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Motivos para a prática de esportes em atletas jovens e fatores associados

Sports practice motives in young athletes and associated factors

Resumos

O objetivo do estudo foi identificar os motivos para a prática de esporte em uma amostra de atletas jovens brasileiros de acordo com sexo, idade, condição econômica e modalidade esportiva. A amostra foi constituída por 1.517 sujeitos (714 moças e 803 rapazes), com idades entre 12 e 18 anos. Os motivos para a prática de esporte foram identificados mediante a versão traduzida para o idioma português do Participation Motive Questionnaire (PMQ). O tratamento estatístico dos dados foi realizado mediante análise de covariância. Os resultados indicaram que os motivos mais importantes para a prática de esportes foram "Competência Técnica" e "Aptidão Física", enquanto os menos importantes foram "Diversão" e "Reconhecimento Social". Sexo, idade, condição econômica e modalidade esportiva (coletiva/individual) influenciaram significativamente os motivos apontados pelos atletas jovens para a prática de esportes e, portanto, deverão ser variáveis a serem consideradas para manter os níveis de sua prática.

PMQ; Treino Esportivo; Adolescentes


The purpose of this study was to identify the sports practice motives in a sample of Brazilian young athletes according to sex, age, economic status and type of sport. A total of 1517 subjects (714 girls and 803 boys) aged 12 to 18 years-old were included in the study. To identify the sports practice motives we used the version translated into Portuguese of the Participation Motive Questionnaire (PMQ). The statistical treatment of data was performed by analysis of covariance. The results indicated that the most important sports practice motives were "Skill" and "Physical Fitness", while the less important were "Fun" and "Achievement/Status". Sex, age, economic status and type of sport (collective/individual) have significantly influenced the motives given by young athletes to the practice of sports and thus should be considered in order to maintain levels of its practice.

PMQ; Sports Training; Adolescents


ARTIGOS ORIGINAIS

Motivos para a prática de esportes em atletas jovens e fatores associados

Sports practice motives in young athletes and associated factors

Dartagnan Pinto GuedesI; José Evaristo Silvério NettoII

IDoutor. Centro de Pesquisa em Ciências da Saúde. Universidade Norte do Paraná - Unopar, Brasil

IIMestre. Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física UEM/UEL, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dartagnan Pinto Guedes Rua Ildefonso Werner 177 Condomínio Royal Golf CEP: 86055-545, Londrina, Paraná, Brasil E-mail: darta@sercomtel.com.br

RESUMO

O objetivo do estudo foi identificar os motivos para a prática de esporte em uma amostra de atletas jovens brasileiros de acordo com sexo, idade, condição econômica e modalidade esportiva. A amostra foi constituída por 1.517 sujeitos (714 moças e 803 rapazes), com idades entre 12 e 18 anos. Os motivos para a prática de esporte foram identificados mediante a versão traduzida para o idioma português do Participation Motive Questionnaire (PMQ). O tratamento estatístico dos dados foi realizado mediante análise de covariância. Os resultados indicaram que os motivos mais importantes para a prática de esportes foram "Competência Técnica" e "Aptidão Física", enquanto os menos importantes foram "Diversão" e "Reconhecimento Social". Sexo, idade, condição econômica e modalidade esportiva (coletiva/individual) influenciaram significativamente os motivos apontados pelos atletas jovens para a prática de esportes e, portanto, deverão ser variáveis a serem consideradas para manter os níveis de sua prática.

Palavras-chave: PMQ. Treino Esportivo. Adolescentes.

ABSTRACT

The purpose of this study was to identify the sports practice motives in a sample of Brazilian young athletes according to sex, age, economic status and type of sport. A total of 1517 subjects (714 girls and 803 boys) aged 12 to 18 years-old were included in the study. To identify the sports practice motives we used the version translated into Portuguese of the Participation Motive Questionnaire (PMQ). The statistical treatment of data was performed by analysis of covariance. The results indicated that the most important sports practice motives were "Skill" and "Physical Fitness", while the less important were "Fun" and "Achievement/Status". Sex, age, economic status and type of sport (collective/individual) have significantly influenced the motives given by young athletes to the practice of sports and thus should be considered in order to maintain levels of its practice.

