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Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2006

DISSERTAÇÕES E TESES

Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2006

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Instituto de Psicologia

Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica

DISSERTAÇÕES

Título: A questão feminina na obra freudiana: impasses e avanços de Freud com relação ao enigma da feminilidade

Ana Carolina Dominguez Lynch

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data de defesa: 31/3/2006

A dissertação percorre os caminhos através do quais Freud se aproxima da questão da feminilidade e o inominável que o sexo feminino encarna. Sublinha-se o percurso de Freud em busca do esvendamento da histeria e do inconsciente, chegando até a teoria das pulsões e .nalmente à concepção de Freud acerca da feminilidade e da sexualidade feminina, para indicar os avanços que a obra freudiana promoveu sobre o tema, mas também os impasses clínicos e teóricos que relevam da perspectiva freudiana. De tal trajetória ressalta-se a questão do inominável que carrega a feminilidade, apontando para o crescente eclipse dessa questão na obra de Freud, a qual assinala em seus primórdios algo da ordem de um encontro real atualizado pela feminilidade — e para o qual faltaria nome, palavra, signi.cante — mas que, paradoxalmente, acaba se afastando desse ponto justamente a partir da construção da teoria da castração e do Complexo de Édipo. A partir daí, indica-se em linhas gerais a direção da releitura que Lacan promoveu sobre esse percurso de Freud, vislumbrando uma outra saída para o desejo feminino diferente da questão a ser desenvolvida num aprofundamento futuro da leitura lacaniana sobre uma posição propriamente feminina, para além da histeria e da maternidade.

Título: A singularidade da técnica na clínica dos estados limites

Arthur Kottler da Silveira

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data de defesa: 17/2/2006

O objetivo desta dissertação é analisar a singularidade da técnica na clínica dos estados limites. Nestes, a dimensão traumática constitui elemento central, incidindo sobre a questão da representação psíquica e do excesso pulsional. O modo de funcionamento psíquico destes quadros confronta o trabalho clínico com dificuldades, e a utilização de dispositivos técnicos clássicos nem sempre é possível ou eficaz. Partindo da constatação dos limites da interpretação nessa clínica, investigamos outros recursos, apoiando-nos, principalmente, em alguns pressupostos da técnica psicanalítica freudiana. Considerando a significativa presença de núcleos "não-representados" nos estados limites, dirigimos esta pesquisa ao estudo da noção de construção em análise, de vez que a enunciação de construções pelo analista tem implicações importantes no processo de construção da representação no próprio analisando. Ao examinarmos as condições subjacentes ao emprego desse recurso, sublinhamos o aspecto da presença do analista no campo transferencial pela análise das dimensões de reserva e implicação quanto à posição que ocupa na situação clínica. Este percurso resultou na abertura de rica via de pesquisa — a temática do brincar e seus desdobramentos na clínica — cujo desenvolvimento possibilitou destacar a potencialidade dessa prática como recurso clínico. Pela repetição lúdica podemos favorecer a construção de uma via de captura e inscrição de marcas traumáticas no aparato psíquico. A experiência do brincar, no espaço analítico, envolvendo analista e analisando, constitui recurso capaz de incitar, neste, um trabalho psíquico mais apurado, fundamental para o incremento dos processos de elaboração psíquica, perspectiva de relevo para a clínica dos estados limites.

