PANORAMA DOS ESPORTES GINÁSTICOS OLÍMPICOS NOS MUNICÍPIOS PARANAENSES

PANORAMA OF OLYMPIC GYMNASTICS IN MUNICIPALITIES OF PARANÁ STATE

RESUMO

Este artigo objetivou analisar o panorama dos esportes ginásticos olímpicos nos municípios paranaenses. Metodologicamente, seguiu-se os critérios da análise descritiva com coleta de dados realizada em três etapas distintas: 1) coleta de registros sobre a oferta das modalidades gímnicas no instrumento de pesquisa GEEM, do Instituto de Pesquisa Inteligência Esportiva; 2) consulta a documentos e notícias nos portais oficiais da Secretaria de Esporte do Paraná e Federação Paranaense de Ginástica; e 3) cruzamento dos dados levantados. Conclui-se que há ênfase na oferta de Ginástica Artística Feminina e Ginástica Rítmica, sem fomento à Ginástica de Trampolim - especialmente nos Jogos oficiais do Estado -, sendo que 16% dos municípios paranaenses incentivam ao menos uma das práticas gímnicas competitivas, seja na Formação Esportiva, Excelência Esportiva ou Esporte para a Vida Toda.

Palavras-chave:
Ginástica; Esporte Olímpico; Cidades; Políticas Públicas; Governança

ABSTRACT

This article aimed to analyze the panorama of Olympic gymnastics in municipalities of Paraná. Methodologically, the study followed the criteria of descriptive analysis with data collection conducted in three distinct stages: 1) gathering records on the provision of gymnastic modalities using the GEEM research tool from the Instituto de Pesquisa Inteligência Esportiva; 2) consulting documents and news on the official portals of the Sports Department of Paraná and the Paraná Gymnastics Federation; and 3) cross-referencing the collected data. It is concluded that there is an emphasis on the provision of Women's Artistic Gymnastics and Rhythmic Gymnastics, with little support for Trampoline Gymnastics - especially in official state games - as only 16% of municipalities in Paraná encourage at least one of the competitive gymnastic practices, whether in Sports Training, Sports Excellence, or Lifelong Sports.

Keywords:
Gymnastics; Olympic Sports; Cities; Public Policies; Governance

Introdução

O ano de 2023 marcou a conquista de diversos recordes históricos em campeonatos mundiais para a ginástica brasileira, entres eles destacam-se: no Campeonato Mundial de Ginástica Rítmica (GR), em Valência (Espanha), o sexto lugar geral e o quarto lugar na série de arco conquistado pelo conjunto, e a 11ª posição no individual geral e sétimo no aparelho maças da ginasta Bárbara Domingos; na cidade de Antuérpia (Bélgica), a conquista da medalha de prata da equipe de ginástica artística feminina (GAF); as medalhas de ouro de Rebeca Andrade na prova de salto, além de outras duas de prata e uma de bronze; também a conquista da medalha de bronze na prova de solo com a atleta Flavia Saraiva. A ginástica artística masculina (GAM) finalizou o campeonato mundial, na mesma cidade, com a 13° posição por equipe e o atleta Diogo Soares em 20° no individual geral. Já na ginástica de trampolim (GTR), durante o campeonato mundial em Birmingham (Grã-Bretanha), o Brasil conquistou duas vagas na final individual feminina com as ginastas Alice Gomes e Camilla Gomes. Os resultados elencados culminaram na classificação para os Jogos Olímpicos de Paris (2024) tanto no individual, quanto no conjunto da GR, assim como, a equipe de GAF. Na GAM o país conquistou duas vagas individuais, da mesma maneira que a GTR feminina. Dessa forma, será a primeira edição olímpica em que o Brasil conquistou vagas em todas as modalidades gímnicas a partir dos resultados dos campeonatos mundiais.

