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RESOLUÇÃO DE AMBIGUIDADE ANAFÓRICA EM PORTUGUÊS, INGLÊS E ESPANHOL (ESTUDO-PILOTO)

RESUMO

Este artigo apresenta um estudo-piloto no qual se pretende analisar as diferenças na resolução de ambiguidade anafórica em português, inglês e espanhol como primeiras línguas (L1) e como segundas línguas (L2). Para a obtenção dos dados, foi elaborado um questionário, divulgado entre os estudantes nacionais e estrangeiros da Universidade do Algarve, Portugal. Conclui-se que os falantes nativos da língua inglesa costumam interpretar o pronome anafórico em posição de sujeito da oração subordinada como correspondente ao sujeito da oração principal, independentemente de o pronome receber ou não ênfase. Já os falantes de português e espanhol parecem seguir a Estratégia da Posição do Antecedente (CARMINATI, 2002) nos casos de anáfora, mas a preferência torna-se menos evidente ao inverter a ordem das orações (casos de catáfora). Além de considerar variáveis sintáticas, as frases foram elaboradas de modo a investigar a influência das relações semânticas entre os verbos para a resolução de ambiguidade anafórica.

Anáfora; espanhol; inglês; português; resolução de ambiguidade

ABSTRACT

This paper presents the results of a pilot study that aims to analyse the differences in the resolution of ambiguous anaphora in Portuguese, English, and Spanish as first languages (L1) and as second languages (L2). To collect the data, a questionnaire was developed and applied to national and foreign students at the University of Algarve, in Faro, Portugal. The conclusions are that native English speakers usually interpret the anaphoric pronoun in the subject position of the subordinate clause as corresponding to the subject of the main clause, regardless of whether the pronoun receives emphasis or not. Portuguese and Spanish native speakers, on the other hand, seem to use the Position of Antecedent Strategy(CARMINATI, 2002CARMINATI, M. The processing of Italian subject pronouns. 2002. Tese (Doutoramento em Filosofia) - University of Massachusetts, Amherst, 2002.) in cases of anaphora, but the preference becomes less evident when reversing the order of sentences (cases of cataphora). Besides the syntactic variables, the phrases were designed to investigate the influence of the semantic relation between the verbs to the resolution of ambiguous anaphora

Ambiguity resolution; anaphora; English; Portuguese; Spanish

Introdução

Neste artigo pretende-se analisar as diferenças na resolução de ambiguidade anafórica em português, inglês e espanhol como primeira língua (L1) e como segunda língua (L2). Para a obtenção dos dados, foi elaborado um questionário e aplicado aos estudantes nacionais e estrangeiros da Universidade do Algarve, em Portugal.

O termo anáfora tem como origem a palavra grega anaphorá, que significa “repetição” (NASCENTES, 1955NASCENTES, A. Dicionário etimológico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Oficinas gráficas do Jornal do Comércio, 1955. 2 v., p.28). A anáfora é um mecanismo de referência textual em que uma expressão anafórica retoma no texto a menção de uma dada entidade/objeto (o antecedente) que ocorreu num momento anterior do discurso. De acordo com Halliday e Hasan (1976)HALLIDAY, M.; HASAN, R. Cohesion in English. London: Longman, 1976., a anáfora é um importante mecanismo de coesão textual que, ao retomar elementos no texto, permite a progressão do discurso. Este mecanismo pode ser ilustrado como se vê no exemplo (1):

(1) Anai abraçou e Øi beijou Pauloj quando elej ai pediu em casamento.

Em (1), observam-se dois tipos de anáfora: anáfora pronominal e anáfora zero. A anáfora pronominal ocorre quando um pronome é utilizado para recuperar um antecedente, como o uso do pronome ele para retomar o nome Paulo e do pronome a para retomar o nome Ana. Já a anáfora zero ocorre quando se utiliza a elipse (ou redução a zero) ao invés da repetição do antecedente para recuperá-lo, marcado no exemplo com o símbolo Ø.

A anáfora pode ainda ser de tipo correferencial, quando retoma a menção de uma mesma entidade no texto, como sucede em (1); ou ser de tipo não correferencial, quando se apoia na interpretação de termos anteriores para introduzir a menção de uma nova entidade, como se vê em (2).

(2) Dizem que ter um animal de companhiai é bom para a saúde. Quando adotei o meu gatoj, fiquei muito contente.

Finalmente, a anáfora, entendida como a relação de referência estabelecida entre os elementos do texto, pode retomar antecedentes introduzidos anteriormente ou antecipá-los, como se vê respectivamente em (3) e (4):

(3) Ana beijou Pauloi quando elei acordou.

(4) Quando elei acordou, Ana beijou Pauloi.

Se o antecedente aparece no texto antes da expressão anafórica, caso de (3), identificamos um caso de anáfora, propriamente dita. Se, na ordem em que as palavras são apresentadas no texto, a expressão anafórica aparece antes de seu antecedente, como em (4), identificamos um caso de catáfora.

Neste artigo, utilizamos a palavra anáfora para fazer referência tanto aos casos de anáfora quanto aos casos de catáfora, considerando que se trata de um mesmo mecanismo independentemente da posição relativa da expressão anafórica e de seu “antecedente”. Quando for necessário apresentar a anáfora e a catáfora separadamente, utilizaremos os dois termos.

Nesta investigação, são considerados dois tipos de anáfora: a anáfora pronominal e a anáfora zero. Pretende-se investigar como os falantes nativos e aprendizes de português, inglês e espanhol resolvem a ambiguidade anafórica nas línguas.

Inicialmente, será realizada uma breve revisão da literatura sobre o tema, de modo a melhor enquadrar este estudo no estado da arte. Depois, serão descritos os métodos adotados na pesquisa. Por fim, serão apresentados e discutidos os resultados obtidos, apontando-se pistas para trabalhos futuros.

Revisão da literatura

O problema de resolução de ambiguidade anafórica, ou seja, a determinação do antecedente de uma anáfora quando esta é ambígua, não é um problema novo em Linguística, e há extensa literatura sobre o assunto. Nesta revisão, serão apresentados alguns dos estudos relevantes para a investigação.

Em sua pesquisa sobre resolução de anáfora pronominal, Crawley, Stevenson e Kleinman (1990) investigaram qual seria a estratégia utilizada por falantes de inglês, considerando duas estratégias possíveis: ou o pronome faria referência ao termo que ocupa a posição de sujeito da oração anterior, ou faria referência ao termo que ocupa uma função sintática paralela à sua na oração anterior. Consideremos os seguintes exemplos:

(5) Johni bateu em Billj e elei,j fugiu.1 1 Original: “Johni hit Billj and hei,j ran away.”

(6) Johni bateu em Billj e Mary oi,j chutou.2 2 Original: “Johni hit Billj and Mary kicked himi,j.”