Título: Adolescência: ato e atualidade

Bianca Bergamo de Andrade Savietto

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data de defesa: 18/1/2006

Esta dissertação pretende explorar significativo aspecto da clínica psicanalítica atual: o incremento do fenômeno das passagens ao ato entre os sujeitos adolescentes. O foco principal desta pesquisa de mestrado é a confluência da problemática das passagens ao ato com certos aspectos da organização familiar contemporânea. É no campo da família que os sujeitos adolescentes emergem e vêm a se desenvolver. Partimos de um breve estudo sobre a especificidade do trabalho psíquico demandado na adolescência, privilegiando a questão do corpo e a das "transações narcísicas". Este estudo serve de base para uma reflexão sobre a revivência da situação de desamparo própria à adolescência. A partir desta reflexão, tentamos mostrar como uma eventual convocação do corpo, sob a forma do ato, possui caráter de resposta extrema, à qual o ego pode apelar diante de uma vivência interna de transbordamento pulsional, aliada a um estado de fragilidade narcísica. Estes aspectos, de natureza metapsicológica e psicopatológica, são também articulados com certas peculiaridades do contexto em que vivem hoje os adolescentes ocidentais. Buscamos demonstrar o quanto a dimensão de desamparo, com toda sua complexidade, tem sido determinante no incremento do fenômeno das passagens ao ato na atualidade. A análise desta questão é desenvolvida tendo como pano de fundo primordial uma das instituições que, junto com as demais instituições tradicionais, encontra-se hoje absolutamente enfraquecida e fragilizada: a família. O exame de aspectos relacionados à organização familiar da atualidade se apóia numa importante apreciação acerca da noção de transmissão psíquica, noção que nos permite articular os diversos elementos envolvidos na questão central que nos ocupa.

Título: Compulsão à repetição: uma abordagem do conceito na sua relação com a transferência em Freud e Lacan

Brenda Ibeth Becerril

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data de defesa: 17/3/2006

O trabalho aborda o desenvolvimento do conceito de compulsão à repetição, mostrando que, para sua conceituação, a transferência foi um elemento indispensável. Partindo da confluência entre os fenômenos e sublinhando a intervenção lacaniana que lhes restituiu sua justa dimensão como conceitos, percorre os desdobramentos do problema da repetição equacionados nos limites do princípio de prazer, mostrando como transferência e repetição apareciam constantemente entrelaçadas na obra freudiana. A partir da correlação necessária entre o sujeito do inconsciente e a linguagem, introduzida por Lacan, aponta-se a gênese do conceito de repetição como real que emerge do simbólico impossível referido a um além do princípio de prazer que só pode ser contornado pela pulsão. Discute-se ainda o papel do analista neste circuito pulsional no qual ele é inserido e as repercussões que tal inserção traz para a prática psicanalista.

Título: Religião e gozo: o que o gozo nos diz sobre o sujeito hoje?

Cíntia Marassi Barros

Orientador: Waldir Beividas

Data de defesa: 13/3/2006

Esta pesquisa aborda a religião contemporânea e sua relação com o gozo. Trabalha a antropologia e sociologia de Louis Dumont, Anthony Giddens e Zygmunt Bauman como apoio para chegar à configuração cultural atual. Propomos partir de Freud e seu estudo da religião, considerando-a como reforçadora da renúncia pulsional e neurose obsessiva coletivizada. Discutimos a noção de gozo de Lacan, principalmente no Seminário 7 — A Ética da psicanálise e no Seminário 17 — O avesso da psicanálise. Percorremos o ensino de Lacan sobre a religião, e sobre o Nome-do-Pai. Discutimos as conexões entre gozo, Nomedo- Pai, religião e cultura. Falamos sobre a religião contemporânea e sua relação com a terapia, a partir de reflexões de J. A. Miller, e que a psicanálise pode escapar dessa classificação.

