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Análise da relação custo-efetividade do dispositivo de oclusão vascular AngioSealTM comparado à compressão manual e/ou mecânica após intervenções endovasculares

Cost-effectiveness analysis of AngioSealTM closure device vs. manual and/or mechanical compression after endovascular interventions

Resumos

INTRODUÇÃO: Os dispositivos de oclusão vascular foram desenvolvidos para permitir a rápida remoção da bainha introdutora, e, em tese, minimizar a ocorrência de complicações em pacientes submetidos a tratamento endovascular. Alguns estudos, no entanto, têm demonstrado não haver a esperada redução dessas complicações. Este estudo teve como objetivo avaliar a relação custo-efetividade da retirada imediata da bainha femoral e oclusão com dispositivo de oclusão vascular AngioSealTM comparativamente à hemostasia por compressão manual e/ou mecânica após intervenções endovasculares. MÉTODOS: Pacientes submetidos a intervenções endovasculares entre setembro de 2006 e janeiro de 2009 foram analisados, buscando resultados, complicações e custos decorrentes da utilização de dispositivos e tratamentos das complicações da via de acesso. A amostra foi dividida em grupo dispositivo de oclusão vascular (grupo DOV), com 95 pacientes submetidos a intervenções endovasculares no território extracardíaco, e grupo compressão manual e/ou mecânica (grupo CM), com 312 pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea. RESULTADOS: O sucesso da hemostasia sem complicações maiores foi atingido em 96,8% no grupo DOV e em 98,1% no grupo CM (P = 0,47). O custo individual do tratamento das complicações relacionadas à hemostasia por compressão (R$ 3.600,00) foi maior que o custo do dispositivo de oclusão (R$ 1.000,00), mesmo quando utilizado mais de um dispositivo. Quando analisado o custo total por grupo, verificou-se que o custo relativo por paciente do grupo DOV (R$ 1.010,53) foi maior, comparativamente ao grupo CM (R$ 69,23) (P < 0,0001). CONCLUSÕES: A técnica de hemostasia por compressão manual e/ou mecânica é tão efetiva quanto a hemostasia com os dispositivos de oclusão vascular, porém a um custo significativamente inferior.

Hemostasia; Procedimentos endovasculares; Artéria femoral; Angioplastia; Dispositivos de compressão


BACKGROUND: Vascular occlusion devices were developed to enable immediate sheath removal and minimize puncture site complications in patients undergoing endovascular interventions. Some studies, however, have shown no reduction of these complications. This study was aimed at assessing the cost-effectiveness of immediate femoral sheath removal and occlusion with the AngioSealTM vascular occlusion device vs occlusion by manual and/or mechanical compression after endovascular interventions. METHODS: Patients undergoing endovascular interventions from September 2006 to January 2009 were studied to evaluate technique outcomes, complications and costs due to the use of devices and treatment of puncture site complications. The sample was divided into the vascular closure device group (VCD Group), with 95 patients submitted to extra-cardiac interventions, and the manual and/or mechanical compression group (MC Group) with 312 patients undergoing percutaneous coronary interventions. RESULTS: Successful hemostasis without major complications was obtained in 96.8% of the patients in the VCD Group and in 98.1% of the patients in the MC Group (P = 0.47). The individual cost of the treatment due to compression technique complications (R$ 3,600.00) was greater than the cost of the closure device (R$ 1,000.00) even when more than one device was used. However, when the total cost was analyzed per group, the relative cost per patient of the VCD Group (R$ 1,010.53) was higher than the cost of the MC Group (R$ 69.23) (P < 0.0001). CONCLUSIONS: Manual and/or mechanical compression occlusion is as effective as the use of vascular occlusion devices, but with a significantly lower cost.

Hemostasis; Endovascular procedures; Femoral artery; Angioplasty; Compression devices


ARTIGO ORIGINAL

Análise da relação custo-efetividade do dispositivo de oclusão vascular AngioSealTM comparado à compressão manual e/ou mecânica após intervenções endovasculares

Cost-effectiveness analysis of AngioSealTM closure device vs. manual and/or mechanical compression after endovascular interventions

Silvio Gioppato; Helio J. Castello Jr.; Thomas Borges Conforti; Silvio Luiz Pollini Gonçalves; Fernanda Gonçalves da Silva Morais; Marcelo J. C. Cantarelli

Hospital Vera Cruz - Campinas, SP, Brasil

Correspondência Correspondência: Silvio Gioppato Avenida Andrade Neves, 402 - Bloco A - 5º andar Campinas, SP, Brasil - CEP 13013-900 E-mail: gioppato@terra.com.br

