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Competência em Informação no contexto EAD: reflexões sobre as práticas profissionais do tutor a distância

Information Literacy in Distance Learning context: Professional practices of the distance instructor.

RESUMO

Apresenta resultado de pesquisa, que objetivou analisar a Competência em Informação no contexto da Educação a Distância (EAD), por meio da prática profissional de tutores a distância. Para tanto, como aporte teórico a pesquisa discorre sobre temas relacionados à EAD, Competência em Informação, os sete pilares de Bruce (1999) e sugere um quadro que inter-relaciona as temáticas. Os procedimentos metodológicos adotados referem-se a uma pesquisa de campo em uma instituição de ensino EAD, de uma cidade do interior do Paraná. Os dados qualitativos foram colhidos por meio de entrevista semiestruturada com os tutores a distância, com objetivo de identificar a prática da Competência em Informação em suas atuações profissionais. Os resultados identificaram que embora os tutores apresentem habilidades informacionais, a prática da CoInfo não é institucionalizada na universidade em questão. Conclui-se que a aplicação de modelos de Competência em Informação é essencial para a otimização de práticas profissionais no cenário EAD.

Palavras-chave:
Competência em Informação; Educação a Distância; Tecnologia da Informação; Comunicação

ABSTRACT

It presents a research results, which aimed to analyze the Information Literacy in the context of Distance Learning, through the professional practice of distance instructors. To do so, how to develop a theoretical research on topics related to Distance Learning, Information Literacy and Bruce's seven pillars (1999) and suggests a framework that interrelates as thematic. The methodological approach was guided by a field research at the Distance Learning Institution, in Londrina state of Paraná. Qualitative data were collected through semi-structured interviews with distance instructors, in order to identify the practice of Information Literacy in their professional activities. The results identified that although instructors have informational skills, but Information Literacy practice is not institutionalized at the University in question. It is concluded whether an application of Information Literacy models is essential for the optimization of professional practices in the Distance Learning context.

Keywords:
Information Literacy; Distance Learning; Information and Communication Technologies

1 Introdução

A cultura globalizada, correspondente à contemporaneidade é detentora de um fluxo informacional intenso, associada a mosaicos hipertextuais complexos e indivíduos interconectados. O acesso à informação deixou de ser predicado a uma parcela restrita da sociedade, para alcançar outras conjunturas sociais e habitar um contexto em que a informação passou a ser disseminada de forma mais democrática (BARRETO, 2008BARRETO, Aldo Albuquerque. Uma quase história da Ciência da formação. DataGramaZero: revista de Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v.9, n.2, p. 1-12, abr. 2008. Disponível em: http://www.dgz.org.br/abr08/Art_01.htm. Acesso em: 20 out. 2019.
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; ROBREDO, 2011ROBREDO, Jaime. Do documento impresso à informação nas nuvens: reflexões. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 19-42, mar. 2011. Disponível em: http://revista.ibict.br/liinc/article/view/3287. Acesso em: 10 set. 2021.
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; VITORINO; PIANTOLA, 2009VITORINO, Elizete. Vieira; PIANTOLA, Daniela. Competência Informacional - Bases históricas e conceituais: construindo significados. Ciência da Informação, Brasília, v. 38, n.3, p. 130-141, set./dez. 2009.).

A tecnologia contribuiu significativamente para uma nova perspectiva na organização da informação, de forma a torná-la mais acessível e útil. Nesse sentido, a Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) cooperou com a promoção da inclusão social e cultural dos indivíduos, alterando inclusive, a capacidade humana de lidar com processos informacionais (ASSMAN, 2000; FERES; BELLUZZO, 2016BELLUZZO, Regina Célia Baptista; FERES, Glória Georges. Inteligência, criatividade e competência em informação: uma articulação necessária no contexto social contemporâneo. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p.125-153.; ROBREDO, 2011ROBREDO, Jaime. Do documento impresso à informação nas nuvens: reflexões. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 19-42, mar. 2011. Disponível em: http://revista.ibict.br/liinc/article/view/3287. Acesso em: 10 set. 2021.
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).

Esta nova sociedade apresenta-se, portanto, como um terreno fértil para o desenvolvimento de novos contextos de aprendizado e para o fortalecimento de novas competências. Os processos informacionais dinâmicos e complexos requerem indivíduos mais capacitados a maximizar a utilização da informação e torná-la eficiente. Este dinamismo informacional, em seus variados aspectos, enseja abordagens sobre seu uso e tratamento, seja no contexto social ou profissional (BARACHO et al., 2015BARACHO, Renata Maria Abrantes; ALMEIDA, Maurício Barcelos; ROCHA, Renato Souza; OLIVEIRA, Jacqueline Pawlowski. Ciência da informação-sinalizadores para o presente e o futuro. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 15, 2015, João Pessoa, PB. Anais eletrônicos[...] João Pessoa: UFPB, 2015. Disponível em: http://200.20.0.78/repositorios/handle/123456789/2785. Acesso em: 20 jun. 2018.
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).

Sendo assim, pode-se afirmar que até mesmo as formas de aprendizagem se transformaram, tornando-se mais flexíveis em relação ao tempo, espaço ou modalidade de se obter conhecimento (GASQUE, 2012GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. Letramento Informacional: pesquisa, reflexão e aprendizagem.Brasília: Editora FCI/Unb, 2012.; VITORINO; PIANTOLA, 2009VITORINO, Elizete. Vieira; PIANTOLA, Daniela. Competência Informacional - Bases históricas e conceituais: construindo significados. Ciência da Informação, Brasília, v. 38, n.3, p. 130-141, set./dez. 2009.). A globalização provocou nos indivíduos a descentralização da sua realidade local para uma vivência global, impulsionada sobretudo pela tecnologia e pela forte presença midiática. O ser humano não está mais limitado ao seu espaço físico, tornou-se mais autônomo e adaptou-se a novas formas de aprender, nos preceitos que Castells (2003CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.) discorre sobre uma economia eletrônica, necessitante de um aprendizado também digitalizado.

Nesses parâmetros, presencia-se o desenvolvimento e aprimoramento da modalidade de Educação a Distância (EAD), como uma nova forma do indivíduo obter conhecimento e se aperfeiçoar profissionalmente. Dados oficiais apontam para um crescimento significativo da EAD no Brasil nos últimos anos, sobretudo no ensino superior (ABED, 2019). A modalidade conceituada a partir da separação entre profissional da educação e estudante, no tempo e no espaço, responde às expectativas atribuídas à contemporaneidade, como as múltiplas competências do ser humano concatenadas à autogestão, adaptabilidade, flexibilidade e o aprender por si próprio. (BELLONI, 1998BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 4. ed. 1998.; LITTO, 2009LITTO, Fredric Michael. O atual cenário internacional da EAD. In: LITTO, Fredric Michael., FORMIGA, Manuel. Marcos. Maciel. (Org.). Educação a Distância: o estado da arte. 8.ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. cap.1, p.14-20.)

A EAD é responsável pelo desenvolvimento dos ambientes virtuais de aprendizagem e das linguagens midiáticas, que rompem com o panorama tradicional da sala de aula presencial e possibilita a interação entre estudantes e profissionais da educação em contextos síncronos ou assíncronos. São requeridas dos atores do processo de aprendizagem, portanto, novas habilidades para acessar, compreender e utilizar a informação. (ARETIO, 2007ARETIO, Lorenzo. García; CORBELLA, Marta Ruiz.; FIGAREDO, Daniel. Domínguez. De la educación a distancia a la educación virtual. Barcelona: Editorial Ariel, S.A, 2007.; MOORE, 2008MOORE, Michael; KEARSLEY, Greg. Educação a Distância: uma visão integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2008.)

Ressalta-se, neste cenário, o tutor a distância,personagem que estreita o canal de comunicação entre estudante e os pares da instituição de ensino, no intuito de orientá-lo, gerar vínculo, incentivar o diálogo e criar proximidade, de forma a atuar, inclusive, na motivação e no auxílio à solução de problemas (ALMEIDA, 2003ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003.; COLLINS; BERGE, 1996COLLINS, Mauri; BERGE, Zane. Facilitating interaction in computer mediated online courses. Retrieved June, v. 15, p. 2000, 1996.;PRETTI, 2003PRETTI, Oreste; OLIVEIRA, Gleyva. O estado da arte sobre “tutoria”: modelos e teorias em construção. Relatório de Pesquisa “O sistema de Orientação Acadêmica no curso de Pedagogia a distância da Universidade Federal de Mato Grosso. Programa CAERENAD-Téléuniversitédu Québec, Canadá, 2003.). Exprime-se, portanto, que não cabe ao tutor ensinar, mas compreender a concepção e as características do curso em que atua, influenciando, inclusive, na diminuição da taxa de evasão dos discentes, por meio do desempenho de suas funções técnicas, gerenciais, pedagógicas e sociais (COLLINS; BERGE, 1996).

Referenciado as principais funções do tutor a distância de manusear as informações para direcionamento do estudante, é pertinente destacar suas habilidades para recuperá-las, acessá-las e disponibilizá-las nas plataformas recorrentes. A sua atuação se consolida em fazer bom uso da informação em benefício do outro. Cabe a ele avaliar e identificar sua própria necessidade de informação, bem como sua utilização posterior de forma crítica, para processamento, armazenamento e compartilhamento. Tais aspectos sugerem aproximação entre a Competência em Informação (CoInfo) (BELLUZZO, 2018BELLUZZO, Regina Célia Baptista. Competência em informação (CoInfo) e midiática: inter-relação com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sob a ótica da educação contemporânea. Folha de Rosto - Revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v. 4, n. 1, p. 15-24, 2018.) e as principais responsabilidades profissionais de um tutor a distância (COLLINS; BERGE, 1996COLLINS, Mauri; BERGE, Zane. Facilitating interaction in computer mediated online courses. Retrieved June, v. 15, p. 2000, 1996.).

A relação entre o papel profissional do tutor a distância e a CoInfo se fortalece quando se considera a complexidade da informação no ambiente de trabalho e a relevância das habilidades e competências requeridas para tomada de decisão. Portanto, o presente estudo sugere que o tutor a distância deve ser dotado de competências (dentre elas, a Competência em Informação), para prestar um atendimento de qualidade aos estudantes e desempenhar seu papel profissional na universidade.

Destarte, expõe-se aqui um recorte dos resultados de dissertação de mestrado, providos de pesquisa de campo, embasada em aporte teórico, construído a partir das funções profissionais do tutor e da CoInfo no ambiente de trabalho. O objetivo central do estudo consistiu em analisar a competência em informação no desempenho do papel profissional do tutor a distância, na modalidade EAD, à luz dos pilares da Competência em Informação de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.).

