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Acanthaceae em Colorado do Oeste, Rondônia, Brasil1 1 Parte do trabalho de conclusão de curso apresentado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia, Campus Colorado do Oeste, RO, Brasil.

Acanthaceae in Colorado do Oeste, Rondônia, Brazil

Resumo

Este trabalho apresenta um estudo florístico/taxonômico de Acanthaceae em fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual no município de Colorado do Oeste, Rondônia. Foram realizadas coletas aleatórias nos fragmentos florestais no período de novembro de 2015 a setembro de 2016, totalizando 13 expedições. O material coletado está depositado no Herbário COOE e duplicatas no MG e SP. Na área de estudo, a família está representada por seis gêneros e 11 espécies: Aphelandra longiflora, Justicia calycina, J. goudotii, J. mesetarum, Lepidagathis callistachys, Mendoncia sp., Pseuderanthemum congestum, Ruellia brevifolia, R. inflata, R. jussieuoidese R. nitida. Dentre estas destacam-se Justicia goudotii, J. mesetarum, Mendoncia sp. e Ruellia jussieuoides, como novos registros para Rondônia. O número de espécies registradas no presente estudo evidência uma elevada riqueza da família na área e os novos registros demonstram a necessidade de mais estudos para o estado de Rondônia, bem como a preservação desses fragmentos que estão sujeitos a ação antrópica.

Palavras-chave:
Amazônia; floresta semidecidual; florística; Lamiales; taxonomia

Abstract

This work presents a floristic/taxonomic study of Acanthaceae in fragments of Semideciduous Seasonal Forest in the city of Colorado do Oeste, Rondônia state. Random collections were carried out in forest fragments from November 2015 to September 2016, totaling 13 expeditions. The collected material is deposited in the COOE Herbarium and duplicates in the MG and SP. In the study area, the family is represented by six genera and 11 species: Aphelandra longiflora, Justicia calycina, J. goudotii, J. mesetarum, Lepidagathis callistachys, Mendoncia sp., Pseuderanthemum congestum, Ruellia brevifolia, R. inflata, R. jussieuoidesand R. nitida. Among these, Justicia goudotii, J. mesetarum, Mendoncia sp. and Ruellia jussieuoides are new records for Rondônia state. The high number of species and the new records presented in this study demonstrate the need for further studies on the flora of the state of Rondônia, and highlight the importance of conservation of these fragments that are subject to anthropic action.

Key words:
Amazon; floristics; semideciduous forest; Lamiales; taxonomy

Introdução

Acanthaceae pertence à ordem Lamiales (APG IV 2016APG - Angiosperm Phylogeny Group (2016) An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society 181: 1-20.), compreende cerca de 250 gêneros e 3.250 espécies (Wasshausen & Wood 2004Wasshausen DC & Wood JRI (2004) Acanthaceae of Bolivia. Contributions from the United States National Herbarium 49: 1-152.), com distribuição pantropical e com centros de diversidade na região da Indo-Malásia, África (incluindo Madagascar), Brasil, Andes e América Central (Wasshausen 2004Wasshausen DC (2004) Acanthaceae. In: Smith N, Mori SA, Henderson A, Stevenson DWm & Heald SV (eds.). Flowering plants of the Neotropics. Princeton University Press, Princeton. Pp. 3-7.). O Brasil é um dos principais centros de diversidade da família representada por 39 gêneros e 453 espécies, com destaque para os gêneros Justicia L., Ruellia L. e Aphelandra R. Br. com maior número de espécies, e ocorre naturalmente em praticamente todos os tipos de vegetação. Para o estado de Rondônia, são citadas 32 espécies distribuídas em 11 gêneros (Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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).

A cápsula loculicida com deiscência explosiva é apontada como sinapomorfia para a família (McDade et al. 2008McDade LA, Daniel TF & Kiel CA (2008) Toward a comprehensive understanding of phylogenetic relationships among lineages of Acanthaceae s.l. (Lamiales). American Journal of Botany 95: 1136-1152.). O sistema proposto por Scotland & Vollesen (2000)Scotland RW & Vollesen K (2000) Classification of Acanthaceae. Kew Bulletin 55: 513-589. divide as Acanthaceae em três subfamílias: Acanthoideae Link., Nelsonioideae Pfeiff. e Thunbergioideae Kostel. Estudos baseados em dados moleculares, especificamente nas sequências ndhF, rbcL, trnL-F e ITS, sustentam as Acanthoideae como um grupo monofilético (Hedrén et al. 1995Hedrén M, Chase MW & Olmstead RG (1995) Relationships in the Acanthaceae and related families as suggested by cladistic analysis of rbcL nucleotide sequences. Plant Systematics and Evolution 194: 93-109.; Scotland et al. 1995Scotland RW, Sweere JA, Reeves PA & Richard G (1995) Higher-level systematics of Acanthaceae determined by chloroplast DNA sequences. Olmstead Source. American Journal of Botany 82: 266-275.; McDade et al. 2000McDade LA, Masta SE, Moody ML & Waters E (2000) Phylogenetic relationships among Acanthaceae: evidence from two genomes. Systematic Botany 25: 106-121.). A família tem um alto valor ornamental por apresentarem brácteas e flores de formas variadas e vistosas (Barroso 1978Barroso GM (1978) Sistemática de angiospermas do Brasil. EDUSP, São Paulo. 310p.; Lorenzi & Souza 2008Lorenzi H & Souza HM (2008) Plantas ornamentais no Brasil: arbustivas, herbáceas e trepadeiras. 4a ed. Instituto Plantarum, Nova Odessa. 1088p.). Segundo Wasshausen & Wood (2004)Wasshausen DC & Wood JRI (2004) Acanthaceae of Bolivia. Contributions from the United States National Herbarium 49: 1-152., espécies de Acanthus L., Aphelandra R. Bb., Eranthemum L., Hemigraphis Ness, Hypoestes Sol. ex R. Br., Justicia L., Odontonema Ness e Thunbergiae Retz. são os principais gêneros cultivados como ornamentais.

