PRIMEIRO REGISTRO DE ANASTREPHA SHANNONI STONE (DIPTERA: TEPHRITIDAE) NO ESTADO DO AMAPÁ, BRASIL

FIRST RECORD OF ANASTREPHA SHANNONI STONE (DIPTERA: TEPHRITIDAE) IN AMAPÁ STATE, BRAZIL

RESUMO

Este trabalho foi realizado no Distrito de Fazendinha, Macapá, Estado do Amapá, com o objetivo de identificar as espécies de moscas-das-frutas ocorrentes em um pomar de goiabeira. Foram instaladas 4 armadilhas tipo McPhail contendo como isca proteína hidrolisada de milho a 5%, em um pomar com aproximadamente 100 plantas, com cerca de três anos de idade. De outubro de 2006 a janeiro de 2007 foram capturados 115 exemplares de Tephritidae (44 machos e 71 fêmeas), todos pertencentes ao gênero Anastrepha: A. antunesi Lima, A. distincta Greene, A. fraterculus (Wiedemann), A. striata Schiner, A. obliqua (Macquart) e A. shannoni Stone. O período de maior ocorrência foi o mês de janeiro, com predominância de A. striata. Este constitui o primeiro registro de A. shannoni para o Estado do Amapá.

PALAVRAS-CHAVE
Moscas-das-frutas; goiabeira; Amazônia

ABSTRACT

The present work was accomplished in Fazendinha District, Macapá, Amapá State, aiming at to identify the species of fruit flies present in a guava orchard. They were installed 4 plastic McPhail traps containing as bait hydrolysed corn protein (5%), in an orchard composed for about 100 plants, with about three years of age. From October of 2006 to January of 2007, 115 specimens of Tephritidae were captured (44 males and 71 females), all belonging to Anastrepha: A. antunesi Lima, A. distincta Greene, A. fraterculus (Wiedemann), A. striata Schiner, A. obliqua (Macquart) and A. shannoni Stone. January was the period of larger occurrence, with predominance of A. striata. This is the first record of A. shannoni to Amapá State, Brazil.

KEY WORDS
Fruit flies; guava tree; Amazon

O Brasil vem se destacando, em nível mundial, como um importante produtor de frutas, especialmente as tropicais e subtropicais, como mamão, citros, manga, maracujá, abacaxi, banana, goiaba, abacate, dentre outras (SÃO JOSÉ, 2003). Entretanto, o volume de exportação ainda é pouco expressivo, fazendo com que a comercialização dependa quase que exclusivamente do mercado interno (DÓRIA et al., 2004). Dentre os fatores que contribuem para esse baixo volume de exportação destacam-se as moscasdas-frutas (Diptera: Tephritidae), consideradas importantes pragas da fruticultura mundial, por causarem perdas significativas à produção e limitar o livre trânsito de frutas frescas, devido às restrições quarentenárias impostas pelos países importadores (MALAVASI, 2000).

As moscas-das-frutas ocorrem desde a região temperada até a tropical, com exceção das áreas árticas e desérticas, onde a vida vegetal é escassa (ZUCCHI, 2001). Algumas espécies são mais agressivas, devido à sua alta capacidade colonizadora, como Ceratitis capitata (Wiedemann). Outras têm distribuição restrita e baixa capacidade de se adaptar a novos ambientes, como a maioria das espécies das regiões temperadas, do gênero Ragholetis (MALAVASI, 2001).

No Brasil, as espécies de moscas-das-frutas registradas da família Tephritidae pertencem a cinco gêneros: Anastrepha Schiner, Bactrocera Macquart, Ceratitis MacLeay, Rhagoletis Loew e Toxotrypana Gerstaecker. No entanto, apenas Ceratitis capitata, 7 das 101 espécies de Anastrepha que ocorrem no Brasil e Bactrocera carambolae Drew & Hancock, que se encontra restrita no estado do Amapá, são economicamente importantes (ZUCCHI, 2000; 2007; 2008).

No Estado do Amapá, as pesquisas com esse grupo de insetos foram intensificadas a partir de 1996, após a detecção oficial da mosca-da-carambola (B. carambolae) e, atualmente, além desta, estão assinaladas para o Estado, 22 espécies do gênero Anastrepha: A. anomala Stone, A. antunesi Lima, A. atrigona Hendel, A. binodosa Stone, A. coronilli Carrejo & González, A. dissimilis Stone, A. distincta Greene, A. fraterculus (Wiedemann), A. furcata Lima, A. hastata Stone, A. leptozona Hendel, A. limae Stone, A. mixta Zucchi, A. obliqua (Macquart), A. parishi Stone, A. pickeli Lima, A. sepentina (Wiedemann), A. sodalis Stone, A. sororcula Zucchi, A. striata Schiner, A. turpiniae Stone e A. zenildae Zucchi (ZUCCHI, 2007; DEUS et al., 2008; JESUS et al., 2008a; JESUS et al., 2008b).

