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Riscos ergonômicos e sintomas musculoesqueléticos em técnicos administrativos do Instituto Federal Catarinense durante o teletrabalho na pandemia da COVID-19

Riesgos ergonómicos y síntomas musculoesqueléticos en técnicos administrativos del Instituto Federal Catarinense durante el teletrabajo en la pandemia del COVID-19

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar os sintomas osteomusculares e os riscos ergonômicos nos ambientes de teletrabalho dos técnicos administrativos do Instituto Federal Catarinense (IFC). Participaram 142 técnicos administrativos, que responderam um questionário online sobre informações sociodemográficas, realização de tarefas, ambiente de trabalho e dor musculoesquelética. Os dados foram analisados por meio de uma regressão logística binária separadamente para cada desfecho, utilizando como variáveis dependentes as dores no pescoço, no ombro direito e na coluna lombar. A prevalência de dor entre os técnicos administrativos foi de 92,7% e as regiões mais afetadas foram o pescoço, a coluna lombar e o ombro direito. Os principais riscos ergonômicos foram: sobrecarga mental (estresse), mesa, monitor e cadeira de trabalho inadequados, ausência de orientação acerca dos riscos ergonômicos e das adaptações no ambiente de trabalho. Foi observada associação entre dor no pescoço e os técnicos administrativos que apresentaram maior sobrecarga mental (estresse), não fazem atividade física, não trabalhavam com mesa ao nível do cotovelo, não tinham espaço para apoiar os antebraços e utilizavam o touchpad; e entre dor no ombro direito e os técnicos administrativos que não tinham espaço para apoiar os antebraços e utilizavam o touchpad. Ainda, a dor na coluna lombar foi associada às mulheres que não possuíam apoio para os pés, mesa ao nível do cotovelo e cadeira com apoio lombar e estofamento, assim como àquelas que apresentaram maior sobrecarga mental (estresse). Conclui-se que é importante a instituição fornecer equipamentos e mobiliários adequados e oferecer treinamentos sobre os riscos ergonômicos presentes no trabalho.

Descritores
COVID-19; Ergonomia; Dor Musculoesquelética; Saúde do Trabalhador

RESUMEN

El objetivo fue evaluar síntomas musculoesqueléticos y riesgos ergonómicos en ambientes de teletrabajo de técnicos administrativos de la Instituto Federal Catarinense. Participaron 142 técnicos administrativos que respondieron un cuestionario en línea sobre información sociodemográfica, desempeño de tareas, ambiente de trabajo y dolor musculoesquelético. Los datos se analizaron mediante regresión logística binaria por separado para cada resultado, utilizando el dolor en el cuello, el hombro derecho y la columna lumbar como variables dependientes. La prevalencia de dolor entre los técnicos administrativos fue del 92,7% y las regiones más frecuentes fueron cuello, columna lumbar y hombro derecho. Los principales riesgos ergonómicos fueron: sobrecarga mental (estrés), mesa de trabajo, monitor y silla de trabajo inadecuados, falta de orientación sobre riesgos ergonómicos y adaptaciones en el ambiente de trabajo. Se observó asociación entre el dolor de cuello y los técnicos administrativos que presentaban mayor sobrecarga mental (estrés), no hacían actividad física, no tenían la mesa a la altura de los codos, no tenían espacio para apoyar los antebrazos y usaban el touchpad, dolor en el hombro derecho y técnicos administrativos que no tenían espacio para apoyar los antebrazos y usaban el touchpad. Aún así, el dolor en la columna lumbar se asoció al grupo de mujeres que no apoyaban los pies, que no tenían la mesa a la altura de los codos, la silla no tenía apoyo lumbar y tapizado y presentaban mayor sobrecarga mental (estrés). Es importante que la institución brinde equipo y mobiliario adecuado y realice capacitaciones sobre los riesgos ergonómicos presentes en el trabajo.