A aplicação de entrevista semiestruturada a três tutores a distância, atende a uma amostra não probabilística, no intuito de analisar em profundidade o conteúdo proposto por cada participante. Selecionou-se, para tanto, uma Instituição de Ensino Superior (IES), que opera, majoritariamente, por meio da modalidade EAD, na cidade de Londrina, Paraná. Para tratar dos dados coletados, utilizou-se a análise de conteúdo de Bardin (1991BARDIN, Laurence. Análisis de contenido. Madri: Ediciones Akal, 1991.), construída a partir das quatro principais funções do tutor que foram relacionadas diretamente aos sete pilares de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.).

Para atingir seus objetivos, o artigo foi estruturado em seis tópicos, incluindo esta introdução, responsável para contextualização da temática e apresentação do objetivo central. Nos tópicos seguintes, o referencial teórico que aporta o estudo empírico, por meio das temáticas EAD e CoInfo no trabalho, bem como a interrelação entre os pilares de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.) e as funções do tutor. A metodologia é apresentada no quarto tópico e os resultados discutidos no tópico seguinte. As considerações finais estão abarcadas na última seção desta pesquisa.

2 Perspectivas sobre EAD

No Brasil, a Educação a Distância (EAD) se expandiu significativamente nos últimos anos, sobretudo no ensino superior, como uma modalidade que visa o rompimento de barreiras geográficas e a democratização da informação. Segundo dados da ABED (2019), o número de estudantes que optaram por esta modalidade cresceu exponencialmente.

Dois aspectos evidenciam a consolidação desta modalidade de ensino no Brasil, a mediação didático-pedagógica e pessoas qualificadas como parte integrante do processo. Nesta modalidade, a aprendizagem ocorre de forma multifacetada e complexa, e o desempenho do todo perpassa pelo bom funcionamento das partes e dos atores que compõem este processo (PAVANELO; KRASILCHIK; GERMANO, 2018PAVANELO, Elisangela; KRASILCHIK, Myriam; GERMANO, José Silveiro Edmundo. Contribuições para a preparação do professor na Educação a Distância. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância, v.17, n.1, p.11-36, 2018.).

Tais aspectos mencionados acima são validados no conceito legal de EAD, por meio do Decreto 9.057, de maio de 2017 (BRASIL, 2017):

Para fins deste Decreto, considera-se a Educação a Distância a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios de tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos.

De acordo com publicação da ABED (2019), os números da EAD cresceram exponencialmente entre 2009 e 2018. Registra-se o número de 9.374.647 de pessoas que estão matriculadas na modalidade atualmente, considerando cursos totalmente a distância e regulamentados, semipresenciais regulamentados, cursos livres não corporativos e livres corporativos.

Embora os números ilustrem um cenário em constante crescente, os trabalhadores que atuam na área nem sempre dispõem de formação específica para atuar na modalidade a distância. A recente expansão da EAD justifica o fato de que os papéis dos atores EAD continuam em construção. A utilização da internet para disseminar este método de ensino, alterou de forma significativa o formato em que a aprendizagem é disseminada, bem como a atuação de estudantes, tutores e professores, no contexto em questão (LITTO, 2009LITTO, Fredric Michael. O atual cenário internacional da EAD. In: LITTO, Fredric Michael., FORMIGA, Manuel. Marcos. Maciel. (Org.). Educação a Distância: o estado da arte. 8.ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. cap.1, p.14-20.; MAIA; MATTAR, 2007MAIA, Carmem; MATTAR, João. ABC da EaD: a educação a distância hoje. Pearson Prentice Hall, 2007.).

Não há, portanto, uma fórmula fechada para a aplicação da modalidade. Além da variação terminológica em diferentes países em que a EAD está consolidada, há uma diversidade de público matriculado, que varia de acordo com o ambiente sociocultural local. As motivações pela procura por instituições que operam nesta modalidade são diversas, incluindo o número de polos em diferentes regiões, a flexibilidade de horário ou a autonomia que a EAD propõe (LITTO, 2009LITTO, Fredric Michael. O atual cenário internacional da EAD. In: LITTO, Fredric Michael., FORMIGA, Manuel. Marcos. Maciel. (Org.). Educação a Distância: o estado da arte. 8.ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. cap.1, p.14-20.; MAIA; MATTAR, 2007MAIA, Carmem; MATTAR, João. ABC da EaD: a educação a distância hoje. Pearson Prentice Hall, 2007.).

A distância geográfica que anteriormente separava muitos estudantes da sala da aula tradicional, foi rompida por uma nova configuração de ensino e aprendizado, fomentada, sobretudo, pela corrida tecnológica e pelo desenvolvimento de novas habilidades e destrezas, no ambiente online. Nesses parâmetros, a utilização de linguagens midiáticas foi fundamental para a potencialização dos recursos informativos, formativos e comunicativos, ampliando as situações de aprendizado e socialização entre indivíduos concatenados pela EAD (ARETIO, 2007ARETIO, Lorenzo. García; CORBELLA, Marta Ruiz.; FIGAREDO, Daniel. Domínguez. De la educación a distancia a la educación virtual. Barcelona: Editorial Ariel, S.A, 2007.; MAIA; MATTAR, 2007MAIA, Carmem; MATTAR, João. ABC da EaD: a educação a distância hoje. Pearson Prentice Hall, 2007.)

A educação a distância não se fundamenta, portanto, como uma modalidade que complementa ou propõe soluções emergenciais para a educação tradicional, ao contrário se consolida de forma expressiva, sobretudo, no ensino superior brasileiro. Contribui para a formação de um indivíduo mais autônomo e atrai, principalmente pessoas que já atuam no mercado de trabalho e necessitam complementar seus estudos. Visa alcançar populações que fisicamente estão distantes de uma Instituição de Ensino Superior (IES), por meio de recursos tecnológicos avançados e do incentivo à interação (BELLONI, 1998BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 4. ed. 1998.; NUNES, 2009NUNES, Ivônio. Barros. A história da EAD no mundo. In: LITTO, Fredric Michael., FORMIGA, Manuel. Marcos. Maciel. (Org.). Educação a Distância: o estado da arte. 8.ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. cap.1, p.2-8.).

Naturalmente, há uma comparação entre o processo de aprendizado na EAD e no ensino presencial, no entanto vale ressaltar que a modalidade se valida nos parâmetros contemporâneos de disseminação da TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), na vivência do estudante em diversos contextos e plataformas de aprendizado, bem como no incremento de habilidades como autodesenvolvimento e autoavaliação(BARRETO, 2008BARRETO, Aldo Albuquerque. Uma quase história da Ciência da formação. DataGramaZero: revista de Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v.9, n.2, p. 1-12, abr. 2008. Disponível em: http://www.dgz.org.br/abr08/Art_01.htm. Acesso em: 20 out. 2019.
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; MAIA; MATTAR, 2007MAIA, Carmem; MATTAR, João. ABC da EaD: a educação a distância hoje. Pearson Prentice Hall, 2007.; MUGNOL, 2009MUGNOL, Marcio. A educação a distância no Brasil: conceitos e fundamentos. Revista Diálogo Educacional, v. 9, n. 27, p. 335-349, 2009.).

No Brasil, o Plano Nacional de Educação, sugere que a educação a distância, por meio da democratização do acesso ao ensino, poderá contribuir de forma significativa com o déficit educativo. Isso porque se considera os recursos de aprendizado da EAD mais acessíveis, reafirmando que tais alternativas promovem um maior leque de escolhas, incluindo, por exemplo, populações de áreas rurais e cidades interioranas. A EAD também é a modalidade com melhores ferramentas para ampliar a educação para portadores de necessidades especiais, por meio do estudo a partir de suas próprias casas (MOORE, 2008MOORE, Michael; KEARSLEY, Greg. Educação a Distância: uma visão integrada. São Paulo: Cengage Learning, 2008.; NUNES, 2009NUNES, Ivônio. Barros. A história da EAD no mundo. In: LITTO, Fredric Michael., FORMIGA, Manuel. Marcos. Maciel. (Org.). Educação a Distância: o estado da arte. 8.ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. cap.1, p.2-8.).

O que se pretende por meio da modalidade é o desenvolvimento de novas áreas do conhecimento, atualização de aptidões, redução de custos no ensino e o nivelamento de variáveis socioculturais, por meio da educação. Para isso, observa-se o funcionamento da EAD como um sistema composto por aprendizado, ensino, comunicação, criação e gerenciamento. Tais aspectos, coordenados em unidade, são capazes de alterar ambientes físicos, políticos, econômicos e sociais, o que reforça a importância de uma visão holística sobre todos os processos que envolvem o funcionamento da modalidade.

No ambiente online, transformar o fluxo informacional em conhecimento, faz parte de um procedimento que ocorre com a participação de diversos atores, não se restringe somente ao estudante e o professor. Por meio da TIC, as relações interpessoais e sociais devem ocorrer de forma mais efetiva, principalmente com o desenvolvimento contínuo da internet e dos aparatos presentes no dia a dia das pessoas (SCHERER; FARIAS, 2018SCHERER, Angelo Luís; FARIAS, Josefa Gomes. Uso da rede social Facebook como ferramenta de ensino-aprendizagem em cursos de ensino superior. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância, v.17, n.1, p.81-104, 2018.). Vale destacar que o elo entre a IES e estudante se torna efetivo por meio da função profissional do tutor a distância, personagem central desta pesquisa.

O trabalho do tutor a distância evoluiu juntamente com a consolidação da modalidade EAD e este profissional é o ponto de conexão entre estudante e demais profissionais da IES. É ele quem efetua o contato inicial com a turma, gerando, através de mensagens enviadas, o senso de comunidade nos discentes que estão cursando as mesmas disciplinas. A ele também se atribui a função de oferecer suporte, aconselhar o estudante na organização, planejamento e autonomia no aprendizado, e sobretudo passar feedbacks. Ou seja, enquanto na sala de aula presencial, esse retorno acontece instantaneamente e é perceptível pelo estudante por meio de canais verbais, gestuais, visuais e auditivos, no ambiente virtual, esta resposta continua acontecendo, mas por vezes, de forma assíncrona, o que demanda uma percepção ainda maior de um instrutor dotado de inteligência interpessoal (PRETTI, 2003PRETTI, Oreste; OLIVEIRA, Gleyva. O estado da arte sobre “tutoria”: modelos e teorias em construção. Relatório de Pesquisa “O sistema de Orientação Acadêmica no curso de Pedagogia a distância da Universidade Federal de Mato Grosso. Programa CAERENAD-Téléuniversitédu Québec, Canadá, 2003.; MAIA; MATTAR, 2007MAIA, Carmem; MATTAR, João. ABC da EaD: a educação a distância hoje. Pearson Prentice Hall, 2007.).

