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LÍNGUAS EM CONFLITO: MODELOS DE ACESSO LEXICAL A PARTIR DO INPUT ORTOGRÁFICO EM BILÍNGUES E MULTILÍNGUES E O EFEITO DO MULTILINGUISMO SOBRE AS FUNÇÕES EXECUTIVAS

LANGUAGES IN CONFLICT: MODELS FOR LEXICAL ACCESS BASED ON ORTOGRAPHIC INPUT IN BILINGUALS OR MULTILINGUALS AND THE EFFECT OF MULTILINGUALISM IN THE EXECUTIVE FUNCTIONS

Resumo

O fenômeno do bilinguismo é a premissa essencial da tradução. Este trabalho apresenta modelos cognitivos contemporâneos que explicam o acesso lexical de bilíngues e multilíngues para o reconhecimento de palavras escritas, a partir de experimentos com homógrafos interlinguais. São abordados os trabalhos sobre conflito entre duas ou mais línguas,e como seus achados convergem para a hipótese de acesso não-seletivo ao léxico, o que elucida o impacto do bilinguismo nos processos de leitura e tradução. Como objetivo secundário, e a partir de uma perspectiva neurocientífica, também descrevemos as mudanças no cérebro e nos processos mentais decorrentes à experiência do bilinguismo e do multilinguismo. Os estudos mostram vantagens nas funções executivas (atualização, inibição e flexibilidade mental) e mudanças estruturais e funcionais em circuitos, especialmente envolvendo os córtices pré-frontais bilateralmente. Estas mudanças têm sido apontadas como fatores importantes de proteção (reserva cognitiva e cerebral) frente a diferentes situações de perdaneural.

Palavras-chave
Homógrafos Interlinguais; Multilinguismo; Conflito Linguístico; Funções Executivas

Abstract

The phenomenon of bilingualism is the essential premise for translation. This paper presents contemporary cognitive models for written word recognition, based on previous experimental work with interlingual homographs. We will discuss studies on language conflict between two or more languages, and how these findings provide support for the language non-selective hypothesis for lexical access, which elucidates the impact of bilingualism in the processes of reading and translation. As a secondary goal and with a neuroscientific perspective, we will also describe the changes in the brain and mental processes that underlie the experience of bilingualism and multilingualism. Studies discussed here demonstrate an advantage in executive function (updating, inhibition and mental flexibility) as well as structural and functional changes in circuits, especially involving the prefrontal cortices bilaterally. These changes have been indicated as important protective factors in different situations of neural loss.

Keywords
Interlingual Homographs; Multilingualism; Language Conflict; Executive Function

1. Introdução

O domínio de uma ou mais língua, além da materna, tem se tornado altamente desejável após a revolução técnico-científica e informacional e a ampliação do acesso à internet. A este respeito, numa palestra dada em 2013, Gregg Roberts, pesquisador em educação multilíngue, fez a asserção: “O monolinguismo é o analfabetismo do século XXI”. O estabelecimento do Quadro Comum Europeu de Referência para Línguas (1989,1996), que define as habilidades linguísticas a serem desenvolvidas para o domínio de línguas estrangeiras, oficializou a importância do multilinguismo no mundo globalizado.

O bilinguismo como regra e não exceção no mundo globalizado recebe a atenção de linguistas, educadores e neurocientistas, que têm se ocupado, por exemplo, em investigar a arquitetura neural subjacente às línguas dos bilíngues, os processos de seleção bilíngue e/ou alternância entre línguas de acordo com a necessidade comunicativa. A relação entre línguas no cérebro envolve processos complexos, que podem resultar na disputa por recursos cognitivos. Hernández compara as línguas de um falante bilíngue a duas espécies vivendo dentro de um mesmo ecossistema: dependendo dos recursos existentes, elas podem cooperar ou competir entre si

O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar modelos cognitivos contemporâneos que explicam o acesso lexical de bilíngues e multilíngues para a leitura, a partir de experimentos com cognatos e homógrafos interlinguais. Abordaremos também os trabalhos sobre conflito entre duas ou mais línguas, e como seus achados convergem para a hipótese de acesso não-seletivo ao léxico, que elucida o impacto do bilinguismo nos processos de leitura e tradução, contribuindo assim com o tema principal desse número. Como objetivo secundário, e a partir de uma perspectiva neurocientífica, neste trabalho também descreveremos as mudanças no cérebro e nos processos mentais decorrentes da experiência do bilinguismo e do multilinguismo. Os estudos mostram vantagens nas funções executivas (atualização, inibição e flexibilidade mental) e mudanças estruturais e funcionais em circuitos, especialmente envolvendo os córtices pré-frontais bilateralmente. Como veremos, essas mudanças têm sido apontadas como fatores importantes de proteção (reserva cognitiva e cerebral) frente a diferentes situações de perda neural.

O texto está organizado em três sessões. Na primeira, vamos abordar as diferentes definições para o bilinguismo e multilinguismo e o modelo de Jessner, que mostra o dinamismo da experiência bilíngue/multilíngue. Na segunda, apresentaremos os debates em relação aos processos de acesso lexical bilíngue e apresentaremos o modelo BIA+ e sua versão mais atual, o Multilink. Na terceira, falaremos dos processos cognitivos envolvidos no manejo de duas ou mais línguas e como isso pode resultar no desenvolvimento de proteção cognitiva.

2.Bilinguismo e Multilinguismo: aspectos gerais e definições

Informações sobre o número de bilíngues na população mundial são controversas, mas considerando que temos cerca de 7000 línguas distribuídas em apenas 193 países, é razoável supormos que mais da metade da população mundial é bilíngue (Associated PressAssociated Press. “Some facts about the world's 6,800 tongues”. CNN.com/US. 19.06.2001. Web. 25 mar 2016 <http://edition.cnn.com/2001/US/06/19/language.glance/index.html?_%2520s=PM:US>.
http://edition.cnn.com/2001/US/06/19/lan...
; European CommissionEuropean Comission- Special Eurobarometer. “Europeans and their languages”. Special EUROBAROMETER 243. fev 2006. Web. 25 mar 2016 <http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_243_en.pdf>.
http://ec.europa.eu/public_opinion/archi...
). O bilinguismo está presente em todos os continentes, em todas as classes sociais e em todas as idades, avançando na medida em que as fronteiras sociais, políticas e econômicas se estreitam e os meios de comunicação evoluem, sendo portanto, uma experiência cognitiva bastante comum que merece ser avaliada com atenção (Marian & ShookMarian, Viorica; Shook, Anthony. “The cognitive benefits of being bilingual”. Cerebrum: the Dana forum on brain science. Vol. 2012. Dana Foundation, 2012.; Lewis, Simon & FennigLewis, M. Paul; Simons, Gary F. ; Fennig, Charles D. Ethnologue: Languages of the world. Dallas, Texas: SIL International. 2016.).