Keywords: PMQ. Sports Training. Adolescents.

INTRODUÇÃO

Os componentes motivacionais relacionados à prática de esporte em idades jovens têm se constituído em tema de grande relevância para a área do conhecimento (GILL; WILLIAMS, 2008). O interesse pelo tema derivou de estudos no campo da psicologia relacionada ao esporte que propuseram analisar a motivação mediante percepções e atitudes demonstradas pelos jovens praticantes de esporte, ao invés de assumir o conceito tradicional de motivação vinculada à qualidade inata (HARWOOD; BIDDLE, 2002). O foco de análise dos motivos para a prática de esporte em idades jovens justifica-se com base no pressuposto de que a infância e a adolescência são períodos críticos para iniciar a participação efetiva em programas regulares de esporte ou, pelo contrário, abandonar por completo sua prática com repercussão para idades futuras (SIRARD; PFEIFFER; PATE, 2006).

Os motivos que podem levar os jovens a praticar esporte resultam da combinação de múltiplos atributos sociais, ambientais e individuais que determinam a opção por modalidade específica, a persistência em sua prática e o envolvimento em treinos mais intensos na busca de alto rendimento (WEINBERG; TENENBAUM; McKENZIE, 2000). Em vista disso, estudos que envolvem componentes motivacionais relacionados à pratica de esporte tornam-se de fundamental importância, considerando que permite identificar as razões que levam os jovens a iniciar sua prática e os fatores que justificam sua permanência.

Estudos prévios apontam que os motivos subjacentes à prática de esportes são bastante variados e, embora possa ser possível identificar motivos comuns para todos, estes se modificam em função da interação entre sexo, idade e contexto sociocultural em que o jovem está inserido (CECCHINI; MÉNDEZ; NUÑIZ, 2002). A identificação dos motivos associados à prática de esporte possibilita aos profissionais da área delinear ações de maneira mais eficiente que possam promover clima motivacional favorável, o que permite aos atletas jovens maiores oportunidades de alcançarem suas metas, elevando, desse modo, as chances de aderência aos programas de esporte e, por consequência, reduzindo a probabilidade de abandono.

Em consulta a literatura verifica-se que os estudos disponibilizados foram realizados envolvendo atletas jovens de países europeus (ALEXANDRIS; CARROLL, 1997; BUONAMANO; CEI; MUSSINO, 1995; CECCHINI; MÉNDEZ; NUÑIZ, 2002; FRAILE, De DIEGO; 2006; JONES; MACKAY; PETERS, 2006), norte-americanos (GILL; GROSS; HUDDLESTON, 1983; SIRARD; PFEIFFER; PATE, 2006; WEINBERG; TENENBAUM; McKENZIE; JACKSON; ASHEL; GROVE; FOGARTY, 2000) e asiáticos (GÜRBUZ; ALTYNTAS; ASCI; HÜLYA, 2007; SHANG, 1997; THIBORG, 2005). Esses estudos têm identificado grupo consistente de motivos para a prática de esporte. Contudo, a generalização de seus resultados para o contexto de países latino-americanos pode suscitar importantes limitações em razão de diferenças quanto à cultura esportiva desses países. Portanto, o objetivo do estudo foi identificar os componentes motivacionais relacionados à prática de esporte em atletas jovens brasileiros de acordo com sexo, idade, condição econômica e modalidade esportiva praticada.

MÉTODOS

A população de referência para o estudo incluiu atletas jovens de ambos os sexos, com idades entre 12 e 18 anos, participantes dos Jogos da Juventude do Paraná no ano 2009. Participaram desta competição por volta de 4.850 atletas jovens em 15 modalidades esportivas: basquetebol, handebol, voleibol, vôlei de praia, futsal, futebol, atletismo, ginástica rítmica, natação, judô, karatê, taekowdo, tênis de campo, tênis de mesa e xadrez.

