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Palavras dos editores convidados. Literatura e práticas translíngues

Guest editors’ words. Literature and translingual practices

Desde o conceito primordial de “extraterritorialidade”, cunhado por SteinerSTEINER, George. Extraterritorial. Ensayos sobre literatura y la revolución lingüística. Trad. Edgardo Russo. Buenos Aires: Siruela, 2002. em 1969, a atenção teórica aos escritos que desafiam a continuidade entre território, linguagem e literatura tem aumentado. Para dar alguns exemplos, advindos de distintas tradições e línguas, poderíamos citar o já central Borderland/La frontera, de Gloria Anzaldúa (1987ANZALDÚA, Gloria. Borderlands/La frontera. The New Mestiza. San Francisco: Aunt Lute Books, 1987.), sobre a emergência conflitante do corpo, do gênero e da(s) língua(s) em espaços marcados por inúmeros processos coloniais e exploratórios; os estudos de Ottmar Ette (2018ETTE, Ottmar. EscreverEntreMundos: literaturas sem morada fixa. Trad. Rosani Umbach; Dionei Mathias; Teruco Spengler. Curitiba: Ed. UFPR, 2018.) sobre as “literaturas sem residência fixa”; o trabalho de Myriam Suchet (2014SUCHET, Myriam. L’Imaginaire hétérolingue. Ce que nous apprennent les textes à la croisée des langues. Paris: Garnier, 2014.) sobre o “heterolinguismo”; o de Mary Louise Pratt (2014PRATT, Mary Louise. Lenguas viajeras: hacia una imaginación geolingüística. Cuadernos de Literatura, vol. xviii, n. 36, 2014: 238-253.) sobre as “poéticas translíngues”; os de Franca Buera (2017BUERA, Franca. Translinguisme littéraire: frontières, représentations et définitions. Cosmo. Comparative Studies, Rivista del Centro Studi Arti della Modernità, n.11, 2017: 9-18.) e Kellman (2000KELLMAN, Steven. The translingual imagination. Lincoln: Univ. Nebraska Press, 2000.) sobre o “translinguismo literário”; ou o de Oustinoff (2001OUSTINOFF, Michaël. Bilinguisme d'ecriture et autotraduction. Julien Green, Samuel Beckett, Vladimir Nabokov. Paris: L'Harmattan, 2001.) sobre a “autotradução”, prática inclusive frequente em autores deslocados linguística e/ou territorialmente. Tal perspectiva crítica, se por um lado dialoga (por sua ênfase em circuitos de análise que extrapolam as fronteiras regionais/nacionais) com estudos que retrabalham criticamente a ideia de “literatura mundial” - à maneira de Siskind (2016SISKIND, Mariano. Deseos cosmopolitas. Modernidad global y literatura mundial en América latina. México: FCE, 2016.) -, por outro, acompanha uma série de trabalhos que, ao revisitar e/ou evidenciar a condição bilíngue ou poliglota de diferentes autores latino-americanos, vem mobilizando a desestabilização do atual consenso crítico sobre suas obras, tal como ocorre, por exemplo, nas análises de Burneo Salazar (2017BURNEO SALAZAR, Cristina. Acrobacia del cuerpo bilíngüe. La poesia de Alfredo Gangotena. Leiden: Almenara, 2017.) sobre Alfredo Gangotena e de Delfina Cabrera (2016CABRERA, Delfina. Las lenguas vivas. Zonas de exilio y traducción en Manuel Puig. Buenos Aires: Prometeo, 2016.) sobre Manuel Puig. Como alerta Elena Palmero González, a experiência de mundo contemporânea acarreta o desafio de um exercício analítico capaz de enfrentar a metafísica da origem, rompendo com “a ideia de uma suposta unidade essencial da cultura” (GONZÁLEZ, 2019GONZÁLEZ, Elena. Escritas translíngues e comunidade literária hispano-americana. In: Lisboa de Mello, Ana Maria; Andrade, Antonio (org.). Translinguismo e poéticas do contemporâneo. Rio de Janeiro: 7Letras , 2019: 96-114., p. 97).