Em 2023, durante os Jogos Pan Americanos em Santiago (Chile), houve evidência para os atletas das modalidades gímnicas, que conquistaram aproximadamente 30% das medalhas obtidas pela delegação brasileira, especificamente oito para GAF, seis para GAM, 13 para GR e 4 para GTR. Dentre as equipes nacionais mencionadas, percebe-se a destacada presença de ginastas advindas do estado do Paraná. Isso porque no conjunto brasileiro de GR classificado para os Jogos Olímpicos de Paris, as atletas Nicole Pircio (cidade de Londrina) e Giovana Silva (cidade de Toledo) treinam em equipes paranaenses. Da mesma maneira a atleta classificada para a prova individual na GR, enquanto na GAF as ginastas Julia Soares e Carolyne Pedro, que fizeram parte da equipe classificada, treinam na cidade de Curitiba (capital do estado do Paraná). Nesse sentido, é notável o protagonismo do estado do Paraná na formação atlética de dois esportes gímnicos: GAF e GR. Especificamente sobre a GAF, a maior parte das ginastas que competiram internacionalmente entre os anos de 2004 e 2016 são do Paraná¹. Acerca da GR, historicamente, o Paraná é o estado brasileiro que mais tem atletas na seleção brasileira de conjuntos².

No entanto, sabe-se que para o atleta chegar à elite é necessário passar por um longo processo de formação esportiva. Nas modalidades gímnicas esse período pode variar entre 8 e 12 anos³, ademais pode ser dividido em três estágios ou fases de formação esportiva, quais sejam: a experimentação (ou iniciação); a especialização; e os anos de investimento (ou aperfeiçoamento)^4),(5. Ainda assim, nas modalidades ginásticas é comum que a fase de experimentação seja abreviada e a especialização ocorra de maneira precoce⁶.

São inúmeros os fatores que corroboram para que esse longo processo de formação esportiva alcance o sucesso. Há na literatura estudos^7),(8),(9 que indicam uma perspectiva ecológica e holística para a análise do desenvolvimento esportivo de sucesso. Isso porque, para esses autores tal análise não deve estar centrada apenas nas questões individuais do atleta, mas sim no ambiente, no contexto e nas suas interrelações⁹.

Nesse sentido, compreende-se que o ambiente de formação é um dos fatores para o desenvolvimento esportivo, o que corrobora com o estudo apresentado por De Bosscher e colaboradores¹⁰. Para os autores, o sucesso esportivo de uma nação está ancorado em nove fatores ou pilares, os quais foram organizados no modelo de análise chamado Sports Policy Factors Leading to International Sporting Success (SPLISS). Dentre eles, destaca-se para este estudo, o pilar 3 que se trata da cultura e a participação esportiva. Nesse sentido, compreende-se a importância da oferta esportiva para que a população possa acessar, experimentar e se apropriar de uma cultura esportiva específica. Tal oferta no Brasil, muitas vezes está atrelada aos clubes de elite ou associações esportivas específicas^1),(5.

Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo principal analisar o panorama dos esportes ginásticos olímpicos nos municípios paranaenses. Para tanto, foram investigados os seguintes critérios: o nível de atendimento da oferta dos esportes ginásticos (formação esportiva, excelência esportiva e esporte para toda a vida) e a participação dos municípios em competições federativas e jogos oficiais do Paraná, de forma comparativa entre as diferentes manifestações. Ressalta-se que o foco dessa pesquisa será especificamente as manifestações gímnicas que fazem parte do programa olímpico, a saber: GR; GAM; GAF; e GTR.

Metodologia

Para atingir o objetivo exposto recorreu-se a análise descritiva¹³, com abordagem quantitativa e qualitativa, a partir de dados coletados em três etapas. A primeira etapa (quantitativa-qualitativa) considerou a oferta de esportes ginásticos pelos municípios paranaenses com base nos resultados coletados pelo instrumento de pesquisa de Gestão do Esporte nos Estados e Municípios - GEEM¹¹. Tal instrumento, desenvolvido e publicado pelo Instituto de Pesquisa Inteligência Esportiva (IPIE) contém aproximadamente 270 questões divididas em seis blocos, quais sejam: natureza da entidade; governança, recursos humanos; políticas públicas; instalações; e cultura esportiva. O preenchimento dos dados é realizado pelos gestores esportivos municipais, após capacitação realizada por pesquisadores do IPIE. Os dados são armazenados em plataforma eletrônica específica e estão disponíveis para consulta pública em Business Intelligence (BI) e, para esta pesquisa os dados foram coletados pelo primeiro e segundo autor no mês de outubro de 2023.