Título: O além do Pai na lei do Pai

Evelin Izildinha Pestana

Orientadora: Simone Perelson

Data de defesa: 31/3/2006

As chamadas "novas modalidades de padecimentos subjetivos da contemporaneidade" colocam em questão o modelo edípico freudiano, estruturado como o "complexo nuclear das neuroses" sob as bases do conflito Lei do Pai versus intensidades pulsionais. Via de regra, o "declínio social da imago do pai", expressão cunhada por Lacan (1938), vem justificar a emergência de tais novas patologias, englobadas no que esse autor chamou "a grande neurose contemporânea". O objetivo desta dissertação é poder discutir as relações entre Lei do Pai e intensidades pulsionais, levantando a possibilidade de que o conceito de supereu, introduzido por Freud a partir da segunda tópica, viria apontar para um intrincamento entre Lei do Pai e intensidades pulsionais, dando margem, assim, a uma leitura possível da neurose que, embora presente no entrecruzamento do texto freudiano, não teria sido explicitamente elaborada por Freud. A suposta relação de intrincamento entre Lei do Pai e intensidades pulsionais, representada pela instância do supereu e presente na própria construção subjetiva desde o ato de fundação do sujeito, implicaria numa dificuldade de simbolização da castração que seria inerente à própria constituição subjetiva, configurando-se, assim, uma face em que tanto a Lei do Pai quanto a pulsão se mostrariam como irredutíveis, isto é, não passíveis de serem simbolizadas 'a contento’. Tal quadro implicaria num duplo desfecho subjetivo: a face criadora e a face de adoecimento trazidas pela citada irredutibilidade. A perspectiva de um intrincamento entre Lei do Pai e intensidades pulsionais estaria expressa no texto freudiano, sobretudo a partir do paradoxo do supereu, instância que participaria sobremaneira da instalação do sofrimento psíquico contemporâneo. Nesse sentido, levantamos a hipótese de que o próprio texto freudiano já nos apresentaria, a partir dos três momentos em que Freud aborda explicitamente a Lei do Pai (Édipo, Totem e tabu e Moisés) diferentes formas pelas quais tal intrincamento se faria sentir. Tal "declinação da Lei do Pai" estaria presente no entrecruzamento dos textos freudianos em que as questões relativas ao complexo paterno correriam a reboque ou em paralelo à elaboração do difícil conceito de pulsão. O que conferiria à expressão de Lacan — "declínio social da imago do pai" — a função de expressar algo que já se encontra presente e apontado pelo texto freudiano: a questão de saber de que forma pode a Lei tratar o gozo que, na contemporaneidade, faz do corpo o campo privilegiado desse intrincamento, dificultando o trabalho de elaboração psíquica dos sofrimentos subjetivos.

Título: Anorexia e violência psíquica: a recusa do encontro com o outro

Fabiana Lustosa Gaspar

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data de defesa: 17/2/2006

A anorexia, patologia de grande incidência na clínica psicanalítica contemporânea vem despertando crescente interesse na comunidade científica. Envolve um apelo ao corpo, mas, diferentemente da histeria, sob a forma do ato. Sublinha-se nesta dissertação a importância da dimensão da violência psíquica que advém, neste caso, da ameaça do "sexual" — em última análise, ameaça do encontro com o "outro". Considerando-se essa dimensão destrutiva da anorexia, a questão do corpo é explorada à luz da noção de "corpo do transbordamento", contraposta à de "corpo da representação". São investigados alguns tópicos relativos à adolescência, já que esta envolve fortemente a dimensão do corpo e, freqüentemente, corresponde ao momento de desencadeamento da anorexia. A revivência dos conflitos infantis na adolescência possui significativa relevância nesta pesquisa. A confluência entre duas temporalidades fundamentais da vida psíquica — a relação primária e o referencial edipiano — constitui fator de particular relevo no adoecer da anorexia. Para elaborar esta idéia, é realizada uma explanação acerca do lugar da figura paterna, suas peculiaridades e desdobramentos, visto o papel dos entraves dessa dimensão na origem e desenvolvimento da anorexia. Isto resulta num movimento de regressão ao modelo relacional primitivo, de caráter narcísico, o que vem atestar a precariedade das fronteiras do ego na anorexia. A apresentação de material clínico ilustra vários pontos contemplados neste trabalho voltado para o modo de relação que o sujeito anoréxico estabelece com o objeto — objeto interno/externo — tentativa precária e extrema, de ligação de um excesso pulsional.

Título: Do mal-estar na cultura ao mal-estar estrutural: considerações sobre o advento da modernidade e o sujeito analítico

Juliana Sobral de Oliveira

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: 17/3/2006

Esta dissertação tem como objetivo analisar a relação entre o advento da modernidade e o surgimento do discurso psicanalítico. Ao considerarmos que a construção deste discurso inscreve-se historicamente no horizonte da modernidade, destacamos o surgimento da ciência clássica como o evento que marcaria esta época. Tomamos por base a afirmativa feita por Lacan de que o sujeito sobre o qual a psicanálise opera é o sujeito da ciência, de modo a distinguirmos os pontos de conjunção e disjunção entre o discurso analítico e o discurso científico. Sob a perspectiva do estatuto do sujeito no mundo moderno, partimos das articulações realizadas por Freud sobre o antagonismo entre o sujeito e a cultura, em conseqüência da renúncia pulsional, a fim de analisarmos a concepção de "mal-estar". Com a formulação da noção de "mal-estar", a psicanálise estabelece uma teorização a respeito dos fundamentos que regem a economia psíquica, indicando o lugar do conflito que apresenta-se como limite à uma satisfação pulsional plena. Freud postula a existência de um momento mítico de passagem da natureza à cultura e de instauração da lei na organização dos laços sociais. O ensino de Lacan lança luz sobre essa problemática ao trabalhar a relação entre as noções de lei e de gozo, no sentido de ampliar o alcance da tese freudiana sobre a origem da ordem cultural. Tendo em vista as considerações de Lacan sobre o primado da linguagem, avançamos em direção à idéia da castração como operador estrutural da constituição do sujeito.