Enquanto tema, a discussão sobre os atravessamentos linguísticos, evidentemente, não é nova. A heterogeneidade e a alteridade linguísticas sempre habitaram e ressoaram no arquivo latino-americano. Isto talvez pelo fato de, como assinalou Octavio Paz, a língua que falamos ser “una lengua desterrada de su lugar de origen” (PAZ, 1991PAZ, Octavio. Alrededores de la literatura hispanoamericana. In: Obras Completas [Tomo 3]. México: FCE, 1991: 49-57., p. 51). As “ensaladas” de Sor Juana - estudadas por Martínez-San Miguel (1997MARTÍNEZ-SAN MIGUEL, Yolanda. Saberes americanos: la constitución de una subjetividad colonial en los villancicos de Sor Juana. Revista Iberoamericana, vol. LXIII, núm. 181, Octubre-Diciembre, 1997: 631-648.), Flores (2014FLORES, Enrique. Sor Juana chamana. México: UNAM, 2014.), entre outros - seriam um excelente exemplo desta extraterritorialidade constituinte. Em tais composições, podem se ouvir octossílabos e hexassílabos cantados em náhuatl, latim, latim macarrônico, náhuatl espanholado (ou melhor, “acriollado”), espanhol “nahuatlado”, falas de “negrillos” (como consta em Góngora e Calderón), “portuñoles” que imitam Camões (ou talvez, Colombo), bem como vozes de mestiços, bascos e outras flores do vasto Império. E isto sem passar ainda para a área andina, onde as mediações tradutórias do Inca Garcilaso - exemplarmente lido e formalizado por Cornejo Polar - encetam não só um modelo, talvez paradigmático, do translinguismo latino-americano, mas também ressonâncias modernas fundamentais (entre muitas outras) que se percebem, por exemplo, em Vallejo e Arguedas. Do sempre furtivo e pouco considerado século XVIII, atentemos ao Iluminismo que nos chega em francês. E do medular XIX, escutemos o francês de María de las Mercedes Santa Cruz y Montalvo, Condesa de Merlin; a vida - traduzida ao inglês e estudada por Molloy (2016MOLLOY, Sylvia. Vivir entre lenguas. Buenos Aires: Eterna Cadencia, 2016.) - de Juan Francisco Manzano, ou as memórias em inglês - traduzida ao espanhol-criollo-pampeano - de Hudson, outro dos objetos preferidos da pesquisadora e escritora argentina. Mas se não estamos falando só de casos, mas de toda uma estética, toda uma tentativa, nas palavras de Foffani (2004FOFFANI, Enrique. Ensayo sobre la frontera. La lengua poética latinoamericana: de Vallejo a Rubén Darío. Revista Lucera, no. 5, 2004: 24-29., p. 26), de “extraterritorialização linguística e cultural”, de “superação das fronteiras regionais da língua”, voltemos a ouvir - graças aos agenciamentos entre ritmo e sujeito propostos por Meschonnic (2009MESCHONNIC, Henri. Critique du rythme, Anthropologie historique du langage. Lagrasse: Verdier-poche, 2009.) - os ritmos franceses que no modernismo hispano-americano, segundo Francisco Gavidia (em um texto em que se figura como mestre de Rubén Darío), chegaram a comover “la vieja contextura de la frase castellana, hija del ontologismo inmemorial español” (GAVIDIA, 1904GAVIDIA, Francisco. Historia de la introducción del verso alejandrino francés en el castellano. La Quincena, San Salvador, año I, tomo II, n. 19, 1904: 209-213, p. 212).

Essa tradição heterolíngue, nos termos de Suchet (2014SUCHET, Myriam. L’Imaginaire hétérolingue. Ce que nous apprennent les textes à la croisée des langues. Paris: Garnier, 2014.), será mobilizada fervorosamente pelas vanguardas latino-americanas (SCHWARTZ,1995SCHWARTZ, Jorge. Lenguajes utópicos. ‘Nwestra ortografia bangwardista’: tradición y ruptura en los proyectos linguísticos de los años veinte. In: Pizarro, Ana (org.). América Latina: Palavra, Literatura e Cultura [Vol. 3]. São Paulo/Campinas: Memorial da América latina/Unicamp, 1995: 31-56. ), gerando ecos na literatura do século XX que chegam até nossos dias, e não por mero experimentalismo. Em dias de intensas migrações não só para o norte do Rio Grande, mas também das migrações (intra) latino-americanas (das quais são emblema os milhões de venezuelanos espalhados em vários países da América Latina), em tempos de proclamada liberdade para a circulação de capital e mercadorias, mas não de pessoas (cidadãos-migrantes de nenhum Estado) - retornemos por um instante ao campo cultural mexicano e pensemos nos túmulos de San Fernando na necroescrita de Sara Uribe (2012URIBE, Sara. Antígona González. Oaxaca: Sur Ediciones, 2012.) ou ainda na relevância sintomática do conceito de “exofonia” em Rivera Garza (2013RIVERA GARZA, Cristina. Los muertos indóciles. Necroescritura y desapropiación. México: Tusquets, 2013.) -, nesse cenário abrir-se à escuta de uma sonoridade outra, ouvir o arquivo nas suas dissonâncias, é um gesto político fundamental.

