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Potenciais evocados auditivos corticais no transtorno do espectro do autismo: revisão sistemática

RESUMO

Objetivo

Identificar e analisar quais são os achados característicos dos Potenciais Evocados Auditivos Corticais (PEAC) em crianças e/ou adolescentes com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) em comparação do desenvolvimento típico, por meio de uma revisão sistemática da literatura.

Estratégia de pesquisa

Após formulação da pergunta de pesquisa, foi realizada uma revisão da literatura em sete bases de dados (Web of Science, Pubmed, Cochrane Library, Lilacs, Scielo, Science Direct, e Google acadêmico), com os seguintes descritores: transtorno do espectro autista (autism spectrum disorder), transtorno autístico (autistic disorder), potenciais evocados auditivos (evoked potentials, auditory), potencial evocado P300 (event related potentials, P300) e criança (child). A presente revisão foi cadastrada no Próspero, sob número 118751.

Critérios de seleção

Foram selecionados estudos publicados na integra, sem limitação de idioma, entre 2007 e 2019. Análise dos dados: Foram analisadas as características de latência e amplitude dos componentes P1, N1, P2, N2 e P3 presentes nos PEAC.

Resultados

Foram localizados 193 estudos; contudo 15 estudos contemplaram os critérios de inclusão. Embora não tenha sido possível identificar um padrão de resposta para os componentes P1, N1, P2, N2 e P3, os resultados da maioria dos estudos demonstraram que indivíduos com TEA podem apresentar diminuição de amplitude e aumento de latência do componente P3.

Conclusão

Indivíduos com TEA podem apresentar respostas diversas para os componentes dos PEAC, sendo que a diminuição de amplitude e aumento de latência do componente P3 foram as características mais comuns.

Descritores
Transtorno do Espectro Autista; Transtorno Autístico; Potenciais Evocados Auditivos; Audiologia; Criança

ABSTRACT

Purpose

To identify and analyze what are the characteristic findings of Cortical Auditory Evoked Potentials (CAEP) in children and / or adolescents with Autism Spectrum Disorder (ASD) compared to typical development, through a systematic literature review.

Research strategies

Based on the formulation of a research question, a bibliographic survey was carried out in seven databases (Web of Science, Pubmed, Cochrane Library, Lilacs, Scielo, Science Direct, and Google Sholar), with the following descriptors: autism spectrum disorder (transtorno do espectro autista), autistic disorder (transtorno autístico), evoked potentials, auditory (potenciais evocados auditivos), event related potentials, P300 (potencial evocado P300) e child (criança). This review was registered in Prospero, under number 118751.

Selection criteria

Were selected articles published, without language limitation, between 2007 and 2019.

Data analysis

The characteristics of the latency and amplitude aspects of the P1, N1, P2, N2 and P3 components present in the CAEP.

Results

193 studies were located; however, 15 original articles were included the inclusion criteria for this study. Although it has not been possible to identify any pattern of response for the P1, N1, P2 and N2 components, the results of the selected studies have demonstrated that individuals with ASD may present a decrease in amplitude and increase in latency of the P3 component.

Conclusion

Individuals with ASD may present different responses to the components of the CAEP, and the decrease of the amplitude and increase of the latency of the P3 component were the most common characteristics.

Keywords
Autism Spectrum Disorder; Autistic Disorder; Evoked Potentials Auditory; Audiology; Child

INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno do desenvolvimento que compromete a capacidade de comunicação e interação social dos indivíduos. Crianças e adultos acometidos de tal transtorno apresentam comportamentos padronizados, fala e movimentos motores estereotipados, rotinas repetitivas com interesses restritos, e alterações perceptuais de atenção e memória(11 World Health Organization. The ICD-10 classification of mental and behavioral disorders: diagnostic criteria for research. 10th ed. Geneva: WHO; 1993 [citado em 2017 Mar 3]. Disponível em: http://www.who.int/classifications/icd/en/GRNBOOK.pdf
http://www.who.int/classifications/icd/e...
,22 American Psychiatric Association. Manual diagnostico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.).

Considerando a importância da audição para o estabelecimento efetivo da comunicação oral, e que indivíduos com TEA podem ser confundidos com deficientes auditivos, uma avaliação auditiva completa, tanto do sistema periférico quanto central, se torna importante para esta população buscando avaliar a integridade de todas as estruturas do sistema auditivo desde a orelha externa até o córtex auditivo(33 Sousa EC, Lima FT, Tamanaha AC, Perissinoto J, Azevedo MF, Chiari BM. A associação entre a suspeita inicial de perda auditiva e a ausência de comunicação verbal em crianças com transtornos do espectro autístico. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14:487-90.,44 Magliaro FC, Scheuer CI, Assumpção-Júnior FB, Matas CG. Study of auditory evoked potentials in autism. Pro Fono. 2010;22:31-6.).

Diversos estudos têm observado, por meio de métodos comportamentais, limiares auditivos normais em indivíduos com TEA(55 Rosenblum SM, Arick JR, Krug DA, Stubbs EG, Young NB, Pelson RO. Auditory brainstem evoked responses in autistic children. J Autism Dev Disord. 1980;10:215-25.

6 Russo NM, Hornickel J, Nicol T, Zecker S, Kraus N. Biological changes in auditory function following training in children with autism spectrum disorders.. Behav Brain Funct. 2010;6:1-8.
-77 Romero ACL, Gução ACB, Delecrode CB, Cardoso ACV, Misquiatti ARN, Frizzo ACF. Avaliação audiológica comportamental e eletrofisiológica no transtorno do espectro do autismo. Rev CEFAC. 2014;16:707-14.). Apesar disto, há descrito na literatura que crianças com TEA podem apresentar tanto incômodo a sons de média intensidade quanto comportamentos indiferentes para sons de forte intensidade ou ruídos, pois podem ser hiper ou hipossensíveis aos estímulos sensoriais(88 Klin A. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Rev Bras Psiquiatr. 2006;1:3-11.).

Uma maneira de verificar objetivamente a integridade e a funcionalidade auditiva é por meio da avaliação dos Potenciais Evocados Auditivos (PEA), que são traçados gerados pela atividade bioelétrica das vias auditivas tálamo-corticias após estimulação acústica(99 Martin BA, Tremblay KL, Stapells DR. Principles and applications of cortical auditory evoked potentials. In: Burkard RF, Don M, Eggermont JJ, editores. Auditory evoked potentials: basic principles and clinical application. Baltimore: Lippincott Williams and Wilkins; 2007. p. 482-507.