Palabras clave
COVID-19; Ergonomía; Dolor Musculoesquelético; Salud Laboral

ABSTRACT

This study aimed to evaluate musculoskeletal symptoms and ergonomic risks in telework environments of administrative technicians at the Instituto Federal Catarinense. In total, 142 administrative technicians who answered an online questionnaire about sociodemographic information, task performance, work environment, and musculoskeletal pain participated in the study. Data were analyzed by binary logistic regression separately for each outcome, using pain in the neck, right shoulder and low back pain as dependent variables. The prevalence of pain among administrative technicians was 92.7% and the most frequent regions were the neck, lumbar spine, and right shoulder. Mental overload (stress), inadequate worktable, monitor and work chair, lack of guidance on ergonomic risks and adaptations in the work environment were the main ergonomic risks. An association was observed between neck pain and administrative technicians who were mentally overloaded, did not practice any physical activity, did not have the table at elbow level, had neither forearms support nor used a mouse (but a touchpad instead); and right shoulder pain in administrative technicians who had no forearm support and used a touchpad. Also, low back pain was associated with mentally overloaded women who did not have footrest, table at the elbow level, or a chair with lumbar support and upholstery. The institution should provide adequate equipment and furniture and training the employees on the ergonomic risks at work.

Keywords
COVID-19; Ergonomics; Musculoskeletal Pain; Occupational Health

INTRODUÇÃO

Com o surgimento da pandemia da COVID-19 em 2020, foram adotadas medidas de distanciamento social, como restrição de circulação de pessoas e fechamento de escritórios, comércio, escolas e universidades, ocorrendo uma ampla e repentina implementação do teletrabalho em todo o mundo. Assim, os trabalhadores foram transferidos para suas casas, onde tiveram que organizar um local de trabalho a partir da estrutura já existente e que muitas vezes não era adequada ao trabalho, podendo resultar em riscos ergonômicos e sintomas de dor11. Guimarães B, Chimenez T, Munhoz D, Minikovski H. Pandemia de COVID-19 e as atividades de ensino remotas: riscos ergonômicos e sintomas musculoesqueléticos dos docentes do Instituto Federal Catarinense. Fisioter Pesqui. 2022;29(1):96-102. doi: 10.1590/1809-2950/21020229012022PT.
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Nesse sentido, observa-se que a implantação do teletrabalho durante a pandemia inaugurou demandas e exigências com potencial de aumentar riscos ocupacionais e a ocorrência de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dorts) e transtornos mentais relacionados ao trabalho22. Araújo TM, Lua I. O trabalho mudou-se para casa: trabalho remoto no contexto da pandemia de COVID-19. Rev Bras Saude Ocup. 2021;46:e27. doi: 10.1590/2317-6369000030720.
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. Uma revisão sobre os efeitos na saúde causados pelo teletrabalho aponta o aumento da frequência de Dorts associados ao uso do computador e transtornos mentais devido ao estresse33. Bouziri H, Smith DRM, Descatha A, Dab W, Jean K. Working from home in the time of COVID-19: how to best preserve occupational health? Occup Environ Med. 2020;77(7):509-10. doi: 10.1136/oemed-2020-106599.
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. Isto pode ter ocorrido pois os fatores de risco desse tipo de DORT estão relacionados a: mobiliário e equipamentos, como altura da mesa, da cadeira e do monitor; uso de teclado e mouse; posturas de trabalho; fatores organizacionais, como longas horas de trabalho e tempo de uso do computador; e fatores psicossociais, como o estresse44. Cook C, Burgess-Limerick R, Papalia S. The effect of upper extremity support on upper extremity posture and muscle activity during keyboard use. Appl Ergon. 2004;35(3):285-92. doi: 10.1016/j.apergo.2003.12.005.
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,55. Klussmann A, Gebhardt H, Liebers F, Rieger MA. Musculoskeletal symptoms of the upper extremities and the neck: a cross-sectional study on prevalence and symptom-predicting factors at visual display terminal (VDT) workstations. BMC Musculoskelet Disord. 2008;9:96. doi: 10.1186/1471-2474-9-96.
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É importante ressaltar que os Dorts representam um dos principais problemas para a saúde no Brasil e estão diretamente relacionados com as condições de trabalho. Esses distúrbios demandam atenção para a implementação de práticas que garantam o bem-estar dos trabalhadores66. Melo BF, Souza ACAG, Ferrite S, Bernardes KO. Atuação do fisioterapeuta nos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador: indicadores das notificações dos Dort. Fisioter Pesqui. 2017;24(2):136-42. doi: 10.1590/1809-2950/16439824022017.
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, uma vez que podem ocasionar incapacidades funcionais, sendo responsáveis por grande parte dos afastamentos do trabalho no país.

