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Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado/2004

DISSERTAÇÕES E TESES

Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado/2004

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Instituto de Psicologia

Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica

DISSERTAÇÕES

Título: Sobre a constituição subjetiva: o corpo e a continuidade da existência

Fernanda Ferreira Montes

Orientadora: Teresa Pinheiro

Data da defesa: 16/1/2004

O presente trabalho tem por objetivo apontar a importância do estatuto e da função do corpo na constituição subjetiva. Para tal, articulamos a problemática do corpo à sensação de continuidade da existência. Neste sentido, corpo e tempo não podem ser concebidos isoladamente. Delineamos a noção de corpo em Freud, privilegiando seus textos datados a partir de 1914. Ao postular o narcisismo, o autor apresenta a subjetividade como uma invenção de dois adultos, o que nos abre um leque imenso de possibilidades de formas de existir. Visamos indicar como a problemática do corpo e a do tempo estão atreladas na relação subjetiva, recorremos a Winnicott e Ferenczi, autores que tratam da constituição subjetiva a partir da relação com o outro, permitindo que tenhamos a noção de corpo e de tempo como balizadores. Dois fragmentos clínicos são apresentados a fim de circunscrever formas particulares de o corpo garantir a continuidade da existência.

Título: Figurações da corporeidade: por uma concepção psicanalítica de corpo pelas bordas da pulsão

Diane Almeida Viana

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: 21/1/2004

O tema da presente pesquisa refere-se à questão do corpo na psicanálise. Mais especificamente, seu objetivo é buscar configurações de uma concepção psicanalítica de corpo. Para tanto, essa pesquisa visa percorrer a obra freudiana em busca de algumas indicações que auxiliem a estabelecer o estatuto de corpo na psicanálise. Nesse sentido, julgamos importante partir de um estudo sobre a histeria e avançar no pensamento de Freud, elegendo a teoria pulsional e suas reformulações como fio condutor. O primeiro passo consiste em demarcar o nascimento de uma concepção de corpo para a psicanálise a partir de uma discussão acerca da conversão histérica, problemática essa que lança Freud no terreno do inconsciente e da sexualidade e, portanto, no rumo da especificidade de um novo saber. Em seguida, mapearemos a vertente sexual e pulsional do corpo a partir da conceituação da sexualidade infantil e do primeiro tempo da teoria pulsional. Por fim, apontaremos para o segundo tempo da teoria pulsional com a introdução da pulsão de morte, visando circunscrever a dimensão traumática do impacto pulsional. Analisaremos, então, as possíveis conseqüências dessa virada na teoria das pulsões no que diz respeito à concepção de corpo que nos propomos discutir no pensamento freudiano.

Título: Violência e alteridade: A questão das fronteiras nos 'estados limites'

Fernanda Collart Villa

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data da defesa: 28/1/2004

Tratando o tema do limite como uma noção fundamental da teoria e da clínica psicanalítica, esta dissertação é dedicada ao estudo dos "estados limites" tendo como eixo principal de análise a dimensão de alteridade interna e externa. Pode-se observar nesses casos a presença de angústias características, envolvendo diretamente a dimensão de limite, de fronteira, como o expressa o uso de defesas muito arcaicas, as quais se erguem contra uma permanente angústia no sujeito, tanto de proximidade excessiva com o objeto, quanto de separação. Ao desenvolvermos a idéia de espaço fronteiriço tivemos o objetivo de demonstrar a sua relevância para a compreensão dos "estados limites". Considerar esses espaços como lugar de trânsito, lugar onde se estabelece a relação entre o eu e o outro, permitiu-nos explorar a hipótese de uma desregulação (ou desorganização) nestes, como particularidade dos casos em questão.