O Paraná foi o primeiro estado a brasileiro a finalizar o preenchimento do GEEM. Isso significa que a plataforma contém os dados do esporte municipal dos 399 municípios paranaenses (100%). Para a elaboração do panorama dos esportes ginásticos no Paraná, considerou-se os seguintes itens específicos acerca da cultura esportiva municipal: as modalidades olímpicas de verão ofertadas pela entidade responsável do esporte em seu município e os níveis de atendimento (Formação esportiva; Excelência Esportiva; Esporte para toda a vida)¹².

Dentre as opções, observou-se as respostas referente as seguintes manifestações gímnicas: ginástica artística (feminina e masculina); ginástica rítmica; outros. Tais dados foram organizados em planilha eletrônica, de forma a identificar a quantidade de municípios que ofertam cada modalidade e em que nível de atendimento.

Para o encontro de informações acerca da representação dos municípios paranaenses frente aos eventos competitivos, segunda etapa de coleta de dados (quantitativa-qualitativa), foi consultado o site dos jogos oficiais da Secretaria de Esporte do Estado do Paraná e da Federação Paranaense de Ginástica (FPRG). Isso porque a primeira realiza anualmente os Jogos da Juventude do Paraná (JOJUPS) e os Jogos Abertos do Paraná (JAPS), no qual os atletas competem representando os seus municípios, e os Jogos Escolares do Paraná (JEPS), na qual os atletas representam as escolas. Já a segunda disponibiliza a lista de clubes e associações esportivas vinculadas e federadas, classificadas de acordo com a modalidade oferecida.

Por fim, na terceira etapa (qualitativa), realizou-se o cruzamento das informações obtidas para então traçar e descrever o panorama das manifestações gímnicas de competição no estado do Paraná. Desta maneira, todos os dados coletados foram registrados e organizados em planilha eletrônica, permitindo a análise através de quadros e tabelas por temática (modalidades gímnicas, nível ofertado, municípios paranaenses e participação em competições regionais), as quais serão apresentadas na seção resultados. O método descritivo foi eleito para explicar as características e estabelecer relações entre as diferentes variáveis catalogadas acerca do objeto de estudo¹³.

Resultados

O cruzamento dos dados permitiu a verificação de como todos os 399 municípios paranaenses promovem as modalidades ginásticas. No total identificou-se que 67 municípios paranaenses ofertam ao menos um dos esportes estudados e, ao aplicar filtros por município percebeu-se que a maior parte das cidades ofertam mais de um nível de atendimento nos esportes ginásticos, os quais estão organizados em apêndice. Ressalta-se que, embora as modalidades de GAF e GAM sejam consideradas distintas¹⁴, nas fontes consultadas não havia especificações, expondo a modalidade somente como Ginástica Artística (GA).

Dentre os 399 municípios paranaenses, encontrou-se 138 ocorrências de oferta de esportes ginásticos, entre a GR e a GA, nos três diferentes níveis de atendimento, conforme elucidado na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1
Oferta de esportes ginásticos no estado do Paraná

Área	Quantidade de Municípios	% do estado
Ginástica Artística - formação esportiva	24	6,01%
Ginástica Artística - excelência esportiva	12	3%
Ginástica Artística - esporte para toda a vida	7	1,75%
Ginástica Rítmica - formação esportiva	53	13,28%
Ginástica Rítmica - excelência esportiva	23	5,76%
Ginástica Rítmica - esporte para toda a vida	19	4,76%
Ginástica de Trampolim - todos os níveis	0	0
Total de oferta	138	34,58%

• Fonte: IPIE15, sistematizado pelos autores

Conforme é possível observar na apresentação dos dados, não foram identificadas ocorrências relacionadas a GTR. No que se refere à comparação entre a oferta de GA e GR, percebe-se a supremacia da GR, conforme elucidado na figura 1 a seguir.

Figura 1
Distribuição da oferta dos esportes ginásticos no Paraná

A consulta aos resultados dos Jogos da Juventude de 2023 revelou a ausência das modalidades de GA e GTR, sendo assim, apenas foi possível identificar 12 municípios participantes da GR, conforme elucidado na Tabela 2.