O tema não é alheio ao Brasil, que tem enfatizado nestas últimas décadas o estudo de materiais advindos de territórios e subjetividades ligadas à dinâmica fronteiriça. Citemos, a título de exemplificação, a Ação Poética Tríplice Fronteira, o movimento “portunhol selvagem” (idealizado pelo poeta brasiguaio Douglas Diegues), sem falar de Wilson Bueno e seu célebre Mar Paraguayo, considerado um marco das poéticas translíngues no contexto brasileiro - livro que aliás fascinou Perlongher, para quem o portunhol constituía um tipo de língua poética. Tal dimensão fronteiriça pode ser pensada também na clave da tensão entre o nacional e o cosmopolita que atravessa a literatura brasileira. Nesta direção, ressaltamos, por exemplo, a ênfase dada por Haroldo de Campos, no experimento concretista/neobarroco de Galáxias, à passagem sub-reptícia do português para o alemão, o inglês, o espanhol, o italiano etc. Em tal operação, Haroldo projeta Sousândrade como seu precursor (no sentido borgeano), fazendo sobressair, por meio da inscrição na estética pós-vanguardista, um posicionamento reativo ao caráter monolíngue que vem balizando a configuração do cânone.

Na esteira dessa reflexão, encontram-se ainda problematizações contemporâneas que colocam em xeque glotopolíticas e políticas literárias ligadas à matriz epistemológica eurocêntrica, as quais corroboram historicamente o apagamento etnocida da multiplicidade de línguas/culturas ameríndias. Tal questão comparece em nosso dossiê através da discussão a respeito da poética ye’kwana (do circum-Roraima), bem como no debate em relação aos processos tradutórios, desenvolvidos nos Estados Unidos por Jerome Rothenberg, no âmbito da etnopoesia.

Voltando à indagação sobre o (trans)fronteiriço que domina em grande parte o debate no Brasil, é interessante notar que tais poéticas, assentadas num fervoroso trabalho com o significante (de alguma maneira, herdeiro da transgressão das vanguardas: pensemos em Xul Solar e Churata, autores trabalhados em nosso dossiê), convivem contemporaneamente, ao menos num contexto latino-americano mais amplo, com outras experiências de deslocamento entre vários idiomas, as quais incitam uma discursividade que, mesmo indiciando os efeitos desses movimentos na subjetividade, possui diferentes graus de intervenção material na língua. Pensemos aqui, por exemplo, em Vivir entre lenguas, de Sylvia Molloy, livro ensaístico-autobiográfico em que a autora, falante de espanhol, francês e inglês, afirma “Yo nunca hablé con acento, quiero decir acento que delatara que pasaba de un idioma a otro” (MOLLOY, 2016MOLLOY, Sylvia. Vivir entre lenguas. Buenos Aires: Eterna Cadencia, 2016., p. 60). Pensemos também no trabalho de escavação de distintas variedades linguísticas do idioma (o português brasileiro) em João Cabral, cuja obra apresenta facetas, debatidas neste dossiê, que nos possibilitam discutir, com Deleuze e Guattari (1995DELEUZE, Gilles; GUATARRI, Félix. Postulados da linguística. In: Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia [Vol. 2]. Trad. Ana Lúcia de Oliveira; Lúcia Cláudia Leão. São Paulo: Editora 34, 1995: 11-60., p. 41), o modo como, nas dobras dos agenciamentos de enunciação, a literatura pode promover um processo de “variação contínua”, capaz de engendrar uma língua menor dentro de uma língua maior. Trata-se de uma política da escrita construída já não sobre o entremeio, e sim sobre a escolha de escrever em uma língua ou em outra, mas com ecos, memórias e ruídos de uma língua na outra: uma passagem que habilita a fina reflexão autobiográfica/ensaística sobre as travessias e mediações entre línguas. No dossiê aqui apresentado, podemos encontrar rastros de tal perspectiva na obra de Nancy Huston e nas reflexões autotradutórias de Patrícia Lavelle. Além disso, as contrastantes poéticas (mais metalinguisticamente reflexiva uma e centralmente aportunholada outra) de Santiago Sylvester e de Fabián Severo, abordadas na seção de tradução que acompanha este volume da Alea, sinalizam essas variadas formas de representação do translíngue.