Título: Da violência pulsional ao ato de criação artística

Pedro Cattapan

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data da defesa: 30/1/2004

Esta dissertação é dedicada ao estudo do processo de criação artística, tendo em vista a sua articulação com a questão da violência pulsional. Esta está referida à ação da pulsão de morte e seus efeitos de desestruturação da instância egóica. O ego pode fazer uso de certos mecanismos visando dar conta daquilo que lhe é radicalmente estrangeiro, "marcas" que tendem a resistir de forma particularmente intensa à ação das pulsões de vida. Buscou-se diferenciar o processo de criação artística da sublimação que visa, prioritariamente, a restauração da unidade, a serviço do ego e de Eros. No ato de criação artística opera-se a assimilação de uma alteridade interna, sem que se obture, no entanto, a abertura a essa estraneidade, via singular de integração do material "intraduzível" na unidade egóica. Contemplamos, nesta pesquisa, a dimensão criadora da subjetividade humana, própria à tensão entre a pulsão de morte e as pulsões de vida, já que nessa abertura ao traumático que o ato de criação artística promove, processa-se, ao mesmo tempo, uma elaboração psíquica e a atualização do encontro com a alteridade.

Título: A 'natureza' do corpo: origem ou destino? Uma leitura sobre a concepção de corpo na obra freudiana

Cláudia Braga de Andrade

Orientador: Waldir Beividas

Data da defesa: 9/2/2004

Esta dissertação se refere à construção da noção de corpo na psicanálise. Tem como proposta fazer uma releitura da concepção de corpo na obra freudiana, à luz dos questionamentos suscitados, na atualidade, sobre a compreensão da natureza como origem ou destino. Partindo deste referencial, o trabalho consiste em destacar ao longo da construção teórica de Freud diferentes perspectivas em relação ao corpo.

Título: O excedente traumático: causa, sentido e significante

Maria Cristina Neves de Freitas

Orientadora: Angélica Bastos

Data da defesa: 11/2/2004

O presente trabalho aborda a causa na psicanálise, desde a elaboração freudiana iniciada com a etiologia traumática até sua retomada por Lacan na estrutura da fala e da linguagem. A causalidade traumática é estabelecida por Freud através das hipóteses do corpo estranho enquistado no psiquismo e da sedução traumática. Destas hipóteses, subsiste a idéia de temporalidades complementares que atuam na produção do excedente traumático. Em seguida, são discutidos os três tempos do recalque: fixação, recalque propriamente dito e formação do sintoma. Constata-se a relação do excedente traumático ao conceito de fixação da pulsão. Ao introduzir a constituição do sujeito no campo da linguagem, Lacan também introduz a dialética da libido e apresenta o excedente traumático como inassimilável tanto ao sentido quanto ao encadeamento significante. É assim que, do ponto de vista do inconsciente, a causa é hiância, inapreensível pela estrutura.

Título: Chiste: a produção de sentido pelo não-sentido

Bianca Novaes de Mello

Orientadora: Regina Herzog

Data da defesa: 13/2/2004

O presente trabalho analisa o modo como os mecanismos inconscientes atuam no processo de formação do chiste, produzindo um sentido inesperado. Através da atividade infantil de brincar com as palavras, a elaboração inconsciente irrompe originando, no chiste, sentidos inabitualmente admitidos. No entanto, para que o produto, aparentemente non-sense do dito, seja considerado como um novo sentido é necessário que o ouvinte acolha esse não-sentido como um sentido. Para abordar este aspecto, o trabalho examina o processo de formação do sentido no chiste, que é marcado, precisamente, como uma atividade criativa que parece distingui-lo das demais formações do inconsciente. Essa dimensão inventiva do chiste se apresenta no modo como a elaboração inconsciente nele se manifesta: ao invés de atuar como um meio através do qual um elemento inconsciente, já presente no psiquismo, pode retornar nas formações de compromisso, no chiste, é a própria elaboração inconsciente que produzirá um sentido através da técnica chistosa.