As atividades exercidas pelos técnicos administrativos (téc. adm.) de universidades são em sua maioria burocráticas, que demandam grandes responsabilidades e exigem alto nível de concentração. Tais atividades podem ocasionar tensões entre os funcionários, caso eles não se sintam capazes ou não tenham meios para realizá-las77. Lopes VS, Silva MC. Estresse ocupacional e fatores associados em servidores públicos de uma universidade federal do sul do Brasil. Cienc Saude Colet. 2018;23(11):3869-80. doi: 10.1590/1413-812320182311.28682015.
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Diante desse contexto, os téc. adm. do Instituto Federal Catarinense (IFC) permaneceram em teletrabalho de março de 2020 até setembro de 2021, realizando suas atividades laborais, na maioria das vezes, nas suas casas e por meio de computadores, o que poderia colocá-los em risco de desenvolver Dorts. Tendo em vista que pouco se sabe sobre os efeitos do teletrabalho na saúde e estudar seus efeitos é uma prioridade nas pesquisas em saúde do trabalhador88. Benavides FG, Amable M, Cornelio C, Vives A, Milián LC, Barraza D, et al. O futuro do trabalho após a COVID-19: o papel incerto do teletrabalho no domicílio. Rev Bras Saude Ocup. 2021;46:e31. doi: 10.1590/2317-6369000037820.
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, verifica-se a necessidade de identificar os riscos ergonômicos presentes nesta modalidade de trabalho. Isso permitiria a adoção de medidas para a adaptação dos postos de trabalho, visando prevenir os sintomas de dor e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores11. Guimarães B, Chimenez T, Munhoz D, Minikovski H. Pandemia de COVID-19 e as atividades de ensino remotas: riscos ergonômicos e sintomas musculoesqueléticos dos docentes do Instituto Federal Catarinense. Fisioter Pesqui. 2022;29(1):96-102. doi: 10.1590/1809-2950/21020229012022PT.
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Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar os sintomas osteomusculares e os riscos ergonômicos nos ambientes de teletrabalho dos téc. adm. do IFC. A hipótese da pesquisa é que há alta prevalência de dor e presença de riscos ergonômicos nos ambientes de teletrabalho desses funcionários.

METODOLOGIA

Esta pesquisa com abordagem analítica, exploratória e quantitativa foi realizada em agosto de 2021. A população foi formada pelos téc. adm. do IFC, totalizando 807 após a aplicação dos critérios de exclusão: estar afastado do trabalho e ter regime de trabalho de 20 horas. Os critérios de inclusão foram: ser téc. adm. e assinar o termo de consentimento livre esclarecido. A amostra por conveniência foi de 142 técnicos que responderam ao questionário.

A partir de revisão de literatura, na qual foram encontradas pesquisas correlatas, foi elaborado um questionário online por meio do Google Forms contendo perguntas sociodemográficas, sobre os ambientes de teletrabalho e sintomas osteomusculares referentes ao período de teletrabalho. Foram incluídas figuras ilustrativas, obtidas na internet, associadas às questões sobre o ambiente de teletrabalho, para facilitar o entendimento do questionário pelos voluntários, semelhante às utilizadas por Guimarães et al. (11. Guimarães B, Chimenez T, Munhoz D, Minikovski H. Pandemia de COVID-19 e as atividades de ensino remotas: riscos ergonômicos e sintomas musculoesqueléticos dos docentes do Instituto Federal Catarinense. Fisioter Pesqui. 2022;29(1):96-102. doi: 10.1590/1809-2950/21020229012022PT.
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Após o desenvolvimento do questionário, foi realizado um pré-teste online via Google Forms com a participação de nove téc. adm. do IFC, que foram orientados a responder o instrumento e informar os fatores que geraram dificuldades de entendimento. A partir das respostas dos voluntários, a equipe da pesquisa fez os ajustes e a versão final do questionário foi validada pelos respondentes do pré-teste. A Coordenação-Geral de Comunicação do IFC então enviou por e-mail o link do questionário para todos os téc. adm. do IFC.

A regressão logística binária foi utilizada de forma isolada para cada desfecho, sendo as variáveis dependentes dores no pescoço, no ombro direito e na coluna lombar. O poder da amostra foi calculado a posteriori por meio do software GPower versão 3.1, chegando a um β de 0,80 e um effect size de 0,34. Os dados foram analisados via software SPSS 22.0, e para todas as análises foi adotada significância de 5% (p≤0,05).

RESULTADOS

A idade média dos voluntários foi de 39,87±8,10 anos. Os demais dados encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1
Estatística descritiva em frequência absoluta e relativa

A prevalência de dor foi de 92,7% e a distribuição dos sintomas é apresentada na Figura 1.

