Boas Práticas no Cuidado Transicional: continuidade da assistência ao paciente submetido ao transplante de fígado

Wachholz, Laísa Fischer; Knihs, Neide da Silva; Sens, Suyan; Paim, Sibele Maria Schuantes; Magalhães, Aline Lima Pestana; Roza, Bartira de Aguiar

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Revista Brasileira de Enfermagem

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Sumário

ARTIGO ORIGINAL • Rev. Bras. Enferm. 74 (2) • 2021 • https://doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0746 copiar

Boas Práticas no Cuidado Transicional: continuidade da assistência ao paciente submetido ao transplante de fígado

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

Objetivos:

elaborar um guia de recomendações de cuidados para boas práticas na transição do cuidado de pacientes adultos submetidos ao transplante hepático.

Métodos:

estudo metodológico, tendo como referencial o Appraisal of Guidelines for Research & Evaluation na versão atualizada, II. Sustentaram-se as recomendações de cuidados por meio da realização de uma revisão integrativa da literatura e uma pesquisa qualitativa.

Resultados:

a partir das evidências, oportunizou a formação de três tópicos: Planejamento da Transição do Cuidado; Educação em Saúde para o Autocuidado; Gestão dos Cuidados. Cada um dos tópicos centrais apresenta respectivos subtópicos, totalizando seis, originando 30 recomendações de cuidados. No que se refere à pontuação dos escores pelos avaliadores, em todos os domínios os escores foram superiores a 90%.

Considerações Finais:

o guia proposto auxilia os profissionais na condução da transição do cuidado no transplante hepático, garantindo maior segurança aos pacientes na continuidade do cuidado em domicílio.

Descritores:
Transplante; Transplante de Fígado; Continuidade da Assistência ao Paciente; Enfermagem; Educação em Enfermagem