10 Ponton CW, Eggermont JJ. Electrophysiological measures of human auditory system maturation. In: Burkard RF, Don M, Eggermont JJ, editores. Auditory evoked potentials: basic principles and clinical application. Baltimore: Lippincott Williams and Wilkins; 2007. p. 385-402.
-1111 Tremblay KL, Burkard RF. The aging auditory system. In: Burkard RF, Don M, Eggermont JJ, editores. Auditory evoked potentials: basic principles and clinical application. Baltimore: Lippincott Williams and Wilkins; 2007. p. 403-25.). Por ser um método objetivo, traz como grande benefício a possibilidade de complementar a avaliação comportamental de indivíduos difíceis de serem avaliados, tais como crianças com TEA(1212 Matas CG, Magliaro FCL. Introdução aos potenciais evocados auditivos e potencial evocado auditivo de tronco encefálico. In: Bevilacqua MC, Martinez MAN, Balen AS, Pupo AC, Reis ACMB, Frota S, editores. Tratado de audiologia. São Paulo: Santos; 2013. p. 181-95.).

A avaliação por meio dos Potenciais Evocados Auditivos Corticais (PEAC) é capaz de refletir a funcionalidade do processamento auditivo central a sons verbais ou não-verbais, por meio da análise de picos positivos e negativos denominados P1, N1, P2, N2 e P3(99 Martin BA, Tremblay KL, Stapells DR. Principles and applications of cortical auditory evoked potentials. In: Burkard RF, Don M, Eggermont JJ, editores. Auditory evoked potentials: basic principles and clinical application. Baltimore: Lippincott Williams and Wilkins; 2007. p. 482-507.

10 Ponton CW, Eggermont JJ. Electrophysiological measures of human auditory system maturation. In: Burkard RF, Don M, Eggermont JJ, editores. Auditory evoked potentials: basic principles and clinical application. Baltimore: Lippincott Williams and Wilkins; 2007. p. 385-402.
-1111 Tremblay KL, Burkard RF. The aging auditory system. In: Burkard RF, Don M, Eggermont JJ, editores. Auditory evoked potentials: basic principles and clinical application. Baltimore: Lippincott Williams and Wilkins; 2007. p. 403-25.,1313 Garcia M, Silveira A, Didoné D. Long latency auditory evoked potential in term and premature infants. Int Arch Otorhinolaryngol. 2013;18:16-20.).

Os componentes P1, N1, P2 e N2 são considerados potenciais exógenos, ou seja, não depende da resposta ativa do indivíduo, e são capazes de fornecer informações sobre a integridade da via auditiva, codificação neural, e percepção e detecção do estímulo acústico(99 Martin BA, Tremblay KL, Stapells DR. Principles and applications of cortical auditory evoked potentials. In: Burkard RF, Don M, Eggermont JJ, editores. Auditory evoked potentials: basic principles and clinical application. Baltimore: Lippincott Williams and Wilkins; 2007. p. 482-507.,1414 Martin BA, Tremblay KL, Korczak P. Speech evoked potentials: from the laboratory to the clinic. Ear Hear. 2008;29:285-313.). Por outro lado, o componente P3 é considerado um potencial endógeno, pois requer uma resposta ativa do indivíduo em realizar determinadas tarefas, e reflete processos auditivos mais centrais tais como discriminação auditiva e processamento temporal(99 Martin BA, Tremblay KL, Stapells DR. Principles and applications of cortical auditory evoked potentials. In: Burkard RF, Don M, Eggermont JJ, editores. Auditory evoked potentials: basic principles and clinical application. Baltimore: Lippincott Williams and Wilkins; 2007. p. 482-507.,1515 Hall JW. P300 response. In: Hall JW, editor. New handbook of auditory evoked responses. 2nd ed. Florida: Allyn & Bacon; 2006. p. 518-47.).

Diversos estudos têm demonstrado alterações nos Potenciais Evocados Auditivos de Tronco Encefálico (PEATE) em indivíduos com TEA; também, uma revisão de literatura publicada anteriormente descreveu que anormalidades no processamento da informação sonora podem ser observadas em indivíduos com TEA, sendo que a alteração mais comumente observada é o aumento da latência da onda V e, consequentemente, aumento dos interpicos I-V ou III-V(1616 O’Hearn K. Brainstem Auditory Evoked Responses in Autism (BAERs). In: Volkmar FR, editor. Encyclopedia of autism spectrum disorders. New York: Springer; 2012. p. 1-6.).

No que tange à avaliação cortical, pouco se sabe sobre os possíveis resultados dos PEAC em indivíduos com TEA. Este potencial é capaz de verificar a funcionalidade do processamento auditivo de forma objetiva, sendo assim é um recurso clínico a ser considerado na avaliação destes pacientes tendo em vista a dificuldade de aplicar testes comportamentais nesta população. Além disso, esta avaliação tem sido destacada como eficaz para monitorar as modificações ocorridas no Sistema Nervoso Auditivo Central após intervenção terapêutica(1717 Sharma A, Nash AA, Dorman MF. Cortical development, plasticity and re-organization in children with cochlear implants. J Commun Disord. 2009;42:272-9.

18 Datta H, Shafer VL, Morr ML, Kurtzberg D, Schwartz RG. Electrophysiological indices of discrimination of long-duration, phonetically similar vowels in children with typical and atypical language development. J Speech Lang Hear Res. 2010;53:757-77.

19 Tremblay K, Kraus N, Mcgee T, Ponton C, Brian O. Central auditory plasticity: changes in the n1-p2 complex after speech-sound training. Ear Hear. 2001;22:79-100.
-2020 Silva LA, Couto MI, Magliaro FC, Tsuji RK, Bento RF, Carvalho AC, et al. Cortical maturation in children with cochlear implants: correlation between electrophysiological and behavioral measurement. PLoS One. 2017;2:e0171177.).

Sendo assim, um levantamento dos resultados descritos na literatura no que tange aos achados dos PEAC em crianças e/ou adolescentes com TEA, destacando as diferenças em comparação ao desenvolvimento típico, é de grande interesse a fim de verificar se há características específicas nas respostas obtidas nesta população.

OBJETIVO

O objetivo do presente estudo foi identificar e analisar quais são os achados característicos dos PEAC em crianças e/ou adolescentes com TEA em comparação com o desenvolvimento típico, por meio de uma revisão sistemática da literatura.