Tabela 2
Municípios representados nos Jogos da Juventude do Paraná 2023

Município	Atletas Sub 17
Cascavel	11
Curitiba	11
Londrina	11
Marechal Cândido Rondon	6
Maringá	11
Paranavaí	10
Pato Branco	6
Pinhais	10
Piraquara	3
São José dos Pinhais	10
Toledo	11
Umuarama	9
Total	109

• Fonte: Secretaria de Esporte do Estado do Paraná16, sistematizado pelos autores

Da mesma maneira, o relatório de inscritos nos Jogos Abertos do Paraná 2023 não declarou atletas inscritos para a GA e a GTR, embora a primeira esteja prevista no programa de modalidades esportivas destes jogos oficiais. Sendo assim, apenas a modalidade de GR teve inscritos, em sete municípios distintos, conforme demonstra a Tabela 3.

Tabela 3
JAPS: Fase Estadual 2023

Município	Atletas Inscritos GR 18+
Cascavel	9
Londrina	9
Marechal Cândido Rondon	1
Maringá	9
Pato Branco	9
São José dos Pinhais	3
Toledo	9
Total	49

• Fonte: Secretaria de Esporte do Estado do Paraná17, sistematizado pelos autores

Já no caso dos Jogos Escolares do Paraná, as modalidades ginásticas passam a integrar o quadro de modalidades esportivas somente na fase final, não acontecendo nas fases regional e macrorregional; e existe a divisão das faixas etárias entre 12 e 14 anos e 15 e 17 anos. A análise do relatório oficial “Quadro de Participantes 2023” de ambas as fases, disponibilizado pela organização dos Jogos, demonstrou que na final realizada em Apucarana (12 a 14 anos), 13 municípios enviaram atletas ao campeonato, e 13 cidades para a faixa de 15 a 17 (final realizada em Maringá). Contudo, no segundo caso alerta-se que o município de Londrina participou em competição separada, prevista no regulamento dos JEPS como Ginástica Rítmica Adaptada (Deficiência Intelectual - Síndrome de Down), pois as cinco atletas que representaram a cidade são da Escola de Educação Especial Santa Rita (APAE Santa Rita).

Tabela 4
JEPS: Fase Final 2023

Município	GR 12 a 14 anos	Qtde de Atletas	GR 15 a 17 anos	Qtde de Atletas
Campo Largo			X	1
Cascavel	X	8
Cianorte	X	2	X	1
Colombo	X	1
Curitiba	X	2	X	9
Fazenda Rio Grande	X	1
Londrina			X	5*
Marechal Cândido Rondon	X	4	X	2
Maringá	X	16	X	11
Pato Branco	X	11	X	6
Pinhais	X	7	X	6
Ponta Grossa	X	3	X	9
Sarandi			X	1
São José dos Pinhais	X	4	X	4
Toledo	X	7	X	11
Umuarama	X	3	X	5
Total		69		66

• Nota: *Atletas com Deficiência Intelectual
• Fonte: Secretaria de Esporte do Estado do Paraná18, sistematizado pelos autores.

A Tabela 4 ilustra que não foram informados dados sobre GA no relatório de “Quadro de participantes 2023”. No entanto, no relatório de resultados por modalidade foi possível identificar os municípios de Curitiba (com quatro atletas) e São José dos Pinhais (uma atleta) para a GAF, e Curitiba (com quatro atletas) para a GAM, sendo que mais um atleta competiu nesta modalidade, mas seu município não foi identificado.

Finalmente, a consulta aos dados da FPRG demonstrou a existência de clubes e associações esportivas advindas de diferentes municípios paranaenses, do total de 49 instituições vinculadas ou cadastradas na entidade que administra os esportes ginásticos no Paraná, nenhuma está vinculada a GTR, quatro municípios apresentam clubes ou associações que ofertam a GA, enquanto 20 municípios atuam diretamente com a GR, conforme elucidado na Tabela 5.

Tabela 5
Municípios representados por associações esportivas na FPRG

Município	GA	GR
Apucarana		X
Arapongas		X
Araucária		X
Campo Largo		X
Cascavel	X	X
Colombo		X
Curitiba	X	X
Guarapuava		X
Ibiporã		X
Londrina		X
Marechal Candido Rondon		X
Marialva		X
Maringá		X
Paranavaí		X
Pato Branco		X
Pinhais		X
Ponta Grossa		X
São José dos Pinhais		X
Telêmaco Borba	X
Toledo	X	X
Umuarama		X

• Fonte: FPRG19, sistematizado pelos autores.