Figura 1
Prevalência de dor para os sujeitos estudados (n=140)

Os principais riscos ergonômicos encontrados foram: aumento da sobrecarga mental (estresse), altura inadequada do monitor (borda superior do monitor não estava ao nível dos olhos), mesa de trabalho inadequada (altura inadequada, ou seja, mais alta ou mais baixa que o nível do cotovelo, presença de quinas vivas, falta de espaço para apoiar os antebraços), cadeira de trabalho inadequada (ausência/inadequação do apoio lombar) e ausência de orientação do IFC acerca dos riscos ergonômicos e das adaptações necessárias no ambiente de trabalho.

Na Tabela 2 são apresentados os modelos de regressão logística binária para cada desfecho, utilizando como variáveis dependentes as regiões com maiores prevalências de dor.

Tabela 2
Modelos de regressão logística bruta e ajustada para as variáveis de dor no pescoço, no ombro direito e na coluna lombar

DISCUSSÃO

A prevalência de dor foi de 92,7%, semelhante às encontradas nas pesquisas de Guimarães et al. (11. Guimarães B, Chimenez T, Munhoz D, Minikovski H. Pandemia de COVID-19 e as atividades de ensino remotas: riscos ergonômicos e sintomas musculoesqueléticos dos docentes do Instituto Federal Catarinense. Fisioter Pesqui. 2022;29(1):96-102. doi: 10.1590/1809-2950/21020229012022PT.
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e Oliveira e Keine99. Oliveira M, Keine S. Aspectos e comportamentos ergonômicos no teletrabalho. Revista Produção Online. 2020;20(4):1405-34. doi: 10.1590/S1809-29502013000300004.
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com teletrabalhadores durante a pandemia, que tiveram frequência de 95% e 94,7%, respectivamente. As regiões mais acometidas por dor foram: o pescoço (68,9%), a coluna lombar (61,6%) e o ombro direito (49%), corroborando o estudo com téc. adm. da Universidade Federal de Alagoas, onde as maiores prevalências de dor foram no pescoço (66%), na coluna lombar (52%) e nos ombros (43%)1010. Oliveira DCG, Guimarães B. Análise da carga de trabalho e de sintomas osteomusculares em técnicos administrativos de instituições de ensino superior do estado de alagoas. Anais do VI Congresso Brasileiro de Fisioterapia do Trabalho; 2015; Florianópolis. Florianópolis: [publisher unknown]; 2015.. Uma pesquisa com servidores de uma universidade encontrou prevalência de dor de: 55,7% na coluna lombar, 51,3% nos ombros e 49,9% no pescoço1111. Almeida LMS, Dumith SC. Association between musculoskeletal symptoms and perceived stress in public servants of a Federal University in the South of Brazil. BrJP. 2018;1(1):9-14. doi: 10.5935/2595-0118.20180004.
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.

Os riscos ergonômicos mais frequentes foram: aumento da sobrecarga mental (estresse), inadequações na altura do monitor, na mesa e na cadeira utilizadas para o trabalho e ausência de orientação do IFC sobre os riscos ergonômicos e as adaptações no ambiente de trabalho. Este resultado foi semelhante ao de duas pesquisas realizadas com trabalhadores da educação que estavam em teletrabalho devido à pandemia da COVID-19. No estudo de Gerding et al. (1212. Gerding T, Syck M, Daniel D, Naylor J, Kotowski SE, Gillespie GL, et al. An assessment of ergonomic issues in the home offices of university employees sent home due to the COVID-19 pandemic. Work. 2021;68(4):981-92. doi: 10.3233/WOR-205294.
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, a maioria dos respondentes relataram aumento do estresse, inadequações na altura do monitor e nas cadeiras; enquanto no estudo de Guimarães et al. (11. Guimarães B, Chimenez T, Munhoz D, Minikovski H. Pandemia de COVID-19 e as atividades de ensino remotas: riscos ergonômicos e sintomas musculoesqueléticos dos docentes do Instituto Federal Catarinense. Fisioter Pesqui. 2022;29(1):96-102. doi: 10.1590/1809-2950/21020229012022PT.
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, 85,7% apresentaram maior sobrecarga mental (estresse), 69,3% trabalhavam com o monitor em altura inadequada, 60% não dispunham de mesas na altura do cotovelo e 52% não tinham espaço para apoiar os antebraços na mesa. No estudo de Oliveira e Keine99. Oliveira M, Keine S. Aspectos e comportamentos ergonômicos no teletrabalho. Revista Produção Online. 2020;20(4):1405-34. doi: 10.1590/S1809-29502013000300004.
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, mais de 50% dos trabalhadores não receberam treinamento sobre riscos e adaptações ergonômicas do ambiente de teletrabalho. Segundo Bernaards et al. (1313. Bernaards CM, Ariëns GA, Simons M, Knol DL, Hildebrandt VH. Improving work style behavior in computer workers with neck and upper limb symptoms. J Occup Rehabil. 2008;18(1):87-101. doi: 10.1007/s10926-007-9117-9.
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, instruir os trabalhadores quanto à importância das pausas, organização das tarefas e correta relação entre o posicionamento do corpo e os equipamentos parece ser efetivo para diminuir alguns dos riscos ergonômico e de estresse. Além disso, modificações no posto de trabalho feitas por um fisioterapeuta podem reduzir significativamente desordens musculoesqueléticas da coluna lombar, do pescoço e dos ombros1414. Pillastrini P, Mugnai R, Farneti C, Bertozzi L, Bonfiglioli R, Curti S, et al. Evaluation of two preventive interventions for reducing musculoskeletal complaints in operators of video display terminals. Phys Ther. 2007;87(5):536-44. doi: 10.2522/ptj.20060092.
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. Portanto, as instituições devem realizar treinamento ergonômico com seus teletrabalhadores para prevenir o desenvolvimento de Dorts.