Para seleção da amostra, utilizou-se o método não probabilístico casual. Para tanto, previamente ao início das competições, todos os técnicos e dirigentes participantes dos Jogos foram contatados e informados quanto à natureza, aos objetivos do estudo e ao princípio de sigilo. Na sequência, foi solicitada autorização para contatar e convidar os atletas jovens para participarem do estudo. Mediante confirmação pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, 1.517 atletas jovens (714 moças e 803 rapazes), concordaram em participar do estudo, o que representou por volta de 30% do universo de participantes da competição.

A coleta dos dados foi realizada mediante instrumento constituído de duas seções: indicadores equivalentes ao histórico de treino e motivos para a prática de esporte. Foram levantadas também informações quanto ao sexo, à idade e à classe econômica familiar. Para identificação da classe econômica familiar recorreu-se à diretriz proposta pela Associação Nacional de Empresas de Pesquisa (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA, 2008). No caso do histórico de treino, foram obtidas informações quanto à modalidade esportiva praticada, ao tempo de treino na modalidade, à duração das sessões de treino, à frequência semanal das sessões de treino e ao resultado esportivo mais expressivo.

As informações relacionadas aos motivos para a prática de esporte foram obtidas mediante a aplicação do Participation Motivation Questionnaire (PMQ), traduzido, adaptado e validado para utilização na população jovem brasileira (GUEDES; SILVÉRIO NETTO, 2013). O PMQ foi originalmente idealizado em língua inglesa (GILL; GROSS; HUDDLESTON, 1983); porém, na sequência, foi traduzido e validado para utilização em outros idiomas (BUONAMANO; CEI, MUSSINO, 1995; DOULIAS; KOSMIDOU; PAULOGIANNIS; PATSIAOURAS, 2005; SHANG, 1997; THIBORG, 2005). Trata-se de um questionário com 30 itens equivalentes ao elenco de possíveis motivos que possam levar atletas jovens a praticarem esportes, agrupados em oito fatores de motivação: (a) reconhecimento social; (b) atividade de grupo; (c) aptidão física; (d) emoção; (e) competição; (f) competência técnica; (g) afiliação; e (h) diversão. Em seu delineamento, o respondente indica o grau de importância que mais se aplica para a sua prática de esporte, mediante escala de medida tipo Lickert de cinco pontos (1 = "nada importante" a 5 = "muito importante").

O instrumento de medida foi aplicado em um único momento, individualmente para cada atleta jovem e por um mesmo pesquisador. Procurou-se evitar a aplicação do instrumento em situações em que os atletas jovens pudessem estar sob o efeito de estresse pré ou pós-competição. Neste caso, utilizaram-se os momentos em que os atletas jovens não se encontravam em ambiente de competição ou quando eram somente expectadores das competições. Os atletas jovens receberam o instrumento com instruções e recomendações para o seu preenchimento, não sendo estabelecido limite de tempo para o seu término. Eventuais dúvidas manifestadas pelos respondentes foram prontamente esclarecidas pelo pesquisador que acompanhava a coleta dos dados.

Quanto ao tratamento estatístico, inicialmente, foi testada a distribuição de frequência dos dados por intermédio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Considerando que os dados mostraram distribuição de frequência normal, recorreram-se aos recursos da estatística paramétrica, mediante cálculo de média e desvio-padrão e, na sequência, para identificação de diferenças específicas entre os estratos considerados a partir das variáveis independentes, à análise de covariância acompanhada do teste de comparação múltipla de Scheffe. Os dados foram tratados utilizando-se o pacote estatístico computadorizado SPSS - versão 17.0. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina, Paraná (Parecer 086/08).

