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
  • 11
    Grupo de estudos sobre semiologia formado em 1969, por Eduardo Peñuela Cañizal, Alceu Dias Lima, Ignacio Assis Silva, Edward Lopes e Tieko Yamaguchi Miyazaki. O termo BACAB faz referência à mitologia asteca, que reverencia deuses nomeados Bacabes, responsáveis pela circunscrição da orientação cósmica no calendário daquele povo. Para os membros do grupo, o ideograma exemplifica um sistema semiológico.
  • 12
    A fundação do CESAJG resulta do empenho de Edward Lopes junto à Universidade Barão de Mauá de trazer Greimas ao Brasil para ministrar o curso “Semiótica da narrativa” e do esforço coletivo do BACAB, grupo que Silva e Lopes integravam, em dar continuidade ao projeto greimasiano em terras brasileiras e ainda de erigir um periódico voltado para a publicação de textos que se ocupavam da semiótica estudada e desenvolvida em Paris.
  • 13
    Com a mudança de escopo em 2007, o periódico deixa de voltar-se exclusivamente para os estudos sobre semiótica e passa a intitular-se: Significação - revista de cultura audiovisual.
  • 14
    Uma nota de rodapé informa que o texto é uma transcrição de uma fala no curso ministrado por A. J. Greimas em julho de 1973, no CESAJG, realizada por Louis Panier.
  • 15
    Texto de Greimas traduzido por Ignacio Assis Silva, “Semiótica figurativa e semiótica plástica”, também publicado nos Documents com o título “Sémiotique figurative et sémiotique plastique” no mesmo ano.
  • 16
    O texto “Semiótica plástica e linguagem publicitária” é uma tradução de José Luiz Fiorin para texto publicado nos Documents em 1981, “Sémiotique plastique et langage publicitaire”.
  • 17
    Trataremos desses textos adiante.
  • 18
    Texto inédito, o processo 119/77-FFCL remonta o processo 217/75 da unidade de Marília, que após a reestruturação da UNESP teve o seu Instituto de Letras incorporado pelo câmpus de Araraquara, exigindo que alterações fossem impostas ao projeto inicial, adequando-o à nova realidade do ILCSE. Entre as alterações sublinhamos a mudança do título do Curso de Pós-Graduação em Linguística e Literatura Portuguesa, originalmente, para Curso de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, 1977UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Faculdade de Filosofia Ciências e Letras. Instituto de Letras, Ciências Sociais e Educação do Câmpus de Araraquara. Instalação do Curso de Pós-Graduação em Linguística e Literatura Portuguesa. Parecerista da CCPG/UNESP: Prof. Dr. Antônio Lázaro de Almeida Prado, 15 de agosto de 1978. Processo 119/77. Araraquara, p. 3-372, 1977., p. 6-8).
  • 19
    Atualmente, Faculdade de Ciências e Letras (FCL).
  • 20
    Edna Nascimento (2004NASCIMENTO, E. M. F. dos S. Resposta ao Ignacio: um galo sozinho não tece uma manhã. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 2, n. 1, p. 1-4, 2004. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/612/529. Acesso em: 07 mar. 2021.
    https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/a...
    , p. 2) esclarece que Silva escreveu o roteiro ao retornar do estágio com Greimas, em Paris, com o fim de “facilitar a compreensão dos princípios semióticos”. O documento não foi publicado.
  • 21
    As informações sobre as disciplinas ministradas no Programa de Pós-Graduação em Semiótica (ou Estudos Literários, alguns anos depois) encontram-se no Currículo Lattes do pesquisador, disponível em http://lattes.cnpq.br/3294565159970447. Acesso em: 26 out. 2021.
  • 22
    O Programa de Pós-Graduação em Semiótica, passa ser Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários em 1987, abarcando duas áreas de concentração, Teoria da Literatura e Semiótica, até se tornar Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários em 2002, ficando a semiótica absorvida pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, 2019).
  • 23
    Mesmo título do artigo publicado em 1990 e inversão de posição lexical do título original da tese defendida em 1992, Figurativização e metamorfose: indagações sobre os fundamentos da linguagem (SILVA, 1995a, p. 28).
  • 24
    As disciplinas ministradas na Graduação em Letras e as orientações realizadas pelo semioticista também estão disponíveis em http://lattes.cnpq.br/3294565159970447. Acesso em: 26 out. 2021.
  • 25
    À exceção dos textos de Silva, a figuratividade não é o foco dos trabalhos publicados na revista até as tiragens iniciadas em 1984 cessarem em 1993.
  • 26
    Para Leonel (2010LEONEL, M. C. Ignacio Assis Silva e os estudos literários. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 8, n. 2, p. 1-9, 2010. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/3328/3053. Acesso em: 13 set. 2021.
    https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/a...