De acordo com ambas as estratégias, o pronome he, no exemplo (5), seria uma anáfora do nome John. No exemplo (6), no entanto, o pronome him seria uma anáfora do nome John de acordo com a primeira estratégia ou do nome Bill de acordo com a segunda.

De modo a responder qual estratégia de resolução de anáfora seria utilizada pelos falantes em casos como os do exemplo (6), os autores solicitaram a 132 estudantes universitários que estes lessem 40 textos e respondessem a qual dos antecedentes se referia o pronome. Os textos eram compostos por três frases, como se vê em (7):

(7) Brenda e Harriet estavam estrelando no musical local. Bill estava nele também e nenhum deles estava muito seguro de suas falas ou dos passos de dança. Brendai copiou Harrietj e Bill ai,j assistiu.3 3 Original: “Brenda and Harriet were starring in the local musical. Bill was in it too and none of them were very sure of their lines or the dance steps. Brendai copied Harrietj and Bill watched heri,j.”

Em cada um dos 40 textos, a primeira frase introduzia dois referentes; a segunda introduzia um terceiro; e a terceira retomava-os através de três nomes e apresentava um pronome com função de complemento na oração coordenada aditiva. Foram criadas duas versões para cada texto: uma versão ambígua, em que os possíveis antecedentes da anáfora pronominal tinham o mesmo gênero; e uma versão não ambígua, em que, devido à restrição de gênero, havia apenas um possível antecedente para cada anáfora pronominal.

A amostra foi dividida em dois grupos de 48 e um de 36 participantes. O grupo de 36 indivíduos leu apenas as versões ambíguas dos textos e selecionou o antecedente do pronome. Os outros dois grupos de 48 indivíduos leram tanto as versões ambíguas, quanto as não ambíguas. Foram necessários dois grupos para que nenhum participante lesse as duas versões de um mesmo texto.

De acordo com os autores, três avaliadores analisaram os 40 textos, de modo que não houvesse influência de conhecimento geral para a resolução da anáfora pronominal. O único critério de avaliação explicitado, no entanto, foi a plausibilidade de o pronome se referir tanto ao sujeito quanto ao objeto da oração anterior.

Nos casos não ambíguos, devido à restrição de gênero, os participantes não utilizaram nenhuma das duas estratégias para a resolução da anáfora. Porém, nos casos ambíguos, demonstraram uma preferência pela primeira estratégia, ou seja, pela interpretação do pronome como correferente ao sujeito da oração anterior.

Conforme o Parâmetro do Sujeito Nulo (CHOMSKY, 1981CHOMSKY, N. Lectures on government and binding. Dordrecht: Foris, 1981.; RIZZI, 1982RIZZI, L. Issues in Italian Syntax. Dordrecht: Foris, 1982.), a língua inglesa é considerada uma língua de sujeito obrigatório, ao contrário da língua espanhola e da língua portuguesa, que permitem a elipse do sujeito. Os sujeitos anafóricos nestas línguas românicas, portanto, podem ser tanto expressos por anáfora pronominal como por anáfora zero. Vejamos, portanto, as frases a seguir:

(8a) Mariai faz o que elak quer.4 4 Original: “Maríai hace lo que ellak quiere.”

(8b) Mariai faz o que Øi quer.5 5 Original: “Maríai hace lo que Øi quiere.”

(9a) Maryi faz o que elai,k quer.6 6 Original: “Maryi does what shei,k wants.”

(9b) Mary faz o que Ø quer.7 7 Original: *“Mary does what Ø wants.”

Enquanto a língua espanhola considera gramaticais frases como (8a) e (8b), a língua inglesa considera gramaticais frases como (9a) e agramaticais frases como (9b). Agora retomemos o exemplo (5), citado anteriormente:

(5) Johni bateu em Billj e elei,j fugiu.8 8 Original: “Johni hit Billj and hei,j ran away.”

Apesar de os falantes da língua inglesa preferirem resolver a anáfora pronominal de frases como (5) interpretando o antecedente do pronome como o sujeito da primeira oração, o fato é que há ambiguidade, pois a frase seria a mesma para a interpretação do antecedente como o complemento da oração anterior. Nas línguas ditas de sujeito nulo, contudo, investigações têm demonstrado que os falantes tendem a utilizar e interpretar a anáfora zero em posição de sujeito como correferente a um antecedente também em posição de sujeito, caso de (8b), e o pronome em posição de sujeito como correferente a outra entidade, caso de (8a).

Esta preferência, denominada Estratégia da Posição do Antecedente, foi identificada por Carminati (2002)CARMINATI, M. The processing of Italian subject pronouns. 2002. Tese (Doutoramento em Filosofia) - University of Massachusetts, Amherst, 2002. em relação à anáfora intrafrásica em língua italiana. Seu experimento foi replicado para a língua espanhola (ALONSO-OVALLE et al., 2002), comprovando a preferência dos falantes em utilizar e interpretar a anáfora zero de um sujeito gramatical (ao invés da anáfora pronominal) como correferente ao antecedente em posição de sujeito em contextos intrafrásicos ou interfrásicos, ambíguos ou não ambíguos.

Em português europeu, Lobo e Silva (2016)LOBO, M.; SILVA, C.. Ambiguidade pronominal em orações adverbiais do Português Europeu. Revista da Associação Portuguesa de Linguística, [s.l.], v.2, n.2, p. 319-338, 2016. investigaram a ambiguidade anafórica intrafrásica em orações subordinadas adverbiais com a conjunção quando. Os dados obtidos com participantes adultos demonstraram a preferência por interpretar o sujeito elidido na oração subordinada como correferente ao sujeito da oração principal e o sujeito pronominal na oração subordinada como correferente ao complemento direto da oração principal. Contudo, o conhecimento lexical dos verbos não foi considerado como possível influenciador. De acordo com as autoras, a interpretação do sujeito anafórico não seria influenciada pelo conhecimento lexical dos verbos em orações adverbiais.

Por outro lado, Morgado (2013)MORGADO, S. Qual a importância da informação semântica na resolução de sujeitos pronominais no processamento offline. In: ENCONTRO DA APL, 28., 2013, Coimbra. Actas [...], Coimbra: APL, 2013. p. 493-507. demonstra que a informação semântica é relevante para a resolução da ambiguidade. A autora utilizou para seu estudo verbos que exigissem sujeito e complemento humanos e analisou como o papel temático atribuído ao sujeito e ao complemento influencia a resolução da anáfora. Seu experimento intrafrásico foi construído com base em orações concessivas. As autoras também concluíram haver uma preferência pela resolução da anáfora zero como correferente ao sujeito da oração principal e da anáfora pronominal como correferente ao complemento da oração principal.

As pesquisas mencionadas até aqui investigaram a preferência de falantes nativos para a resolução de ambiguidade anafórica. A seguir, veremos alguns estudos que compararam a preferência de falantes nativos e de não nativos para a resolução da ambiguidade.