Evidencia-se, portanto, diferenças entre a atuação do tutor a distância em relação à função do professor, uma vez que não cabe ao tutor ensinar, mas compreender a concepção e as características do curso em que trabalha, no intuito de orientar o estudante da melhor forma possível (SILVA; FIGUEIREDO, 2012SILVA, Camila Gonçalves; FIGUEIREDO, Vítor Fonseca. Ambiente virtual de aprendizagem: comunicação, interação e afetividade na EAD. Revista Aprendizagem em EAD, v. 1, n. 1, 2012.). De acordo com Almeida (2003ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003.), um tutor bem preparado profissionalmente é capaz de criar vínculo com o acadêmico, bem como incentivar o diálogo e gerar proximidade. A atuação do tutor está mais relacionada com o campo motivacional e da organização, do que propriamente da metacognição. O profissional deve estar apto a oferecer suporte administrativo, auxiliar na solução de problemas, levar à reflexão e sobretudo encorajar o estudante em sua trilha acadêmica (PRETTI, 2003PRETTI, Oreste; OLIVEIRA, Gleyva. O estado da arte sobre “tutoria”: modelos e teorias em construção. Relatório de Pesquisa “O sistema de Orientação Acadêmica no curso de Pedagogia a distância da Universidade Federal de Mato Grosso. Programa CAERENAD-Téléuniversitédu Québec, Canadá, 2003.).

Em geral, as atividades do tutor a distância podem ser enquadradas em quatro categorias distintas: técnica, gerencial, pedagógica e social. A correlação entre função e atividades desempenhadas, estão descritas no Quadro 1, construído com base nos autores Bentes (2009BENTES, Roberto de Fino. A avaliação do tutor. In: LITTO, Fredric Michael., FORMIGA, Manuel. Marcos. Maciel. (Org.). Educação a Distância: o estado da arte. 8.ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. cap.1, p.166-170.), Collins e Berge (1996COLLINS, Mauri; BERGE, Zane. Facilitating interaction in computer mediated online courses. Retrieved June, v. 15, p. 2000, 1996.), Mendes (2012MENDES, Valdelaine. O trabalho do tutor em uma instituição pública de ensino superior. Educação em Revista, Belo Horizonte, v.28, n.2, p. 103-132, jun.2012.), Pavanelo, Krasilchik e Germano (2018PAVANELO, Elisangela; KRASILCHIK, Myriam; GERMANO, José Silveiro Edmundo. Contribuições para a preparação do professor na Educação a Distância. Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distância, v.17, n.1, p.11-36, 2018.) e Pretti (2003PRETTI, Oreste; OLIVEIRA, Gleyva. O estado da arte sobre “tutoria”: modelos e teorias em construção. Relatório de Pesquisa “O sistema de Orientação Acadêmica no curso de Pedagogia a distância da Universidade Federal de Mato Grosso. Programa CAERENAD-Téléuniversitédu Québec, Canadá, 2003.):

Quadro 1
Definição das funções do tutor a distância

A principal atuação do tutor a distância consolida-se, portanto, em fazer bom uso da informação em benefício do outro. Ou seja, vale ressaltar que o bom exercício da função do tutor a distância, por meio do uso da tecnologia, apropriação e controle da informação pode provocar situações de aprendizagem e até mesmo levar os estudantes à construção de novos significados na representação do pensamento, e na democratização da informação.

3 Aproximações entre CoInfo e o papel profissional do tutor a distância

A globalização e a disseminação da TIC derrubaram barreiras territoriais e possibilitaram a reconfiguração dos relacionamentos, bem como novas habilidades para acessar, recuperar, compreender e utilizar a informação (ASSMAN,2000; BELLUZZO; FERES, 2016BELLUZZO, Regina Célia Baptista; FERES, Glória Georges. Inteligência, criatividade e competência em informação: uma articulação necessária no contexto social contemporâneo. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p.125-153.; SPUDEIT, 2016SPUDEIT, Daniela. Programas para desenvolvimento de competências informacionais: implementação, metodologias e avaliação. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (Org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p.235-277.). Requisito fundamental para compreender os novos processos de informação, a Competência em Informação (CoInfo) propõe a destreza de habilidades para que o ser humano lide com a grande produção de informação, juntamente com novas formas de pensar, agir e se comunicar (DUDZIAK, 2016DUDZIAK, Elisabeth Adriana. Políticas de competência em informação: leitura sobre os primórdios e a visão dos pioneiros da information literacy. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (Org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p. 19-50.; FERES; BELLUZZO, 2013).

A CoInfo considera o processo de aprendizagem da informação em sua completude, considerando habilidades para localizar, selecionar, acessar, organizar, usar a informação e gerar conhecimento, visando a tomada de decisão e solução de problemas (GASQUE, 2012GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. Letramento Informacional: pesquisa, reflexão e aprendizagem.Brasília: Editora FCI/Unb, 2012.). Seu conceito coaduna com o “aprender a aprender”, bem como evidencia o pensamento crítico e o aprendizado ao longo da vida (SPUDEIT, 2016SPUDEIT, Daniela. Programas para desenvolvimento de competências informacionais: implementação, metodologias e avaliação. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (Org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p.235-277.).

Esta sociedade tecnológica, em constante evolução, requer um aperfeiçoamento sucessivo das habilidades informacionais, o que Campello (2009CAMPELLO, Bernadete Santos. Letramento informacional: práticas educativas de bibliotecários em escolas de ensino básico. 2009. 203 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Escola de Ciência da Informação. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.) se refere a um continuum de habilidades que se aprimoram, e não apenas um objetivo com início, meio e fim. Para ser competente, o sujeito deve, portanto, adquirir conhecimento, experiência prática e transformá-la em ação. É também uma forma de modelar a percepção dos indivíduos em seus contextos culturais, um processo de aprendizagem investigativa e ativa, sendo a produção de conhecimento ao longo da vida, o exercício da cidadania (BRUCE, 2003BRUCE, Christine Susan. Las siete caras de la alfabetización eninformación en la ensañanza superior. In: ANALES DE DOCUMENTACIÓN. 2003. Anais [...] p. 289-294. (Murcia, Espanha); MATA, 2018; VITORINO; PIANTOLA, 2009VITORINO, Elizete. Vieira; PIANTOLA, Daniela. Competência Informacional - Bases históricas e conceituais: construindo significados. Ciência da Informação, Brasília, v. 38, n.3, p. 130-141, set./dez. 2009.)

Embora a CoInfo tenha se destacado, ao longo do tempo, principalmente no ambiente escolar, o impacto da informação na vida das pessoas, alcança esferas diversas, como o ambiente de trabalho, por exemplo, em que se faz necessário o manuseio de informações estratégicas. No contexto corporativo, a competência habilita o profissional a tomar decisões de forma mais assertiva, por meio da seleção daquilo que é mais relevante para o exercício da sua atividade (BELLUZZO, 2017BELLUZZO, Regina. Célia. Baptista. O estado da arte da competência em informação (CoInfo) no Brasil: das reflexões iniciais à apresentação e descrição de indicadores de análise. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v.13, n. esp., p. 47-76, jan/jul. 2017.; MIRANDA, 2006MIRANDA, Silvânia. Como as necessidades de informação podem se relacionar com as competências informacionais. Ciência da Informação, Brasília, v.35, n.3, p.99-114, set./dez.2006.; SANTOS; DUARTE; PRATA, 2008SANTOS, Elisangela Marina dos; DUARTE, Elizabeth Andrade; PRATA, Nilson Vidal. Cidadania e Trabalho na Sociedade da Informação. Perspectivas em ciência da informação, v. 13, n. 3, p. 208-222, 2008.).

A rápida produção e disseminação da informação requer um cidadão ativo e consciente, provido de pensamento crítico, apto a transformá-la e utilizá-la de forma eficiente. A CoInfo é permeada pela mobilização constante de conhecimentos, habilidades e atitudes, requisitos necessários para a solução de desafios informacionais e aplicação em ambientes educacionais ou corporativos.Resultados satisfatórios em corporações pertencem às pessoas que apresentam competência e capacidade de buscar, recuperar, avaliar e compartilhar informações. Tais aspectos promovem um entendimento mais abrangente das oportunidades e dos riscos que se apresentam dia-a-dia, e possibilitam ao indivíduo criar estratégias e exercer domínio e controle na execução de suas tarefas, de forma a minimizar erros e cumprir objetivos estabelecidos (BELLUZZO, 2018BELLUZZO, Regina Célia Baptista. Competência em informação (CoInfo) e midiática: inter-relação com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sob a ótica da educação contemporânea. Folha de Rosto - Revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v. 4, n. 1, p. 15-24, 2018.; DUDIZIAK, 2016; SANTOS; SANTOS; BELLUZZO, 2016SANTOS, Vanessa Cristina Bissoli; SANTOS, Camila Araújo; BELLUZZO, Regina Célia Baptista. A competência em informação em articulação com a inteligência competitiva no apoio ao alinhamento estratégico das informações nas organizações. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, v. 6, n. 1, p. 45-60, 2016.).

O profissional da atualidade é valorizado, sobretudo, no exercício de “aprender a aprender”, quando indivíduos optam por ultrapassar as barreiras do ensino formal e consideram aspectos técnicos, cognitivos, sociais, comportamentais e afetivos para melhor execução de suas atividades no ambiente de trabalho. O perfil deste novo profissional agrega múltiplas habilidades humanas, incluindo suas especificidades pessoais (BASETTO, 2018; GOMES; FIALHO; SILVA, 2013).

Embora haja a necessidade de se informar, nem sempre os profissionais sabem reconhecer e lidar com a informação. Uma vez que todo ambiente laboral é permeado por informações com pesos diferentes, destaca-se a CoInfo como requisito essencial para a solução de problemas maiores ou desempenho de atividades simples (COELHO et al., 2013COELHO, Marilda; MADEIRA, Maria Elisa S. E; FRANCA, Maria I. C.; COSMO, Tatiana, N. Relato de experiência de um programa de competência em informação no ambiente empresarial com apoio da educação à distância: CASETRANSPETRO. In: BELLUZZO, Regina Célia Baptista; FERES, Glória Georges (Org.) Competência em Informação: de reflexões às lições aprendidas. São Paulo: FEBAB, 2013. p.322-350.). A competência ultrapassa o conjunto de habilidades para acessar e recuperar a informação. Sua efetivação ocorre em um processo de compreensão, juntamente com habilidades genéricas para processá-la de forma subjetiva, sensorial e transformadora. A informação pode ser “subjetivamente construída”, considerando- se que o ambiente social e os processos cognitivos de cada indivíduo são relevantes no desenvolvimento desta competência (BRUCE, 2017; LLOYD, 2011LLOYD, Annemaree. Trapped between a rock and a hard place: what counts as information literacy in the workplace and how is it conceptualized? Library Trends, v. 60, n. 2, p. 277-296, 2011.; MIRANDA, 2006MIRANDA, Silvânia. Como as necessidades de informação podem se relacionar com as competências informacionais. Ciência da Informação, Brasília, v.35, n.3, p.99-114, set./dez.2006.).