RESULTADOS

O detalhamento quanto ao sexo, à idade, à classe econômica familiar e ao histórico de treino dos atletas jovens selecionados para o estudo está descrito na Tabela 1. Dos 1.517 atletas jovens envolvidos no estudo, 47% eram moças e, considerando ambos os sexos, 49,3% deles tinham entre 15 e 16 anos e proporção similar se distribuiu em idades < 14 anos e ≥ 17 anos. Contudo, identificou-se maior proporção de rapazes (30,9%), em comparação com as moças (18,5%), em idades ≥ 17 anos. No que se refere à classe econômica familiar, com proporções similares em ambos os sexos, 25,2% foram categorizados na classe A (maior classe econômica) e 2,8% na classe D (menor classe econômica). Nas classes intermediárias B e C foram identificados 48,7% e 23,3% dos atletas jovens selecionados na amostra.

No que se refere ao histórico de treino, proporções similares de moças (28,7%) e rapazes (31,3%) iniciaram os treinos em idades < 9 anos; no entanto, mais elevada proporção de rapazes iniciaram os treinos em idades ≥ 14 anos (23,4% versus 13,7%). Quanto à experiência de treino, identificou-se menor tempo de treino entre as moças, sendo que, 30,8% delas apontaram ter < 2 anos de treino em comparação com 18,1% dos rapazes. Com experiência de treino ≥ 7 anos observou-se 15,2% das moças e 25,5% dos rapazes. De maneira similar em ambos os sexos, maior proporção de atletas jovens reunidos na amostra (44,6%) treinavam ≥ 5 vezes/semana e 14,1% relataram frequência de treino < 2 vezes/semana. Com relação à duração das sessões de treino, 68,3% apontaram treinar 1-2hs/sessão e 22,6% 3 - 4h/sessão. Constatou-se predomínio de treino em modalidades coletivas (61,5%) e 84,7% dos atletas jovens demonstraram experiência em competições de abrangência regional e estadual. Do restante, 10,9% e 4,4% relataram experiência em competições nacionais e internacionais, respectivamente.

Na Tabela 2 são apresentados os valores equivalentes a cada fator de motivação para prática de esportes apontados pelos atletas jovens reunidos no estudo. Ao considerar a hierarquia dos valores médios encontrados para cada fator de motivação, verifica-se que os fatores mais importantes foram característicos de um contexto de motivação relacionada à "Competência Técnica" (4,22 ± 0,83) e à "Aptidão Física" (4,09 ± 1,02). Os fatores menos importantes se identificaram em um contexto de motivação relacionada à "Diversão" (2,86 ± 1,22) e ao "Reconhecimento Social" (2,78 ± 1,15). Os quatro outros fatores de motivação foram reunidos em posição intermediária em que os valores médios observados nos fatores "Afiliação" (3,90 ± 1,10) e "Atividade de Grupo" (3,89 ± 1,04) se diferiram significativamente dos valores médios encontrados nos fatores "Competição" (3,45 ± 1,06) e ""Emoção" (3,29 ± 1,18).

Na Tabela 3 são apresentadas informações estatísticas equivalentes aos fatores de motivação separadamente por sexo. Os resultados da análise de covariância, controlando estatisticamente a idade e a classe econômica familiar, apontaram diferenças estatísticas entre ambos os sexos em quatro fatores de motivação considerados. Neste caso, os rapazes assinalaram oferecer significativamente maior importância para a prática de esporte nos fatores "Competição" (F = 6,243; p = 0,011) e "Competência Técnica" (F = 7,808; p < 0,001). Enquanto as moças demonstraram valores médios significativamente mais elevados nos fatores "Atividade de Grupo" (F = 4,285; p = 0,039) e "Afiliação" (F = 5,846; p = 0,015). No que se refere à organização hierárquica, tendo como referência a magnitude dos valores médios de cada fator de motivação, moças e rapazes também apontaram ordem de importância diferente nos fatores de motivação para a prática de esporte. Se, por um lado, os rapazes elegeram igualmente os fatores de motivação "Competência Técnica" e "Aptidão Física" como os mais importantes para se praticar esporte, por outro, as moças apontaram como mais importantes, além desses dois fatores, os fatores de motivação "Atividade de Grupo" e "Afiliação".