Em italiano como L1 e como L2, Sorace e Filiaci (2006)SORACE, A.; FILIACI, F. Anaphora resolution in near-native speakers of Italian. Second Language Research, London, v.22, n.3, p. 339-368, 2006. investigaram a resolução de anáfora e de catáfora pronominal e ainda de anáfora e catáfora zero em contextos intrafrásicos. O grupo que tinha o italiano como L1 era formado por 20 adultos, enquanto o grupo que tinha o italiano como L2 era formado por 14 adultos nativos do inglês. Este grupo começou a estudar italiano após a puberdade, apresentava um alto nível de proficiência na língua e vivia na Itália há pelo menos 18 meses.

Para a pesquisa, as autoras adaptaram 20 frases que haviam criado em um estudo anterior com Tsimpli e Heycock (TSIMPLI et al., 2004). No entanto, nenhum dos dois artigos explica critérios para a escolha dos verbos e das conjunções, apenas explicita que todas as frases eram formadas por uma oração principal que continha sujeito animado, verbo transitivo e complemento animado; e uma oração subordinada que continha pronome ou elipse, verbo e complemento. No exemplo que apresentaram, a oração subordinada adverbial antecede a oração principal e conecta-se a ela por meio da conjunção temporal enquanto, como se vê em (10):

(10) Enquanto elai,j,k veste o casaco, a mãei dá um beijo na filhaj.

Foram utilizadas, portanto, 5 frases com anáfora pronominal, 5 com catáfora pronominal, 5 com anáfora zero e 5 com catáfora zero. Para cada frase, havia três imagens que ilustravam as interpretações distintas. Após a leitura de cada frase, os participantes selecionaram a imagem que representava sua interpretação. As autoras verificaram que tanto os falantes nativos de italiano como os não nativos apresentaram resultados muito semelhantes na resolução de anáfora e catáfora zero, mas distintos na resolução de anáfora e catáfora pronominal, como se vê na seguinte tabela:

Tabela 1 – Resultados de Sorace e Filiaci (%)

Nativos Não nativos
Sujeito Complemento Outro Sujeito Complemento Outro
Anáfora Pronominal 8 82 11 27 60 13
Zero 51 44 5 46 43 11
Catáfora Pronominal 12 24 64 47 25 28
Zero 85 11 4 85 9 6
Fonte: Elaboração própria com base em Sorace e Filiaci (2006)SORACE, A.; FILIACI, F. Anaphora resolution in near-native speakers of Italian. Second Language Research, London, v.22, n.3, p. 339-368, 2006..

Percebe-se que os falantes não nativos relacionaram o pronome ao sujeito mais vezes do que os falantes nativos, possivelmente devido à preferência em inglês por interpretar o pronome em posição de sujeito da oração subordinada como correferente ao sujeito da oração principal. A maior diferença, no entanto, foi a preferência dos falantes nativos de italiano por resolver a catáfora pronominal relacionando o pronome a um outro referente, ou seja, nem ao sujeito nem ao complemento da oração principal.

Segundo as autoras, a violação da Estratégia da Posição do Antecedente, diferentemente de em casos com anáfora zero, é aceitável para a resolução de anáfora pronominal em frases não ambíguas como (11):

(11) Joãoi abraçou Mariaj quando elei aj viu.

Já Jegerski, VanPatten e Keating (2011) sugeriram que, em língua espanhola, a Estratégia da Posição do Antecedente não seja aplicável à anáfora pronominal. Eles investigaram a resolução de anáfora intrafrásica ambígua em inglês e espanhol como primeira língua (L1) e em espanhol como língua estrangeira (L2). Foram utilizadas 20 frases com ambiguidade anafórica em inglês e o dobro em espanhol, uma vez que, além da anáfora pronominal, a língua espanhola também permite a anáfora zero. Todos os exemplos apresentavam duas orações conectadas por alguma conjunção temporal: enquanto, quando, antes de ou depois de.

Os autores confirmaram que a maioria dos falantes nativos de espanhol interpretam a elipse do sujeito como correferente ao antecedente em posição de sujeito (72,83%). A interpretação da anáfora pronominal em espanhol como L1, no entanto, não concordou com a Estratégia da Posição do Antecedente. De acordo com os resultados obtidos, em torno de metade dos pronomes (52,39%) foram relacionados com o antecedente em posição de sujeito da oração principal, enquanto a outra metade (47,61%) foi relacionada ao antecedente em posição de complemento.

Em relação aos falantes de espanhol como língua estrangeira, os participantes foram divididos de acordo com o nível de proficiência intermédio e avançado. Os dois grupos apresentaram resultados semelhantes entre si e um pouco distintos dos resultados obtidos com os falantes nativos. Provavelmente devido à influência de sua primeira língua, a língua inglesa, os participantes interpretaram a anáfora zero como correferente ao sujeito em 60,68% dos casos, um pouco menos do que os falantes nativos, e interpretaram a anáfora pronominal como correferente ao sujeito em 55,23% dos casos, um pouco mais do que os falantes nativos.

De modo a comparar a resolução de ambiguidade anafórica em inglês e em espanhol como L1 e L2, Valenzuela, Liceras e Morelos (2011) realizaram dois estudos em que utilizaram 24 frases com orações subordinadas, das quais metade apresentava catáfora e a outra metade apresentava anáfora. Em língua espanhola, metade das anáforas/catáforas era elíptica e a outra metade era pronominal. Em língua inglesa, metade apresentava um pronome não enfático e a outra metade apresentava ênfase no pronome (que era representado por letras maiúsculas), como se vê respectivamente em (12a) e (12b):

(12a) Alexi esbarrou em Johnj enquanto elei,j estava andando em suai,j bicicleta.9 9 Original: “Alexi bumped into Johnj while hei,j was riding hisi,j bike.”

(13a) Soniai viu Marisaj enquanto ELAi,j estava escovando seusi,j dentes.10 10 Original: “Soniai saw Marisaj while SHEi,j was brushing heri,j teeth.”

Para ambas as línguas, foi solicitado que falantes nativos e aprendizes resolvessem casos de ambiguidade em relação ao sujeito da oração subordinada. Os dados em relação às respostas sobre quem era o sujeito das orações em inglês estão organizados na Tabela 2, a seguir:

Tabela 2
– Resultados de Valenzuela, Liceras e Morelos (%)

Percebeu-se que os falantes nativos de língua inglesa, ao responderem quem era o sujeito das orações subordinadas, não foram influenciados pela ênfase nos pronomes. Já os aprendizes de inglês, falantes nativos de espanhol, interpretaram a anáfora não enfática em inglês como interpretam a anáfora zero em espanhol, relacionando-a ao sujeito da oração principal; e a anáfora enfática em inglês como a anáfora pronominal em espanhol, relacionando-a ao complemento.