Título: Histeria: da clínica de Freud à clínica de nossos dias

Leandro Mercedes Chaves

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: 24/3/2006

Cem anos se passaram desde o surgimento da psicanálise. Profundas transformações culturais, econômicas e sociais conduziram a novas formas se estar no mundo.As diferenças entre os aspectos culturais das duas épocas levaram a diferenças também nas manifestações do mal-estar psíquico. Nosso estudo desenvolveu-se no sentido do rastreamento do conceito de histeria nos primeiros textos freudianos. A seguir, buscamos destacar a concepção do segundo modelo pulsional na obra de Freud como operador que permite releitura da histeria, trazendo novo instrumental teórico que nos possibilita revisitá-la, lançando luz sobre fenômenos mais obscuros dessa neurose, especialmente o masoquismo. Na parte final de nosso estudo, partindo da contribuição de autores contemporâneos, especialmente a obra de Birman, abordamos o conceito de feminilidade no contexto da teoria sexual freudiana. Articulada ao desamparo, a feminilidade põe em evidência a inexistência do falo como eixo de constituição da subjetividade. Ressaltamos o contraponto do referencial fálico e de suas ambições de onipotência e completude, mostrando que, em oposição à totalidade e dominação fálicas, a feminilidade destaca a singularidade e a diferença, e uma abertura para alteridade. São essas as questões que fundamentam nossa pesquisa e nos levam a apontar possibilidades de abertura e transformação ao dispositivo psicanalítico no tratamento da histeria, através da feminilidade e da histericização, possibilitando ao indivíduo a queda do narcisismo fálico, revelando assim a feminilidade do erotismo e possibilitando abertura para novos destinos em seu modo de estar no mundo.

Título: Mulher — Maternidade: os destinos da mulher na maternidade das filhas

Lindinaura Canosa

Orientadora: Maria Teresa da Silveira Pinheiro

Data de defesa: 24/3/2006

Partindo da escuta psicanalítica das filhas que fazem uso abusivo de drogas, e que estão vivendo suas próprias maternidades, nos propomos a pensar se há em suas histórias de vida alguma correlação decorrente das maternagens precárias de que se queixam. O primeiro capítulo consiste em uma exposição comentada de excertos da obra freudiana sobre a mulher, a mãe, a filha e o filho. Destacamos, através desta exposição, o lugar subjetivo de reparador da insuficiência feminina que, segundo Freud, o filho do sexo masculino ocupa frente à mãe. No segundo capítulo apresentamos seis casos clínicos e propomos uma articulação entre a clínica e a teoria, sobretudo por meio da abordagem dos conceitos de narcisismo, introjeção, incorporação e identificação nos seguintes autores: Freud, Winnicott, Green, Ferenczi, Torok, Abraham e Pinheiro. Tratamos no terceiro capítulo da idéia desenvolvida por Freud na maior parte da sua obra, segundo a qual a vergonha seria por excelência feminina em conseqüência de sua insuficiência fundamental. O amor materno e o lugar libidinal do filho são articulados através das contribuições de Aulagnier, Hilferding e Pinheiro, enquanto a melancolia e o feminino são abordados através das teorizações de Zaltzman. Perrier e Birman. No último capítulo são expostos os aspectos culturais das construções subjetivas, privilegiando o Iluminismo como um momento histórico para uma nova conceituação de mulher, mãe e criança e como terreno profícuo para o surgimento da psicanálise. Os autores que mais destacamos para esta discussão são Freud, Birman e Laquer, os dois últimos abrindo o campo de discussão para o lugar que a mulher passou a ocupar a partir do Iluminismo e de seus dobramentos.