Ainda assim, ao analisar as equipes de ginástica que estão cadastradas na FPRG, observa-se a predominância de associações esportivas formadas por projetos que envolvem as prefeituras locais, seja de maneira direta, ou indireta. Ou seja, em competições as equipes podem representar especificamente o município ou a associação na qual estão vinculadas. No segundo caso, pondera-se que muitas vezes as equipes e/ou atletas recebam patrocínio do município, seja pela disponibilidade de local para treinar e/ou incentivos por bolsas-atleta.

Com base em todos os dados levantados e analisados, elaborou-se um mapa, produzido por meio da ferramenta My Maps, que possibilita a organização dos dados em camadas as informações obtidas, auxiliando na observação cruzada entre as camadas configuradas pelos pesquisadores. O recurso está disponível no link: https://www.google.com/maps/d/edit?mid=17xZALS9NOoDv_UjM0A0j8CqE-glkPqU&usp=sharing.

Discussão

As modalidades ginásticas são importantes no cenário paranaense, assim como o Paraná é um celeiro de atletas das modalidades gímnicas para Brasil^20),(21),(22. Historicamente, o estado foi sede do centro de treinamento da seleção brasileira de GAF, o chamado Centro Olímpico, localizado em Curitiba^1),(23, enquanto a cidade de Londrina foi sede da seleção brasileira de GR^20),(24.

Os dados analisados apontam para a prevalência das modalidades de GA e GR, pois existem iniciativas dos municípios paranaenses para ofertar ambos os esportes nos níveis de atendimento da Formação Esportiva, da Excelência Esportiva e do Esporte para a Toda a Vida. Neste sentido, há a predominância das regiões norte e oeste do Paraná para a oferta das duas modalidades, assim como da capital e região metropolitana de Curitiba, mas a carência de disponibilidade da prática no centro-sul do estado, assim como no litoral.

Isso corrobora com os municípios das atletas paranaenses que recentemente se destacam no cenário brasileiro, pois as ginastas da GAF Julia Soares e Carolyne Pedro são de Curitiba, e Ana Luiza Lima é de Telêmaco Borba. Já as ginastas da GR Bárbara Domingos e Gabriella Coradine são de Curitiba e Londrina, respectivamente. Ainda a atleta Maria Eduarda Alexandre, atual vice-campeã panamericana, treina e compete no Paraná desde a categoria de base.

A FPRG enquanto a entidade responsável pela gestão das modalidades gímnicas no estado, estabelece que a ginástica no Paraná apresenta um crescimento anual, caracterizado pelo aumento no número de praticantes, evolução da qualidade técnica, pelas iniciativas de massificação da modalidade e das ginastas do estado que integram a seleção brasileira e têm se destacado nas competições nacionais e internacionais¹⁹. Contudo, a instituição reconhece que não são desenvolvidas todas as modalidades ginásticas no Paraná, sendo promovidas as modalidades de ginástica acrobática (GACRO), GAF, GAM, GR e ginástica para todos (GPT). A primeira e a última não foram contempladas na análise deste estudo por não se tratar de modalidades olímpicas, mas no caso da GACRO, a plataforma GEEM do IPIE sinaliza para uma oferta de 35,71% no nível da Formação Esportiva, 21,43% para a Excelência Esportiva, e 42,86% no Esporte para Toda a Vida²⁵. Ademais, a GACRO possui uma equipe cadastrada na FPRG, a qual representa o município de Toledo. No entanto, os jogos oficiais do estado não incorporam a GACRO, a GTR e a GPT.

Isto sinaliza para o caso específico da GTR, modalidade olímpica não contemplada nas políticas tanto da federação quanto da Secretaria de Estado do Esporte (SEES), pois não integra o rol de esportes ofertados nas competições oficiais do Estado. Vargas, Santos e Mezzadri²², ao realizar pesquisa acerca da naturalidade dos atletas brasileiros contemplados com incentivo do Programa Bolsa-Atleta, detectaram que os atletas de GTR estão alocados na região Sudeste do Brasil, com destaque para o estado de Minas Gerais, sendo que nenhum era natural do Paraná. Na GR, por sua vez, o Paraná é o estado principal, com 215 ocorrências de um total de 648.