As ponderações críticas sobre tais materialidades, como demonstra nosso próprio dossiê, não são neutras nem unívocas. Elas ora sublinham, ora apagam tensões e potencialidades, ao oscilarem entre certo entendimento meramente “gozoso” desses entremeios (como se a escrita translíngue fosse uma solução felizmente sincrética dos conflitos entre línguas e culturas) e a perscrutação do fundo de violência, diferença e falta sobre o qual essas entreme[di]adas línguas se levantam. Pensamos que tanto a poética de Lupette quanto a narrativa de Abdellah Taïa, ou os romances chilenos recentes de Alejandra Costamagna, Alejandro Zambra e Daniela Catrileo, todos abordados no dossiê, podem ser considerados objetos que estimulam a reflexão crítica nesta direção, não à toa também escolhida por nós como foco da entrevista com Maria José Coracini que acompanha este número da revista. Trata-se de um olhar menos utópico daquilo que Vilém Flusser - judeu de Praga exilado em São Paulo durante a Segunda Guerra - chamou de posição “extralinguística”: um lugar, ou melhor, um “pairar” (como escreve Flusser em seu ousado português) que, embora possa ser muito rico intelectualmente, condena o sujeito a um “jogo do suicídio constante” (FLUSSER, 2007FLUSSER, Vilém. Bodenlos: uma autobiografia filosófica. São Paulo: AnnaBlume, 2007., p. 69). É importante notar que tal reflexão se produz no bojo do processo de perlaboração da experiência traumática dos totalitarismos europeus do século XX, o que em nosso dossiê ganha distintas inflexões na leitura de Celan e, de alguma maneira, na reflexão sobre os efeitos do exílio na crítica de Terracini. Dessa maneira, nossa proposta foi organizada num movimento a contrapelo que tenta partir do contemporâneo em direção a reflexões em torno das crises da linguagem resultantes da violência histórica da modernidade, atentando para distintas ancoragens espaçotemporais e zonas linguístico-culturais.

Nesse sentido, o artigo “A escrita corsária de Abdellah Taïa”, de Júnior Vilarino, começa rendendo merecida homenagem ao trabalho de Edson Rosa da Silva, partindo de uma pista aberta pelo olhar crítico deste ensaísta fundador da revista Alea a respeito da necessidade de se pensar as literaturas francófonas num terreno fundamentalmente plurilíngue. Vilarino dedica-se à análise da obra do escritor contemporâneo marroquino Abdellah Taïa, partindo da metáfora dos corsários contadores como uma espécie de alegoria para se pensar a escrita deste autor, trazendo à baila seu diálogo sagital com as obras de Jean Genet e André Gide. O texto coloca em tela, assim, uma complexa rede de conexões e tensões entre práticas translíngues, intertextualidades, relações transculturais e performatividades de gênero, na interface da francofonia com o mundo árabe.