Título: Religião, família e sexualidade: Des/construções em análise no ambulatório público

Lucila Maria Furstenau Sabino

Orientadora: Ana Cristina Figueiredo

Data de defesa: 28/4/2006

Trata-se de abordar a especificidade dos atendimentos no contexto do ambulatório público, onde trabalhos da maior importância já afirmaram a psicanálise como possível para além dos limites do consultório particular. Este estudo enfoca três temas recorrentes na fala dos sujeitos em análise no ambulatório: religião, família e sexualidade. Embora estes aspectos em si não sejam exclusivos de tal contexto, sem dúvida eles ali comparecem de modo muito específico, em função de uma consistência atribuída ao Outro, ancorada no imaginário e no real, em detrimento do simbólico. O objetivo visado é justamente apontar o alcance da psicanálise, quanto à dimensão do sujeito do inconsciente e à desconstrução de sintomas decorrentes desses ideais, crenças e identificações que obstaculizam a pouca margem de liberdade do sujeito.

Título: O humor e o chiste na clínica das psicoses

Mariana Mollica da Costa Ribeiro

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: 10/3/2006

O trabalho tem por objetivo situar o chiste e o humor na clínica com psicóticos. Partimos da hipótese de que a espirituosidade pode promover efeitos analíticos no tratamento de psicóticos e passamos a questioná-la do ponto de vista teórico. Sendo o chiste concebido por Freud como produção do inconsciente recalcado e o humor intervenção do superego, herdeiro do complexo de Édipo, defrontamo-nos com impasses ligados à direção do tratamento na psicose. Se, como demonstra Lacan, a estrutura psicótica consiste na não inscrição simbólica da lei paterna, como considerar produções baseadas no modelo edípico recurso psicanalítico na terapêutica com psicóticos? O paradoxo encontra desdobramento na investigação do inconsciente e do superego, tanto na psicose como na espirituosidade, por meio do estudo da linguagem. No que se refere à psicose, analisamos a relação entre significante e objeto para averiguar como o sujeito se vale da linguagem na tentativa de barra o gozo do Outro que o invade. No caso da espirituosidade, tratamos da peculiaridade com que o significante é desatrelado da significação, seja no dito espirituoso, seja na saída humorística. Dando ênfase à economia chistosa em Freud, destacamos o nonsense como motor do Witz em sua relação com a alteridade, para articular siginificante e gozo através do conceito de alíngua. Interrogamos se o humor poderia ser considerado, assim como apontam os estudos lacanianos do caso Schreber e da escrita joyciana, um uso do pai diverso do Nome-do Pai, que se dirige para a ancoragem do gozo. Mediante a apresentação de fragmentos clínicos, discutimos como o analista, atento à espirituosidade na transferência com psicóticos, pode intervir como um terceiro esvaziado de gozo.

Título: Sintoma e satisfação pulsional: impasses na análise

Silvia Thereza Venturini da Costa

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: 24/3/2006

O conceito de sintoma tem, em psicanálise, um estatuto paradoxal. Reduto de sofrimento e queixa, o sintoma comporta, ele próprio, uma satisfação. Ao paradoxo próprio a essa formação corresponde um dos mais poderosos obstáculos com os quais se defronta a psicanálise. Por abrigar uma satisfação da qual o sujeito reluta em abrir mão, o sintoma opõe ao trabalho da análise sua persistência. Esta dissertação pretende, através do exame do conceito de sintoma e da noção de satisfação pulsional nas elaborações de Freud e Lacan, considerar o impasse introduzido pela recalcitrância do sintoma e suas conseqüências na análise. Verifica como, em um primeiro momento da elaboração freudiana, a aposta na possibilidade de dissolver o sintoma através de sua decifração deparou com uma dimensão do sintoma irredutível ao sentido. De modo análogo, a abordagem de um primeiro momento do ensino de Lacan permite reconhecer na impossibilidade de esgotar o sentido do sintoma pela decifração de sua articulação significante seu comprometimento com uma satisfação. Considera-se ainda como, em um segundo momento de suas elaborações, Freud e Lacan foram levados, em função do impasse posto à decifração pela persistência do sintoma, a pôr em relevo sua dimensão de gozo. Tal movimento revela, em todo o seu alcance, o paradoxo da satisfação abrigada pelo sintoma, a qual se consuma e persiste a despeito do desprazer que engendra. Reconhecida no sintoma uma satisfação irredutível ao sentido, coloca-se o problema de seu destino na análise.