No Brasil, segundo um estudo feito por OliveiraOliveira, Gilvan Müller. “Brasileiro fala português: monolinguismo e preconceito linguístico”. Revista Linguasagem. 11.1, (2009): 1-9., com dados colhidos até 2009, eram falados 200 idiomas, sendo 170 línguas indígenas (autóctones) e 30 línguas alóctones (faladas nas comunidades de descendentes de imigrantes). Assim, apesar de sermos considerados um país monolíngue, devemos reconhecer a extensão da experiência bi e multilíngue no país, a partir dos povos indígenas, das comunidades de imigrantes, dos povos que vivem em regiões de fronteira, do número crescente de alunos de educação bilíngue e da comunidade que utiliza a língua brasileira de sinais (Libras) (CavalcantiCavalcanti, Marilda C. “Estudos sobre educação bilíngue e escolarização em contextos de minorias linguísticas no Brasil”. DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada. 15.SPE, (1999): 385-417.; Preuss & ÁlvarezPreuss, Elena Ortiz; Álvares, Margarida Rosa. “Bilinguismo e políticas linguísticas no Brasil: da ilusão monolíngue à realidade plurilíngue”. Acta Scientiarum. Language and Culture. 36.4, (2014): 403-414.).

A abordagem do multilinguismo pode ser extremamente multifacetada, podendo-se considerar o ponto de vista linguístico, social, psicológico, neurocientífico, entre outros. Isto torna imprescindível que pesquisadores adotem definições de bilinguismo e multiliguismo que caibam no escopo de suas pesquisas. As primeiras tentativas de definição de bilinguismo passaram pelas posteriormente designadas “visão minimalista”, que considera bilíngue aquele que é capaz de produzir frases simples numa língua estrangeira (por exemplo “au revoir”, “good morning”, etc.); e “visão maximalista”, que considera bilíngue aquele que possui domínio semelhante ao nativo de duas línguas (discussão em Megale). Entre essas duas definições há muitas outras; no entanto, modernamente entende-se que o bilíngue é o indivíduo com capacidade de se comunicar em duas línguas, sem que necessariamente tenha o mesmo grau de proficiência em ambas ou igual desenvoltura nas quatro habilidades linguísticas: compreensão auditiva, compreensão escrita, expressão oral e expressão escrita (Grosjean (a)Grosjean, François (a). Life with two languages: An introduction to bilingualism. Harvard University Press, 1982.; MegaleMegale, Antonieta Heyden. “Bilinguismo e educação bilíngue-discutindo conceitos”. Revista Virtual de Estudos da Linguagem-ReVEL. 3.5, (2005): 1-13.; Grosjean (b)Grosjean, François (b). Bilingual: Life and Reality. Harvard: Harvard University Press, 2010.). Além disso, nas últimas décadas, outros aspectos têm sido considerados fundamentais para definir as populações e contrastá-las entre estudos.

O termo bilinguismo, independentemente da definição utilizada, não se refere, como já dissemos anteriormente, a um fenômeno uniforme; ele está relacionado obrigatoriamente a diferentes padrões de aquisição e uso da língua, que podem potencialmente influenciar o desempenho dos bilíngues nos testes a que são submetidos, nas mudanças estruturais e funcionais do cérebro e na questão da reserva cognitiva.

Hamers e BlancHamers, Josiane F.; Blanc, Michel H. A. Bilinguality and bilingualism. Cambridge: Cambridge University Press, 2000., ao longo do seu livro Bilinguality and Bilingualism, propõem fazer uma distinção entre bilinguismo e bilingualidade. Bilinguismo seria o fenômeno global que envolve aspectos psicológicos do sujeito, bem como o uso que faz das línguas em relação a si próprio e à sociedade. Já a bilingualidade estaria relacionada apenas aos aspectos psicológicos individuais de quem acessa duas línguas. Para esses autores, os bilíngues poderiam ser classificados em relação a seis dimensões principais, cujas denominações e definições estão expostas no Quadro 1 abaixo.

Quadro 1
Critério de classificação de bilíngues segundo Hamers e BlancGrosjean, François (b). Bilingual: Life and Reality. Harvard: Harvard University Press, 2010.

Podemos considerar ainda, como fizeram Butler e HakutaButler, Yuko G.; Hakuta, Kenji. “Bilingualism and second language acquisition”. The handbook of bilingualism, Bhatia, Tej K.; Ritchie, William C. (Eds.). New York: Blackwell. 2006, pp. 114-144. e Chin e WigglesworthDijkstra, Ton; Van Heuven, Walter J.B. “The architecture of the bilingual word recognition system: From identification to decision”. Bilingualism: Language and cognition. 5.3, (2002): 175-197., outros fatores, como o contexto de aquisição (na escola ou em família), o grau de bilinguismo e sua relação com as habilidades linguísticas, motivação na aquisição (devido à imigração, uso recreativo, busca de novas oportunidades de trabalho, religião, etc.) ou o até mesmo o fato de a segunda língua passar a ser a língua dominante, estabelecendo assim novas formas de classificação (Quadro 2).

Quadro 2
Adaptação das formas de classificação de bilíngues proposta por Butler e HakutaButler, Yuko G.; Hakuta, Kenji. “Bilingualism and second language acquisition”. The handbook of bilingualism, Bhatia, Tej K.; Ritchie, William C. (Eds.). New York: Blackwell. 2006, pp. 114-144., e Chin e WigglesworthChin, Ng Bee; Wigglesworth, Gillian. Bilingualism: An advanced resource book. Nova York: Routledge, 2007.

Luk e BialystokLuk, Gigi; De Sa, Eric; Bialystok, Ellen. “Is there a relation between onset age of bilingualism and enhancement of cognitive control?”. Bilingualism: Language and cognition. 14.4, (2011): 588-595., buscando entender os principais fatores envolvidos na experiência bilíngue, aplicaram testes de proficiência em inglês e um questionário linguístico a 110 bilíngues adultos. Avaliando as repostas ao questionário e a performance nos testes, através de análise fatorial, eles puderam extrair dois fatores principais ligados ao bilinguismo: um relacionado à proficiência na língua e o outro ligado ao uso diário das línguas. Observaram ainda que a auto-avaliação (medida subjetiva) da proficiência parece estar forte e positivamente correlacionada com as avaliações objetivas na amostra estudada. Assim, os autores afirmam que o bilinguismo não é uma variável categórica e sugerem que, a priori, além de dividirem os indivíduos em bilíngues e monolíngues, os estudos deveriam caracterizar a amostra bilíngue da maneira mais ampla possível, informando os leitores sobre os principais critérios classificatórios da amostra utilizada, uma vez que eles podem influenciar os resultados observados.