Ademais, a GR no estado do Paraná tem demonstrado ser um esporte que permeia gerações, ou seja, atletas já aposentadas incentivam suas filhas a praticarem a modalidade gímnica em que se destacaram. A título de exemplo, a atual treinadora da seleção brasileira juvenil de GR, Juliana Coradine, representou o país nos Jogos Pan-Americanos em Winnipeg (1999), quando o Brasil conquistou pela primeira vez a medalha de ouro geral no conjunto e, consequentemente, a vaga olímpica¹⁹. Já nos Jogos Pan-Americanos de 2023, foi a vez de sua filha, Gabriella Coradine, defender a equipe brasileira na mesma prova, conquistando os três ouros em disputa.

Tal aspecto pode ser analisado por diversos ângulos, afinal a GR possui características próprias que são constantemente discutidas pela literatura. Paz, Souza e Rinaldi²⁶⁾ ao descreverem o subcampo esportivo da GR destacaram a presença exclusiva de mulheres em competições oficiais da Federação Internacional de Ginástica (FIG), os atributos estéticos exigidos, as relações de dominância de países de maior tradição e a mudança constante nas regras da modalidade e suas consequências. Esse último tópico também é constantemente mencionado pela literatura específica^27),(28, ao lado da especialização precoce^29),(30 e o tempo de treinamento necessário para alcançar o alto nível^14),(31.

A GR, assim como a GAF são os esportes ginásticos que notadamente se destacam no estado do Paraná²¹. Ao comparar as ofertas do nível de Formação Esportiva para ambas as modalidades, combinado aos municípios cujo as escolas estiveram presentes no JEPS 2023, bem como os municípios participantes no JOJUPS 2023, percebe-se que o trabalho voltado à excelência esportiva é refletido nas competições. Novamente as regiões norte e oeste se destacam, com a predominância da formação para GR em 53, enquanto a GA está presente em 22 cidades.

Para a GA, Schiavon et al³² indicaram que no cenário brasileiro as entidades federadas da modalidade tinham maior concentração nas regiões sudeste e sul, enquanto a região norte do país era a de menor representatividade. Para os autores³², quando a modalidade é instalada em determinadas regiões há uma mobilização da sociedade para a prática. Avançando na sugestão deles³², a análise focada no estado do Paraná, demonstra que cidades que possuem projetos voltados ao fomento das modalidades gímnicas são aquelas que promovem a representação de suas regiões nas competições e conquistas esportivas.

Tendo em vista que a FPRG possui associações esportivas vinculadas que representam distintas regiões do estado, percebe-se que as regiões central e sudeste carecem de iniciativas que promovam a formação esportiva e a participação em competições estaduais, mesmo que exista o registro de uma associação volta à GR em Guarapuava. No caso do litoral somente o município de Pontal do Paraná sinalizou a oferta de Formação Esportiva, específica para a GR, mas a participação em competições poderia ser realizada em Curitiba, conquanto que a cidade não participou de nenhum dos jogos analisados.

As modalidades ginásticas passam a compor o rol de modalidades dos jogos oficiais do estado do Paraná somente na fase final das competições, possivelmente pelo baixo número de atletas quando as regiões esportivas são consideradas. Ao interpretar os dados das tabelas 2, 3 e 4 é compreensível que, se as competições ocorressem por regional, um número mínimo de atletas para realizar os campeonatos não seria atingido.

Outro fator a se ponderar, é que os regulamentos dos jogos estabelecem um número máximo de atletas por município, sendo 11 para o JOJUPS e nove para os JAPS (lembrando que ambos contemplam apenas GR). No caso do JOJUPS, os municípios de Cascavel, Curitiba, Londrina, Maringá e Toledo inscreveram na competição o número máximo, o que sugere que pode haver uma competição nestas cidades para definir os participantes. A mesma situação para as cidades de Cascavel, Londrina, Maringá, Pato Branco e Toledo para a participação no JAPS, mas neste caso voltado à excelência esportiva da GR, pois aqui os atletas devem ser maiores de 18 anos, fato que pode compensar a ausência das modalidades ginásticas nos Jogos Universitários do Paraná (JUPS).