ESTRATÉGIA DE PESQUISA

O início da presente revisão se deu a partir da seguinte pergunta de pesquisa: “Quais são diferenças nos resultados dos Potenciais Evocados Auditivos Corticais em crianças com Transtorno do Espectro Autista em comparação ao desenvolvimento típico?”

A revisão sistemática, foi cadastrada no sistema Próspero, sob número 118751, e as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA)(2121 Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG. PRISMA Group. Preferred reporting items for systematic reviews and meta‐analyses: the PRISMA Statement. Ann Intern Med. 2009;18(151):264-9.) foram seguidas. Dentro da estratégia do PICO (Population, Intervention, Comparison/control, Outcome)(1717 Sharma A, Nash AA, Dorman MF. Cortical development, plasticity and re-organization in children with cochlear implants. J Commun Disord. 2009;42:272-9.,2121 Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG. PRISMA Group. Preferred reporting items for systematic reviews and meta‐analyses: the PRISMA Statement. Ann Intern Med. 2009;18(151):264-9.) foi estabelecido:

  • Paciente (P): crianças ou adolescentes com TEA;

  • Intervenção (I): indivíduos com TEA que tenham realizado a avaliação do PEAC;

  • Comparação (C): foram considerados artigos incluindo grupo controle composto por sujeitos com desenvolvimento típico;

  • Outcomes/Desfecho (O): apresentar ou não alteração nos componentes dos PEAC.

Com a finalidade de responder à questão do estudo, foi realizada uma pesquisa no sistema DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e no MeSH (Medical Subject Headings) para definir os descritores a serem utilizados para levantamento bibliográfico; tais descritores foram cruzados por meio do operador booleano “AND”. A partir de então, foram selecionados os seguintes descritores: transtorno do espectro autista; transtorno autístico; potenciais evocados auditivos; potencial evocado P300 e criança, com os seus correspondentes para a língua inglesa autism spectrum disorder; autistic disorder; evoked potentials, auditory; event related potentials, P300 e child.

Entre os meses de abril e maio de 2019, foi realizado o levantamento bibliográfico utilizando-se sete bases de dados, sendo elas: Web of Science, Pubmed, Cochrane Library, Lilacs, Scielo, Science Direct, e Google acadêmico. Além disso, as referências utilizadas nos artigos selecionados também foram analisadas, a fim de identificar um maior número de estudos potencialmente pertinentes.

Critérios de seleção

No que diz respeito aos critérios de inclusão dos estudos, a presente revisão contemplou, artigos originais e completos revisados por pares, e dissertações e teses que contemplaram a análise dos PEAC em crianças e adolescentes com TEA com inclusão de um grupo controle para comparação. No caso de dissertações e teses, foi realizada uma busca a fim de localizar o artigo completo originado da mesma; nos casos e que o mesmo foi encontrado a dissertação ou tese foi substituída pelo artigo.

Foram selecionados estudos, publicados entre os anos 2007 e 2019, sem limitação de idioma, que respondiam à pergunta da pesquisa, avaliando presença e ausência, bem como, os valores de latência e/ou amplitude dos componentes P1, N1, P2, N2 e P3 dos PEAC em crianças e adolescentes com TEA, em comparação com o desenvolvimento típico.

Foram excluídos artigos que avaliaram outros potenciais que não o PEAC, que não utilizaram o estímulo auditivo, sem metodologia clara, sem grupo de comparação ou que não apresentavam nos resultados o desfecho de interesse da presente pesquisa.

Análise dos dados

Após finalizar a busca, foram excluídos os títulos repetidos. O resultado da busca foi analisado cegamente por dois revisores que leram os títulos e os resumos de cada artigo, verificando quais contemplavam os critérios de inclusão. Se o estudo foi considerado para leitura do título por pelo menos um revisor, este foi mantido e lido o texto na íntegra.

Após finalizar esta etapa, os trabalhos selecionados foram lidos na íntegra por dois revisores independentes; as divergências foram resolvidas por meio de discussão e, quando necessário, um terceiro revisor foi consultado.

Os artigos foram analisados quanto ao objetivo da pesquisa, a metodologia utilizada (tipo de estudo, casuística, procedimentos, análise dos dados), os resultados obtidos (valores de latência e amplitude dos componentes P1, N1, P2, N2 e P3 do PEAC) e a conclusão de cada estudo.

A qualidade dos estudos incluídos na revisão foi analisada de acordo com o Índice Metodológico para Estudos Não-randomizados (Methodological Index for Non-randomized Studies - MINORS), que é um protocolo composto por 8 itens (1 ao 8) para avaliar estudos não comparativos e 12 itens (1 ao 12) para avaliar estudos comparativos, sendo que cada item recebe uma pontuação entre zero e dois (0= não relatado; 1= relatado, mas inadequado; 2= relatado e adequado)(2222 Slim K, Nini E, Forestier D, Kwiatkowski F, Panis Y, Chipponi J. Methodological index for non-randomized studies (minors): development and validation of a new instrument. ANZ J Surg. 2003;73:712-6.). As divergências encontradas na análise dos estudos foram resolvidas por meio de discussão entre os revisores.

RESULTADOS

Resultados nas bases eletrônicas de dados

Após realizar a busca, foram encontrados 189 estudos distribuídos nas bases de dados pesquisadas, sendo que a base de dados da Pubmed foi a que apresentou o maior número de resultados. Além desses, quatro estudos foram localizados a partir da lista de referência bibliográfica de outros artigos. Ao final, apenas 15 estudos contemplaram todos os critérios e foram considerados na presente revisão. As etapas seguidas para a seleção dos artigos estão detalhadas na Figura 1.

Figura 1
Fluxograma da seleção dos artigos para análise

Análise dos estudos selecionados

Após a leitura íntegra de cada estudo, foi realizada uma análise detalhada de cada artigo considerando os principais objetivos, os aspectos metodológicos e os principais resultados (Chart 1).

Chart 1
Resumo dos principais achados dos artigos selecionados

Em relação aos riscos de viés (Tabela 1), todos os estudos incluídos apresentaram pontuação semelhantes (entre 14 e 18 pontos dentre os 24 possíveis, considerando que todos os estudos foram comparativos), demonstrando perfis análogos no que tange aos critérios de qualidade.