A Flora brasiliensis, trabalho apresentado por Nees (1847)Ness Von Esenbeck CG (1847) Acanthaceae. In: von Martius KFP & Eichler AG (eds.) Flora brasiliensis. F. Fleischer, Lipsiae. Vol. 9, pp.1-164. é a única obra abrangente abordando as espécies brasileiras de Acanthaceae. O autor apresenta descrições de 343 espécies, distribuídas em 57 gêneros, entretanto, não fornece chaves para identificação das espécies. Ainda, boa parte dos gêneros referidos por Nees (1847)Ness Von Esenbeck CG (1847) Acanthaceae. In: von Martius KFP & Eichler AG (eds.) Flora brasiliensis. F. Fleischer, Lipsiae. Vol. 9, pp.1-164. foram sinonimizados. Trabalhos taxonômicos para espécies brasileiras de Acanthaceae são escassos, compreendendo poucos estudos de floras locais, com destaque para a Flora de Santa Catarina (Wasshausen & Smith 1969Wasshausen DC & Smith LB (1969) Acantáceaes. In: Reitz, R. (ed.). Flora ilustrada catarinense. Acan. Vol. 1. pp. 1-134.), Flora da Serra do Cipó (Kameyama 1995Kameyama C (1995) Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Acanthaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 14: 181-206.), Flora da Reserva Florestal Mata do Paraíso (Braz et al. 2002Braz DM, Carvalho-Okano RM & Kameyama C (2002) Acanthaceae da Reserva Florestal Mata do Paraíso. Revista Brasileira de Botânica 25: 495-504.), Flora de Grão Mogol (Kameyama 2003Kameyama C (2003) Flora de Grão Mogol, Minas Gerais: Acanthaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo 21: 51-53.), Flora da Reserva Ducke (Kameyama 2006Kameyama C (2006) Flora da Reserva Ducke, Amazonas, Brasil: Acanthaceae. Rodriguésia 57: 149-154. ) e Justicieae do semiárido da Bahia (Côrtes & Rapini 2013Côrtes ALA & Rapini A (2013) Justicieae (Acanthaceae) do semiárido do estado da Bahia, Brasil. Hoehnea 40: 253-292.). No Brasil, a família possui o maior número de espécies na Mata Atlântica e nas formações Florestas Mesófilas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, ocorrendo em diversos tipos de formações vegetais (Kameyama 2006Kameyama C (2006) Flora da Reserva Ducke, Amazonas, Brasil: Acanthaceae. Rodriguésia 57: 149-154. ). Especificamente para o estado de Rondônia, apesar do número de espécies citados pela Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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, não há estudos taxonômicos ou florísticos publicados sobre Acanthaceae.

O presente estudo apresenta um levantamento florístico/taxonômico das espécies de Acanthaceae no município de Colorado do Oeste, contendo chave de identificação para as espécies, descrições, ilustrações, dados de distribuição geográfica e comentários diagnósticos, com intuito de ampliar o conhecimento sobre a família para a flora do estado, bem como para a região Amazônica.

Material e Métodos

O estudo foi realizado em oito fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual, caracterizado de acordo com a descrição de Veloso et al. (1991)Veloso HP, Rangel Filho ALR & Lima JCA (1991) Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. IBGE, Rio de Janeiro. 112p., situados no município de Colorado do Oeste, que se localiza a uma latitude aproximada de 13º07’00”S e longitude de 60º32’30”W, compreendendo uma área de transição entre a Floresta Amazônica e o Cerrado mato-grossense (Fig. 1).

Figura 1
Limites do município de Colorado do Oeste e principais pontos de coletas.
Figure 1
Limits of the municipality of Colorado do Oeste and main points of collections.

A área total do município é de 1.580 km2, e este faz limites com o município de Cabixi, ao sul, Vilhena, ao norte, Cerejeiras e Corumbiara, ao oeste, além da fronteira com o estado do Mato Grosso, ao leste (Santos et al. 2015Santos DIP, Araújo EO, Pagani PC, Pagani CHP, Araújo MEB & Negrão MP (2015) Análise multitemporal de uso e ocupação do solo do núcleo inicial do projeto integrado de colonização Paulo de Assis Ribeiro no município de Colorado do Oeste - RO. Caderno de Geografia 25: 34-51.). A área de estudo é caracterizada, segundo a classificação de Köppen, por clima do tipo AW, tropical chuvoso com temperatura média anual de 23 ºC a 24 ºC e precipitação média anual de 1900-2000 mm (Rondônia 2002Rondônia (2002) Atlas geoambiental de Rondônia. 2ª ed. SEDAM, Porto Velho. 146p.).

Foram realizadas coletas aleatórias de material botânico fértil na área de estudo entre o período de novembro de 2015 a setembro de 2016, totalizando 13 expedições segundo as técnicas descritas por Fidalgo & Bononi (1989)Fidalgo O & Bononi VLR (1989) Técnicas de coleta, preservação e herborização de material botânico. Instituto de Botânica, São Paulo. 62p.. O material coletado foi tratado, organizado e conservado segundo as normas usuais de estudos botânicos (Mori et al. 1989Mori AS, Silva LAM, Lisboa G & Coradin L (1989) Manual de manejo do herbário fanerogâmico. 2ª ed. CEPLAC, Ilhéus. 104p.). Após a identificação, o material foi depositado no Herbário de Colorado do Oeste (COOE) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), herbário não cadastrado. As duplicatas foram enviadas para os Herbários MG e SP (siglas segundo Thiers, continuamente atualizadoThiers B [continuamente atualizado]. Index Herbariorum: a global directory of public herbaria and associated staff. New York Botanical Garden’s Virtual Herbarium. Disponível em <http://sweetgum.nybg. org/science/ih/> Acesso em 5 Janeiro 2018.
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).

A identificação das amostras foi realizada por meio de consultas a literaturas especializadas, chaves analíticas, ilustrações e comparação com diagnoses. O tratamento taxonômico e nomenclatural das espécies teve auxílio de sites que apresentam os protólogos e tipos nomenclaturais digitalizados, como: Jstor global plants (<https://plants.jstor.org/>); Biodiversity Heritage Library (<http://www.biodiversitylibrary.org/subject/Botany>); Botanicus Digital Library (<http://www.botanicus.org/>); Open Library (<http://openlibrary.org/>);“JABOT - Banco de dados da flora brasileira - JBRJ (<http://www.jbrj.gov.br/jabot/formularios/frmfiltroespecimespub.php>); Flora brasiliensis (<http://florabrasiliensis.cria.org.br/>); Trópicos (<http://www.tropicos.org/>); The Plant List (<http://www.theplantlist.org/>); Gallica (<http://www.gallica.fr>); speciesLink (<http://splin k.cria.org.br>); Internacional Plant Names Index (IPNI) (<http://www.ipni.org>); Royal Botanic Gardens (KEW) (<www.kew.org>) e Missouri Botanical Garden (MOBOT) (<http://mobot.org>).

Com auxílio de câmera fotográfica registraram-se detalhes morfológicos das amostras, hábito e aspectos das formações vegetacionais onde as mesmas foram coletadas. As descrições são baseadas na combinação de caracteres morfológicos diagnósticos para cada espécie, a partir do material selecionado no herbário COOE e do material coletado nas expedições de campo. A análise das estruturas reprodutivas foi feita a partir do material coletado e/ou de material herborizado, que foi reidratado e dissecado, para descrição das características morfológicas. A terminologia para as descrições foi baseada em Radford et al. (1974)Radford AE, Dickson WC, Massey JR & Bell CR (1974) Vascular plant systematics. Harper & Row, New York. 891p.. Para a morfologia das folhas, brácteas e bractéolas adotou-se em Hickey (1973)Hickey LJ (1973) Classification of architecture of dicotyledons leaves. American Journal of Botany 60: 17-33..

Resultados e discussão

No presente estudo foram registados seis gêneros e 11 espécies, que corresponde a 34,4% do total de espécies registradas para Rondônia (32 espécies, Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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). Com o estudo houve um incremento de quatro espécies citadas para o estado (Justicia goudotii, J. mesetarum, Mendoncia sp. e Ruellia jussieuoides). As espécies de Acanthaceae coletadas no município, em sua maioria, apresentam fase reprodutiva no período de seca no estado de Rondônia, que vai de maio a outubro, apenas R. brevifolia apresentou fase reprodutiva mais ampla.

Acanthaceae Juss.