Com exceção de Morgado (2013)MORGADO, S. Qual a importância da informação semântica na resolução de sujeitos pronominais no processamento offline. In: ENCONTRO DA APL, 28., 2013, Coimbra. Actas [...], Coimbra: APL, 2013. p. 493-507., os estudos discutidos nesta seção não indicaram critérios semânticos para a escolha dos verbos utilizados nos questionários. Ademais, apresentaram resultados distintos em relação à resolução de ambiguidade anafórica. De modo a investigar a resolução de ambiguidade em português, inglês e espanhol, decidiu-se nesta investigação controlar melhor os critérios para elaboração das frases e comparar os dados obtidos tanto a partir de falantes nativos quanto a partir de aprendizes das três línguas.

Métodos

Inspirados pelo estudo de Valenzuela, Liceras e Morelos (2011), elaboramos um questionário com frases ambíguas em que, para cada frase, pedia-se que o estudante indicasse qual era o antecedente do sujeito da oração subordinada. Foram apresentadas sempre três alternativas:

(i) o sujeito da oração principal;

(ii) o complemento direto da oração principal;

(iii) uma outra entidade, distinta quer do sujeito quer do complemento direto da oração principal.

Pretendeu-se, com a investigação, determinar se haveria diferenças nas estratégias de resolução da ambiguidade intrafrásica dependendo das seguintes variáveis:

(i) L1 português, inglês ou espanhol;

(ii) L2 português, inglês ou espanhol;

(iii) situação de anáfora ou catáfora;

(iv) pronome ou elipse (no caso da língua inglesa, pronome com ou sem ênfase);

(v) influência ou não da relação entre os verbos.

Optou-se pela distinção entre o uso ou não da ênfase nos pronomes em inglês, utilizada anteriormente por Valenzuela, Liceras e Morelos (2011), de modo a identificar se os portugueses aprendizes de língua inglesa interpretam a diferença entre elipse e pronome em português como equivalente à diferença entre emprego enfático / não enfático do pronome em inglês. De acordo com Akmajian e Jackendoff (1970)AKMAJIAN, A.; JACKENDOFF, R. Coreferentiality and stress. Linguistic inquiry, Cambridge, v.1, n.1, p. 124-126, 1970., Szwedek (1980)SZWEDEK, A. The role of sentence stress in the interpretation of coreferentiality in English and Polish. In: FISIAK, J. (ed.). Theoretical Issues in Contrastive Linguistics. Amsterdam: John Benjamins Publishing, 1980. p. 377-387. e Luján (1986)LUJÁN, M. Stress and binding of pronouns. Chicago Linguistic Society, Chicago, v.22, n.2, p. 248-262, 1986., o pronome não enfático em posição de sujeito da oração subordinada seria correferente ao sujeito da oração principal, enquanto o emprego da ênfase no pronome impediria tal interpretação. No entanto, os autores fizeram essas propostas de análise sem terem recolhido dados com falantes nativos. Em contrapartida, Valenzuela, Liceras e Morelos (2011) concluíram com seu estudo que, para os falantes nativos de inglês, o emprego enfático do pronome não acarretava diferença significativa na resolução de ambiguidade. Decidimos, então, investigar com falantes nativos de inglês se o emprego enfático do pronome interferiria na identificação de seu antecedente.

Participaram desta pesquisa 23 estudantes da Universidade do Algarve, com idades compreendidas entre os 20 e os 30 anos, sendo a maioria do gênero feminino (4/5). A média de idade foi de aproximadamente 23 anos, com desvio-padrão de 3,3. Dos 23 estudantes, 13 eram falantes portugueses que cursavam o quinto semestre das licenciaturas em Línguas, Literaturas e Culturas ou Línguas e Comunicação, sendo 7 estudantes de espanhol, 10 de inglês (6 participantes estudavam tanto inglês como espanhol) e 2 de francês.

Entre os participantes, cinco eram nativos da língua espanhola aprendizes de português como língua estrangeira e cinco eram nativos da língua inglesa, todos estudantes na universidade portuguesa e residentes no país há menos de um ano. O grupo de falantes de inglês era composto por quatro mulheres e um homem, sendo quatro oriundos da América do Norte e um da Nova Zelândia; e o grupo de falantes de espanhol também era composto por quatro mulheres e um homem, sendo quatro oriundos da América Latina e um da Espanha.

De acordo com Toribio (2000)TORIBIO, A. Setting parametric limits on dialectal variation in Spanish. Lingua, Amsterdam, n.110, p. 315-341, 2000., a variedade caribenha da língua espanhola difere das outras variedades em relação ao Parâmetro do Sujeito Nulo. Em nossa pesquisa, não participaram falantes dessa variedade. Apesar do nosso interesse inicial em comparar como os participantes resolveriam a ambiguidade anafórica em L1 e em L2, não havia um número suficiente de falantes nativos de inglês que estudassem português como língua estrangeira. Por esta razão, não foi possível investigar como seria resolvida a ambiguidade em língua portuguesa por este tipo de informantes, tendo-se apenas analisado como tal foi feito em língua inglesa.

O questionário aplicado era composto por 16 frases ambíguas, que apresentavam dois possíveis antecedentes do mesmo gênero (e.g., Mateus assediou Jorge quando ele o entrevistou); e por 4 frases não ambíguas, que, devido à restrição de gênero, tinham apenas um antecedente possível (e.g., Diana beijou Daniel quando o visitou). As frases não ambíguas foram utilizadas como frases de controle para perceber se os participantes estavam efetivamente atentos ao questionário e empenhados em sua resolução.