RESUMO

INTRODUÇÃO: Os dispositivos de oclusão vascular foram desenvolvidos para permitir a rápida remoção da bainha introdutora, e, em tese, minimizar a ocorrência de complicações em pacientes submetidos a tratamento endovascular. Alguns estudos, no entanto, têm demonstrado não haver a esperada redução dessas complicações. Este estudo teve como objetivo avaliar a relação custo-efetividade da retirada imediata da bainha femoral e oclusão com dispositivo de oclusão vascular AngioSealTM comparativamente à hemostasia por compressão manual e/ou mecânica após intervenções endovasculares.

MÉTODOS: Pacientes submetidos a intervenções endovasculares entre setembro de 2006 e janeiro de 2009 foram analisados, buscando resultados, complicações e custos decorrentes da utilização de dispositivos e tratamentos das complicações da via de acesso. A amostra foi dividida em grupo dispositivo de oclusão vascular (grupo DOV), com 95 pacientes submetidos a intervenções endovasculares no território extracardíaco, e grupo compressão manual e/ou mecânica (grupo CM), com 312 pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea.

RESULTADOS: O sucesso da hemostasia sem complicações maiores foi atingido em 96,8% no grupo DOV e em 98,1% no grupo CM (P = 0,47). O custo individual do tratamento das complicações relacionadas à hemostasia por compressão (R$ 3.600,00) foi maior que o custo do dispositivo de oclusão (R$ 1.000,00), mesmo quando utilizado mais de um dispositivo. Quando analisado o custo total por grupo, verificou-se que o custo relativo por paciente do grupo DOV (R$ 1.010,53) foi maior, comparativamente ao grupo CM (R$ 69,23) (P < 0,0001).

CONCLUSÕES: A técnica de hemostasia por compressão manual e/ou mecânica é tão efetiva quanto a hemostasia com os dispositivos de oclusão vascular, porém a um custo significativamente inferior.

Descritores: Hemostasia. Procedimentos endovasculares. Artéria femoral. Angioplastia. Dispositivos de compressão.

ABSTRACT

BACKGROUND: Vascular occlusion devices were developed to enable immediate sheath removal and minimize puncture site complications in patients undergoing endovascular interventions. Some studies, however, have shown no reduction of these complications. This study was aimed at assessing the cost-effectiveness of immediate femoral sheath removal and occlusion with the AngioSealTM vascular occlusion device vs occlusion by manual and/or mechanical compression after endovascular interventions.

METHODS: Patients undergoing endovascular interventions from September 2006 to January 2009 were studied to evaluate technique outcomes, complications and costs due to the use of devices and treatment of puncture site complications. The sample was divided into the vascular closure device group (VCD Group), with 95 patients submitted to extra-cardiac interventions, and the manual and/or mechanical compression group (MC Group) with 312 patients undergoing percutaneous coronary interventions.

RESULTS: Successful hemostasis without major complications was obtained in 96.8% of the patients in the VCD Group and in 98.1% of the patients in the MC Group (P = 0.47). The individual cost of the treatment due to compression technique complications (R$ 3,600.00) was greater than the cost of the closure device (R$ 1,000.00) even when more than one device was used. However, when the total cost was analyzed per group, the relative cost per patient of the VCD Group (R$ 1,010.53) was higher than the cost of the MC Group (R$ 69.23) (P < 0.0001).

CONCLUSIONS: Manual and/or mechanical compression occlusion is as effective as the use of vascular occlusion devices, but with a significantly lower cost.

Key-words: Hemostasis. Endovascular procedures. Femoral artery. Angioplasty. Compression devices.

Apesar dos avanços tecnológicos observados nas últimas décadas relativos às técnicas e aos dispositivos de acesso vascular, os procedimentos endovasculares por via femoral, tanto no território coronário como no território extracardíaco, ainda cursam com risco de complicações no sítio de punção, que podem necessitar reparo cirúrgico, transfusão sanguínea e prolongamento da permanência hospitalar, além do potencial impacto na mortalidade.1-4

