Acessibilidade / Reportar erro

Ortodoxia e coerência de um general (bom) de briga(da)

Resumos

O presente ensaio tem por objetivo examinar alguns aspectos da obra e da trajetória política de Nelson Werneck Sodré que, paralelamente à vocação intelectual, cumpriu longa carreira no exército chegando ao posto de General de Brigada. Autor de vasta obra sobre o Brasil, seu pensamento foi frequentemente associado à linha política do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Contudo, a interpretação que desenvolvo aqui é a de que suas teses foram elaboradas com base no movimento tenentista e no diálogo com teóricos marxistas, cujo eixo de análise constituía-se na questão nacional e não no internacionalismo vigente na Terceira Internacional. Sodré foi, também, um militante da Esquerda Militar, intervindo politicamente nas Forças Armadas e atuando decisivamente na defesa da legalidade democrática nas décadas de 1950 e 1960.

Nelson Werneck Sodré; esquerda militar; pensamento social brasileiro; Partido Comunista Brasileiro.


This essay aims to examine some aspects of the ideas and political career of Nelson Werneck Sodré that, alongside the intellectual vocation, fulfilled a long career in the army reaching the rank of Brigadier General. Author of extensive oeuvre on Brazil, his thought was often associated with the policy of the Brazilian Communist Party (PCB). However, the interpretation I develop here is that Sodré's theses were based on movement lieutenants and dialogue with Marxist theoreticians, whose axis of analysis was on the national question and not on Third International internationalism. Sodré was also a militant of the Left Military, interfering politically in the Armed Forces and acting decisively in defense of democratic legality in the 1950s and 1960s.

Nelson Werneck Sodré; Left Military; Brazilian social thought; Brazilian Communist Party.


Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • ALVES FILHO, Ivan e SODRÉ, Nelson Werneck (Orgs.) Tudo é política: 50 anos do pensamento de Nelson Werneck Sodré em inéditos em livro e censurados. Rio de Janeiro: Mauad, 1988.
  • BASTOS, Elide Rugai e LEÃO REGO, Walquíria D. (Org.). Intelectuais e política: a moralidade do compromisso. São Paulo: Olho d'Água, 1999.
  • CUNHA, Paulo Ribeiro da. Um olhar à esquerda: a utopia tenentista na construção do pensamento marxista de Nelson Werneck Sodré. Rio de Janeiro: Revan, Fapesp, 2002.
  • CUNHA, Paulo Ribeiro da e CABRAL, Fátima (Orgs.). Entre o sabre e a pena: Nelson Werneck Sodré. São Paulo: Editora Unesp/Fapesp, 2006.
  • LÖWY, Michael. Para uma sociologia dos intelectuais revolucionários: a evolução política de Lukács (1909-1929). São Paulo: LECH, 1979.
  • LÖWY, Michael. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 1996.
  • LUKÁCS, Gyorgy. História e consciência de classe. Rio de Janeiro: Elfos, 1989.
  • MORAES, João Quartim. A esquerda militar no Brasil: da conspiração republicana à guerrilha dos tenentes. São Paulo: Expressão Popular, 2005.
  • NETTO, José Paulo. Nelson Werneck Sodré. In: SODRÉ, Nelson Werneck. O Naturalismo no Brasil. Belo Horizonte: Oficina de Livros, 1992.
  • SODRÉ, Nelson Werneck. História militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965.
  • SODRÉ, Nelson Werneck. Memórias de um soldado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
  • SODRÉ, Nelson Werneck. Memórias de um escritor. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.
  • SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. 9a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.
  • VIANNA, Marly de Almeida Gomes. Revolucionários de 35: sonho e realidade. São Paulo: Companhia das Letras/Expressão Popular, 1992.
  • 1
    ALVES FILHO, Ivan (Org.) Tudo é política: 50 anos do pensamento de Nelson Werneck Sodré em inéditos em livro e censurados. Rio de Janeiro: Ed. Mauad, 1988, p. 8.
  • 2
    A tese central apresentada neste ensaio sobre o autor e sua obra foi desenvolvida em meu doutorado, sob a orientação da Profa. Dra. Elide Rugai Bastos. Para uma melhor compreensão dos argumentos, sugiro a leitura dos trabalhos de minha autoria citados na seção Referências.
  • 3
    Opero com o conceito de esquerda militardesenvolvido em MORAES, João Quartim. A esquerda militar no Brasil: da conspiração republicana à guerrilha dos tenentes. São Paulo: Expressão Popular, 2005, p. 7.
  • 4
    Como bem assinala Lowy: "Visões sociais de mundo seriam, portanto, todos aqueles conjuntos estruturados de valores, re-presentações, ideias e orientações cognitivas. Conjunto esses unificados por uma perspectiva determinada, por um ponto de vista social, de classes sociais determinadas. As visões sociais de mundo poderiam ser de dois tipos: visões ideológicas, quando servissem para legitimar, justificar, defender ou manter a ordem social do mundo; visões sociais utópicas, quando tivessem uma função crítica, subversiva, quando apontassem para uma realidade ainda inexistente". LÖWY, Michael. Ideologias e ciência social: elementos para uma análise marxista. São Paulo: Cortez, 1996, p. 13-4.
  • 5
    LÖWY, Michel. Para uma sociologia dos intelectuais revolucionários: a evolução política de Lukács (1909-1929). São Paulo: LECH, 1979.
  • 6
    Para uma aproximação com este debate, sugiro a leitura do clássico de Nelson Werneck Sodré, História militar do Brasil (Civilização Brasileira, 1965).
  • 7
    SODRÉ, Nelson Werneck. Memórias de um escritor. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970, p. 124.
  • 8
    Esta expressão é de Elide Bastos e Walquíria Leão Rego e remete a uma interlocução com a obra do autor e a uma singular linha de argumentação que valoriza a perspectiva do intelectual em sua relação com a política, na crença de que há uma relação entre sua atividade de pensar e um empenho moral no sentido de elevar a condição humana. As autoras ressaltam que a validade desse pressuposto está associada à sua atividade como um elo decisivo e possível para a transformação do mundo, como também para a emancipação da humanidade, impondo aos intelectuais uma condição: jamais renunciarem à sua condição de críticos. BASTOS, Elide Rugai e LEÃO REGO, Walquíria D. (Orgs.). Intelectuais e política: a moralidade do compromisso. São Paulo: Olho d'Água, 1999, p. 5.
  • 9
    As mudanças realizadas por Góes Monteiro estabeleciam que os negros não poderiam entrar no Exército; eram também vetadas pessoas de origem operária, filhos de pais separados etc. Enfim, preconceitos que começaram a mutilar, no seu entendimento de militar, uma das bases da concepção democrática do Exército, algo que ele conheceu em sua juventude e que lhe possibilitou a ascensão social.
  • 10
    CUNHA, Paulo Ribeiro da. Um olhar à esquerda: a utopia tenentista na construção do pensamento marxista de Nelson Werneck Sodré. Rio de Janeiro: Revan, Fapesp, 2002, p. 245.
  • 11
    Considerando essa dicotomia, comunistas e democratas legalistas, quem nos auxilia a compreensão é o marxista inglês Ralph Milibanb. Ele demonstra que ser revolucionário é ter também uma concepção reformista, já que, contradizendo aquela tradicional dicotomia reforma x revolução advogada por alguns setores marxistas, Miliband apreende o reformismo como expressão revolucionária. Nos militares, tal dicotomia pode ser entendida como uma política de confrontos, de conflitos, de forçar as instituições, de forçar o debate, com o objetivo de aprofundar a democracia. Sobre esse debate, ver CUNHA, op. cit., p. 244 e seguintes.
  • 12
    SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. 9a ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976, p. 402.
  • 13
    SODRÉ, Nelson Werneck. História militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. SODRÉ, Nelson Werneck. Memórias de um soldado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
  • 14
    ALVES FILHO, IVAN. Meu amigo Nelson Werneck Sodré. In: CUNHA, Paulo Ribeiro da e CABRAL, Fátima (Orgs.). Entre o sabre e a pena: Nelson Werneck Sodré. São Paulo: Editora Unesp/Fapesp, 2006, p. 31-47.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2010
Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro Largo de São Francisco de Paula, n. 1., CEP 20051-070, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21) 2252-8033 R.202, Fax: (55 21) 2221-0341 R.202 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: topoi@revistatopoi.org