Balanço hídrico de Guarea trichilioides L., na estação seca, em São José do Rio Preto

Maciel, Hestia Ettedo Tenfuss; Marinis, Giorgio de; Camargo, Paulo Nogueira de

doi:10.1590/S0071-12761969000100019

Resumos

Guarea trichilioides L.4, (= Guarea guara (N.J. Jacquin) P. Wilson) é uma meliácea arbórea silvestre, fornecedora de madeira vermelha e conhecida, na região de São José do Rio Preto, pelo nome de "Marinheiro". Foi estudado o balanço hídrico desta planta na estação seca, pelo método das pesagens rápidas de folíolos destacados, verificando-se que, nas condições consideradas, não houve, praticamente, restrição acentuada da transpiração nas horas mais desfavoráveis do dia. A transpiração relativa foi bastante elevada, comparável aquela de outras árvores da mesma formação e bem superior à das árvores da floresta pluvial tropical. A transpiração cuticular foi baixa, comparável à da maioria das árvores da citada floresta pluvial e bem inferior àquela de muitas plantas permanentes do cerrado. O movimento hidroativo dos estômatos foi relativamente rápido na fase inicial, tornando-se, porem, bastante vagaroso antes de atingir o valor da transpiração cuticular. O deficit de saturação foi pequeno, comparável ao das árvores da floresta pluvial. O estudo do balanço hídrico e da estrutura foliar levam a considerar Guarea trichilioides como uma árvore da floresta tropical não adaptada a suportar condições de seca intensa.

This paper deals with the water balance of Guarea trichilioides L., a meliaceous tree, native in the tropical America. Transpiration was measured by the method of rapid weighing of detached leaflets. Determinations of transpiration values showed that G. trichilioides did'nt restrict transpiration in the more hot hours of the day. Relative transpiration was higher than that of the trees of the rain tropical forest. Relative cuticular transpiration was low, as in most trees of the rain forest, and lower than that of several plants of the cerrados (brazilian savannae). Hydroactive movement of the stomata was relatively rapid in the initial phasis, becoming however, very slow, before attaining the values of the cuticular transpiration. The saturation deficit was always low, as in the rain tropical forest trees. From the study of the water balance and leaf structure, we can realize that Guapea trichilioides is a tree of the tropical forest unadapted to support conditions of intense drought.

Balanço hídrico de Guarea trichilioides L., na estação seca, em São José do Rio Preto^* * Os autores agradecem ao Dr. Wilson Hoehne, do Instituto de Botânica do Estado de São Paulo, pela determinação do material de Guarea trichilioides L. Conservamos este nome, embora ilegítimo, por ser o mais conhecido no Brasil; o nome correto, segundo o International Code of Botanical Nomenclature, Ultrecht 1961, ap. III, é Guarea guara (N. J. Jacquin) P. Wilson - 1924

Hestia Ettedo Tenfuss Maciel^I; Giorgio de Marinis^I; Paulo Nogueira de Camargo^II

^ICadeira de Botânica - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto

^IICadeira de Química Biológica. E.S.A. "Luiz de Queiroz". USP

RESUMO

Guarea trichilioides L.⁴, (= Guarea guara (N.J. Jacquin) P. Wilson) é uma meliácea arbórea silvestre, fornecedora de madeira vermelha e conhecida, na região de São José do Rio Preto, pelo nome de "Marinheiro". Foi estudado o balanço hídrico desta planta na estação seca, pelo método das pesagens rápidas de folíolos destacados, verificando-se que, nas condições consideradas, não houve, praticamente, restrição acentuada da transpiração nas horas mais desfavoráveis do dia.

A transpiração relativa foi bastante elevada, comparável aquela de outras árvores da mesma formação e bem superior à das árvores da floresta pluvial tropical.

A transpiração cuticular foi baixa, comparável à da maioria das árvores da citada floresta pluvial e bem inferior àquela de muitas plantas permanentes do cerrado.

O movimento hidroativo dos estômatos foi relativamente rápido na fase inicial, tornando-se, porem, bastante vagaroso antes de atingir o valor da transpiração cuticular.

O deficit de saturação foi pequeno, comparável ao das árvores da floresta pluvial.

O estudo do balanço hídrico e da estrutura foliar levam a considerar Guarea trichilioides como uma árvore da floresta tropical não adaptada a suportar condições de seca intensa.