Já em “nombre/que no corresponde: botánica poética”, Micaela van Muylem apresenta-nos o escritor, poeta e tradutor franco-alemão radicado na Argentina Léonce Lupette (Göttingen, 1986), que em seu livro Serbal (2019) propõe uma poética forjada com o heterogêneo material de memórias de várias línguas e discursos. A experiência lembra-nos, a princípio, dada sua disposição gráfica e procedimentos, alguns textos do concretismo brasileiro. Recorda ainda, devido aos incessantes jogos de sentido entre espanhol, alemão, francês, inglês e português (entre outras línguas e variedades), o portunhol de Wilson Bueno ou Perlongher (cujo poema “Cadáveres”, Lupette inclusive traduziu para o alemão). Van Muylem aborda Serbal a partir da impossível pertença do sujeito a uma identidade plena, algo que nesta poética é assumido através da impossibilidade de dizer o nome de forma unívoca. A estudiosa convoca, para categorizar esta falta e viver nas diferenças, o conceito de comunidade em Agamben (1996AGAMBEN, Giorgio. La comunidad que viene. Valencia: Pre-textos, 1996. ), que talvez a imagem do grumo, enquanto figura da “aglutinação gráfica, sonora e sensorial”, consiga plasmar, visto que não hierarquiza nem regulariza os materiais que coexistem em sua formação. Tanto o conceito quanto a figura ajudam-nos a pensar a forma como Serbal subverte o impulso classificatório e ordenador dos livros de botânica (e ainda, o impulso colonizador que acompanha essa ciência, como nos ensinou Pratt), mesmo se apresentando como um livro de botânica; um raro livro que, como aponta van Muylem, é feito pela de-composição de seu próprio material, essas línguas que, parafraseando Lord Chandlos (discretamente citado pela autora), se desmancham ou desfazem como fungos podres na boca.

Sem esse gesto de propositada mistura linguística, mas talvez com uma igual convicção na falta de plenitude em alguma língua determinada, o próximo artigo, “Perder el Norte: Nancy Huston y el imaginario de las lenguas”, trata do trânsito de uma língua para outra. Neste trabalho, Maya González Roux analisa, de forma central, o livro de reflexões autobiográficas Nord perdu, de Nancy Huston, escritora nativa de inglês e migrante para a língua francesa. A partir da experiência de deslocamento biográfico e linguístico de Huston (uma das signatárias do manifesto “Pour une littérature-monde en français”, de 2007), González Roux discorre sobre o caráter difuso do conceito de língua materna em vidas que perderam a ilusão de continuidade monolíngue, considerada por ela como uma espécie de sedentarismo linguístico. Sobre as experiências ancoradas em um idioma que já não se fala e os sentidos que se trasladam de uma língua a outra, sobre os acentos e sonoridades outras que reaparecem no idioma de adoção, Huston tem o desafio de criar uma nova língua capaz de dizer o fato de ser já duas pessoas (ou a mesma) em línguas diferentes. Nesse sentido, mesmo sendo uma tarefa fatigante, a autotradução é apresentada por Huston como uma “esperança para a humanidade”, já que ofereceria a possibilidade de uma reinvenção inusitada dos textos e das próprias experiências. Com seu resiliente sotaque, que Huston parece fazer questão de manter, a autora defende um estilo que é também uma posição política: a de tomar posição diante do avassalador monolinguismo francês - aquele que, como se sabe, o próprio Derrida (1996DERRIDA, Jacques. Le monolinguisme de l’autre ou la prothèse d’origine. Paris: Galilée, 1996.), em O monolinguismo do outro, traz à tona quando, expondo a “prótese” de sua própria subjetivação, declara não tolerar o sotaque do sul da França no âmbito acadêmico.

A conflituosidade do monolinguismo aparece em outro artigo que leva essa questão para o território e contemporaneidade latino-americanos. Lorena Amaro, em “Lenguas que estallan: traducción y rebelión de la ‘normalidad’ lingüística en tres narrativas pre y post estallido social chileno”, estuda três livros que figuram, de forma mais ou menos explícita, diversas contradições da sociedade chilena especialmente relevantes no atual momento político: El sistema del tacto, de Alejandra Costamagna; Poeta chileno, de Alejandro Zambra; e Piñen, de Daniela Catrileo. A pesquisadora estuda estes romances a partir de três eixos bem definidos: nomadismos, traduções e extraterritorialidades. A partir do primeiro deles, debruçado sobre o romance de Costamagna, podemos acompanhar a viagem literal e simbólica da protagonista para o cerne do arquivo da família ancestral, um cerne escorregadio no qual a língua resvala entre usos rio-pratenses do castelhano, a memória do piemontês e o caráter errático do “cocoliche” - uma língua de entremeio e de falha. Trata-se de uma viagem para o arquivo migratório familiar que afeta a intimidade e a naturalidade da protagonista com a sua língua e a história de sua família, que não pode ser dita, obviamente, sem os rastros da história nacional. Este estranhamento do familiar prossegue na análise do romance de Zambra (no qual, assim como em Costamagna, aparece o significativo termo “familiastra”). Entre outras inflexões, Poeta chileno é estudado por Amaro a partir das próprias reflexões linguísticas de seus protagonistas, que trazem à tona as diversas maneiras como a língua normaliza as conflituosas relações familiares. Por último, estas viagens microscópicas ao seio familiar dos usos da língua são completadas pelos relatos sobre os mapuche urbanos de Piñen, cujo “adentro exofónico” (LOGIE, 2020LOGIE, Ilse. Presentación. Palabras inaugurales del Coloquio Virtual Internacional Nuevas escrituras multilingües latinoamericanas y latinas (2000-2020). Universidad de Gante, 15 de octubre de 2020.) do mapudungun, língua que se visibiliza na eclosão social chilena, Catrileo insere na narrativa sem o uso de glossários paternalistas, afirmando um gesto político que, como nos textos anteriores, evidencia as relações entre normatividade e poder.