As informações estatísticas equivalentes aos fatores de motivação tendo em conta a idade dos atletas jovens são disponibilizadas na Tabela 4. Os resultados da análise de covariância, mediante controle estatístico quanto ao sexo e à classe econômica familiar, apontam diferenças significativas em quatro dos fatores de motivação considerados. Os fatores de motivação relacionados ao "Reconhecimento Social" (F = 3,919; p = 0,034) e à "Diversão" (F = 5,393; p < 0,001) apresentaram valores médios significativamente maiores nos atletas jovens com menos idade; ao passo que os fatores de motivação identificados com a "Competição" (F = 9,289; p < 0,001) e a "Competência Técnica" (F = 5,201; p = 0,006) apresentam valores médios significativamente mais elevados com o avanço da idade. Chama atenção o fato das diferenças estatísticas mais importantes serem observadas entre os valores médios apresentados pelos atletas jovens com idades < 14 anos em comparação com seus pares com idades ≥ 17 anos. Na confrontação dos valores médios equivalentes aos atletas jovens reunidos nos grupos etários 15-16 anos e ≥ 17 anos não são identificadas diferenças que possam ser apontadas em linguagem estatística. A organização hierárquica associada à magnitude dos valores médios de cada fator de motivação é bastante semelhante nos três grupos etários definidos (< 14 anos; 15-16 anos; ≥ 17 anos), sugerindo, desse modo, que a ordem de importância dos fatores de motivação para a prática de esporte tende a não se alterar com a idade dos atletas jovens analisados no estudo.

Quanto à classe econômica familiar, na Tabela 5 são observadas as informações estatísticas associadas à análise de covariância mediante controle de sexo e idade dos atletas jovens. Os resultados sugerem que os valores médios dos fatores de motivação tenderam a ser mais elevados nas classes econômicas familiares mais baixas. As diferenças encontradas foram detectadas estatisticamente no caso dos fatores de motivação relacionados ao "Reconhecimento Social" (F = 2,664; p = 0,031), à "Emoção" (F = 4,902; p = 0,001), à "Afiliação" (F = 3,191; p = 0,027) e à "Diversão" (F = 5,817; p < 0,001), e entre os valores médios identificados somente nos atletas jovens pertencentes à classe econômica familiar mais alta (Classe A) em comparação com os atletas jovens pertencentes à classe econômica familiar mais baixa (Classe D). Por outro lado, apesar das diferenças significativas observadas entre os valores médios, constata-se que a organização hierárquica dos fatores de motivação foi bastante semelhante nos quatro estratos econômicos considerados.

Com relação à modalidade esportiva praticada, mediante informações estatísticas apresentadas na Tabela 6, constatou-se que os atletas jovens que praticavam modalidades esportivas coletivas apresentaram valores médios significativamente mais elevados que seus pares que praticavam modalidades esportivas individuais nos fatores de motivação relacionados à "Atividade de Grupo" (F = 6,218; p < 0,001), à "Competência Técnica" (F = 3,456; p = 0,037) e à "Afiliação" (F = 4,129; p = 0,002). Em contrapartida, diferenças significativas favorecendo os valores médios encontrados entre os atletas jovens que praticavam modalidades esportivas individuais foram observadas nos fatores de motivação relacionados à "Aptidão Física" (F = 7,014; p < 0,001) e à "Competição" (F = 5,137; p < 0,001). A organização hierárquica relacionada à magnitude dos valores médios equivalentes às modalidades esportivas praticadas também apresentou diferenças a serem consideradas. Enquanto os atletas jovens que praticavam modalidades esportivas coletivas elegeram os fatores de motivação relacionados à "Competência Técnica", à "Atividade de Grupo" e à "Afiliação" como os mais importantes para se praticar esporte, os atletas jovens que praticavam modalidades esportivas individuais ofereceram importância apenas intermediária aos fatores de motivação relacionados à "Atividade de Grupo" e à "Afiliação", apontando os fatores de motivação relacionados à "Aptidão Física" e à "Competência Técnica" como os mais importantes para a prática de esporte.