O estudo da CoInfo em ambientes corporativos deve, portanto, ser observado de forma holística, ponderando os aspectos ambientais e sociais, bem como fatores coletivos e colaborativos, atributos triviais na esfera empresarial. Confere-se a esta competência uma prática multifacetada e complexa que não depende apenas da sistematização dos processos de apropriação da informação, mas de sua efetiva gestão. O planejamento de ações voltadas para o seu desenvolvimento, está além da boa utilização de recursos tecnológicos. A gestão e interação com a informação, de forma assertiva, por parte dos profissionais, pode inclusive, estimular a empresa a economizar recursos, enquanto a falta dela pode culminar em alguns problemas.

Para tanto, se reflete sobre a relevância da implantação de programas destinados à CoInfo, em ambientes corporativos, em formato de educação continuada, considerando respaldo às necessidades específicas de cada setor ou grupo de profissionais. Este processo de implantação é lento, requer mudança cultural, e se inicia, sobretudo, pelo entendimento da competência por parte dos executivos e gerência. Tais barreiras só podem ser rompidas por meio de uma parceria entre educadores, profissionais da informação e corporação (COELHO, 2010COELHO, Marlene Morbeck. Competência informacional no ambiente de trabalho: percepção do bibliotecário de órgão público. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 9. Rio de Janeiro. 2010. Anais [...] Rio de Janeiro, RJ. 2010.).

No contexto corporativo de instituições de ensino, como é o caso da EAD, o desígnio da CoInfo reside na viabilização da associação das informações a um público específico, em benefício da evolução do indivíduo em seu ambiente. Na interação entre tutor a distância e estudantes, o profissional atua como um multiplicador, responsável por reconhecer a necessidade de informação do discente e orientá-lo adequadamente. Este cenário dinâmico e complexo, requer profissionais que estejam aptos a buscar informações assertivas para a tomada de decisões e que desprendam esforços para a solução de problemas informacionais (MIRANDA, 2006MIRANDA, Silvânia. Como as necessidades de informação podem se relacionar com as competências informacionais. Ciência da Informação, Brasília, v.35, n.3, p.99-114, set./dez.2006.).

Nessas perspectivas, as dimensões da CoInfo, acima relatadas, se aproximam significativamente do papel profissional do tutor a distância. Deve-se associar a ele o uso produtivo do conhecimento adquirido e a capacidade de resgatar experiências anteriores e informações mais apropriadas para solução de problema. O tutor deve atual de forma prática, como um mediador que colabora com a democratização da informação (ALMEIDA; MARTINS, 2016ALMEIDA, Carolina; MARTINS, Micaela. O questionamento dos alunos em ambientes virtuais de aprendizagem. Internet. Latent Corpus Journal, v.6, n.1. 2016.; MIRANDA, 2006MIRANDA, Silvânia. Como as necessidades de informação podem se relacionar com as competências informacionais. Ciência da Informação, Brasília, v.35, n.3, p.99-114, set./dez.2006.).

Vale ressaltar que aCoInfo coaduna com três dimensões: o conhecimento, as habilidades e as atitudes. Elas estão diretamente associadas ao saber, saber fazer e saber agir. Estes três aspectos quando utilizados na função da tutoria, podem interferir de forma positiva ou negativa no aprendizado EAD. Cabe ao tutor avaliar e identificar a necessidade de informação do estudante para que a organização do conhecimento seja efetiva e relevante. Em um segundo momento, a interpretação destas informações e o acesso às fontes, requerem a habilidade de integrar o estudante ao processo do aprendizado. Confere-se neste sentido, a utilização da informação de forma crítica, seu processamento, armazenamento e compartilhamento.

Tais pontos encontram significado em um processo contínuo de aprender a aprender durante toda a vida. Sugere-se novas competências na construção do conhecimento e nas perspectivas cognitivas e sociais. Sendo assim, se confere que há, uma relação entre o que os autores definem como CoInfo (ACRL, 2016; BELLUZZO, 2018BELLUZZO, Regina Célia Baptista. Competência em informação (CoInfo) e midiática: inter-relação com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sob a ótica da educação contemporânea. Folha de Rosto - Revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v. 4, n. 1, p. 15-24, 2018.; BRUCE, 2003BRUCE, Christine Susan. Las siete caras de la alfabetización eninformación en la ensañanza superior. In: ANALES DE DOCUMENTACIÓN. 2003. Anais [...] p. 289-294. (Murcia, Espanha); DUDZIAK, 2016DUDZIAK, Elisabeth Adriana. Políticas de competência em informação: leitura sobre os primórdios e a visão dos pioneiros da information literacy. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (Org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p. 19-50.; MATA, 2018; SPUDEIT, 2016SPUDEIT, Daniela. Programas para desenvolvimento de competências informacionais: implementação, metodologias e avaliação. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (Org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p.235-277.) e as principais responsabilidades de um tutor a distância (COLLINS; BERGE, 1996COLLINS, Mauri; BERGE, Zane. Facilitating interaction in computer mediated online courses. Retrieved June, v. 15, p. 2000, 1996.; MENDES, 2012MENDES, Valdelaine. O trabalho do tutor em uma instituição pública de ensino superior. Educação em Revista, Belo Horizonte, v.28, n.2, p. 103-132, jun.2012.; PRETTI, 2003PRETTI, Oreste; OLIVEIRA, Gleyva. O estado da arte sobre “tutoria”: modelos e teorias em construção. Relatório de Pesquisa “O sistema de Orientação Acadêmica no curso de Pedagogia a distância da Universidade Federal de Mato Grosso. Programa CAERENAD-Téléuniversitédu Québec, Canadá, 2003.).

Manusear um número expressivo de ferramentas informacionais é parte essencial na resolução de problemas no ambiente de trabalho, sendo que é necessário mais do que habilidades digitais para lidar com máquinas. Nesses parâmetros, destaca-se a CoInfo como significativa para uma manutenção saudável da empresa, seja por meio de informações gerenciais, memória corporativa, pesquisa e desenvolvimento. As contribuições de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.) preconizam a competência em questão como fundamental para gestão da corporação, bem como um escaneamento estratégico das informações que perpassam o ambiente de trabalho. Ressalta-se que a CoInfo deve ser considerada parte do caráter da empresa, impresso especialmente em instituições que trabalham com o aprendizado.

Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.) preconizou, portanto, sete pilares essenciais para o desenvolvimento da CoInfo no ambiente de trabalho. Os aspectos sugeridos fazem relação às práticas de uso da tecnologia da informação, apropriação das fontes de informação, execução do processo, controle da informação, construção e ampliação do conhecimento pessoal baseado na área de interesse, e a utilização da informação em benefício do outro.

O presente estudo sugere uma aproximação entre os sete pilares de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.) e as atividades realizadas pelo tutor a distância, considerando suas funções gerenciais, pedagógicas, técnicas e sociais, conforme apresentadas acima, no Quadro1. A correlação entre as temáticas pode ser apreendida por meio das definições expostas no Quadro 2:

Quadro 2
Inter-relação entre os pilares de Bruce e o papel profissional do Tutor a Distância

Em síntese, é possível compreender estreita relação entre os sete pilares de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.) e as quatro funções do profissional tutor a distância. Para cada pilar da CoInfo foram associadas as atividades relacionadas ao dia a dia do tutor, aspectos teóricos que embasaram, na sequência, a coleta e análise de dados.

4 Procedimentos Metodológicos

A presente pesquisa é caracterizada como um estudo de campo, de abordagem qualitativa, a fim de explorar as opiniões e as percepções dos tutores a distância, a respeito das suas funções centrais e da temática CoInfo. O estudo permite um delineamento das particularidades e especificidades do trabalho do tutor, em uma universidade que atua na modalidade EAD, na cidade de Londrina, Paraná (FONSECA, 2002FONSECA, João José Saraiva. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UECE, 2002.; MARCONI; LAKATOS, 2002MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 5. ed., São Paulo: Atlas, 2002.; OLIVEIRA, 2007OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis: Vozes, 2007.).

Sobre suas fases, o estudo se iniciou com a realização uma pesquisa bibliográfica, com vistas a conceituar as temáticas relacionadas e resultou na construção do quadro teórico que preconiza Competência em Informação e Educação a Distância e que poderá ser utilizado posteriormente em outras pesquisas de temas correlacionados.

Como sujeitos da pesquisa foram selecionados tutores a distância que atuam no contexto EAD da referida universidade, nos cursos de Contabilidade, Gestão Logística e Gestão de Recursos Humanos.Por meio da seleção desta unidade de análise, pretendeu-se destacar o perfil profissional do tutor a distância, frente às características da Competência em Informação, bem como uma análise profunda das práticas adotadas no ambiente de trabalho e nas tarefas diárias, de acordo com os Pilares de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.). A amostra foi não probabilística por acessibilidade. Nesse sentido, a pesquisa contou com três participantes selecionados de forma intencional (GIL, 2008GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.).

Os dados pertinentes à pesquisa foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas com os tutores a distância anteriormente mencionados, em prol de um entendimento profundo das relações entre os pilares enunciados por Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.) as atividades profissionais neste ambiente. De acordo com Richardson (2008) e May (2004), a entrevista é fundamental na coleta de dados, pois estabelece uma relação próxima entre pesquisador e pesquisado. Este tipo de entrevista possibilita ao entrevistado discorrer de forma focalizada às indagações (MINAYO, 2012MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2012.).

Os três participantes que serão mencionados na etapa de análise de dados, apresentam nomes fictícios. O roteiro foi composto por questões que atendem aos pilares de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.), bem como as quatro funções do profissional tutor a distância, de modo a perpetrar o quadro teórico anteriormente apresentado.

A partir do embasamento teórico e do roteiro de entrevista, optou-se pela análise de dados por meio da Análise Categorial, proveniente da Análise de Conteúdo de Laurence Bardin (1991BARDIN, Laurence. Análisis de contenido. Madri: Ediciones Akal, 1991.), por meio de tratamento da informação contida nas mensagens e análise de seus significados, focalizando-se as partes, em busca de se entender o todo.

5 Análise e discussão dos resultados

Os resultados da pesquisa de campo apontaram para a ausência de conhecimento ou informalidade da utilização da Competência em Informação por parte dos tutores entrevistados. Percebe-se, no entanto que as inferências da CoInfo são essenciais para o trânsito da informação no ambiente corporativo da IES.