A ordem de apresentação das frases era aleatória, de modo que não houvesse interferência dos investigadores nessa escolha, mas sempre a mesma para todos os participantes, de forma que o fator ordem de apresentação não interferisse na elicitação das respostas. Das 20 frases elaboradas para cada língua, 10 eram casos de anáfora e 10 de catáfora. Enquanto 5 anáforas e 5 catáforas eram realizadas por elipse em português e espanhol e por pronome pessoal não enfático em inglês; as outras 5 anáforas e 5 catáforas eram realizadas por pronome pessoal não enfático em português e espanhol e por pronome enfático em inglês, como se vê no apêndice APÊNDICE Frases em português 1.Ana insultou Carolina quando ela a chantageou. 2.Quando a chantageou, Ana insultou Carolina. 3.Maria abraçou Joana quando a contratou. 4.Quando ela a contratou, Maria abraçou Joana. 5.António estrangulou Carlos quando o torturou. 6.Quando ele o torturou, António estrangulou Carlos. 7.Mateus assediou Jorge quando ele o entrevistou. 8.Quando o entrevistou, Mateus assediou Jorge. 9.Júlia desrespeitou Paula quando a traiu. 10.Quando ela a traiu, Júlia desrespeitou Paula. 11.Laura subornou Lúcia quando ela a multou. 12.Quando a multou, Laura subornou Lúcia. 13.João algemou Pedro quando o sequestrou. 14.Quando ele o sequestrou, João algemou Pedro. 15.Lucas castigou Luís quando ele o confrontou. 16.Quando o confrontou, Lucas castigou Luís. 17.Artur ajudou Alice quando ela o chamou. 18.Quando o chamou, Artur ajudou Alice. 19.Diana beijou Daniel quando o visitou. 20.Quando ela o visitou, Diana beijou Daniel. Frases em espanhol 1.Ana insultó a Carolina cuando ella la chantajeó. 2.Cuando la chantajeó, Ana insultó a Carolina. 3.María abrazó a Juana cuando la contrató. 4.Cuando ella la contrató, María abrazó a Juana. 5.Antonio estranguló a Carlos cuando lo torturó. 6.Cuando él lo torturó, Antonio estranguló a Carlos. 7.Mateus acosó a Jorge cuando él lo entrevistó. 8.Cuando lo entrevistó, Mateus acosó a Jorge. 9.Julia irrespetó a Paula cuando la traicionó. 10.Cuando ella la traicionó, Julia irrespetó a Paula. 11.Laura sobornó a Lucía cuando ella la multó. 12.Cuando la multó, Laura sobornó a Lucía. 13.Juan esposó a Pedro cuando lo secuestró. 14.Cuando él lo secuestró, Juan esposó a Pedro. 15.Lucas castigó a Luís cuando él lo confrontó. 16.Cuando lo confrontó, Lucas castigó a Luís. 17.Arturo ayudó a Alice cuando ella lo llamó. 18.Cuando lo llamó, Arturo ayudó a Alice. 19.Diana besó a Daniel cuando lo visitó. 20.Cuando ella lo visitó, Diana besó a Daniel. Frases em inglês 1.Anna insulted Carolina when SHE blackmailed her. 2.When she blackmailed her, Anna insulted Carolina. 3.Mary hugged Joanna when she hired her. 4.When SHE hired her, Mary hugged Joanna. 5.Anthony strangled Carl when he tortured him. 6.When HE tortured him, Anthony strangled Carl. 7.Matthew harassed George when HE interviewed him. 8.When he interviewed him, Matthew harassed George. 9.Julia disrespected Paula when she betrayed her. 10.When SHE betrayed her, Julia disrespected Paula. 11.Laura bribed Lucy when SHE fined her. 12.When she fined her, Laura bribed Lucy. 13.John handcuffed Peter when he kidnapped him. 14.When HE kidnapped him, John handcuffed Peter. 15.Luke castigated Louis when HE confronted him. 16.When he confronted him, Luke castigated Louis. 17.Arthur helped Alice when SHE called him. 18.When she called him, Arthur helped Alice. 19.Diana kissed Daniel when she visited him. 20.When SHE visited him, Diana kissed Daniel. deste artigo.

Para a seleção dos verbos que foram utilizados na construção destas frases, utilizou-se a base de dados de construções léxico-sintáticas de verbos do português europeu ViPEr (BAPTISTA, 2013BAPTISTA, J. ViPEr: uma base de dados de construções léxico-sintáticas de verbos do Português Europeu. In: ENCONTRO DA APL, 28., 2013, Coimbra. Actas [...], Coimbra: APL, 2013. p. 111-129.), da qual foram selecionados os verbos que apresentam apenas sujeito e complemento direto, ambos obrigatoriamente humanos. Foram selecionados 16 verbos não ambíguos desta classe, que se construíam com sujeito agente genérico e complemento direto paciente, os quais foram utilizados para a elaboração das frases ambíguas. Visto que, nessa classe, muitos verbos denotam atos violentos, para as frases de controle foram utilizados 4 verbos de outras classes, de modo a “suavizar” a leitura do questionário.

Todas as orações principais foram construídas com um nome de pessoa em posição de sujeito, um verbo no pretérito perfeito e outro nome de pessoa em posição de complemento direto; nas orações subordinadas, empregou-se a conjunção temporal quando/cuando/when, um pronome pessoal reto de 3ª pessoa singular ou a sua elipse, outro verbo no pretérito perfeito e um pronome pessoal clítico de 3ª pessoa singular. As frases foram inicialmente escritas em português e, então, traduzidas ao espanhol e ao inglês. Conforme dito no início da seção, para cada frase perguntava-se quem era o sujeito do verbo da oração subordinada, e eram oferecidas três respostas alternativas: o nome em posição de sujeito da oração principal, o nome em posição de complemento direto da oração principal ou um outro referente. Apesar de a maioria dos estudos anteriores considerarem apenas as primeiras duas opções, com base nos resultados apresentados por Sorace e Filiaci (2006)SORACE, A.; FILIACI, F. Anaphora resolution in near-native speakers of Italian. Second Language Research, London, v.22, n.3, p. 339-368, 2006., decidiu-se acrescentar esta terceira alternativa. A seguir apresenta-se um exemplo de questão:

(13) Mateus assediou Jorge quando ele o entrevistou.

Quem entrevistou?

a) Mateus

b) Jorge

c) Outra pessoa

De modo a identificar possíveis influências das relações de sentido entre os verbos sobre a resolução de ambiguidade, construiu-se metade dos exemplos com pares de verbos considerados como “neutros” relativamente à interpretação anafórica, e a outra metade, na falta de melhor termo, foi considerada “tendenciosa”, isto é, pares em que a relação de sentido entre os verbos parece interferir na interpretação da anáfora. Assim, em (13), parece igualmente possível que o sujeito ou o complemento direto do verbo assediar possa ser o sujeito do verbo entrevistar. Esta frase, portanto, foi considerada neutra. Observe-se em contrapartida os seguintes exemplos de questões:

(14) Júlia desrespeitou Paula quando a traiu.

Quem traiu?

a) Júlia

b) Paula

c) Outra pessoa

(15) Laura subornou Lúcia quando ela a multou.

Quem multou?

a) Laura

b) Lúcia

c) Outra pessoa

Em (14), parece mais provável que o sujeito do verbo trair seja interpretado como correferente ao sujeito do verbo desrespeitar, ou seja, Júlia. Já em (15), parece mais provável que o sujeito do verbo multar seja interpretado como correferente ao complemento direto do verbo subornar, ou seja, Lúcia. Ao invés de tentar evitar tais possíveis influências, buscou-se analisar se a relação de sentido estabelecida entre os verbos das orações poderia influenciar a resolução da ambiguidade nas três línguas deste estudo, quer como L1, quer como L2.

O questionário foi aplicado online durante o mês de novembro de 2019. A investigadora visitou as salas de aula para pedir a participação dos estudantes na pesquisa, e cada professor enviou o link por e-mail a seus alunos. A participação no questionário foi voluntária e anônima. Os dados sociodemográficos solicitados foram os seguintes: gênero, idade, variedade da primeira língua (L1), número de anos de permanência em Portugal, língua de estudo na universidade (L2) e autoavaliação do nível de proficiência em compreensão escrita na segunda língua.