Tabela 1
Análise da qualidade dos artigos originais selecionados de acordo com o Minors

Quanto aos aspectos metodológicos, no que tange ao número de participantes dos estudos, observou-se o mínimo de 10(2929 Stroganova TA, Kozunov VV, Posikera IN, Galuta IA, Gratchev VV, Orekhova EV. Abnormal pre-attentive arousal in young children with autism spectrum disorder contributes to their atypical auditory behavior: an ERP study. PLoS One. 2013;8:e69100.,3636 Lortie M, Proulx-Bégin L, Saint-Amour D, Cousineau D, Théoret H, Lepage JF. Brief report: biological sound processing in children with autistic spectrum disorder. J Autism Dev Disord. 2017;47:1904-9.) e o máximo de 30(3636 Lortie M, Proulx-Bégin L, Saint-Amour D, Cousineau D, Théoret H, Lepage JF. Brief report: biological sound processing in children with autistic spectrum disorder. J Autism Dev Disord. 2017;47:1904-9.) indivíduos com TEA, sendo que as idades variaram de 4(2525 Orekhova EV, Stroganova TA, Prokofiev AO, Nygren G, Gillberg C, Elam M. The right hemisphere fails to respond to temporal novelty in autism: evidence from an ERP study. Clin Neurophysiol. 2009;120:520-9.,3131 Donkers FC, Schipul SE, Baranek GT, Cleary KM, Willoughby MT, Evans AM, et al. Attenuated auditory event-related potentials and associations with atypical sensory response patterns in children with autism. J Autism Dev Disord. 2015;45:506-23.,3434 Galilee A, Stefanidou C, McCleery JP. Atypical speech versus non-speech detection and discrimination in 4- to 6- yr old children with autism spectrum disorder: an ERP study. PLoS One. 2017;12:e0181354.) a 20(44 Magliaro FC, Scheuer CI, Assumpção-Júnior FB, Matas CG. Study of auditory evoked potentials in autism. Pro Fono. 2010;22:31-6.) anos; sendo assim, pôde-se observar que alguns estudos avaliaram uma ampla faixa etária (crianças e adolescentes). Quanto ao perfil da população que compôs os grupos de indivíduos com TEA encontrado nos estudos, observou-se que todos os estudos tiveram a maioria dos integrantes do sexo masculino.

Sabe-se que a maturação do sistema nervoso auditivo central, e consequentemente, dos PEAC ocorre ao longo da infância até a adolescência(3737 Silva LA, Magliaro FC, Carvalho AC, Matas CG. Maturation of long latency auditory evoked potentials in hearing children: systematic review. CoDAS. 2017;29:e20160107.). Assim, a idade é uma variável que pode interferir de maneira significativa nos achados dos PEAC e podem ocasionar um viés na análise entre os estudos. No entanto, todos os estudos aqui analisados contemplaram a inclusão de um grupo controle com indivíduos com Desenvolvimento Típico (DT), a fim de obter uma comparação equivalente no que diz respeito à idade. Sendo assim, acredita-se que a idade não foi uma variável que pode ter influenciado nos resultados dos estudos aqui selecionados.

Quanto à distribuição por sexo, observou-se maior número de indivíduos do sexo masculino nos estudos; esse dado pode ser decorrente da prevalência do TEA em indivíduos do sexo masculino ser quatro vezes mais frequentes do que em indivíduos do sexo feminino(22 American Psychiatric Association. Manual diagnostico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.).

Ainda no que tange aos aspectos metodológicos, observou-se que a maioria dos estudos foi realizado com estímulo não-verbal(44 Magliaro FC, Scheuer CI, Assumpção-Júnior FB, Matas CG. Study of auditory evoked potentials in autism. Pro Fono. 2010;22:31-6.,2424 Matas CG, Gonçalves IC, Magliaro FC. Audiologic and electrophysiologic evaluation in children with psychiatric disorders. Rev Bras Otorrinolaringol. 2009;75:130-8.,2525 Orekhova EV, Stroganova TA, Prokofiev AO, Nygren G, Gillberg C, Elam M. The right hemisphere fails to respond to temporal novelty in autism: evidence from an ERP study. Clin Neurophysiol. 2009;120:520-9.,2727 Gomot M, Blanc R, Clery H, Roux S, Barthelemy C, Bruneau N. Candidate electrophysiological endophenotypes of hyper-reactivity to change in autism. J Autism Dev Disord. 2011;41:705-14.

28 Andersson S, Posserud M, Lundervold AJ. Early and late auditory event-related potentials in cognitively high functioning male adolescents with autism spectrum disorder. Res Autism Spectr Disord. 2013;7:815-23.

29 Stroganova TA, Kozunov VV, Posikera IN, Galuta IA, Gratchev VV, Orekhova EV. Abnormal pre-attentive arousal in young children with autism spectrum disorder contributes to their atypical auditory behavior: an ERP study. PLoS One. 2013;8:e69100.

30 Azouz HG, Kozou H, Khalil M, Abdou RM, Sakr M. The correlation between central auditory processing in autistic children and their language processing abilities. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78:2297-300.

31 Donkers FC, Schipul SE, Baranek GT, Cleary KM, Willoughby MT, Evans AM, et al. Attenuated auditory event-related potentials and associations with atypical sensory response patterns in children with autism. J Autism Dev Disord. 2015;45:506-23.

32 Gonzalez-Gadea ML, Chennu S, Bekinschtein TA, Rattazzi A, Beraudi A, Tripicchio P, et al. Predictive coding in autism spectrum disorder and attention deficit hyperactivity disorder. J Neurophysiol. 2015;114:2625-36.
-3333 Sokhadze EM, Casanova MF, Tasman A, Brockett S. Electrophysiological and behavioral outcomes of berard Auditory Integration Training (AIT) in children with autism spectrum disorder. Appl Psychophysiol Biofeedback. 2016;41:405-20.). Um estudo analisado na presente revisão utilizou apenas o estímulo verbal(3434 Galilee A, Stefanidou C, McCleery JP. Atypical speech versus non-speech detection and discrimination in 4- to 6- yr old children with autism spectrum disorder: an ERP study. PLoS One. 2017;12:e0181354.), três estudos utilizaram ambos os estímulos(2323 Whitehouse AJ, Bishop DV. Do children with autism ‘switch off’ to speech sounds? An investigation using event-related potentials. Dev Sci. 2008;11:516-24.,3434 Galilee A, Stefanidou C, McCleery JP. Atypical speech versus non-speech detection and discrimination in 4- to 6- yr old children with autism spectrum disorder: an ERP study. PLoS One. 2017;12:e0181354.,3535 Kamita MK. Brainstem evoked response auditory and long-latency auditory evoked potential in children with autism spectrum disorder [dissertation]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2017.) e ainda um estudo utilizou estímulos de sons biológicos (estalo de dedo e sucção de boca)(3636 Lortie M, Proulx-Bégin L, Saint-Amour D, Cousineau D, Théoret H, Lepage JF. Brief report: biological sound processing in children with autistic spectrum disorder. J Autism Dev Disord. 2017;47:1904-9.) (Chart 2).