Na tentativa de minimizar ou mesmo de eliminar tais eventos, muitos recursos têm sido empregados na identificação dos fatores de risco para essas complicações, bem como na busca de melhores técnicas e dispositivos de hemostasia.5-12 Nesse sentido, entram em cena os dispositivos de oclusão vascular, primariamente desenvolvidos para permitir a rápida remoção da bainha introdutora, reduzindo os tempos de hemostasia e a restrição do paciente ao leito, e minimizando, em tese, a ocorrência de complicações no sítio de punção. Um grande número de estudos para avaliar e comparar a segurança dos diferentes tipos de dispositivos oclusores tem encorajado seu largo emprego.13-16 Entretanto, metanálises e mesmo alguns estudos isolados têm falhado em mostrar benefícios reais na utilização desses dispositivos, principalmente no que se refere ao risco de complicações, onde, além de não produzirem redução na incidência de eventos, parece ocorrer um incremento deles, como a infecção no sítio de punção e o surgimento de novas e graves complicações, como a isquemia do membro por estenose ou aprisionamento do dispositivo, que leva à necessidade de correção cirúrgica para reparo da complicação.17-19

Este estudo procura analisar a relação custo-efetividade do uso rotineiro do dispositivo de oclusão vascular (AngioSealTM - St. Jude Medical, St Paul, Estados Unidos) comparado à compressão manual e/ou mecânica como técnicas de hemostasia em procedimentos terapêuticos endovasculares.

MÉTODOS

Análise retrospectiva de 407 procedimentos endovasculares terapêuticos, realizados no Serviço de Angiografia e Hemodinâmica do Hospital Vera Cruz (Campinas, SP, Brasil), no período de setembro de 2006 a janeiro de 2009, dos quais 95 foram intervenções vasculares periféricas, em que a retirada da bainha introdutora e a técnica de hemostasia foram realizadas exclusivamente com o dispositivo de oclusão vascular AngioSealTM, empregado por médicos com grande experiência com esse dispositivo (grupo dispositivo de oclusão vascular - DOV), e 312 foram intervenções coronárias percutâneas, em que a retirada da bainha introdutora e a técnica hemostática, exclusivamente por compressão manual e/ou mecânica, foram realizadas pela enfermagem, em média três horas e meia após o término do procedimento (grupo compressão manual e/ou mecânica - CM).

Definições

Sucesso da técnica de hemostasia

No grupo DOV, considerou-se sucesso quando a hemostasia foi atingida com um único dispositivo, sem necessidade de compressão adicional após inserção do dispositivo e na ausência de complicação vascular. Para o grupo CM, considerou-se sucesso quando a hemostasia ocorreu sem necessidade de outra técnica e na ausência de complicação vascular.

Complicação vascular maior

Foi considerada complicação vascular maior a ocorrência de hematoma > 6 cm, pseudoaneurisma iatrogênico da artéria femoral, necessidade de transfusão sanguínea ou reparo cirúrgico por qualquer motivo no sítio de punção.

O diagnóstico de pseudoaneurisma iatrogênico da artéria femoral era suspeitado toda vez que uma massa pulsátil > 4 cm era percebida ao exame físico ou relatada pelo paciente. Se ocorresse forte suspeita clínica de pseudoaneurisma o paciente era encaminhado para confirmação por ultrassonografia Doppler com mapeamento de fluxo em cores (US dúplex); caso contrário, era seguido clinicamente por visita ao leito, visita ambulatorial ou contato telefônico até a resolução do caso.

Custos das técnicas

Para o grupo DOV, foram contabilizados exclusivamente os gastos com os dispositivos de oclusão à época do levantamento dos dados no ano de 2009.

Para o grupo CM, foi contabilizado apenas o custo do fechamento de pseudoaneurisma por injeção de trombina guiada por US dúplex, já que não houve outra complicação vascular maior. Nesse grupo, o custo de cada tratamento foi obtido pelo custo dos exames de US dúplex, multiplicado pelo número de exames realizados até a resolução do caso, mais o custo do kit de trombina + fibrinogênio (BeriplastTM - Aventis Behring, Marburg, Alemanha), sendo esses valores também relativos aos preços praticados à época da coleta dos dados (2009).

No cálculo de custo não foi considerada a diária hospitalar, pois o grupo CM incluiu pacientes com diagnóstico de síndrome coronária aguda com e sem supradesnivelamento do segmento ST, cujo tratamento medicamentoso onera sobremaneira o custo da diária hospitalar.

Análise estatística

Utilizou-se o programa estatístico SPSS versão 15.0. As variáveis contínuas foram expressas em média ± desvio padrão e as variáveis categóricas, em números absolutos e porcentuais. As associações entre as variáveis contínuas, idade e custos, foram avaliadas por análise de variância (ANOVA) e teste de Mann-Whitney, respectivamente. As associações entre as variáveis categóricas foram avaliadas pelo teste de qui-quadrado. Foi adotado nível de significância de P < 0,05.