Com exceção dos estudantes nativos da língua inglesa, que responderam apenas ao questionário em L1, todos os outros participantes responderam ao questionário em L1, a um breve teste de compreensão escrita e ao questionário em L2. As questões de compreensão escrita estiveram de acordo com os descritores dos níveis do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR) (COUNCIL OF EUROPE, 2018COUNCIL OF EUROPE. Common European Framework of Reference for Languages: Learning, teaching, assessment: Companion volume with new descriptors. Strasbourg: Council of Europe Publishing, 2018.) especificados para o português no Referencial Camões11 11 Disponível em: https://www.instituto-camoes.pt/images/REFERENCIAL_ebook.pdf. Acesso em: 19 out. 2021. , para o espanhol no Plan Curricular del Instituto Cervantes12 12 Disponível em: https://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/plan_curricular/. Acesso em: 19 out. 2021. e para o inglês no English Profile13 13 Disponível em: https://www.englishprofile.org/english-grammar-profile/egp-online. Acesso em: 19 out. 2021. . Foram apresentadas 20 frases em cada língua com algum elemento faltando, que era geralmente o verbo ou a preposição regida pelo verbo, distribuídas equilibradamente pelos níveis A2, B1, B2 e C1. Para cada questão havia quatro opções e a alternativa Não sei, de modo a evitar que os estudantes dessem uma resposta ao acaso.

Embora a participação na pesquisa fosse anônima, no final do questionário, quem assim o desejasse poderia escrever seu nome e e-mail para contato, a fim de receber informações sobre os resultados do estudo. Dos 23 participantes, 16 solicitaram que lhes fossem enviados os resultados da pesquisa.

Resultados e discussão

Devido ao pequeno número de participantes (N=23), os quais se dividiam entre as três línguas de estudo (português, inglês e espanhol), decidimos realizar apenas análises estatísticas descritivas no software SPSS v.26 (IBM, 2019IBM. SPSS for Windows. Version 26, 2019.), não sendo possível realizar testes de correlações. A seguir, apresentamos a análise dos resultados.

No teste de proficiência em língua estrangeira, tanto os sete estudantes de espanhol quanto os cinco estudantes de português como L2 acertaram mais de 75% do teste, ou seja, mais de 15 questões. A média dos estudantes de português foi de 17,1, com desvio-padrão de 1, 3, e a média de espanhol foi de 18,1 questões, com desvio-padrão de 1,3. Já os estudantes de inglês, apesar de estarem no mesmo semestre do curso, apresentaram maior variação nos resultados, com uma média mais baixa, de 15, e um maior desvio-padrão, de 3,4. Como havia 10 estudantes de inglês, decidimos dividir suas respostas em dois grupos: um grupo de nível intermédio com cinco estudantes, que acertaram entre 9 e 15 questões no teste de proficiência, com média de 12,2 questões e desvio-padrão de 2,3, e um grupo de nível avançado com outros cinco estudantes, que acertaram mais de 15 questões, com média de 17,8 e desvio-padrão de 1,3, como se vê na Tabela 3, a seguir.

Tabela 3
– Testes de proficiência

Tanto para os testes de proficiência, quanto para os testes de ambiguidade, foram calculadas as médias dos grupos e, dado o N da amostra ser menor de 50 (MYERS; WELL; LORCH, 2013), foi realizado o teste de normalidade de Shapiro-Wilk (SHAPIRO; WILK, 1965SHAPIRO, S.; WILK, M. An analysis of variance test for normality. Biometrika, Oxford, v.52, n.3, p. 591-611, 1965.), tendo-se concluído pela normalidade da distribuição dos resultados, uma vez que p> 0,05.

Apresentamos a seguir as tabelas com as porcentagens de respostas dos nativos e aprendizes de cada língua para a resolução de anáfora nas seguintes situações:

(i) de anáfora (a expressão anafórica vem depois do antecedente) e de catáfora (a expressão anafórica vem antes do “antecedente”);

(ii) em que a anáfora é realizada com recurso a pronome (não enfático) ou por meio de elipse (anáfora zero), em português e espanhol; no caso do inglês, recorrendo ou a um pronome enfático ou um pronome não enfático;

(iii) com as expressões anafóricas na oração subordinada correferentes ao sujeito da oração principal, ou ao seu complemento, ou ainda a um outro referente;

(iv) em frases “neutras” ou “tendenciosas”, isto é, em que se presume que a escolha lexical dos verbos das duas orações é determinante para a tarefa.

De modo a destacar nas tabelas a Hipótese da Posição do Antecedente, os resultados que relacionam a anáfora zero (em inglês, a anáfora pronominal sem ênfase) ao sujeito da oração principal e a anáfora pronominal (anáfora pronominal com ênfase em inglês) ao complemento da oração principal aparecerão em negrito. Quando nenhum participante houver identificado o sujeito da oração subordinada adverbial como correferente a uma entidade (outro) distinta do sujeito e do complemento da oração principal, esta alternativa será omitida nas tabelas.

Começaremos por apresentar e discutir os resultados obtidos acerca da resolução de ambiguidade anafórica em português.

Conforme se vê na Tabela 4, a maioria dos falantes nativos resolveu o pronome como correferente ao complemento da oração principal e a elipse como correferente ao sujeito da oração principal, aparentando seguir a Estratégia da Posição do Antecedente. Já os aprendizes, cuja primeira língua é o espanhol, apesar de apresentarem um comportamento semelhante aos nativos na resolução da ambiguidade em contextos anafóricos, em contextos catafóricos não demonstraram preferência na resolução, provavelmente devido à maior dificuldade de processamento da catáfora.

Tabela 4
– Frases neutras em português (%)

Inverter a ordem das orações não parece influenciar os resultados dos falantes nativos de português, mas parece causar mais dúvidas na identificação do antecedente pelos aprendizes nas frases neutras. Nas frases tendenciosas, no entanto, tal observação não é aplicável.

Para não estender demasiadamente o teste, decidiu-se criar apenas 8 frases tendenciosas, isto é, em que a interação semântica do par de verbos envolvidos parecia determinar uma interpretação preferencial para a anáfora. Das 8 frases, metade (2 frases com anáfora zero e 2 com catáfora pronominal) indicava uma preferência na interpretação do sujeito da oração subordinada como correferente ao sujeito da oração principal, enquanto a outra metade (2 frases com anáfora pronominal e 2 com catáfora zero) indicava uma preferência na interpretação do sujeito da oração subordinada como correferente ao complemento da oração principal. As preferências esperadas estão marcadas na tabela com asterisco (*).

Vê-se, ao comparar os dados da Tabela 4 com os da Tabela 5, que a relação de sentido estabelecida entre os verbos influenciou a resolução de ambiguidade em português como L1 e como L2. Conforme dito anteriormente, as frases tendenciosas com anáfora pronominal e catáfora zero sugeriam que o antecedente ocupasse a posição de complemento direto na oração principal, enquanto as frases tendenciosas com catáfora pronominal e anáfora zero sugeriam que o antecedente ocupasse a posição de sujeito na oração principal.