Chart 2
Resumo dos protocolos de coleta dos PEAC

A variabilidade dos estímulos utilizados para coleta dos PEAC é capaz de gerar respostas corticais distintas. Sabe-se que o estímulo verbal apresenta-se mais complexo em relação ao estímulo não verbal, pois a sua captação ocorre se houver uma percepção sensível aos sinais que possuem mudanças rápidas em seu espectro e com rápidas taxas de estimulação(66 Russo NM, Hornickel J, Nicol T, Zecker S, Kraus N. Biological changes in auditory function following training in children with autism spectrum disorders.. Behav Brain Funct. 2010;6:1-8.). Além disso, o estímulo verbal possui um tempo de duração maior comparado ao não verbal, apresentando também uma maior complexidade acústica; assim, necessita de um tempo maior para ser codificado e processado no córtex auditivo(1212 Matas CG, Magliaro FCL. Introdução aos potenciais evocados auditivos e potencial evocado auditivo de tronco encefálico. In: Bevilacqua MC, Martinez MAN, Balen AS, Pupo AC, Reis ACMB, Frota S, editores. Tratado de audiologia. São Paulo: Santos; 2013. p. 181-95.).

Embora este aspecto prejudicou a comparação entre os estudos, em cada um deles, foi utilizado o mesmo estímulo para avaliar ambos os grupos (com TEA e com DT) e em nenhum foi relatado um padrão diferenciado de resposta para um determinado tipo de estímulo (verbal ou não verbal) em indivíduos com TEA.

Observou-se que os estudos apresentaram os resultados de diferentes formas, sendo que alguns descreveram os resultados quantitativamente, por meio dos valores de latência e amplitude, e outros descreveram qualitativamente, analisando a presença / ausência ou resultados normais / alterados dos componentes. Os artigos também foram diversificados quanto à escolha dos componentes analisados, sendo que a maioria deu maior destaque à análise do componente P3(44 Magliaro FC, Scheuer CI, Assumpção-Júnior FB, Matas CG. Study of auditory evoked potentials in autism. Pro Fono. 2010;22:31-6.,2323 Whitehouse AJ, Bishop DV. Do children with autism ‘switch off’ to speech sounds? An investigation using event-related potentials. Dev Sci. 2008;11:516-24.,2424 Matas CG, Gonçalves IC, Magliaro FC. Audiologic and electrophysiologic evaluation in children with psychiatric disorders. Rev Bras Otorrinolaringol. 2009;75:130-8.,2727 Gomot M, Blanc R, Clery H, Roux S, Barthelemy C, Bruneau N. Candidate electrophysiological endophenotypes of hyper-reactivity to change in autism. J Autism Dev Disord. 2011;41:705-14.,3232 Gonzalez-Gadea ML, Chennu S, Bekinschtein TA, Rattazzi A, Beraudi A, Tripicchio P, et al. Predictive coding in autism spectrum disorder and attention deficit hyperactivity disorder. J Neurophysiol. 2015;114:2625-36.).

Dentre os 11 estudos que consideraram a análise do componente P3, foram observados cinco estudos que realizaram o registro dos PEAC na condição passiva(2727 Gomot M, Blanc R, Clery H, Roux S, Barthelemy C, Bruneau N. Candidate electrophysiological endophenotypes of hyper-reactivity to change in autism. J Autism Dev Disord. 2011;41:705-14.,3131 Donkers FC, Schipul SE, Baranek GT, Cleary KM, Willoughby MT, Evans AM, et al. Attenuated auditory event-related potentials and associations with atypical sensory response patterns in children with autism. J Autism Dev Disord. 2015;45:506-23.,3333 Sokhadze EM, Casanova MF, Tasman A, Brockett S. Electrophysiological and behavioral outcomes of berard Auditory Integration Training (AIT) in children with autism spectrum disorder. Appl Psychophysiol Biofeedback. 2016;41:405-20.,3434 Galilee A, Stefanidou C, McCleery JP. Atypical speech versus non-speech detection and discrimination in 4- to 6- yr old children with autism spectrum disorder: an ERP study. PLoS One. 2017;12:e0181354.,3636 Lortie M, Proulx-Bégin L, Saint-Amour D, Cousineau D, Théoret H, Lepage JF. Brief report: biological sound processing in children with autistic spectrum disorder. J Autism Dev Disord. 2017;47:1904-9.), sendo que em todos eles os participantes assistiam à um vídeo durante o procedimento; outros cinco estudos realizaram o exame na condição ativa(44 Magliaro FC, Scheuer CI, Assumpção-Júnior FB, Matas CG. Study of auditory evoked potentials in autism. Pro Fono. 2010;22:31-6.,2424 Matas CG, Gonçalves IC, Magliaro FC. Audiologic and electrophysiologic evaluation in children with psychiatric disorders. Rev Bras Otorrinolaringol. 2009;75:130-8.,2828 Andersson S, Posserud M, Lundervold AJ. Early and late auditory event-related potentials in cognitively high functioning male adolescents with autism spectrum disorder. Res Autism Spectr Disord. 2013;7:815-23.,3232 Gonzalez-Gadea ML, Chennu S, Bekinschtein TA, Rattazzi A, Beraudi A, Tripicchio P, et al. Predictive coding in autism spectrum disorder and attention deficit hyperactivity disorder. J Neurophysiol. 2015;114:2625-36.,3535 Kamita MK. Brainstem evoked response auditory and long-latency auditory evoked potential in children with autism spectrum disorder [dissertation]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2017.), ou seja, a criança era orientada a prestar atenção no estímulo auditivo e realizar algumas tarefas pré-determinadas, tais como contar os estímulos raros(44 Magliaro FC, Scheuer CI, Assumpção-Júnior FB, Matas CG. Study of auditory evoked potentials in autism. Pro Fono. 2010;22:31-6.,2424 Matas CG, Gonçalves IC, Magliaro FC. Audiologic and electrophysiologic evaluation in children with psychiatric disorders. Rev Bras Otorrinolaringol. 2009;75:130-8.,3232 Gonzalez-Gadea ML, Chennu S, Bekinschtein TA, Rattazzi A, Beraudi A, Tripicchio P, et al. Predictive coding in autism spectrum disorder and attention deficit hyperactivity disorder. J Neurophysiol. 2015;114:2625-36.) pressionar um botão(2828 Andersson S, Posserud M, Lundervold AJ. Early and late auditory event-related potentials in cognitively high functioning male adolescents with autism spectrum disorder. Res Autism Spectr Disord. 2013;7:815-23.) ou ainda levantar a mão ao identificar o estímulo raro(3535 Kamita MK. Brainstem evoked response auditory and long-latency auditory evoked potential in children with autism spectrum disorder [dissertation]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2017.). Além desses, um estudo ainda realizou a coleta dos PEAC nas duas condições (ativa e passiva)(2323 Whitehouse AJ, Bishop DV. Do children with autism ‘switch off’ to speech sounds? An investigation using event-related potentials. Dev Sci. 2008;11:516-24.).