Já no artigo “O dialeto de João Cabral de Melo Neto”, Edneia Domingues Ribeiro opta por discutir a correlação entre vínculos linguísticos e familiares, no contexto sociocultural brasileiro, refletindo sobre a recusa de João Cabral de Melo Neto ao “dialeto-família”, a que aderia seu primo Gilberto Freyre. Com foco na análise do poema “O dialeto”, o trabalho traz a questão da variação para o centro do debate sobre o translinguismo, indagando o modo como se tensionam na poética cabralina - em muitos casos, tomada no âmbito da geração de 45 como signo de depuração formal, afastada das reflexões sobre a heterogeneidade idiomática - variedades da língua ligadas às elites e às classes populares. O artigo também contribui trazendo a público propostas de leitura que partem de textos inéditos de Cabral, pertencentes ao acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa.

Tal movimento de contestação das estruturas de poder que atravessam a tensa relação do sujeito com as exigências normativas da língua “legítima” (BOURDIEU, 2014BOURDIE, Pierre. ¿Qué significa hablar? In: Economía de los intercambios lingüísticos. Trad. Esperanza Martínez Perez. Buenos Aires: Akal, 2014.) é analisado por Rita Lenira de Freitas Bittencourt a partir de um de seus momentos históricos mais potentes: a transgressão das políticas linguísticas perpetrada por algumas experiências de vanguarda. Em “Práticas latino-americanas de translinguismo: de Xul Solar às poéticas do portuñol-portunhol”, propõe-se um elo entre o neocriollo - língua inventada pelo pintor argentino Xul Solar - e o portunhol de Wilson Bueno. A autora recupera a duplicidade semântica do vocábulo “errar”, abordada por Celada (2000CELADA, María Teresa. Acerca de errar por el portuñol. Revista Tsé-Tsé, n. 7/8, Buenos Aires, 2000: 262-264.), para analisar como o “erro” idiomático possibilita a errância do discurso e a construção de uma subjetividade que se diz no gozo da língua. Esta dicção “sem terra”, no sentido de uma descontinuidade entre as noções de homogeneidade, território e língua, parte da mescla de espanhol, português, inglês, alemão e guarani no neocriollo de Xul na década de 1920, traçando um arco que toca a proposta do “portunhol malhado de guarani” em Wilson Bueno, já nos anos 1990, no âmbito aportunholado em que Perlongher (1992PERLONGHER, Néstor. Sopa paraguaia. In: Bueno, Wilson. Mar paraguayo. São Paulo: Iluminuras, 1992: 7-11. ) também inscreve o seu desterritorializado “neobarroso”. Trata-se de opções glotopolíticas que Bittencourt, a partir de Antelo (2000ANTELO, Raul. La zoología imaginaria como deslectura de las radiografías y los retratos de la nación en crisis. In: ROWE, William et al. (comp.). Jorge Luis Borges: intervenciones sobre pensamiento y literatura. Buenos Aires: Paidós, 2000: 113-118.), lê como tentativas ficcionais de absorção do popular frente às estratégias autoritárias de incorporação da diferença ancoradas no discurso dominante.