Título: Do trauma à divisão do sujeito: sobre a compulsão à repetição e sua relação com a constituição do psiquismo

Joana Bueno de Sá

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data da defesa: 17/2/2004

Esta dissertação tem como objetivo pensar a articulação proposta por Freud entre a compulsão à repetição e a constituição do psiquismo a partir da definição de trauma apresentada em Além do princípio do prazer. O trabalho apresenta o modo pelo qual o conceito de repetição na obra freudiana, pensado a princípio como uma modalidade de retorno do recalcado, posteriormente alcança um estatuto mais fundamental, o de resposta a um encontro traumático. A seguir, investiga-se qual o registro mais adequado para pensar a noção de trauma, evitando leituras que o atribuam ou às características dos fatos em si mesmos, ou a uma força natural que atuaria sobre o psiquismo. A perspectiva privilegiada neste trabalho é a de que o trauma deve ser pensado a partir do registro da linguagem. Para examinar o papel exercido pela linguagem na determinação do psiquismo, recorremos às duas operações lógicas de constituição do sujeito introduzidas por Lacan em seu Seminário, livro 11 — Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, estabelecendo ao final sua articulação com a compulsão à repetição.

Título: Saber e psicose: a instituição como campo do Outro

Andréia da Silva Stenner

Orientadora: Ana Cristina Costa de Figueiredo

Data da defesa: 18/2/2004

O presente trabalho tem o objetivo de mostrar a relação entre saber, psicose e instituição a fim de discutir a função da instituição como campo do Outro na psicose, numa prática feita por muitos. Primeiramente, interrogaremos a constituição do saber na psiquiatria e na psicanálise com a intenção de cernir o saber que funda a instituição para tratar a psicose. Utilizaremos o conceito de elaboração — Durcharbeitung — em Freud e Lacan a fim de pensar o saber como uma construção do tratamento e que pressupõe a reflexão do lugar do Outro. Em seguida, trabalharemos para responder a particularidade da relação do sujeito e do Outro em seus efeitos na paranóia, na melancolia e na esquizofrenia. E, finalmente, utilizaremos a noção do tempo lógico de Lacan: "o instante de ver", o "tempo de compreender" e o "momento de concluir", para trabalhar a temporalidade na clínica como campo do Outro, a partir de alguns casos clínicos acompanhados em um serviço de saúde mental.

TESES

Título: O sentido da subversão do sujeito pela psicanálise

Roberto Pires Calazans Matos

Orientadora: Angélica Bastos

Data da defesa: 10/2/2004

A tese parte do aforismo psicanalítico "o sujeito sobre o qual a psicanálise opera é o sujeito da ciência" para demonstrar o sentido da subversão do sujeito pela psicanálise. Este aforismo foi privilegiado como eixo por situar o ponto que permite estabelecer tanto a versão quanto a subversão do sujeito: a relação com a ciência. Tradicionalmente, a filosofia sustenta que sujeito é a instância fundamental capaz de assegurar a validade de qualquer atividade, seja ela científica ou ética. A filosofia pretende, assim, subordinar a ciência ao seu domínio. Já as ciências humanas — contrapartida empírica do projeto filosófico — pretendem dar um tratamento objetivo ao problema da ética. Mais uma vez, uma relação de subordinação. A psicanálise estabelece com a ciência uma relação de disjunção em função de regiões de problemas: enquanto a ciência se dedica a tratar de problemas objetiváveis, a psicanálise se dedica a problemas da região ética que se caracterizam por não serem objetiváveis. Com base na epistemologia histórica, que defende a autonomia da ciência, a presente tese sustenta a disjunção, a independência e a compatibilidade lógica entre a atividade científica e a psicanalítica. Esta compatibilidade torna possível a subversão em dois passos: em primeiro lugar, implica que o sujeito não pode, em função dos problemas, ser um fundamento — posto que é um efeito — nem alvo de objetivação. E em segundo lugar, nos permite estabelecer sujeito não como a possibilidade de uma resposta universal, mas como a instância de questionamento da validade na região ética.