No que tange aos componentes exógenos, com relação às características dos valores de latência, observou-se valores de latência maiores entre os indivíduos com TEA para os componentes P1(2626 Russo NM, Zecker S, Trommer B, Chen J, Kraus N. Effects of background noise on cortical encoding of speech in autism spectrum disorders. J Autism Dev Disord. 2009;39:1185-96.) e N1(2626 Russo NM, Zecker S, Trommer B, Chen J, Kraus N. Effects of background noise on cortical encoding of speech in autism spectrum disorders. J Autism Dev Disord. 2009;39:1185-96.,3030 Azouz HG, Kozou H, Khalil M, Abdou RM, Sakr M. The correlation between central auditory processing in autistic children and their language processing abilities. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78:2297-300.). Por outro lado, em outros estudos os valores de latência os componentes P1(3131 Donkers FC, Schipul SE, Baranek GT, Cleary KM, Willoughby MT, Evans AM, et al. Attenuated auditory event-related potentials and associations with atypical sensory response patterns in children with autism. J Autism Dev Disord. 2015;45:506-23.), N1(2828 Andersson S, Posserud M, Lundervold AJ. Early and late auditory event-related potentials in cognitively high functioning male adolescents with autism spectrum disorder. Res Autism Spectr Disord. 2013;7:815-23.), P2(2828 Andersson S, Posserud M, Lundervold AJ. Early and late auditory event-related potentials in cognitively high functioning male adolescents with autism spectrum disorder. Res Autism Spectr Disord. 2013;7:815-23.) e N2(3131 Donkers FC, Schipul SE, Baranek GT, Cleary KM, Willoughby MT, Evans AM, et al. Attenuated auditory event-related potentials and associations with atypical sensory response patterns in children with autism. J Autism Dev Disord. 2015;45:506-23.), foram menores ou iguais entre indivíduos com TEA e com DT.

Da mesma forma, no que tange aos resultados de amplitude, também se observou resultados diferentes, sendo que alguns estudos observaram valores de amplitude de P1-N1 menores para as crianças com TEA(2626 Russo NM, Zecker S, Trommer B, Chen J, Kraus N. Effects of background noise on cortical encoding of speech in autism spectrum disorders. J Autism Dev Disord. 2009;39:1185-96.,3030 Azouz HG, Kozou H, Khalil M, Abdou RM, Sakr M. The correlation between central auditory processing in autistic children and their language processing abilities. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78:2297-300.), já outros estudos não observaram diferenças para as amplitudes de P1, N1, P2 e N2 entre os grupos com TEA e DT(2828 Andersson S, Posserud M, Lundervold AJ. Early and late auditory event-related potentials in cognitively high functioning male adolescents with autism spectrum disorder. Res Autism Spectr Disord. 2013;7:815-23.,3131 Donkers FC, Schipul SE, Baranek GT, Cleary KM, Willoughby MT, Evans AM, et al. Attenuated auditory event-related potentials and associations with atypical sensory response patterns in children with autism. J Autism Dev Disord. 2015;45:506-23.).

O aumento de latência sugere uma diminuição da velocidade de transmissão da informação auditiva nas vias neurais ou em conexões sinápticas no córtex auditivo secundário em crianças com TEA(3030 Azouz HG, Kozou H, Khalil M, Abdou RM, Sakr M. The correlation between central auditory processing in autistic children and their language processing abilities. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78:2297-300.). No que tange à amplitude, foi observado valores menores para crianças com TEA(2626 Russo NM, Zecker S, Trommer B, Chen J, Kraus N. Effects of background noise on cortical encoding of speech in autism spectrum disorders. J Autism Dev Disord. 2009;39:1185-96.,3030 Azouz HG, Kozou H, Khalil M, Abdou RM, Sakr M. The correlation between central auditory processing in autistic children and their language processing abilities. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78:2297-300.) demonstrando uma hiporreatividade aos estímulos auditivos(3030 Azouz HG, Kozou H, Khalil M, Abdou RM, Sakr M. The correlation between central auditory processing in autistic children and their language processing abilities. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78:2297-300.).

No entanto, cabe ressaltar que estes foram resultados pontuais de alguns estudos. Assim, estes achados não devem ainda ser generalizados, sendo que mais estudos são necessários a fim de confirmar estes achados, e fortalecer estas hipóteses.

Com relação ao componente P3 não atencional, obtido na condição passiva, observou-se um estudo que não observou diferença nos valores de latência, mas observou diminuição da amplitude para os indivíduos com TEA em comparação ao DT(3131 Donkers FC, Schipul SE, Baranek GT, Cleary KM, Willoughby MT, Evans AM, et al. Attenuated auditory event-related potentials and associations with atypical sensory response patterns in children with autism. J Autism Dev Disord. 2015;45:506-23.), um estudo que observou valores de latência menores e aumento nos valores de amplitude para os indivíduos com TEA(2727 Gomot M, Blanc R, Clery H, Roux S, Barthelemy C, Bruneau N. Candidate electrophysiological endophenotypes of hyper-reactivity to change in autism. J Autism Dev Disord. 2011;41:705-14.), e dois estudos observaram atraso na latência do componente P3 na população com TEA em comparação ao DT(3434 Galilee A, Stefanidou C, McCleery JP. Atypical speech versus non-speech detection and discrimination in 4- to 6- yr old children with autism spectrum disorder: an ERP study. PLoS One. 2017;12:e0181354.,3636 Lortie M, Proulx-Bégin L, Saint-Amour D, Cousineau D, Théoret H, Lepage JF. Brief report: biological sound processing in children with autistic spectrum disorder. J Autism Dev Disord. 2017;47:1904-9.).