Para que fosse possível compreender a utilização da CoInfo consciente ou inconsciente no ambiente de trabalho da IES, a análise de dados preconizou as categorias descritas no procedimento metodológico, em concordância com as funções profissionais dos tutores a distância e os pilares de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.). Para tanto, a discussão se legitima a partir de trechos das falas dos entrevistados, transcritas e fundamentadas na sequência deste estudo.

As categorias foram construídas de forma não hierárquica e estão inter-relacionadas. Os participantes que atuam como tutores a distância na IES têm perfil e nomes fictícios descritos no Quadro 3.

Quadro 3
Perfil dos participantes

A análise de dados seguirá as categorias descritas na seção de procedimento metodológico, em concordância com as funções profissionais dos tutores a distância: técnica, gerencial, pedagógica e social, bem como sua inter-relação com os sete pilares de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.).

5.1 Categoria Técnica

Associa-se à temática das funções técnicas, dois pilares definidos por Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.), para a utilização da CoInfo, no ambiente de trabalho: Uso da Tecnologia da Informação; Busca e apropriação das Fontes de Informação. O primeiro está associado propriamente à utilização da tecnologia para recuperação da informação, seja por meio de consultas no AVA, acesso à Biblioteca Virtual, ou manuseio de ferramentas que fazem parte do cotidiano da corporação, como caixa de email e pacote office, por exemplo. Em complemento, o segundo associa-se à capacidade do tutor de encontrar as fontes de informação confiáveis (BRUCE, 1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.).

Para compreensão da relação entre a função técnica do tutor a distância e os primeiros pilares de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.), a entrevista teve como foco temáticas como a utilização da TIC, extensão de arquivos, facilidade e dificuldades no manuseio do AVA, a forma como o profissional encontra fontes de informação para sanar dúvidas dos estudantes, bem como segurança e confiabilidade dos dados recuperados.

Os relatos colhidos demonstram que os entrevistados se consideram aptos a utilizar as ferramentas tecnológicas disponíveis no seu ambiente de trabalho e que o seu manuseio ocorre de forma intuitiva, sem que haja, um preparo específico por parte da instituição em que atuam. Tal aspecto pode ser observado na fala da entrevistada Alice: “Sim, eu tenho uma certa facilidade, mas isso tudo, eu busco. Eu nunca fiz um curso, ou nunca a empresa me exigiu nada, mas por tentativa e erro mesmo, ir tentando [...]”.Compreende-se, por meio da fala da tutora, que a complexidade dos contextos informacionais atuais sugere um indivíduo que prioriza o domínio das informações, para sua sobrevivência no trabalho, por meio da proposição de soluções (SPUDEIT, 2016SPUDEIT, Daniela. Programas para desenvolvimento de competências informacionais: implementação, metodologias e avaliação. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (Org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p.235-277.).

O primeiro pilar de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.) sugere que a CoInfo deve ser experimentada quando o indivíduo utiliza as ferramentas disponíveis para conscientização e comunicação da informação. Ou seja, faz parte desse processo mais do que entender o funcionamento de uma ferramenta tecnológica, ter consciência da sua utilização. Ainda de acordo com a fala da participante Alice, percebe-se que o uso das ferramentas e a busca por um melhor manuseio, parte do interesse pessoal da participante. Tal aspecto reforça a necessidade informacional, intrínseca ao ser humano pertencente a esta nova sociedade (ASSMAN, 2000; FERES; BELLUZZO, 2016BELLUZZO, Regina Célia Baptista; FERES, Glória Georges. Inteligência, criatividade e competência em informação: uma articulação necessária no contexto social contemporâneo. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p.125-153.).

Conforme destacou Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.), o emprego do grande número de ferramentas informacionais, no ambiente corporativo, é essencial para a tomada de decisão e solução de problemas, uma vez que apresentar competências para manusear as máquinas é tão relevante quanto a capacidade humana de interpretar e gerenciar informações. Em complemento, Lloyd (2011LLOYD, Annemaree. Trapped between a rock and a hard place: what counts as information literacy in the workplace and how is it conceptualized? Library Trends, v. 60, n. 2, p. 277-296, 2011.) destaca como fundamental o trabalho em equipe para a proposição de ideias na identificação e solução de problemas do cotidiano laboral. Este aspecto foi percebido na fala da entrevistada Marisa, exposta abaixo, quando discorre sobre eventuais dificuldades que possa encontrar no uso da TIC: “Pelo menos assim, quando eu tenho alguma dificuldade, a gente...é uma interação que a gente tem com os colegas também, porque sempre algum sabe alguma coisa que a gente não sabe, a gente vai se complementando. E no tempo de tutoria a gente já desenvolveu bastante isso, a gente consegue utilizar bem mais ferramentas do que quando a gente começou, justamente por essa troca [...]”. Compreende-se que, embora o desenvolvimento tecnológico tenha sido essencial para a disseminação da EAD, os fatores humanos e suas interações são tão relevantes quanto o manuseio das ferramentas tecnológicas. A fala também evidencia uma falta de suporte ou treinamento técnico, por parte da instituição em questão, uma vez que a profissional menciona uma forma de trabalho por tentativa e erro, em que os acertos se dão mais por uma troca de informações entre os colegas de trabalho, do que propriamente um incentivo da companhia à formação técnica dos seus profissionais.

A respeito do destaque que a entrevistada Marisa deu ao relacionamento interpessoal e à convivência com os colegas de trabalho para melhor uso das ferramentas, vale ressaltar que tão importante quanto o uso da TIC, é o saber encontrar as fontes de informações corretas, conforme Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.) discorre em seu segundo pilar. A autora reforça que estas fontes de informação podem ser humanas, ou então pertencentes à empresa em forma de ferramentas, como é caso da Biblioteca Virtual da universidade em questão.

Ser dotado de competência em informação, dentre outros elementos, equivale também à capacidade que o profissional tem de utilizar e buscar fontes de informação relevantes para trabalhar com questões referentes à informação. O tempo empregado na busca, bem como a recuperação de fontes apropriadas impactam no custo da informação dentro de uma empresa. Sendo assim, se torna relevante ao profissional desta sociedade a utilização de forma efetiva das ferramentas de busca de informação, para um melhor desempenho de sua função (BASSETTO, 2018BASSETTO, Clemilton Luís. A competência em informação como elemento inovador no apoio às micro e pequenas empresas: uma modelagem teórico-prática aplicável aos programas de capacitação do SEBRAE/SP. 2018. 261f. Tese (Doutorado em Ciência de Informação) - Universidade Estadual Paulista, Marília, 2018.; COELHO, 2010COELHO, Marlene Morbeck. Competência informacional no ambiente de trabalho: percepção do bibliotecário de órgão público. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 9. Rio de Janeiro. 2010. Anais [...] Rio de Janeiro, RJ. 2010.; MELO; ARAÚJO, 2007; REZENDE, 2002).

Sobre a temática e o segundo pilar de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.), referente à busca e apropriação das fontes de informação, observou-se que todos os entrevistados discorreram sobre dificuldades que encontram ao utilizar a Biblioteca Virtual, conforme pode ser percebido nas falas do participante Lucas, transcritas abaixo: “Biblioteca Virtual....Eu acho que...nem tudo que você coloca lá para buscar um assunto, alguma coisa, ele te direciona o que você precisa. Você acaba...aparecendo um leque de opções e talvez você colocando a palavra chave que você precisa naquele ponto ali, não te traz a informação, tem que fazer uma grande pesquisa, é o que eu acho...teria um pouco mais de dificuldade...seria essa questão [...]”. Embora o participante demonstre acessar a Biblioteca Virtual, ele também expõe suas dificuldades no domínio das ferramentas de buscas disponíveis dentro da biblioteca. De acordo com o segundo pilar da CoInfo (ACRL, 2000), para ser competente em informação, o indivíduo deve selecionar o método investigativo ou sistema de informações mais apropriados para acessar a informação necessária, construir e implementar estratégias de pesquisa, recuperar a informação utilizando uma variedade de métodos, bem como extrair, registrar e gerenciar as fontes de informação. Sendo assim, percebe-se que embora haja interesse por parte do participante para utilizar as fontes de informação, não há um preparo que evidencie esta habilidade informacional.

Sendo assim, entende-se que as falas apresentadas demonstram que, no quesito utilização das ferramentas tecnológicas, os tutores estão aptos para desempenhar atividades que demandam o uso das tecnologias requeridas em seu ambiente de trabalho, mesmo não havendo uma preparação ou treinamento por parte da instituição em que trabalham. No entanto em relação ao segundo pilar de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.), referente ao acesso às fontes de informação, os participantes apontaram dificuldades, principalmente em relação à utilização da Biblioteca Virtual, o que se faz notar que, embora os entrevistados tenham apresentado facilidade para cumprir com suas funções técnicas básicas, carecem de habilidades que evidenciam a CoInfo, no contexto profissional.

5.2 Categoria Gerencial

Para esta categoria, foram direcionados como eixo de discussão, a função gerencial do tutor a distância, correlacionada ao pilar de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.), enunciado como a “CoInfo utilizada no controle da informação”. Evidencia-se a relevância da gestão da informação no ambiente de trabalho para utilização posterior, bem como o seu manuseio de forma correta no atendimento às demandas dos estudantes.

A autora chama a atenção para o uso da CoInfo na conexão de informações, nas habilidades de relacionar informações similares e criar pontos de referência para recuperação futura. Tais aspectos vão ao encontro da função gerencial no papel profissional da tutoria de organizar o processo de aprendizado, o que pode culminar no auxílio na solução de problemas e na tomada de decisão do estudante (BRUCE, 1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.).

Sobre os aspectos gerenciais da função do tutor, nota-se a partir dos depoimentos dos entrevistados que não há uma forma consolidada de gestão das informações, no respectivo ambiente de trabalho. Sobre a temática, o participante Lucas afirma utilizar o e-mail não apenas como uma ferramenta de comunicação, mas também para a organização de informações que são relevantes na sua atuação: [...] “A maioria das vezes encaminho para o meu e-mail. Isso, para deixar registrado...ai eu organizo lá no e-mail por assunto e tem as pastinhas todas lá e vou organizando lá. E depois se for necessário baixar...no computador, mas até então fica no e-mail”. Percebe-se, pela referida fala, que não há um método ou software específico para que as informações pertinentes à rotina de trabalho sejam organizadas. Sendo assim, este gerenciamento depende, exclusivamente de cada funcionário e da forma e método que ele optar.