EIXO: Educação em Saúde para o Autocuidado
Evidências (revisão integrativa)	Categoria: Autocuidado
diarreia ou constipação, náuseas e vômitos, mudanças em relação a imagem corporal, sensação corporal, sexualidade, diminuição da libido, alteração do padrão de sono e vigília e edema de membros inferiores (Autor⁽¹⁶16 Oliveira NSP, Oliveira TM, Corrêa AR, Tiensoli SD, Bonisson PLV, Guimarães GL, et al. Nursing diagnoses of post-liver transplantation patients in outpatient follow-up. Cogitare Enferm. 2019;24:e59149. https://doi.org/10.5380/ce.v24i0.59149 https://doi.org/10.5380/ce.v24i0.59149... ⁾ - nível de evidência: V). Controles diários devem ser orientados ao paciente em alta hospitalar para o sucesso do transplante e detecção precoce de eventos adversos (Autor⁽¹⁷17 Beckmann S, Künzler-Heule P, Biotti B. Mastering together the highs and lows: patients' and caregivers' perceptions of self-management in the course of liver transplantation. Prog Transplant. 2016;26(3):215-23. https://doi.org/10.1177/152692481665476 https://doi.org/10.1177/152692481665476... ⁾ - nível de evidência: V).	Paciente	Observação participante
	Sinto muito cansaço. Engordei demais. Não faço exercício, estou bem parado, preciso me cuidar. Eles me pediram isso. (Paciente 4) Me pediram pra ver a temperatura, medir o xixi, ver peso, diabetes. Eu tinha que me virar, fazer o possível para me cuidar. (Paciente 14) Tive que me cuidar, em especial com o uso dos medicamentos e com a comida, com a comida foi demais. (Paciente 8)	Praticamente nenhum paciente pontuava o desenvolvimento de atividade física (OA). Muitos pacientes assumiram em casa os cuidados de higiene pessoal e uso de medicamentos (OV).
Evidências (revisão integrativa)	Categoria: Educação em Saúde
Esclarecimento sobre as complicações para evitar agravos (Autor⁽¹⁸18 Bardet JD, Charpiat B, Bedouch P, Rebillon M, Ducerf C, Gauchet A, et al. Illness representation and treatment beliefs in liver transplantation: an exploratory qualitative study. Elsevier BV. 2014;72(5):375-87. https://doi.org/10.1016/j.pharma.2014.05.005 https://doi.org/10.1016/j.pharma.2014.05... ⁾ - nível de evidência: IV). Enfermeiros devem oferecer informações aos pacientes e familiares sobre o status do emprego e possíveis problemas após o transplante (Autor⁽¹⁹19 Moayed MS, Ebadi A, Khodaveisi M, Toosi MN, Soltanian AR, Khatiban M. Factors influencing health self-management in adherence to care and treatment among the recipients of liver transplantation. Patient Prefer Adherence. 2018;12:2425-36. https://doi.org/10.2147/PPA.S180341 https://doi.org/10.2147/PPA.S180341... ⁾ - nível de evidência: V). Pacientes transplantados podem ter Diabetes Mellitus preexistentes. Para isso, é necessário ensinar o paciente e família a realizar o controle correto da glicemia, bem como a aplicação de insulina (Autor⁽²⁰20 Wallia A, Illuri V, Molitch M. Diabetes care after transplant. Med Clin North Am. 2016;100(3):535-50. https://doi.org/10.1016/j.mcna.2016.01.005 https://doi.org/10.1016/j.mcna.2016.01.0... ⁾ - nível de evidência: V). Os principais diagnósticos de enfermagem para a alta hospitalar do transplante hepático são Risco de infecção, Risco de glicemia instável e Risco de função hepática prejudicada (Autor⁽¹⁶16 Oliveira NSP, Oliveira TM, Corrêa AR, Tiensoli SD, Bonisson PLV, Guimarães GL, et al. Nursing diagnoses of post-liver transplantation patients in outpatient follow-up. Cogitare Enferm. 2019;24:e59149. https://doi.org/10.5380/ce.v24i0.59149 https://doi.org/10.5380/ce.v24i0.59149... ⁾- nível de evidência V). A transição para o domicílio é um momento complexo, com o risco aumentado de erros de medicação devido à transferência incorreta ou incompleta de informações, além de envolver múltiplas ações, como a atuação multiprofissional e interinstitucional (Autor⁽⁷7 Oliveira PC, Paglione HB, Silva e Silva V, Schirmer J, Roza BA. Measurement of non-adherence to immunosuppressive medication in liver transplantation recipients. Acta Paul Enferm. 2019;32(3):319-26. doi:10.1590/1982-0194201900044 https://doi.org/10.1590/1982-01942019000... ⁾ - nível de evidência: V).	É muito horário de medicação, tem todos os tipos de controle, restrição de alimentação, é muita coisa. Era muito difícil saber fazer isso tudo. (Paciente 3) No começo, tinha que engolir aquele monte de comprimido. Era uns 15 de cada vez, tinha medo de tomar e dúvida se estava certo mesmo. (Paciente 5) Tive que me virar para aplicar insulina sozinho. Acredito que muitas vezes fiz errado o exame da diabetes. (Paciente 12)	A maior fragilidade percebida foi com a higienização da boca. Eles têm dúvidas quanto à frequência e sequência da escovação (OV^* * OV se refere à observação participante na visita domiciliar; ). A glicemia no domicílio estava sendo verificada em horários errados. Houve situação em que o aparelho não estava calibrado (OV). Foi possível perceber pouca prática do paciente quanto ao uso do aparelho de glicemia e quanto à aplicação de insulina (OV). No retorno ao ambulatório, alguns controles não estavam registrados (OA^ OA se refere à observação participante no ambulatório. ).