Verificou-se associação entre dor no pescoço e os téc. adm. que apresentaram maior sobrecarga mental (estresse), não fazem atividade física, não trabalham com a mesa ao nível do cotovelo, não tinham espaço para apoiar os antebraços, utilizavam touchpad. Resultado semelhante ao de uma pesquisa realizada com téc. adm. de uma universidade, que também encontrou relação positiva entre estresse e dor no pescoço e na coluna lombar1111. Almeida LMS, Dumith SC. Association between musculoskeletal symptoms and perceived stress in public servants of a Federal University in the South of Brazil. BrJP. 2018;1(1):9-14. doi: 10.5935/2595-0118.20180004.
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, que se explica pelo fato de o estresse alterar os períodos de ativação muscular e provocar o aumento da tensão1515. Magnavita N, Elovainio M, De Nardis I, Heoniemi T, Bergamaschi A. Environmental discomfort and musculoskeletal disorders. Occup Med (Lond). 2011;61(3):196-201. doi: 10.1093/occmed/kqr024.
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. Além disso, a mesa de trabalho deve estar na altura do cotovelo para trabalhos que utilizam computador1616. Cook C, Burgess-Limerick R. Guidelines for computer workstations. Ergonomics Australia. 2003;17(1):19-37., pois, quando está mais alta, faz com que haja uma elevação dos ombros e da escápula, aumentando os sintomas dolorosos nos pescoço1717. Faucet J, Rempel D. VDT-related musculoskeletal symptoms: interactions between work posture and psychosocial work factors. Am J Ind Med. 1994;26(5):597-612. doi: 10.1002/ajim.4700260503.
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. Ainda, o espaço para apoio dos antebraços durante o uso do computador tem se mostrado eficaz para reduzir as sobrecargas musculares no pescoço e nos ombros e a incidência de distúrbios musculoesqueléticos e desconforto nestas regiões44. Cook C, Burgess-Limerick R, Papalia S. The effect of upper extremity support on upper extremity posture and muscle activity during keyboard use. Appl Ergon. 2004;35(3):285-92. doi: 10.1016/j.apergo.2003.12.005.
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,1818. Rempel DM, Krause N, Goldberg R, Benner D, Hudes M, Goldner GU. A randomised controlled trial evaluating the effects of two workstation interventions on upper body pain and incident musculoskeletal disorders among computer operators. Occup Environ Med. 2006;63(5):300-6. doi: 10.1136/oem.2005.022285.
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A dor no ombro direito apresentou relação significativa com o grupo de téc. adm. que não tinham espaço para apoio dos antebraços e utilizam o touchpad. O uso do touchpad provoca aumento da sobrecarga musculoesquelética pois faz com que o usuário mantenha uma postura mais estática no membro superior1919. Conte C, Ranavolo A, Serrao M, Silvetti A, Orengo G, Mari S, et al. Kinematic and electromyographic differences between mouse and touchpad use on laptop computers. Int J Ind Ergon. 2014;44(3):413-20. doi: 10.1016/j.ergon.2014.01.001.
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para possibilitar estabilização e precisão, consequentemente gerando desconforto na região dos ombros e pescoço2020. Kelaher D, Nay T, Lawrence B, Lamar S, Sommerich CM. An investigation of the effects of touchpad location within a notebook computer. Appl Ergon. 2001;32(1):101-10. doi: 10.1016/S0003-6870(00)00020-X.
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A dor na coluna lombar associou-se significantemente ao grupo de mulheres que não trabalhavam com os pés apoiados, com a mesa de trabalho não posicionada ao nível do cotovelo, com cadeira sem estofamento e apoio lombar, assim como àquelas que apresentaram maior sobrecarga mental (estresse). Resultado semelhante à literatura, na qual foi encontrada associação entre a dor lombar e o sexo feminino11. Guimarães B, Chimenez T, Munhoz D, Minikovski H. Pandemia de COVID-19 e as atividades de ensino remotas: riscos ergonômicos e sintomas musculoesqueléticos dos docentes do Instituto Federal Catarinense. Fisioter Pesqui. 2022;29(1):96-102. doi: 10.1590/1809-2950/21020229012022PT.
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, enquanto Wang et al.2121. Wang X, Lavender SA, Sommerich CM, Rayo MF. The effects of using a footrest during computer tasks varying in complexity and temporal demands: a postural and electromyographic analysis. Appl. Ergon. 2022;98:103550. doi: 10.1016/j.apergo.2021.103550.
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evidenciaram uma diminuição de carga biomecânica na coluna lombar quando há apoio para os pés e para a coluna lombar na posição sentada2121. Wang X, Lavender SA, Sommerich CM, Rayo MF. The effects of using a footrest during computer tasks varying in complexity and temporal demands: a postural and electromyographic analysis. Appl. Ergon. 2022;98:103550. doi: 10.1016/j.apergo.2021.103550.
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, o que diminui dores nesta região. Há evidências que apontam que as mulheres apresentam mais dor lombar11. Guimarães B, Chimenez T, Munhoz D, Minikovski H. Pandemia de COVID-19 e as atividades de ensino remotas: riscos ergonômicos e sintomas musculoesqueléticos dos docentes do Instituto Federal Catarinense. Fisioter Pesqui. 2022;29(1):96-102. doi: 10.1590/1809-2950/21020229012022PT.
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, estresse e distúrbios musculoesqueléticos devido ao maior acúmulo do trabalho doméstico2222. Fantini AJE, Assunção AA, Machado AF. Dor musculoesquelética e vulnerabilidade ocupacional em trabalhadores do setor público municipal em Belo Horizonte, Brasil. Cienc Saude Colet. 2014;19(12):4727-38. doi: 10.1590/1413-812320141912.02872013.
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. Tal situação pode estar sendo agravada pelo teletrabalho na pandemia, como aponta a maior prevalência de dor e estresse encontrada entre as mulheres.