Título: Ensino de Psicanálise nas Universidades

Valmir Cândido Sbano

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data da defesa: 13/2/2004

A questão-título "Ensino de Psicanálise nas Universidades" ganhou novos pesos a partir da intervenção de Jacques Lacan no campo psicanalítico. O termo "universidade", desde então, deixou de designar simplesmente uma instituição entre outras. Passou a designar uma das quatro estruturas fundadoras de laço social. "Universidade" passou a responder por uma estrutura muito dominante de laço social e uma certa maneira de o sujeito se posicionar frente ao que causa seu desejo. E passamos a nos confrontar com a descontinuidade estrutural entre o discurso da universidade e o discurso do psicanalista.

A expressão "ensino de psicanálise" ganhou também um novo peso. Pois, se é verdade que Freud sustentava uma prática de ensino marcada por uma posição e um endereçamento de modo algum triviais, é verdade também que ele próprio não elaborou quanto ao ensino de psicanálise uma demarcação, relativamente à mera transmissão científica. Lacan, transmitindo a descoberta freudiana, ocupou-se a todo tempo da questão do ensino, do seu ensino, e do lugar que o analista, que seguisse este ensino, poderia tomar junto a ele. Assim, deixou-nos uma reflexão e novos chamados quanto ao ensino que não podem não atravessar a particularidade do ensino de psicanálise nas universidades. Pois, se é verdade que o agente desse ensino não se dispõe a formar analistas — e mesmo, até onde vão os seus meios, barra firmemente qualquer ilusão que atribuísse à universidade a formação de analistas — é certo também que ele — ao menos na medida em que o discurso do analista que tenha incidência sobre sua formação e sobre sua subjetividade deva algo à intervenção de Lacan — não tem como deixar de responder, no dia-a-dia de suas atribuições, a essa intervenção, mesmo quando trabalha como "professor de psicanálise" num campus. Propomos, por este presente trabalho, sustentar este lugar para o agente de ensino de psicanálise numa universidade: o lugar do sujeito que responde à descoberta freudiana e aos efeitos que ela produz em outros sujeitos.

Título: Psicanálise e contemporaneidade: Por uma clínica diferencial das neuroses

Giovanna Bartucci

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: 16/2/2004

Ao desamparo oriundo da diluição das grandes narrativas da modernidade somam-se os efeitos mais nefastos da pulsão de morte desligada. Compreendida como um momento histórico de exacerbação da autoconstituição, no qual o imaginário e a intimidade foram incorporados ao universo das mercadorias, dando lugar à experiência do eterno presente de um "eu jamais acabado", faço avançar aqui a hipótese de que se trata, na pós-modernidade, da nossa capacidade de construir, criar, dado este lugar-limite constitutivo no qual nos encontramos. Some-se à hipótese que levanto de que, na atualidade, há duas violências distintas — uma destrutiva e outra constitutiva — a idéia de que a característica fundamental das subjetividades na contemporaneidade constitui-se na presença do conflito neurótico cuja gênese não se encontra primariamente na sexualidade, sugiro a hipótese de que processos psíquicos constitutivos característicos da lógica identificatória se sobrepõem aos processos psíquicos característicos da lógica do investimento de objeto. Na medida em que a identificação narcísica terá como função transformar uma relação de ter em uma relação de ser, mais originária, na qual o eu é o objeto, há que se supor que serão regimes psíquicos distintos e que podem atuar simultaneamente que terão como função promover processos constitutivos dos sujeitos. As relações entre identificação, narcisismo, recalcamento e masoquismo primário marcam um modus operandi que toma o próprio eu como objeto de satisfação sem o qual o sujeito ficaria entregue ao exercício da pulsão de morte desligada. Tomando emprestado da história transferencial a força de contra-investimento ao recalcamento originário que a falta de uma referência terciária obstaculizou, a experiência psicanalítica constitui-se, assim, como "lugar psíquico de constituição de subjetividade", uma vez que produtora de ligação e de sentido, ao promover a inscrição da pulsão de morte desligada.