O gesto transgressivo da vanguarda é novamente revisitado no artigo de Meritxell Hernando Marsal sobre a poética translinguística do escritor peruano Gamaliel Churata. Em “Por uma translíngua animal: o projeto antilogocêntrico de Gamaliel Churata”, apresenta-se a forma como a escrita deste autor (que imbrica o castelhano, o aimará e o quéchua, e, em menor medida, o uru, o italiano e o latim) é praticada como crítica radical à implementação e ao estatuto da língua espanhola nos Andes. Trata-se de um trabalho com a língua assumidamente anticolonial e antiplatônico, não só no já célebre El pez de oro, mas também em textos inéditos que, como Resurrección de los muertos e Khirkhilas de la sirena, foram publicados nestes últimos anos e demonstram que o projeto translinguístico de Churata deve ser entendido no bojo de uma cosmovisão sociocultural e não apenas enquanto gesto de experimentação vanguardista. Hernando Marsal mostra-nos como a língua transandina e polilógica de Churata, um “idioma híbrido para híbridos”, de acordo com o próprio autor, evidencia e critica a razão colonial que, assentada sobre o platonismo, especula com as matérias e os corpos em função do metropolitano. Diante desse pensamento abstrato que nega sua conexão com outras dimensões vitais, a translíngua de Churata acaba se reconhecendo como “animal” para participar da vida com todas as formas da natureza - num tipo de “relacionalidade” que a autora toma de empréstimo a Ette (2019ETTE, Ottmar. As literaturas do mundo: condições transculturais e desafios polilógicos de um conceito prospectivo. In: Lisboa de Mello, Ana Maria; Andrade, Antonio (org.). Translinguismo e poéticas do contemporâneo. Rio de Janeiro: 7Letras, 2019: 21-40.).

Em “Benvenuto Terracini, lenguas y estilo. El texto literario desde la perspectiva del exilio”, Diego Bentivegna trata das relações entre deslocamento, escrita e pensamento. O filólogo italiano Benvenuto Terracini, radicado na Argentina entre 1941 e 1946 em razão da legislação antissemita implementada pelo regime de Mussolini em seu país, é abordado a partir do que Bentivegna chama de “efeito de Auerbach”, isto é, das sutis maneiras como a experiência e o contexto do território de exílio afetam determinada reflexão e percurso intelectual. As usuais leituras, geralmente europeias, da virada estilística de Terracini na Argentina, como consequência de uma suposta “carência” aí de materiais e de um público interessado nos estudos clássicos, são fortemente ressignificadas por Bentivegna, que lê essa virada, ao contrário, como resultado do grande desenvolvimento da estilística argentina, principalmente a partir das atividades do Instituto de Filologia da Universidade de Buenos Aires e de outro notável exilado: Dámaso Alonso. O artigo, que colabora para a construção de uma historiografia atenta aos movimentos dos autores em redes diaspóricas e transatlânticas, detalha uma parte da produção intelectual de Terracini durante o exílio argentino: o seu estudo sobre a obra de Luigi Pirandello. Nesse trabalho, Bentivegna descobre um Terracini que - focado no trabalho de Pirandello sobre a “linguagem vivida” (o “erlebte Reden” postulado por Vossler e Spitzer) e sobre aquilo que ele compreendia como “choque linguístico” em alguns textos do escritor italiano - vai se encaminhando a um entendimento do estilo não como desvio (à maneira de Spitzer), mas operação de potencialização da ambiguidade da linguagem.

Dando continuidade à reflexão em torno dos projetos poéticos e intelectuais produzidos no contexto do totalitarismo, Ana Luíza Drummond e Jorge de Freitas Teodoro, em “Na língua da mãe a língua dos assassinos: a tensão poética em Paul Celan”, problematizam a noção de língua materna, trazendo à baila uma reflexão que aprofunda o modo como o movimento de sujeição à ordem do simbólico de uma língua (neste caso, o alemão) deixa entrever a difícil relação, estabelecida no sujeito, entre diferentes memórias e discursividades. O artigo desenvolve uma leitura do poema “Grão-de-lobo”, de Celan, a partir das tensões entre Muttersprache e Mördersprache, em outras palavras, entre o amor a uma língua - que, particularmente na vida de Celan, representou sua inscrição no campo da cultura - e a conversão dessa língua em instrumento de extermínio e opressão. O trabalho demonstra, por meio de um cuidadoso movimento analítico, não haver em Celan uma utopia de reconstituição da língua, e sim um intuito de fazer poesia com a língua “do lobo”.