Ervas decumbentes ou eretas, subarbustos, arbustos, trepadeiras. Folhas simples, geralmente opostas, decussadas, com ou sem cistólitos. Inflorescências diversas ou com flores solitárias axilares ou terminais; brácteas e bractéolas geralmente foliáceas ou petaloides, às vezes, encobrindo o botão e parcialmente a corola. Flores bissexuadas, zigomorfas; segmentos do cálice geralmente 5, às vezes 4, livres ou unidos somente na base, raramente cálice reduzido a um anel; corola gamopétala bilabiada ou unilabiada, estames 2-4, epipétalos, geralmente didínamos, livres ou unidos dois a dois, anteras monotecas ou bitecas, com ou sem projeções, anteras com deiscência longitudinal, às vezes, 1 ou 2 estaminódios; disco nectarífero anelar presente na base do ovário; ovário súpero, bilocular, geralmente 2-10 óvulos por lóculo, estilete terminal simples, estigma comumente bilobado. Os frutos geralmente são cápsulas com deiscência explosiva, ou raramente drupas. Sementes 1 a muitas, geralmente planas, orbiculares.

    Chave de identificação para as espécies de Acanthaceae em Colorado do Oeste, RO
  • 1. Lianas.

    • 2. Ramos cilíndricos; inflorescência em cimeira; cálice 5-laciniado; fruto cápsula.............................. 9. Ruellia inflata

    • 2’. Ramos quadrangulares; inflorescência em fascículo; cálice 1-laciniado; fruto drupáceo ............... 6. Mendoncia sp.

  • 1’. Subarbustos e arbustos.

    • 3. Estames 2.

      • 4..... Folhas sésseis; estaminódios presentes ................................ 7. Pseuderanthemum congestum

      • 4’.... Folhas pecioladas; estaminódios ausentes.

        • 5...... Cálice 4-laciniado; lâminas oval-lanceoladas ................................... 3. Justicia goudotii

        • 5’.... Cálice 5-laciniado; lâminas lanceoladas

          • 6..... Ramos subquadrangulares; brácteas lanceoladas, pubescentes; inflorescência em espiga; corola vermelha 2. Justicia calycina

          • 6’.... Ramos cilíndricos; brácteas elípticas, glandulares-pubérulas; inflorescência em panícula de espigas; corola roxa .............................................................................................. 4. Justicia mesetarum

    • 3’. Estames 4.

      • 7..... Todas as anteras monotecas; sementes vilosas ................................ 1. Aphelandra longiflora

      • 7’.... Pelo menos 1 par de anteras bitecas; sementes com tricomas higroscópicos.

        • 8...... Anisofilia presente; corola curto-bilabiada; inflorescências em espigas secundifloras; 1 par de anteras bitecas e 1 par de anteras monotecas ...................................................... 5. Lepidagathis callistachys

        • 8’.... Anisofilia ausente; corola não bilabiada; inflorescências em cimeiras ou flores solitárias; todas as anteras bitecas.

          • 9..... Corola urceolada, vermelha ....................................................... 8. Ruellia brevifolia

          • 9’.... Corola infundibuliforme, lilás.

            • 10. Flores solitárias; anteras sagitadas; tricomas higroscópicos cobrindo toda a superfície da semente 10. Ruellia jussieuoides

            • 10’. Flores em cimeira; anteras oblongas; tricomas higroscópicos apenas na margem da semente 11. Ruellia nitida

1. Aphelandra longiflora (Lindl.) Profice, Bradea 10: 18. 2004. Figs. 2a-b; 3a

Figura 2
a-b. Aphelandra longiflora - a. inflorescência jovem com parte do ramo; b. corola dissecada, exibindo 4 estames de anteras monotecas. c-d. Justicia calycina - c. vista frontal da inflorescência; d. bráctea lanceolada. e-f. Justicia goudotii - e. vista frontal da inflorescência; f. vista lateral da corola junto ao cálice. g-h. Justicia mesetarum - g. vista lateral da inflorescência; h. bráctea elíptica. i-j. Lepidagathis callistachys - i. vista lateral da inflorescência com as folhas; j. sépalas. k. Mendoncia sp. - ramo em vista frontal, destaque para os frutos drupáceos. l. Pseuderanthemum congestum - ramo em vista lateral, destaque para as folhas anisófilas. m. Ruellia brevifolia - ramo com inflorescência em vista lateral. n. Ruellia inflata - inflorescência em vista lateral. o. Ruellia jussieuoides - cálice de indumento hirsuto acompanhado de duas bractéolas oblongo-elípticas. p. Ruellia nitida - cálice com indumento glandular acompanhado de duas bractéolas lineares. (a-b. Silva 102; c-d. Silva 85; e-f. Silva 128; g-h. Silva 128; i-j. Silva 104; k. Silva 71; l. Silva 134; m. Silva 93; n. Silva 89; o. Silva 129; p. Silva 131).
Figure 2
a-b. Aphelandra longiflora - a. young inflorescence with part of branch; b. corolla dissected, exhibiting 4 stamens of anthers monotecas. c-d. Justicia calycina - c. inflorescence front view; d. lanceolate bract. e-f. Justicia goudotii - e. inflorescence front view; f. side view of the corolla next to the calyx. g-h. Justicia mesetarum - g. inflorescence side view; h. elliptical bract. i-j. Lepidagathis callistachys - i. lateral view of inflorescence with leaves; j. sepals. k. Mendoncia sp. - branch in frontal view, highlight for drupaceous fruits. l. Pseuderanthemum congestum - branch in lateral view, highlight for anisophilic leaves. m. Ruellia brevifolia - branch with inflorescence in lateral view. n. Ruellia inflata - inflorescence in lateral view. o. Ruellia jussieuoides - calyx of hirsute indument accompanied by two oblong-elliptic bracteoles. p. Ruellia nitida - calyx with glandular indument accompanied by two linear bracteoles. (a-b. Silva 102; c-d. Silva 85; e-f. Silva 128; g-h. Silva 128; i-j. Silva 104; k. Silva 71; l. Silva 134; m. Silva 93; n. Silva 89; o. Silva 129; p. Silva 131).
Figura 3
a. Aphelandra longiflora - inflorescência com flores jovens. b. Justicia calycina - vista frontal da inflorescência. c. Justicia goudotii - corola em vista frontal. d. Justicia mesetarum - ramo com inflorescência em vista lateral. e. Lepidagathis callistachys - vista lateral da inflorescência. f. Mendoncia sp. - ramo exibindo bractéolas encobrindo os botões florais. g. Ruellia brevifolia - inflorescência em vista lateral. h. Ruellia inflata - destaque da flor e fruto imaturo em vista lateral. i. Ruellia jussieuoides - ramo exibindo folhas e a flor em vista frontal. j-k. Ruellia nitida - j. indivíduo em vista frontal; k. flor em vista frontal, evidenciando a elevada quantidade de indumento glandular no cálice. (Fotos: F.A. Silva).
Figure 3
a. Aphelandra longiflora - inflorescence with flower’s buds. b. Justicia calycina - front view of the inflorescence. c. Justicia goudotii - Inflorescence in detail displaying the corolla. d. Justicia mesetarum - branch with inflorescence in lateral view. e. Lepidagathis callistachys - inflorescence side view. f. Mendoncia sp. - branch displaying bracteoles covering the floral buds. g. Ruellia brevifolia - inflorescence in lateral view. h. Ruellia inflata - flower highlight and immature fruit in side view. i. Ruellia jussieuoides - branch showing leaves and flower in front view. j-k. Ruellia nitida - j. individual in front view; k. flower in frontal view, evidencing the high amount of indumento glandular in the calyx. (Photos: F.A. Silva).