Título: A incandescência do amor evanescente sobre o amor na contemporaneidade

Ivana Maria Dzakula

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: 18/2/2004

Esta tese tem por objetivo investigar, a partir da constatação clínica do sofrimento de amor na atualidade, as relações amorosas na contemporaneidade, discutindo como a especificidade desse sofrimento comparece no cenário clínico atual. Em razão do amor conter em seu bojo uma ampla gama de possibilidades de entendimento, se faz necessário circunscrever com que conceito de amor estamos operando. Nosso encaminhamento, ao estabelecer esse contorno, foi direcionado ao âmbito das formulações freudianas. Consideramos que ainda estamos sob a égide do amor romântico, porém sublinhamos que mudanças significativas se operaram no interior do mesmo, o que nos leva a questionar que novos signos se apresentam no amor na atualidade. A erótica contemporânea é marcada por uma intensa transitoriedade — não só da identidade como das relações amorosas —, bem como se instauraram ideais de amor impossíveis de serem cumpridos. A esta erótica estamos denominando de erótica do gozo, na medida em que é permeada pela tentativa de preenchimento pela via do excesso das sensações. Toda cultura fornece meios para o sujeito minimizar o seu mal-estar, sendo uma das insígnias marcantes dessa oferta em nossa cultura a tentativa de buscar um par amoroso na Internet. Examinamos, então, alguns aspectos desta, mostrando que ela não vem infirmar os postulados psicanalíticos acerca do amor. E por último, contemplamos o que a psicanálise pode produzir, enquanto dispositivo clínico, para acolher as novas demandas que surgem e promover mudanças na modalidade de ação, e sobretudo, na modalidade de desejar dos sujeitos que a ela se endereçam.

Título: O objeto enigmático na obra de arte — o sujeito entre saber e gozo

Maria Lídia Oliveira de Arraes Alencar

Orientadora: Ana Cristina Costa de Figueiredo

Data da defesa: 5/3/2004

Este trabalho mostra que a psicanálise aborda a obra de arte sob dois grandes eixos temáticos, do sujeito e do objeto, dois quais se deduz a sua função. A partir das obras de Freud e Lacan, demonstramos como a discussão situa o seu lugar entre saber e gozo. Tomamos os comentários sobre Leonardo da Vinci, André Gide e Sade para exemplificar como a arte tem uma função para os sujeitos, seja como criação ou fruição.

A função subjetiva da arte, ao ser abordada na via do sujeito ou na via do objeto, alternadamente, revela, por essa alternância, que a questão que está em jogo é a da fantasia fundamental. Discutimos, para esclarecer esse ponto, a tendência, em comentadores recentes, de abordar o tema do gozo na arte em consonância com o gozo na perversão.

Ao localizar a origem dessa tendência nos textos de Freud e Lacan, demonstramos que ela derivou de uma concepção de Freud da sublimação como desvio do recalque, e de uma discussão de Lacan da criação artística a partir da obra de Sade, em que toma o gozo da transgressão como modelo geral para o gozo.

Título: Variações quase atonais entre Psicanálise e Música — a escuta, o silêncio e a musicalidade

Jacila Maria da Silva

Orientador: Joel Birman

Data da defesa: 26/3/2004

O presente estudo tem por objetivo pensar a questão da singularidade a partir da musicalidade. Esta relação, entre musicalidade e singularidade, se fundamenta no conceito de sublimação. A sublimação é aqui entendida como um destino pulsional, como uma possível saída para o mal-estar. O que se coloca como específico aqui é uma consideração das relações entre psicanálise e música, da criação artística musical e das questões que o pensamento musical e a experiência musical moderna podem colocar para a psicanálise. A título de fundamentação, estudamos, sobretudo, o Adorno, a leitura freudiana da arte e a obra de Theodor Reik, considerando a importância do processo criativo na constituição do sujeito e do pensamento musical, pontuando questões que estão em jogo na experiência psicanalítica, a saber: a questão do sentido, da singularidade, da escuta e do silêncio, da voz e da interpretação. Em nossos dias, a problemática das relações entre psicanálise e música tem sido objeto de pesquisa de alguns psicanalistas, sobretudo em estudos sobre o mal-estar na atualidade, que denunciam o processo de massificação e coloca em evidência a questão da singularidade pela via do desejo. Neste contexto, o estudo da música se presentifica pela interrogação sobre o corpo e o afeto em psicanálise. Por outro lado, quando pensamos um social que perdeu a dimensão da experiência do silêncio e de uma linguagem, ou pensamento, que não são regidos por um referente, o estudo da música moderna tem muito a nos dizer, a nos enriquecer, quando pensamos o mal-estar na atualidade.