Convergente com essa visão e sumarizando os aspectos mencionados acima, BakerBaker, Colin. Foundations of bilingual education and bilingualism. Vol. 79. Multilingual matters, 2011. destaca que pesquisas e estudos em Bilinguismo devem, antes de mais nada, distinguir entre bilinguismo societal e individual e considerar as seguintes dimensões do bilinguismo: a) habilidade (competência produtiva x receptiva); b) domínios de uso (ex: casa, escola, trabalho, etc.); c) proficiência relativa entre línguas (bilinguismo balanceado ou não-balanceado); d) tipo de aquisição (simultânea x consecutiva); e) desenvolvimento (bilinguismo ocorre no início da aquisição da linguagem ou já quando a língua 1 está bem estabelecida); f) culturalidade (biculturalismo, multiculturalismo); g) contexto social (endógeno - uso diário da língua na sociedade x exógeno - imigrantes, estudantes estrangeiros); h) eletividade ou circunstancialidade, ou seja, bilinguismo eletivo (escolha de adquirir outra língua) ou circunstancial (necessidade de aprender outra língua); i) relação de adição ou subtração do bilinguismo, ou seja, bilinguismo aditivo (convivência societal das duas línguas) ou subtrativo (conflito entre elas).

Um outro aspecto fundamental, quando se pensa nas dimensões do bilinguismo, é que não se deve considerar a proficiência relativa entre línguas como uma característica definitiva, uma vez que, mesmo depois da fase de aquisição inicial de uma língua, há um desenvolvimento linguístico constante. Neste quesito, o Modelo de Sistemas Dinâmicos do Multilinguismo - DSMM (JessnerJessner, Ulrike. “A DST model of multilingualism and the role of metalinguistic awareness”. The modern language journal. 92.2, (2008): 270-283.), representado na Figura 1, propõe uma visão holística da aquisição de uma ou mais línguas estrangeiras, abordando o fenômeno sob o ponto de vista do desenvolvimento linguístico longitudinal, e adotando o conceito de sistemas dinâmicos da física para comparar a interrelação entre sistemas linguísticos de um falante. A autora deste modelo questiona a visão de teóricos de aquisição da linguagem, que, segundo ela, abordam o desenvolvimento linguístico como um processo linear e estático, em oposição a pesquisadores da linguística aplicada, que, por sua vez, o encaram como complexo e dinâmico.

Figura 1
Exemplo esquemático da proficiência nas línguas de um indivíduo multilíngue ao longo da vida

Considerando uma alta demanda dos sistemas de memória para o armazenamento de conhecimento lexical em múltiplas línguas, sem que ocorressem perdas, Jessner reconhece “um desenvolvimento linguístico não-linear com mudanças contínuas”. Nesta perspectiva, isso deve-se à disputa por espaço na representação cognitiva de uma língua ou de outra para suprir necessidades de comunicação do falante, que pode transitar em diferentes contextos linguísticos ao longo de sua vida. Além disso, considera-se que o desenvolvimento das línguas de multilíngues, em analogia aos sistemas dinâmicos, é reversível, o que se comprovaria a partir dos fenômenos de erosão linguística (retração do conhecimento linguístico devido à falta de uso) e de fossilização (estabilização de proficiência num mesmo nível, sem evolução), sendo ambos fenômenos mais frequentes em multilíngues que em bilíngues, devido ao esforço cognitivo requerido para a manutenção de todas as línguas. Devido a esta complexidade, o multilinguismo deveria ser abordado de maneira diferente do bilinguismo.

3. Os processos de acesso lexical bilíngue conforme o modelo de ativação interativa bilíngue BIA +

O uso das línguas realizado por indivíduos multilíngues é um comportamento observável que permite uma compreensão global do processamento da linguagem. Kroll e DussiasKroll, Judith F.; Dussias, Paola E. “The comprehension of words and sentences in two languages”. The handbook of bilingualism. New Jersey: Blackwell Publishing Ltd, 2004, pp. 169-200. elencam duas questões principais do acesso lexical bilíngue, a saber: a) como se daria a negociação dos limites entre duas línguas que podem, ou não, compartilhar traços e b) quais seriam as representações mentais, processos e mecanismos de aprendizagem que dariam suporte a isto. Entre as propostas para o acesso lexical, temos a visão seletiva das línguas (language selective), na qual o contexto determina qual das línguas é (exclusivamente) acessada (Rodriguez-Fornells et al.Rodriguez-Fornells, Antoni; et al. “Brain potential and functional MRI evidence for how to handle two languages with one brain”. Nature. 415.6875, (2002): 1026-1029.), e a visão não seletiva (language non-selective) (De Bruijn et al.De Bruin, Angela; Treccani, Barbara; Della Sala, Sergio. “Cognitive advantage in bilingualism: An example of publication bias?”. Psychological science. 26.1, (2014): 99-107.; Lemhöfer & DijkstraLemhöfer, Kristin; Dijkstra, Ton. “Recognizing cognates and interlingual homographs: Effects of code similarity in language-specific and generalized lexical decision”. Memory & Cognition. 32.4, (2004): 533-550.; Kerkhofs et al.Kerkhofs, Roel; et al. “Testing a model for bilingual semantic priming with interlingual homographs: RT and N400 effects”. Brain research. 1068.1, (2006): 170-183.; Von Studnitz & GreenVon Studnitz, Roswitha E.; Green, David W. “Interlingual homograph interference in German-English bilinguals: Its modulation and locus of control”. Bilingualism: Language and Cognition. 5.1, (2002): 1-23.; Macizo, Bajo & Martín; Hsieh et al.Hsieh, Ming-Che; et al. “Neural correlates of bilingual language control during interlingual homograph processing in a logogram writing system”. Brain and language. 174, (2017): 72-85.), representada, entre outros, pelo modelo BIA+ (Bilingual Interactive Model +) de Dijkstra e Van HeuvenDijkstra, Ton; Van Heuven, Walter J.B. “The architecture of the bilingual word recognition system: From identification to decision”. Bilingualism: Language and cognition. 5.3, (2002): 175-197.. O modelo BIA+, representado na Figura 2, propõe regras para a organização do léxico bilíngue quando ativado a partir de input ortográfico, ou seja, durante a leitura. O modelo foi criado a partir de resultados de estudos que apresentavam como principais tarefas a decisão lexical geral (distinguir palavras de uma ou mais línguas de pseudopalavras) e específica (distinguir palavras de uma língua específica de palavras de outra língua ou pseudopalavras), para explicar o reconhecimento de palavras que não estão em contexto de sentença. A partir do input ortográfico (ou seja, de uma palavra escrita), as representações lexicais passam pelo sistema de identificação (figura 2) e pelo esquema da tarefa (figura 3), podendo haver conflito em um destes níveis (respectivamente, baseado em estímulo e baseado em resposta).

Figura 2
Sistema de identificação do BIA+
Figura 3
Esquema da tarefa do BIA+

Para o BIA+, a apresentação de input ortográfico gera a ativação paralela (co-ativação) de suas representações ortográficas, fonológicas e semânticas correspondentes no nó da L1 (Língua 1) e da L2 (Língua 2), que competem para serem selecionadas. Em outras palavras, o modelo adere à visão não seletiva, uma vez que considera que, mesmo durante a realização de uma tarefa numa língua X, a língua Y de um bilíngue será também acessada.