Nome vulgar: canela-de-jacomi; erva-de-rato; erva-de-gado (Profice & Andreata 2011Profice SR & Andreata RHP (2011) Revisão taxonômica de Aphelandra R. Br. (Acanthaceae) de corola curto-bilabiada. Pesquisas, Botânica 62: 7-70.).

Arbustos, 1-2 m alt.; ramos cilíndricos, ramos jovens estrigosos, ramos velhos glabrescentes. Pecíolo 0,5-1 cm compr., pubérulo; lâminas elípticas a oblongas, 11,4-20 × 2,8-6 cm, estrigosa, ápice acuminado, base atenuada, margem inteira, cistólitos ausentes; nervuras secundárias 8-10 pares. Inflorescência em espigas terminais e axilares; 1 bráctea lanceolada, 0,5-0,6 cm compr., estrigosa e 2 bractéolas lanceoladas, 0,4-0,5 cm. Cálice 5-laciniado, lacínios iguais, 0,5-0,6 cm compr., lineares ou lanceolados, glabro; corola vermelha, 2,3-2,5 cm compr., glandular ou pubérula, curto-bilabiada, lábio superior 2-lobado, ca. 0,3 cm compr., lábio inferior 3-lobado, ca. 0,2 cm compr., vermelho escuro, lobos inconspícuos; estames 4, subdidínamos, filetes 1,3-1,6 cm compr., anteras monotecas, linear-oblongas; ovário glabro, estilete 1,8-2 cm compr., estigma discóide. Cápsula clavada, ovalada, glabra. Sementes 4, ovadas, vilosas.

Material examinado: Colorado do Oeste, campus do IFRO, Rodovia 399, km 05, 21.V.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 102 (COOE, MG); 27.V.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 110 (COOE, MG); 10.VII.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 135 (COOE, MG).

Aphelandra longiflora diferencia-se das demais espécies de Acanthaceae da área de estudo por apresentar inflorescência em espiga terminal e axilar pouco ramificada, corola curto-bilabiada de tubo vermelho com ápice negro e todas as anteras monotecas (Fig. 2b), além de apresentar sementes vilosas. Aphelandra longiflora está atrelada a 15 sinônimos, evidenciando uma grande variação morfológica para a espécie.

É encontrada na Argentina, Bolívia e em quase todo Brasil (Profice & Andreata 2011Profice SR & Andreata RHP (2011) Revisão taxonômica de Aphelandra R. Br. (Acanthaceae) de corola curto-bilabiada. Pesquisas, Botânica 62: 7-70.). No Brasil são confirmados registros para os estados do Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rondônia, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo (Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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). Na área de estudo habita locais sombreados tanto na borda como no interior da mata, onde foram coletados indivíduos com flor nos meses de março e junho e com fruto de julho a agosto.

2. Justicia calycina (Nees) V.A.W.Graham, Kew Bull. 43: 610. 1988. Figs. 2c-d; 3b

Subarbustos semi-decumbentes, 0,6-2 m alt.; ramos subquadrangulares, afinados nos entrenós, ferrugíneo-pubescentes. Pecíolo 0,3-4,2 cm compr., pubescentes; lâminas lanceoladas, 9-27 × 2,5-5,2 cm, glabrescente com nervuras pubérula, ápice atenuado, base decorrente assimétrica, margem levemente repanda, cistólitos presentes; nervuras secundárias 8-18 pares. Inflorescência em espigas terminais; brácteas lanceoladas, 2-3 × 0,3-0,5 mm, pubescentes; bractéolas lineares, 2-2,8 × 0,3-0,5 mm. Cálice 5-laciniado, lacínios iguais, 0,9-1,1 cm compr., lineares, pubérulos; corola vermelha, com estrias brancas na fauce, tubo 3,2-3,4 cm compr., bilabiada, lábio superior 2-lobado, 1,5-1,6 cm compr., lábio inferior 3-lobado, 1,4-1,6 cm compr., glabra; estames 2, homodínamos, filetes 4,5-4,9 cm compr., anteras com tecas desiguais, sobrepostas, ambas sem apêndice, oblongas; ovário glabro, estilete 3,6-4 cm compr., estigma capitado. Cápsula clavada, glabra. Sementes 2-4, ovadas a aplanadas com franjas (projeções do tegumento na margem) curtas triangulares, glabras.

Material examinado: Colorado do Oeste, 2ª eixo esquina com a linha 01, 10.IV.2016, F.A. Silva 85 (COOE, MG); campus do IFRO, Rodovia 399, km 05, 19.IV.2016, F.A. Silva 88 (COOE); 19.VI.2016, F.A. Silva 117 (COOE).

Justicia calycina caracteriza-se pelo hábito subarbustivo semi-decubente, por sua inflorescência em espiga terminal, corola vermelha bilabiada, com estrias brancas na fauce. É próxima morfologicamente de J. mesetarum por apresentar folhas lanceoladas, cálice 5-laciniado, corola bilabiada e anteras com tecas desiguais, no entanto difere desta por apresentar ramos subquadrangulares (vs. cilíndricos), brácteas lanceoladas 2-3 × 0,3-0,5 mm, pubescentes (Fig. 2d), (vs. brácteas elípticas, glandulares-pubérulas [Fig. 2h]), corola vermelha (vs. roxa), inflorescência em espiga (vs. panícula de espigas).

A espécie é amplamente distribuída na região Amazônica em margens de rios rochosos em área pouco sombreada (Wasshausen & Wood 2004Wasshausen DC & Wood JRI (2004) Acanthaceae of Bolivia. Contributions from the United States National Herbarium 49: 1-152.). No Brasil, são confirmados registros para o Acre, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Pará e Rondônia (Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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). Na área de estudo, a espécie é comum em regiões alagadas, sendo facilmente encontradas próximas aos cursos d’água de cachoeiras em local parcialmente sombreado, onde foram coletados indivíduos com flor e fruto simultaneamente entre os meses de abril a agosto.

3. Justicia goudotii V.A.W.Graham, Kew Bull. 43: 603. 1988. Figs. 2 e-f; 3c

Subarbustos, 0,3-0,4 m alt.; ramos subcilíndricos, com dilatações acima dos nós, pubérulos. Pecíolo 0,8-1,8 cm compr., pubérulo; lâminas oval-lanceoladas, 5,2-11,2 × 7-4 cm, adpresso pubérulas, ápice pouco acuminado, base arredondada a aguda, margem levemente repanda, cistólitos presentes; nervuras secundárias 8-10 pares. Inflorescências em espigas terminais e axilares; brácteas estreito-triangulares, 5-5,5 × 0,3-0,5 mm, pubérula e bractéolas lineares, 5-6 × 0,3-0,4 mm. Cálice 4-laciniado, lacínios iguais, 0,7-1 cm, lineares, pubérulos; corola lilás, com estrias brancas na fauce, tubo 0,5-0,7 cm compr., bilabiada, lábio superior 2-lobado, 0,2-0,3 cm compr., lábio inferior 3-lobado, 0,3-0,4 cm compr.; pubérula; estames 2, homodínamos, filetes 0,3-0,4 cm compr., anteras sobrepostas, inferior inconspícuas, ambas com apêndice, oblongas; ovário glabro, estilete 0,7-0,9 cm compr., estigma subcapitado. Fruto não visto.