No que tange ao componente P3 atencional, ou seja, obtido na condição ativa, um estudo não observou diferença nos valores de latência, mas observou diminuição de amplitude para o grupo com TEA em comparação ao DT(2828 Andersson S, Posserud M, Lundervold AJ. Early and late auditory event-related potentials in cognitively high functioning male adolescents with autism spectrum disorder. Res Autism Spectr Disord. 2013;7:815-23.), dois estudos observaram atraso na latência do componente P3 na população com TEA em comparação ao DT(44 Magliaro FC, Scheuer CI, Assumpção-Júnior FB, Matas CG. Study of auditory evoked potentials in autism. Pro Fono. 2010;22:31-6.,2424 Matas CG, Gonçalves IC, Magliaro FC. Audiologic and electrophysiologic evaluation in children with psychiatric disorders. Rev Bras Otorrinolaringol. 2009;75:130-8.), dois estudos observaram diminuição de amplitude para o grupo com TEA(2323 Whitehouse AJ, Bishop DV. Do children with autism ‘switch off’ to speech sounds? An investigation using event-related potentials. Dev Sci. 2008;11:516-24.,3232 Gonzalez-Gadea ML, Chennu S, Bekinschtein TA, Rattazzi A, Beraudi A, Tripicchio P, et al. Predictive coding in autism spectrum disorder and attention deficit hyperactivity disorder. J Neurophysiol. 2015;114:2625-36.), e ainda um estudo observou ausência de resposta(2424 Matas CG, Gonçalves IC, Magliaro FC. Audiologic and electrophysiologic evaluation in children with psychiatric disorders. Rev Bras Otorrinolaringol. 2009;75:130-8.).

Para este componente (P3), tanto atencional quanto não atencional, observou-se maior concordância no que tange aos valores de latência e amplitude; uma vez que este foi analisado em mais estudos, houve maior empoderamento na comparação. Embora estudos não tenham observado diferença entre os valores de latência entre os grupos com TEA(2828 Andersson S, Posserud M, Lundervold AJ. Early and late auditory event-related potentials in cognitively high functioning male adolescents with autism spectrum disorder. Res Autism Spectr Disord. 2013;7:815-23.,3131 Donkers FC, Schipul SE, Baranek GT, Cleary KM, Willoughby MT, Evans AM, et al. Attenuated auditory event-related potentials and associations with atypical sensory response patterns in children with autism. J Autism Dev Disord. 2015;45:506-23.), um estudo observou valores de latência menores para os indivíduos com TEA em comparação ao grupo com DT; os autores justificaram este achado em razão de crianças com TEA terem uma tendência para ter maior atenção à novos estímulos(2727 Gomot M, Blanc R, Clery H, Roux S, Barthelemy C, Bruneau N. Candidate electrophysiological endophenotypes of hyper-reactivity to change in autism. J Autism Dev Disord. 2011;41:705-14.).

Por outro lado, a maioria dos estudos observaram atraso na latência do componente P3(44 Magliaro FC, Scheuer CI, Assumpção-Júnior FB, Matas CG. Study of auditory evoked potentials in autism. Pro Fono. 2010;22:31-6.,2424 Matas CG, Gonçalves IC, Magliaro FC. Audiologic and electrophysiologic evaluation in children with psychiatric disorders. Rev Bras Otorrinolaringol. 2009;75:130-8.,3434 Galilee A, Stefanidou C, McCleery JP. Atypical speech versus non-speech detection and discrimination in 4- to 6- yr old children with autism spectrum disorder: an ERP study. PLoS One. 2017;12:e0181354.,3636 Lortie M, Proulx-Bégin L, Saint-Amour D, Cousineau D, Théoret H, Lepage JF. Brief report: biological sound processing in children with autistic spectrum disorder. J Autism Dev Disord. 2017;47:1904-9.) ou até ausência de resposta(2424 Matas CG, Gonçalves IC, Magliaro FC. Audiologic and electrophysiologic evaluation in children with psychiatric disorders. Rev Bras Otorrinolaringol. 2009;75:130-8.). Estes resultados sugeriram um comprometimento ou imaturidade da via auditiva em regiões corticais, déficits no processamento da atenção e discriminação auditiva ou na memória(44 Magliaro FC, Scheuer CI, Assumpção-Júnior FB, Matas CG. Study of auditory evoked potentials in autism. Pro Fono. 2010;22:31-6.). Ainda, estes achados podem estar relacionados com a percepção e o processamento verbal, sendo que a via eferente parece estar mais prejudicada em relação à via aferente, bem como com os processos relacionados à atenção(2323 Whitehouse AJ, Bishop DV. Do children with autism ‘switch off’ to speech sounds? An investigation using event-related potentials. Dev Sci. 2008;11:516-24.).

