Figura 10
Casos individuais
Um operário chamou-nos à sua residência, na Corda Bamba, para fazer curativos no seio de sua esposa. Encontramos um ambiente horrível. Sujeira por todo canto. O recém-nascido de apenas 10 dias, já se achava contaminado pela “sapeca”. As outras quatro crianças inspiravam compaixão, tal aspecto imundo que apresentavam. A cama onde repousavam a mãe doente e o recém-nascido cheirava mal.
Oferecemos para dar banho nas crianças e limpar a casa, mas a Sra. F... recusou e prometeu que faria ela mesma o trabalho.
No dia seguinte, ao chegar, deparamos, com toda a família de roupa trocada sem passar e sem levar ao corpo nem uma gota d’água sequer. A distância não permitia uma visita diária a esta família. Contudo, fizemos o que foi possível para encaminhá-los na higiene e conseguimos que o Sr. N... plantasse uma horta.
Dois meses após a última visita, tivemos uma grande decepção. Encontramos o mencionado recém-nascido quase cego. Fazia mais de um mês que não abria mais os olhos, porque aquele pus provindo da “sapeca” não era retirado e foi colando as pálpebras até que a criança não pôde mais abrir os olhos.
Perguntamos à mãe, por que deixou chegar àquele extremo, ao que ela respondeu candidamente: “– A gente não dá conta de limpar! Limpa, limpa, limpa e torna a sujar...”. Apenas esta a razão de deixar a pobre criancinha, condenada à cegueira. Fizemos um tratamento em casa, com aplicação de pomada de penicilina. Oito dias após este tratamento, a criança abria os olhos e a melhora veio se processando paulatinamente.
Terminando o ensaio do Coro, pediu-nos uma entrevista a Sra X... e prontamente atendemos.
Entre soluços, contou-nos que há muito vem sofrendo horrivelmente os maus-tratos do marido, que, além de espancá-la por várias vezes, a havia expulsado de casa. Levou-a o ano passado para S. Paulo e após fazer uma série de desordens foi caçado pela policia.
Para livrar-se veio embora deixando-a no hotel sozinha com a filha de 2 anos.
Não podendo voltar, por falta de dinheiro, ficou servindo no hotel e, auxiliada pela proprietária deste, conseguiu voltar à casa dos pais em Criciúma.
No momento, prossegue, preciso arranjar um emprego a fim de manter minhas filhas, (agora são duas) porque sei que a qualquer hora ele me deixa novamente, ou manda-me para a casa de meus pais que são pobres e não podem sustentar-me. Ficamos de estudar o assunto.
Há tempo vínhamos pensando na necessidade de um Curso Supletivo feminino em nossa vila operária.
Procuramos algumas interessadas e propusemos o pagamento mensal de Cr$ 15,00. Eram ao todo oito alunas. Combinamos com a Sra. X... que aceitou maravilhada a feliz ideia e deu início às aulas com entusiasmo. As alunas, porém, não pagavam com precisão e a frequência era quase nula. Nesse ínterim, fomos visitadas pelas senhoras Zuleika Albrecht e Olga Woigt, respectivamente, diretora da D.S.S. e encarregada do Corte e Costura do SESI. Pedimos a ambas o apoio e colaboração para um movimento de tanta importância em nosso meio e incontinente procuraram elas o Sr. Prefeito Municipal.
A prefeitura deu caráter oficial ao nosso Curso Supletivo, fez um ordenado de Cr$ 1.200.00 para a Sra. X... e demos inicio às aulas no prédio da Escola Nova, gentilmente cedido pelo Sr. Diretor da Sociedade Carbonífera da Próspera.
Atualmente temos, entre senhoras e moças, quarenta alunas, assíduas e interessadas.
A Sra. X... revelou então o seu valor. Ótima professora, criteriosa, dedicada e compreensiva. No princípio deste ano, tomou a defensiva de uma boa soma de crianças que não conseguira vaga nas escolas.
Com o apoio da Prefeitura, formaram-se duas classes de primeiro ano, no salão paroquial da Próspera.
Lecionava para uma delas, sendo a outra ministrada pela Sra. Z...
A Sra. X... percebe agora Cr$ 2.800,00. Encerrou a casa, comprou móveis e uma boa máquina de costura e aprendeu a aplicar injeções.
É um ponto de apoio para nós quando precisamos de sua colaboração.
Este caso angustiante foi a chave que resolveu o sério problema da educação das senhoras e jovens operárias.
Após uma reunião com as mães, veio ter conosco a Sra. T... e disse que estava levando uma vida muito difícil, porquanto o seu marido é aposentado, o pagamento em atraso há cinco meses, com seis filhos para manter.
Além disto o marido é alcóolatra permanente, espanca os filhos, briga com a esposa e com a bebida gasta todo tostão que ela com sacrifício consegue economizar. Arrematando pedia a nossa colaboração no sentido de fazer ao menos um cômodo para onde pudesse transferir-se com a família e ficar livre do pesado aluguel, que vinha pagando de sua residência.
Após a narrativa, perguntamos qual a proposta que ela apresentava à Cia., que era a quem devíamos fazer o pedido. Respondeu-nos, que compraria o material de uma casa pequena, que estava sendo transferida da Corda Bamba para a Próspera, se para tanto dessem as suas economias. Indagamos ainda qual seria a mensalidade e quanto poderia dar de entrada.
Deixamos passar uns dias, durante os quais encontramos com a Sra. T... sem tocar no assunto. Apuramos que a mesma vinha fazendo roça, para dar subsistência aos filhos e ia a grande distância, comprar legumes e frutas para revender na cidade. Diante de tanto esforço solicitamos ao Sr. Diretor da Cia. a venda da casa, para ser colocada nas proximidades e assim facilitar o penoso trabalho da cliente.
A casa foi cedida, tendo a Sra. T... que providenciar o transporte. Para isto vendeu o cavalo que possuía e transportou a casa e, ambos, marido e mulher constituíram-na perto da roça.
Vivendo agora em lugar mais distante o marido está bebendo menos. Melhorou a alimentação de seus filhos, melhorando também o nível de vida.
Adquiriu uma vaquinha a qual vem contribuindo largamente para a boa nutrição.