Saude sexual e reprodutiva do homem com HIV em situação de sorodiferença

investigação qualitativa desenvolvida em hospital universitário no Sul do Brasil. Foi realizada entrevista não estruturada em profundidade com 11 homens que vivem com HIV e desenvolvida análise de conteúdo temática.

Resultados:

expressaram que não queriam ter filhos e que essa gestação é diferente. Demonstraram preocupações relacionadas à transmissão vertical do HIV, aos direitos sexuais e reprodutivos e à responsabilidade no exercício da paternidade.

Considerações finais:

a perspectiva do homem é influenciada pelo seu papel na família, determinado histórico e culturalmente, e pelas preocupações da infecção, determinadas socialmente, o que implica na sua compreensão do direito reprodutivo e sua participação no cuidado. Há necessidade de os serviços considerarem a perspectiva do homem no planejamento e implementação de ações de atenção à saúde, apoiando a sua participação no exercício da paternidade.

Descritores:
Saúde Sexual; Saúde Reprodutiva; Direitos Humanos; Saúde do Homem; HIV

Fase da análise	Descrição do procedimento analítico
Pré-análise	Primeiro contato com o material obtido pelas entrevistas foi por meio da escuta das gravações. Transcrição de modo literal pelo pesquisador que desenvolveu a técnica para coleta de dados. Leitura flutuante com a intenção de familiarização do texto e constituição do corpus.
Exploração do material	Leitura sequencial e exaustiva a fim de identificar palavras e expressões (unidades de registro) e agrupá-las (núcleos de sentido) para dar significado ao objetivo da investigação. Resultou nas duas categorias temáticas: HIV versus direito sexual e reprodutivo; e Participação do homem no cuidado.
Tratamento dos resultados e interpretação	Em consonância com o objetivo do estudo, faz-se a proposição de inferências e interpretações, tendo os direitos sexuais e reprodutivos como categoria analítica.

Variáveis	Participantes
Variáveis	H 1	H 2	H 3	H 4	H 5	H 6	H 7	H 8	H 9	H 10	H 11
Status sorológico	POS	POS	NEG	NEG	POS	POS	NEG	NEG	NEG	NEG	NEG
Método anticonceptivo	S/I	AO	S/I	AO e P	P	S/I	P	S/I	AO	S/I	AO
Planejamento da gestação	Sim	Não	Não	Não	Não	Não	Não	Não	Não	Não	Não
Tipo de concepção	RHA	Natural	Natural	Natural	Natural	Natural	Natural	Natural	Natural	Natural	Natural
Situação sorológica do casal na fecundação	SD	SD	SD	SD	SD	SD	SD	D	SD	D	SD
Gestações em situação de sorodiferença	Uma	Uma	Duas	Duas	Uma	Uma	Uma	Uma	Duas	Uma	Três
Sorologia do filho	NEG	NEG	NEG	NEG	NEG	NEG	NEG	S/D	NEG	NEG	S/D

Núcleos de sentido	Unidades de registro
Não queria ter filhos	Foi bem difícil, nós nem sabia por onde começar e a gente buscou ajuda médica numa clínica de fertilização [...] No começo eu não queria. (H1) Estourou o preservativo [...] depois a gente ficou sabendo que ela tinha engravidado [...] Se cuidava um horror [...] preservativo sempre [...] eu comentei com ela quando eu conheci " Ó, filho já era", a gente pode só com preservativo. (H5) Eu até que não queria, na verdade não queria [engravidar] ... Mas ela disse "não, é falso [resultado do teste anti-HIV], e eu não tenho" [...] Aí eu dizia que não, não, vamos esperar. (H6)
Não é como se fosse uma gestação normal	Tudo se torna difícil, tudo, tudo, tudo. Nada é como seria normal, tudo tem que ser muito planejado... até acontecer, não é assim chegar e "ahh, vou fazer". Não, tem que ser muito planejado. (H1) É , foi bem complicado [...] nove meses ela foi tomando o remédio direitinho [...] foi feito tudo conforme o que tinha que ser feito [...] No fim, a gente ficou muito satisfeito porque deu tudo certo [...] tudo que a gente passou, todo o esforço que a gente fez tava tendo resultado. (H3) E principalmente sabendo que ele não tem [HIV], pra mim é muito bom. (H4) Como é que a gente não vai ficar em pânico, ter um filho soro. (H5) Apoiar o tratamento dela, o máximo que pode pra ver se a criança saía bem. (H7)
Culpa-se pela saúde do filho	A culpa que eu penso, é que nós ia levar um problema pra ele, sem ele ter a opção de escolher [...] esse era o remorso que eu ia ter [...] Mas sabendo nos dias de hoje que tu pode dar à luz a uma criança e saber que ela vai tá contaminada [não quer passar por essa situação de novo]. (H2) A gente não ia conseguir ter uma paz se nascesse com soropositivo. (H3) Independente de qualquer coisa que acontecer pra mim, eu quero me operar [vasectomia] [...]não vamos correr o risco de causar um sofrimento pra uma outra criança no futuro. (H9)
Preconceito	Imagina uma criança já nascer e quando chegar a ter um entendimento, descobrir "ah o meu pai e minha mãe me passaram, me contaminaram" [...] pensa bem, como é que ia ficar a cabeça dele, quando soubesse [existe preconceito]. (H2) A gente não toca muito no assunto [...] as pessoas têm preconceito sobre isso [...] eu prefiro nós dois saber [...] fica entre nós dois, a gente tenta contar, por mais que seja uma pessoa de tua confiança. (H8) É que é complicado as pessoas entenderem sobre isso, é muito preconceito [...] não quero que meu filho saiba, evitar que ficam de chacota. (H11)

Núcleos de sentido

Unidades de registro

Participação no apoio e cuidado

Eu até fico feliz, porque nesses nove meses de gravidez dela eu apoiei bastante ela nessa parte [...] pra poder ajudar ela e depois ajudar meu filho, ajudando um e ajudando o outro. (H3)
E a gente tem que se cuidar, um ajuda o outro e vai levando. (H4)
Apoiar ela, apoiar o tratamento dela [...] Caso ela precisar ir no doutor né, ir junto com ela [nas consultas], que ela tava se tratando. (H7)
Eu lido com o fato de a gente ser um casal que a gente tem uma... Como que eu posso dizer... Que a gente tem uma característica que nós dois temos que se cuidar. (H9)
Sempre tive do lado [da F11]. (H11)

Paternidade

Não tem como traduzir esse sentimento [de ser pai]. (H1)
Rapaz sadio, forte... então pra nós tá louco de bom, bem satisfeito mesmo. (H3)
É minha vida [a filha] [...] como é que eu ia ter filho, como é que eu ia achar que ia poder ter. (H5)
Eu vou pro trabalho, volto e eu só chego pra brincar com ela sabe, dar atenção. (H8)
Eu tenho um motivo também pra me mostrar que as coisas têm que seguir, tenho filha, tenho filho [...] eu tenho muito motivos pra hoje não me deixar abater. (H9)

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[1] Autor Correspondente: Tassiane Ferreira Langendorf E-mail: tassi.lang@gmail.com