Considera-se ainda, que as participações em GA, presentes somente nos JEPS reflete um atendimento da SEES majoritariamente à GAF, pois não foi possível identificar demais campeonatos voltados à GAM. Estes possivelmente acontecem sob a chancela da FPRG, que também realiza o campeonato do JEPS, como auxílio à SEES. Por este motivo, conforme o regulamento da competição indica, as provas são realizadas na capital paranaense, o que pode dificultar a participação de atletas de GA de regiões distantes de Curitiba, uma vez que as sedes das finais são sempre únicas para as demais modalidades, o que acarretaria o deslocamento em contrafluxo ao da delegação. Por exemplo, em 2023 as competições de GA foram realizadas em Curitiba, enquanto as finais entre 12 e 14 anos foram em Apucarana e de 15 a 17 anos foram em Maringá, cidades distantes da capital. Ainda assim, pondera-se que a escolha da realização na capital paranaense pode estar relacionada as questões estruturais que envolvem a modalidade, isto é, a carência de locais com aparelhos específicos e estrutura segura para a realização das competições.

Porém, reflete-se que a inclusão da GA como modalidade dos jogos oficiais é recente, acompanhando a inclusão nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBS). É possível, desta forma, que este seja o motivo para a GA não integrar o corpo de modalidades esportivas dos demais jogos do Paraná. Atualmente, a gestão dos JEBS está dividida³³ e, deste modo, as competições de 12 a 14 anos estão sob a chancela da Confederação Brasileira de Desporto Escolar (CBDE), que é vinculada à International School Federation (ISF) e credencia a participar da Gymnasiade. Já as provas para 15 a 17 estão sob chancela do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). As competições escolares nacionais já promoviam a GR (desde 2010) e o Paraná é o principal vencedor da modalidade com um percentual de 28,57% de medalhas, 322 no total, sendo 108 de bronze, 107 de prata e 107 de ouro²⁵.

Estudos anteriores³⁴ indicam os JEBS como uma importante política pública para formação de atletas olímpicos. Nesse sentido, Arantes, Rubio e Melo³⁵ identificaram que a GR é uma das modalidades com maior número de atletas que passaram pelos JEBS antes de alcançar o nível olímpico. Dado esse que reforça a importância, não somente da manutenção do evento, como a ampliação para as demais modalidades gímnicas, como o caso da recente inserção da GA.

Tendo em vista o perfil das modalidades ginásticas e as instalações esportivas necessárias para que a prática possa acontecer, corrobora-se com Molinari e colaboradores¹ sobre a importância da parceria entre escolas e clubes, pois em muitos casos, os atletas são preparados pelos clubes e competem representando as escolas^33),(36. Para acompanhar as demandas das competições escolares internacional e nacional, é preciso que os jogos paranaenses realizem as adequações e os clubes auxiliam no processo de preparação dos atletas. Mas a parceria com os municípios é necessária, por meio da parceria público privada.

Este processo ocorre para a GA recentemente, mas a GR já se configura como consolidada do Paraná, pois o esporte está em difusão no estado desde 1975, quando a professora Elisabeth Laffranchi iniciou a divulgação da GR por meio da formação de atletas e treinadoras^{19),(20),(21).} Ao total, a modalidade é oferecida no Paraná em 53 municípios para a Formação Esportiva, 22 para a Excelência Esportiva e 19 para o Esporte para Toda a Vida, denotando que - com base na Política de Esportes do Paraná¹² - distintas faixas etárias e linhas de atuação são contempladas. Conquanto exista um número representativo de municípios que ofertam a formação esportiva, percebe-se que poucos são os que de fato participam dos jogos oficiais do estado, restringindo as cidades que mais participam aos polos de Maringá, Pato Branco, Londrina, Cascavel e Curitiba, as quais também nomeia Escritórios Regionais do Esporte no Paraná. A exceção é Toledo, município alocado no Escritório Regional de Foz do Iguaçu.