    , p. 1), Silva é “[...] um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento e pela difusão da semiótica greimasiana no Brasil [...]”, em razão de suas publicações e de sua atuação docente “[...] no Curso de Letras e nos Programas de Pós-graduação em Estudos Literários e em Linguística e Língua Portuguesa da FCL da UNESP de Araraquara”.
  • 27
    Após afirmar que os resultados dessa tese “[...] repercutem proveitosamente nas modernas investigações do discurso poético”, deixa claro, em nota, que é Roman Jakobson “quem mais tem insistido no caráter não-linear do significante linguístico [...]” (SILVA, 1975SILVA, I. A. Conceitos básicos da análise estratificacional. BACAB: Estudos Semiológicos, São José do Rio Preto, n. 2, p. 3-36, 1975., p. 34).
  • 28
    De acordo com o semioticista, essa abertura da semiótica para além das estruturas “[...] contemplaria a tensão entre o que é da ordem do semiótico ‘stricto sensu’, os sistemas de signos, e aquilo que está mais para o simbólico, em cujo âmbito estão as outras substâncias, aguardando vez de serem alcançadas pela teoria, de serem formalizadas” (SILVA, 1995b, p. 65).
  • 29
    Podemos tomar a expressão “complexo sócio-cultural” por “universo sociocultural”.
  • 30
    Texto publicado em 1987 no Bulletin nº 44, republicado no livro Leggere l’opera d’arte: Dal figurativo all’ astratto, organizado por Lucia Corrain e Mario Valenti, em 1991.
  • 31
    Efeito de sentido em que figuras que recobrem os temas têm maior densidade sêmica.
  • 32
    A desreferencialização é um processo de despojamento de traços figurativos. Opõe-se à referencialização, isto é, à figurativização, uma vez que o referente é um recurso figurativo responsável pela produção de efeitos de realidade e/ou de irrealidade, de verdade e/ou de mentira (GREIMAS, 1983GREIMAS, A. J. De la figurativité. Actes Sémiotiques: Bulletin, Paris, n. 26, p. 48-51, 1983., p. 49). No Dicionário de semiótica, Greimas e Courtés (2011GREIMAS, A. J; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Tradução de Alceu Dias Lima et al. São Paulo: Contexto, 2011. [1979]) explicam que à referencialização são associados os procedimentos de ancoragem espaço-temporal e actancial (neste caso, por meio da debreagem interna).
  • 33
    “Une lecture de Velasquez” (SILVA, 1980SILVA, I. A. Une lecture de Velasquez. Actes Sémiotiques: Documents, Paris, n. 19, 1980.) traz a primeira análise semiótica de Silva, que faz uma leitura ao mesmo tempo figurativa, simbólica e mítica de Vieja friendo huevos, de Velasquez, visando à transposição do sígnico para chegar ao simbólico, ou seja, desprovê o texto pictural de traços figurativos para reconstruí-los e, assim, retomar o sentido descartado e o simbolismo presente em uma figuratividade composta de figuras que carregam “[...] ‘qualidades sensíveis’ do mundo e tratam diretamente do homem” (SILVA, 2004SILVA, I. A. Uma leitura de Vieja friendo huevos de Velasquez. In: OLIVEIRA, A. C. de (org.). Semiótica Plástica. São Paulo: Hacker, 2004. p. 189-206. Original de 1980. [1980], p. 192-204), conforme a terceira acepção de Mundo Natural (GREIMAS; COURTÉS, 2011GREIMAS, A. J; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Tradução de Alceu Dias Lima et al. São Paulo: Contexto, 2011. [1979]) e ainda antecipando discussões sobre a experiência sensível pós-Da imperfeição (GREIMAS, 2002GREIMAS, A. J. Da imperfeição. Tradução de Ana Cláudia de Oliveira. São Paulo: Hacker, 2002. Original de 1987. [1987]). Embora realize o primeiro exercício de desreferencialização, essa não é a metamorfose que é mote de sua contribuição, aquela que nasce da redescoberta de Ovídio, conforme Silva (apudSOUZA, 2003SOUZA, M. G. G. de. Permanências: Ignacio por ele mesmo. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 1, n. 2, p. 1-6, 2003. Disponível em https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/622/537. Acesso em: 13 ago. 2021.
    https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/a...
    ).
  • 34
    Em conformidade com fala intitulada “Métaphore et isotopie”, transcrita e publicada na Significação em 1982.
  • 35
    Texto republicado em Leggere l’opera d’arte: Dal figurativo all’ astratto (1991), de Lucia Corrain e Mario Valenti, e na coletânea brasileira Semiótica Plástica (SILVA, 2004SILVA, I. A. Uma leitura de Vieja friendo huevos de Velasquez. In: OLIVEIRA, A. C. de (org.). Semiótica Plástica. São Paulo: Hacker, 2004. p. 189-206. Original de 1980.), de Ana Claudia de Oliveira, traduzido por E. Goes. Como não tivemos acesso ao texto original, utilizamos esta última versão neste trabalho.