Material examinado: Colorado do Oeste, campus do IFRO, Rodovia 399, km 05, 19.VI.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 125 (COOE, MG); 2.VII.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 128 (COOE, MG).

Justicia goudotii é facilmente reconhecida dentre as demais espécies do gênero na área de estudo por apresentar folhas oval-lanceoladas com anisofilia presente e por seu cálice 4-laciniado (Fig. 2f). Podendo ser identificada também por apresentar hábito subarbustivo de 0,3-0,4 m de altura, inflorescência em espigas terminais e axilares, corola lilás com um tubo estreito e com mácula branca na fauce (Fig. 3c).

Está distribuída no Brasil, Paraguai, Colômbia, sul da Bolívia e norte da Argentina (Ezcurra 2002Ezcurra C (2002) El género Justicia (Acanthaceae) em Sudamérica austral. Annals of the Missouri Botanical Garden 89: 225-280.; Wasshausen & Wood 2004Wasshausen DC & Wood JRI (2004) Acanthaceae of Bolivia. Contributions from the United States National Herbarium 49: 1-152.). Até o presente, no Brasil era citada apenas para os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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), sendo aqui registrada pela primeira vez para Rondônia. Registros apontam coletas no interior ou nas bordas de floresta mesófila, em ambientes perturbados, planícies e montanhas de até 1.300 m de altitude (Ezcurra 2002Ezcurra C (2002) El género Justicia (Acanthaceae) em Sudamérica austral. Annals of the Missouri Botanical Garden 89: 225-280.). Na área de estudo, é frequente nas bordas dos fragmentos florestais e em trilhas sombreadas. Floresceu nos meses de junho e julho.

4. Justicia mesetarum Wassh. & J.R.I.Wood, Kew Bull. 58: 792. 2004. Figs. 2g-h; 3d

Subarbustos decumbentes, 0,6-1 m alt.; ramos cilíndricos, glabros. Pecíolo 2-0,6 cm compr., glabro; lâminas lanceoladas, 6,7-19,2 × 7,2-2 cm, glabras, ápice curtamente acuminado, base atenuada, margem inteira, cistólitos presentes; nervuras secundárias 6-10 pares. Inflorescências em panículas com espigas terminais; brácteas elípticas, 8-11 × 3,5-5 mm, glandulares-pubérula e bractéolas oblanceoladas a lineares, 9-11,5 × 1,5-2 mm. Cálice 5-laciniado, lacínios desiguais (4+1), os pares maiores 1,2-1,3 cm compr., o lacínio menor 0,6-0,7 cm compr., todos os lacínios subulados, glandulares-pubérulos; corola roxa, com mácula branca na fauce, tubo 2,2-2,5 cm compr., bilabiada, lábio superior 2-lobado, 1,7-1,8 cm compr., lábio inferior 3-lobado, 1,7-2 cm compr., glandular-pubérulas; estames 2, homodínamos, filetes 2,2-3 cm compr., anteras com tecas desiguais, sobrepostas, teca superior sem apêndice, teca inferior apendiculada; ovário glabro, estilete 3,2-4,3 cm compr., estigma 2-lobado. Cápsula clavada, glandular-pubérula. Sementes 4, ovadas, pubérulas.

Material examinado: Colorado do Oeste, campus do IFRO, Rodovia 399, km 05, 2.VII.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 126 (COOE, MG); 27.VIII.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 138 (COOE); 21.VIII.2015, F. Bonadeu 932 (COOE).

Justicia mesetarum caracteriza-se por apresentar inflorescências em panículas terminais ou axilares, com brácteas glutinosas densamente glandulares-pubescentes, flores com corolas lilás, bilabiada com estrias brancas na fauce, anteras com tecas de formas indefinidas. As inflorescências e flores vistosas lhe conferem potencial ornamental a ser explorado (Fig. 2b). Justicia mesetarum assemelha-se a J. calycina (ver comentário da espécie). A espécie ocorre na Bolívia e Brasil (Wasshausen & Wood 2004Wasshausen DC & Wood JRI (2004) Acanthaceae of Bolivia. Contributions from the United States National Herbarium 49: 1-152.).

No Brasil, havia ocorrência confirmada apenas para o Mato Grosso (Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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), sendo registrada pela primeira vez para Rondônia no presente estudo. Na área de estudo, foi coletada no interior da mata em locais sombreados, onde foram registrados indivíduos com flor em junho e julho e com frutos em agosto.

5. Lepidagathis callistachysKameyama, Kew Bull. 63: 569-571. 2008Kameyama C (2008) New species, nomenclatural changes and lectotypifications in Neotropical Lepidagathis Willd. (Acanthaceae). Kew Bulletin 63: 565-581. publ. 2009. Figs. 2i-j; 3e

Subarbustos semi-decumbentes, 0,9-1,2 m alt.; ramos levemente quadrangulares, pubescentes, glabrescentes. Pecíolo 0,6-3,5 cm compr., pubescentes, glabrescentes; lâminas ovada-elípticas a elípticas, anisofilia presente, menores 4,3-8 × 1,6-2,9 cm, maiores 21,2-23 × 14,2-16,3 cm, face adaxial adpressa pubescente, face abaxial glabra com nervuras pubescentes, ápice acuminado, base atenuada, margem levemente crenada; nervuras secundárias 5-8 pares. Inflorescência em espigas secundifloras, terminais e axilares; brácteas estéreis 20-30 × 6-10 mm, lanceoladas-falcadas, ápice acuminado, glabrescente abaxialmente, glabra adaxialmente, verde; brácteas férteis 19-23 × 0,4-0,6 mm, lanceoladas, ápice acuminado, pubescente abaxialmente, glabra adaxialmente; bractéolas 10-13 × 1,5-2 mm, linear-lanceoladas, ápice acuminado, pubescente abaxialmente, glabra adaxialmente, vermelhas. Cálice vermelho, pubescente, 4-laciniado, lacínios desiguais (1+1+2), lacínio anterior fundido até a metade do seu comprimento, oblanceolado, 2-2.2 × 0,8-1,1 cm; lacínio posterior oblanceolado, 2,2 × 0,6 cm, ápice acuminado, abaxialmente pubérulo; lacínios laterais linear-lanceolados, 1 × 0,1 cm; corola vermelha, tubo 3-3,2 cm compr., conspicuamente bilabiada, glabra externamente, internamente hirsuta, lábio superior 1-lobado, 1-9 cm compr., lábio inferior 3-lobado, 0,6-1 cm compr.; estames 4, didínamos, filetes 0,2-0,35 cm compr., anteras oblongas, 2 monotecas e 2 bitecas; ovário piloso, estilete 2,4-2,9 cm compr., estigma 2-lobado. Cápsula clavada, 1,3-1,5 cm compr., glabra. Sementes 4, aplanadas, ovadas, com tricomas higroscópicos adpressos cobrindo toda a superfície.