Título: O sujeito "banido do calendário": considerações sobre tempo e história em psicanálise

Tuila Martins Melo Barbosa

Orientadora: Anna Carolina Clementino Lo Bianco

Data de defesa: 31/3/2006

A elaboração de Walter Benjamin permite divisar uma rearticulação da função da história, fundada sobre um novo conceito de tempo, desempenhando um papel central na tarefa decorrente da "mudança na estrutura da experiência" que tem lugar na modernidade. A partir daí, buscou-se investigar algumas das controversas posições de Freud e de Lacan com relação à temporalidade e à história implicadas na práxis psicanalítica, visando extrair as suas coordenadas clínicas e as suas conseqüências éticas.

TESES

Título: O sujeito no discurso analítico — seus fundamentos (de Freud a Lacan: da questão do sujeito ao sujeito em questão)

Antonio Godino Cabas

Orientador: Joel Birman

Data de defesa: 19/5/2006

O propósito desta tese é extrair e formalizar os fundamentos clínicos e conceituais que regem a noção de Sujeito na prática e na doutrina analítica. Tomando como ponto de partida a interseção entre o inconsciente, o sintoma (sua raiz pulsional) e o fantama (sua função de enodar o gozo ao desejo) a tese delimita um território na obra de Freud e observa que esse território corresponde a uma função. Uma função à qual Lacan dará nome: o sujeito. O saldo desta operação é a descoberta de um liame estrutural entre a função subjetiva e a fonte pulsional. A cada pulsação da exigência de satisfação corresponde uma manifestação pulsativa do sujeito. Portanto, conclui que a persistência do sujeito é o correlato da insistência que caracteriza a demanda de satisfação oriunda da fonte pulsional. A seguir, a tese investiga as referências clínicas e conceituais que serviram de apoio para demarcar a noção de sujeito. Extrai as referências filosóficas, investiga as razões epistemológicas e destaca a lógica clínica que preside o cálculo de Lacan. Observa que este cálculo situa a função do sujeito no centro da experiência clínica. Desta maneira, destaca a inversão que o ideal impõe à função subjetiva, a subversão que o desejo representa e a subdução que o gozo lhe impõe para — finalmente — notar que seu destino é a destituição. A destituição subjetiva. No fim, destaca a existência de um saldo nessa operação — é o sinthoma — e conclui que esse sintoma é um saldo da análise. Um dos nomes do sujeito.

Título: O lugar do analista na direção do tratamento com autistas

Flávia Chiapetta de Azevedo

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data de defesa: 20/12/2006

Nosso objetivo nesta tese é refletir sobre o lugar do analista na direção do tratamento com autistas. Para isto, empreendemos um estudo que consistiu em abordarmos o autismo desde seu surgimento no campo da psiquiatria até as diferentes vertentes psicanalíticas, quais sejam: a desenvolvimentista e a lacaniana. Seguindo a orientação lacaniana, abordamos a constituição do sujeito a partir dos três "A": o pequeno a, o outro; o grande A, o Outro; e o objeto a. Refletimos o estatuto de cada uma dessas modalidades no autismo. Por fim, a partir do tripé estabelecido por Lacan (1958) no texto A direção do tratamento e os princípios de seu poder — tática, estratégia e política —, refletimos sobre o lugar possível do analista na direção do tratamento com autistas.

