RESUMO
Com base nas noções de campo de presença e de acontecimento, desenvolvidas pela gramática tensiva, são propostas duas formas de memória como categoria analítica dos discursos autobiográficos: a memória do acontecido e a memória-acontecimento. Essas organizações discursivas da memória determinam modos diferentes de adesão do enunciatário aos discursos, uma vez que a primeira coloca em cena estratégias que privilegiam a legibilidade do texto e a segunda explora sua dimensão sensorial e afetiva. Tendo isso em vista, o objetivo central deste artigo é investigar, no quadro teórico da semiótica discursiva, a interação entre enunciador e enunciatário em diferentes gêneros autobiográficos, como a autobiografia literária em prosa, os poemas de caráter autobiográfico e os memoriais acadêmicos. Em cada gênero, a memória do acontecido e a memória-acontecimento se articulam de forma singular. É justamente a tensão que se estabelece entre essas duas memórias, entre essas duas formas de conhecer e produzir o mundo, que parece ser fundadora dos discursos autobiográficos.
Memória; Gêneros autobiográficos; Semiótica; Gramática tensiva; Enunciação; Acontecimento