Da mesma forma, no que se refere aos resultados da amplitude do componente P3, embora um estudo tenha observado valores maiores para o grupo com TEA(2727 Gomot M, Blanc R, Clery H, Roux S, Barthelemy C, Bruneau N. Candidate electrophysiological endophenotypes of hyper-reactivity to change in autism. J Autism Dev Disord. 2011;41:705-14.), pôde-se observar que a maioria dos estudos observaram uma tendência à diminuição de amplitude(2323 Whitehouse AJ, Bishop DV. Do children with autism ‘switch off’ to speech sounds? An investigation using event-related potentials. Dev Sci. 2008;11:516-24.,2828 Andersson S, Posserud M, Lundervold AJ. Early and late auditory event-related potentials in cognitively high functioning male adolescents with autism spectrum disorder. Res Autism Spectr Disord. 2013;7:815-23.,3131 Donkers FC, Schipul SE, Baranek GT, Cleary KM, Willoughby MT, Evans AM, et al. Attenuated auditory event-related potentials and associations with atypical sensory response patterns in children with autism. J Autism Dev Disord. 2015;45:506-23.,3232 Gonzalez-Gadea ML, Chennu S, Bekinschtein TA, Rattazzi A, Beraudi A, Tripicchio P, et al. Predictive coding in autism spectrum disorder and attention deficit hyperactivity disorder. J Neurophysiol. 2015;114:2625-36.). Estes achados novamente demonstraram alteração do processamento sensorial da audição a nível cortical(3131 Donkers FC, Schipul SE, Baranek GT, Cleary KM, Willoughby MT, Evans AM, et al. Attenuated auditory event-related potentials and associations with atypical sensory response patterns in children with autism. J Autism Dev Disord. 2015;45:506-23.), bem como uma hiporreatividade, e podem estar relacionados ao esteriótipo de interesses restrito a novos estímulos comumente observado em indivíduos com TEA(3232 Gonzalez-Gadea ML, Chennu S, Bekinschtein TA, Rattazzi A, Beraudi A, Tripicchio P, et al. Predictive coding in autism spectrum disorder and attention deficit hyperactivity disorder. J Neurophysiol. 2015;114:2625-36.). Também, há autores que acreditam que a diminuição da atenção possa influenciar neste processo(2323 Whitehouse AJ, Bishop DV. Do children with autism ‘switch off’ to speech sounds? An investigation using event-related potentials. Dev Sci. 2008;11:516-24.).

Além disso, alguns estudos correlacionaram a avaliação eletrofisiológica dos PEAC com a avaliação comportamental, sendo que todos estes estudos observaram correlação entre essas medidas(2525 Orekhova EV, Stroganova TA, Prokofiev AO, Nygren G, Gillberg C, Elam M. The right hemisphere fails to respond to temporal novelty in autism: evidence from an ERP study. Clin Neurophysiol. 2009;120:520-9.,2727 Gomot M, Blanc R, Clery H, Roux S, Barthelemy C, Bruneau N. Candidate electrophysiological endophenotypes of hyper-reactivity to change in autism. J Autism Dev Disord. 2011;41:705-14.,2929 Stroganova TA, Kozunov VV, Posikera IN, Galuta IA, Gratchev VV, Orekhova EV. Abnormal pre-attentive arousal in young children with autism spectrum disorder contributes to their atypical auditory behavior: an ERP study. PLoS One. 2013;8:e69100.

30 Azouz HG, Kozou H, Khalil M, Abdou RM, Sakr M. The correlation between central auditory processing in autistic children and their language processing abilities. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78:2297-300.
-3131 Donkers FC, Schipul SE, Baranek GT, Cleary KM, Willoughby MT, Evans AM, et al. Attenuated auditory event-related potentials and associations with atypical sensory response patterns in children with autism. J Autism Dev Disord. 2015;45:506-23.). Ainda, foi encontrado um estudo que avaliou os PEAC antes e após treinamento auditivo em indivíduos com TEA, sendo que houve evolução nos resultados do PEAC após intervenção(3333 Sokhadze EM, Casanova MF, Tasman A, Brockett S. Electrophysiological and behavioral outcomes of berard Auditory Integration Training (AIT) in children with autism spectrum disorder. Appl Psychophysiol Biofeedback. 2016;41:405-20.). Estes resultados demonstraram que o PEAC pode ser útil para predizer ou complementar os resultados de avaliações comportamentais na população com TEA, ou até mesmo, para monitorar a plasticidade das vias auditivas centrais e as mudanças no processamento auditivo da informação após intervenção terapêutica.

Também, quatro estudos analisaram a atividade hemisférica para o processamento dos sons verbais e não verbais e pode-se observar uma unanimidade nos achados, que observaram uma predominância do hemisfério esquerdo para o processamento da informação acústica nos indivíduos com TEA(2525 Orekhova EV, Stroganova TA, Prokofiev AO, Nygren G, Gillberg C, Elam M. The right hemisphere fails to respond to temporal novelty in autism: evidence from an ERP study. Clin Neurophysiol. 2009;120:520-9.,2929 Stroganova TA, Kozunov VV, Posikera IN, Galuta IA, Gratchev VV, Orekhova EV. Abnormal pre-attentive arousal in young children with autism spectrum disorder contributes to their atypical auditory behavior: an ERP study. PLoS One. 2013;8:e69100.,3434 Galilee A, Stefanidou C, McCleery JP. Atypical speech versus non-speech detection and discrimination in 4- to 6- yr old children with autism spectrum disorder: an ERP study. PLoS One. 2017;12:e0181354.). Por outro lado, um estudo observou um resultado oposto, no qual o predomínio do processamento acústico foi para as respostas do hemisfério direito (orelha esquerda)(3030 Azouz HG, Kozou H, Khalil M, Abdou RM, Sakr M. The correlation between central auditory processing in autistic children and their language processing abilities. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2014;78:2297-300.).

Salienta-se que poucos foram os artigos que apresentaram os achados de latência e amplitude por meio de valores numéricos, uma vez que a maioria descreveu os achados de forma qualitativa ou em forma de gráfico, que, embora facilite a visualização, impossibilita obter com precisão os valores de latência e amplitude.

Tal perfil acabou limitando maiores comparações entre os estudos e impossibilitou a realização de metanálise, bem como, de apresentarmos de forma mais sólida a magnitude dos efeitos observados. Desta forma, os dados do presente estudo foram analisados apenas qualitativamente. Esse aspecto prejudicou determinar os padrões esperados no que tange aos valores de latência e amplitude de cada componente dos PEAC.

Uma limitação do presente estudo foi restringir o ano de publicação dos artigos; no entanto a proposta foi apresentar uma abordagem mais atual quanto aos resultados dos PEAC na população com TEA.

Sendo assim, mais estudos nesta área, com um número amostral maior e que avaliem os valores de latência e amplitude de todos os componentes, se fazem necessários a fim de investigar se há um padrão de resposta para os componentes P1, N1, P2, N2 e P3 presentes nos PEAC, e assim, permitir uma melhor compreensão de como ocorre o processamento dos sons na população com TEA.

CONCLUSÃO

Os resultados dos estudos selecionados demonstraram que a população com TEA podem apresentar respostas diversas para os componentes dos PEAC em comparação ao desenvolvimento típico, sendo que a diminuição de amplitude e aumento de latência do componente P3 foram as características mais comumente encontradas na literatura estudada.

  • Trabalho realizado no Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – USP - São Paulo (SP), Brasil.
  • Fonte de financiamento: nada a declarar.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Maio 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    15 Ago 2019
  • Aceito
    22 Abr 2020
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