DISCUSSÃO

O estudo buscou identificar os fatores de motivação para a prática de esporte de acordo com sexo, idade, condição econômica e modalidade esportiva praticada na amostra selecionada de atletas jovens. Esta aproximação deverá permitir que se conheçam as características motivacionais de atletas jovens e disponibilizar informações relevantes com o propósito de fomentar a prática de esportes na população jovem. Para tanto, as informações quanto aos fatores de motivação foram obtidas mediante a aplicação do PMQ traduzido e validado para o idioma português. Neste sentido, o PMQ provavelmente seja o instrumento de maior destaque para análise dos motivos que possam levar os jovens a praticar esporte (BUONAMANO; CEI; MUSSINOl, 1995; DOULIAS; KOSMIDOU; PAULOGIANNIS; PATSIAOURAS, 2005; GARCIA; WEIS; VALDIVIESO, 2005; GÜRBUZ; ALTYNTAS; ASCI; HÜLYA, 2007; KOIVULA, 1999; SIRARD; PFEIFFER; PATE, 2006; SHANG, 1997; THIBORG, 2005; ZAHARIADIS; GREECE; BIDDLE, 2000).

Os resultados encontrados revelaram que, de modo geral, a "Competência Técnica" e a "Aptidão Física" foram os principais fatores de motivação para a prática de esporte apontado pelos atletas jovens. Ou seja, os inquiridos indicaram que praticavam esportes fundamentalmente em busca de aprimoramento e manutenção de suas habilidades técnicas e condição física. Mesmo em se tratando de atletas jovens, estes achados não devem ser considerados surpreendentes, assumindo ser perfeitamente compreensível que jovens ao decidirem praticar esporte privilegiem motivos que estão intimamente relacionados ao sucesso de sua prática. Estudos disponibilizados na literatura, envolvendo jovens inseridos em diferentes contextos socioculturais, apresentaram resultados semelhantes (CECCHINI; MÉNDEZ; NUÑIZ, 2002; SIRARD; PFEIFFER; PATE, 2006; WEINBERG; TENENBAUM; McKENZIE; JACKSON; ASHEL; GROVE; FOGARTY, 2000).

Por outro lado, os fatores de motivação relativos à "Diversão" e ao "Reconhecimento Social" foram considerados pelos atletas jovens como os que menos contribuem para sua opção de prática de esporte. No que concerne ao "Reconhecimento Social", informações disponíveis na literatura revelam que, efetivamente, este fator de motivação é, via de regra, considerado como relativamente pouco importante pelos atletas jovens no que se relaciona com sua decisão de praticar esporte (ALDERMAN; WOOD, 1976; WILLIAMS; COX, 2003). No entanto, em relação à busca de "Diversão", as indicações da literatura não são consensuais. De fato, se em alguns estudos este motivo tem sido destacado como sendo um dos mais importantes para os jovens praticarem esportes (CAMPBELL; MacAULEY; McCRUM; EVANS, 2001; WEINBERG; TENENBAUM; McKENZIE; JACKSON; ASHEL; GROVE; FOGARTY, 2000), em outros estudos tal evidência não tem se confirmado (CECCHINI; MÉNDEZ; NUÑEZ, 2002; SIRARD; PFEIFFER; PATE, 2006). Possível justificativa para essa situação possa decorrer do significado semântico atribuído à expressão "divertir". Para alguns jovens, divertimento e entretenimento podem não ser entendidos como fruição, mas sim como brincadeira, sendo, portanto, liminarmente rejeitados, já que o esporte é, para eles, algo muito sério, originando-se assim, a inconsistência de resultados encontrados entre os estudos.