Tabela 5
– Frases tendenciosas em português (%)

Enquanto, nas frases neutras, os aprendizes dividiram-se na resolução de catáfora, nas frases tendenciosas foram influenciados pela relação de sentido entre os verbos (com a hipótese marcada com asterisco), relevando a Estratégia da Posição do Antecedente (com a hipótese marcada com negrito). Percebe-se que os falantes nativos, no entanto, apresentaram mais resistência do que os aprendizes da língua especialmente para a interpretação da catáfora zero como correferente ao complemento da oração principal. Apesar de as frases tendenciosas influenciarem as respostas dos falantes nativos, eles ainda parecem ser influenciados pela Estratégia da Posição do Antecedente.

Agora vejamos os resultados em língua espanhola.

Conforme se vê na Tabela 6, em língua espanhola, os falantes nativos costumaram interpretar a anáfora e a catáfora zero como correferentes ao sujeito da oração principal, o que foi menos evidente para os aprendizes, cuja primeira língua é o português. A anáfora pronominal costumou ser interpretada como correferente ao complemento da oração principal, mas não pareceu haver uma interpretação preferida para a catáfora pronominal pelos falantes nativos.

Tabela 6
– Frases neutras em espanhol (%)

Nas frases neutras em espanhol, os falantes não demonstraram a mesma preferência em todos os contextos. Apesar de os participantes aparentarem seguir a Estratégia da Posição do Antecedente na maioria das situações, os nativos estiveram indecisos quanto à catáfora pronominal, e os aprendizes estiveram indecisos quanto à catáfora zero. Os resultados demonstram a maior dificuldade na resolução de catáfora, mencionada anteriormente, único contexto em que a alternativa outro foi também escolhida.

Em relação às frases tendenciosas, tanto nas questões em português como em espanhol, os participantes hispânicos foram mais influenciados pela relação de sentido entre os verbos do que os falantes portugueses. Percebe-se nos dados da Tabela 7, inclusive, que os aprendizes interpretaram a catáfora zero de modo oposto aos falantes nativos. Enquanto os nativos deram mais importância à semântica para a escolha do antecedente, os aprendizes deram mais importância à sintaxe nas frases com catáfora zero.

Tabela 7
– Frases tendenciosas em espanhol (%)

Comparando os resultados em ambas as línguas, nas frases tendenciosas com catáfora zero, que sugeria uma interpretação do antecedente como o complemento direto da oração principal, os falantes portugueses marcaram essa opção em 50% dos casos em língua portuguesa e em 14,3% dos casos em língua espanhola, enquanto os hispânicos marcaram essa opção em 90% dos casos em língua portuguesa e em 80% dos casos em língua espanhola.

As frases neutras com catáfora também estiveram relacionadas a uma maior dificuldade dos aprendizes em identificar o antecedente. Em português, os aprendizes dividiram-se igualmente entre a interpretação do antecedente da catáfora como sujeito ou complemento direto da oração principal. Em espanhol, enquanto os falantes nativos dividiram-se em relação à interpretação do antecedente da catáfora pronominal, os aprendizes dividiram-se igualmente entre a interpretação do antecedente da catáfora zero como sujeito ou complemento direto da oração principal.

Percebe-se, ao analisar as tabelas anteriores, que há uma preferência tanto para os nativos quanto para os aprendizes pela anáfora zero ser correferente ao sujeito da oração principal e pela anáfora pronominal ser correferente ao complemento da oração principal. Em relação à catáfora, no entanto, a preferência não é tão evidente. Isto justifica-se também pela influência das frases tendenciosas, que, em contextos catafóricos, sugeriam uma interpretação contrária à da Estratégia da Posição do Antecedente.

A relação entre a frase, o antecedente e a ordem das orações parecem influenciar a resolução de ambiguidade em português e espanhol. Já para os falantes nativos da língua inglesa, a identificação do antecedente não parece ser influenciada por tais variáveis.

Como se vê nas Tabelas 8 e 9, não há diferença significativa na resolução da ambiguidade dependendo do tipo de antecedente ou da ordem das orações em inglês. Apesar de as frases tendenciosas terem influenciado a resolução de anáfora pelos falantes nativos quando a interpretação tendenciosa era direcionada ao complemento direto da oração principal, a maioria dos falantes nativos tende a interpretar o pronome como correferente ao sujeito da oração principal, como haviam demonstrado os resultados de Valenzuela, Liceras e Morelos (2011).

Tabela 8
– Frases neutras em inglês (%)

Tabela 9
– Frases tendenciosas em inglês (%)

A variável significativa na comparação dos resultados em língua inglesa, no entanto, ao contrário de nas línguas portuguesa e espanhola, foi o nível de proficiência dos participantes. Não foi possível identificar a diferença entre os níveis de proficiência nos grupos de língua portuguesa e língua espanhola, pois os grupos de falantes não nativos apresentaram nível de proficiência avançado na compreensão escrita em L2. Em relação aos falantes não nativos de língua inglesa, contudo, como havia dois grupos com níveis de proficiência distintos (um intermédio e um avançado), são encontradas mais diferenças ao comparar os resultados do grupo intermédio com os resultados do grupo avançado e dos falantes nativos.

Um resultado comum nas três línguas foi a escolha geral dos participantes por relacionar o sujeito da oração subordinada apenas ao sujeito ou ao complemento da oração principal. No estudo de Sorace e Filiaci (2006)SORACE, A.; FILIACI, F. Anaphora resolution in near-native speakers of Italian. Second Language Research, London, v.22, n.3, p. 339-368, 2006., os participantes interpretaram a catáfora pronominal como correferente a uma entidade não mencionada na oração principal. No entanto, as autoras apresentaram imagens com três possíveis referentes para as frases ambíguas, e a ilustração dos três referentes pode ter influenciado a resolução da ambiguidade. Como nosso estudo não contou com figuras, apenas com as frases ambíguas, os participantes não tiveram uma interpretação preferencial de relacionar a anáfora ou catáfora a um referente que não apresentasse um antecedente no discurso.

Nas frases em língua inglesa, nenhum participante escolheu um antecedente que não fosse o sujeito ou o complemento direto da oração principal. Já nos resultados de língua portuguesa e de língua espanhola, apesar de não ser significativa, a resolução da ambiguidade anafórica como correferente a uma entidade que não fosse sujeito nem complemento da oração principal ocorreu somente em relação à catáfora pronominal. Nas frases neutras em espanhol, houve essa escolha tanto no grupo de L1 como de L2. Os falantes de português como L1 também selecionaram essa opção nas frases tendenciosas em português.