SUMMARY

This paper deals with the water balance of Guarea trichilioides L., a meliaceous tree, native in the tropical America. Transpiration was measured by the method of rapid weighing of detached leaflets.

Determinations of transpiration values showed that G. trichilioides did'nt restrict transpiration in the more hot hours of the day. Relative transpiration was higher than that of the trees of the rain tropical forest. Relative cuticular transpiration was low, as in most trees of the rain forest, and lower than that of several plants of the cerrados (brazilian savannae). Hydroactive movement of the stomata was relatively rapid in the initial phasis, becoming however, very slow, before attaining the values of the cuticular transpiration. The saturation deficit was always low, as in the rain tropical forest trees.

From the study of the water balance and leaf structure, we can realize that Guapea trichilioides is a tree of the tropical forest unadapted to support conditions of intense drought.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

LITERATURA CITADA

HOEHNE, W., 1966. (in litt.).

Entregue para publicação em 31/12/1969.

ANDRADE, E. Navarro de & O. VECCHI, 1916. Les bois indigénes de São Paulo. Secretarie de l'Agriculture, Commerce et Travaux publiques de l'Etat de São Paulo - Brésil.
COUTINHO, L.M., 1962. Contribuição ao conhecimento da ecologia da mata pluvial tropical. Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras - Univ. São Paulo - 257 (Botânica, 18): 7-219 -São Paulo.
DE CANDOLLE, C., 1878. Meliacea, in Martii Flora Brasiliensis, XI (I), Monachii.
DE MARINIS, G. & H.E.T. MACIEL, 1966. Balanço hídrico de plantas novas de Pterogyne nitena Tul., em diferentes condições de umidade do solo. Ciencia e Cultura 18(2):239-São Paulo.
DE MARINIS, C. & H.E.T. MACIEL, 1967. Transpiração de Pterogyne nitens Tul., nas condições de São José do Rio Prêto, São Paulo, na estação sêca - Rev. Agricultura 42(2):47-58 -Piracicaba.
DE MARINIS, G. & H.E.T. MACIEL, 1968. Ecologia de Copaifera langsdorffii - Desr. 1. Rev. Agricultura 43(2):55-61 -Piracicaba.
DE MARINIS, G. & H.E.T. MACIEL, 1969. Ecologia de Copaifera langadorffii - Desf. 2. Rev. Agricultura, 44(1):19-25 -Piracicaba.
FERRI, M.G., 1944. Transpiração de plantas permanentes dos"cerrados". Bol. Fac. Fil. Ciênc. e Letras - Univ. de São Paulo, 41 (Botânica, 4): 161-224 - São Paulo.
FERRI, M.G., 1955. Contribuição ao conhecimento da ecologia do cerrado e da caatinga. Estudo comparativo da economia d' água de sua vegetação. Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras São Paulo, 195 (Botânica, 12): 1-170. São Paulo.
LOFGREN, A. & H.L. EVERETT, 1905. Analysis de plantas. Ensaio para uma botânica descriptiva das espécies mais freqüentes em São Paulo e outros estados do Brasil-S. Paulo.
MORELLO, J., 1953. Transpiración y balance de agua de la bananera en las condiciones de la ciudad de São Paulo. Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras Univ. São Paulo, 156 (Botânica, 10): 25-99-São Paulo.
PEREIRA, H., 1929. Pequena contribuição para um Diccionário das plantas úteis do Estado de São Paulo (Indígenas e Aclimadas). Typ. Brasil de Rothschild & Cia. São Paulo.
RACHID, M., 1947. Transpiração e sistemas subterrâneos da vegetação de verão dos campos cerrados de Emas. Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras - Univ São Paulo 80 (Botânica, 5): 7-141 - São Paulo.
RAWITSCHER, F.K. & M.G. FERRI, 1942. Observações sôbre a metodologia para o estudo da transpiração cuticular em plantas brasileiras, especialmente em Cedrela fissilis. Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras - Univ. São Paulo 28 (Botânica, 3): 115-133 - São Paulo.
SERRA, S. & SEREBRENICK, 1961. Tabelas psicrométricas. Serv. Meteor. Min. Agric. Rio de Janeiro.
VILLAÇA, H. & M.G. FERRI, 1954. Transpiraçao de Eucalyptus tereticornis - Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras - Univ. de São Paulo - 173 (Botânica, 11): 5-29 - São Paulo.
WARMING, E., 1908. Lagoa Santa. Contribuição para a Geographia phytobiologica - Imprensa Official do Estado de Minas Gerais - Bello Horizonte.