No que se refere aos fatores de motivação relacionados à "Afiliação", à "Atividade de Grupo", à "Competição" e à "Emoção", importantes fatores com predomínio de dimensões da motivação intrínseca, verificou-se que esses foram considerados como tendo importância moderada na decisão dos atletas jovens de praticarem esporte, e em posição significativamente inferior diante de fatores classicamente representantes de dimensões da motivação extrínseca: "Competência Técnica" e "Aptidão Física". Esse achado constitui em dado interessante, e que talvez mereça ser melhor clarificado em futuras investigações, ao se atentar para a proposição de pressupostos teóricos que procuraram enfatizar maior importância de atributos vinculados à motivação intrínseca na decisão dos jovens de praticar esporte (GILL; WILLIAMS, 2008).

Ao tratar os motivos para a prática de esporte de acordo com o sexo, constatou-se que os rapazes atribuíram grau de importância aos fatores de motivação "Competição" e "Competência Técnica" significativamente mais elevada que as moças, enquanto estas valorizaram em maior grau os motivos relacionados à "Atividade de Grupo" e à "Afiliação". Evidências disponibilizadas na literatura confirmam a tendência das moças em se identificarem mais intensamente com motivos sociais e de convivência em grupo para a prática de esporte, ao contrário dos rapazes que tendem a valorizar atributos relacionados ao desafio e à busca de excelência técnica (CECCHINI; MÉNDEZ; NUÑEZ, 2002; SIRARD; PFEIFFER; PATE, 2006; WEINBERG; TENENBAUM; McKENZIE; JACKSON; ASHEL; GROVE; FOGARTY, 2000).

Quanto à idade, apesar dos valores médios observados nos fatores de motivação "Reconhecimento Social" e "Diversão" serem os mais baixos comparativamente com os demais fatores identificados no estudo, os atletas jovens com menos idade atribuíram importância significativamente mais elevada a estes dois fatores que jovens atletas com ≥ 17 anos, o que confirma a pré-disposição típica dos mais jovens em valorizarem o componente lúdico do esporte, ao mesmo tempo em que estabelecem expectativas de serem reconhecidos no contexto social mediante a sua prática (GILL; WILLIAMS, 2008). Aqueles atletas jovens com idades mais avançadas relataram ser significativamente mais motivados que seus pares com < 14 anos para a prática de esporte por conta de atributos vinculados à "Competição" e à "Competência Técnica". Resultados semelhantes foram identificados em estudos anteriores (CECCHINI; MÉNDEZ; NUÑEZ, 2002; HELLANDSIG, 1998; NIGG, 2003) e podem ser justificados em razão dos jovens com mais idade oferecerem significado mais competitivo ao esporte e uma oportunidade de colocar à prova sua competência pessoal.

Aqueles atletas jovens pertencentes à classe econômica familiar menos privilegiada (Classe D) demonstraram ser significativamente mais motivados para a prática de esporte em comparação com os pertencentes à classe econômica familiar mais elevada (Classe A) por intermédio dos fatores "Reconhecimento Social", "Emoção", "Afiliação" e "Diversão". Para o nosso conhecimento, até o momento, eventuais associações entre classe econômica familiar e fatores de motivação para a prática de esporte não foram referidas na literatura; contudo, pressupõe que, entre os atletas jovens de menor nível econômico familiar, em razão do contexto sociocultural em que estão inseridos, possa existir maior interesse na eventual possibilidade de ascensão social que o esporte venha a oferecer aos seus praticantes. Também, a importância que os fatores de motivação "Emoção", "Afiliação" e "Diversão", em conjunto, assume entre os atletas jovens de menor nível econômico familiar, em comparação com seus pares de mais elevado nível econômico familiar, pode estar relacionada às possíveis restrições econômicas a que são submetidos, o que reflete na redução das opções de atividades disponíveis para atender suas expectativas de desfrute, convívio com amigos, lazer e entretenimento, elegendo, desse modo, a prática de esporte como importante recurso neste sentido.