Título: Conseqüências éticas da teoria dos discursos no ensino da psicanálise

Júlio Eduardo de Castro

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: 31/3/2006

Esta tese discute o ensino da psicanálise à luz da teoria lacaniana dos discursos. Para tal, toma os discursos mencionados por Lacan em sua teoria (mestre, capitalista, universitário, histérico e analítico), e deles extrai algumas conseqüências que incidem nessa extensão específica da psicanálise: seu ensino. Da teoria dos discursos e do estilo de ensinar de Lacan, estabelece como necessária — para todo e qualquer ensino merecedor desse qualificativo (psicanalítico) — a participação da ética da psicanálise, por meio de seus operadores (o ato, o saber, o discurso e o desejo do analista). Partindo do pressuposto de que não há ensino da psicanálise que não seja intrinsecamente atravessado pela ética da psicanálise examina, para defender tal necessária condição, a correlação da ética da psicanálise com a operação que fundamenta o desejo: a metonímia. Explora ainda a relação de inversão algorítmica existente entre os discursos histérico e universitário. Esta tese enfoca a teoria dos discursos dentro de um universo mais amplo: o ensino de Lacan, comparando o que nele era dito e escrito (a mensagem doutrinária) com o modo como era feito, o estilo de Lacan — e encontrou nesse estilo uma consistência ética, digna de nota, da qual tiramos algumas conseqüências concernentes ao ensino da psicanálise.

Título: Fantasias vazias: um desafio à clínica psicanalítica

Ricardo Salztrager

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: 23/1/2006

A presente tese visa analisar o estatuto metapsicológico de uma modalidade peculiar de fantasmatização para a qual propomos o nome de 'fantasias vazias’. Trata-se de fantasias conscientes, neutralizadas, anestesiadas e apartadas das demais produções discursivas do sujeito. Para proceder a esta investigação, estabelecemos uma analogia deste tipo de fantasia com o registro dos signos de percepção, apresentado por Freud na "Carta 52". Em seguida, recorremos à noção de clivagem, com o objetivo de examinar sua origem e função na dinâmica psíquica. Para finalizar, abordamos a questão da direção do tratamento, dada a singularidade destas produções fantasísticas que resistem ao dispositivo analítico da interpretação e da construção.

Título: O problema da causalidade psíquica na psicanálise

Rosane Zétola Lustosa

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data de defesa: 8/2/2006

O trabalho discute o conceito de causalidade psíquica a partir do ensino de Jacques Lacan. Visando estabelecer em que sentido é válido afirmar a existência de uma causalidade psíquica, fomos inicialmente buscar subsídios para o debate realizando uma investigação sobre a questão da causa na ciência e na filosofia. A seguir, recorrendo à resposta dada por Jacques Lacan ao problema da causalidade psíquica, verificamos que o conceito recebeu diferentes definições ao longo de sua obra, razão pela qual nós a dividimos em três fases distintas: fase fenomenológico- existencial, fase estruturalista, e por fim a fase em que ele elaborou o que teria sido sua contribuição própria para a psicanálise, o conceito de objeto a, causa do desejo. O objetivo da tese é não só expor os principais aspectos da doutrina lacaniana sobre a causalidade do psiquismo em cada uma dessas fases, mas também empreender um exame crítico do referido conceito. A crítica aqui deve ser entendida no sentido da avaliação do valor de verdade de uma teoria. Desse modo, pretendemos analisar as contribuições e os impasses aos quais chegaram cada um dos referenciais de análise escolhidos por Lacan.

Título: A soberania da experiência

Sonia Maria Maia Nassim

Orientador: Waldir Beividas

Data de defesa: 18/8/2006

A presente tese tem como objetivo destacar e analisar o primado da experiência no campo da psicanálise. Partindo da nova ferramenta teórico-prática de MD Magno, que segue e aprofunda os passos de Freud e Lacan, torna-se possível conferir condições de possibilidade à sustentação da soberania da experiência. A pulsão como único conceito fundamental e a concepção de Inconsciente ampliada em uma "cosmologia libidinal" chamada Haver permitem um movimento de abstração, unificação e homogeneização do campo analítico. Procedimento singular que viabiliza a organização dos capítulos desta tese em axioma, paradigma, estatuto e postura. A experiência do fato bruto de Haver ou experiência do Um norteia o espaço não euclidiano no qual trabalhamos. A suspensão dos princípios clássicos da lógica, a saber: princípio de não-contradição e princípio do terceiro excluído tornam-se de fato um critério princeps na construção e articulação conceituais, estando assim pari passu com a contemporaneidade. Esta nova lógica derroga "pontos de vista", propõe uma mente sem sujeito, escreve a primazia da experiência e só depois (Nachtraglichkeit) permite postular um axioma, paradigma e estatuto para a psicanálise, priorizando a postura que a novamente enfatiza. Uma experiência milenar que encontrou na psicanálise seu maior campo de expressão. O cerne deste trabalho está na noção de inseparabilidade entre postura e experiência e na radical disjunção entre Haver e Ser. A experiência de Haver com´Um é pura resistência e tem sempre duas faces. Resolvi, então, opor melancolia e mística e assim considerá-las. Esta experiência, enquanto pathos da psicanálise, é uma terceira via, neutra e indiferente, que não se confunde nem com a consistência melancólica, nem com a inconsistência mística. A especificidade da psicanálise, enquanto arte do luto, visa tratar tanto da pobreza melancólica quanto do excesso místico.