*

Os autores agradecem ao Dr. Wilson Hoehne, do Instituto de Botânica do Estado de São Paulo, pela determinação do material de

Guarea trichilioides L.

Conservamos este nome, embora ilegítimo, por ser o mais conhecido no Brasil; o nome correto, segundo o International Code of Botanical Nomenclature, Ultrecht 1961, ap. III, é

Guarea guara (N. J. Jacquin) P. Wilson - 1924

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
06 Jun 2012
Data do Fascículo
1969

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

[1] ANDRADE, E. Navarro de & O. VECCHI, 1916. Les bois indigénes de São Paulo. Secretarie de l'Agriculture, Commerce et Travaux publiques de l'Etat de São Paulo - Brésil.

[2] COUTINHO, L.M., 1962. Contribuição ao conhecimento da ecologia da mata pluvial tropical. Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras - Univ. São Paulo - 257 (Botânica, 18): 7-219 -São Paulo.

[3] DE CANDOLLE, C., 1878. Meliacea, in Martii Flora Brasiliensis, XI (I), Monachii.

[4] DE MARINIS, G. & H.E.T. MACIEL, 1966. Balanço hídrico de plantas novas de Pterogyne nitena Tul., em diferentes condições de umidade do solo. Ciencia e Cultura 18(2):239-São Paulo.

[5] DE MARINIS, C. & H.E.T. MACIEL, 1967. Transpiração de Pterogyne nitens Tul., nas condições de São José do Rio Prêto, São Paulo, na estação sêca - Rev. Agricultura 42(2):47-58 -Piracicaba.

[6] DE MARINIS, G. & H.E.T. MACIEL, 1968. Ecologia de Copaifera langsdorffii - Desr. 1. Rev. Agricultura 43(2):55-61 -Piracicaba.

[7] DE MARINIS, G. & H.E.T. MACIEL, 1969. Ecologia de Copaifera langadorffii - Desf. 2. Rev. Agricultura, 44(1):19-25 -Piracicaba.

[8] FERRI, M.G., 1944. Transpiração de plantas permanentes dos"cerrados". Bol. Fac. Fil. Ciênc. e Letras - Univ. de São Paulo, 41 (Botânica, 4): 161-224 - São Paulo.

[9] FERRI, M.G., 1955. Contribuição ao conhecimento da ecologia do cerrado e da caatinga. Estudo comparativo da economia d' água de sua vegetação. Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras São Paulo, 195 (Botânica, 12): 1-170. São Paulo.

[10] LOFGREN, A. & H.L. EVERETT, 1905. Analysis de plantas. Ensaio para uma botânica descriptiva das espécies mais freqüentes em São Paulo e outros estados do Brasil-S. Paulo.

[11] MORELLO, J., 1953. Transpiración y balance de agua de la bananera en las condiciones de la ciudad de São Paulo. Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras Univ. São Paulo, 156 (Botânica, 10): 25-99-São Paulo.

[12] PEREIRA, H., 1929. Pequena contribuição para um Diccionário das plantas úteis do Estado de São Paulo (Indígenas e Aclimadas). Typ. Brasil de Rothschild & Cia. São Paulo.

[13] RACHID, M., 1947. Transpiração e sistemas subterrâneos da vegetação de verão dos campos cerrados de Emas. Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras - Univ São Paulo 80 (Botânica, 5): 7-141 - São Paulo.

[14] RAWITSCHER, F.K. & M.G. FERRI, 1942. Observações sôbre a metodologia para o estudo da transpiração cuticular em plantas brasileiras, especialmente em Cedrela fissilis. Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras - Univ. São Paulo 28 (Botânica, 3): 115-133 - São Paulo.

[15] SERRA, S. & SEREBRENICK, 1961. Tabelas psicrométricas. Serv. Meteor. Min. Agric. Rio de Janeiro.

[16] VILLAÇA, H. & M.G. FERRI, 1954. Transpiraçao de Eucalyptus tereticornis - Bol. Fac. Fil. Ciências e Letras - Univ. de São Paulo - 173 (Botânica, 11): 5-29 - São Paulo.

[17] WARMING, E., 1908. Lagoa Santa. Contribuição para a Geographia phytobiologica - Imprensa Official do Estado de Minas Gerais - Bello Horizonte.