Material examinado: Colorado do Oeste, 2ª eixo esquina com a linha 01, 22.V.2016, F.A. Silva 104 (COOE, MG); Campus do IFRO, Rodovia 399, km 05, 19.VI.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 115 (COOE, MG); 16.VI.2015 F. Bonadeu et al. 940 (COOE).

Lepidagathis callistachys é facilmente diferenciada das demais espécies de Acanthaceae estudadas aqui por apresentar hábito subarbustivo semi-decumbente, pelas inflorescências terminais e axilares formando espigas vermelhas com brácteas estéreis foliáceas verdes (Fig. 3e). Pode ser reconhecida também pela corola curto-bilabiada, 1 par de anteras bitecas e 1 par monotecas, e também pelo cálice de lacínios vermelho (Fig. 2j). O fruto e semente são descritos pela primeira vez no presente estudo.

Na América do Sul a espécie ocorre apenas no Brasil, sendo restrita ao sul de Rondônia e norte do Mato Grosso (Kameyama 2008Kameyama C (2008) New species, nomenclatural changes and lectotypifications in Neotropical Lepidagathis Willd. (Acanthaceae). Kew Bulletin 63: 565-581.). Na área de estudo L. callistachys é encontrada em locais sombreados do interior da mata e também cobre locais onde a vegetação primária foi retirada, frequente em clareiras no interior dos fragmentos. Apresentou flor de maio a junho e fruto durante os meses de julho e agosto.

6. Mendoncia sp. Figs. 2k; 3f

Lianas; ramos cilíndricos, estrigoso-pubescentes. Pecíolo 0,9-1,6 cm compr., estrigoso; lâminas elípticas, 5,7-12,5 × 2,3-5,8 cm, estrigosa em ambas as faces, densas nas nervuras da face abaxial, ápice acuminado, base arredondada, margem inteira, cistólitos ausentes; nervuras secundárias 5-8 pares. Inflorescências em fascículos de 2-7 flores por axila; bractéolas 1,8-2,5 × 0,7-1,3 cm, foliáceas amarelas, ovadas, ápice cuspidado, base concrescida, estrigosas; pedicelo 3-4,2 cm compr.. Cálice 1-laciniado, ca. 0,05 cm compr., glabro; corola vermelha, tubo 2,6-2,9 cm compr., tubulosa, lobos 0,25-0,3 cm compr., pubescentes; estames 4, subdidínamos, filetes inconspícuos, anteras sagitadas; ovário puberulento, estilete 2,4-2,9 cm compr., estigma 2-lobado. Drupa, oblongo-ovada, carnosa-tomentosa. Sementes 1, esférica, glabra.

Material examinado: Colorado do Oeste, campus do IFRO, Rodovia 399, km 05, 19.III.2016, F.A. Silva et al. 67 (COOE); 26.III.2016, F.A. Silva & F. Bonadeu 71 (COOE); 21.V.2016, F.A. Silva 101 (COOE), F.A. Silva 144 (COOE, MG).

Mendoncia sp. é caracterizada, principalmente pela inflorescência em fascículo, flores de corola tubulosa vermelha, com um par de bractéolas fundidas na base do pedicelo encobrindo parte dela e pela presença do fruto drupáceo (Fig. 2k). Assemelha-se a Mendoncia aspera Ruiz & Pav., pela corola vermelha e pelas bractéolas ovadas, porém distingue-se desta por apresentar ramos cilíndricos (vs. subtetragonais), bractéolas amarelas (vs. verde) e sete flores por axila (vs. 2-3) (Wasshausen & Wood 2004Wasshausen DC & Wood JRI (2004) Acanthaceae of Bolivia. Contributions from the United States National Herbarium 49: 1-152.). Trata-se de uma provável espécie nova, entretanto são necessários estudos mais aprofundados no gênero para a confirmação desta hipótese.

Apesar de ser amplamente distribuído no Brasil, não existia citação de nenhuma espécie de Mendoncia Vell. ex Vand. para o estado de Rondônia. Em Colorado do Oeste, Mendoncia sp. foi coletada sob as árvores em bordas de fragmentos de mata, onde foram registrados indivíduos com flor no mês de março e com fruto abril a maio.

7. Pseuderanthemum congestum (S. Moore) Wassh., Dubs Prodr. Fl. Matogrossensis Ser. B, part 1: 3. 1998. Fig. 2l

Subarbustos, 0,25-0,3 m alt.; ramos subcilíndricos lenhosos, densamente pubescentes. Séssil, pubescente; lâminas lanceoladas, anisofilia presente, 7-2,9 × 0,8-2,5 cm, pubérulas, ápice acuminado, base assimétrica, margem inteira, cistólitos ausentes; nervuras secundárias 6-8 pares. Inflorescência em dicásio, terminais e com flores nas axilas das folhas superiores; brácteas inconspícuas, 2 bractéolas lineares-lanceoladas; flores sésseis. Cálice 5-laciniado, lacínios iguais, 0,2-0,3 cm compr., lineares, pubescentes; corola púrpura, tubo 1,5-1,7 cm compr., cilíndrico, lobos 0,5-0,7 cm compr.; pubérula; estames 2, homodínamos, filetes subsésseis com ca. 0,05 cm compr., anteras oblongas, 2 estaminódios filiformes; ovário glabro, estilete 1,3-1,5 cm compr., estigma 2-lobado. Fruto não visto.

Material examinado: Colorado do Oeste, campus do IFRO, Rodovia 399, km 05, 10.VII.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 134 (COOE).

Pseuderanthemum congestum é caracterizada por apresentar hábito subarbustivo, ramo lenhoso, densamente pubescente, pelas folhas sésseis com anisofilia presente (Fig. 2l), inflorescências em dicásio (Wasshausen & Wood 2004Wasshausen DC & Wood JRI (2004) Acanthaceae of Bolivia. Contributions from the United States National Herbarium 49: 1-152.), corola com dois estames subsésseis e dois estaminódios.

A espécie é amplamente distribuída na Bolívia e Brasil (Wasshausen & Wood 2004Wasshausen DC & Wood JRI (2004) Acanthaceae of Bolivia. Contributions from the United States National Herbarium 49: 1-152.). No Brasil ocorre nos estados do Acre, Amazonas, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Rondônia (Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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). Na área de estudo foi coletada na borda de uma trilha de dossel aberto, com flor no mês de julho. Durante as expedições de campo foi coletado apenas um indivíduo, o que pode ser indicativo de uma espécie rara para a região.

8. Ruellia brevifolia (Pohl) C.Ezcurra, Darwiniana 29: 278. 1989. Figs. 2m; 3g

Nome vulgar: pingo-de-sangue (Lorenzi & Souza 2008Lorenzi H & Souza HM (2008) Plantas ornamentais no Brasil: arbustivas, herbáceas e trepadeiras. 4a ed. Instituto Plantarum, Nova Odessa. 1088p.), juju-miúdo (RO).