Para a tutora Alice, a melhor forma de gerenciar as informações do seu contexto laboral, consiste na utilização da área de trabalho do computador e na separação de temáticas por cores, por meio de ferramentas que estão disponíveis em sua máquina. Para ela, informações relevantes ou tarefas que necessitam de ajustes posteriores, devem ficar em destaque, conforme descrito: “Informações relevantes, principalmente vindas da coordenação, eu procuro armazenar no computador, o arquivo, mas eu utilizo muitos os check notes, os bloquinhos que estão na frente do computador. Me ajuda, eu separo por cores, e isso é uma coisa que eu uso muito no dia a dia, eu gosto de deixar ali a vista, e também se é uma coisa muito diferente, que eu fazia diferente antes e eu tenho que alterar, eu também prefiro deixar na minha vista”. Compreende-se que a profissional estabelece relações das informações por meio das cores, fator que corrobora na lembrança dos pontos de referência para uso futuro (BRUCE, 1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.). Tal atitude pode ser associada com o terceiro padrão da ACRL (2000) que consiste em avaliar criticamente a informação e suas fontes e incorporar a informação selecionada em sua base de conhecimento e sistema de valores. Ou seja, percebe-se que a entrevistada utiliza da síntese de ideias para construir novos conceitos e para facilitar o gerenciamento das informações que são relevantes.

As dificuldades apresentadas na recuperação da informação, sugerem que há uma informalidade no fluxo da informação no ambiente de trabalho em questão, conforme pode ser percebido no depoimento da participante Marisa: “Olha, eu costumo me organizar do meu jeito. Eu costumo extrair as informações que eu preciso e fazer um arquivo separado enxuto. São aquelas informações rápidas [...]”. Vale ressaltar que o custo da informação, em uma corporação é impactado de acordo com o tempo empregado em sua recuperação (COELHO, 2010COELHO, Marlene Morbeck. Competência informacional no ambiente de trabalho: percepção do bibliotecário de órgão público. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 9. Rio de Janeiro. 2010. Anais [...] Rio de Janeiro, RJ. 2010.). Esta habilidade de compactar as informações, sugerida na fala de Marisa, torna o processo de encontro mais rápido, afetando de forma positiva o seu trabalho.

A mobilização de informações em um ambiente corporativo é catalizadora para a geração de conhecimento e solução de desafios informacionais. Para Paletta, Gonzalez e Vergueiro (2019, online) “Com o uso de novas tecnologias é imperativo o uso das Tecnologias da Informação e das Comunicações em tornar os processos de busca de informação e a geração de novo conhecimento mais ágeis. Gerenciar, de forma efetiva as informações auxiliam na tomada de decisões e seu domínio e controle auxiliam na execução das tarefas e na minimização de erros (BELLUZZO,2018BELLUZZO, Regina Célia Baptista. Competência em informação (CoInfo) e midiática: inter-relação com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sob a ótica da educação contemporânea. Folha de Rosto - Revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v. 4, n. 1, p. 15-24, 2018.; DUDIZIAK, 2016; SANTOS et al., 2016SANTOS, Vanessa Cristina Bissoli; SANTOS, Camila Araújo; BELLUZZO, Regina Célia Baptista. A competência em informação em articulação com a inteligência competitiva no apoio ao alinhamento estratégico das informações nas organizações. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, v. 6, n. 1, p. 45-60, 2016.).

A função gerencial enunciada por Collins e Berge (1996COLLINS, Mauri; BERGE, Zane. Facilitating interaction in computer mediated online courses. Retrieved June, v. 15, p. 2000, 1996.) e sua perspectiva de tomar decisões, coadunam com o estímulo que o exercício da CoInfo no planejamento de soluções que capacitam o ser humano a utilizar corretamente as informações, uma vez que cabe ao tutor a distância a organização do processo de aprendizado, por meio da disposição de cronogramas, alinhamento do fluxo de atividades e direcionamento do estudante na tomada de decisão (COLLINS; BERGE, 1996COLLINS, Mauri; BERGE, Zane. Facilitating interaction in computer mediated online courses. Retrieved June, v. 15, p. 2000, 1996.; SPUDEIT, 2016SPUDEIT, Daniela. Programas para desenvolvimento de competências informacionais: implementação, metodologias e avaliação. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (Org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p.235-277.).

Para o participante Lucas, a agilidade é fundamental na resposta ao estudante. No contexto EAD, faz parte das atribuições do tutor a distância, definidas pelo MEC (2007), o esclarecimento de dúvidas pelos mais diversos meios, seja no ambiente virtual de aprendizagem, por videoconferência ou telefone. Os questionamentos devem ser mediados e respondidos com base no conteúdo da disciplina em questão. A percepção do tutor Lucas é explicitada na fala: “Na hora que você recebe alguma dúvida, algum questionamento, você...a partir do momento que você é organizado e você sabe onde você colocou sua informação, e onde buscar sua informação, você já vai direto na fonte e consegue responder ele com tempo rápido [...]”. O papel do tutor na solução de problemas e na tomada de decisões no percurso acadêmico evidencia a importância da gestão das informações e de conteúdo específico da área de estudo. A função gerencial enunciada por Collins e Berge (1996COLLINS, Mauri; BERGE, Zane. Facilitating interaction in computer mediated online courses. Retrieved June, v. 15, p. 2000, 1996.) e sua perspectiva de tomar decisões, coadunam com o estímulo que o exercício da CoInfo no planejamento de soluções que capacitam o ser humano a utilizar corretamente as informações, uma vez que cabe ao tutor a distância a organização do processo de aprendizado, por meio da disposição de cronogramas, alinhamento do fluxo de atividades e direcionamento do estudante na tomada de decisão (COLLINS; BERGE, 1996COLLINS, Mauri; BERGE, Zane. Facilitating interaction in computer mediated online courses. Retrieved June, v. 15, p. 2000, 1996.; SPUDEIT, 2016SPUDEIT, Daniela. Programas para desenvolvimento de competências informacionais: implementação, metodologias e avaliação. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (Org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p.235-277.).

Destarte, sobre a categoria gerencial, cabe destacar as percepções de que os três tutores a distância optam por trabalhar de forma diferente, seja por consequência de suas preferências pessoais ou em decorrência da falta de institucionalização de processos gerenciais, por parte da instituição. Percebe-se também que os entrevistados não mencionaram sobre possíveis treinamentos que pudessem operacionalizar o tráfego e gerenciamento das informações, pertinentes à sua função gerencial.

5.3 Categoria Pedagógica

A função pedagógica remete à capacidade de identificar problemas dos estudantes e propor soluções por meio das informações recuperadas em seu ambiente de trabalho, aspecto que também pode ser associado ao primeiro padrão da ACRL (2000), de definir e articular as necessidades de informação. As atividades relacionadas a esta temática fazem parte das atribuições mais importantes do tutor a distância, entre elas a mediação e a facilitação dos processos educacionais. O instrutor deve contribuir com seu conhecimento e insights para compreender as dúvidas dos estudantes, focalizar as discussões sobre conceitos e habilidades críticas. Cabe a ele a moderação de comportamentos online, por meio da preparação dos estudantes em suas experiências acadêmicas (COLLINS; BERGE, 1996COLLINS, Mauri; BERGE, Zane. Facilitating interaction in computer mediated online courses. Retrieved June, v. 15, p. 2000, 1996.).

Tais aspectos podem ser diretamente relacionados a três pilares enunciados por Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.): A CoInfo utilizada nos processos de informação; a CoInfo na construção do conhecimento pessoal; a CoInfo na extensão do conhecimento. De forma geral, aborda sobre a importância do trabalho em equipe, o pensamento crítico e analítico e a criatividade como impulsionadora de insights para solução de problemáticas. Tais habilidades e práticas fomentam um ambiente de trabalho mais efetivo, uma vez que decisões são tomadas de forma mais assertivas e práticas (SANTOS; DUARTE; PRATA, 2008SANTOS, Elisangela Marina dos; DUARTE, Elizabeth Andrade; PRATA, Nilson Vidal. Cidadania e Trabalho na Sociedade da Informação. Perspectivas em ciência da informação, v. 13, n. 3, p. 208-222, 2008.).

Com vistas ao pilar que faz referência aos processos informacionais, os participantes foram interrogados sobre a identificação e respostas às dúvidas dos estudantes, bem como se consideram relevante o trabalho em equipe para conclusão desse processo. Assim como a ACRL (2000), menciona, no quarto padrão o uso da informação efetiva para acompanhar objetivos específicos, Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.) aponta que a reunião de fontes de informações diversas e a sua futura análise como um desafio em ambientes corporativos. Nesse sentido, a entrevistada Marisa discorre sobre as dificuldades que encontra ao entender os questionamentos dos estudantes: “Infelizmente a gente tem lidado muito com a falta de vocabulário do aluno. As vezes ele manda uma mensagem e você tem que [...] traduzir o que ele tá falando para entender qual que é a dúvida dele. Mas desde que você conseguiu acessar o assunto que ele tá em dúvida, [...] a gente consegue perceber onde que tá a falha do aluno. Eu não sei se a gente vai alcançando isso já com o tempo de trabalho, se vai começando...você consegue entender que o aluno tava com dúvida”.

Percebe-se que referente ao questionamento do estudante, a tutora atribui o entendimento da dúvida ao tempo de experiência que acumula na função, e não especificamente ao desempenho de habilidades informacionais. Embora Campello (2009CAMPELLO, Bernadete Santos. Letramento informacional: práticas educativas de bibliotecários em escolas de ensino básico. 2009. 203 f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Escola de Ciência da Informação. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.) discorra sobre a CoInfo como um continuum de habilidades que se aprimoram de acordo com o tempo e uso das informações, tal aspecto não invalida a crença de que o estabelecimento de programas de competência deve ser atribuído em ambientes corporativos. Vale ressaltar, sobre estes aspectos, que a prática da CoInfo poderia prover instrumentos que facilitassem o acesso e o uso da informação, por meio do redimensionamento de ambientes e situações operacionais. No exercício de sua trajetória profissional, o tutor deve lidar com a informações delineadas de forma complexa e não canônicas, uma vez que ele se relaciona com pessoas de diferentes níveis hierárquicos (LLOYD, 2011LLOYD, Annemaree. Trapped between a rock and a hard place: what counts as information literacy in the workplace and how is it conceptualized? Library Trends, v. 60, n. 2, p. 277-296, 2011.).

Sobre o entendimento dos questionamentos dos estudantes, Lucas também menciona as dificuldades que encontra: “Normalmente ele sempre manda a dúvida, algumas vezes de fácil entendimento, eles acabam, alguns tentam esclarecer de uma forma fácil para que a pessoa que esteja do outro lado, recebendo a mensagem de dúvida dele entenda, mas acaba complicando mais...ai a gente acaba solicitando pra ele ser mais claro, desenvolver um pouco melhor a dúvida dele para conseguir buscar ou responder a dúvida”. É evidente que parte do processo de busca de informação, na prática profissional do tutor a distância, perpassa, anteriormente, pelas demandas vindas dos estudantes, dependendo consequentemente de como a dúvida é apresentada. No entanto, compreende-se que o indivíduo dotado de competência em informação é capaz de reconhecer suas necessidades de informação e utilizar fontes relevantes na solução de problemas(MELO; ARAÚJO, 2007). No contexto EAD, o entendimento destas problemáticas levam o tutor a contribuir com a própria formação do acadêmico.