RESULTADOS

Pacientes do sexo masculino foram mais frequentemente tratados nos grupos DOV e CM (68,4% vs. 64,1%; P = 0,44), não havendo diferença na comparação da média das idades (69,9 ± 9,7 anos vs. 67,6 ± 10,9 anos; P = 0,06).

No grupo DOV o sucesso foi atingido em 96,8% e no grupo CM, em 98,1% (P = 0,47). O índice de falha da técnica foi de 3,2% no grupo DOV e de 1,9% no grupo CM.

Dos três casos com falha da técnica no grupo DOV, dois migraram para compressão manual e um caso necessitou implante de um segundo dispositivo, totalizando, assim, 96 dispositivos utilizados. Não ocorreram complicações vasculares nesse grupo.

No grupo CM, as seis falhas decorreram do desenvolvimento de pseudoaneurismas iatrogênicos confirmados por US dúplex ainda na fase hospitalar, entre o segundo e o terceiro dias pós-intervenção percutânea. Todos foram tratados com injeção de trombina guiada por US dúplex, com sucesso primário em todos os casos, recebendo alta no dia seguinte ao procedimento e sem ocorrência de recidiva até sete dias após o tratamento no seguimento ambulatorial. Nenhum paciente necessitou transfusão sanguínea ou reparo cirúrgico.

A análise de custos dos grupos está apresentada, de forma resumida, na Tabela. Apesar de o custo individual do tratamento das complicações relacionadas à hemostasia por compressão (R$ 3.600,00) ter sido expressivamente maior que o observado com o dispositivo de oclusão (R$ 1.000,00), à análise do custo por grupo observa-se que o custo relativo do grupo DOV foi significativamente maior quando comparado ao do grupo CM (R$ 1.010,53 ± R$ 102,6 vs. R$ 69,23 ± R$ 495,20; P < 0,0001), permitindo inferir que seriam necessários mais 20 pseudoaneurismas com indicação de oclusão por injeção de trombina nesse grupo (8,6% de complicações vasculares) para que os custos dos grupos se neutralizassem.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo demonstram que em pequena amostra, porém de mundo real, o dispositivo de oclusão vascular AngioSealTM não se mostrou mais seguro ou com melhor relação custo-efetividade quando comparado à compressão manual e/ou mecânica.

Não há dúvida de que os dispositivos de oclusão vascular promovem significante redução do tempo de recuperação e consequente aumento do conforto aos pacientes submetidos a procedimentos endovasculares.12-16 Entretanto, de acordo com dados disponíveis na literatura, os resultados demonstrando suas vantagens de efetividade, segurança e custo ainda aguardam por evidências mais robustas que justifiquem seu uso de modo amplo e rotineiro.17-19 A efetividade ou a taxa de sucesso dos dispositivos oclusores em atingir a completa hemostasia com um único dispositivo variam de 87% a 96% e não diferem significativamente dos resultados da compressão manual, como observado na amostra deste estudo.

A incidência de complicações após procedimentos endovasculares é bastante variável e são inúmeros os fatores que contribuem para sua ocorrência, entre eles as características clínicas do paciente, o cuidado dos operadores com a técnica de punção, o tamanho e o tempo de permanência da bainha introdutora na via de acesso, bem como o cuidado na remoção da bainha e o regime antitrombótico.4-10 Não menos importantes são os critérios adotados para definir e classificar tais complicações, podendo causar vieses importantes de interpretação. Por exemplo, em um estudo multicêntrico e randomizado conduzido por Chevalier et al.20 com 612 pacientes selecionados como de alto risco para complicação local, os autores concluem que o dispositivo de oclusão AngioSealTM foi superior às técnicas de hemostasia por compressão, com redução significativa da taxa de complicação (5,8% vs. 18%; P < 0,001). No entanto, em análise mais detalhada dos dados, observa-se que não houve diferença nas taxas de complicações maiores como hematoma > 6 cm, infecção, fístula arteriovenosa, pseudoaneurisma requerendo tratamento, trombose venosa profunda ou necessidade de reparo cirúrgico por qualquer motivo. A única diferença com significância estatística foi a ocorrência de sangramento prolongado, que os autores definiram como complicação caso o tempo de hemostasia fosse superior a 60 minutos no caso de compressão manual ou 120 minutos no caso de compressão mecânica. Apesar da maior ocorrência de sangramento prolongado, não há qualquer referência no estudo quanto à necessidade de transfusão sanguínea nesse grupo. Por outro lado, embora tenham identificado maior taxa de trombos no local da punção detectados por ultrassonografia Doppler em cores nos pacientes do grupo AngioSealTM, os autores não consideraram esse fato relevante, já que nenhum desses pacientes desenvolveu isquemia do membro aos sete dias. Contudo, um paciente desenvolveu isquemia do membro que não foi contabilizada como complicação porque o mesmo apresentava resultado normal do ultrassom no primeiro dia.