Subarbustos, 1-2,2 m alt.; ramos quadrangulares, mais velhos glabros, jovens pubérulos. Pecíolo 0,5-5,3 cm compr., pubérulo; lâminas ovadas a elípticas, 8,4-19 × 2,9-8 cm, glabra, ápice atenuado, base decorrente assimétrica, margem inteira, cistólitos presentes; nervuras secundárias 5-8 pares. Inflorescência em cimeira; brácteas lanceoladas-falcadas, 15-20 × 2,5-3,5 mm, foliáceas; bractéolas lineares, 8-10 × 1-1,5 mm, foliáceas; pedicelo 0,2-0,5 cm compr. Cálice 5-laciniado, lacínios iguais, 0,9-1,2 cm compr., lineares, pubérulos; corola vermelha externamente, amarelada internamente na fauce, inflada ventralmente, urceolada, 3-4 cm compr., porção estreita, 0,5-1 × 0,2-0,3 cm, lobos suborbiculares, 0,2-0,3 × 0,3-0,4 cm, glabra; estames 4, homodínamos, filetes 1,4-2,6 cm compr., anteras oblongas; ovário pubérulo, estilete 1,8-2,6 cm compr., estigma 2-lobado. Cápsula clavada, pubérula, presença de tricomas glandulares. Sementes 4-12, suborbiculares, com tricomas higroscópicos na margem.

Material examinado: Colorado do Oeste, campus do IFRO, Rodovia 399, km 05, 21.V.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 93 (COOE, MG); 96 (COOE); 99 (COOE, MG); 21.VIII.2015, F. Bonadeu et al. 942 (COOE); 2.VII.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 130 (COOE, MG).

Ruellia brevifolia é caracterizada por apresentar inflorescência em cimeira (Fig. 2m), com flores vermelhas, corola urceolada com fauce amarelada internamente. No presente estudo, foi observada uma variação quanto à coloração das folhas: os exemplares encontrados na borda de mata apresentaram ambas as faces verdes, contrastando com folhas com face abaxial roxa nos indivíduos coletados no interior da mata.

Ruellia brevifolia assemelha-se a R. inflata por apresentarem corola vermelha e cápsulas pubérulas, mas difere-se desta pelo hábito subarbustivo (vs. lianescente), ramos glabros ou pubérulos (vs. pilosos ou glabrescente), frutos com tricomas glandulares (vs. simples).

A espécie é amplamente distribuída na América do Sul, desde a Colômbia até o norte da Argentina (Ezcurra 1993Ezcurra C (1993) Systematics of Ruellia (Acanthaceae) in southern South America. Annals of the Missouri Botanical Garden 80: 787-845.). Sua ampla distribuição na América do Sul pode estar associada a sua utilização como planta ornamental em regiões tropicais, isso pode ter contribuido para a expansão em novas áreas, onde muitas vezes torna-se naturalizada (Ezcurra 1993Ezcurra C (1993) Systematics of Ruellia (Acanthaceae) in southern South America. Annals of the Missouri Botanical Garden 80: 787-845.). No Brasil, ocorre no Acre, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Rondônia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Santa Catarina (Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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). Na área de estudo é comum nas bordas e clareiras dos fragmentos. Nos fragmentos coletados foram observados indivíduos com flor e fruto ao longo de todo o período de coleta, porém com maior intensidade entre os meses de abril a agosto.

9. Ruellia inflata Rich., Actes Soc. Hist. Nat., Paris 1: 110. 1792. Figs. 2n; 3h

Lianas; ramos quadrangulares, pilosos ou glabrescentes, indumento esbranquiçados e com indumento farináceo ferrugíneo. Pecíolo 0,3-1,1 cm compr., piloso ou glabrescente, indumento esbranquiçados e com indumento farináceo ferrugíneo; lâminas elípticas ou elíptica-oblongas, 4,2-15,2 × 2,1-5,6 cm, glabras, com nervuras esparsamente pubérulas, ápice acuminado, base arredondada a cordada assimétrica, margem repanda a crenada, cistólitos presentes; nervuras secundárias 4-8 pares. Inflorescência em cimeira, axilar; bractéolas oblanceoladas, 10-13 × 2,5-3 mm, foliáceas; pedicelo 0,2-0,3 cm compr. Cálice 5-laciniado, lacínios iguais, 1,8-2,2 cm compr., lineares, pubescentes e com indumento farináceo ferrugíneo; corola vermelha, inflada ventralmente, 4,5-6 cm compr., porção estreita, 1,5-2 × 0,3 cm, porção alargada cilíndrica, 2,5-3 × 1,2-1,5 cm, garganta comprimida dorsoventralmente, lobos suborbiculares, 0,6-0,8 × 1,2-1,5 cm, pubescentes; estames 4, homodínamos, filetes 3,4-3,6 cm compr., anteras oblongas; ovário pubérulo, estilete 6,1-7,8 cm compr., estigma 2-lobado. Cápsula clavada, pubérula, presença de tricomas simples. Sementes 4-8, orbiculares, com tricomas higroscópicos cobrindo toda a superfície.

Material examinado: Colorado do Oeste, campus do IFRO, Rodovia 399, km 05, 21.V.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 90 (COOE, MG); 19.VI.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 116 (COOE, MG); 27.VIII.2016, F.A. Silva et al. 140 (COOE, MG); 15.V.2016, 2ª eixo próximo a linha 1, F.A. Silva 89 (COOE).

Ruellia inflata é caracterizada por apresentar hábito lianescente, inflorescência em cimeira e corola inflada vermelha com garganta ventricosa (Fig. 2n). Apresenta, ainda, indumento farináceo ferrugíneo em muitas de suas estruturas, o que auxilia no seu pronto reconhecimento. Apresenta afinidades morfológicas com R. brevifolia (ver comentário da espécie).

A espécie ocorre na Guiana Francesa, Bolívia e Colômbia (Wasshausen & Wood 2004Wasshausen DC & Wood JRI (2004) Acanthaceae of Bolivia. Contributions from the United States National Herbarium 49: 1-152.). No Brasil, ocorre no Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia (Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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). Na área de estudo, foi encontrada sobre árvores de até 10 m de altura, tanto na borda como no interior dos fragmentos florestais, também é frequente sobre as árvores das margens de cachoeiras e córregos. Os indivíduos foram coletados em flor nos meses de maio a junho e com frutos nos meses de julho a setembro.

10. Ruellia jussieuoides Schltdl. & Cham. Linnaea 6: 370-371. 1831. Figs. 2o; 3i

Subarbustos, 0,7-2,2 m alt.; ramos subtetragonais a tretagonais, glabrescentes. Pecíolo 0,5-4,5 cm compr., glabrescentes; lâminas ovadas ou oblongo-ovadas, 7,8-19,5 × 2,1-4,6 cm, pubescentes, ápice acuminado, base atenuada, margem levemente crenada, cistólitos presentes; nervuras secundárias 8-15 pares. Flores solitárias, axilares, com até 5 por axila; bractéolas oblongo-elípticas, 11-16 × 4-6 mm, foliáceas, pubescentes; flores subsésseis. Cálice 5-laciniado, lacínios iguais, 0,9-1,1 cm compr., lineares, hirsuto; corola lilás a roxa, infundibuliforme, 4,1-6,3 cm compr., porção estreita, 2,5-4,5 × 0,3 cm, porção alargada, 1,5-1,8 × 0,5-0,6 cm, lobos suborbiculares de ápice emarginados, 1-1,6 × 1,2-1,5 cm, pubescente, com tricomas glandulares esparsos; estames 4, didínamos, filetes 0,4-0,5 cm compr., anteras sagitadas; ovário glabro, estilete 4,5-4,9 cm compr., estigma 2-lobado. Cápsula clavada, pubescente. Sementes 8-12, orbiculares, com tricomas higroscópicos cobrindo toda a superfície.