A participante Alice, discorre que para melhor entendimento das questões apresentadas pelos estudantes e como forma de agilizar esse processo, estabeleceu melhor utilização de uma ferramenta disponível no AVA, conforme consta em seu depoimento: “Sim [...] eu também sou estudante, então eu procuro pensar como os alunos se sentem e facilitar o dia a dia dos alunos. Uma outra ferramenta que eu criei também, que ajuda, me ajudou e ajuda os alunos, que é também uma coisa que me ajuda no meu estudo, são as perguntas frequentes, que é o FAQ ne? Frequently Asked Questions.” A atitude da tutora demonstra uma visão profissional holística e um desempenho no ambiente virtual, que ultrapassa as tarefas corriqueiras sugeridas pela universidade. O fortalecimento de ações proativas, principalmente em contextos digitais, demonstra destreza não só com a CoInfo, mas também com as habilidades infocomunicacionais, seja por meio da utilização criativa da informação para a solução de problemas, bem como por meio atitudes que estimulam a colaboração entre os pares envolvidos no processo (RAISH; RIMLAND, 2016RAISH, Victoria; RIMLAND, Emily. Employer perceptions of critical information literacy skills and digital badges. College & Research Libraries, v. 77, n. 1, p. 87-113, jan. 2016.).

Em meio a este processo de prestar atendimento ao estudante, todos os participantes destacaram como fundamental o trabalho em equipe. Entre as funções mais relevantes do tutor a distância está a interação e a geração, no estudante, do sentimento de pertencimento ao grupo. A distância física não deve poupar o indivíduo de se relacionar academicamente e de se socializar com pessoas provenientes de realidades distintas. Para isso, se requer deste profissional que media o processo de aprendizado, não só as habilidades referentes à CoInfo, mas inteligência interpessoal e a disponibilidade para viabilizar estas interações que, por vezes acontecem de forma assíncrona (MAIA; MATTAR, 2007MAIA, Carmem; MATTAR, João. ABC da EaD: a educação a distância hoje. Pearson Prentice Hall, 2007.; PRETTI, 2003PRETTI, Oreste; OLIVEIRA, Gleyva. O estado da arte sobre “tutoria”: modelos e teorias em construção. Relatório de Pesquisa “O sistema de Orientação Acadêmica no curso de Pedagogia a distância da Universidade Federal de Mato Grosso. Programa CAERENAD-Téléuniversitédu Québec, Canadá, 2003.; SILVA; FIGUEIREDO, 2012SILVA, Camila Gonçalves; FIGUEIREDO, Vítor Fonseca. Ambiente virtual de aprendizagem: comunicação, interação e afetividade na EAD. Revista Aprendizagem em EAD, v. 1, n. 1, 2012.).

O fortalecimento destas relações e o trabalho em grupo apresentam coerência ao quinto pilar de Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.), referente à CoInfo como ferramenta para a construção do conhecimento pessoal, do pensamento crítico e da análise das informações antes de utilizá-las. Compreende-se tais habilidades como fundamentais em ambientes corporativos, onde o fluxo informacional é ainda mais intenso e a tomada de decisão deve ocorrer rapidamente. O planejamento de soluções no ambiente de trabalho está estritamente ligado ao conhecimento pessoal do profissional e sua capacidade de aprender ao longo da vida (BRUCE, 2003BRUCE, Christine Susan. Las siete caras de la alfabetización eninformación en la ensañanza superior. In: ANALES DE DOCUMENTACIÓN. 2003. Anais [...] p. 289-294. (Murcia, Espanha); MATA, 2018; SPUDEIT, 2016SPUDEIT, Daniela. Programas para desenvolvimento de competências informacionais: implementação, metodologias e avaliação. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (Org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p.235-277.).

A ampliação do conhecimento pessoal para o desempenho das funções profissionais se mostrou relevante para os participantes, conforme pode-se perceber na fala da tutora Marisa: “Se eu tivesse ficado só com o que aprendi na minha formatura, com certeza eu não conseguiria nem responder os alunos da maneira que eu consigo. Justamente por ter diversificado esse conhecimento, é que minha vida profissional também cresceu”.A participante atribui o seu sucesso profissional à busca por conhecimento, conforme prossegue na fala: “[...] e assim, por eu viver [...] onde a gente participa de muita leitura, meu marido mesmo, [...]eu costumo falar que eu faço curso por escala, ele já participou de muitos cursos de gestão, eu costumo trazer isso para dentro do meu trabalho”.

Para os profissionais Alice e Lucas, o ambiente virtual de aprendizagem e a Universidade Corporativa são ferramentas relevantes, não só para desempenho de suas funções, mas também para a ampliação do conhecimento pessoal, conforme pode ser observado nas respetivas falas: “Sim, eu utilizo principalmente a universidade corporativa que a gente tem acesso, com muitos cursos, mas ainda acho que eu utilizo pouco, poderia utilizar mais. Especificamente para minha área, eu ainda prefiro o livro didático”.A fala do entrevistado Lucas complementa: “Normalmente a gente tem que fazer a leitura do conteúdo, porque eles falam um trecho de dúvidas, de um questionamento de um livro didático, por exemplo, e acaba nem sinalizando que página que é o título do capitulo que estava no livro que ele tem dúvida...e manda simplesmente, to com dúvida em tal informação. E ai você acaba tendo o conteúdo se caso eu já não tenha conhecimento sobre”.Compreende-se que apesar da empresa disponibilizar a Universidade Corporativa, não há um incentivo maior para que seus profissionais a utilizem. Ou seja, a partir dessa perspectiva dos entrevistados anteriormente abordada, é possível traçar um paralelo com o que argumentam os autores sobre a CoInfo como exercício de aprendizado ao longo da vida (BASETTO, 2018; BELLUZZO, 2018BELLUZZO, Regina Célia Baptista. Competência em informação (CoInfo) e midiática: inter-relação com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sob a ótica da educação contemporânea. Folha de Rosto - Revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação, v. 4, n. 1, p. 15-24, 2018.; BRUCE, 2003BRUCE, Christine Susan. Las siete caras de la alfabetización eninformación en la ensañanza superior. In: ANALES DE DOCUMENTACIÓN. 2003. Anais [...] p. 289-294. (Murcia, Espanha); GOMES; FIALHO; SILVA, 2013)

Outro fator abordado por Bruce no pilar referente à importância da ampliação do conhecimento pessoal é o pensamento crítico e a análise das informações recebidas (BRUCE, 1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.). Nesse sentido, cabe ao tutor definir sobre a utilização, processamento e compartilhamento da informação de forma ética. Os participantes demonstraram desconforto ao responder sobre o pensamento crítico e a abertura que têm para questionar ou analisar as informações que chegam até eles. Vale lembrar que, principalmente em ambientes de trabalho, saber lidar com a informação de forma efetiva, é tão relevante quanto saber encontrá-la (COELHO, 2010COELHO, Marlene Morbeck. Competência informacional no ambiente de trabalho: percepção do bibliotecário de órgão público. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 9. Rio de Janeiro. 2010. Anais [...] Rio de Janeiro, RJ. 2010.; ZUCCARI; BELLUZZO, 2016ZUCCARI, Patrícia.; BELLUZZO, Regina. Celia. Baptista. A competência em informação e o perfil empreendedor no âmbito das organizações. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, João Pessoa, v.6, n.esp., p. 61-71, jan. 2016.). Este aspecto pode ser percebido na fala da tutora Alice: “Eu acho que tem pouca abertura para o pensamento crítico, que está sendo visto como uma reclamação e não necessariamente como algo bom, e...a gente procura questionar algumas coisas, mas de uma forma bem limitada. A gente não tem uma liberdade para o pensamento crítico [...] se não tiver pensamento crítico, não evolui, fica estagnado”.A participante associa a falta de espaço para o pensamento crítico como um limitador do seu desenvolvimento como profissional.

Cabe ressaltar que a abordagem reflexiva da informação a valoriza, por meio da certificação da procedência da mesma e posterior utilização de forma ética. Especificamente no contexto EAD, a análise crítica estabelece tomadas de decisões mais assertivas, e por consequência, um melhor atendimento ao estudante (ALMEIDA, 2003ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003.; ALVES; NOVA, 2002).

O compartilhamento da informação de forma responsável está intrinsicamente ligado ao penúltimo pilar enunciado por Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.) que se refere à extensão do conhecimento pessoal na construção de novas ideias. A autora associa a este aspecto o discernimento criativo na solução de problemas e aborda com relevância sobre trabalho em equipe na agilidade de processos. A temática envolve a capacidade de que o indivíduo competente em informação tem de olhar sob novas perspectivas ao recuperar informações que estão em sua memória. O mapeamento destas memórias pode gerar novas ideias e solucionar problemas (BELLUZZO, 2013; SANTOS; SANTOS; BELLUZZO, 2016SANTOS, Vanessa Cristina Bissoli; SANTOS, Camila Araújo; BELLUZZO, Regina Célia Baptista. A competência em informação em articulação com a inteligência competitiva no apoio ao alinhamento estratégico das informações nas organizações. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, v. 6, n. 1, p. 45-60, 2016.). Nessa temática, Lucas discorre sobre o tempo: “Acho que quando você pensa em soluções criativas, pode poupar tempo, porque dependendo da atividade ou do problema que tá enfrentando e você tira um tempo para planejar e pensar no que você pode reduzir de tempo do projeto ou da atividade, da dúvida em si, você consegue [...]

Vale reforçar que nesta sociedade da informação, fatores como tempo e espaço são mais flexíveis, principalmente no que se refere ao aprendizado do indivíduo. Este cenário permeado por um fluxo informacional, cada vez mais rápido e complexo requer, portanto, habilidades para a tomada de decisões assertivas e o uso contínuo da CoInfo(MIRANDA, 2006MIRANDA, Silvânia. Como as necessidades de informação podem se relacionar com as competências informacionais. Ciência da Informação, Brasília, v.35, n.3, p.99-114, set./dez.2006.; SANTOS; DUARTE; PRATA, 2008SANTOS, Elisangela Marina dos; DUARTE, Elizabeth Andrade; PRATA, Nilson Vidal. Cidadania e Trabalho na Sociedade da Informação. Perspectivas em ciência da informação, v. 13, n. 3, p. 208-222, 2008.), o que reforça a necessidade de desenvolvimento de programas de CoInfo em ambientes corporativos.