Devido à co-ativação, palavras de duas línguas que compartilham traços semânticos, ortográficos e/ou fonológicos, são mais rapidamente ativadas que palavras que não compartilham estes traços. Se estas palavras compartilham a semântica e a ortografia, são cognatos (ex: exemplo: film (inglês - filme) e Film (alemão - filme)). Caso a semântica não seja compartilhada, ou seja, as palavras possuem a mesma ortografia, mas não possuem o mesmo significado, temos homógrafos interlinguais (interlingual homographs; por exemplo: tag (inglês - rótulo) e Tag (alemão - dia), também chamados de falsos cognatos. A leitura da palavra “TAG”, para um falante de alemão e inglês, por exemplo, irá ativar simultaneamente as representações ortográficas e semânticas deste item no nó de língua inglesa e nó de língua alemã, levando a um conflito na sua seleção (identificação da palavra como pertencente a uma língua ou outra). Este tipo de conflito é denominado “conflito baseado no estímulo”.

O “conflito baseado em resposta”, por sua vez, ocorre quando a seleção do item lexical não se dá na língua em que o participante está realizando o teste, ou seja, o participante identifica um item somente como pertencente a uma língua X, mas a tarefa solicita somente a identificação de palavras da língua Y. Este processamento ocorre, segundo o BIA+, no esquema da tarefa, e não mais no sistema de identificação.

Os primeiros estudos deste tipo de conflito identificaram diferenças no tempo de reação para a leitura de um homógrafo em tarefas de decisão lexical geral ou específica. Em uma tarefa de decisão lexical geral, o homógrafo interlingual é reconhecido como uma resposta válida em ambas as línguas aceitas, e não há conflito. Na decisão lexical específica, por sua vez, o participante deve responder “sim” se a palavra lida existe em uma língua específica (a língua-alvo da tarefa), ou “não”, caso a palavra lida seja considerada como inexistente nesta língua. Caso o homógrafo seja selecionado pelo participante como pertencente à língua não-alvo, haverá um conflito entre a sua seleção e a resposta esperada. A Figura 4 mostra um esquema destes tipos de conflito.

Figura 4
Conflito em tarefas de decisão lexical

3.2 Cognatos e homógrafos interlinguais nos estudos sobre modelos de acesso lexical bilíngue e a proposta do modelo Multilink

De acordo com Lemhöfer e DijkstraLemhöfer, Kristin; Dijkstra, Ton. “Recognizing cognates and interlingual homographs: Effects of code similarity in language-specific and generalized lexical decision”. Memory & Cognition. 32.4, (2004): 533-550., os cognatos e os homógrafos interlinguais têm sido uma excelente ferramenta para comprovação da co-ativação das línguas em estudos de reconhecimento de palavras realizados nas últimas décadas. Os fenômenos de facilitação ou conflito gerados por estas palavras, durante o seu reconhecimento, são tomados como evidência da co-ativação paralela (Lemhöfer & DijkstraLemhöfer, Kristin; Dijkstra, Ton. “Recognizing cognates and interlingual homographs: Effects of code similarity in language-specific and generalized lexical decision”. Memory & Cognition. 32.4, (2004): 533-550.). Para os cognatos, ocorre o efeito de facilitação, sendo que as palavras cognatas são mais rapidamente reconhecidas que não-cognatas (Lemhöfer, Dijkstra & MichelLemhöfer, Kristin; Dijkstra, Ton; Michel, Marije. “Three languages, one ECHO: Cognate effects in trilingual word recognition”. Language and cognitive processes. 19.5, (2004): 585-611.).

Para os homógrafos interlinguais pode haver também facilitação, uma vez que seu reconhecimento pode ser mais rápido em tarefas de decisão lexical geral, ou seja, quando ambas as leituras do homógrafo podem ter respostas corretas. No estudo de Lemhöfer, Dijkstra e Michel, foi encontrado um maior efeito de facilitação de cognatos triplos (holandês-inglês-alemão) que cognatos duplos (holandês-alemão), mas mesmo estes foram mais rapidamente reconhecidos que palavras-controle, demonstrando que, em trilíngues, o efeito é o mesmo que aquele encontrado em bilíngues. Por outro lado, pode ocorrer um conflito ou interferência: em tarefas de decisão lexical específica, somente uma das leituras do homógrafo é aceita como resposta correta, e a ativação da leitura concorrente pode levar a aumento no tempo de resposta (Figura 4).

De acordo com BIA+, estes efeitos dependem da similaridade e da frequência das leituras do homógrafo em cada uma das duas línguas: quanto maior a frequência de uma palavra em uma língua, mais chances de sua representação ser selecionada em detrimento da outra, menos frequente. Desta forma, as diferenças nas respostas, por exemplo no tempo de reação ao estímulo de palavras cognatas ou falsas cognatas em duas línguas, evidenciariam interação entre suas representações lexicais, em comparação com palavras-controle (Jouravlev, Lupker & JaredJouravlev, Olessia; Lupker, Stephen J.; Jared, Debra. “Cross-language phonological activation: Evidence from masked onset priming and ERPs”. Brain and language. 134, (2014): 11-22.). Entretanto, achados indicam que outras características linguísticas podem interferir neste fenômeno (GrootDe Groot, Annette M.B. Language and cognition in bilinguals and multilinguals: An introduction. United Kingdom: Psychology Press, 2011.).

Van Wijnendaele e BrysbaertVan Wijnendaele, Ilse; Brysbaert, Marc. “Visual word recognition in bilinguals: phonological priming from the second to the first language”. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance. 19.3, (2002): 616-627. conseguiram interferir no processamento da L2 para a L1, com a apresentação de um prime homofônico (um breve estímulo que antecede palavra alvo e compartilha suas características fonéticas) em L2 (holandês) para a identificação de um alvo na L1 (francês). Num estudo semelhante, Kerkhofs e colaboradoresKerkhofs, Roel; et al. “Testing a model for bilingual semantic priming with interlingual homographs: RT and N400 effects”. Brain research. 1068.1, (2006): 170-183. introduziram um prime que compartilha características semânticas com o alvo, antes da apresentação de um homógrafo interlingual, a fim de facilitar o reconhecimento do mesmo como uma palavra pertencente à L2, e não à L1, numa tarefa de decisão lexical Por exemplo, o homógrafo interlingual “angel”, em inglês, significa anjo e, em holandês, ferrão. Em holandês como L1, ferrão tem frequência mais alta que na L2 inglês (anjo), portanto, segundo o modelo BIA+, a palavra seria identificada como pertencente ao holandês. Entretanto, a introdução do prime, palavra “heaven” (paraíso), afetou o reconhecimento do homógrafo como uma palavra pertencente ao inglês (Figura 5).