Tal fato pode também ser justificado pelo alto custo das instalações esportivas necessárias para o treinamento da GA, ou seja, para atuar no nível da excelência esportiva. Explica-se: a GA é realizada em equipamento fixos, os quais são de alto custo e exigem uma manutenção periódica para garantir segurança aos atletas²³. Por outro lado, a GR é pode ser treinada em um ginásio multiuso, em cima de um tapete que pode ser recolhido diariamente. Os aparelhos manuais são mais acessíveis e adaptáveis. Além desses fatores, a literatura^22),(23),(37 revela que são poucos profissionais no Brasil capacitados para atuar com a GA, devido a carência de formação especializada e baixa remuneração.

Conclusão

A análise do panorama dos esportes ginásticos nos municípios paranaenses revelou que cerca de 16% dos municípios paranaenses ofertam ao menos uma manifestação gímnica de competição, em um ou mais nível de atendimento, com ênfase para a GR seguida da GA. Do mesmo modo, a análise da participação das entidades esportivas em eventos federativos e jogos oficiais do Paraná revelou a predominância da GR, seguida da GA. Ainda assim, ao observar a distribuição geográfica da oferta no estado do Paraná, percebe-se a maior concentração nas regiões norte, oeste, capital e região metropolitana.

A GTR, modalidade olímpica, não foi citada pelos municípios paranaenses, não possui entidade esportiva federada ou vinculada a FPRG e, portanto, não consta nos jogos oficiais do estado, possivelmente pela demanda de infraestrutura e segurança necessários à prática. Certamente tal dado indica uma lacuna no que tange a GTR no estado do Paraná.

Ainda que não fizesse parte do recorte do estudo, foi possível identificar que a GACRO, possui apenas um representante federativo e não se encontrou competições oficiais de GACRO no estado. No entanto, sabe-se que há competições organizadas pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) dessa modalidade, inclusive com a participação da equipe toledana.

A análise dos jogos oficiais do Paraná indiciou a ausência de competições de GA nos Jogos da Juventude do Paraná e Jogos Abertos, bem como a inclusão recente da GA (2018/2019). Fato esse que merece ser discutido e questionado, tendo em vista que se trata de um esporte ginástico com representantes no estado. Por outro lado, a realização de competições de GR adaptada, ainda que com baixa diversidade de municípios, indica um caminho para a inclusão de pessoas com deficiência em esportes ginásticos.

Conclui-se que dentre os esportes gímnicos, a GA, em especial do setor feminino, assim como a GR são as mais difusas no território do Paraná, tanto em ofertas municipais quanto em entidades esportivas (clubes/associações). Fato este que se relaciona diretamente com a aparição de atletas paranaenses de destaque internacional nas respectivas modalidades. Por outro lado, a pouca disseminação das demais manifestações gímnicas de competição reflete na invisibilidade tanto em âmbito federativo, quanto em jogos oficiais.

Pondera-se que, que a responsabilidade pelo preenchimento do GEEM é do gestor esportivo municipal, o s quais são responsáveis por manter os dados atualizados no sistema e a adequação das respostas à realidade municipal.

Por fim, sugere-se pesquisas futuras que possam analisar o panorama dos esportes ginásticos em outros estados brasileiros, para então traçar comparativos com os achados dessa pesquisa. Isso poderia auxiliar a compreender a vocação esportiva de cada estado e orientar as tomadas de decisão no setor esportivo nacionais.

Agradecimentos:

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001

Referências

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  Molinari CI, Costa VR, Monteiro KOFF, Nunomura M. Critical analysis of the performance of women's artistic gymnastics in brazil in the 2004-2016 Olympic cycles. Sci Gym J, 2018;10(3):453-466. DOI: http://dx.doi.org/10.52165/sgj.10.3.453-466
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• ²
  Lourenço MA. A seleção brasileira de conjuntos de ginástica rítmica: perfil de ginastas e treinadoras, estrutura técnica e administrativa e o habitus construído. 2015. [acesso em 03 nov 2023]. [Tese de Doutorado]. Maringá: Universidade Estadual de Maringá. Programa de Educação Física, 2015. Disponível em: Disponível em: http://repositorio.uem.br:8080/jspui/handle/1/2148
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Editado por

Editor: Carlos Herold Junior

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  29 Abr 2024
• Data do Fascículo
  2024

Histórico

• Recebido
  29 Jan 2024
• Revisado
  09 Fev 2024
• Aceito
  20 Fev 2024