As tensões subsumidas nesse processo de apropriação da língua do outro comparece também em “Maternizar a outra língua: tradução, autotradução, criação poética”, texto em que Patrícia Lavelle, por meio da incursão no discurso autobiográfico, desenvolve uma reflexão sobre a condição subjetiva do estar entre-línguas. O texto é escrito de forma ao mesmo tempo filosófica e poética, entremeando à escrita ensaística criações poéticas autorais e práticas (auto)tradutórias. Com isso, Lavelle brinda aos leitores uma textualidade extremamente híbrida, que vem ganhando espaço no âmbito dos estudos de poesia e de tradução, na medida em que, no entre-lugar de poeta, crítica e tradutora, desestabiliza as fronteiras entre sua produção acadêmica e literária, fazendo a reflexão em torno do poético se desenvolver a partir dos exercícios de autotradução (alguns deles inclusive ainda inéditos). O trabalho dialoga ainda com as obras de Molloy, Adnan e Derrida, assim como com as teorias da tradução de Walter Benjamin, Paul Ricœur e Haroldo de Campos.

Na parte final do dossiê, trazemos duas contribuições que abordam o debate sobre o translinguismo a partir da relação dos campos literário e intelectual contemporâneos com as poéticas ameríndias. Em “Sobre poéticas e políticas do circum-Roraima: o caso do Watunna ye’kwana”, Isabel Maria Fonseca e Izabela Leal analisam duas versões do Watunna, a cosmogonia do povo Ye’kwana: a do etnógrafo francês radicado na Venezuela Marc de Civrieux e a do indígena ye’kwana Marcos Rodrigues. O trabalho contribui para se pensar a multiplicidade linguístico-cultural das poéticas indígenas do circum-Roraima, um complexo espaço transareal (cf. ETTE, 2016ETTE, Ottmar. Pensar o futuro: a poética do movimento nos Estudos de Transárea. Alea, Rio de Janeiro, 18/2, 2016: 192-209. ), situado na tríplice fronteira Brasil-Guiana-Venezuela. A reflexão desenvolvida pelas autoras relaciona o poético a uma dimensão ético-política, uma vez que reivindica uma maior aproximação da teoria literária à antropologia, com um olhar voltado assim para as particularidades implicadas nos processos de criação, tradução e circulação das artes verbais indígenas.

A partir de outro ângulo e contexto linguístico-cultural, Jamille Pinheiro Dias, em “Limites e possibilidades da tradução total em Jerome Rothenberg”, discute o conceito de “tradução total”, no poeta-tradutor estadunidense Jerome Rothenberg - figura central no debate cultural nos últimos anos -, trazendo contribuições endereçadas tanto aos estudos de tradução quanto às poéticas do contemporâneo. O artigo analisa a tradução e transposição à escrita em inglês, intitulada “The 13th Horse-Song of Frank Mitchell”, de um canto de reza para cavalos recolhido do idioma navajo. A reflexão aborda a questão do translinguismo a partir do campo da etnopoesia, refletindo sobre os efeitos implicados pelas opções tradutórias de Rothenberg na tentativa de se apropriar rediscursivizadamente de sons não semânticos, traços prosódicos e diferentes aspectos semióticos e paralinguísticos envolvidos no ritualismo indígena. O artigo também arrisca um corajoso gesto acadêmico, pois ao passo que rende tributos ao legado artístico inegável de Rothenberg, não se furta a apresentar críticas de natureza político-cultural em relação às soluções tradutórias propostas por ele, mantendo assim seu objeto de estudo a meia distância.

Desse modo, fechamos o percurso de debates que almejamos propiciar aos leitores da revista neste dossiê “Literatura e práticas translíngues”. Gostaríamos de registrar aqui a importância da abertura deste espaço de divulgação às pesquisas acadêmicas que vêm sendo realizadas em torno deste eixo de discussão. Acreditamos que tanto as elaborações teórico-analíticas trazidas pelos artigos selecionados quanto as próprias obras dos escritores/intelectuais elencados e examinados nesses trabalhos, de forma sensível e crítica, colaboram, sobremaneira, no processo de desconstrução da ilusão de que uma língua (qualquer que seja) possa constituir para o sujeito um terreno de homogeneidade, segurança absoluta ou garantia de identidade plena.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Out 2021
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2021
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