As informações encontradas em relação às modalidades esportivas pressupõem que as escolhas dos esportes que os atletas jovens praticam podem eventualmente ser influenciadas pelos fatores de motivação. Neste sentido, os atletas jovens que praticavam esportes coletivos ofereceram grau de importância significativamente maior aos fatores de motivação "Atividade em Grupo", "Competência Técnica" e "Afiliação", enquanto os que praticavam esportes individuais valorizaram mais intensa e significativamente os fatores de motivação "Aptidão Física" e "Competição". A literatura disponibiliza razoável quantidade de estudos que procuraram identificar os motivos que levam atletas jovens a praticarem esportes coletivos (ALMAGRO; CONDE; MORENO; SAENZ-LOPES, 2009; GARCIA; WEIS; VALDIVIESO, 2005; GÜBURZ; ALTYNTAS; ASCI; HULGA, 2007; THIBORG, 2005), individuais (KLINT; WEISS, 1986; SALGUERO; GONZALEZ-BOTO; TUERO, 2003; SHANG, 1997) e de ambas as características conjuntamente (BUONAMANO; CEI; MUSSINO, 1995; KOIVULA, 1999; SIRARD; PFEIFFER; PATE, 2006; ZAHARIADIS; GREECE; BIDDLE, 2000; WEINBERG, TENENBAUM; McKENZIE; JACKSON; ASHEL; GROVE; FOGARTY, 2000). Contudo, até o momento, desconsideraram-se possíveis diferenças que possam existir entre os motivos que movem os atletas jovens a optarem pela prática de esportes coletivos ou individuais e, neste contexto, mais especificamente quanto aos esportes de quadra, campo, aquáticos, luta, raquete, radicais, entre outros. Em vista disso, os achados encontrados no presente estudo podem ser entendidos como dados exploratórios e contribuir para o delineamento de investigações futuras direcionadas ao aprofundamento desta questão.

CONCLUSÃO

Concluindo, os atletas jovens selecionados no estudo perceberam-se motivados para a prática de esporte, sobretudo por motivos vinculados à autorrealização associada ao domínio/aperfeiçoamento das habilidades esportivas e por motivos de ordem fisiológica direcionados ao condicionamento físico, uma vez que os fatores de motivação mais pontuados foram "Competência Técnica" e "Aptidão Física". Também, identificou-se impacto importante do sexo, da idade, da classe econômica e da modalidade esportiva praticada nos fatores de motivação para a prática de esporte.

Neste caso, é notória a importância atribuída aos motivos inerentes à prática de esportes relacionados ao domínio e ao aprimoramento das habilidades esportivas, à realização de exercício físico e à manutenção de boas condições físicas. Portanto, são motivos voltados à tarefa, relacionados com a atividade em si, e não, com o que a atividade pode proporcionar de desfrute, assim, motivos mais autodeterminados. Intervenções neste contexto devem ser oferecidas a fim de contemplar estas demandas motivacionais, proporcionando maior qualidade socioafetiva nas rotinas de treino, possibilitando, desse modo, maior chance de aderência presente e futura a prática de esporte.

Por fim, chama-se atenção para a necessidade de futuros estudos com delineamentos longitudinais, na tentativa de reunir subsídios para o entendimento mais efetivo quanto ao impacto de indicadores sociodemográficos e histórico de treino nos fatores de motivação para a prática de esporte em períodos específicos da carreira esportiva de atletas jovens e na idade adulta.

Recebido em 05/09/2011

Revisado em 29/10/2012

Aceito em 27/11/2012

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Ago 2013
    • Data do Fascículo
      Mar 2013

    Histórico

    • Recebido
      05 Set 2011
    • Aceito
      27 Nov 2012
    • Revisado
      29 Out 2012
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