Considerações finais

O presente estudo investigou as estratégias utilizadas na resolução de ambiguidade anafórica em português, inglês e espanhol como L1 e L2. Concluiu-se que os falantes da língua inglesa preferem interpretar o pronome anafórico em posição de sujeito da oração subordinada como correferente ao sujeito da oração principal, independentemente de o pronome receber ou não ênfase. Já os aprendizes com nível de proficiência intermédio em inglês distanciaram-se significativamente dos falantes nativos e dos aprendizes com nível de proficiência avançado.

Confirmou-se que, em relação à anáfora pronominal e à anáfora zero, os falantes de português e espanhol seguem a Estratégia da Posição do Antecedente, interpretando a anáfora zero em posição de sujeito da oração subordinada como correferente ao sujeito da oração principal e a anáfora pronominal como correferente ao complemento direto. Nas frases neutras com catáfora zero, percebeu-se uma grande dificuldade por parte dos aprendizes de português e espanhol em identificar o antecedente.

Apesar de, em geral, os participantes escolherem apenas como antecedentes o sujeito ou o complemento da oração principal, a escolha de outro referente ocorreu apenas nas frases com catáfora pronominal em português e espanhol. A inversão da ordem das orações, portanto, parece dificultar a resolução de ambiguidade.

Esta análise foi baseada em um estudo piloto realizado em novembro de 2019 com uma pequena amostra de 23 estudantes da Universidade do Algarve, em Portugal. Em 2020, a investigação será realizada com uma amostra maior tanto no Brasil como em Portugal, de modo a comparar dados obtidos com participantes de distintos níveis de proficiência e de duas variedades do português: português brasileiro e português europeu.

A pesquisa desenvolvida contribui para o estado da arte não apenas por explicitar critérios para a construção das frases e por realizar um estudo comparativo em três línguas, mas por demonstrar com dados quantitativos que a relação de sentido entre os verbos influencia a resolução da ambiguidade, especialmente para os falantes hispânicos. Os dados obtidos neste estudo, posteriormente, serão comparados aos dados com uma amostra maior, de modo a verificar a consistência dos resultados.

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer a todas as pessoas que contribuíram para este estudo ao responder ou divulgar o questionário, bem como à instituição onde foi realizada a pesquisa, a Universidade do Algarve. Também gostaríamos de agradecer a Professora Elena Valenzuela, pela disponibilização de material de sua investigação, em que nos inspiramos em parte para este trabalho.

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  • 1
    Original: “Johni hit Billj and hei,j ran away.”
  • 2
    Original: “Johni hit Billj and Mary kicked himi,j.”
  • 3
    Original: “Brenda and Harriet were starring in the local musical. Bill was in it too and none of them were very sure of their lines or the dance steps. Brendai copied Harrietj and Bill watched heri,j.”
  • 4
    Original: “Maríai hace lo que ellak quiere.”
  • 5
    Original: “Maríai hace lo que Øi quiere.”
  • 6
    Original: “Maryi does what shei,k wants.”
  • 7
    Original: *“Mary does what Ø wants.”
  • 8
    Original: “Johni hit Billj and hei,j ran away.”
  • 9
    Original: “Alexi bumped into Johnj while hei,j was riding hisi,j bike.”
  • 10
    Original: “Soniai saw Marisaj while SHEi,j was brushing heri,j teeth.”
  • 11
    Disponível em: https://www.instituto-camoes.pt/images/REFERENCIAL_ebook.pdf. Acesso em: 19 out. 2021.
  • 12
  • 13

APÊNDICE

Frases em português

1.Ana insultou Carolina quando ela a chantageou.

2.Quando a chantageou, Ana insultou Carolina.

3.Maria abraçou Joana quando a contratou.

4.Quando ela a contratou, Maria abraçou Joana.

5.António estrangulou Carlos quando o torturou.

6.Quando ele o torturou, António estrangulou Carlos.

7.Mateus assediou Jorge quando ele o entrevistou.

8.Quando o entrevistou, Mateus assediou Jorge.

9.Júlia desrespeitou Paula quando a traiu.

10.Quando ela a traiu, Júlia desrespeitou Paula.

11.Laura subornou Lúcia quando ela a multou.

12.Quando a multou, Laura subornou Lúcia.

13.João algemou Pedro quando o sequestrou.

14.Quando ele o sequestrou, João algemou Pedro.

15.Lucas castigou Luís quando ele o confrontou.

16.Quando o confrontou, Lucas castigou Luís.

17.Artur ajudou Alice quando ela o chamou.

18.Quando o chamou, Artur ajudou Alice.

19.Diana beijou Daniel quando o visitou.

20.Quando ela o visitou, Diana beijou Daniel.

Frases em espanhol

1.Ana insultó a Carolina cuando ella la chantajeó.

2.Cuando la chantajeó, Ana insultó a Carolina.

3.María abrazó a Juana cuando la contrató.

4.Cuando ella la contrató, María abrazó a Juana.

5.Antonio estranguló a Carlos cuando lo torturó.

6.Cuando él lo torturó, Antonio estranguló a Carlos.

7.Mateus acosó a Jorge cuando él lo entrevistó.

8.Cuando lo entrevistó, Mateus acosó a Jorge.

9.Julia irrespetó a Paula cuando la traicionó.

10.Cuando ella la traicionó, Julia irrespetó a Paula.

11.Laura sobornó a Lucía cuando ella la multó.

12.Cuando la multó, Laura sobornó a Lucía.

13.Juan esposó a Pedro cuando lo secuestró.

14.Cuando él lo secuestró, Juan esposó a Pedro.

15.Lucas castigó a Luís cuando él lo confrontó.

16.Cuando lo confrontó, Lucas castigó a Luís.

17.Arturo ayudó a Alice cuando ella lo llamó.

18.Cuando lo llamó, Arturo ayudó a Alice.

19.Diana besó a Daniel cuando lo visitó.

20.Cuando ella lo visitó, Diana besó a Daniel.

Frases em inglês

1.Anna insulted Carolina when SHE blackmailed her.

2.When she blackmailed her, Anna insulted Carolina.

3.Mary hugged Joanna when she hired her.

4.When SHE hired her, Mary hugged Joanna.

5.Anthony strangled Carl when he tortured him.

6.When HE tortured him, Anthony strangled Carl.

7.Matthew harassed George when HE interviewed him.

8.When he interviewed him, Matthew harassed George.

9.Julia disrespected Paula when she betrayed her.

10.When SHE betrayed her, Julia disrespected Paula.

11.Laura bribed Lucy when SHE fined her.

12.When she fined her, Laura bribed Lucy.

13.John handcuffed Peter when he kidnapped him.

14.When HE kidnapped him, John handcuffed Peter.

15.Luke castigated Louis when HE confronted him.

16.When he confronted him, Luke castigated Louis.

17.Arthur helped Alice when SHE called him.

18.When she called him, Arthur helped Alice.

19.Diana kissed Daniel when she visited him.

20.When SHE visited him, Diana kissed Daniel.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    29 Abr 2020
  • Aceito
    20 Out 2020
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