Figura 5
Extensão do BIA+

Macizo e colaboradores utilizaram o paradigma de priming negativo, visando a induzir um conflito gerado pela ativação da acepção do homógrafo na língua dominante, não-alvo da tarefa. Numa tarefa de julgamento semântico, seus participantes deveriam, na condição crítica do experimento, julgar se o par inglês “toe-pie” estaria associado. Considerando as acepções inglesas, “dedão do pé” e “torta”, a resposta deveria ser “não”. No entanto, o homógrafo interlingual <pie>, que quer dizer “pé” em espanhol (a língua materna dos participantes), segundo o modelo BIA+, deveria gerar uma competição entre ambas as acepções, sendo a espanhola mais rapidamente ativada que seu paralelo <pie> do inglês, pois teria maior frequência de uso no espanhol. Deste modo, para evitar a resposta intuitiva, “sim”, e dar a resposta esperada, “não”, os participantes tiveram de inibir a acepção espanhola da palavra, incrementando o processamento em uma etapa, e, portanto, demorando mais nas respostas. Os efeitos de interferência foram encontrados também por Schwartz e Fontes durante a apresentação de pares de palavras não relacionadas em inglês (L2), mas relacionadas por meio do espanhol (L1) graças à presença de um homófono (boat-bark).

Resumindo os achados do modelo BIA+, no contexto de pesquisa, assim como aplicado à leitura e/ou a tradução, evidências mostram que se a língua não-alvo for a mais fraca, é menos provável que ela influencie o processamento da língua-alvo, se esta for a mais forte das duas. Este efeito pode, no entanto, ser manipulado a partir da apresentação de um prime, como realizado por Kerkhofs e colaboradoresKerkhofs, Roel; et al. “Testing a model for bilingual semantic priming with interlingual homographs: RT and N400 effects”. Brain research. 1068.1, (2006): 170-183.. Analogamente, em condições inversas, a língua mais forte irá influenciar a mais fraca (Groot). Por esta razão, Groot é contrária a tarefas que envolvam as duas línguas, se o objetivo é verificar a influência de uma no processamento da outra. Tarefas bilíngues, necessariamente, ativam o léxico das duas línguas e, portanto, facilitariam sua interação.

Tomadas em conjunto, descobertas de estudos envolvendo o conflito durante o acesso e a seleção lexical evidenciaram que a interferência pode ocorrer a) tanto da L2 na L1 e vice-versa (Kousaie & Phillips; Hsieh; et al.Hsieh, Ming-Che; et al. “Neural correlates of bilingual language control during interlingual homograph processing in a logogram writing system”. Brain and language. 174, (2017): 72-85.); b) por meio de equivalentes de tradução (Macizo; Bajo & MartínMacizo, Pedro; Bajo, Teresa; Martín, María Cruz. “Inhibitory processes in bilingual language comprehension: Evidence from Spanish-English interlexical homographs”. Journal of Memory and Language. 63.2, (2010): 232-244.; Thierry & Wu ((a)Thierry, Guillaume; Wu, Yan Jing (a). “Electrophysiological evidence for language interference in late bilinguals”. NeuroReport. 15.10, (2004): 1555-1558.; (b)Thierry, Guillaume; Wu, Yan Jing (b). “Brain potentials reveal unconscious translation during foreign-language comprehension”. Proceedings of the National Academy of Sciences. 104.30, (2007): 12530-12535.; (c)Van Heuven, Walter JB; et al. “Language conflict in the bilingual brain”. Cerebral cortex. 18.11, (2008): 2706-2716.) em aprendizes intermediários de L2 (Hsieh et al.; (d)Hsieh, Ming-Che; et al. “Neural correlates of bilingual language control during interlingual homograph processing in a logogram writing system”. Brain and language. 174, (2017): 72-85.) em jovens adultos e adultos mais velhos (Kousaie & Phillips); (e)Kousaie, Shanna; Phillips, Natalie A. “Age-related differences in interlingual priming: A behavioural and electrophysiological investigation”. Aging, Neuropsychology, and Cognition. 18.1, (2010): 22-55.) devido a aspectos fonológicos (Schwartz & Fontes; Lemhöfer & Dijkstra; (f)Schwartz, Ana I.; Fontes, Ana B. Areas da Luz. “Cross-language mediated priming: Effects of context and lexical relationship”. Bilingualism: Language and cognition. 11.1, (2008): 95-110.) em contexto de sentença (Elston-Güttler; Gunter & Kotz; (g)Elston-Güttler, Kerrie E.; Gunter, Thomas C.; Kotz, Sonja A. “Zooming into L2: Global language context and adjustment affect processing of interlingual homographs in sentences”. Cognitive Brain Research. 25.1, (2005): 57-70.) em línguas logográficas (Hsieh et al.; (h)Hsieh, Ming-Che; et al. “Neural correlates of bilingual language control during interlingual homograph processing in a logogram writing system”. Brain and language. 174, (2017): 72-85.) apesar de instrução da presença dos homógrafos interlinguais (Von Studnitz & GreenVon Studnitz, Roswitha E.; Green, David W. “Interlingual homograph interference in German-English bilinguals: Its modulation and locus of control”. Bilingualism: Language and Cognition. 5.1, (2002): 1-23.).

Além disso, avanços teóricos tem sido alcançados na busca por um “modelo universal”, que preveja a seleção lexical com mais de um léxico e em diferentes tipos de tarefas. Recentemente, com o objetivo de criar um modelo que englobe a seleção lexical tanto em tarefas de produção quanto de compreensão, Dijkstra e colaboradores estão desenvolvendo o modelo Multilink. Atualmente, o modelo é capaz de simular o reconhecimento e a produção de cognatos em tarefas como decisão lexical, nomeação de palavras e tradução oral de palavras. A partir da alimentação do modelo com sistemas lexicais monolíngues ou bilíngues, incluindo informações como leitura fonológica, a frequência de palavras e a similaridade entre vizinhos ortográficos, a inserção de um item lexical como input visual inicial ativa concorrentes de uma ou mais línguas, até que a resposta final do participante seja identificada.

4. Bilinguismo e Multilinguismo como potencializadores do desenvolvimento das funções executivas e a Reserva Cerebral e Cognitiva

Estudos mostram que a experiência bilíngue/multilíngue provoca mudanças comportamentais (Bialystok & PoarchBialystok, Ellen; Craik, Fergus I.M.; Freedman, Morris. “Bilingualism as a protection against the onset of symptoms of dementia”. Neuropsychologia. 45.2, (2007): 459-464.) e na estrutura (Pliatsikas; Moschopoulou & SaddyPliatsikas, Christos; Moschopoulou, Elisavet; Saddy, James Douglas. “The effects of bilingualism on the white matter structure of the brain”. Proceedings of the National Academy of Sciences. 112.5, (2015): 1334-1337.) e funcionalidade (Hosoda et al.Hosoda, Chihiro; et al. “Dynamic neural network reorganization associated with second language vocabulary acquisition: A multimodal imaging study”. Journal of Neuroscience. 33.34, (2013): 13663-13672.) do cérebro. As relações entre bi e multilinguismo e plasticidade cerebral têm justificado e impulsionado pesquisas que se concentram em dois grandes eixos relacionados: os efeitos do bilinguismo sobre as funções executivas (operações relacionadas à atualização, inibição e alternância entre informações) e a reserva cognitiva decorrente dessa experiência.