Título: Clínica geral — psicanálise e lingüística

Daniel Menezes Coelho

Orientador: Waldir Beividas

Data da defesa: 1/4//2004

Trata-se de colocar as relações entre a psicanálise e a lingüística sobre um pano de fundo clínico. Partindo da proposta de MD Magno de uma Clínica Geral, re-situamos as discussões que envolvem as duas disciplinas, e revelamos, por trás da suposta não-relação sempre apontada, o sintoma do psicanalista, apresentado a todo o momento em que se trata de falar das relações da psicanálise com qualquer outro campo de conhecimento: que nesse ponto, freqüentemente deixa-se de ser analista. Tomando outra via de entendimento da lingüística saussuriana, na qual ela se inscreve, e mesmo re-edita (se não re-significa) o corte de Galileu em relação à filosofia medieval, como vias da negatividade, colocaremos, ao fim, duas questões: primeiro, a possibilidade, cara à psicanálise, mas vetada para a lingüística, das enantiossemias: de outra forma, das significações antitéticas das palavras primitivas (e das modernas também). De outro, o questionamento sobre uma Weltanschauung psicanalítica: desde Freud diz-se que a psicanálise não a tem. Voltando à proposição freudiana original, e articulando-a ao "ponto de vista" saussuriano e à gnômica de MD Magno, veremos que ela a tem (inescapavelmente), mas dele conta uma hiperdeterminação suspensiva que preserva o questionamento da verdade.

Título: Psicanálise e família: a terceirização da função paterna na contemporaneidade

Marcela Cruz de Castro Decourt

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data da defesa: 2/4/2004

Esta pesquisa aborda a função paterna de Freud a Lacan, bem como os efeitos desta sobre a constituição da família. Analisa o trajeto percorrido por esta função dos mitos freudianos aos seminários lacanianos, delimitando os paradigmas que definem a primeira e a segunda clínica de Lacan. Destaca as teses que norteiam o último ensino de Lacan, bem como os impasses que estas oferecem à psicanálise na contemporaneidade. Analisa o modo pelo qual a família experimentou o processo de modernização social que culminou com a sua nuclearização. Discute como a difusão da psicanálise participou deste movimento, produzindo novas demandas que corresponderam a novas formas de sofrimento psíquico. Trabalha o paradoxo da família na modernidade, onde os ideais de liberdade e igualdade não puderam ser, por ela, prontamente absorvidos. Investiga o estatuto da função paterna em outros campos do saber (sociologia, filosofia, antropologia), que também discutem os impasses experimentados pelos sujeitos na contemporaneidade. Discute a inexistência do Outro à luz da hipótese da denegação do Outro na contemporaneidade. Analisa a hipótese do sujeito contemporâneo encontrar-se dividido entre a denegação e a terceirização da função paterna. Propõe que a terceirização seja a expressão contemporânea da denegação da função paterna.