O presente trabalho teve por objetivo identificar as espécies de moscas-das-frutas capturadas em armadilhas tipo McPhail em um pomar de goiabeira, no Distrito de Fazendinha, Macapá, AP.

O Distrito de Fazendinha localiza-se na zona sul de Macapá (00°01’27, 2"S e 51°07’25, 9"W), aproximadamente, 16 km do centro da cidade. É composto por pequenas propriedades agrícolas, nas quais são cultivadas principalmente espécies frutíferas. A produção é destinada ao comércio direto em feiras-livres nos municípios de Macapá e Santana.

O pomar é formado por cerca de 100 goiabeiras de aproximadamente 3 anos de idade, com espaçamento de 5 m entre plantas e 5 m entre fileiras. Foram instaladas 4 armadilhas tipo McPhail, contendo como isca proteína hidrolisada de milho a 5%, instaladas a ¾ da altura da planta, seguindo as recomendações de NASCIMENTO et al. (2000). As armadilhas foram dispostas de maneira a formar um retângulo com distâncias equivalentes entre elas. A inspeção das armadilhas foi realizada semanalmente, de outubro de 2006 a janeiro de 2007, sendo seu conteúdo despejado sobre uma peneira e, em seguida, colocado dentro de um recipiente de plástico. As armadilhas eram posteriormente lavadas, o atrativo alimentar substituído e, após essa operação, eram novamente instaladas na planta.

Os frascos contendo o material coletado foram conduzidos ao Laboratório de Entomologia da Embrapa Amapá, onde os tefritídeos foram separados, quantificados e colocados em frascos contendo álcool 70%, devidamente etiquetados. As fêmeas de Anastrepha foram identificadas com base na chave de ZUCCHI (2000).

Foram capturados 115 espécimes de tefritídeos, todos pertencentes ao gênero Anastrepha, sendo 44 machos e 71 fêmeas. As espécies identificadas foram: A. antunesi Lima, A. distincta Greene, A. fraterculus (Wiedemann), A. striata Schiner, A. obliqua (Macquart) e A. shannoni Stone. Contudo, apenas A. striata e A. obliqua apresentaram frequências maiores que 10% (Fig. 1). A predominância de uma ou mais espécies foi também observada em trabalhos semelhantes desenvolvidos no Brasil (GARCIA; CORSEUIL, 1998; URAMOTO et al., 2003; MOURA; MOURA, 2006; CANESIN; UCHÔA-FERNANDES, 2007). Segundo ALUJA et al. (1996), esse tipo de comportamento é considerado normal, visto que, embora diversas espécies de tefritídeos estejam presentes em um pomar, apenas uma ou duas espécies representam mais de 90% de todas as moscas coletadas em armadilha.

Fig. 1
Frequência de Anastrepha spp. capturadas em armadilha tipo McPhail em pomar de goiabeira no Distrito de Fazendinha, Macapá, AP, outubro de 2006 a janeiro de 2007.

A maior quantidade de tefritídeos foi coletada no mês de janeiro, período de maior disponibilidade de frutos. ARAÚJO; ZUCCHI (2003), em trabalho realizado de janeiro/1999 a dezembro/2000, em Mossoró, RN, observando a distribuição sazonal das moscas-das-frutas em pomar de goiabeira, constataram que os maiores níveis de infestação e picos populacionais ocorreram num mesmo período do ano (de maio a junho), e a disponibilidade de hospedeiros foi um fator preponderante no aumento populacional. No presente trabalho, a espécie predominante foi A. striata com 81, 7% dos espécimes coletados, provavelmente devido à oferta de goiaba no pomar. Embora não tenha sido realizada coleta de frutos, vários estudos mostram que a goiaba é o principal hospedeiro da espécie no Amapá (SILVA; SILVA, 2007; NASCIMENTO et al., 2006; SILVA et al., 2007). As demais espécies presentes no pomar apresentaram frequência reduzida e, segundo JÁCOME et al. (1999), sua presença pode estar relacionada à busca de alimento, sítios de oviposição e acasalamento.

Este trabalho constitui o primeiro registro de A. shannoni para o Estado do Amapá. O exemplar de A. shannoni está depositado na coleção do Instituto Biológico, em Campinas, São Paulo. No Brasil, essa espécie havia sido registrada apenas para o Estado do Amazonas (ZUCCHI, 2007). Já foi assinalada, também, no Peru, Venezuela e, recentemente, na Colômbia (NORRBOM, 2003; MARTÍNEZ-ALAVA, 2007). No entanto, em nível mundial, não há registro de hospedeiro (NORRBOM, 2003).

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  25 Jun 2021
• Data do Fascículo
  Oct-Nov 2009

Histórico

• Recebido
  02 Jun 2008
• Aceito
  12 Maio 2009