De modo geral, aceita-se que o termo funções executivas é um constructo relacionado a processos de controle que consistem de uma ampla gama de habilidades, das quais destacam-se, segundo Miyake e colaboradoresMiyake, Akira; et al. “The unity and diversity of executive functions and their contributions to complex ‘frontal lobe' tasks: A latent variable analysis”. Cognitive psychology. 41.1, (2000): 49-100. três ramos principais: inibição, flexibilidade e atualização. A inibição está relacionada ao controle de interferências, seja ele ligado ao autocontrole ou à supressão de informação irrelevante, cujos veículos são a inibição cognitiva e a atenção seletiva, respectivamente. A atualização relaciona–se, por sua vez, com a atualização de informações e o monitoramento, estando ligada, portanto, à memória operacional. Finalmente, a flexibilidade relaciona-se com a capacidade de alteração de estados mentais e alternância entre tarefas.

Figura 6
Representação das Funções Executivas destacadas por Miyake e colabMiyake, Akira; et al. “The unity and diversity of executive functions and their contributions to complex ‘frontal lobe' tasks: A latent variable analysis”. Cognitive psychology. 41.1, (2000): 49-100..

Esta figura demonstra esquematicamente os três ramos nos quais podem ser subdivididas as funções executivas e as habilidades a elas relacionadas.

Uma série de estudos associa o bilinguismo com fortalecimento do controle executivo, que se traduz por melhores performances em vários tipos de tarefas, destacando-se os testes de inibição (Blumenfeld & MarianBlumenfeld, Henrike K.; Marian, Viorica. “Cognitive control in bilinguals: Advantages in Stimulus-Stimulus inhibition”. Bilingualism: Language and Cognition. 17.3, (2014): 610-629.; Poarch & BialystokPoarch, Gregory J.; Bialystok, Ellen. “Bilingualism as a model for multitasking”. Developmental Review. 1.35, (2015): 113-124.; BialystokBialystok, Ellen; et al. (a). “Bilingualism, aging, and cognitive control: evidence from the Simon task”. Psychology and aging. 1.9, (2004): 290-303.; Craik & Luk (a)Craik, Fergus I. M.; Bialystok, Ellen; Freedman, Morris. “Delaying the onset of Alzheimer disease: Bilingualism as a form of cognitive reserve”. Neurology. 75.19, (2010): 1729.) e os testes de flexibilidade (Tao; Taft & GollanTao, Lily; Taft, Marcus; Gollan, Tamar H. “The bilingual switching advantage: Sometimes related to bilingual proficiency, sometimes not”. Journal of the International Neuropsychological Society. 21.7, (2015): 531-544.).

Vantagens no controle cognitivo de bilíngues foram encontradas em bebês menores de dois anos (Poulin-Dubois et al.Poulin-Dubois, Diane; et al. “The effects of bilingualism on toddlers' executive functioning”. Journal of experimental child psychology. 108.3, (2011): 567-579.), crianças (Martin-Rhee & BialystokMartin-Rhee, Michelle M.; Bialystok, Ellen. “The development of two types of inhibitory control in monolingual and bilingual children”. Bilingualism: language and cognition. 11.1, (2008): 81-93.; Poarch & Van HellPoarch, Gregory J.; Van Hell, Janet G. “Executive functions and inhibitory control in multilingual children: Evidence from second-language learners, bilinguals, and trilinguals”. Journal of experimental child psychology. 113.4, (2012): 535-551.), jovens e adultos (Prior & MacwhinneyPrior, Anat; MacWhinney, Brian. “A bilingual advantage in task switching”. Bilingualism: Language and cognition. 13.2, (2010): 253-262.; Costa; Hernández & Sebastián-GallésCosta, Albert; Hernández, Mireia; Sebastián-Gallés, Núria. “Bilingualism aids conflict resolution: Evidence from the ANT task”. Cognition. 106.1, (2008): 59-86.) e idosos (Bialystok et al. (a)Bialystok, Ellen; Craik, Fergus; Luk, Gigi (a). “Cognitive control and lexical access in younger and older bilinguals”. Journal of Experimental Psychology: Learning, memory, and cognition. 34.4, (2008): 859-873.), em bilíngues precoces (Luk: De Sa & BialystokLuk, Gigi; Bialystok, Ellen. “Bilingualism is not a categorical variable: Interaction between language proficiency and usage”. Journal of Cognitive Psychology. 25.5, (2013): 605-621.) e tardios (Vega-MendozaVega-Mendoza, Mariana; et al. “The impact of late, non-balanced bilingualism on cognitive performance”. Cognition. 137, (2015): 40-46.) e também em imigrantes (Abreu et al.Abreu, Pascale MJ Engel de; et al. “Bilingualism enriches the poor: Enhanced cognitive control in low-income minority children”. Psychological science. 23.11, (2012): 1364-1371.) e não imigrantes (Friesen et al.Friesen, Deanna C.; et al. “Attention during visual search: The benefit of bilingualism”. International Journal of Bilingualism. 19.6, (2015): 693-702.). Para evidências contrárias à vantagem cognitiva do bilinguismo, veja De Bruin, Treccani e Della SalaDe Bruijn, Ellen R.A.; et al. “Language context effects on interlingual homograph recognition: evidence from event-related potentials and response times in semantic priming”. Bilingualism: Language and Cognition. 4.2, (2001): 155-168.; Paap, Johnson e SawiPaap, Kenneth R.; Greenberg, Zachary I. “There is no coherent evidence for a bilingual advantage in executive processing”. Cognitive psychology. 66.2, (2013): 232-258.; Dunãbeitia e CarreirasDuñabeitia, Jon Andoni; et al. “The inhibitory advantage in bilingual children revisited”. Experimental psychology. 61.3, (2014): 234-251.; Dunãbeitia et al.Duñabeitia, Jon Andoni; Carreiras, Manuel. “The bilingual advantage: Acta est fabula”. Cortex. 73, (2015): 371-372.; Paap e GreenbergPaap, Kenneth R.; Sawi, Oliver. “Bilingual advantages in executive functioning: problems in convergent validity, discriminant validity, and the identification of the theoretical constructs”. Frontiers in psychology. 5, (2014): 1-15.; Paap e SawiPaap, Kenneth R.; Johnson, Hunter A.; Sawi, Oliver. “Are bilingual advantages dependent upon specific tasks or specific bilingual experiences?”. Journal of Cognitive Psychology. 26.6, (2014): 615-639.; Mor, Yitzhaki-Amsalem e PriorMor, Billy; Yitzhaki-Amsalem, Sarin; Prior, Anat. “The joint effect of bilingualism and ADHD on executive functions”. Journal of attention disorders. 19.6, (2015): 527-541..