Por esses e outros motivos, os estudos avaliando o impacto dos dispositivos oclusores na ocorrência de complicações vasculares exibem resultados discordantes. Enquanto alguns demonstram efeito protetor, outros apontam para um efeito neutro ou até negativo, com incremento da incidência de eventos já conhecidos como infecção e incorporação de novas e graves complicações como isquemia do membro afetado por estenose ou aprisionamento do dispositivo, obrigando ao reparo cirúrgico da complicação.17,21

O impacto econômico dos dispositivos oclusores também é controverso. Alguns autores demonstraram redução do custo em especial pela menor estadia após o procedimento e outros, pelo menor custo com pessoal e infraestrutura hospitalar.22,23 Noguchi et al.24 também reportaram menor custo hospitalar decorrente da menor permanência, porém essa vantagem foi anulada pelo elevado custo do dispositivo utilizado (Prostar PlusTM - Perclose, Menlo Park, Estados Unidos.) Trazendo para a realidade nacional, vale lembrar que grande parte dos procedimentos endovasculares, seja no território coronário seja no extracardíaco, pede permanência hospitalar até o dia seguinte, independentemente da técnica hemostática adotada, pois a maioria desses procedimentos envolve situações clínicas e/ou anatômicas complexas. Os custos com pessoal e infraestrutura só serão modificados caso a retirada da bainha introdutora ocorra fora do horário comercial, implicando custos extras; no entanto, na rotina diária, a maioria dos procedimentos eletivos ocorre dentro do período em que toda a infraestrutura, física e humana, está à disposição, não significando custo extra.

Resnic et al.25, por meio de um complexo modelo analítico-econômico que incorpora a probabilidade de complicações vasculares, relacionadas às intervenções coronárias derivadas de estudos randomizados, e o custo de tratamento de cada uma dessas complicações, projetaram que, para a realidade daquele serviço, haveria redução de custo da ordem de 44 dólares com o uso do dispositivo AngioSealTM nesses procedimentos. Porém, nos estudos em que apenas o custo do procedimento foi analisado, como este, os resultados mostraram maior custo para o AngioSealTM.26,27

Quando analisados sob a luz de metanálises, os dispositivos de oclusão ainda permanecem à espera de melhores resultados.18,19 Em recente metanálise, Biancari et al.21 avaliaram os dados de 31 estudos prospectivos, randomizados, comparando dispositivos de oclusão vascular à compressão manual e/ou mecânica. Os autores demonstraram que em uma população de 7.528 pacientes os dispositivos de oclusão foram superiores apenas no quesito tempo de hemostasia, o que é uma constante na literatura. Nos demais itens, o desempenho foi igual, como no caso de risco de hematoma, pseudoaneurisma, sangramento e transfusão sanguínea, ou pior, como no caso de risco de infecção, isquemia do membro ou complicação arterial requerendo reparo cirúrgico.

Limitações do estudo

Este estudo é limitado pela sua natureza observacional, a partir da análise retrospectiva de dados, e pela amostra pequena e não pareada, ficando sujeito a inúmeros vieses de interpretação, principalmente pela falta de completa tabulação das diferentes características clínicas e operacionais entre os grupos, o que pode ter influenciado os achados.

CONCLUSÕES

Os resultados observados neste estudo permitem sugerir que a técnica de hemostasia por compressão manual e/ou mecânica, quando bem realizada, é tão efetiva quanto a hemostasia com os dispositivos de oclusão vascular, porém a um custo expressivamente inferior.

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses relacionado a este manuscrito.

Recebido em: 7/3/2011

Aceito em: 23/5/2011

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  • Correspondência:

    Silvio Gioppato
    Avenida Andrade Neves, 402 - Bloco A - 5º andar
    Campinas, SP, Brasil - CEP 13013-900
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Ago 2012
    • Data do Fascículo
      Jun 2011

    Histórico

    • Aceito
      23 Maio 2011
    • Recebido
      07 Mar 2011
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