Título: Pai Nosso: um estudo sobre a moral e o tempo

Verônica Martinelli Gonçalves Costa

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data da defesa: 12/7/2004

O objeto desta tese circunscreve as seguintes questões: como afirmar uma Lei moral e como tratar do mal, inassimilável alicerce dessa Lei. Sua preocupação central reside na inscrição da moral no tempo, discutindo-se a extensão e o limite da influência da história — e, portanto, do campo social estruturado a partir das identificações e das ideologias. Parte-se de um recorte com base na obra de Freud e Lacan e na relevância da tradição judaico-cristã para a produção da moral. O problema não se limita ao conceito lacaniano de ética na psicanálise. Aplica-se, antes, a uma tradição filosófica e teológica que incide sobre a cultura e a linguagem de modo geral — e que, por isso, interessa à psicanálise. Por tal característica, trabalha-se com autores de várias áreas, como história, antropologia, filosofia e teologia. Além disso, o diálogo com outros saberes tem a função de estender o limite operacional dos conceitos psicanalíticos, recurso muito usado por Freud e Lacan, que fizeram referência a campos diversos para construir seus discursos. Seguindo este caminho, mostramos como, no pensamento teológico, o Bem, circunscrito pela Lei, está atado à noção de permanência. A história — campo da mudança e da degeneração — implica, portanto, uma queda ética que põe o homem no hiato dos mandamentos sustentados pela tradição. Na psicanálise, por sua vez, devido à inexistência de referência ao transcendental, vincula-se definitivamente o permanente ao impossível desestruturante. Tal dimensão, à qual o sujeito só tem acesso por meio de uma Lei contraditória, termina problematizando qualquer valor ético.

Título: Amor pela metade — Incidências da impossibilidade na esfera do amor

Sandra Niskier Flanzer

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data da defesa: 6/8/2004

Esta pesquisa lança foco sobre o tema do amor, sob o prisma da teoria psicanalítica, particularmente ressaltando-se a questão da incompletude revelada pela falta constitutiva do sujeito. O movimento amoroso do sujeito, ao dirigir-se ao objeto na busca de sanar a hiância engendrada em sua própria estrutura, é algo proveniente de uma perda, ao mesmo tempo em que o relança ao destino de uma totalidade repetidamente fracassada. Enfatiza-se, na presente pesquisa, a defasagem, bem como a disparidade, constatadas entre o sujeito e o Outro (ou entre o homem e uma mulher), privilegiando, nesta diferença, o encontro com o impossível, ali engendrado. O impossível, noção articulada ao registro do real, torna-se impresso nas mais variadas formas de experiência amorosa vividas pelo sujeito. Inicia-se a pesquisa abordando o conceito de transferência, a fim de elaborar essa noção de impossível. Avalia-se, na seqüência deste conceito, as características do estatuto do objeto em Freud e Lacan, perpassando, para tal, pelas as noções de narcisismo e de luto. Destaca-se a questão da incompletude revelada no contexto da Psicologia do amor freudiana, sob a égide da noção lacaniana de desejo; bem como são sublinhadas as interfaces entre o amor e a morte, e entre o amor e o ódio. Finalizando, examina-se o estatuto do gozo, imerso nas relações de amor, e a presença do vazio inerente à feminilidade, evidenciado no interior da chamada esfera amorosa.

Título:A erótica e o feminino

Ana Lucia Lutterbach Rodrigues Holck

Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco

Data da defesa: 27/8/2004

Partindo de uma interrogação sobre o que seria uma erótica em psicanálise e sua relação com o feminino, a investigação se sustenta sobre quatro eixos principais: a erótica antiga, a sexualidade e o feminino em Freud e duas eróticas fundamentadas na doutrina do gozo em Lacan. Neste percurso, a erótica é identificada a diferentes modalidades de gozo, e em cada uma se circunscreve seu ponto de ancoragem e sua relação com o feminino. Considerando que na atualidade, a ordem social sofre uma radical transformação decorrente do declínio da função paterna e dos ideais que exige a invenção de um laço social diferente do estabelecido nas fórmulas tradicionais, a tese central é que há uma erótica a partir de um novo enlace com o feminino. Define, pois, as linhas que condicionariam essa erótica orientada pela impossibilidade de complementaridade na relação entre os sexos. Os pontos essenciais dessa nova modalidade de gozo são ressaltados com comentários de situações exemplares retiradas da literatura e do cinema.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Set 2005
  • Data do Fascículo
    Jan 2005
Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Instituto de Psicologia UFRJ, Campus Praia Vermelha, Av. Pasteur, 250 - Pavilhão Nilton Campos - Urca, 22290-240 Rio de Janeiro RJ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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