A explicação para essas vantagens estaria no fato de que os bilíngues, diferentemente dos monolíngues, estão constantemente selecionando e monitorando a língua a ser utilizada ao mesmo tempo em que inibem a outra. Essa inibição deve acontecer pois ambas as línguas parecem estar constantemente ativadas, conforme as evidências dos modelos que apresentamos na seção anterior (Dijkstra & Van HeuvenDijkstra, Ton; Van Heuven, Walter J.B. “The architecture of the bilingual word recognition system: From identification to decision”. Bilingualism: Language and cognition. 5.3, (2002): 175-197.). Como esse mecanismo de seleção e inibição faz parte do sistema de controle executivo, parece natural que este se fortaleça beneficiando a cognição como um todo (BialystokBialystok, Ellen. “Bilingualism: The good, the bad, and the indifferent”. Bilingualism: Language and cognition. 12.1, (2009): 3-11.; Bialystok et al. (b)Bialystok, Ellen; Poarch, Gregory J. “Language experience changes language and cognitive ability”. Zeitschrift für Erziehungswissenschaft. 17.3, (2014): 433-446.; Kroll; BobbKroll, Judith F.; Bobb, Susan C.; Hoshino, Noriko. “Two languages in mind: Bilingualism as a tool to investigate language, cognition, and the brain”. Current directions in psychological science. 23.3, (2014): 159-163. & HoshinoHoshino, Noriko; Thierry, Guillaume. “Do Spanish-English bilinguals have their fingers in two pies-or is it their toes? An electrophysiological investigation of semantic access in bilinguals”. Frontiers in psychology. 3, (2012): 9.).

Todavia, os fatores que afetam a experiência bilíngue, tais como idade de aquisição, proficiência, contexto de aquisição e uso, etc., discutidos na primeira sessão do texto, parecem influenciar os resultados dos estudos (Mohades et al.Mohades, Seyede Ghazal; et al. “Age of second language acquisition affects nonverbal conflict processing in children: an fMRI study”. Brain and Behavior. 4.5, (2014): 626-642.; Singh & MishraSingh, Niharika; Mishra, Ramesh K. “The modulatory role of second language proficiency on performance monitoring: evidence from a saccadic countermanding task in high and low proficient bilinguals”. Frontiers in psychology. 5.1418, (2015): 1-14.; Bialystok et al.; (b)Bialystok, Ellen; Craik, Fergus I.M.; Freedman, Morris. “Bilingualism as a protection against the onset of symptoms of dementia”. Neuropsychologia. 45.2, (2007): 459-464.; Adesope et al.Adesope, Olusola O.; et al. “A systematic review and meta-analysis of the cognitive correlates of bilingualism”. Review of Educational Research. 80.2, (2010): 207-245.; Hilchey & KleinHilchey, Matthew D.; Klein, Raymond M. “Are there bilingual advantages on nonlinguistic interference tasks? Implications for the plasticity of executive control processes”. Psychonomic bulletin & review. 18.4, (2011): 625-658.) bem como outras variáveis confundentes como status socioeconômico, inteligência, imigração, genética, educação, estilo de vida e atividades de lazer (De Bruin; Bak & Della SalaDe Bruin, Angela; Bak, Thomas H.; Della Sala, Sergio. “Examining the effects of active versus inactive bilingualism on executive control in a carefully matched non-immigrant sample”. Journal of Memory and Language. 85, (2015): 15-26.). As pesquisas têm mostrado que mudanças sutis nas condições experimentais, tais como: padrão bilíngue da amostra (idade de aquisição, proficiência, padrão de uso das línguas, etc.), tipo de teste e modalidade sensorial utilizados, número de tentativas do teste, entre outras, podem produzir resultados divergentes (Bak (a)Bak, Thomas H.; et al. “Does bilingualism influence cognitive aging?”. Annals of neurology. 75.6, (2014): 959-963.; (b)Bak, Thomas H. (a). “Beyond a simple ‘yes' and ‘no'”. Cortex. 73, (2015): 332-333.). Portanto, a diferença entre populações vai além da língua que elas falam, envolvendo múltiplos aspectos (culturais, sociais, econômicos), o que faz com que os estudos sobre bilinguismo/multilinguismo não sejam algo trivial; Os próximos rumos nas pesquisas devem ser no sentido de determinar como diferentes populações podem produzir diferentes resultados (Bak (a)Bak, Thomas H.; et al. “Does bilingualism influence cognitive aging?”. Annals of neurology. 75.6, (2014): 959-963.; (b)Bak, Thomas H. (a). “Beyond a simple ‘yes' and ‘no'”. Cortex. 73, (2015): 332-333.).

Estudos que associam métodos de neuroimagem e testes de funções executivas, feitos em bilíngues, encontraram diferenças estruturais, funcionais e de conectividade entre o cérebro bilíngue e monolíngue. Wong, Yin e O’BrienWong, Becky; Yin, Bin; O'Brien, Beth. “Neurolinguistics: structure, function, and connectivity in the bilingual brain”. BioMed research international. 2016. apontaram em uma recente revisão que: (1) quanto à estrutura cortical, observa-se maior densidade de substância cinzenta no lobo parietal inferior (envolvido no controle atencional) e maior volume de substância cinzenta no núcleo caudado esquerdo de bilíngues (que tem conexões com o córtex pré-frontal dorsolateral (DLPFC); (2) quanto à conectividade, observa-se que ela é maior entre as redes frontais e parietais em bilíngues que em monolíngues, envolvendo a DLPFC e o lobo parietal inferior e (3) quanto à função, em julgamentos semânticos, bilíngues ativam mais o DLPFC e o córtex frontal inferior que monolíngues.

