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Protestos como “Acontecimentos”: as lutas simbólicas nas manifestações de 2013 no Brasil e na Turquia

Resumo

Introdução:

O conceito de “acontecimento” oferece uma perspectiva interessante para a compreensão de disputas discursivas nos protestos e sobre eles. Por “acontecimento”, entendemos rupturas da continuidade da experiência que alimentam disputas políticas pela reinterpretação de passados e futuros. Partindo do conceito e de sua utilidade para a leitura de disputas simbólicas, este artigo busca analisar os protestos de 2013 no Brasil e na Turquia. Investigamos como as razões a alicerçar tais protestos foram enquadradas e como esses enquadramentos mudaram ao longo do tempo, abrindo novas interpretações de passado e provendo novas possibilidades de imaginação do futuro.

Materiais e Métodos:

Dados foram gerados a partir de quatro páginas do Facebook, coletando mensagens postadas ao longo dos primeiros 30 dias de protestos em cada um dos países. No caso brasileiro, coletamos os posts de: (1) Passe Livre São Paulo (301.787 likes), o grupo que iniciou a onda de protestos; e (2) O Gigante Acordou (155.690 likes), um coletivo que emergiu durante os protestos, representando perspectivas nacionalistas. Ao todo, foram coletados 626 posts em ambas as páginas. No caso turco, analisaram-se posts que apareceram em: (1) Taksim Dayanismasi (82.479 likes), uma associação que teve papel significativo na organização e mobilização dos protestos do Gezi Park; e (2) Recep Tayyip Erdogan (6.957.408 likes), uma página pró-governo e essencialmente anti-protestos. Codificamos cada post indutivamente, enfocando, particularmente, o modo como eles enquadraram as causas dos protestos. Identificamos, então, a frequência de cada enquadramento nos 30 dias iniciais dos protestos e exploramos se, e como, isso se transformou ao longo do tempo.

Resultados:

A análise revelou a existência de viradas significativas na forma como as causas dos protestos foram enquadradas em ambos os países, mas com implicações distintas. Enquanto no Brasil, a “transformação de quadro” observada minou o foco inicial dos manifestantes, na Turquia, observa-se uma situação de “expansão do quadro”, com a tematização de questões mais amplas como causas dos protestos, como a natureza autoritária do regime e as restrições a direitos democráticos no país.

Discussão:

O artigo oferece uma maneira de analisar protestos com base na lente conceitual do “acontecimento”, esclarecendo o papel das mídias sociais no contexto das lutas simbólicas em torno dos protestos. Além disso, ele abre debate sobre as disputas de enquadramento a atravessar desdobramentos contemporâneos da democracia em ambos os países.

Palavras-chave:
acontecimento; protestos; Gezi Park; Jornadas de Junho; Facebook

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