Título: As pulsões de morte e seus derivados: os avatares da teoria

Suelena de Castro Werneck Pereira

Orientadora: Maria Teresa da Silveira Pinheiro

Data de defesa: 4/8/2006

O objetivo dessa tese é o de estabelecer distinções metapsicológicas entre os derivados das pulsões de morte, a saber: a pulsão de destruição, a pulsão de agressão e a pulsão de dominação. Trabalharemos também com situações ou estados afetivos em que a presença da pulsão de morte é inconteste: o sadismo e o masoquismo, além da maldade, da crueldade e da violência. Tomando a pulsão de morte como fio condutor e considerando que esse conceito é indispensável à continuidade e à dialetização da teoria psicanalítica, tentaremos mostrar que, a partir do enlace entre as pulsões de morte e Eros, seu opositor conforme estabelecido pela segunda teoria pulsional, teremos diferentes resultados ou produtos. Os derivados em questão diferenciam-se a partir da proporção e da qualidade das mesclas pulsionais: à noção de quantidade, isto é, de quanto de cada pulsão se encontra presente em determinada combinação, se junta a circunstância em que essa intricação se dá. Os diferentes derivados estarão na dependência do momento do desenvolvimento em que se encontra o sujeito quando se estabelece a mistura das pulsões: esse momento leva em consideração a fase de seu desenvolvimento psicossexual, a fase de desenvolvimento de seu eu, os pontos de fixação que determinarão as regressões, os distintos modos de satisfação e as relações de objeto.

Título: A paixão na adicção: um estudo sobre passividade pulsional e violência psíquica

Vanuza Monteiro Campos Postigo

Orientadora: Marta Rezende Cardoso

Data de defesa: 25/8/2006

O objetivo dessa tese é pesquisar o fenômeno da adicção, a partir de uma abordagem que privilegie a psicopatologia, a metapsicologia e a clínica psicanalítica. Esta patologia, em suas diversas formas de manifestação, vem mostrando significativo incremento na clínica e no contexto contemporâneo marcado pela proliferação de quadros clínicos ligados ao trauma. Estas são caracterizadas pelos fenômenos de passagem ao ato e pela evocação do corpo, em detrimento de um trabalho de simbolização e representação. Esta tese intenta uma análise teórico-clínica do fenômeno da adicção, explorando tanto a questão da dinâmica pulsional como aquela do modo de relação com o objeto nessa patologia. O estudo sobre o modo de funcionamento psíquico na adicção vem ganhando relevância em um cenário inter-intrapsíquico em que observamos um modo de relação com os objetos cada vez mais caracterizado pela dependência psíquica e pela absoluta adesão a estes. Faremos uma análise teórico-clínica deste fenômeno, observando a relação com o objeto e explorando o papel que exerce no psiquismo do sujeito adicto. Pesquisaremos também a dimensão compulsiva presente na adicção na busca imperativa do sujeito ao objeto. A noção de compulsão à repetição nos possibilitará avançar no estudo sobre a violência psíquica e a passividade pulsional aí envolvidas, assim como no tipo de resposta psíquica que o sujeito realiza sob o regime do pulsional mortífero. O recurso à noção de paixão será utilizado para estudar o modo relação de servidão e fascínio na adicção, modo este estabelecido nas relações primárias vividas pelo sujeito, questão à qual iremos também nos dedicar.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Ago 2007
  • Data do Fascículo
    Jun 2007
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