  • 36
    Esse texto foi escrito em 1978, conforme Greimas (1984b).
  • 37
    Já na introdução do texto afirma: “Meu primeiro contato com a noção de sincretismo foi quando estudei os conceitos básicos da Gramática Estratificacional de Sydney Lamb e D. C. Bennett” (SILVA, 1994SILVA, I. A. Sincretismo e comunicação visual. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 10, p. 73-80, 1994., p. 73).
  • 38
    Greimas e Courtés (2011GREIMAS, A. J; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Tradução de Alceu Dias Lima et al. São Paulo: Contexto, 2011. [1979]) definem o sincretismo (ou as semióticas sincréticas) como o acionamento de “[...] várias linguagens de manifestação [...]”. Lucia Teixeira (2004TEIXEIRA, L. Entre dispersão e acúmulo: para uma metodologia de análise de textos sincréticos. Gragoatá, Niterói, v. 16, p. 209-227, 2004., p. 235) vai um pouco mais além e assevera que são “[...] são aqueles [objetos] em que o plano de expressão se caracteriza por uma pluralidade de substâncias mobilizadas por uma única enunciação cuja competência de textualizar supõe o domínio de várias linguagens para a formalização de uma outra que as organize num todo de significação”.
  • 39
    Esse artigo não só se tornou uma seção homônima no terceiro capítulo da obra ignaciana, como lá está reproduzido ipsis litteris e em toda a sua completude.
  • 40
    Trecho original: “[...] celle d’après laquelle la figure (surtout dans la peinture baroque) serait construite comme un état, voire comme un lieu sémio-discursif à domination aspectuelle [...]” (SILVA, 1985SILVA, I. A. La construction de l’acteur. In: PARRET, H.; RUPRECHT, H.-G. (org.). Exigences et perspectives de la sémiotiques: Recuel d’hommages pour Algirdas Julien Greimas. Aims and prospects of semiotics: Essays in honor of Algirdas Julien Greimas. Paris: John Benjamins, 1985. v.2. p. 575-582., p. 575).
  • 41
    De acordo com Moreira (2019)MOREIRA, P. V. A emergência do sensível na semiótica discursiva: uma abordagem historiográfica. 2019. 285 p. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa) - Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2019. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/190841/moreira_pv_dr_arafcl.pdf?sequence=3&isAllowed=y. Acesso em: 07 nov. 2021.
    https://repositorio.unesp.br/bitstream/h...
    , “pensamento pós-greimasiano” são as ideias de autores cujos trabalhos produzidos de 1992 aos dias atuais obtiveram repercussão positiva na semiótica discursiva, destacando-se pela reprodução de suas pesquisas por pesquisadores da Europa e do Brasil, sobretudo. São, portanto, cientistas – a exemplo de Jacques Fontanille (1995)FONTANILLE, J. Sémiotique du visible. Paris: PUF, 1995., Claude Zilberberg, Éric Landowski – cujas “ideias potencialmente inovadoras” são fortemente recepcionadas por outros semioticistas.
  • 42
    A exposição “Memória do corpo - o ‘dentro’ e o ‘fora’” foi realizada em 1967 no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro.
  • 43
    Trecho original: “[...] vers un sensible immanent, au statut mythique, sous-jacent [...] les exfoliations du discours; mythique car il s’y produit la transformation fondamentale de la relation Sujet-Objet, événement unique, extraordinaire, établissement instantané d’un ‘état de choses’” (SILVA, 1999SILVA, I. A. Métamorphose et rationalité mythique chez Lygia Clark. Significação: Revista Brasileira de Semiótica, São Paulo, n. 13, p. 127-141, 1999., p. 135).
  • 44
    Aparentemente, o projeto inicial previa o estudo de metamorfoses diversas, conforme Silva (apudSOUZA, 2003SOUZA, M. G. G. de. Permanências: Ignacio por ele mesmo. Cadernos de Semiótica Aplicada (CASA), Araraquara, v. 1, n. 2, p. 1-6, 2003. Disponível em https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/article/view/622/537. Acesso em: 13 ago. 2021.
    https://periodicos.fclar.unesp.br/casa/a...
    , p. 5). No livro, porém, o pesquisador menciona a existência de “dois grandes grupos” de metamorfoses: por antropogênese (Narciso e Gregor Samsa) e por morfogênese (Eco e Proteu), nos quais é possível identificar seja um sobreinvestimento seja um esvaziamento da forma (SILVA, 1995a).
  • 45
    Ignacio Assis Silva falece em julho de 2000, após as duas primeiras reuniões do CASA.
  • 1
    Este trabalho deriva da tese O conceito de figuratividade em semiótica e contou com auxílio financeiro da CAPES (Código de Financiamento 001), do CNPq (processo n. 312227/2017-5) e da FAPESP (processo n. 16/22466-0).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    17 Dez 2019
  • Aceito
    8 Jun 2020
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