Material examinado: Colorado do Oeste, campus do IFRO, Rodovia 399, km 05, 2.VII.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 129 (COOE, MG); 10.VII.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 132 (COOE, MG).

Ruellia jussieuoides é caracterizada por apresentar folhas com nervuras secundárias elevadas acima do seu plano, flores solitárias axilares terminais com a porção estreita da corola longa com mais o que o dobro do tamanho da porção alargada (2,5-4,5 cm compr.) e pelas anteras sagitadas.

Assemelha-se a R. nitida quanto à estrutura e cor da corola, mas difere-se por apresentar lacínios do cálice hirsuto (Fig. 2o) (vs. densamente glandular, Fig. 2p), flores solitárias e axilares (vs. inflorescência em cimeira) e sementes com tricomas higroscópicos que cobre toda a superfície da semente (vs. a presença de tricomas higroscópicos apenas na margem da semente).

Esta espécie ocorre no México e Panamá (Tripp & McDade 2012Tripp EA, McDade LA (2012) New synonymies for Ruellia (Acanthaceae) of Costa Rica and notes on other Neotropical species. Brittonia 64: 305-317.). Também ocorre na Bolívia, Peru, Equador e na região central do Brasil (Wasshausen & Wood 2004Wasshausen DC & Wood JRI (2004) Acanthaceae of Bolivia. Contributions from the United States National Herbarium 49: 1-152.). No Brasil ocorre no Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e São Paulo (Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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), sendo registrada pela primeira vez para Rondônia no presente estudo. Na área de estudo foi coletado um indivíduo de R. jussieuoides sobre uma palmeira, apresentando hábito epifítico facultativo. O hábito predominante da espécie é terrestre, provavelmente o processo de dispersão elástica dos frutos possibilitou que alguma semente chegasse até a palmeira. É frequente nos fragmentos coletados ao longo de cursos de água e em locais úmidos e sombreados, sempre habitando locais bem preservados. Foram registrados indivíduos com flor e fruto de junho a julho.

11. Ruellia nitida (Nees) Wassh. & J.R.I.Wood, Proc. Biol. Soc. Wash. 116: 269. 2003. Figs. 2p; 3j-k

Subarbustos, 0,5-0,9 m alt.; ramos quadrangulares, glabros. Pecíolo 0,9-1,3 cm compr., glabrescentes; lâminas oblongo-lanceoladas, 4,5-21,5 × 2,1-4,5 cm, pubescente, ápice acuminado, base atenuada, margem levemente repanda, cistólitos presentes; nervuras secundárias 5-12 pares. Inflorescência em cimeira; brácteas e bractéolas lineares, 5-6 × 0,4-0,7 mm; flores subsésseis. Cálice 5-laciniado, lacínios iguais, 0,9-1,1 cm compr., lineares, densamente glandulares; corola lilás, infundibuliforme, 3-3,6 cm compr., porção estreita, 2-2,4 × 0,2 cm, porção alargada em forma de funil, 0,5-1 × 0,4-0,7 cm, lobos suborbiculares, 0,5-0,7 × 0,5-0,6 cm esparsamente pubérula; estames 4, didínamos, filetes 0,6-0,8 cm compr., antera oblonga, com base sagitada; ovário glabro, estilete 2,8-3,2 cm compr., estigma 2-lobado. Cápsula clavada, pubérula. Sementes 12-14, orbiculares planas, com tricomas higroscópicos apenas na margem.

Material examinado: Colorado do Oeste, campus do IFRO, Rodovia 399, km 05, 19.VI.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 124 (COOE, MG); 2.VII.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 127 (COOE, MG), (SP); 10.VII.2016, F.A. Silva & J.S. Reis 131 (COOE, MG); 27.VIII.2016, F.A. Silva 141 (COOE).

Ruellia nitida é caracterizada por apresentar corola lilás infundibuliforme e cálice densamente glandular. Assemelha-se a R. jussieuoides (ver comentário da espécie).

A espécie é frequente em florestas sazonalmente úmidas, sendo encontrada no nordeste da Bolívia e no Brasil com ocorrência para o Amazonas, Mato Grosso e Rondônia (Wasshausen & Wood 2004Wasshausen DC & Wood JRI (2004) Acanthaceae of Bolivia. Contributions from the United States National Herbarium 49: 1-152.). Sua distribuição também foi confirmada para o Acre e Goiás (Flora do Brasil 2020 (2019)Flora do Brasil 2020 (2019) Acanthaceae In: Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB33> Acesso em 01 outubro 2019.
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). Na área de estudo, a espécie forma um tapete nas bordas das trilhas, ocorrendo em áreas com dossel aberto. Foram coletados indivíduos com flor e fruto entre os meses de junho a agosto.

Considerações finais

Os resultados do presente estudo evidenciam elevada riqueza da família para a área, apesar de ser formada por fragmentos de florestas que estão sujeitos a impactos ecológicos e a ação antrópica. A maioria das espécies é encontrada em áreas mais conservadas, habitando o interior dos fragmentos em locais úmidos e sombreados ou parcialmente sombreados, esse é um indicativo que a região ainda possui ambientes com condições favoráveis ao desenvolvimento de espécies mais exigentes quanto à qualidade do ambiente.

A ocorrência de quatro novos registros para Rondônia demonstra o quanto essas áreas ainda são pouco estudadas. Nessa perspectiva, sugere-se que sejam realizadas mais coletas na região a fim de ampliar o conhecimento dessas formações vegetacionais negligenciadas em estudos de levantamentos florísticos, podendo assim, obter novos registros para a flora do estado e/ou novas espécies para a ciência. Além disso, ressalta-se a importância da preservação da biodiversidade desses fragmentos e a necessidade de medidas de conservação para manter a diversidade local.

  • 1
    Parte do trabalho de conclusão de curso apresentado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia, Campus Colorado do Oeste, RO, Brasil.
  • Editor de área: Dr. Pedro Viana

Agradecimentos

Ao Instituto Federal de Rondônia o apoio logístico e a infraestrutura disponibilizada para a realização desta pesquisa; ao Dr. Cláudio Nicoletti de Fraga a indicação desta família e os primeiros ensinamentos taxonômicos; a Dra. Cíntia Kameyama a confirmação das identificações.

Lista de exsicatas

Bonadeu F 932 (4), 940 (5), 942 (8). Silva FA 67 (6), 71 (6), 85 (2), 88 (2), 89 (9), 90 (9), 93 (8), 96 (8), 99 (8), 101 (6), 102 (1), 104 (5), 110 (1), 115 (5), 116 (9), 117 (2), 124 (11), 125 (3), 126 (4), 127 (11), 128 (3), 129 (10), 130 (8), 131 (11), 132 (10), 134 (7), 135 (1), 138 (4), 140 (9), 144 (6).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    21 Ago 2017
  • Aceito
    29 Jun 2018
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