Palavras-chave:
Doenças das valvas cardíacas/fisiopatologia; Doença da Artéria Coronariana; Fatores de risco; Ecocardiografia Doppler
Ao Editor
A presença de esclerose valvar aórtica (EVA) está associada com eventos cardiovasculares adversos, mesmo quando se leva em conta a presença de outros fatores de risco prévios. No Cardiovascular Health Study realizado com mais de 5.000 indivíduos de 65 anos ou mais, seguidos por cerca de 5 anos, a EVA esteve associada com um aumento de 40% no risco de infarto do miocárdio e com uma tendência de risco aumentado para angina, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral nos pacientes sem doença cardiovascular inicialmente. Permanece incerto se o mecanismo da associação entre EVA e evolução clínica cardiovascular adversa é por aterosclerose difusa, disfunção endotelial, metabolismo alterado do cálcio, acúmulo lipídico, polimorfismo genético ou por outros fatores ainda não definidos11 Otto CM. Why is aortic sclerosis associated with adverse clinical outcomes? J Am Coll Cardiol. 2004;43(2):176-8..
A EVA é caracterizada ao ecocardiograma pelo espessamento e aumento da ecogenicidade dos folhetos aórticos, sem restrição na mobilidade22 Marmelo FC, Mateus SM, Pereira AJ. Associação entre esclerose valvar aórtica com doença arterial coronariana prévia e fatores de risco. Arq Bras Cardiol. 2014;103(5):398-402.. A lesão precoce da EVA é um processo ativo com algumas semelhanças à aterosclerose, incluindo aspectos histopatológicos e associação a fatores de risco para doença coronariana aterosclerótica, como idade, sexo masculino, hipertensão arterial sistêmica, níveis elevados de lipoproteína de baixa densidade-colesterol e lipoproteína(a), fumo e diabetes11 Otto CM. Why is aortic sclerosis associated with adverse clinical outcomes? J Am Coll Cardiol. 2004;43(2):176-8.. No estudo transversal de Marmelo e cols.22 Marmelo FC, Mateus SM, Pereira AJ. Associação entre esclerose valvar aórtica com doença arterial coronariana prévia e fatores de risco. Arq Bras Cardiol. 2014;103(5):398-402., que avaliou 2.493 indivíduos que apresentavam EVA ao ecodopplercardiograma transtorácico, foi encontrada maior prevalência de hipertensão arterial sistêmica, infarto do miocárdio prévio, diabetes, tabagismo, disfunção sistólica ventricular esquerda e esclerose valvar mitral. A utilização de uma análise multivariada permitiria uma exploração mais adequada da associação entre cada variável com o desfecho.
Como estabelecido em guidelines internacionais, a esclerose valvar aórtica (EVA) define-se como um aumento da espessura dos folhetos aórticos, bem como seu endurecimento, sem que haja fusão das comissuras11 Marmelo FC, Mateus SM, Pereira AJ. Associação entre esclerose valvar aórtica com doença arterial coronariana prévia e fatores de risco. Arq Bras Cardiol. 2014;103(5):398-402..
Uma das grandes pioneiras do estudo da esclerose aórtica foi Catherine Otto, que desenvolveu vários estudos sobre essa temática, e verificou uma ligação entre EVA e a ocorrência de diversos eventos cardiovasculares adversos. Ainda nas investigações de hoje sobre a associação de EVA com doença arterial coronária (DAC), seus estudos são considerados referência22 Otto CM, Lind BK, Kitzman DW, Gersh BJ, Siscovick DS. Association of aortic-valve sclerosis with cardiovascular mortality and morbidity in the elderly. N Eng J Med. 1999;341(13):142-7..
Apesar do mecanismo que leva à verificação de uma associação entre a EVA e o desenvolvimento de DAC não ser ainda totalmente claro, a maioria dos estudos internacionais, sejam eles unicêntricos ou multicêntricos, apoia a existência da dita associação, alertando que esta deve ser considerada séria, devendo existir, desde do momento inicial do diagnóstico, um acompanhamento apertado da sua evolução. No estudo de Conte e cols.33 Conte L, Rossi A, Cicoira M, Bonapace S, Amado EA, Golia G, et al. Aortic valve sclerosis: a marker of significant obstructive coronary artery disease in patients with chest pain? J Am Soc Echocardiogr. 2007;20(6):703-8., foi utilizado o achado ecocardiográfico de EVA em pacientes com dor precordial, para prever a existência de doença coronária obstrutiva. Esse método obteve sensibilidade de 38% e especificidade de 86%, sendo que o eletrocardiograma em prova de esforço tem uma sensibilidade de 67% e uma especificidade de 72% para o diagnóstico de doença coronária. Assim, Conti e cols. provaram que a simples presença de EVA pode ser utilizada como marcador de risco cardiovascular.
Relativamente ao estudo transversal de Marmelo e cols.11 Marmelo FC, Mateus SM, Pereira AJ. Associação entre esclerose valvar aórtica com doença arterial coronariana prévia e fatores de risco. Arq Bras Cardiol. 2014;103(5):398-402., realizado com 2.493 indivíduos, verificou-se, como na maioria dos estudos, um aumento significativo da prevalência de hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, insuficiência cardíaca, função ventricular esquerda alterada e infarto agudo do miocárdio nos pacientes com EVA em comparação aos pacientes sem EVA. Sendo este um estudo transversal, cuja análise multivariada não produziu resultados significativos, os autores sugerem como possível estudo futuro a realização de um estudo longitudinal com análise multivariada, permitindo, assim, uma maior validação estatística entre as variáveis da associação encontrada.
Felipe C. Marmelo
References
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1Otto CM. Why is aortic sclerosis associated with adverse clinical outcomes? J Am Coll Cardiol. 2004;43(2):176-8.
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2Marmelo FC, Mateus SM, Pereira AJ. Associação entre esclerose valvar aórtica com doença arterial coronariana prévia e fatores de risco. Arq Bras Cardiol. 2014;103(5):398-402.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Jul 2015
Histórico
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Recebido
31 Jan 2015 -
Revisado
11 Mar 2015 -
Aceito
17 Mar 2015