A teoria da reserva cognitiva explica como, frente a um mesmo grau de alterações cerebrais, indivíduos podem apresentar diferentes níveis de funcionamento cognitivo. Assim, em pessoas com baixa reserva cognitiva (ex. indivíduos analfabetos), graus leves de atrofia cerebral podem já levar a um prejuízo na funcionalidade no dia-a-dia. Por outro lado, em pessoas com maior reserva cognitiva, é necessária uma maior gravidade das alterações estruturais e funcionais cerebrais para que haja grave declínio funcional. A teoria postula que algumas experiências melhoram a capacidade do cérebro de lidar com as perdas e danos, mitigando os efeitos dessas perdas sobre as funções cognitivas (Stern (a)Stern, Yaakov (a). “What is cognitive reserve? Theory and research application of the reserve concept”. Journal of the international neuropsychological society. 8.3, (2002): 448-460.; (b)Stern, Yaakov (b). “Cognitive reserve”. Neuropsychologia. 47.10, (2009): 2015-2028.). Vários autores sugerem que o bilinguismo colabora ativamente na formação de uma reserva cognitiva, podendo postergar o estabelecimento de demência apresentando portanto efeitos protetivos do sistema nervoso (CraikCraik, Fergus I. M.; Bialystok, Ellen; Freedman, Morris. “Delaying the onset of Alzheimer disease: Bilingualism as a form of cognitive reserve”. Neurology. 75.19, (2010): 1729.; Bialystok & FreedmanBialystok, Ellen; et al. (b). “Bilingual minds”. Psychological science in the public interest. 10.3, (2009): 89-129.; Gold; Nathan & PowellGold, Brian T.; Johnson, Nathan F.; Powell, David K. “Lifelong bilingualism contributes to cognitive reserve against white matter integrity declines in aging”. Neuropsychologia. 51.13, (2013): 1-16.; Bak et al.Bak, Thomas H. (b). “The impact of bilingualism on cognitive ageing and dementia: Finding a path through a forest of confounding variables”. Linguistic Approaches to Bilingualism. 6.1-2, (2016): 205-226.; Bialystok et al.Bialystok, Ellen; et al. (d). “Aging in two languages: Implications for public health”. Ageing Research Reviews. 27, (2016): 56-60.; (c); Woumans et al.Woumans, E. V. Y.; et al. “Bilingualism delays clinical manifestation of Alzheimer's disease”. Bilingualism: Language and Cognition. 18.3, (2015): 568-574.).

Em um dos maiores estudos documentados até o momento sobre reserva cognitiva e bilinguismo, Alladi e colaboradoresAlladi, Suvarna, et al. “Bilingualism delays age at onset of dementia, independent of education and immigration status”. Neurology. 81.22, (2013): 1938-1944. revisaram os registros de 648 pacientes com demência (sendo 391 bilíngues), comparando a idade de aparecimento dos primeiros sintomas entre os grupos e considerando número de línguas faladas, nível educacional e ocupação. Eles observaram uma latência de 4,5 anos no aparecimento de sintomas em bilíngues tanto para demência por Alzheimer e demência frontotemporal quanto para demência de origem vascular, reproduzindo os achados de BialystokBialystok, Ellen; et al. (c). “Effects of bilingualism on the age of onset and progression of MCI and AD: Evidence from executive function tests”. Neuropsychology. 28.2, (2014): 290-304.; Craik; FreedmanCraik, Fergus I. M.; Bialystok, Ellen; Freedman, Morris. “Delaying the onset of Alzheimer disease: Bilingualism as a form of cognitive reserve”. Neurology. 75.19, (2010): 1729.. Os autores observaram ainda que esse atraso aconteceu até mesmo em pacientes bilíngues e analfabetos.

Em 2011, Luk e colaboradoresLuk, Gigi; et al. “Lifelong bilingualism maintains white matter integrity in older adults”. Journal of Neuroscience. 31.46, (2011): 16808-16813., usando DTI e MRI (em tarefa de restingstate) puderam observar que bilíngues apresentavam maior conectividade estrutural dos lobos frontais com as regiões adjacentes e posteriores. Eles propuseram que alguns efeitos protetivos (relacionados à reserva cognitiva) observados em bilíngues deviam-se à manutenção da substância branca. Ligado a esse tipo de achado apareceu o termo reserva cerebral, que se refere às alterações estruturais, em termos de volume de substância branca e cinzenta, que resultam de experiências cognitivas importantes, como por exemplo o bilinguismo (Perani & AbutalebiPerani, Daniela; Abutalebi, Jubin. “Bilingualism, dementia, cognitive and neural reserve”. Current opinion in neurology. 28.6, (2015): 618-625.; GrantGrant, Angela; Dennis, Nancy A.; Li, Ping. “Cognitive control, cognitive reserve, and memory in the aging bilingual brain”. Frontiers in psychology. 5, (2014): 1-10.; Dennis & Li; Bialystok e colab. (d)Bialystok, Ellen; Craik, Fergus I.M.; Luk, Gigi (b). “Bilingualism: consequences for mind and brain”. Trends in cognitive sciences. 16.4, (2012): 240-250.).

Perani e Abutalebi sugerem dois possíveis mecanismos neurais para explicar os efeitos protetivos do bilinguismo: compensação neural (mudanças funcionais) e reserva neural (alterações estruturais), que seriam induzidas pelo aumento da demanda de atenção e controle que o fato de falar duas ou mais línguas exige. Segundo esses autores, o bilinguismo exige forte envolvimento de áreas cerebrais resultando em alterações plásticas das substâncias branca e cinzenta, o que eventualmente poderia proteger o cérebro contra atrofias e neurodegeneração devido ao envelhecimento ou doenças. Os autores apontam que as principais diferenças entre o cérebro bilíngue e o monolíngue se concentram em áreas relacionadas ao controle executivo, envolvendo uma rede de regiões no córtex pré–frontal, córtex cingulado anterior, lobo parietal inferior e estruturas subcorticais (caudado e putâmen) e áreas relacionadas à linguagem com regiões no córtex pré-frontal inferior esquerdo e lobo parietal inferior esquerdo.

Segundo KemmererKemmerer, David. Cognitive neuroscience of language. New Jersey: Psychology Press, 2014., a linguagem influencia e é influenciada pela arquitetura cerebral. A fluidez dos processos neurais de aquisição, tratamento, armazenamento e recuperação da informação que regulam o funcionamento da linguagem são os fatores que respondem pelas alterações que observamos no cérebro a partir do amadurecimento das funções linguísticas. Assim, pela análise dos estudos apresentados até o momento, entendemos que o bilinguismo como vivência linguística é experiência cognitiva ímpar que atua sobre a plasticidade cerebral, modelando e remodelando estruturas, estabelecendo e fortalecendo conexões entre diversas regiões e finalmente contribuindo para a formação de uma reserva cognitiva. Dessa forma, parece-nos coerente propor que a experiência bilíngue pode influenciar também o comportamento nas mais diversas tarefas, principalmente aquelas relacionadas ao controle cognitivo.

Agradecimentos

Agradecemos à CAPES pelo apoio ao Programa de Pós-Graduação em Neurociência e Cognição da Universidade Federal do ABC. Agradecemos também à FAPESP pelo suporte financeiro às pesquisas (Elaine C. de B. Torresi, número do projeto:2015/09733-6, Marina F. N. Lameira, número do projeto: 2017/00246-0).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Mar 2021
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2020

Histórico

  • Recebido
    28 Ago 2020
  • Aceito
    11 Nov 2020
  • Publicado
    Dez 2020
Universidade Federal de Santa Catarina Campus da Universidade Federal de Santa Catarina/Centro de Comunicação e Expressão/Prédio B/Sala 301 - Florianópolis - SC - Brazil
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