A criatividade, bem como a colaboração em rede e a comunicação são destaques no que tange à competência em meios digitais e as habilidades infocomunicacionais para uma contribuição holística nos processos de informação que ocorrem em ambientes online(BAWDEN, 2008; RAISH; RIMLAND, 2016RAISH, Victoria; RIMLAND, Emily. Employer perceptions of critical information literacy skills and digital badges. College & Research Libraries, v. 77, n. 1, p. 87-113, jan. 2016.; SANTOS et. al., 2016SANTOS, Vanessa Cristina Bissoli; SANTOS, Camila Araújo; BELLUZZO, Regina Célia Baptista. A competência em informação em articulação com a inteligência competitiva no apoio ao alinhamento estratégico das informações nas organizações. Perspectivas em Gestão & Conhecimento, v. 6, n. 1, p. 45-60, 2016.). Sobre o exercício da criatividade para repensar o ambiente virtual de aprendizagem, a entrevistada Alice argumenta: [...] “Por meio do próprio sistema a gente consegue cadastrar as nossas ideias para serem avaliadas e muitas destas ideias são implementadas. É a plataforma corporativa, que você consegue inserir a sua ideia e já tem até as divisões das ideias, se é uma melhoria, se é uma coisa nova. E é bem acessível [...] qualquer pessoa pode criar algo novo e apresentar. [...] não faz muito tempo que a gente cadastrou. Fui eu e mais duas pessoas, a gente cadastrou uma proposta para o recebimento de mensagens dos alunos [...]. A tutora demonstra, portanto, afinidade com a plataforma para cadastro de novas ideias e o relacionamento interpessoal na proposição de soluções criativas, aspecto que é enunciado por Hague e Payton (2010), como parte da Competência Digital.

Os constructos apresentados nesta categoria levam à introdução da próxima categoria social, que está intrinsicamente relacionada ao quinto padrão da ACRL (2000), no que tange à compreensão dos aspectos econômicos, legais e sociais das questões relacionadas ao uso da informação.

5.4 Categoria Social

Esta categoria visa destacar a função social do tutor a distância (COLLINS; BERGE, 1996COLLINS, Mauri; BERGE, Zane. Facilitating interaction in computer mediated online courses. Retrieved June, v. 15, p. 2000, 1996.), por meio de uma análise embasada no último pilar preconizado por Bruce (1999BRUCE, Christine. Workplace experiences of information literacy. International journal of information management, v. 19, n. 1, p. 33-47, 1999.) que evidencia o uso da informação em benefício do outro. Para tanto, os entrevistados foram questionados sobre o compartilhamento da informação entre colegas de trabalho como forma de potencializar a mediação com o estudante, o uso da informação de forma ética e a possibilidade que o compartilhamento da informação tem de transformar realidades sociais.

Vale ressaltar que faz parte da prática profissional, a preocupação com os demais indivíduos que interagem com ele. O desempenho de sua função com responsabilidade, intenta na capacidade de avaliar, calcular e assumir riscos por meio de uma conduta ética. Para a maioria dos autores da área, a questão ética faz parte do pilar de fundamentação da CoInfo, conforme Menezes e Vitorino (2014MENEZES, Priscila Lopes; VITORINO, Elizete Vieira. A Competência Informacional fundamentada na dimensão ética. Em Questão, v. 20, n. 2, p. 86-107, 2014., p.89) discorrem, “[...] a dimensão ética refere-se ao bem coletivo, ao bem comum, ao uso responsável da informação e à cidadania. Tal dimensão objetiva a realização de boas atitudes, é tida como uma dimensão vital para efetivar a competência”. Ou seja, entende-se que mais do que realizar suas atividades com destreza, o fator ético impulsiona o profissional a pensar no interesse coletivo e no bem comum como prioridade de suas execuções, uma vez que a ética deve permear todo o fazer profissional, independente da profissão.

Parâmetros referente à ética profissional podem ser observados na fala da participante Marisa: “É necessário [...], é completamente fundamental que você tenha ética. No nosso caso, a gente lida com alunos que você não conhece a realidade diária deles, então muitas vezes um aluno manda para você uma mensagem em caixa alta desabafando tudo aquilo que você não teria nenhuma obrigação de saber, você não tem culpa nenhuma, mas você é o canal que ele tem para abrir. Se você retribuir na mesma moeda, com certeza não vai dar certo. Então eu acho que, a gente usar de psicologia com aluno que tá carente, que tá achando a vida muito difícil, que tá querendo desistir de tudo, é necessário, você ver no aluno não um peso que tá ali pra te cobrar.Porque você está sendo paga para desenvolver seu trabalho, você precisa desenvolver a qualquer custo, não! Eu acho que você tá lidando com uma pessoa que tá buscando não só conhecimento, mas uma futura profissão que vai mudar a vida dele”. Percebe-se que existe uma preocupação da profissional em interagir com o estudante, considerando o contexto e a realidade social dele. Sua afirmação revela a preocupação da profissional com o bem-estar do próximo. Embora o contato entre estudante e tutor a distância ocorra de forma virtual, cabe à sua atuação a responsabilidade criar proximidade, independente de qual seja a distância física (MAIA; MATTAR, 2007MAIA, Carmem; MATTAR, João. ABC da EaD: a educação a distância hoje. Pearson Prentice Hall, 2007.; SILVA; FIGUEIREDO, 2012SILVA, Camila Gonçalves; FIGUEIREDO, Vítor Fonseca. Ambiente virtual de aprendizagem: comunicação, interação e afetividade na EAD. Revista Aprendizagem em EAD, v. 1, n. 1, 2012.).

O compartilhamento da informação de forma ética deve ultrapassar ambientes educacionais para estimular consequências positivas em contextos diversos (ACRL, 2016). Sendo assim, o exercício da CoInfo sugere ainda a aproximação dos indivíduos do conhecimento e do processo interpretativo das informações. Ainda sobre os benefícios de sua prática, conforme Declaração de Alexandria, o aprendizado ao longo da vida, representa os faróis da Sociedade da Informação, por meio da capacitação de pessoas a buscar, avaliar, usar e criar informação, em prol de suas metas pessoais e do seu direito básico de vivência em um mundo digitalizado (MENEZES; VITORINO, 2014MENEZES, Priscila Lopes; VITORINO, Elizete Vieira. A Competência Informacional fundamentada na dimensão ética. Em Questão, v. 20, n. 2, p. 86-107, 2014.; DUDZIAK; FERREIRA; FERRARI, 2017).

Sobre os aspectos anteriormente mencionados, os participantes foram questionados sobre a prática da CoInfo para a participação em mudanças sociais dos estudantes que têm contato. A tutora a distância Alice afirma: “[...] Com certeza. Quanto mais informação você tiver e essa informação gerar conhecimento, o aluno vai conseguir ver a vida de outra forma, e isso é o objetivo, de um curso, de uma universidade. Se o aluno sair do mesmo jeito, não valeu de nada. Então se ele conseguir mudar a forma dele ver o mundo, e conseguir, [...] se o aluno fizer um curso com a gente, comigo e ele conseguir mudar essa visão de só perguntar para o outro e não ir buscar, não buscar resolver os problemas, seja no trabalho, seja na vida pessoal, se ele jogar a responsabilidade para o outro, se ele conseguir resolver os próprios problemas, eu já fico bem feliz”. A fala reforça os aspectos sociais do papel profissional da tutora, expressos na função da informação de promover o desenvolvimento social, cultural, político e econômico (SPUDEIT, 2016SPUDEIT, Daniela. Programas para desenvolvimento de competências informacionais: implementação, metodologias e avaliação. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (Org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p.235-277.).

Ademais, a democratização e o desenvolvimento de uma comunidade estão intrinsicamente relacionados à alfabetização informacional e midiática das pessoas (UNESCO, 2008). Sobre este aspecto da dimensão social, Marisa discorre: “[...] a gente fica pensando, é falta de informação, porque as vezes uma informação maldada, dificulta a vida de uma pessoa que só tá buscando uma profissionalização”. Compreende-se as práticas informacionais como pré-requisitos para o empoderamento do cidadão e uma condição necessária, principalmente para as novas gerações. Há, portanto, responsabilidade atribuída à função profissional do tutor, de aproximar o estudante das ferramentas que o aproximarão do conhecimento e, consequentemente transformar sua realidade social.

6 Considerações finais

A análise empreendida neste trabalho buscou enfatizar o tutor a distância e a relevância da Competência em Informação no contexto da Educação a Distância. A pesquisa se propôs a estabelecer uma conexão entre Competência em Informação e EAD, como forma de evidenciar temáticas contemporâneas, que fortalecem a interdisciplinaridade da CI. Tal diálogo permitiu uma compreensão ampla da relevância da CoInfo, requisito fundamental para o enfrentamento de uma realidade dinâmica e complexa. Além dos novos processos de produção de informação, destaca-se novas formas de pensar, agir e se comunicar. Embora a tecnologia e os ambientes virtuais possibilitem maior acesso à informação, o manuseio de ferramentas tecnológicos não garante que ela culminará em conhecimento, uma vez que aprender a aprender coaduna o aperfeiçoamento ao longo da vida, de acordo com práticas e capacitações contínuas.

O problema aqui investigado, evidencia que embora a CoInfo seja primordial para alinhamento estratégico de informações e essencial para a solução de problemas em ambientes corporativos, ela ainda não é institucionalizada na universidade em questão. Os profissionais entrevistados demonstraram certas habilidades para compreender e processar de forma subjetiva e sensorial as informações, no entanto atenua-se a necessidade implantação da CoInfo como um aprendizado contínuo, em prol de uma potencialização da relação profissional e informação.

Em síntese, pode-se discorrer que, embora os participantes apresentem traços relevantes para o desempenho da Competência em Informação em seu ambiente de trabalho, a prática ainda não é institucionalizada, dependendo, portanto, do interesse e desempenho pessoal de cada um deles. Por meio dos resultados percebidos, certifica-se sobre a importância da educação continuada para o desenvolvimento da CoInfo em um cenário cujo processos informacionais são primordiais para evolução dos pares que atuam direta ou indiretamente.

Nesse sentido, a partir dos constructos empreendidos nesta pesquisa, compreende-se que o trabalho não esgota o tema abordado, ao contrário, fomenta novas perspectivas e investigações, sobretudo referente à CoInfo no ambiente de trabalho. Espera-se que a Competência em Informação possa ser explorada em outras dimensões da Educação a Distância, avançando em discussões que possam promover um enriquecimento e fortalecimento da temática e em prol do processo de aprendizado e na democratização da informação, cumprindo com o papel social da Ciência da Informação de ultrapassar vicissitudes técnico operacionais da informação e atender às demandas dos novos paradigmas informacionais contemporâneos.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2021

Histórico

  • Recebido
    04 Mar 2020
  • Aceito
    22 Jul 2021
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