Os resultados deste estudo são limitados aos téc. adm. do IFC e, portanto, não podem ser generalizados para outras instituições. Os autores sugerem a realização de mais pesquisas que analisem um maior número de téc. adm. de outras instituições de ensino e as diferenças entre os sexos.

CONCLUSÃO

A hipótese desta pesquisa foi confirmada, pois foram encontrados riscos ergonômicos e alta prevalência de dor musculoesquelética entre os técnicos administrativos, principalmente entre as mulheres, além de fatores associados à dor no pescoço, na coluna lombar e no ombro direito. A partir dos resultados, é importante que a instituição implemente medidas para prevenir os sintomas de dor, como fornecimento de equipamentos e mobiliários adequados e a realização de treinamentos sobre os riscos ergonômicos presentes no trabalho.

REFERÊNCIAS

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    Guimarães B, Chimenez T, Munhoz D, Minikovski H. Pandemia de COVID-19 e as atividades de ensino remotas: riscos ergonômicos e sintomas musculoesqueléticos dos docentes do Instituto Federal Catarinense. Fisioter Pesqui. 2022;29(1):96-102. doi: 10.1590/1809-2950/21020229012022PT.
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    Araújo TM, Lua I. O trabalho mudou-se para casa: trabalho remoto no contexto da pandemia de COVID-19. Rev Bras Saude Ocup. 2021;46:e27. doi: 10.1590/2317-6369000030720.
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  • Fonte de financiamento: IFC campus São Bento do Sul
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    Aprovado pelo Comitê de Ética: CAAE nº 47672421.2.0000.8049.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2022

Histórico

  • Recebido
    15 Abr 2022
  • Aceito
    26 Ago 2022
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