PLANEJAMENTO DA TRANSIÇÃO DO CUIDADO	EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA O AUTOCUIDADO	GESTÃO DOS CUIDADOS
Formação da rede de apoio: • Identificar na família pessoas com maior afinidade para desenvolver o cuidado em domicílio. • Propor organizar junto à família escala de cuidadores. • Organizar com a rede de apoio e assistente social o local para receber o paciente após a alta; • Promover maior aproximação dos familiares, ajustando a relação com a família. • Organizar a rede de apoio conforme necessidade de cada paciente.	ATENÇÃO: Iniciar o preparo do paciente para atividades domiciliares logo após o retorno do paciente à unidade de internação, após esse não estar com dor e apto a escutar as orientações .	Paciente: • O paciente deve conferir diariamente se todos os cuidados foram realizados pela manhã, tarde e noite. Equipe multiprofissional do transplante: • Fazer contato por meios ecnológicos conferindo se os cuidados estão sendo realizados conforme orientação. • Realizar visita domiciliar, se possível. Equipe da atenção primária: • Realizar visitas semanais e promover ajuste nos cuidados se necessário.
Aproximação com a equipe da atenção primária (contrarreferência): • Fazer contato com a unidade de referência do paciente passando todas as informações do paciente: dados sociais, situação clínica, necessidades de cuidado, necessidade de materiais e medicamentos. • Encaminhar via on-line receitas de medicamentos e materiais; • Acordar com essa equipe data e horário para que um familiar possa pegar materiais e medicamentos. • Agendar com a equipe data da visita domiciliar que deve ser realizada por eles na primeira semana após a alta.	Alerta para sinais de intercorrência e complicações: • Esclarecer ao paciente sobre as possíveis intercorrências (mais comuns) sinais e sintomas, como preveni-las, tempo que essas podem perdurar e quais condutas adotar diante de tal situação. • Apontar ao paciente quais possíveis complicações mais comuns de surgirem domicílio (em especial a rejeição e infecções oportunistas), sinais e sintomas das mesmas, como preveni-las e quais condutas adotar diante de tal situação.	Atividades de cuidados diários - Consumo de alimentos: • Sensibilizar e ensinar quanto à necessidade de consumir somente alimentos cozidos. • Explicar de maneira clara e simples como devem ser higienizados os alimentos ao chegar das compras, além de como proceder com o preparo e como armazenar. • Explicar sobre a ingesta de líquidos e quantidade diária adequada. Desenvolvimento de atividades físicas: • Elaborar um plano de atividades físicas diárias. • Mostrar ao paciente quais atividades diárias ele pode e deve fazer em domicílio. Socialização com a rede de apoio: • Explicar detalhadamente, de maneira simples, que nos primeiros meses a orientação é que não haja contato com muitas pessoas diferentes. Contudo, poderá ter contatos breves, mantendo distância e em local ventilado.
Encaminhamento do processo de medicamentos especial (imunossupressores): • Solicitar com equipe médica o preenchimento do processo, receitas e encaminhar à rede de saúde. • Organizar os imunossupressores para uso em domicílio conforme doses para um mês. • Ensinar onde e quando o familiar irá retirar os medicamentos imunossupressores.	Atividades de cuidados diários - Medicamentos: • Criar tabela ampliada que oriente quanto aos horários, doses e efeitos adversos. Sinalizar na tabela, de modo diferenciado quais são os imunossupressores. Controles e cuidados diários: • Elaborar estratégias para ensinar o desenvolvimento do hemoglicoteste e da aplicação de insulina, bem como os horários que devem ser realizados e os valores de normalidade. Estimular a realização desses cuidados ainda durante a internação para que a equipe possa gerenciar. • Ensinar com detalhamento como deve se proceder para verificar sinais vitais e como deve ser o controle da temperatura. • Ensinar como se deve medir e armazenar a diurese. • Explicar ao paciente como ele deve observar sinais de alerta no corpo para edema, pruridos, manchas e outros. • Elaborar um plano de cuidado individual para cada paciente quanto a sua própria higiene. Observação: Se faz necessário adaptar esse plano conforme as condições sociais, grau de escolaridade e capacidade de execução do paciente.

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[1] Autor Correspondente: Laísa Fischer Wachholz. E-mail: laisafischer@gmail.com